XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. MELHORIA NO PROCESSO DE UMA CÉLULA DE EXTRUSÃO DE UMA EMPRESA DE GRANDE PORTE Bruno Jose Zaniboni (UNIARA) [email protected] Ethel Cristina Chiari da Silva (UNIARA) [email protected] Jose Luis Garcia Hermosilla (UNIARA) [email protected] Este trabalho tem como foco o processo de melhoria contínua que faz parte da filosofia da produção enxuta. Essa pesquisa foi desenvolvida por meio de pesquisa bibliográfica e também de uma pesquisa-ação que envolveu uma célula de fabricação de uma unidade de uma empresa de grande porte que atua em vários segmentos, dentre eles, o setor automotivo. A unidade estudada está localizada no interior do Estado de São Paulo e conta com aproximadamente 1.700 funcionários, nesta unidade fez-se um processo de melhoria contínua e, nesse texto, apresenta-se a execução deste em uma célula de manufatura, mais especificamente, a célula de extrusão. O objetivo é descrever os problemas abordados, apresentar o processo de solução e também os resultados alcançados. Ressalta-se que esse trabalho proporcionou resultados significativos para a organização, dentre eles, a redução do tempo de setup de 50 minutos para 10 minutos; a redução da quebra de máquinas; a redução do tempo de desmodelagem (de 3 minutos para 1 minuto); uma melhor comunicação no setor; melhor monitoramento do desempenho da célula e o aumento da produção. Este fato levantou o interesse das outras fábricas do grupo nessa ação. Palavras-chave: Kaizen, melhoria contínua, setor automotivo, pesquisa-ação. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 1. Introdução Este trabalho apresenta a aplicação de Kaizen em uma empresa de grande porte, a fim de melhorar a capacidade de produção. Hoje as empresas buscam a melhoria continua para aperfeiçoar o processo produtivo e eliminar desperdícios sempre buscando inovações para a empresa. Para Imai (1988), Kaizen visa à melhoria continua e envolve desde operadores até a alta gerência. Kaizen envolve também a qualidade, os processos produtivos, a produção Just-intime, a automação dos processos, a disciplina no trabalho, os planos de sugestões, as atividades de pequenos grupos e por fim o cliente. Apoiadas em programas Kaizen, as empresas entram em um ciclo de melhoria e, posteriormente, são impulsionadas com uma série de benefícios em sua produção. No geral o sistema Kaizen se apresenta como uma metodologia adequada para melhorar a competitividade, visando à redução de desperdícios no processo de manufatura. A filosofia Kaizen está interligada a outras ferramentas de gestão, tais como o PDCA (Plan, Do, Check, Action); o diagrama de causa e efeito (diagrama de Ishikawa); o 5S; a troca rápida de ferramentas, dentre outras. Tais ferramentas têm em vista a eliminação dos desperdícios do processo, a redução de custo e, principalmente, a entrega com qualidade do produto final ao cliente. Este trabalho tem como objetivo apresentar o processo de melhoria em uma célula de fabricação, mais especificamente, a célula de extrusão, de uma empresa de grande porte que atua em vários segmentos, dentre eles, o setor automotivo. Nesse trabalho são apresentadas as ferramentas utilizadas para a melhoria da célula, destacando-se: a ferramenta SMED (Single Minute Exchange of Dies), a realização do 5S, a melhoria ergonômica, a melhoria de qualidade e a Eficiência Global do Equipamento (EGE). A EGE objetiva a medição de desempenho, buscando revelar os custos ocultos na empresa e identificar as áreas que precisam de melhorias, podendo também quantificar as melhorias dos equipamentos. (SILVA e RESENDE, 2013). Segundo os mesmos autores, a EGE é medida por meio do cálculo de três fatores: Qualidade, Performance e Disponibilidade, como segue. 2 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. peças produzidas – peças defeituosas Qualidade (%) = x 100 (1) Peças produzidas Peças produzidas Performance (%) = x tempo real disponivel x 100 (2) Tempo padrão Disponibilidade (%) = tempo real disponível x 100 (3) tempo de carga Onde: Peça produzida (peças) = quatidade de peças produzidas; Tempo real disponivel (h) = (tempo de carga – paradas não obrigatorias); Tempo padrão (peça/h) = tempo previsto pela engenharia de processo, para produzir uma determinada quantidade de peças por hora; Tempo de carga (h) = (tempo teórico - parada obrigatoria). Utilizou-se o cálulo desses três fatores para auxílio no processo de melhoria que foi implantado. 2. Fundamentação teórica Segundo Almeida, Belo e Silva (2011), o Kaizen foi introduzido na administração por Masaaki Imai e, a exemplo de outras idéias lançadas pelos japoneses, seus conceitos iniciais se expandiram para uma filosofia organizacional e comportamental. 3 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Segundo Imai (1996), melhoria contínua é o conjunto de atividades que constituem um processo destinado a alcançar melhoria. Pode-se definir melhoria contínua, como um envolvimento total na realização de pequenas transformações, ou envolver todos da empresa de forma contínua e diretamente relacionada aos objetivos. Quando aplicado adequadamente, o Kaizen pode melhorar a qualidade e reduzir consideravelmente os custos, além de atender às necessidades dos clientes, sem qualquer investimento significativo ou introdução de nova tecnologia. (IMAI, 1996). 2.1 Como Implantar o Kaizen Imai (1996) sugere a aplicação do Kaizen em oito etapas, cujo cumprimento pode ajudar a solucionar problemas, facilitar a visualização e a comunicação do processo de manufatura; as etapas são: 1) Escolher o tema/foco da aplicação (determinados conforme as políticas administrativas de acordo com a prioridade, importância, urgência ou situação econômica); 2) Analisar o contexto; 3) Coletar e analisar dados para identificação da causa-raiz; 4) Estabelecer contramedidas com base em análise de dados; 5) Programar contramedidas; 6) Confirmar os efeitos das contramedidas; 7) Estabelecer ou revisar padrões para evitar recorrência; 8) Analisar os processos anteriores e começar a trabalhar nas etapas seguintes. 2.2 Eventos Kaizen Evento Kaizen segundo Lima (2010) tem por objetivo melhorar por meio de implantação de soluções rápidas e simplificadas, cujo princípio é levantar sugestões sobre um problema específico. Assim, todas as discussões são baseadas em dados para realizar pequenas melhorias, simples e rápidas. 4 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Lima (2010), afirma que para a realização de um Evento Kaizen de sucesso são necessários objetivos claros, processo de equipe, foco no tempo de duração, criatividade. Antes de se gastar dinheiro deve-se utilizar os recursos disponíveis e visar resultados imediatos, tendo em vista que as atividades ocorram com período determinado e com alta expectativa de resultados. Segundo Briales (2005), as características da equipe do Evento Kaizen devem ser: ˗ Poder de decisão e dedicação integral às atividades; ˗ Composta por membros multifuncionais na seguinte distribuição: de pessoas da área, de pessoas das áreas suporte e pessoas não relacionadas à área; ˗ Líder da equipe, pertencente à área externa, coordena, dirige e designa atividades aos demais integrantes da equipe; ˗ Co-líder, pertencente à área, com amplo conhecimento sobre o tema, deve fazer a comunicação entre os turnos e proporcionar sustento às mudanças; ˗ Demais membros devem identificar desperdícios, levantar e testar as soluções e estabelecer o padrão mais adequado. Quanto ao processo de equipe, Lima (2010) e Briales (2005), destacam como regras básicas: ˗ Manter a mente aberta para as alterações; ˗ Manter atitude positiva, ou seja, querer realizar as atividades necessárias que cabe a equipe; ˗ Jamais sair calado, sem dar ideias, propostas de melhoria; ˗ Criar um bom ambiente de trabalho (sem buscar os culpados); ˗ Praticar o respeito às pessoas envolvidas; ˗ Não desprezar contribuições; não desprezar as perguntas. O evento Kaizen deve ser considerado um processo de resolução de problemas visando o melhoramento, e que exige o uso de diversas ferramentas para alcançar o sucesso, obedecendo a um ordenamento de pensamentos que passe pelo reconhecimento e levantamento de dados sobre um problema, utilizando um sistema de geração de sugestões e implantando as mesmas com foco na resolução. BRIALES (2005). 5 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. A agenda de uma semana ou um determinado período para a realização do evento Kaizen varia de acordo com as especificações de cada companhia, mas de forma geral, as atividades realizadas, de acordo com Lima (2010) e Briales (2010), são: ˗ Primeiro dia: treinamento das ferramentas a serem utilizadas; ˗ Segundo dia: planejamento das ações; ˗ Terceiro dia: implantação das ações; ˗ Quarto dia: checagem do novo estado – verificação da eficácia; ˗ Quinto dia: preparação da apresentação e celebração dos resultados. Toda mudança envolve quebrar antigos hábitos e aprender novos, e implica também no estabelecimento de novos padrões e valores. As pessoas, dentro da organização, precisam de tempo para se ajustar ao que é necessário e avaliar as implicações da mudança, seja pessoal, em grupo ou em nível organizacional. (BRIALES, 2005). 3. Método da pesquisa O desenvolvimento desse trabalho apoiou-se em pesquisa bibliográfica e na pesquisa-ação. (...) uma pesquisa pode ser qualificada de pesquisa-ação quando houver realmente uma ação por parte das pessoas ou grupos implicados no problema sob observação. Além disso, é preciso que a ação seja uma ação não trivial, o que quer dizer uma ação problemática merecendo investigação para ser elaborada e conduzida. THIOLLENT (2009, p.17) Este trabalho foi norteado pelo ciclo pesquisa ação apresentado por Tripp (2005), conforme a figura 1. Figura 1 – Representação em quatro fases do ciclo básico da investigação-ação 6 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Fonte: Tripp (2005, p. 446) Em linhas gerais, as melhorias na célula, tendo como base as fases do ciclo da pesquisa-ação, foram: ˗ Planejar: criar o time Kaizen; planejar e listar todas as melhorias possiveis a serem realizadas na célula; ˗ Agir: após a listagem de cada melhoria, definir cada ação a ser tomada para cada integrante do time Kaizen e, posteriormente, implantar a melhoria na célula; ˗ Descrever: descrever e monitorar as melhorias com acompanhamento de um técnico da equipe por um determinado período; ˗ Avaliar: avaliar os resultados das ações e comparar com o anterior, podendo inciar novas ações. 4. Pesquisa na empresa A pesquisa-ação foi conduzida em uma empresa de grande porte que atua em vários segmentos, dentre eles, no segmento de artefatos de borracha para o ramo automotivo. A unidade fabril desse estudo faz parte de um grupo presente em 23 países. A empresa possui 95 fábricas, sendo seis localizadas no Brasil e a célula estudada pertence a uma planta fabril localizada no interior do Estado de São Paulo e conta com aproximadamente 1.700 funcionários. A célula de manufatura desse estudo será denominada célula de extrusão e a planta fabril em que ela se localiza será denominada Fábrica 1. Essa célula é responsável pela 7 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. fabricação dos produtos de anéis de secção quadrada (conforme foto 1) que são montados nos conjuntos de freios automotivos, em máquinas agrícolas e vedações de tampa de óleo e tambores de produtos alimentícios, etc. Foto 1: Anéis de secção quadrada Fonte: Empresa do estudo A seguir apresenta-se o levantamento dos problemas nesta célula e as ações implantadas. O trabalho descrito foi realizado no período de agosto/2010 a novembro/2010, com acompanhamento dos resultados após as melhorias até fevereiro/2011. 4.1 Diagnóstico e ação de intervenção na célula Na célula deste estudo, vários são os processos que podem apresentar problemas ou oportunidades de melhoria. Dessa forma em agosto de 2010, formou-se uma equipe composta por 3 operadores da célula, pelo coordenador da célula, pelo coordenador da Fabrica 1 e por dois membros do setor Kaizen. Essa formação foi chamada de time Kaizen e o objetivo principal foi trabalhar para executar melhorias no setor e melhorar seu desempenho. Em uma primeira reunião a equipe discutiu os indicadores de desempenho da célula, que foram os seguintes: número de setup/dia; tempo de setup; produtividade; níveis de estoque intermediário; quantidade de quebras de máquina; horas necessárias para manutenção. Na seqüência se organizou as etapas em que o trabalho do time Kaizen seria realizado. O Quadro 1 apresenta as etapas organizadas pelo time kaizen e os procedimentos de apoio. Quadro 1 – Etapas de desenvolvimento do processo de melhoria na célula de extrusão Etapa Criação do time kaizen Levantamento dos problemas ou oportunidades de Descrição Procedimentos de apoio Nessa fase decidiu-se a composição do time kaizen. A preocupação foi responder à questão Reuniões de equipe envolvendo quem seriam os integrantes da equipe de forma a desenvolver um bom trabalho. Brainstorming; Nesta fase decidiu-se realizar um brainstorming reuniões da equipe; e também fotos e vídeos da célula de extrusão. Diagrama causa-efeito. 8 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Na fase de levantamento dos problemas ou oportunidades de melhoria, verificou-se: ˗ Ambiente: notou-se que não havia uma identificação visível dos processos e das áreas para alocação dos produtos acabados e semi-acabados; havia muitos tubos extrudados em processo intermediário e a iluninação da área estava precária; ˗ Máquinas: algumas estavam em condições precárias; ˗ Gestão: observou-se que não havia um monitoramento visível e claro com metas e indicadores; ˗ Matéria prima: foram identificados problemas no armazenamento (necessidade de ajustes na sala climatizada); ˗ Detectou-se também que o tempo de setup estava alto; ˗ Outro problema identificado, foi relacionado ao porta disco de corte. Perdia-se muito tempo ao cortar o tubo em anéis, ou seja, em produtos acabados. ˗ Procedimentos de trabalho: a célula ainda carecia de padronização; ˗ Foram observados problemas com relação à flexibilidade do processo, pois o tempo de setup estava muito alto. Com a finalização dessa fase passou-se para a próxima que foi a elaboração do plano de ação para planejamento e implantação de melhorias no setor. 9 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 4.2 Implantações de mudanças na célula de extrusão Com as informações coletadas e estudadas estruturou-se um ciclo PDCA (Plan; Do; Check; Act) conforme a figura 2. O ciclo PDCA descrito na figura 2 destaca os principais métodos utilizados na célula pelo time Kaizen: ˗ NAV: eliminação de Atividades que Não Agregam Valor; ˗ SMED (Single-Minute Exchange of Dies - troca rápida de ferramentas): metodologia utilizada para diminuição de tempo de setup; ˗ Análise e soluções de problemas: meio de controle no qual a equipe teve que analisar dados históricos da célula; ˗ Investimentos: material usado para implantação das melhorias (custos das melhorias); ˗ Trabalho padronizado: no caso em questão o trabalho padronizado foi importante para a eliminação dos desperdícios gerados pelos operadores na operação da máquina; ˗ 5S: aplicado para a organização e limpeza do setor; ˗ Realização do TPM (Total Productive Maintenance – Manutenção Produtiva Total). Figura 2 – Ciclo do PDCA aplicado no processo de melhoria na célula de extrusão Mapeamento da Cadeia de Valor Eliminar NAV SMED KANBAN PDCA Just in Time QRQC Análise e Solução de Problemas Ferramentas Clássicas Controle do Equipamento MAP Controle do Processo Histórico Eliminar Perdas Monitoramento Novas Ferramentas Manutenção Autônoma Manutenção Planejada Treinamento Investimento Gestão Diária Melhorias do Posto de Trabalho Trabalho Padronizado Habilidade Operacional 5S Eliminar Desperdícios 10 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Fonte: Elaborada pelo Time Kaizen – célula de extrusão Fonte: Elaborada pelo Time Kaizen – célula de extrusão Na figura 2 o QRQC (Quick Response Quality Control - Resposta Rápida para Controle de Qualidade) trabalha com um conjunto de ferramentas da qualidade usadas sequencialmente atuando na contenção do problema e a imediata investigação e atuação direta na causa raiz. O detalhamento da intervenção na empresa segue o ciclo descrito na figura 2. Com o time Kaizen reunido e com a maioria dos problemas levantados fez-se o primeiro giro do ciclo do PDCA e utilizou-se diversas ferramentas, dentre elas: Análise e Solução de Problemas; Trabalho Padronizado; 5S. Inicialmente, implantou-se os quadros de gestão à vista, neles pôde-se fazer o acompanhamento da célula em termos de produção, quebras de máquina, qualidade e Eficiência Global do Equipamento (EGE) - qualidade, performance e disponibilidade. Foram levantados os dados de cada operação da célula (tempos de setup, quantidade de setup, produtividade de cada part number, etc) e fez-se um diagrama de blocos de processo. Com o diagrama de blocos verificou-se para cada processo: operadores; turno; produção por hora; quebras de máquina; tempo de setup; tamanho do lote. Esse procedimento forneceu informações essenciais para a implantação das futuras ações de melhoria na célula. Após, fez-se o cálculo do takt time. Esclarece-se que, O takt time é definido a partir da demanda do mercado e do tempo disponível de produção; é o ritmo de produção necessário para atender a demanda. Matematicamente, resulta da razão entre o tempo disponível para a produção e o número de unidades a serem produzidas. ALVAREZ e ANTUNES Jr. (2001, p. 6). Levantou-se a demanda do mercado e o tempo disponível para produção e fez-se o cálculo do takt time. 11 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Para se atacar o problema de setup, fez-se um estudo de tempos e aplicou-se a metodologia SMED. O primeiro passo foi realizar a filmagem do setup das máquinas cortadoras de 4 e 2 mandris. Para a filmagem, foi escolhida a peça que tem o maior tempo de setup com aproximadamente 50 minutos e a peça com menor tempo de setup, 30 minutos. Após a realização da filmagem, reuniu-se com a equipe Kaizen e assistiu-se ao vídeo, fez-se uma análise crítica de cada cena e, após, um brainstorming para possíveis melhorias no setup. Uma das ações proposta foi adicionar um “setupista”, ou seja, uma pessoa que auxilia o operador da máquina de corte a preparar as ferramentas necessárias antes de efetuar a troca. Com o acrescimo do “setupista” reduziu-se o tempo de setup de 50 minutos para 30 minutos. Então se realizou novamente a filmagem e decidiu-se: (a) mapear o percurso do operador na célula, (b) retirar os parafusos e substituir por pinos guia para que o operador encaixe as guias dos mandris na máquina. Com as idéias do time e a ajuda dos operadores, iniciou-se o 5S no setor. Mudou-se todo ambiente do setor, realizando identificações dos processos com novas placas, facilitando o acesso entre máquinas e melhorias no acondicionamento dos mandris de corte com identificação de diâmetros, o piso foi pintado com faixas e cores de identificação de área da célula. Restaurou-se as máquinas, trocou-se a iluminação do setor visando economia de energia e melhor ergonomia, fez-se kits de limpeza, construiu-se carrinhos supermercados para o armazenamento de tubos extrudados. O resultado do 5S pode ser visto nas fotos 2, 3. Foto 2: Célula de extrusão antes da implantação do 5S Fonte: A empresa do estudo Foto 3: Célula de extrusão após implantação do 5S Fonte: A empresa do estudo O time kaizen melhorou a camara fria de armazenagmento de matéria-prima como pode ser visto nas fotos 4 e 5. 12 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Foto 4: Câmara fria de armazenamento de materia-prima antes do kaizen Fonte: A empresa do estudo Foto 5:Câmara fria após a realização do Kaizen Fonte: A empresa do estudo Nas fotos 6 e 7 observa-se a recuperação da extrusora da celula na qual se aplicou Kaizen/ TPM. Foto 6: Máquina antes do TPM Foto 7: Máquina após o TPM Fonte: A empresa do estudo Fonte: A empresa do estudo Para minimizar as quebras das máquinas (corte; extrusora; retifica) realizou-se um estudo das causas e tempo de parada de cada máquina, assim com o apoio da área de manutenção fez-se o TPM, primeiramente, com os dados levantados o time kaizen reuniu-se com o setor de manutenção, descobriu-se que as duas principais causas relacionadas à quebra das máquinas são: (i) não havia um cronograma de manutenção preventiva e; (ii) não havia manutenção 13 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. autônoma do operador (verificação de óleo; parafusos soltos; etc). Após, fez-se um cronograma que traz os dias e meses que o setor da manutenção irá agir para realizar a manutenção preventiva e preditiva, juntamente com indicadores de vida útil dos componentes e de horas manutenção. Após algumas reuniões, decidiu-se filmar o processo de corte para analisar o trabalho de cada operador, então se mediu a produtividade relacionada a cada peça. Foi cronometrado o tempo de corte das peças durante alguns dias e o time kaizen fez uma análise critica. Então se decidiu duplicar os discos de corte para minimizar o tempo de operação, com isso obteve-se um melhor aproveitamento de carga máquina e tempo de operação. Em conseqüência, aplicou-se o mesmo procedimento à mesa de modelagem/desmodelagem em que se duplicou a mesa, e obteve-se um melhor resultado no processo, obtendo praticamente o dobro de produção. As modificações no disco de corte podem ser vistas nas Fotos 8 e 9. Foto 8: Dispositivo de corte antes da melhoria Fonte: A empresa do estudo Foto 9: Dispositivo de corte após a melhoria 14 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Fonte: A empresa do estudo A partir da melhoria nos tempos de setup, conseguiu-se produzir até cinco tipos de peças diferentes por turno, pois passou a ter a troca rápida de ferramentas e isso aumentou a flexibilidade do processo de manufatura. 4.3 Resultados e dificuldades a) Resultados O trabalho que foi apresentado nesse artigo chamou a atenção da empresa devido aos resultados alcançados, como segue: ˗ Resultados qualitativos: com a implantação das ações de melhoria os funcionários passaram compreender a filosofia kaizen, isso se refletiu em um maior envolvimento dos operadores; em um melhor relacionamento e motivação para participação em outros processos de melhoria. A gestão à vista permitiu ao supervisor da área enxergar o que está ocorrendo de irregular na célula e tomar as ações necessárias para recuperar a produção. Observou-se também melhor conservação das máquinas mantendo a ordem e limpeza das mesmas a partir da recuperação das condições básicas como limpeza e pintura. Outros resultados qualitativos: 15 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. ˗ Melhoria do acondicionamento de matéria prima a partir da sala climatizada e arranjo fisíco que suporta o FIFO (Fist in First out); ˗ Adoção de nova sistemática de gestão com monitoramento das metas horárias de produção e indicação gráfica de causas e perdas; ˗ Resultados Quantitativos: após a implantação de ações de melhoria houve o acompanhamento por cinco meses que resultou no seguinte levantamento: ˗ Redução de 40% no número de quebra de máquina; ˗ Redução nos atrasos: observava-se antes dessa intervenção a necessidade na célula era de aproximadamente 70 horas extras por mês; ˗ Redução no tempo de setup: antes 50 minutos; depois 10 minutos (para a peça desse estudo); ˗ Aumento da produção da célula: 66,8%, conforme cálculo a seguir: Aumento de produção da = célula ˗ Peças produzidas por hora após processo de melhoria (21.769) -1 x 100 = 66,8% (4) Peças produzidas por hora antes do processo de melhoria (13.052) Maior número de mix de peças a serem produzidas em um único turno (5 mixes), produzia-se antes 2 tipos de mixes: isso significa maior flexibilidade do processo de corte; ˗ Menor tempo de desmodelagem: 3min para 1 min; ˗ Redução de inventário de tubos extrudados em processo a partir da implantação de supermercados: aproximadamente 30%; 16 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. b) Dificuldades Encontradas É importante relatar também as dificuldades encontradas para execução das ações relatadas nesse texto. ˗ Estruturais: os problemas no ambiente estavam relacionados à necessidade e adequar a iluminação; armazenar as peças de forma mais adequada, em supermercados de produtos; reduzir os altos níveis de estoques intermediários, pois havia muitas peças semi-acabadas para serem cortadas. ˗ Comportamental: a maior dificuldade que se encontrou no decorrer desse trabalho foi a mudança de cultura das pessoas, ou seja, a dificuldade estava no modo como as pessoas agiam e visualizavam o ambiente de trabalho e o que elas podiam ou deveriam fazer para melhorá-lo. A condução das melhorias feitas pelo time Kaizen preocupou-se em transmitir confiança, planejamento e organização. O time tinha grande preocupação em obter bons resultados sempre cumprindo o cronograma da empresa, e obtendo sucesso nos trabalhos realizados. 5. Conclusões Esse trabalho teve como objetivo relatar as ações de uma equipe responsável por implantar melhorias e, posteriormente, difundir na empresa a filosofia kaizen. Esse relato é importante, pois a organização reconheceu o trabalho do time e uma cultura de confiança e comprometimento começou a ser delineada, pois havia uma experiência bem sucedida para ser discutida e replicada. Portanto, uma preocupação presente nessa experiência esteve relacionada aos recursos humanos, nesse sentido têm-se trabalhos como o de Glover et al (2011) que observam que pode ser difícil para as organizações sustentarem os resultados de um evento Kaizen após concluí-lo, sendo, portanto um ponto importante e ser considerado. Os autores investigam os fatores que mais fortemente influenciam essa sustentabilidade. Já Losonci, Demeter e Jenei (2011) investigam a percepção dos funcionários em um processo de transformação envolvendo a manufatura enxuta. Também se destaca o artigo de Ortiz (2010) que apresenta os conceitos lean e kaizen e se concentra no que ele chama de lean tools: kaizen, 5S, trabalho padrão e redução de setup. 17 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Por fim, ressalta-se que os membros da equipe continuaram implantando processos de melhoria na célula e membros do time são hoje também responsáveis por implantação em outras células envolvendo problemas diversos. Considera-se que a metodologia adotada proporcionou aos membros um maior conhecimento, pois a cada etapa muito estudo foi realizado a fim de conduzir as mudanças de forma segura para, posteriormente, envolver toda empresa e também outras empresas do grupo. Referências ALMEIDA, M; BELO, J; SILVA, B. Kaizen: Estudo de caso em uma metalúrgica brasileira. Encontro Nacional de Engenharia de Produção (Enegep), Belo Horizonte - MG, Outubro de 2011. ALVAREZ, R. R.; ANTUNES Jr., J. A. V. Takt time: conceitos e contextualização dentro do sistema Toyota de produção. Gestão e Produção, v. 8, n. 1, p. 1-18, 2001. BRIALES, J. A. Melhoria contínua através do Kaizen: estudo de caso Daimlerchrysler do Brasil. Universidade Federal Fluminense, Dissertação de Mestrado, Niterói, 2005. CAMPOS, V. F. TQC: controle da qualidade total no estilo japonês. Novo Lima – MG: ONDG Tecnologia e Serviços Ltda., 2004. GLOVER, W. J.; FARRIS, J. A.; AKEN, E; M. V.; DOOLEN, T. L. 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