XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 RELATO DA APLICAÇÃO DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE AVANÇOS TECNOLÓGICOS E INCLUSÃO DIGITAL PARA ALUNOS DO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL Sandra Aparecida de Oliveira e Souza1 Iara Terra de Oliveira2, Jerusha Mattos Câmara2 1- Escola Estadual Professor Caetano Miele 2- REDEFOR- Rede São Paulo de Formação Docente- Ensino de Ciências- Faculdade de Educação- Universidade de São Paulo-SP Este trabalho relata os resultados obtidos na aplicação de uma sequência didática sobre avanços tecnológicos e inclusão digital para quatro turmas de alunos do nono ano do ensino fundamental, nas aulas de Ciências, nos meses de agosto a outubro de 2011, na Escola Estadual Professor Caetano Miele, localizada na cidade de São Paulo, SP. A experiência didática surgiu da constatação que as tecnologias contemporâneas podem ser referência para a formação básica dos estudantes, permitindo a construção de leituras inovadoras do mundo e ampliando as possibilidades da construção e circulação de informação. A avaliação da sequência didática foi feita pela análise da participação dos alunos no que se refere ao entendimento sobre os avanços da comunicação ao longo dos tempos, a compreensão da importância da informática para a sociedade atual, a necessidade de se ter uma postura correta ao trabalhar com computador e a relevância da inclusão digital. Para a produção de dados foram utilizados questionário inicial de levantamento dos conceitos prévios dos alunos, observação das aulas, exposição de cartazes, produção de vídeos e folders. Ao final da aplicação da sequência didática foi realizada uma avaliação oral para detectar a aprendizagem dos conceitos abordados durante o trabalho. Os dados revelaram como, tendência geral, que os alunos avançaram na apropriação de conceitos básicos sobre informática, internet e cuidados com a postura no uso do computador, apontando para a criação de mais oportunidades nas aulas de Ciências que permitam a alfabetização digital e o entendimento sobre os malefícios para a saúde causados pela falta de cuidados com a postura corporal frente ao computador. Palavras-chave: sequência didática, avanços tecnológicos, ensino fundamental II. Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.003023 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 1 INTRODUÇÃO Diferentes tecnologias foram incorporadas ao ensino através dos anos, primeiro o livro, depois o rádio e a televisão, multimídia, transmissões por satélite. Hoje, a tecnologia da informação representada pela internet, cuja presença no Brasil teve início em 1987, oferece recursos para uma aprendizagem rica, possibilitando ao educando a construção do conhecimento de forma colaborativa e integrada, Documentos como os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental e Médio - PCNEM (BRASIL, 1999) assim como as diretrizes curriculares do Estado de São Paulo indicam como objetivos do Ensino Fundamental que os alunos sejam capazes de saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos. Na mesma linha de raciocínio, Perrenoud (2000), afirma que a escola não pode ignorar as novas tecnologias de informação e da comunicação (TIC), que transformam espetacularmente as nossas maneiras de comunicar, de trabalhar, de decidir e de pensar. Nesse contexto, aplicou-se uma sequência didática com o objetivo de avaliar o engajamento dos alunos na abordagem sobre avanços tecnológicos e inclusão digital. Pedro Demo (2008, on line) coloca que: “Talvez o argumento mais pertinente no sentido de melhor combinar tecnologias de informação e de comunicação (TIC) seja o da inclusão digital. Muitas vezes entendemos por inclusão digital programas que apenas apresentam as TICs à população, em geral através de cursos mínimos, sem condições de garantir aprendizagem adequada. A inclusão digital mais promissora é aquela feita em ambientes educacionais corretos, como poderia ser a escola, em especial a alfabetização no sentido pleno do termo. As TICs não apenas facilitam acessos e interatividades. Elas são expressões próprias dessas habilidades. Daí a importância extrema de envolver as TICs em ambientes educacionais, não apenas para que estes se tornem tecnologicamente corretos, mas também para que as plataformas tecnológicas signifiquem novas oportunidades de aprender e formar-se. TICs são hoje parte do direito de aprender bem e permanentemente.” No espaço escolar e também nas residências, o uso do computador levanta questões sobre ergonomia, compreendida aqui como “o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários à concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto e eficácia” (WISNER, 1972) Tendo em foco a importância da inclusão digital para a educação no Brasil, foram propostas atividades de pesquisa em que houvesse a oportunidade de conhecer e compreender programas que criam condições à expansão do uso do computador e da Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.003024 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 2 internet, visando ampliar a percepção dos alunos com relação à sua inserção no mundo virtual, levando-os a novos significados para as informações trazidas e facilitando a apropriação do conhecimento. METODOLOGIA O presente trabalho é resultado da investigação da aplicação de uma sequência didática sobre avanços tecnológicos e inclusão digital, produzida durante o Curso de Especialização no Ensino de Ciências da Universidade de São Paulo, Rede de Formação Docente (REDEFOR) no ano letivo de 2011. A pesquisa teve como objetivo articular a teoria desenvolvida durante o curso e a atividade prática em sala de aula, através da análise da organização do ensino, da aprendizagem dos estudantes e do engajamento disciplinar. Participaram da aplicação, simultaneamente, cento e vinte e cinco alunos distribuídos em quatro turmas de nono ano do ensino fundamental, na faixa etária de quatorze a quinze anos, da Escola Estadual Professor Caetano Miele, localizada na cidade de São Paulo, SP. O trabalho foi desenvolvido em oito horas-aula, no período de agosto a outubro de 2011, nas aulas de Ciências. Aliado ao estudo do sistema nervoso humano, a professora de Ciências apresentou aos alunos uma proposta de trabalho sobre avanços tecnológicos e inclusão digital. Com o intuito de verificar as concepções prévias dos alunos sobre os meios de comunicação ao longo do tempo e a importância social da internet, foi aplicado um questionário inicial e, a seguir, foram elaborados cartazes a partir da interpretação de textos sobre a história da carta, do telégrafo, do telefone e da internet. Na primeira aula foi entregue um questionário visando um diagnóstico sobre o uso do computador, a fim de adequar conteúdos com maior eficiência às aulas posteriores. A atividade foi desenvolvida individualmente e consistiu nas respostas no caderno, às seguintes questões: 1. Você utiliza computador? Em quais situações? 2. Cite os benefícios que o uso do computador proporciona na realização de muitas de nossas tarefas diárias. 3. Você utiliza a internet? Em quais situações? 4. Quais tarefas você pode realizar no seu computador se ele não tiver acesso a internet? Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.003025 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 3 Após a discussão das respostas, foi feito o estudo de um texto, através de leitura compartilhada e debate, que descreve os avanços dos meios de comunicação ao longo do tempo. Como tarefa para casa, a professora solicitou que os alunos produzissem um cartaz em cartolina branca, em grupo com cinco alunos cada, sobre o tema sorteado que poderia ser: carta, telégrafo, telefone, internet ou telefone celular. A figura a seguir representa o modelo de cartaz exigido para a produção do trabalho, onde o título deveria conter o tema sorteado, abaixo dele desenhos representativos seriam colados ou desenhados, logo abaixo e de forma concisa deveria ser escrito manualmente ou digitado a história e a utilidade dos equipamentos e, colocado no canto inferior direito, a identificação dos alunos. TÍTULO FIGURA (desenhada ou colada) INFORMAÇÕES CONCISAS história, utilidade Nome dos alunos, – nº e turma Figura 1- Esquema para o modelo de cartaz produzido pelos grupos Na segunda aula, os grupos se apresentaram, utilizando-se de no máximo cinco minutos, explicando para os colegas o seu tema e mostrando o cartaz produzido. Ao final, os cartazes foram fixados no mural da sala. Na terceira aula, foi apresentada a seguinte notícia aos alunos com o seguinte título “Brasil: Pane no Serpro provoca filas no Detran e Receita Federal” que estava disponível na internet. Após a leitura da notícia, a professora pediu para que os alunos respondessem, de forma escrita numa folha de sulfite, à seguinte questão: Quais vantagens a utilização da Internet proporciona à realização dos serviços citados na reportagem e quais os prejuízos quando estes serviços param de funcionar? Na quarta aula, foram descritas, através de um texto extraído de um livro didático de ciências de 9º ano, a definição do termo informática e os grandes marcos no desenvolvimento desta área, contemplando os estudos do matemático inglês Charles Babbage (1791-1871) que projetou uma máquina que realizava alguns cálculos mais complexos do que as quatro operações básicas e do engenheiro norte-americano Herman Hollerith (1860-1929), que trabalhava no Censo americano e desenvolveu uma máquina para auxiliar na contagem e separação dos dados coletados. Essa máquina foi considerada o primeiro processador de dados. Foi explicado que somente em 1941 foi desenvolvida a primeira calculadora que utilizava eletricidade para automatizar os cálculos – a Mark I – dando início ao desenvolvimento de equipamentos que Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.003026 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 4 trabalhavam na automatização de tratamento de dados por meio de eletricidade e, consequentemente, ao desenvolvimento da informática. Por último, a professora descreveu oralmente a importância da microeletrônica, com o desenvolvimento dos transistores e dos circuitos integrados (chips), bem como a necessidade do Brasil participar efetivamente da área produtiva e de mercado nesta área. Para enriquecer a atividade, a docente solicitou que os alunos realizassem em casa uma pesquisa sobre o que são transistores, chips e computadores. Alguns cuidados foram exigidos para esta tarefa, pois há um grande número de informações disponíveis na internet e que nem sempre são confiáveis ou relevantes. Desta forma, a professora disponibilizou algumas fontes seguras para facilitar o acesso às informações. A quinta aula foi iniciada com a leitura das pesquisas pedidas na aula anterior. Foram chamados alguns alunos, sorteados pelo número da chamada, para fazerem as considerações sobre o objeto de seu estudo. A seguir, oralmente, foram sanadas pela professora algumas dúvidas sobre alguns termos técnicos, por exemplo, materiais semicondutores, resistores, capacitores. Em seguida, foi discutida oralmente a origem da internet, conjunto de redes interconectadas no mundo todo, que permite aos usuários acessar e disponibilizar informações de maneira tanto pública quanto privada e utilizar os mais diversos serviços nela disponíveis. Finalmente, foram discutidos alguns dados que revelam que a internet é importante na sociedade atual. Na sexta aula, procurou-se aliar os conteúdos propostos no caderno do aluno (Secretaria da Educação do Estado de São Paulo) sobre patologias do sistema muscular e esquelético a má postura frente ao computador. Foi disponibilizado para cada aluno um texto com ilustrações sobre ergonomia ao usar o computador, onde são dadas orientações importantes que auxiliam na diminuição dos problemas corporais causados com a utilização prolongada do computador, como ajustes na iluminação do monitor; utilização de cadeiras adequadas; necessidade de pausa para descanso; posicionamento de braços e pernas. Houve discussão sobre medidas preventivas correlacionadas à saúde das pessoas que utilizam o computador por várias horas ao dia, posicionando-se de maneira inadequada. Devido a este fato, podem adquirir problemas de saúde relacionados à visão, às articulações, aos músculos e à coluna. A seguir, a turma assistiu a um vídeo disponível na internet que ilustra o conteúdo abordado. Levando-se em conta que a preocupação com a postura correta frente ao computador é um fator determinante na prevenção de problemas de coluna, cansaço Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.003027 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 5 ocular entre outros, foi proposto pela professora que os alunos, divididos em vinte e cinco grupos de cinco alunos cada, produzissem em seu lar um vídeo utilizando os recursos de um telefone celular, com duração de no máximo três minutos, contemplando as orientações trabalhadas em sala de aula. Após o envio destes vídeos para um blog montado pela professora ou gravados em pendrive, esses foram analisados e os mais adequados segundo os objetivos propostos, tempo máximo de gravação, participação de pelo menos um dos componentes como “ator” e no mínimo três orientações para diminuir os problemas posturais frente ao computador, foram disponibilizados para todos os alunos participantes do trabalho. Na sétima e oitava aulas, os alunos foram agrupados em trios e encaminhados para a sala de informática da escola, onde teriam que necessariamente, pesquisar na internet apenas um dos programas de inclusão digital listados a seguir: 1) O Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO); Programa Nacional de Apoio à Inclusão Digital nas Comunidades – Telecentro.BR; Acessa São Paulo, programa de inclusão do Governo do Estado de São Paulo. Realizada a pesquisa e, seguindo um roteiro fornecido pela professora, os trios deveriam produzir um folder com caráter de propaganda do programa de inclusão pesquisado, em folha de sulfite, dobrado duas vezes no sentido horizontal e com figuras para chamar a atenção dos leitores. No roteiro, foram pedidos o nome e os objetivos do programa; o público ao qual se destina; os endereços para atendimento e os serviços oferecidos. Após a análise de cada folder produzido, ocorreu uma exposição no mural da sala de informática, para que todos os usuários da mesma conhecessem alguns programas que criam condições à expansão do uso do computador no Brasil. Visando uma avaliação dos conhecimentos adquiridos, no encerramento da sequência didática foi feita uma discussão oral, envolvendo professora e alunos, resgatando os tópicos estudados. Serão apresentados a seguir os resultados obtidos durante a aplicação da sequência didática, verificando a compreensão dos alunos com relação aos avanços tecnológicos e o uso da internet, as maneiras pelas quais evitam problemas de saúde ao utilizar o computador e a clareza com que entendem os benefícios da inclusão digital. Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.003028 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO O questionário inicial foi o primeiro momento para tomar contato com os alunos sobre o tema. Ao questionar, foram levantados os primeiros elementos que permitiram estabelecer a familiaridade com o uso do computador, conforme a figura gráfica 2. Figura 2 - Gráfico sobre uso do computador No entanto, ao serem questionados sobre quais tarefas executam quando acessam a internet, citam apenas redes sociais, mensagens de texto e jogos. Esta situação está apresentada na figura 3: Em quais situações você utiliza a internet? 1,% 7% Jogar/acessar redes sociais/enviar mensagens Pesquisar 92% Ler notícias Figura 3 - Gráfico referente as principais atividades realizadas pelos alunos usando a internet Estes dados refletem o que já foi relatado em recente pesquisa feita pela comScore (2010), onde constatou-se que a população entre seis e quatorze anos que corresponde a 12% do total da população online do Brasil, passa a maior parte de seu tempo em sites de entretenimento, instant messengers e redes sociais, indicando que atividades de diversão e lazer são influenciadores predominantes do comportamento de usuários mais jovens. Na segunda parte da aula, ao se interpretar um texto sobre o avanço de alguns meios de comunicação ao longo do tempo, os alunos se mostraram participativos, inclusive complementando as informações fornecidas com explanações sobre outras tecnologias que permitiram o desenvolvimento da sociedade moderna. Uma exposição de cartazes foi montada e foram discutidos de forma crítica os aspectos positivos e negativos das inovações tecnológicas na comunicação, desde a carta até a internet. Ressaltou-se, dentre as explanações, um dos grupos que discorreu sobre a importância da carta e a relação dela com os e-mails de hoje e, em outro grupo onde a preocupação foi a utilização do telégrafo que era conhecido pelos alunos através Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.003029 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 7 dos filmes americanos que retratam guerras, e que com a pesquisa realizada mostrou outras importantes funções. Devido ao desconhecimento dos alunos sobre serviços via internet disponibilizados por órgãos públicos, a docente achou conveniente apresentar uma reportagem que informava sobre pane nestes locais. Após a leitura, os alunos escreveram quais vantagens a utilização da Internet proporciona à realização dos serviços citados na reportagem dada e quais os prejuízos quando estes serviços param de funcionar. Constataram-se respostas como acesso mais rápido aos dados de um veículo e suas multas e a agilidade na aquisição da carteira nacional de habilitação, no caso do Detran. Com relação à Receita Federal, as respostas foram pouco precisas, pois os alunos em sua grande maioria não sabiam para que servia o órgão e, mesmo após as explicações dadas pelo professor, continuaram com dúvidas, sendo que o serviço mais lembrado e que poderia ser prejudicado na sua execução foi o imposto de renda. Os computadores tornaram-se uma importante ferramenta de trabalho, contribuindo para o aumento da produtividade, melhoria na qualidade de produtos industrializados e na redução de custos. Todavia, os alunos tiveram dificuldades em separar a utilização do computador do uso da internet. Quando questionados oralmente se ao utilizar um computador e não tivessem acesso à internet, quais tarefas poderiam realizar, apresentaram respostas confusas, inclusive alguns alunos escreveram que nenhuma atividade poderia ser realizada. A figura 4 mostra os resultados: Figura 4 - Gráfico mostrando o número de vezes que determinada tarefa realizada no computador aparece na resposta dos alunos Percebe-se que apesar das respostas confusas, a tarefa com maior número de citações e portanto a mais realizada, é relacionada aos jogos. Com o desenvolvimento da informática, o computador passou a ser uma ferramenta presente em muitas residências e em muitos locais de trabalho. Com isso, as pessoas passam horas utilizando esses equipamentos e uma postura adequada é Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.003030 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 8 essencial para evitar problemas de saúde. Nesse contexto, foram feitas algumas perguntas para detectar possíveis procedimentos equivocados e, a seguir, foi analisada uma imagem que refletia a ergonomia ao usar o computador. A tabela 1 mostra as respostas dos alunos que possuem computadores em sua residência. Tabela 1 – Questões e respostas dos alunos sobre ergonomia no uso do computador QUESTÃO 1. Ao digitar você conserva as mãos retas? 2. Você utiliza os ajustes na tela do computador para diminuir o brilho? 3. O monitor que você utiliza está a uma distância aproximada de 70 cm da sua face ao nível dos olhos? 4. Ao sentar-se para utilizar o computador, você se preocupa em deixar sua coluna ereta, mantendo a sua curvatura natural em formato de S? 5. Você se preocupa com o tipo de cadeira que vai utilizar? 6. Você já percebeu se seu braço, ao digitar, forma um ângulo de 900 com o teclado? 7. Seus pés ficam totalmente apoiados no chão quando utiliza o computador? 8. Você faz um intervalo a cada duas horas que utiliza o computador, aproximadamente? SIM 33,6% NÃO 60% ÀS VEZES 4,8% NÃO SEI 1,6% 12% 79% 9% - 51% 38,6% - 10,4 37% 55% 7,2% 0,8% 25,2% 74,8% - - 12% 78,4% - 9,6% 51,2% 42,4% 6,4% - 28% 37,2% 34,8% - Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.003031 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 9 Baseado na tabela acima , a professora pediu que os estudantes produzissem vídeos no celular alertando sobre a ergonomia no uso do computador. Todos os vídeos foram produzidos pelos alunos, na maioria dos casos, um integrante gravava e outros dois participavam da cena. Foram priorizadas a utilização de uma cadeira correta, a distância da tela do monitor aos olhos e a posição de pernas e braços. Em um dos vídeos, um estudante simula uma sessão de alongamento e em outro, há uma comparação entre posturas corretas e incorretas frente ao computador. Mas, o que ficou evidente em todos os casos, foi a criatividade e o bom humor. Nas duas últimas aulas da sequência didática, foram elencadas, através de discussão entre a professora e os alunos, alguns recursos importantes no uso da internet pela população, por exemplo, a possibilidade de acesso às notícias de toda parte do mundo em tempo real; a troca de idéias com pessoas de outras culturas; auxilio nas pesquisas escolares; acesso a serviços de banco e mercado financeiro; compras online. A análise da discussão acerca dos diversos recursos da internet identificou que os alunos reconhecem sua importância, principalmente no que tange a aumentar o círculo de amizades e atividades de lazer. Porém, não associam o seu uso com a promoção de melhores empregos e consequente aumento da renda da população. Em nenhum momento da fala deles, notou-se preocupação com as consequências da exclusão digital. Após a identificação desta percepção, foi proposta uma atividade em que trios de alunos procederam à pesquisa na sala de informática sobre três programas de inclusão digital. O Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO); o Programa Nacional de Apoio à Inclusão Digital nas Comunidades – Telecentro.BR e o programa Acessa São Paulo. Ao analisar os programas de inclusão digital, os alunos seguiram um roteiro onde a primeira questão era saber qual a definição que eles tinham deste assunto. A tabela 2 abaixo mostra os resultados. Tabela 2 – Respostas dos alunos com relação a definição do que é inclusão digital. Você sabe o que é inclusão digital? Algumas respostas dadas Explique. Sim (7%) “Acesso a tudo que se refere a digital para todos”; “acesso a internet a pessoas que não tem condição; “é fazer todas as pessoas serem inclusas nessa nova fase tecnológica, fazendo com que elas tenham direito à internet”;“é liberar internet para todos”; “ gente de classe baixa possuir um Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.003032 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 10 computador ou equipamentos de tecnologia avançada”. Não (93%) “Não”; “não sei”; “não me lembro”;”não sei explicar”. A segunda questão, perguntou onde o aluno costuma acessar a internet. Foi detectado de acordo com a figura 7, que a maioria acessa em sua residência, os outros alunos procuram casas de parentes, colegas, lan house e pouquíssimos utilizam a escola para este fim. Onde você costuma acessar a internet? 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 residência casa de amigos casa de parentes lan house escola Figura 5 - Gráfico mostrando os locais onde o aluno acessa a internet A figura 5 demonstra que os alunos privilegiam utilizar a internet em sua residência, o que pode ser explicado pela atual disponibilidade de uma internet de melhor qualidade e, também, pela possibilidade de acessá-la livremente, por tempo indeterminado. Com relação aos locais próximos as suas casas com computadores para acesso gratuito e livre a internet, sem ser a escola, os resultados são demonstrados nas figuras 6 e 7. Você conhece locais próximos a sua casa que disponibilizem acesso gratuito à internet? 28% sim não 72% Figura 6 - Gráfico sobre o conhecimento de locais próximos à residência dos alunos que possibilitem acesso gratuito a internet Cite estes locais. 3% 4% Telecentros CEU 93% Igrejas Figura 7 – Gráfico mostrando a citação feita pelos alunos dos locais de acesso gratuito a internet próximos a suas residências Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.003033 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 11 Com a análise das respostas contidas nas figuras 6 e 7, percebe-se que mais de setenta por cento dos alunos dizem conhecer locais de acesso livre a internet, mas quando é pedido que citem estes locais, a maioria se restringe aos Telecentros. Partindo das discussões referentes aos resultados obtidos após as questões propostas, foram realizadas as pesquisas sobre os programas de inclusão digital, ora na escola, ora no lar, pois vários foram os percalços para acessar a internet de modo satisfatório nos equipamentos presentes no espaço escolar. Visando divulgar as informações coletadas, os alunos produziram, em suas casas, folders, que foram expostos no mural da sala de informática. CONCLUSÕES O foco deste trabalho foi analisar os resultados obtidos durante a aplicação de uma sequência didática, em que foram trabalhados assuntos relacionados aos avanços tecnológicos, à ergonomia frente ao computador e à inclusão digital. Os resultados da investigação acerca do envolvimento dos alunos na abordagem sobre avanços tecnológicos demonstraram que o aluno de hoje apresenta vantagens com relação ao aluno de uma década atrás, porque traz para a escola maior conhecimento tecnológico e demonstra expectativas diferenciadas quanto a sua formação. Mas, apesar desta vasta informação virtual, detectou-se durante as aulas que vários alunos desconheciam ou tinham dificuldades em utilizar programas básicos do computador. Desse modo, o professor de Ciências tem a possibilidade de trabalhar estes recursos, ampliando o número de metodologias utilizadas em sala de aula, assumindo uma postura mediadora. Sobre isso, José Manuel Moran (2000) coloca que hoje o ato de ensinar e aprender exige muito mais flexibilidade espaço temporal, pessoal e de grupo para processos mais abertos de pesquisa e de comunicação, sendo que uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação com o aprofundamento da sua compreensão. Outro fator analisado neste trabalho foi a ergonomia no uso do computador, em que ficou evidente, através dos dados coletados, que os alunos desconhecem algumas medidas de prevenção de vícios posturais. A produção de vídeos sobre este tema alertou principalmente os alunos envolvidos, que medidas simples incorporadas ao cotidiano colaboram para a manutenção da saúde. Cabe aqui ressaltar que são raras as campanhas educativas, tanto na escola como na mídia, com o intuito de prevenir patologias Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.003034 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 12 associadas à má postura. E não há mobiliário dentro da maioria das escolas com adequação ergonômica suficiente para ser utilizada por adolescentes. No que se refere aos dados encontrados sobre espaços utilizados para acesso à internet, notou-se que a escola foi citada por uma ínfima parcela dos alunos, motivo pelo qual deve ser ampliada a oferta de estratégias que possibilitem a inserção da tecnologia nas aulas, como referência para a formação básica dos alunos. A abordagem deste tema através de uma sequência didática contribuiu para melhor organização das aulas e também foi verificada de forma mais clara a aprendizagem dos alunos. Com isso, o uso da sequência didática pode contribuir para aperfeiçoamento da formação docente, proporcionando um melhor aproveitamento dos alunos com relação ao processo ensino-aprendizagem. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DEMO, Pedro. Educação hoje: novas tecnologias, pressões e oportunidades. São Paulo: Editora Atlas, 2009. 144 p. DEMO, Pedro. TICs e Educação. Artigo disponível em < http://pedrodemo.sites.uol.com.br/textos/tics.html> Acesso em 20.ago.2011. DUNCAN, Bruce B. 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