O que faz brasil Brasil? “Onde quer que haja um brasileiro adulto, existe com ele o Brasil e, no entanto – tal como acontece com as divindades- será preciso produzir e provocar sua manifestação para que se possa sentir sua concretude e seu poder” O que faz o brasil, Brasil? Cap. 1 -Como se constrói uma identidade social? Quem somos? Como somos? Por que somos? Como revelar um Brasil, por meio de outros ângulos e outras questões? Como um povo se transforma em Brasil? Existe um Brasil simples e um brasil Complexo? ROBERTO DAMATTA O que faz o brasil, Brasil? Cap. 1 -Como se constrói uma identidade social? Quem somos? Como somos? Por que somos? Como revelar um Brasil, por meio de outros ângulos e outras questões? Como um povo se transforma em Brasil? Existe um Brasil simples e um brasil Complexo? ROBERTO DAMATTA O que faz o brasil, Brasil? Onde devemos procurar o Brasil? - nas manifestações oficiais e nobres? - Nas leis? - Nas vozes “cultas”? - Nas letras? - Nas artes? ROBERTO DAMATTA O que faz o brasil, Brasil? O BRASIL POSSUI MÚLTIPLA IDENTIDADE: pode-se pensá-lo por uma visão maior que a oficial, bem-comportada dos manuais de história social. Mas pode-se pensá-lo a partir do jeitinho malandro que soma a lei com a pessoa na sua vontade escusa de ganhar, embora a regra fria e dura como o mármore da Justiça não a tenha tomado em consideração ROBERTO DAMATTA O que faz o brasil, Brasil? O Brasil é um país institucionalizado: critérios objetivos Possui um povo Possui um território Possui uma nação Possui um “conjunto de valores universais” Possui uma Constituição Dados estatísticos, PIB Renda per capta Sistema político Sistema educacional Roberto DaMatta Mas o brasil, é algo muito mais complexo. É sobretudo, um espírito, que se manifesta no fervor da vida cotidiana. É um território, mas também uma casa, com calor humano. É um lugar de memória e consciência de um lugar com qual se tem uma ligação apaixonada; É uma sociedade onde pessoas seguem certos valores e julgam a ações humanas dentro de um padrão somente seu. É a comida; É música A saudade que humaniza o tempo e a morte Roberto DaMatta Nesta outra dimensão, o Brasil é um ser parte conhecido e parte misterioso, como um grande de poderoso espírito Roberto DaMatta Pode-se procurar o Brasil nos rituais nobres dos palácios da justiça, dos fóruns, das câmaras e das pretorias, ou seja ,NAS LETRAS DAS LEIS QUE DEFINEM SUAS INSTITUIÇÕES MAIS IMPORTANTES, MAS, pode-se procurar o brasil no jeitinho, malandro que soma a lei com a pessoa na sua vontade escusa de ganhar, embora a regra fria e dura como o mármore da Justiça não a tenha tomado em consideração Roberto DaMatta O que faz brasil ,Brasil? É uma pergunta relacional. TANTO OS HOMENS COMO AS SOCIEDADES SE DEFINEM POR SEUS ESTILOS, SEUS MODOS DE FAZER AS COISAS: QUEM SOMOS? COMO SOMOS? POR QUE SOMOS? COMO CONSTRUÍMOS NOSSAS IDENTIDADES? Roberto DaMatta O que faz brasil ,Brasil? É uma pergunta relacional. QUAL A RELAÇÃO ENTRE A CASA, A RUA E O TRABALHO? É UMA RELAÇÃO QUE SE COMPLEMENTA EM UM CICLO COTIDIANO, MAS QUE, SOBRETUDO, SE DEFINE COMO ESPAÇOS QUE EXPRESSAM MODOS DE EXPLICAR E FALAR DO MUNDO. Roberto DaMatta O que faz brasil ,Brasil? É uma pergunta relacional. QUAL A RELAÇÃO ENTRE A CASA, A RUA E O TRABALHO? MAIS QUE ESPAÇOS FÍSICOS , SÃO ESPAÇOS DE ONDE SE PODE JULGAR, CLASSIFICAR, MEDIR, AVALIAR E DECIDIR SOBRE AÇÕES, PESSOAS, PESSOAS MORALIDADES. Roberto DaMatta O que faz brasil ,Brasil? É uma pergunta relacional. HÁ UMA CLARA DIVISÃO ENTRE ESSES DOIS ESPAÇOS SOCIAIS QUE DIVIDEM A VIDA SOCIAL BRASILEIRA: O MUNDO DA CASA E MUNDO DA RUA. MUNDOS DE CONTRASTES E DIFERENÇAS A CASA: ESPAÇO DA MORAL – espaço das pessoas É um mundo à parte: tudo que está na nossa casa é bom, é belo e é, sobretudo, decente. Espaço da calma e da tranqüilidade O movimento é cíclico Membros de um grupo fechado com fronteiras e limites bem definidos Possuem uma personalidade coletiva bem definida: são uma pessoa moral RUA: ESPAÇO DE LIBERDADE – espaço dos indivíduos É um mundo negativo Espaço do movimento, da agitação. O tempo é do relógio. O tempo voa, corre, passa. Mundo exterior que se mede pela “luta”, pela competição e pelo anonimato cruel de individualidades e individualismos. Lugar de luta, de batalha, espaço cuja crueldade se dá no fato de O grupo que ocupa uma casa tem um contrariar frontalmente todas as alto sentido de defesa de seus bens nossas vontades: a rua é a “dura móveis e imóveis. realidade da vida”que eleva. Não se trata de um mundo físico, mas Na rua há o anonimato, não há amor, de um mundo moral: somos únicos e nem consideração, nem respeito, nem insubstituíveis. amizade. Sentidos de “honra”, “respeito”, Local onde ninguém nos respeita “vergonha” , que se estendem para os como “gente”, como “pessoa”, A CASA: ESPAÇO DA MORAL RUA: ESPAÇO DE LIBERDADE Ninguém vê nosso rosto; Agregados: princípio fundamental de absorção de coletividade: até os a rua compensa a casa e a casa animais domésticos fazem parte da equilibra a rua. São como dois lados da mesma moeda, o que se perde de família. um lado, ganha-se do outro. Como espaço moral importante e diferenciado, a casa se exprime numa O universo da rua é mais que um rede complexa e fascinante de espaço físico demarcado símbolos que são parte da sua ordem universalmente reconhecido mais profunda e perene. A rua é uma perspectiva de mundo Demarca um espaço definitivamente oposta e complementar à casa ao amoroso onde a harmonia deve reinar mesmo tempo, onde predominam a sobre a confusão, a competição e a desconfiança e a insegurança desordem. Na casa podemos ter de tudo, como Na rua o comando é dado à se ali o espaço fosse marcado por um autoridade que governa com a lei, a supremo reconhecimento pessoal: qual torna todo mundo igual. Não é o uma espécie de supercidadania que pai, o irmão, a mãe a amizade que contrasta terrivelmente com a ausência determinam os processos. total de reconhecimento que existe na Na rua não se deve brincar com rua. quem representa a ordem. Na rua: anonimato e insegurança, leis e política; Daí tendemos a ser revolucionários e revoltados, membros destituídos de uma massa de anônimos trabalhadores O trabalho O “batente”, é um obstáculo que temos; A concepção de trabalho fica confundida num sistema onde as mediações entre a casa e a rua são tão complexas Cap. III – A ilusão das relações raciais Teóricos do racismo GOBINEAU : genitor de um dos valores mais caros ao preconceito racial de qualquer sociedade hierarquizada: a miscigenação. Degenera as “raças”: mulato – hibridismo – deterioração da raça branca Cap. III – A ilusão das relações raciais O Brasil não é um país dual onde se opera somente uma lógica do DENTRO ou FORA, do CERTO ou ERRADO; do HOMEM ou MULHER; do CASADO ou SEPARADO; de DEUS ou o DIABO; do PRETO ou BRANCO A perspectiva dual determina a inclusão de um termo e a automática exclusão do outro. Temos um conjunto infinito e variado de categorias nintermediárias Cap. III – A ilusão das relações raciais Parâmetros das discriminações norteamericanas e européias: “raça” inferior. Tinham “horror” à miscigenação; Racismo à brasileira: Racismo velado; não somos um país dual – de determinações e demarcações claras. Não ficamos no Brasil com uma classificação racial formalizada em preto e branco; Não estruturamos as dimensões “igualitárias” como princípios de nação; não tivemos grandes revoluções sociais rompendo instituições. Estados Unidos x Brasil: qual a grande diferença: o liberalismo político aliado ao liberalismo econômico: processos contraditórios com a escravidão como sistema econômico. O racismo à brasileira: problemáticas Ponto 01 (p.46) : primeiramente devemos ressaltar como as sociedades igualitárias engendraram formas de preconceito muito claras, porque sua ideologia negava o intermediário, a gradação e a relação entre grupos que deveriam permanecer separados, embora pudessem ser considerados teoricamente iguais. Diferente do Brasil: numa sociedade onde não há igualdade entre as pessoas, o preconceito velado é forma muito mais eficiente de discriminar pessoas de cor, desde que elas fiquem no seu lugar e “saibam” qual é ele. Ponto 2 : MITO DA DEMOCRACIA RACIAL . A espontaneidade e a harmonia implícita no discurso: “o Brasil é feito de negros, brancos e índios”. LEDO ENGANO: a sociedade portuguesa era (é?) altamente discriminatória e hierarquizada antes de dominar o Brasil, e, perpetuaram essas instituições. O branco constituiu as instituições de poder e perpetraram essa perspectiva com o advento da República.