ESTRESSE - 1a. Parte
Geraldo J. Ballone
Introdução
Nas últimas décadas, a expressiva mudança em todos os níveis da sociedade passou a exigir do ser
humano uma grande capacidade de adaptação física, mental e social. Muitas vezes, a grande exigência
imposta às pessoas pelas mudanças da vida moderna e, conseqüentemente, a necessidade imperiosa de
ajustar-se à tais mudanças, acabaram por expor as pessoas à uma freqüente situação de conflito,
ansiedade, angústia e desestabilização emocional. O estresse patológico surge como uma conseqüência
direta dos persistentes esforços adaptativos da pessoa à sua situação existencial.
Seria impossível e, ao mesmo tempo, extremamente indesejável eliminar completamente todos os tipos de
estresses. Fisiologicamente, a ausência total de estresse equivale à morte. O que devemos tentar fazer é
reduzir, nas pessoas, os efeitos danosos do estresse que sociedade proporciona e sensibilizá-las para os
meios capazes ajudar a administrar melhor os estressores do cotidiano.
Devemos buscar uma postura onde o estresse seja um acontecimento positivo e não um empecilho ao
desempenho pessoal, à saúde e à felicidade. O ideal seria adquirirmos habilidades para melhorar física e
mentalmente nossa resistência ao estresse, bem como eliminar o estresse desnecessário. Atitudes assim
baseiam-se na modificação de alguns aspectos no estilo de vida nas atitudes.
Aproximadamente 50 a 75% de todas as consultas médicas estão direta ou indiretamente relacionadas ao
estresse. A medicina não deve ter apenas um papel importante no tratamento das doenças ligadas ao
estresse mas, também e principalmente, deve dar ao assunto uma conotação preventiva e educacional.
Conhecer o estresse, suas causas, sinais e sintomas, é de fundamental importância para aprendermos a
lidar com ele.
Procurando significados para a palavra estresse (stress, em inglês), vamos entender que estar estressado
significa "estar sob pressão" ou "estar sob a ação de estímulo persistente". Na realidade, estar estressado
não significa apenas estar em contacto com algum estímulo mas, sobretudo, significa um conjunto de
alterações acontecidas num organismo em respostas à um determinado estímulo capaz de colocá-lo sob
tensão. Sem esse tal "conjunto de alterações" não se pode falar em estresse.
Em decorrência desse entendimento, podemos ainda chamar de Estímulo Estressor ou Agente Estressor,
qualquer estímulo capaz de provocar num organismo, esse complexo conjunto de respostas orgânicas,
mentais, psicológicas e/ou comportamentais definidas como estresse.
Entretanto, longe de considerarmos o estresse uma armadilha da natureza, esse conjunto de alterações
fisiológicas tem como principal objetivo adaptar o indivíduo à situação proporcionada pelo estímulo
estressor. O estado de estresse está, então, intimamente relacionado com a capacidade de adaptação do
indivíduo à circunstância atual.
Há quem compare (erradamente) o estresse com o susto, entretanto, aproveitando as semelhanças entre as
alterações fisiológicas que acontecem durante um susto com aquelas do estresse, podemos dizer que o
estresse seria, como que, um estado de susto crônico e continuado.
Há ainda quem confunda o estresse com a ansiedade. Na realidade e quando muito, a ansiedade pode ser
considerada um dos componentes psíquicos do estresse, juntamente com o medo, pânico, apreensão,
angústia, desespero, etc. O estresse envolve o organismo como um todo e, assim como o aumento de
adrenalina e cortisona possam ser considerados componentes endócrinos do estresse, a ansiedade seria,
igualmente, um dos componentes psíquicos.
O estresse não implica, obrigatoriamente, numa alteração patológica e doentia. Ele contribui para a
adaptação e, sem nenhuma dúvida, ele tem boa parcela de responsabilidade na sobrevivência das espécies,
incluindo a nossa. Imagine um gato permanecendo totalmente apático ao aparecer-lhe um cachorro. Sua
sobrevivência estaria seriamente comprometida. Da mesma forma, imaginemos um ser humano
enfrentando uma tempestade com a mesma lassidão que experimenta depois de uma lauta refeição. No
esporte, no trabalho ou na vida social o estresse "normal" deve desempenhar uma função adaptativa e,
sobretudo, sadia.
O estresse produz uma vasta série de modificações na composição química e na estrutura funcional do
organismo. Algumas dessas modificações são necessárias à adaptação do indivíduo à situação atual,
podem até ser mecanismos de defesa contra os agentes estressores, entretanto, algumas vezes, tais
modificações podem resultar em dano ou lesão. Nesse caso, ao invés de contribuírem para a adaptação
farão exatamente o contrário. A própria classificação internacional das doenças (CID.10), agrupa num
mesmo capítulo as Reações Agudas ao Estresse Grave e os Transtornos do Ajustamento (adaptação),
sugerindo fortemente que uma pode levar ao outro.
Na década de 30, o pesquisador canadense Hans Selye, quem estudou pela primeira vez e profundamente
essa questão, denominou o conjunto das modificações orgânicas resultantes do contacto do organismo
com um determinado estímulo desencadeador de tensão de Sindrome Geral de Adaptação (SGA).
O que é o Estresse
O estresse é a alteração global de nosso organismo para adaptar-se à uma situação nova ou às mudanças
de um modo geral. O estresse é um mecanismo normal, necessário e benéfico ao organismo, pois faz com
que o ser humano fique mais atento e sensível diante de situações de perigo ou de dificuldade. Mesmo
situações consideradas positivas e benéficas, como é o caso por exemplo das promoções profissionais,
casamentos desejados, nascimento de filhos, etc., podem produzir estresse.
Do ponto de vista pessoal, mudanças ocorrem em nossas vidas continuamente e temos sempre de estar
nos adaptando à elas. Nesses casos o estresse funciona como um mecanismo de sobrevivência e
adaptação, necessário para estimular o organismo e melhorar sua atuação diante de circunstâncias novas.
Do ponto de vista social e cultural as mudanças cotidianas, em si, não são novidade na civilização
humana, elas são, na realidade, a base da evolução de nossa espécie. O que, talvez, seja novo ao ser
humano e perigoso à sua saúde, é a velocidade sem precedentes com a qual essas mudanças e as
exigências que elas propiciam acontecem na vida moderna. Essas mudança estão em toda a parte;
mudanças importantes na tecnologia, na ciência, medicina, ambiente de trabalho, nas estruturas
organizacionais, nos valores e costumes sociais, na filosofia e mesmo na religião. Há continuamente uma
enorme solicitação de adaptação às pessoas em geral, tanto para os jovens como para os mais velhos.
Como é o Estresse
Em tese, estresse é a resposta fisiológica, psicológica e comportamental de um indivíduo que procura se
adaptar e se ajustar às pressões internas e/ou externas. Essas pressões, capazes de levar ao estresse, são
chamadas de Fatores Estressantes ou Agentes Estressores. Assim sendo, Fator Estressor é um
acontecimento, uma situação, uma pessoa ou um objeto capaz de proporcionar suficiente tensão
emocional, portanto, capaz de induzir à reação de estresse.
Os fatores estressantes podem variar amplamente quanto à sua natureza, abrangendo desde componentes
emocionais, como por exemplo a frustração, ansiedade, até componentes de origem ambiental, biológica e
física, como é o caso do ruído excessivo, da poluição, variações extremas de temperatura, problemas de
nutrição, sobrecarga de trabalho, etc.
Quando nosso cérebro, independentemente de nossa vontade, interpreta alguma situação como
ameaçadora (Fator Estressante), nosso organismo passa a desenvolver uma série de alterações
denominadas, em seu conjunto, de Síndrome Geral da Adaptação ao Estresse. Na primeira etapa dessa
situação ocorre uma Reação de Alarme, onde todas as respostas corporais entram em estado de prontidão
geral ou seja, todo organismo é mobilizado sem envolvimento específico ou exclusivo de algum órgão em
particular. É um estado de alerta geral, tal como se fosse um susto.
Se esse estresse continua por um período mais longo sobrevém a Segunda fase, chamada de Fase de
Resistência, a qual acontece quando a tensão se acumula. Nesta fase o corpo começa a acostumar-se aos
estímulos causadores do estresse e entra num estado de Resistência ou de Adaptação. Durante este
estágio, o organismo adapta suas reações e seu metabolismo para suportar o estresse por um período de
tempo. Neste estado a reação de estresse pode ser canalizada para um órgão específico ou para um
determinado sistema, seja o sistema cardiológico, por exemplo, ou a pele, sistema muscular, aparelho
digestivo, etc.
Entretanto, a energia dirigida para adaptação da pessoa à solicitação estressante não é ilimitada e se o
estresse ainda continuar, o corpo todo pode entrar na terceira fase, o Estado de Esgotamento, onde haverá
queda acentuada de nossa capacidade adaptativa.
Fisiologia da Síndrome Geral de Adaptação
A Síndrome Geral de Adaptação descrita por Selye consiste, como vimos, em três fases sucessivas:
Reação de Alarme, Fase de Resistência e Fase de Exaustão. Sendo que a última, Fase de Exaustão, é
atingida apenas nas situações mais graves e, normalmente, persistentes. Vejamos uma a uma.
Reação de Alarme
A Reação de Alarme subdivide-se em dois estados, a fase de choque e a fase de contra-choque. As
alterações fisiológicas na fase de choque, momento onde o indivíduo experimenta a ameaça ou estímulo
adverso (estressor), são muito exuberantes (Quadro 1).
Durante a Reação de Alarme, participa ativamente do conjunto das alterações fisiológicas o chamado
Sistema Nervos Autônomo (SNA). Trata-se, este SNA, de um complexo conjunto neurológico que
controla, autonomamente, todo o meio interno do organismo, através da ativação e inibição dos diversos
sistemas, vísceras e glândulas.
ALTERAÇÕES INICIADAS NA FASE DE CHOQUE DA REAÇÃO DE ALARME
ALTERAÇÕES OBJETIVOS
a) aumento da frequência cardíaca e pressão arterial o sangue circulando mais rápido melhora a atividade
muscular esquelética e cerebral, facilitando a ação e o movimento
b) contração do baço
levar mais glóbulos vermelhos à corrente sanguínea e melhora a oxigenação do
organismo e de áreas estratégicas
c) o fígado libera glicose para ser utilizado como alimento e energia para os músculos e cérebro
d) redistribuição sanguínea
diminui o sangue dirigido à pele e vísceras, aumentando para
músculos e cérebro
e) aumento da frequência respiratória e dilatação dos brônquios
favorece a captação de mais
oxigênio
f) dilatação das pupilas para aumentar a eficiência visual
g) aumento do número de linfócitos na corrente sanguínea preparar os tecidos para possíveis danos por
agentes externos agressores
Durante a Fase de Choque predomina a atuação de uma parte deste SNA chamado de Sistema Simpático,
o qual proporciona descargas de adrenalina da medula da glândula supra-renal e de noradrenalina das
fibras pós-ganglionares para a corrente sanguínea. Alguns estudos mais recentes sugerem que a emo ção
da raiva, quando dirigida para fora, estava associada mais à secreção de noradrenalina. Entretanto, na
depressão e a na ansiedade, onde os sentimentos estão dirigidos mais para si próprio, a secreção de
adrenalina predomina.
Ainda durante o momento em que está havendo estimulação estressante aguda (Fase de Choque da
Reação de Alarme), uma parte do Sistema Nervoso Central denominado Hipotálamo promove a liberação
de um hormônio, o qual, por sua vez, estimula a hipófise (glândula vizinha ao Hipotálamo) a liberar um
outro hormônio, o ACTH, este ganhando a corrente sanguínea e estimulando as glândulas Supra-renais
para a secreção de corticóides.
Como percebemos, toda a seqüência de acontecimentos tem origem no cérebro, e o Hipotálamo é que
acaba disparando a sucessão de eventos. Ao mesmo tempo em que esse Hipotálamo está providenciando a
estimulação da Hipófise para secreção do ACTH, também proporciona a secreção outros neurohormônios (hormônios produzidos no cérebro), tais como os chamados peptídeos cerebrais, como é o
caso das endorfinas (que modificam o limiar para dor), STH (que acelera o metabolismo), prolactina e
outros.
Desaparecendo os agentes estressores, todas essas alterações tendem a se interromper e regredir. Se, no
entanto, por alguma razão o organismo continuadamente submetido à estimulação estressante, portanto, é
obrigado a manter seu esforço de adaptação, uma nova fase acontecerá. Trata-se da Fase de Resistência.
Fase de Resistência
A Fase de Resistência se caracteriza, basicamente, pela hiperatividade da glândula supra-renal sob
influência do Diencéfalo, Hipotálamo e Hipófise. Nesta fase, mais crônica, há um aumento no volume da
supra-renal, concomitante a uma atrofia do baço e das estruturas linfáticas e um continuado aumento dos
glóbulos brancos do sangue (leucocitose.
Se os estímulos estressores continuam, tornando-se crônicos e repetitivos, a resposta começa a diminuir
de intensidade e pode haver uma antecipação das respostas. É como se a pessoa começasse a se acostumar
com os estressores mas, não obstante, pudesse também desenvolver a reação diante apenas da perspectiva
ou expectativa do estímulo.
Vamos imaginar, hipoteticamente, uma pessoa que se deparasse com uma cobra no meio de sua sala,
quase todas as vezes que entrasse em casa. Com o tempo sua reação ao ver a (mesma) cobra tende a
diminuir, embora ainda continue tomando muito cuidado. Vai chegar um momento em que, mesmo não
vendo a cobra, nessa vez que chegou em casa, ficará estressado. Talvez tenha grande ansiedade ao
imaginar onde poderia estar hoje a tal cobra. Diz um ditado que a diferença entre medo e ansiedade é
exatamente essa; medo é encontrar uma cobra dentro do quarto, e ansiedade é saber que tem uma cobra
dentro do quarto.
Continuando ainda o agente estressor o organismo vai à terceira fase da SGA, a Fase de Exaustão.
Fase de Exaustão
É quando começam a falhar os mecanismos de adaptação e déficit das reservas de energia. Essa fase é
grave, levando à morte de alguns organismos. A maioria dos sintomas somáticos e psicossomáticos ficam
mais exuberantes nessa fase.
Como se supõe, a resistência do organismo não é ilimitada. O estado de Resistência é a soma das reações
gerais não específicas que se desenvolvem como resultado da exposição prolongada aos agentes
estressores, frente aos quais desenvolveu-se adaptação e que, posteriormente, o organismo não pode
mantê-la. As modificações biológicas que aparecem nessa fase se assemelham aquelas da Reação de
Alarme, mais precisamente às da fase de choque. Mas, nesta fase o organismo já não é capaz de
equilibrar-se por si só e sobrevém a falência adaptativa.
Desadaptação e Esgotamento
Através das alterações fisiológicas observadas durante a Reação de Alarme (Choque e Contra-Choque), o
ser humano e os animais superiores foram dotados de um complexo mecanismo fisiológico à disposição
da adaptação, mecanismo esse capaz de promover transformações diante de circunstâncias ameaçadoras,
e não apenas alterando o desempenho físico e visceral do organismo mas, sobretudo, fornecendo uma
quantidade suficiente de ansiedade como requisito psicológico para a manutenção desse estado de alerta,
para viabilizar melhores possibilidades de ataque ou de fuga.
Enfim, esta Síndrome Geral de Adaptação viabiliza no ser humano as atitudes adaptativas necessárias
para a manutenção da vida diante de um mundo dinâmico e altamente solicitante. Curiosamente, diante
desta maravilhosa característica adaptativa que proporciona a Síndrome Geral de Adaptação, intriga-nos o
fato de tão brilhante mecanismo defensivo se relacionar com o desenvolvimento de transtornos
emocionais, físicos e psicossomáticos?
Talvez o ser humano, dito civilizado, tenha começado a padecer com a Síndrome Geral de Adaptação
quando seus objetivos, inicialmente colocados à disposição de sua sobrevivência física, foram deslocados
para a sua sobrevivência social e afetiva. Os agentes estressores que continuamente estão a estimular a
pessoa não são mais apenas ameaças ao seu bem estar físico e imediato, são, antes disso, também
estressores que estimulam uma tomada de atitude diante de ameaças subjetivas e abstratas.
Talvez, em algum momento de nossa pré-história, o ser humano não necessitava mais apenas sobreviver,
como talvez tenha sido a preocupação absoluta de nossos ancestrais da caverna, mas necessitava
sobreviver socialmente, profissionalmente, familiarmente e economicamente. Não era mmais necessário
adaptar-se apenas ao aqui e agora, como exigência momentânea de sua trajetória existencial mas,
sobretudo, devia adaptar-se ao seu passado, ao seu presente e ao seu futuro.
O aqui e agora é apenas uma parte do esforço adaptativo do ser humano e, mesmo assim, não se trata de
uma atitude voltada exclusivamente para a manutenção prática de sua existência. Psicologicamente a
adaptação é convocada para que o indivíduo exista desta ou daquela forma e não simplesmente para que
exista. Além disso, o ser humano tem que adaptar-se emocionalmente às suas cicatrizes do passado e às
suas perspectivas do futuro.
O ser humano tem que adaptar-se aos problemas da infância, às perdas e abandonos sofridos, às
agressões, ao medo e frustrações. Tem que adaptar-se às expectativas que seu grupo social lhe dirige, à
uma identidade conveniente mas nem sempre sincera, adaptar-se à competição e à manutenção de seu
espaço social, às angústias do amor, à conquista da segurança para seus entes queridos, enfim, tem que
adaptar-se às ameaças impalpáveis e abstratas, ameaças essas encontradas mais em seu próprio interior,
como um inimigo sempre presente, do que fora dele. Tudo isso, ou seja, todos estes estímulos estressores,
são capazes de convocar a Síndrome Geral de Adaptação por tempo indeterminado.
As reações de estresse resultam do esforço adaptativo. As doenças, bem como o leigamente conhecido
"esgotamento", surgem quando o estímulo estressor for muito intenso ou muito persistente. É o custo
(mental e biológico) do esforço adaptativo. Os efeitos da Síndrome Geral de Adaptação sobre o indivíduo
cronicamente ao longo do tempo compõem o substrato fisiopatológico das doenças psicossomáticas. Cada
órgão ou sistema é envolvido e apenado pelas alterações fisiológicas continuadas do estresse, de início
apenas funcionalmente e depois, anatomicamente.
Por causa disso, podemos dizer que as Doenças Psicossomáticas são aquelas determinadas ou agravadas
por motivos emocionais, já que é sempre a emoção quem detecta a ameaça e o perigo, sejam eles reais,
imaginários ou fantasiosos.
Os efeitos da Síndrome Geral de Adaptação sobre o indivíduo cronicamente ao longo do tempo compõem
o substrato fisiopatológico das doenças psicossomáticas. Cada órgão ou sistema é envolvido e apenado
pelas alterações fisiológicas continuadas do estresse, de início apenas funcionalmente e depois,
anatomicamente.
Por causa disso, podemos dizer que as Doenças Psicossomáticas são aquelas determinadas ou agravadas
por motivos emocionais, já que é sempre a emoção quem detecta a ameaça e o perigo, sejam eles reais,
imaginários ou fantasiosos.
Tipos de Estressores
Conforme já comentamos, a ansiedade e o estresse não são monopólios do ser humano. Se colocarmos
um gato junto de um cão feroz num espaço fechado, depois de algum tempo o gato estará esgotado;
primeiro ele terá muita ansiedade, entrará em estresse e, pela continuidade do estímulo agressivo
(presença do cão), acabará se esgotando.
Tendo em vista o fato do gato representar uma ameaça menos agressiva para o cão do que o cão
representa para ele, o cão ficará esgotado depois do gato. Nesse caso o cão representa para o gato um
estímulo agressivo externo, por estar fora do gato e, inato, por fazer parte da natureza biológica de todos
os gatos.
Assim sendo, nos animais os estímulos para o desenlace da ansiedade podem ter duas naturezas e uma só
origem: quanto à natureza eles podem ser inatos, como vimos, do tipo gato tem medo de cachorro ou, por
outro lado, podem ser condicionados por treinamento e experiência. Quanto à origem serão sempre
externos, partindo do pressuposto que os animais não têm condições para alimentar um conflitos intrapsíquicos.
No ser humano dito civilizado esses estímulos costumam ter, ao contrário dos animais, duas origens;
podem ser externos e, principalmente, internos. Os estímulos internos são oriundos dos conflitos pessoais
os quais, em última instância, refletem sempre a sensibilidade afetiva de cada um. Os estímulos externos,
por sua vez, representam as ameaças concretas do cotidiano de cada um.
Como se suspeita, no ser humano modernos os estímulos adquiridos e internos são aqueles que maior
papel desempenham no desencadeamento e manutenção do estresse. As ameaças normalmente são
interiores, abstratas, continuamente presentes e freqüentemente invencíveis.
Podemos dizer também, que a possibilidade de ficar doente seja uma ameaça séria, um estímulo
ameaçador importante. É claro que é. Entretanto, podemos experimentar uma grande ansiedade devido ao
fato de pensarmos que podemos ficar doentes ou, ao contrário, se essa idéia não vier sempre à nossa
consciência, não experimentaremos ansiedade com isso. Esse estímulo estressor é interno e não externo.
Seria um estímulo externo caso houvesse, de fato, sinais de que nossa saúde está abalada. Enquanto
houver apenas o medo de passar mal, de poder ficar doente, isso será uma ameaça interna.
Ora, enquanto nos animais os estímulos agressivos externos aparecem periodicamente, no ser humano a
presença dos estímulos internos pode ser continuada. Havendo pois, uma afetividade problemática,
insegurança e/ou pessimismo, vamos sentir ameaças internas continuamente. Nessas circunstâncias
podemos ter o esgotamento por persistência do agente estressor.
É por causa desses estímulos internos contínuos que a ansiedade humana tem sido constante, exagerada e
às vezes patológica. As ameaças externas, pelo contrário, não costumam ser constantes. Vejamos o caso
das ameaças concretas acerca de nossa segurança pessoal, por exemplo: a ameaça de sermos assaltados,
agredidos, mortos, etc. A possibilidade até existe, nos grandes centros, mas não é contínua. Há situações
onde podemos nos sentir seguros, racionalmente falando.
Entretanto, o estímulo interno não é tão racional quanto o é emocional. Isso quer dizer que podemos estar
ansiosos devido ao medo de sermos assaltados e agredidos, embora essa possibilidade seja mínima na
prática. Além disso, podemos nos deparar com o medo do desemprego, da derrota competitiva, da falta de
segurança social e econômica, ou qualquer outra coisa que não se encontra palpável no tempo ou no
espaço (como é o assaltante). Nós vamos dormir e acordamos com as ameaças internas.
Finalizando, devemos entender que os estímulos necessários para determinar a ansiedade são proveniente
de duas origens: são externos quando se devem à sucessão de acontecimentos de nossa vida aos quais
temos que nos adaptar e serão internos quando se originam dentro de nós mesmo s, de nossos medos,
nossos pensamentos negativos, nossas inseguranças.
Força de Estressores
Vários autores tentaram estabelecer alguma espécie de graduação de importância para os vários estímulos
estressores possíveis no cotidiano. Embora algumas listas possam dar a idéia de grau ou da força variável
dos estressores, como por exemplo, separação conjugal seria mais estressante que mudança de emprego e
menos do que a morte do filho, essas tabelas perdem o valor quando consideramos que as pessoas são
muito diferentes quanto à sua forma de reagir aos desafios impostos pela vida.
Algumas pessoas podem superar perfeitamente alguma perda importante, enquanto outros podem
desenvolver um transtorno emocional como resposta à acontecimentos estressantes de menor importância.
As variáveis pessoais desempenham um papel decisivo na maneira de reagor aos eventos de vida.
De um modo geral, pelo menos é bom termos em mente que existem categorias de estressores que nos
impõem grandes esforços adaptativos, como por exemplo, a morte de um ente querido, uma grande perda,
severos revezes econômicos, constatação de doença séria, etc., e, ao lado desses, existem os pequenos
acontecimentos estressantes do cotidiano que acontecem com maior frequência na vida das pessoas e,
finalmente, existem ainda a influência dos conflitos íntimos pessoais.
Mas, além dos acontecimentos eventualmente considerados estressantes, para o desencadeamento e
manutenção do estresse há imperiosa necessidade de uma vulnerabilidade pessoal à ansiedade.
Vulnerabilidade pessoal é uma espécie de tendência constitucional a reagir mais ansiosamente aos
estímulos. Algumas pessoas reagem com uma ativação fisiológica maior aos acontecimentos estressantes.
Um exemplo médico que pode se prestar à analogia com o estresse seria, novamente, o da reação alérgica.
Se, dentro de um mesmo ambiente impregnado de bolor, existirem 10 pessoas e 3 delas reagirem com
espirros, coriza e lacrimejamento como sinal de uma rinite alérgica ao mofo, não se pode, medicamente
falando, alegar a rinite diretamente ao fungo do bolor. Se assim fosse todos os demais também teriam essa
reação. Para ocorrer a reação alérgica é indispensável existir o mofo mais a sensibilidade pessoal.
Aspecto Pessoal dos Estressores
Nossa capacidade de conhecer o mundo decorre de nossa percepção pessoal da realidade. Essa percepção
pessoal da realidade, diferente em cada um de nós, é chamada de procepção da realidade. O principal
conhecimento que devemos ter disso, é que a realidade será sempre representada intimamente e de acordo
com os filtros afetivos de cada um, ou seja, de acordo com a sensibilidade (afetiva) de cada um.
A percepção pessoal da realidade engloba toda a realidade ou toda nossa maneira de ver e sentir o mundo
e só à essa realidade (única para nós) nos reportaremos. Engloba não apenas a concepção que temos das
coisas que estão fora da gente, como também os conceitos que cultivamos dentro da gente. Isso inclui
também a imagem que nós temos de nós mesmos, ou seja, inclui nossa própria auto-estima.
Essa auto-estima, por exemplo, poderá ser representada mais negativamente ou mais positivamente, de
acordo com a tonalidade afetiva de cada um. Algumas pessoas se vêem ótimos, outras se vêem péssimos.
Assim sendo, a idéia que temos de nós mesmos pode, por si só, ser um estímulo agressivo e causador de
ansiedade, caso a idéia de nós seja uma idéia ruim e que nos perturba constantemente.
Mesmo em se tratando de um eventual estímulo externo, proveniente do mundo objetivo e concreto, sua
natureza agressiva poderá ser mais traumática ou menos traumática, ou seja, mais estressante ou menos
estressante, dependendo da conotação mais agressiva ou menos agressiva à ele atribuída por nossa
sensibilidade (afetiva). Ter que falar em público, por exemplo, pode representar uma ameaça maior ou
menor, dependendo das circunstâncias pessoais de cada um; da segurança, auto-estima, preocupação
exagerada com os outros, etc.
Ansiedade, Estresse e Esgotamento
Ansiedade, Estresse e Esgotamento são termos de uso corrente entre as pessoas participantes daquilo que
se chama vida moderna. Ninguém gosta de pensar na Ansiedade, no Estresse, no Esgotamento ou na
Depressão como formas de algum transtorno emocional, é claro. Isso pode parecer muito próximo do
descontrole, da piração ou da loucura e, diante da possibilidade de sermos afetados, pelo menos alguma
vez na vida, pelo Estresse, pelo Esgotamento ou pela Depressão, então será melhor não considerá-los
como formas de algum transtorno emocional.
Devemos considerar o Estresse uma ocorrência fisiológica e normal no reino animal. O Estresse é a
atitude biológica necessária para a adaptação do organismo à uma nova situação. Em medicina entende-se
o Estresse como uma ocorrência fisiológica global, tanto do ponto de vista físico quanto do ponto de vista
emocional. As primeiras pesquisas médicas sobre o Estresse estudaram toda uma constelação de
alterações orgânicas produzidas no organismo diante de uma situação de agressão.
Fisicamente o Estresse aparece quando o organismo é submetido à uma nova situação, como uma cirurgia
ou uma infecção, por exemplo, ou, do ponto de vista psicoemocional, quando há uma situação percebida
como de ameaça. De qualquer forma, trata-se de um organismo submetido à uma situação nova (física ou
psíquica), pela qual ele terá de lutar e adaptar-se, conseqüentemente, terá de superar. Portanto, o Estresse
é um mecanismo indispensável para a manutenção da adaptação à vida, indispensável pois, à
sobrevivência.
Do ponto de vista psíquico o Estresse se traduz na Ansiedade. A Ansiedade é, assim, uma atitude
fisiológica (normal) responsável pela adaptação do organismo às situações de perigo. Vejamos, por
exemplo, as mudanças acontecidas em nossa performance física quando um cachorro feroz tenta nos
atacar, quando fugimos de um incêndio, quando passamos apuros no trânsito, quando tentam nos agredir
e assim por diante. De frente para o perigo nossa performance física faz coisas extraordinárias, coisas que
normalmente não seríamos capazes de fazer em situações mais calmas. Se não existisse esse mecanismo
que nos coloca em posição de alerta ou alarme, talvez nossa espécie nem teria sobrevivido às
adversidades encontradas pelos nossos ancestrais.
Embora a Ansiedade favoreça a performance e a adaptação, ela o faz somente até certo ponto, até que
nosso organismo atinja um máximo de eficiência. À partir de um ponto excedente a Ansiedade, ao invés
de contribuir para a adaptação, concorrerá exatamente para o contrário, ou seja, para a falência da
capacidade adaptativa. Nesse ponto crítico, onde a Ansiedade foi tanta que já não favorece a adaptação,
ocorre o esgotamento da capacidade adaptativa. Vejamos ao lado, a ilustração de um gráfico hipotético,
onde teríamos um aumento da adaptação proporcional ao aumento da Ansiedade até um ponto máximo,
com plena capacidade adaptativa. A partir desse ponto o desempenho ou adaptação cai vertiginosamente.
Aí se caracteriza o Esgotamento.
Em nossos ancestrais esse mecanismo foi destinado à sobrevivência diante dos perigos concretos e
próprios da luta pela vida, como foi o caso das ameaças de animais ferozes, das guerras tribais, das
intempéries climáticas, da busca pelo alimento, da luta pelo espaço geográfico, etc. No ser humano
moderno, apesar dessas ameaças concretas não mais existirem em sua plenitude tal como existiram
outrora, esse equipamento biológico continuou existindo. Apesar dos perigos primitivos e concretos não
existirem mais com a mesma freqüência, persistiu em nossa natureza a capacidade de reagirmos
ansiosamente diante das ameaças.
Com a civilidade do ser humano outros perigos apareceram e ocuparam o lugar daqueles que estressavam
nossos ancestrais arqueológicos. Hoje em dia tememos a competitividade social, a segurança social, a
competência profissional, a sobrevivência econômica, as perspectivas futuras e mais uma infinidade de
ameaças abstratas e reais, enfim, tudo isso passou a ter o mesmo significado de ameaça e de perigo que as
questões de pura sobrevivência à vida animal ameaçavam nossos ancestrais. Se na antigüidade tais
ameaças eram concretas e a pessoa tinha um determinado objeto real à combater (fugir ou atacar),
localizável no tempo e no espaço, hoje em dia esse objeto de perigo vive dentro de nós. As ameaças
vivem, dormem e acordam conosco.
Se, em épocas primitivas o coração palpitava, a respiração ofegava e a pele transpirava diante de um
animal feroz a nos atacar, se ficávamos estressados diante da invasão de uma tribo inimiga, hoje em dia
nosso coração bate mais forte diante do desemprego, dos preços altos, das dificuldades para educação dos
filhos, das perspectivas de um futuro sombrio, dos muitos compromissos econômicos cotidianos e assim
por diante. Como se vê, hoje nossa Ansiedade é continuada e crônica. Se a adrenalina antes aumentava só
de vez em quando, hoje ela está aumentada quase diariamente.
A Ansiedade aparece em nossa vida como um sentimento de apreensão, uma sensação de que algo está
para acontecer, ela representa um contínuo estado de alerta e uma constante pressa em terminar as coisas
que ainda nem começamos. Desse jeito nosso domingo têm uma apreensão de segunda-feira e a pessoa
antes de dormir já pensa em tudo que terá de fazer quando o dia amanhecer. É a corrida para não deixar
nada para trás, além de nossos concorrentes. É um estado de alarme contínuo e uma prontidão para o que
der e vier. As férias são tranqüilas e festivas apenas nos primeiros dias mas, logo em seguida, começamos
a nos agitar: ou porque sentimos que não estamos fazendo alguma coisa que deveríamos fazer, embora
não saibamos bem o que, ou porque pensamos em tudo aquilo que teremos de fazer quando as férias
terminarem.
A natureza foi generosa oferecendo-nos a atitude da Ansiedade ou Estresse, no sentido de favorecer
sempre a adaptação. Porém, não havendo período suficiente para a recuperação desse esforço psíquico, o
qual restabeleceria a saúde, ou persistindo continuadamente os estímulos de ameaça que desencadeiam a
reação de Estresse, nossos recursos para a adaptação acabam por esgotar-se. O Esgotamento é, como diz o
próprio nome, um estado onde nossas reservas de recursos para a adaptação se acabam.
Organicamente, no Esgotamento, há alterações significativas nas glândulas supra-renais (produtoras de
de adrenalina e cortisona), há dificuldades no controle da pressão arterial, há alterações do ritmo cardíaco,
alterações no sistema imunológico, no controle dos níveis de glicose do sangue, entre muitas outras.
Psiquicamente a Ansiedade crônica ou Esgotamento leva à um estado de apatia, desinteresse, desânimo e
de pessimismo em relação à vida.
Os sintomas mais comuns da ansiedade podem ser listados como abaixo e, normalmente costumam estar
relacionados à estresse ambiental crônico, têm um curso flutuante, variável e tendência à cronificação.
SINTOMAS ASSOCIADOS À ANSIEDADE CRÔNICA
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01 - tremores ou sensação de fraqueza
02 - tensão ou dor muscular
03 - inquietação
04 - fadiga fácil
05 - falta de ar ou sensação de fôlego curto
06 - palpitações
07 - sudorese, mãos frias e úmidas
08 - boca seca
09 - vertigens e tonturas
10 - náuseas e diarréia
11 - rubor ou calafrios
12 - polaciuria (aumento de número de urinadas)
13 - bolo na garganta
14 - impaciência
15 - resposta exagerada à surpresa
16 - dificuldade de concentração ou memória prejudicada
17 - dificuldade em conciliar e manter o sono
18 - irritabilidade
O Esgotamento tem origem em duas ocasiões:
1.
- Primeiro, quando a situação à qual o indivíduo terá que adaptar-se (estímulo externo ou
interno) exigir intensa participação emocional e persistir continuadamente. Nesse caso há um
esgotamento por falência adaptativa devido aos esforços (emocionais) para superar uma situação
persistente. Isso quer dizer que o estímulo para o estresse seria ameaçador tanto para a pessoa que à ele
reage, quanto para outras pessoas submetidas ao mesmo estímulo.
2.
- Em segundo lugar, quando a pessoa não dispõe de uma estabilidade emocional suficientemente
adequada para adaptar-se à estímulos não tão traumáticos, objetivamente falando. Isso quer dizer que a
pessoa sucumbiria emocionalmente à situações não tão agressivas à outras pessoas colocados na mesma
situação mas, não obstante, agressivas particularmente à ela.
Digamos, então, que o esgotamento ou a ansiedade crônica e patológica poderia surgir diante de duas
circunstâncias: decorrente daquilo que o mundo traz à pessoa (Agentes Ocasionais) ou, por outro lado,
decorrente daquilo que a pessoa traz ao mundo (Disposições Pessoais). A primeira representada pelo
destino da pessoa e a segunda pelo seu perfil afetivo. Não obstante, o destino poderá modelar
determinadas formas de valorizar a realidade em grande número de pessoas.
Estímulos que Produzem Ansiedade
Se hoje sabemos muito sobre o Estresse e a Ansiedade, tanto do ponto de vista comportamental quanto
neuroquímico, pouco sabemos ainda sobre seu aspecto principal ou primordial. Pouco sabemos sobre esse
tal estímulo desencadeador ou estressor. É por aí onde tudo começa, ou seja, todas as reações orgânicas,
as atitudes, emoções, comportamentos, alterações químicas fisiológicas, etc e tal, começam sempre à
partir do tal estímulo.
Conforme já comentamos, a Ansiedade e o Estresse não são monopólio do ser humano. Se colocarmos
um gato junto de um cão num espaço fechado, depois de algum tempo esse gato estará Esgotado;
primeiro ele terá muita Ansiedade, entrará em Estresse e, pela continuidade do estímulo agressivo
(presença do cão) se esgotará. Tendo em vista o fato do gato representar para o cão uma ameaça menos
agressiva que o cão representa para o gato, o cão ficará esgotado depois do gato. Nesse caso o cão
representa para o gato um estímulo agressivo: externo, por estar fora do gato e, inato, por fazer parte da
natureza biológica de todos os gatos.
Assim sendo, nos animais os estímulos para desencadear-se a Ansiedade também podem ter duas origens:
quanto à natureza eles podem ser inatos, como vimos, do tipo gato tem medo de cachorro ou, de outra
forma, condicionados por treinamento e experiência. Quanto à origem serão internos, caso se trate de
instintos e externos, quando for o caso do treinamento ou condicionamento (veja Quadro).
No ser humano dito civilizado, esses estímulos também costumam ter duas origens; podem ser externos e
internos. Os estímulos internos são oriundos dos conflitos íntimos. Os estímulos externos, por sua vez,
representam as ameaças concretas do cotidiano de cada um.
Nossa capacidade de conhecer o mundo proporciona uma percepção pessoal da realidade. Essa percepção
pessoal da realidade, diferente em cada um de nós, é chamada de procepção da realidade. A principal
idéia que devemos ter disso é que a realidade será sempre representada intimamente e de acordo com a
personalidade de cada um.
Essa percepção pessoal da realidade engloba toda nossa maneira de ver e sentir o mundo. Engloba não
apenas a concepção que temos das coisas que estão fora da gente, como é o mundo objectual, como
também os conceitos que temos dentro de nós. Isso inclui a imagem que temos de nós mesmos, ou seja,
inclui nossa própria auto-estima.
Nossa auto-estima pode ser representada favoravelmente ou não, de acordo com a tonalidade afetiva de
cada um. Algumas pessoas se vêem ótimos, outras se vêem péssimos. Assim sendo, a idéia que nós temos
de nós mesmos pode ser um estímulo agressivo e causador de Ansiedade, caso seja uma idéia a nos
perturbar constantemente.
É por causa desses estímulos internos que a Ansiedade humana tem sido constante e às vezes patológica.
As ameaças externas não costumam ser tão constantes quanto as internas. Vejamos o caso das ameaças
concretas acerca de nossa segurança pessoal, por exemplo: a ameaça de ser assaltados, agredidos, morto,
etc. Possibilidades até existem, nos grandes centros, mas normalmente não é continuada. Há situações
onde podemos nos sentir seguros, racionalmente falando. Por outro lado, o estímulo interno não é
racional, é emocional. Isso quer dizer que podemos estar ansiosos devido ao medo de sermos assaltados,
agredidos, humilhados, demitidos, etc., embora tais possibilidades sejam mínimas na prática.
Da mesma forma, podemos dizer que ficar doente seja uma ameaça séria, um estímulo ameaçador
importante. É claro que é. Entretanto, podemos experimentar uma grande Ansiedade devido ao fato de
pensarmos que podemos ficar doentes. Esse estímulo já é interno e não externo. Seria externo caso
houvesse, de fato, sinais de que nossa saúde foi abalada. Enquanto houver apenas o medo de passar mal,
de poder ficar doente, isso será uma ameaça interna.
Ora, enquanto nos animais os estímulos agressivos externos aparecem periodicamente, no ser humano a
presença dos estímulos internos pode ser continuada. Havendo uma afetividade problemática, insegurança
e pessimismo, vamos sentir ameaças internas continuadamente. Vamos dormir com essas ameaças e
acordar com elas. Portanto, nessas circunstâncias podemos ter o Esgotamento.
Psicologicamente, para o ser humano a agressão depende mais do agente agredido que do agente agressor.
Isso quer dizer que o estímulo para desencadear a Ansiedade depende, no mais das vezes, mais da
sensibilidade da pessoa do que do estímulo propriamente dito. Para uma pessoa claustrofóbica, estar num
elevador não significa simplesmente estar objetivamente num elevador.
Será a Personalidade de cada um quem, de fato, atribuirá valores e significados aos acontecimentos,
tomando-os ou não por estressantes, angustiantes, temerosos, ameaçadores e assim por diante. Um Ego
funcionando adequadamente é capaz de prover a adaptação necessária entre o mundo externo e interno,
ou entre o indivíduo e seu ambiente, ou, finalmente, entre o ser e seu destino. Sempre que houver
fragilidade desse Ego, haverá comprometimento na adaptação e desequilíbrio entre o ser e o mundo ou,
resumindo, haverá uma Ansiedade crônica.
Como vimos acima, os estímulos capazes de proporcionar a Ansiedade podem ser ext ernos, denominados
geralmente de circunstanciais e interpessoais, representados pelo embate entre as forças opressoras do
ambiente e as condições da pessoa. Mesmo em se tratando de estímulos externos, provenientes do mundo
objetivo, sua natureza agressiva poderá ser mais traumática ou menos traumática, dependendo da
conotação à ele atribuída por nossa pessoa. Os estímulos podem ainda ser internos, denominados
intrapsíquicos, onde se situam os Conflitos pessoais da pessoa normal ou os transtornos afetivos e traços
ansiosos de personalidade nas pessoas mais problemáticas.
A existência dos conflitos pode ser considerada fisiológica na espécie humana, ou seja, eles existem em
todos nós e parecem ser essenciais ao desenvolvimento da Ansiedade. Em nosso cotidiano, sem termos
plena consciência, experimentamos um sem-número de pequenos Conflitos, interpessoais ou
intrapsíquicos; as tensões entre ir e não ir, fazer e não fazer, querer e não poder, dever e não querer,
querer, poder e não dever, a assim por diante.
Finalmente, devemos entender que os estímulos necessários para determinar a Ansiedade são proveniente
de duas origens: são externos, quando se devem à sucessão de acontecimentos de nossa vida aos quais
temos que nos adaptar e internos, quando se originam dentro de nós mesmos, de nossos medos, nossos
pensamentos negativos, nossas inseguranças. No ser humano os estímulos produtores de Ansiedade
costumam ser, predominantemente, de origem interna e pessoal, decorrentes da valoração individual que
a pessoa atribui à sua realidade e aos fatos com os quais se depara.
Sintomas da Ansiedade
A Ansiedade pode se manifestar em três níveis: neuroendócrino, visceral e de consciência. O nível
neuroendócrino diz respeito inicialmente à uma parte neurológica (eixo hipotálamo -hipofisário) e em
seguida a alteração numa vasta constelação de manifestações bioquímicas e hormonais. Os efeitos mais
evidentes da Ansiedade são aqueles provenientes da ação da adrenalina, noradrenalina, glucagon,
hormônio anti-diurético e cortizona.
No plano visceral a Ansiedade corre por conta do Sistema Nervoso Autônomo, o qual reage com
predominância do sistema simpatico na reação de alarme ou, ao contrário, do sistema parassimpático (ou
vagal) nas fase de esgotamento. Na consciência a Ansiedade pode se manifestar por dois sentimentos
desagradáveis: 1- consciência das sensações fisiológicas e; 2- consciência de estar nervoso ou
amedrontado.
Os padrões individuais de Ansiedade excessiva variam amplamente. Alguns pacientes têm sintomas
cardiovasculares, tais como palpitações, sudorese ou opressão no peito, alguns manifestam sintomas
gastrointestinais como náuseas, vômito, diarréia ou vazio no estômago, outros têm mal-estar respiratório
ou predomínio de tensão muscular exagerada, do tipo espasmo, torcicolo e lombalgia(9). Enfim, a
sintomatologia orgânica e visceral varia de pessoa para pessoa.
Sintomas Gerais do Estresse (Ansiedade Patológica)
Quando as modificações fisiológicas necessárias à adaptação são eficientemente produzidas pela
Ansiedade estamos diante da Ansiedade Normal. É o caso, por exemplo, das respostas diante de uma
situação nova; o bebê que chora diante da fome deixando clara a vontade de comer, o adolescente em
estado de alerta diante da prova do vestibular, o adulto muito atento ao trânsito. Por outro lado, falamos
da Ansiedade Patológica, como uma forma de resposta inadequada, em intensidade e duração, à
solicitações de adaptação; o bebê que chora ao ponto de perder o fôlego diante da fome, o adolescente em
estado de esquecimento total diante da prova do vestibular, o adulto hipertenso e com arritmia cardíaca no
trânsito.
Biologicamente a Ansiedade está relacionada à alguns sitemas neuroquímicos, chamados de sistema
noradrenérgico, gabaérgico e serotoninérgico, situados no lombo frontal e no sistema límbico no Sistema
Nervoso Central. As pessoas naturalmente ansiosas tendem a ter um tônus simpático aumentado,
respondem emocionalmente de forma excessiva aos estímulos ambientais e demoram a adaptar-se às
alterações do sistema nervoso autônomo.
Segundo Kaplan, a Ansiedade tem uma ocorrência duas vezes maior no sexo feminino(9) e se estima que
até 5% da população geral tenha algum tipo de Transtorno de Ansiedade. Sendo a Ansiedade uma grande
mobilizadora do Sistema Nervoso Autônomo, nestes tipos de transtornos encontramos, sobretudo, uma
rica sintomatologia física. Esta é uma razão mais que suficiente para que tais pacientes freqüentemente
percorram um exaustivo itinerário médico. Sobre a sintomatologia geral da Ansiedade, comumente se
observa pelo menos SEIS dos 18 sintomas seguintes:
01 - tremores ou sensação de fraqueza
02 - tensão ou dor muscular
03 - inquietação
04 - fadiga fácil
05 - falta de ar ou sensação de fôlego curto
06 - palpitações
07 - sudorese, mãos frias e úmidas
08 - boca seca
09 - vertigens e tonturas
10 - náuseas e diarréia
11 - rubor ou calafrios
12 - polaciuria
13 - bolo na garganta
14 - impaciência
15 - resposta exagerada à surpresa
16 - pouca concentração ou memória prejudicada
17 - dificuldade em conciliar e manter o sono
18 irritabilidade
Esses sintomas supra-listados são de natureza geral e inexpecífica, sujeitos a surgirem em todas as
pessoas indistintamente. Trata-se de manifestações basicamente neuro-biológicas e consoantes ao
desequilíbrio do Sistema Nervoso Autônomo, quase emancipados do componente emocional individual
de cada um. Tal quadro costuma estar relacionados ao Estresse crônico, tem um curso flutuante (vão e
vêem) e tendência à cronificação.
Por outro lado, além das manifestações gerais e inexpecíficas da Ansiedade, podemos ter uma
repercussão individual, pessoal e de acordo com as predisposições de personalidade. Aí surgem então os
quadros e sintomas psíquicos da Ansiedade Patológica.
Sintomas Psíquicos do Estresse (Ansiedade Patológica)
É ampla a classificação dos transtornos emocionais decorrentes da Ansiedade Patológica, entretanto,
reportaremos aqui apenas os quadros emocionais mais freqüentes e de maior importância clínica. Na
Classificação Internacional de Doenças (CID.10) esses problemas aparecem no capítulo intitulado
Transtornos Relacionados ao Estresse e Somatoformes. Aí estão incluídos a Síndrome do Pânico, os
Transtornos Fóbicos, sendo atualmente o mais importante deles a Fobia Social e os Transtornos
Somatoformes, ou seja, aqueles quadros onde há um componente físico principal decorrente de fatores
emocionais.
Tendo em vista o propósito absolutamente sintético desse trabalho, descreveremos resumidamente apenas
alguns quadros do vasto capítulo dos Transtornos Relacionados ao Estresse e Somatoformes.
Síndrome do Pânico
A Doença ou Síndrome do Pânico é um quadro de Ansiedade Patológica caracterizado por crises ou
ataques recorrentes de pânico e normalmente indicam a existência de motivos intrapsíquicos importantes
geradores de grande Ansiedade. Os ataques de pânico se caracterizam por crises de medo agudo e intenso,
extremo desconforto, sintomas vegetativos associados e grande preocupação sobre a possibilidade de
morte iminente e/ou de passar mal, e/ou de perder o controle.
Essas crises de ansiedade da Síndrome do Pânico duram minutos e costumam ser inesperadas, ou seja,
não seguem situações especiais, podendo surpreender o paciente em ocasiões variadas. Não obstante,
existem alguns pacientes que desenvolvem o episódio de pânico diante de determinadas situações préconhecidas, como por exemplo, dirigindo automóveis, diante de grande multidão, dentro de bancos, etc.
Neste caso dizemos que o quadro é de Agorafobia com Transtorno do Pânico.
As classificações internacionais enfatizam que, muito freqüentemente, um Transtorno Depressivo
coexiste com o Transtorno do Pânico. Nós, particularmente, achamos que a Síndrome do Pânico é,
literalmente, uma forma atípica de doença depressiva. O sentimento de pânico é, em essência, uma grave
sensação de insegurança e temor. Ora, quem mais, além dos deprimidos, podem sentir-se tão inseguros ao
ponto de sentir a morte (ou o passar mal) iminente ?
Depois do primeiro Ataque de Pânico, normalmente a pessoa experimenta importante ansiedade e medo
de vir a apresentar um segundo episódio. É como se ficasse ansiosa diante da possibilidade de ficar
ansiosa. Por causa disso os pacientes passam a evitar situações facilitadoras da crise, prejudicando-se
socialmente e/ou ocupacionalmente em graus variados. São pessoas que deixam de dirigir, não entram em
supermercados cheios, evitam aventurar-se pelas ruas desacompanhadas, não conseguem dormir, não
entram em avião, não freqüentam shows, evitam edifícios altos, não utilizam elevadores e assim por
diante.
A Síndrome do Pânico habitualmente se inicia depois dos 20 anos de idade, é igualmente prevalente entre
homens e mulheres quando desacompanhado da Agorafobia, mas é duplamente mais freqüente em
mulheres quando associado à este estado fóbico.
Segundo as principais classificações psiquiátricas, a característica essencial de um Ataque de Pânico é um
período de intenso medo ou desconforto acompanhado por pelo menos 4 dos 13 sintomas somáticos ou
cognitivos expostos na lista abaixo.
1- palpitações ou ritmo cardíaco acelerado
2- sudorese
3- tremores ou abalos
4- sensações de falta de ar ou sufocamento
5- sensações de asfixia
6- dor ou desconforto torácico
7- náusea ou desconforto abdominal
8- sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio
9 -desrealização ou despersonalização (sentir-se outro)
10- medo de perder o controle ou enlouquecer
11- medo de morrer
12- parestesias (formigamentos) ou anestesia
13- calafrios ou ondas de calor
Os pacientes com Transtorno do Pânico podem necessitar estarem sempre acompanhados quando saem de
casa e, posteriormente, podem até se recusar a sair de casa devido ao tamanho medo de passar mal na rua,
de morrer subitamente ou enlouquecer de repente. Normalmente esses pacientes têm dificuldade em
dormir desacompanhados, procuram insistentemente o cardiologista e recorrem ao auxílio religioso com
entusiasmo exagerado.
Os Ataques de Pânico não ocorrem somente no chamado Transtorno do Pânico típico. Eles podem ocorrer
em uma variedade de Transtornos de Ansiedade, como por exemplo, na Fobia Social, na Fobia
Específica, no Transtorno de Estresse Pós-Traumático e no Transtorno de Estresse Agudo. É por causa
dessa não-especificidade dos sintomas de pânico que somos inclinados a julgá-lo mais como um sintoma
(de depressão atípica) que como uma doença independente.
Fobias Sociais
As Fobias Sociais estão centradas em torno de um medo anormal e absurdo de expor-se a outras pessoas e
tem, como conseqüência, o afastamento e evitamento sociais. Podem ser específicas às situações de
comer ou falar em público mas podem ser mais difusas, envolvendo quase todas as circunstâncias sociais
fora do ambiente familiar(13). Neste caso, entre as situações fóbicas que invariavelmente resultam na
evitação do objeto, atividade ou situação socialmente temidos, destaca-se o medo de humilhação e
embaraço em lugares públicos, o medo de comer em público, falar em público, urinar em banheiro
público e, muito freqüentemente, de assinar cheques à vista de pessoas estranhas.
A exp osição à situação social ou de desempenho provoca, quase que invariavelmente, uma resposta
imediata de ansiedade, a qual pode assumir a forma de um Ataque de Pânico ligado à situação ou
predisposto pela situação.
DIRETRIZES E CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO PARA TRANSTORNO FÓBICO SOCIAL
1- os sintomas psicológicos, comportamentais e autossômicos devem provir da ansiedade e não de outros
quadros mentais;
2- a ansiedade deve ser restrita e/ou predominar à situações sociais;
3- a evitação das situações fóbicas deve ser proeminente;
4- o comportamento de evitação interfere nas atividades sociais ou no relacionamento interpessoal;
5- a pessoa reconhece que seu medo é irracional e excessivo.
O prejuízo na atividade social de pessoas portadoras da Fobia Social pode chegar ao extremo do
isolamento. Nas situações sociais ou de desempenho temidas, os indivíduos com Fobia Social
experimentam preocupações acerca de embaraço e temem que outros os considerem ansiosos, débeis,
"malucos" ou estúpidos. O medo de falar em público pode ser em virtude da preocupação de que os
outros percebam o tremor em suas mãos ou voz. Podem ainda experimentar extrema ansiedade ao
conversar com outras pessoas pelo medo não saberem se expressar. Os sintomas de ansiedade que surgem
nessas situações costumam ser palpitações, tremores, sudorese, desconforto gastrintestinal, diarréia,
tensão muscular, rubor facial, etc.
Em crianças a Fobia Social pode se apresentar sob a forma de crises de choro, ataques de raiva,
imobilidade, comportamento aderente ou permanência junto à mãe ou à uma pessoa familiar. Essa apatia
social pode chegar ao ponto do mutismo total em certos casos de contacto com pessoas estranhas.
Crianças pequenas podem mostrar-se excessivamente tímidas em contextos sociais, retraindo-se do
contato, recusando-se a participar em brincadeiras de grupo, permanecendo tipicamente na periferia das
atividades sociais e tentando permanecer próximas a adultos conhecidos.
Transtorno Somatoforme
Os pacientes com Transtorno Somatoforme em geral são poliqueixosos, com sintomas sugestivos de
problemas funcionais de algum órgão ou sistema ou de alterações nas sensações corpóreas sobre a
funcionalidade do organismo como um todo. Estas síndromes funcionais podem aparecer como quadros
dolorosos incaracterísticos, transtornos cardiocirculatórios, ou qualquer outro órgão ou sistema, que não
se confirmam por exames especializados. Nota-se sempre, inclusive com reconhecimento pelo próprio
paciente, variação na intensidade das queixas conforme alterações emocionais, embora a maioria deles
insista em discordar do ponto de vista médico que aponta para a possibilidade psíquica dos sintomas.
O principal aspecto do Transtorno Somatoforme é a queixa repetida de sintomas físicos, juntamente com
uma tendência persistente para investigações médicas, apesar dos seguidos resultados negativos nos
exames de diagnóstico. Caso haja algum componente físico associado às queixas somáticas, aquele não
explica as proporções destas. Na maioria das vezes estes pacientes manifestam u m comportamento
histriônico (teatral e histérico), o que motivava a antiga classificação ter incluído tais transtornos no
capítulo das histerias.
Normalmente esses pacientes somatoformes estão recebendo atenção médica de mais de um profissional,
envolvem mais de uma especialidade simultaneamente e a sintomatologia se apresenta de maneira
dramática, vaga e exagerada.
Os pacientes com queixas somáticas normalmente relatam uma história médica bastante extensa, têm
facilidade para memorizar nomes de medicamentos e de doenças complicadas, conhecem quase tudo
acerca de exames subsidiários e seus relatos costumam ser um tanto dramáticos. São quase incapazes de
referir uma dor simplesmente como, por exemplo, uma pontada. Normalmente eles dizem que dói como
se um ferro em brasa estivesse entrando, como uma punhalada, como se arrancassem seus órgãos, etc.
SINTOMAS DO TRANSTORNO DE SOMATIZAÇÃO
1 - vômitos
12 - dor durante o ato sexual
2 - palpitações
3 - dor abdominal
4 - dor torácica
13 - dor nas extremidades
14 - impotência
15 - dor lombar
5 - náuseas
16 - dismenorréia
6 - tonturas
17 - dor articular
7 - flatulência
8 - ardência nos órgãos genitais
18 - outras queixas menstruais
19 - dor miccional
9 - dia rréia
20 - vômitos durante a gravidez
10 - indiferença sexual
21 - dor inespecífica
11 - intolerância alimentar
22 - falta de ar
Para o diagnóstico do Transtorno Somatoforme é importante que os sintomas causem sofrimento
clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas
importantes. A representação subjetiva dos sintomas somatizados reflete sempre um aspecto sóciocultural do paciente. Em camadas menos diferenciadas da população notamos empobrecimento na
representação dos sintomas, como por exemplo, a menstruação que sobe para a cabeça, o sangue sujo,
uma dieta puerperal mal conduzida, a conseqüência desastrosa de olhar no espelho depois da refeição,
uma mistura fatal de manga com leite, sustos capazes de provocar paralisias e assim por diante. Nos
níveis mais diferenciados a representação da doença é melhor elaborada, como por exemplo, uma
polineurite conseqüente à hipersensibilidade à algum medicamento. De qualquer modo, a manifestação
emocional somatizada não respeita posição sócio-cultural, como podem suspeitar alguns, não guarda
também relação com o nível intelectual, pois, como já vimos, a emoção é senhora e não serva da razão.
O único fator capaz de atenuar as queixas é a capacidade da pessoa expressar melhor seus sentimentos
verbalmente. Quanto maior a capacidade do indivíduo referir seu mal-estar através de discurso sobre suas
emoções, como por exemplo, relatando sua angústia, sua frustração, depressão, falta de perspectiva,
insegurança, negativismo, pessimismo e coisas assim, menor será a chance de representar tudo isso
através de palpitações, pontadas, dores, falta de ar, etc.
Sintomas do Esgotamento
Diante do Esgotamento o organismo todo pode entrar em sofrimento. É como se esgotasse não apenas
nossa capacidade de adaptação às mais diversas circustâncias de vida mas, sobretudo, a capacidade de nos
adaptarmos à nós mesmos.
Nesses casos de Esgotamento há acentuada perda no limiar de tolerância aos estímulos externos e
acentuada inadequação ambiental. O quadro clínico emocional apresentado por uma pessoa com
Esgotamento é o mesmo observado nos episódios depressivos.
Entretanto, a Depressão pode aparecer sob duas formas; uma forma clássica, melhor conhecida por todos
e que podemos chamar de Depressão Típica, com ansiedade, crises de choro imotivadas, angústia, tristeza
e desânimo geral ou, de outra forma, de maneira mascarada, a qual, didaticamente podemos chamar de
Depressão Atípica. Nesse caso a tristeza pode ser bem menor ou mesmo nem aparecer e o estado de
ânimo pode estar até normal.
Existem, como veremos, formas de Depressão com muitos sintomas físicos misteriosos e dificilmente
esclarecidos por exames médicos. Comecemos com os sintomas vagos e atípicos que devem sugerir início
de Depressão conseqüente ao Esgotamento:
Lista 1
Dores sem causa física: cabeça, abdominais, pernas, costas, peito e outras
Alterações do sono: insônia ou sonolência excessiva
Perda de energia: desânimo, desinteresse, apatia, fadiga fácil
Irritabilidade: perda de paciência, explosividade, inquietação
Ansiedade: apreensão contínua, inquietação, às vezes medo inespecífico
Baixo desemprenho: alterações sexuais, memó ria, concentração, decisões
Queixas vagas: tonturas, zumbidos, palpitações, falta de ar, bolo na garganta
Evidentemente não há necessidade da pessoa apresentar todos os sintomas listados acima para suspeitarse de Esgotamento com Depressão. Este mesmo quadro numa determinada pessoa pode não ser igual à
outra, baseado naquilo que cada um sente ou mesmo, baseado nos traços de personalidade de cada um.
Os sintomas acima refletem uma espécie de esgotamento da capacidade de adaptação às circunstâncias de
vida, Esgotamento este, como dissemos, ocasionado ou por excesso de fatores estressantes do dia-a-dia,
ou por tendências depressivas e ansiosas da própria pessoa.
Por outro lado, o quadro depressivo que acompanha o Esgotamento pode se manifestar de forma típica.
Vejamos, então, a lista dos 9 sintomas clássicos e sugestivos de um quadro de franca Depressão Típica:
Lista 2
Humor deprimido quase diariamente:
tristeza, angústia, pessimismo
Redução importante do interesse: perda do prazer com as coisas, desinteresse
para mais ou para menos
Alterações do sono: insônia ou dormir demais (hipersonia)
Alterações psicomotoras: agitação, inquietação ou lentificação
Redução da energia: apatia, preguiça, fadiga, perda de força, cansaço
Redução da performance psíquica: raciocínio, concentração diminuídos
Idéias sobre a morte: pensar sobre, desejar ou não se importar em morrer
Alterações da auto-estima: auto-desvalorização, sentimentos de culpa
Alterações do peso:
Na realidade, os pacientes com quadro de esgotamento e franca Depressão conseqüente, poderão sentir
alguns (ou todos) dos sintomas da primeira lista (Lista 1) mais alguns (ou todos) sintomas dessa segunda
lista (Lista 2).
Estresse Algumas Causas
Inicialmente devemos ter solidamente em mente, que o estresse não é uma doença por si só. Ele
proporciona o desenvolvimento de outros males. O estresse pode ser entendido como um estado de
desequilíbrio da pessoa (veja que não uso o termo mental nem físico) que se instala quando esta é
submetida a uma série de tensões suficientemente fortes ou suficientemente persistentes.
Supondo que o ser humano moderno divide sua vida entre sua casa, seu trabalho e sua sociedade cultural,
não há como procurar tratar do estresse determinado por causas exteriores, sem comentar sobre os
estressores possivelmente oriundos desses 3 ambientes.
Entretanto, supondo também que para o desenvolvimento do estresse patológico, é igualmente necessário
uma certa disposição pessoal, sem a qual os agentes (estressores) ocasionais não seriam capazes por si só
para produzir a reação de estresse, teremos que falar também sobre o que se quer dizer com disposição
pessoal.
Finalmente, supondo ainda que, além das disposições pessoais e dos agentes ocasionais há que ser
considerado também a qualidade psíquica atual da pessoa que se estressa, falaremos também das
circunstâncias emocionais atuais. Vamos ver cada uma dessas causas, começando pelos dois tipos de
causas internas; as Disposições Pessoais e as Condições Psíquicas Atuais.
CAUSALIDADE DA REAÇÃO DE ESTRESSE
CAUSAS EXTERIORES CAUSAS INTERIORES
No trabalho
Condições Emocionais Atuais
No lar Disposições Pessoais
Na sociedade
Disposição Pessoal
O termo Disposição Pessoal se refere ao tipo de disposição com que a pessoa irá contactar a realidade.
Não é possível falar disso sem comentar alguma coisa sobre a Personalidade, já que essa Disposição
Pessoal está intimamente atrelada à características da personalidade.
Entre outras definições sobre personalidade, podemos dizer, sinteticamente, que personalidade é a
organização dinâmica dos traços no interior do eu, formados a partir dos genes particulares que herdamos,
das existências singulares que suportamos e das percepções individuais que temos do mundo, capazes de
tornar cada indivíduo único em sua maneira de ser e de desempenhar o seu papel social.
De importante aí temos a idéia de Traços, a idéia de que esses traços, tanto podem ser herdados como
adquiridos pela experiência, a idéia de que acabamos por nos transformar em indivíduos únicos e
exclusivos e, finalmente, que a personalidade caracteriza uma maneira da pessoa ser (não de estar).
Há pessoas que reagem aos estímulos (internos e externos) com mais ansiedade que os outros. Podemos
observar essa característica até em berçários; entre os recém nascidos há aqueles mais ansiosos, que
choram mais diante do estímulo da fome, que reagem mais agitadamente que outros ao frio, aos
estranhos, etc. Esse traço que exalta a ansiedade pode ser herdado (vem nos gens) ou pode ser adquiridos
com a experiência, como por exemplo, de acordo com o ditado que diz: "
cachorro mordido de cobra tem medo de linguíça". E, como sabemos, a ansiedade é a mola mestra para o
desencadeamento do estresse.
Na vida prática, vemos algumas pessoas naturalmente ansiosas, ou seja, com traço marcante de ansiedade
em sua personalidade, agindo mais ansiosamente diante de estímulos que, normalmente, outras pessoas
diante dos mesmos estímulos. Essas pessoas reconhecem como estressores alguns estímulos que não são
tão extressores para outros.
Vejamos por exemplo, a tarefa de ter que falar em público. Há pessoas cujo psiquismo identifica esse
compromisso como sendo altamente estressante, enquanto outras não. Essas pessoas ansiosas reagem
desse jeito devido alguns estímulos internos para ansiedade, estímulos estes mais importantes que o
próprio compromisso de ter que falar em público. Podem estar ansiosas devido à insegurança, o temor, à
auto-estima um tanto baixa, falta de auto-confiança, etc.
Condições Emocionais Atuais
Outra motivação interna para o estresse são as Condições Emocionais Atuais. Essas, ao contrário dos
traços de personalidade, não caracterizam uma maneira da pessoa ser, mas sim, dela estar (agora, ou nessa
fase da vida).
As Condições Emocionais Atuais refletem a tonalidade afetiva atual do momento (ou desta fase da vida),
enquanto as Disposições Pessoais refletem o perfil afetivo da personalidade. É evidente que uma pessoa,
ainda que não tenha traços tão marcantes de ansiedade, terá mais facilidade de estressar-se caso esteja
passando por uma fase, por exemplo, de doença grave, depois de ter perdido um ente querido, durante
uma grande crise conjugal, econômica ou profissional e assim por diante.
Pelas mesma razão, nos períodos depressivos de nossa vida a probabilidade do estresse é enormemente
maior que em outras épocas e, se pensarmos que a Organização Mundial de Saúde calcula que 4 em cada
10 pessoas podem estar passando por momentos depressivos, imagine a incidência do estresse.
Devido às Condições Emocionais Atuais percebemos que alguns estímulos podem ser estressores em
algumas ocasiões e não estressores em outras. Essa dinâmica pode servir para muitas situações em
psiquiatria e no contacto da pessoa com a realidade.
Como exemplo sugestivo dessa questão, podemos imaginar uma pessoa que tenha uma séria queimadura
nas costas, ocultada pela camisa. Ao nos despedirmos damos-lhe uma fraterno tapinha nas costas,
causando extrema dor ao nosso amigo machucado. Embora a intensão tenha sido boa, doeu, e doeu
porque a pessoa estava em condições atuais de machucado previamente. Isso quer dizer que os estímulos
são recebidos de acordo com as condições pessoais atuais de cada um.
Síndrome de Burnout
A chamada Síndrome de Burnout é definida por alguns autores como uma das conseqüências mais
marcantes do estresse profissional, caracterizando-se por exaustão emocional, avaliação negativa de si
mesmo, depressão e insensibilidade com relação a quase tudo e todos.
Outros autores, entretanto, julgam a Síndrome de Burnout algo diferente do estresse. Para nós, de modo
geral, vamos considerar esse quadro de extrema apatia e desinteresse, não como sinônimo de estresse,
mas como uma de suas conseqüências bastante sérias.
Definida como uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto, excessivo e
estressante com o trabalho, essa doença faz com que a pessoa perca a maior parte do interesse em sua
relação com o trabalho, de forma que as coisas deixam de ter importância e qualquer esforço pessoal
passa a parecer inútil.
Esta síndrome afeta, principalmente, profissionais da área de serviços que trabalham em contato direto
com os usuários. Entre a clientela de risco, estão os trabalhadores em educação, profissionais em saúde,
policiais, agentes penitenciários, os bancários, profissionais liberais, departamentos de vendas e de
compras, enfim, funções que obrigam um contacto intenso com o outro.
Entre os fatores aparentemente associados ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout está a pouca
autonomia no desempenho profissional, problemas de relacionamento com as chefias, problemas de
relacionamento com colegas ou clientes, conflito entre trabalho e família, sentimento de desqualificação e
falta de cooperação da equipe.
Os autores que defendem a Síndrome de Burnout como sendo diferente do estresse, alegam que esta
doença envolve atitudes e condutas negativas com relação aos usuários, clientes, organização e trabalho,
enquanto o estresse apareceria mais como um esgotamento pessoal com interferência na vida do sujeito e
não necessariamente na sua relação com o trabalho. Entretanto, pessoalmente, julgamos que essa
Síndrome de Burnout seria a conseqüência mais depressiva do estresse desencadeado pelo trabalho.
Os sintomas básicos dessa síndrome seriam, inicialmente, uma exaustão emocional onde a pessoa sente
que não pode mais dar nada de si mesma. Em seguida desenvolve sentimentos e atitudes muito negativas,
como por exemplo, um certo cinismo na relação com as pessoas do seu trabalho e aparente
insensibilidade afetiva. Finalmente o paciente manifesta sentimentos de falta de realização pessoal no
trabalho, afetando sobremaneira a eficiência e habilidade para realização de tarefas e de adequar-se à
organização.
Estresse no Trabalho
O desgaste emocional a que pessoas são submetidas nas relações com o trabalho é fator muito
significativos na determinação de transtornos relacionados ao estresse, como é o caso das depressões,
ansiedade patológica, pânico, fobias, doenças psicossomáticas, etc.
Em nosso ambiente de trabalho os estímulos estressores são muitos. Podemos experimentar ansiedade
significativa (reação de alarme) diante de desentendimentos com colegas, diante da sobrecarga e da
corrida contra o tempo, diante da insatisfação salarial e, dependendo da pessoa, até com o tocar do
telefone.
Fatores intrapsíquicos (interiores) relacionados ao serviço também contribuem para a pessoa manter-se
estressada, como é o caso da sensação de insegurança no emprego, sensação de insuficiência
profissional, pressão para comprovação de eficiência ou, até mesmo, a impressão continuada de estar
cometendo erros profissionais. Isso tudo sem contar os fatores internos que a pessoa traz consigo para o
emprego, tais como, seus conflitos, suas frustrações, suas desavenças conjugais, etc.
Apesar de não ser possível estabelecer uma fórmula mágica ou regra para análise do estresse no trabalho
devido a grande diversidade entre as empresas, vejamos agora algumas situações mais comumente
relacionadas ao estresse no trabalho, de um modo geral:
Sobrecarga
A sobrecarga de agentes estressores também pode ser considerada um fator importante para eclosão do
estresse patológico no trabalho. A sobrecarga de estímulos estressores é um estado no qual as exigências
do ambiente excedem nossa capacidade de adaptação. Os quatro fatores principais que contribuem para a
demanda excessiva de agentes estressores no trabalho são:
1. urgência de tempo;
2. responsabilidade excessiva;
3. falta de apoio;
4. expectativas excessivas de nós mesmos e daqueles que nos cercam.
Falta de Estímulos
A falta de estímulos também pode resultar em estresse patológico e doença. O risco de ataques cardíacos,
por exemplo, são significativamente maiores nos dois primeiros anos após a aposentadoria. Nesses casos
a condição associada ao estresse costuma ser o tédio, a sensação de nulidade e/ou a solidão, portanto, a
falta ou escassez de solicitações também proporciona situações estressoras.
Às vezes, no final do dia, sentimos nosso corpo exausto mas, apesar disso, experimentamos uma
agradável sensação de bem estar. Em geral uma atividade pode se tornar muito gratificante quando possui
um significado especial ou quando desperta grande interesse em nós.
No trabalho, as atividades medíocres, destituídas de significação ou aquelas onde não temos noção do
porquê estamos fazendo isso ou aquilo, podem ser extremamente estressantes. As tarefas altamente
repetitivas ou desinteressantes também podem produzir estresse. Essas situações de carência de
solicitações ou a sensação de falta de significado para as coisas que fazemos costumam também causar
estresse em crianças e idosos.
Ruído
O ruído excessivo pode causar estresse pela estimulação do Sistema Nervoso Simpático, provocando
irritabilidade e diminuindo o poder de concentração. Dessa forma, o ruído pode ter um efeito físico e/ou
psicológico, ambos capazes de desencadear a reação de estresse. Este fator estressante pode produzir
alterações em funções fisiológicas essenciais, como é o caso do sistema cardiovascular.
O ruído também pode influenciar outros hormônios, como a testosterona, por exemplo, e dessa forma,
pode ter efeitos prolongados sobre o organismo, considerando que as alterações hormonais são sempre de
efeito mais longo. Experiências com pilotos de aeronaves na Argentina demonstraram que, ao ficarem
expostos aos ruídos de alta intensidade das turbinas aéreas, sua produção de testosterona reduziu-se pela
metade. Além disso, foi relatada uma forte correlação entre a perda de audição devida a ruídos e a
concentração plasmática de magnésio.
Alterações do Sono
O contínuo atraso do sono pelos horários de trabalho, viagens e variações do rítmo das atividades sociais,
facilitadas pelo uso da luz elétrica e atrações noturnas, pode levar à insônia e, conseqüentemente ao
estresse. Na síndrome de fusos horários das viagens internacionais, recomenda-se não tomar decisão
importante ou não competir antes da readaptação fisiológica.
Os operários que fazem turnos ou têm trabalho noturno, geralmente possuem um sono de má qualidade no
período diurno. Isso se dá em decorrência dos conflitos sociais (coisas que fazemos de dia e coisas que
fazemos de noite) e do excesso de ruído diurno. Essa má qualidade do sono acabará provocando aumento
da sonolência no período de trabalho (seja noturno ou diurno), muitas vêzes responsável por acidentes,
desinteresse, ansiedade, irritabilidade, perda da eficiência e estresse.
Falta de Perspectivas
A esperança, perspectiva ou expectativa otimista é uma das motivações que mais aliviam as tensões do
cotidiano. Saber (ou achar) que amanhã será melhor que hoje, ou o mês que vem melhor que este, ou ano
que vem será bem melhor, etc, são sentimentos que aliviam e minimizam a ansiedade e a frustração do
cotidiano.
Está claro que na falta das boas perspectivas ou, o que é pior, na presença de perspectivas pessimistas a
pessoa ficará totalmente à mercê dos efeitos ansiosos do cotidiano, sem esperanças de recompensas
agradáveis. Há ambientes de trabalho onde o futuro se mostra continuamente sombrio. É completamente
falso acreditar que funcionários temerosos produzem mais. O medo motiva para a ação durante um breve
período de tempo (veja a fisiologia do estresse), mas logo sobrevêm o estado de esgotamento com efeitos
imprevisíveis.
Mudanças Constantes
Esse assunto merece considerações mais amplas. As necessidades de mudanças podem ser comparadas a
um ciclo vicioso; o momento presente está quase sempre exigindo mudanças, essas mudanças acabam
trazendo novos problemas. Esses problemas despertam novas soluções, as quais passam a exigir novas
mudanças e assim por diante.
Mudanças determinadas pela empresa
Esse tipo de mudanças pode ser determinada por uma nova chefia ou devido à nova orientação geral da
empresa, seja por causa de alguma fusão ou aquisição da empresa. Normalmente esse tipo de mudança
pode gerar muita insegurança, inicialmente.
Até agora associamos sempre o estresse à adaptação e, diante das mudanças, o que mais se solicita das
pessoas é a adaptação, portanto, é o momento onde o estresse está acontecendo. Evidentemente as pessoas
naturalmente possuidoras de dificuldades adaptativas sofrerão mais. Abrir mão de métodos usuais para
aprender ou aceitar novos métodos sempre exige uma participação emocional importante.
A pessoa que passa por momentos de ansiedade e estresse por causa de mudanças deve ter em mente que,
mesmo que o departamento esteja sendo "desmontado" ou algum colega estimado esteja perdendo sua
posição, ela continuará sendo o mesmo profissional que é, seus conhecimentos continuarão intactos e a
empresa poderá utilizá-los até de forma melhor na nova situação. Nessa situação o mais importante é não
deixar que considerações emocionais (mágoa, orgulho, inveja, rancor, etc) dominem o lado racional.
Mudanças devidas à novas tecnologias
A tecnologia normalmente está em contínua substituição por sistemas mais modernos. Nessa situação
também as pessoas são emocionalmente solicitadas à se adaptar ao novo. Nesse caso o estresse será
variável, de acordo com as Disposições Pessoais e de acordo com o tipo dessa nova tecnologia a ser
implantada.
Pela Disposição Pessoal sofrerão mais as pessoas com instabilidade afetiva, com traços marcantes de
ansiedade ou já previamente estressadas. Em relação às próprias mudanças, sofrerão mais as pessoas
confrontadas com novas tecnologias ideologicamente diferentes das anteriores.
Na Inglaterra, há anos, foi feita uma pesquisa entre trabalhadores de uma refinaria de petróleo e de uma
central telefônica, ambas submetidas à mudanças tecnológicas radicais. Na refinaria, apesar das mudanças
para automação terem sido profundas, como o sistema de craqueamento do petróleo é sempre o mesmo, a
incidência de estresse foi mínima entre os funcionários, inclusive entre os mais antigos. Entretanto, na
telefônica a situação foi muito diferente. O novo sistema não tinha nenhuma analogia com o anterior e os
funcionários mais antigos tiveram que ser transferidos ou demitidos. Isso mostra que as exigências para
adaptação ao novo exercem profundo impacto sobre a ansiedade (e estresse, conseqüentemente) das
pessoas.
Mudanças devidas ao mercado
As constantes exigências do mercado sempre são levadas a sério pelas empresas e, freqüentemente,
determinam mudanças de procedimentos no trabalho. Os ansiosos tende mais para o estresse devido,
principalmente, à ansiedade antecipatória, ou seja, a ansiedade que aparece muito antes de quaisquer
resultados das mudanças.
Embora o bom senso recomende que as pessoas devam estar continuamente atentas aos resultados dessas
mudanças, sofrer antecipadamente não resolve problemas, não facilita a adaptação e podem determinar
atitudes precipitadas danosas.
Mudanças auto-impostas
São as exigências que fazemos de nós mesmos. Em psiquiatria, o mais sadio é que estejamos sempre
inconformados e sempre adaptados. Isso significa que, através do inconformismo estamos sempre
buscando fazer com que o amanhã seja melhor que o hoje. Entretanto, é indispensável que a pessoa se
mantenha adaptada às circunstâncias atuais, mesmo que sejam circunstâncias adversas.
Sadio seria reclamar do trânsito, quando este está ruim, para podermos buscar opções que melhorem
nossa vida em relação à esse trânsito (mudar itinerários, horários, etc), outra coisa é estarmos padecendo
de hipertensão, úlcera, ansiedade ou enxaqueca por causa desse trânsito ruim. Essa é a diferença.
O próprio inconformismo humano exige uma reciclagem constante, ou seja, exige mudanças continuadas
e necessidades de adaptação à essas mudanças. Encarar a mudança sob uma perspectiva de crescimento e
adequação pode ajudar nossa adaptação, considerá-la uma tarefa tediosa, inútil e humilhante "para quem
já sabe tanto", favorece o descontentamento, a ansiedade e, conseqüentemente, o estresse.
Ergonomia
O conforto humano em seu trabalho deve ser sempre considerado, em se tratando de estresse. Como
enfatizamos sempre, não devemos privilegiar apenas as razões emocionais em relação ao estresse, por ser
este uma alteração global do organismo (não apenas emocional).
Aqui deve ser considerado o conforto térmico, acústico, as horas trabalhadas ininterruptamente, a
exigência física, postural ou senso-perceptiva e outros elementos associados ao desempenho profissional.
Ambientes hostis, em termos de temperatura, unidade do ar e contacto com agentes agressivos à saúde
fazem parte da exigência física a que alguns trabalhadores estão submetidos. Daí a enorme importância
do acessoramento técnico da Medicina do Trabalho para prevenir estados de esgotamento.
Atividades que exigem posições anti-fisiológicas, repetitividade de exercícios danosos, e permanência
exagerada em atitudes cansativas fazem parte das exigências posturais a que são submetidas as pessoas
durante o trabalho
Conseqüências
Conseqüência aos demais
As conseqüências do estresse, porém, não se limitam ao próprio indivíduo estressado. Numa comunidade
relativamente fechada, como é o trabalho ou o lar, pode ocorrer o fenômeno da "contaminação"
emocional. Isso acontece com um pouco de maior freqüência no lar que no trabalho. Através da
contaminação emocional os circundantes passam a sentir-se ansiosos devido a ansiedade do paciente. Isso
acontece também em relação à irritabilidade, depressão e mau humor.
O estressado muitas vezes se comporta como o ditado, segundo o qual, "o condenado se consola na dor do
semelhante". Isso significa que muitas vezes ele quer cúmplices para seu mau estar. Assim sendo ele
passa a ser mais exigente com as pessoas mais próximas. O excesso de tensão também pode comprometer
a comunicação, quando as mensagens não são transmitidas integralmente por falta de paciência ou
tolerância. Parece que o estressado cobra ser compreendido por seus próximos além da capacidade deles
entendê-lo.
Há ainda, e sobretudo, a perda da qualidade no ambiente de trabalho por parte de quem está estressado. O
bom senso e a tolerância são profundamente comp rometidos e provocar demissões (seja pedindo ou
facilitando para recebê-la) indevidas.
A convivência com o estressado fica, assim, seriamente comprometida; tanto no lar quanto no emprego.
Essa é a conseqüência de quem esgotou sua capacidade de adaptação e, conseqüentemente sua tolerância,
paciência, interesse, bom senso, determinação, persistência e a maioria dos atributos conquistados através
de árduo aprendizado.
Conseqüência pessoal
Em tese, qualquer tipo de doença psicossomática pode se manifestar no paciente ansioso. Além disso, do
ponto de vista emocional o estresse está intimamente relacionado à Depressão, à Síndrome do Pânico, aos
Transtornos da Ansiedade e às Fobias. Isso tudo sem contar uma vasta lista de sintomas (não doenças)
que acompanham o paciente estressado.
Na lista abaixo vemos uma série de sintomas possíveis no paciente estressado, quando este tem tendência
a manifestar, como conseqüência do estresse, um transtorno depressivo.
Lista 1 SINTOMAS POSSÍVEIS NA DEPRESSÃO
Dores sem causa física: cabeça, abdominais, pernas, costas, peito e outras incaracterísticas
Alterações do sono: insônia ou sonolência excessiva
Perda de energia: desânimo, desinteresse, apatia, fadiga fácil
Irritabilidade: perda de paciência, explosividade, inquietação
Ansiedade: apreensão contínua, inquietação, às vezes medo inespecífico
Baixo desemprenho: alterações sexuais, memória, concentração, tomada de decisões
Queixas vagas: tonturas, zumbidos, palpitações, falta de ar, bolo na garganta
Em relação aos sintomas genéricos, agravados ou desencadeados pelo estresse, podem ser acometidos
diversos órgãos ou sistemas, conforme se vê na lista abaixo.
Lista 2 SINTOMAS AGRAVADOS OU DETERMINADOS PELAS EMOÇÕES
Cardiologia: Palpitações, arritmias, taquicardias, dor no peito
Gastroenterologia: Cólicas abdominais, epigastralgia, constipação e diarréia
Neurologia: Parestesias, anestesias, formigamentos, cefaléia, alterações sensoriais
Otorrino:
Vertigens, tonturas, zumbidos
Clínica Geral: Falta de ar, bolo na garganta, sensação de desmaio, fraqueza dos membros, falta de apetite
ou apetite demais
Ginecologia: Cólicas pélvicas, dor na relação, alterações menstruais
Ortopedia: Lombalgias, artralgias, cervicalgias, dor na nuca
Psiquiatria: Irritabilidade, alterações do sono (demais ou de menos), angústia, tristeza, medo, insegurança,
tendência a ficar em casa, pensamentos ruins
Há, ainda, a ocorrência das chamadas doenças psicossomáticas. Estas, também desencadeadas ou
agravadas pelas emoções, notadamente pelos estados estressantes à longo prazo, podem atingir qualquer
órgão ou sistema. Vejamos a lista abaixo.
Lista 3 DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS
Cardiologia: Hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, arritmias...
Gastroenterologia: Doença de Crown, polipose, diverticulose, insuficiência hepática...
Neurologia: Enxaqueca, seqüelas de AVC, hidrocefalias, epilepsia...
Otorrino: Labirintopatias, síndromes vertiginosas, zumbidos...
Endócrinologia: Diabetes, insuficiência suprarenal, Cushing não iatrogênica, tireóide...
Clínica Geral:
Reumatismos, Lupus, doença de Reynauld, imunopatias...
Ginecologia: Endometriose, esterilidade, insuficiência ovariana...
Ortopedia: Lombalgias, ostofitose, osteoartrose...
O Estresse e eu
O processo do estresse envolve o organismo todo, o qual assume uma certa postura diante dos estímulos
proporcionados pela vida. Esta postura diante dos estímulos (ou diante da vida) dependerá da natureza
desses estímulos. Podemos reagir diferentemente diante do fato de recebermos um presente ou uma má
notícia mas, é bom saber, todas as vezes em que nos deparamos com algum estímulo será nossa própria
pessoa quem julgará a natureza desses estímulos. Como dizia Shakespeare, "as coisas raramente são boas
ou más, nosso pensamento é que as faz assim."
A ordem para desencadearmos o estresse é sempre determinada por razões subjetivas e pessoais. O
estresse começa quando nós percebemos ou entendemos uma situação, pessoa, acontecimento ou objeto
como sendo um Fator Estressante, de acordo com nossa interpretação subjetiva. A forma como
percebemos os fatos depende grandemente de nosso psiquismo, de nosso ego, do sistema de valores que
cada um tem em si e, até mesmo, da nossa hereditariedade. Acontecimentos felizes, tais como casar,
ganhar na loteria ou encontrar um ente querido após uma longa ausência, também produzem estresse,
embora, com maior freqüência, este ocorra diante de eventos mais negativos, dolorosos e desagradáveis.
Uma mesma situação pode ser percebida de modo totalmente diferente entre dois indivíduos e significar
Fator Estressante para um e não para outro. Um deles pode perceber uma determinada situação como um
desafio excitante, enquanto o outro pode percebê-la como ameaça à vida. Um farol vermelho pode ser
interpretado por uma pessoa como um objeto útil para disciplinar o tráfego, enquanto para outra pessoa
pode significar uma fonte de irritação. Além do mais, a mesma pessoa pode perceber e reagir de forma
diferente diante das mesmas situações em momentos diferentes, dependendo do estado emo cional geral.
Nosso pensamento às vezes caminha de rédeas soltas e, em termos emocionais, nem sempre distinguimos
um acontecimento real de outro imaginário. Muitas vezes estamos manifestando emoções desencadeadas
por coisas que só existem em nossa imaginação. A maneira como pensamos sobre nosso passado e
imaginamos nosso futuro é também uma forma pela qual podemos desencadear a reação de estresse. A
formidável força imaginativa da mente controla sempre a resposta do corpo. Reviver lembranças
desagradáveis imaginar situações ameaçadoras ou visualizar o presente ou o futuro com apreensão,
angústia ou medo, conduz à reação de estresse.
Felizmente, o inverso também é verdadeiro, uma vez que temos a possibilidade de fazer um bom uso da
nossa imaginação. Enquanto os pensamentos negativos e produtores de ansiedade induzem ao estresse, a
imaginação de situações agradáveis e pensamentos positivos têm um efeito benéfico sobre o corpo
produzindo uma sensação de bem-estar.
Comportamento e Estresse
A forma como interagimos com o ambiente pode predispor ao estresse e às doenças à ele relacionadas.
Dois cardiologistas americanos, Friedman e Roseman, demonstraram que um determinado tipo de
comportamento, denominado de Comportamento Tipo A, induzia ao estresse indevido e excessivo na
pessoa e, muitas vezes, nos que estavam próximos a ela. Essas pessoas tinha as seguintes características
para serem consideradas portadoras de Comportamento Tipo A:
·
·
intensa motivação para atingir objetivos freqüentemente definidos;
envolvimento em múltiplas atividades diferentes ao mesmo tempo;
·
·
·
·
·
intensa atitude competitiva;
envolvimento constante com o tempo (doença da pressa);
alta necessidade de reconhecimento e progresso pessoal;
personalidade agressiva que pode se transformar em hostil;
personalidade facilmente irritável.
Os indivíduos Tipo A correm risco três vezes maior de desenvolver doença coronária, em comparação
com indivíduos que não manifestam esse tipo de comportamento. A hiperatividade do Sistema Nervoso
Simpático é o processo patológico principal que induz ao aumento dos riscos cardiovasculares.
Na prática psiquiátrica, entretanto, tudo nos leva a crer que as pessoas previamente ansiosas correm um
risco maior de desenvolver estresse e essas pessoas costumam apresentar características comportamentais
mais ou menos semelhantes às pessoas consideradas Tipo A.
Estresse O Que Fazer
Embora tenhamos um grande número de escritos sobre o estresse, como é, como acontece e o que fazer
com ele, também arrisco abordar o problema. Em meu entendimento, inicialmente, o mais importante é
saber se a pessoa já se encontra num estado de Esgotamento franco por estresse prolongado ou, se faz
parte de uma população de risco e quer saber meios de evitar condições onde se desenvolvem o estresse.
Controlando as Emoções
Desde os tempos imemoráveis, o autodomínio, o poder de agüentar as tempestades emocionais e procurar
ter autonomia psíquica capaz de libertar-nos das amarras da paixão, tem sido procurado avidamente pelas
pessoas, como uma espécie de fórmula mágica capaz de nos tornar supre-homens na lida com o cotidiano.
Na realidade o objetivo principal e mais sensato a ser conquistado será o equilíbrio psicológico e não a
eliminação das emoções pois, os bons sentimentos sempre têm seu valor e seu propósito. Quando as
emoções e sentimentos são totalmente abafados e oprimidos os efeitos podem ser piores e mais
estressantes ainda.
As pessoas não precisam (e nem conseguem) evitar sentimentos desagradáveis, pois eles podem, de
alguma forma, contribuir para uma vida criativa e para um crescimento espiritual importante ao
desenvolvimento da personalidade. Só não devemos permitir que tais sentimentos carreguem consigo a
desadaptação e a doença. Como dissemos anteriormente, é importante manter-nos sempre inconformados,
para que nosso amanhã seja melhor que o hoje, porém, sempre adaptados para não adoecermos e, talvez,
nem termos um amanhã.
Controlar nossas emoções não se aprende com um programa do tipo Dez Lições para Controlar Emoções,
ou ainda do tipo, Guia Prático para Perfeito Controle Emocional. Isso tudo costuma ser um punhado de
obviedades que gostaríamos de ouvir e, principalmente, que gostaríamos ser possível.
Aprender a controlar as emoções é uma lição perene, cujas primeiras aulas começam no nascimento e as
últimas nunca chegarão a ser aprendidas. Isso significa, em outras palavras, que ninguém é mestre ou
doutor em controle emocional. Estamos todos tentando nosso controle de um jeito ou outro, alguns mais
avançados, outros num contínuo ficar de recuperação.
Trata-se de uma atividade de tempo integral. Muito do que fazemos é uma tentativa de controlar o estado
de espírito. No plano cerebral temos algumas dificuldades no controle sobre quando seremos arrebatados
pela emoção e sobre qual tipo de emoção reagiremos. Muitas vezes elas dependem da sucessão de eventos
do destino.
Emoção e Razão
A melhor imagem para analogia sobre atividade racional e emocional que consegui, nesses anos todos de
atividade didática, é a do cavalo-cavaleiro. Através dessa analogia espero estar oferecendo meios para
podermos lidar melhor com essa questão. Vamos ao exemplo.
Imagine você sobre um cavalo (quem está acostumado cavalgar será mais fácil). A partir de uma certa
convivência com o cavalo temos a imp ressão de que o conjunto cavalo-cavaleiro forma uma coisa só. A
relação entre os dois é tão estreita que até dá a impressão do cavalo obedecer o pensamento do cavaleiro.
Essa sensação acontece com freqüência.
Pois bem. Agora vamos entender nossa parte racional como se fosse o cavalo e nossa parte emocional
como se fosse o cavaleiro. Não, não está errado. De fato o ser humano original faz de sua razão mais uma
serva do que senhora da emoção.
Há pessoas que se comportam como um cavaleiro afoito e apressado, exigindo o máximo do animal. O
sucesso da dupla dependerá das qualidades do cavalo. Se o cavalo for de excepcional qualidade resistirá
mais, entretanto, mesmo os puro-sangues poderão entrar em colapso se o cavaleiro não souber dosar sua
afoiteza. É o sentimento de ansiedade esgotando a razão, o que mais comumente vemos na clínica.
Nesse primeiro exemplo, além da afoiteza do cavaleiro, podemos ter a raiva, a amargura, a mágoa, a
depressão, a teimosia, a embriagues, ou qualquer outro estímulo capaz de impor mau uso do cavalo.
Muitas vezes é impossível ter capacidade de autocontrole emocional sem a ajuda de remédios.
Vamos imaginar agora, um cavalo afoito, xucro, estabanado, mal treinado e indisciplinado. Neste caso o
sucesso da dupla dependerá da prudência e do domínio do cavaleiro. Se esse cavalo não se corrigir, com o
tempo o cavaleiro acabará esgotado. Vemos isso na prática, quando a parte racional não tem disciplina,
conhecimento, treinamento ou habilidade suficiente para atender a emoção. Muitas vezes é impossível ter
capacidade de disciplina racional sem a ajuda de terapias.
Os extremos são perigosos nas duas partes. Um cavalo muito lento e acomodado fará sofrer o cavaleiro,
mesmo que este seja bem intencionado e, vice-versa, um cavaleiro muito apático deixará o cavalo
caminhar à esmo, perdendo-se nas dificuldades do caminho.
A pessoa que menospreza a razão em detrimento da sensatez e da consciência, apresenta um defeito grave
da forma do pensamento chamado de Pensamento Dereístico. Contrariamente, a pessoa que dispensa
totalmente a sensibilidade em favor do uso absoluto da razão também padece de uma grave alteração na
forma do pensamento, chamado de Concretismo.
A Raiva
Existem vários tipos de manifestação da Raiva. Algumas vezes ela surge explosivamente como uma
reação rápida e aguda à alguma frustração imediata, outras vezes a Raiva vai nutrindo lenta e surdamente
sentimentos de vingança, tal como uma reação crônica à injustiça e indignação experimentados pela
pessoa.
Trata-se de um dos sentimentos mais aversivos ao organismo humano, um dos sentimentos que mais
predispõe ao estresse. Adib Jatene disse certa vez que não é o trabalho que mata, é a Raiva. E
provavelmente ele está certo. Outra peculiaridade da Raiva é que ela parece ser, entre todos estados de
espírito, aquele que as pessoas têm mais dificuldade para controlar.
A Raiva seduz o ser humano porque, ao contrário da tristeza que nos exauri, ela energiza e exalta. Em
nosso exemplo do cavalo-cavaleiro, a raiva (cavaleiro) exige do cavalo (razão) todo tipo de insensatez
para atender-lhe os anseios. As pessoas elaboram os mais convincentes argumentos racionais para
justificar e alimentar à Raiva.
O grande desencadeador da Raiva é a sensação de estar ameaçado ou em perigo e, em se tratando de ser
humano, nem sempre a ameaça e perigo são situações concretas e contra sua vida. Em grande número de
vezes são ameaças emocionais, são ameaças à soberania pessoal, à dignidade, ao orgulho ferido, às
pretensões frustradas, aos desejos contrariados, enfim, são ameaças ao bem estar emocional.
Na explosão aguda de Raiva, melhor definido como cólera ou ira, há grande liberação de catecolaminas
cerebrais, as quais geram um rápido estado de alarme orgânico, um surto de energia física e emocional
durante alguns minutos, quando então o organismo todo se prepara para a luta, seja em termos de
enfrentamento ou de fuga, dependendo das circunstâncias. Esse primeiro modelo seria quase uma atitude
reflexa em reação à ameaça.
Num segundo momento, os estímulos aversivos s eriam impulsionados pela amígdala cerebral, percorrem
o trajeto hipotálamo -adrenocortical, tal como vimos na fisiologia do estresse, e criaria um estado geral de
prontidão para a ação, o qual é mais durável (horas ou mesmo dias) fazendo com que o cérebro fique em
estado de alerta para que eventuais reações posteriores sejam rápidas.
Nesta fase, quando então o organismo já se encontra em estado de alerta devido a algum estímulo
estressor, crises agudas e explosivas de Raiva podem ser mais facilmente disparados. Na teoria da
Inteligência Emocional essas crises são chamadas de Seqüestro Emocional, como se nosso organismo
fosse gerenciado exclusivamente pelas emoções, subestimando-se quase totalmente a razão. Nessa fase as
pessoas agem além do alcance da razão e seus pensamentos giram em torno da ação determinada pela
Raiva, indiferente às conseqüências.
Até certo nível, a Raiva pode ser controlada ou até ter seu curso interrompido se um outro estímulo
conseguir polarizar a atividade mental. Este outro estímulo pode ser sob a forma de algum pensamento
mais interessante, pode ser a distração, mudar de ambiente, afastar-se da situação (ou pessoa) que esteja
estimulando a Raiva. Mas isso só funciona em níveis controlados de Raiva. Nos casos onde a pessoa é
portadora de algum Transtorno no Controle dos Impulsos os medicamentos e a terapia podem ser de
extrema ajuda.
Os Valores
O ideal não é saber colocar a razão à serviço da emoção e nem o contrário. O ideal é saber fazer a emoção
e a razão conviverem harmonicamente de forma que uma complete a outra simultaneamente. A primeira
lição para lidar com agentes estressores será reaprender a valorizar a realidade, ou revalorizar a realidade.
Existem inúmeros escritos sobre como ou o que fazer com o estresse, uma série de livros de auto-ajuda
que sugerem fórmulas mágicas e que, normalmente, todos já sabíamos e, infelizmente, entendemos as
enormes dificuldades entre a prática e a teoria.
Neste tópico sobre valores, entretanto, não descreveremos nenhuma fórmula milagrosa. Pretendemos
discorrer sobre um conceito que, se levado à sério e bem refletido, será capaz de produzir importantes
mudanças na maneira das pessoas sentirem e reagirem à vida.
As coisas que mobilizam nossos sentimentos são, exatamente, as coisas importantes para nós. Podemos
até dizer, sem medo de errar, que nossos sentimentos são mobilizados tanto mais pelas coisas, quanto
mais importantes são essas coisas para nós. Vamos agora, juntar à essas afirmações, a idéia de Aristóteles
sobre a virtude (já visto anteriormente): "Virtude é a eqüidistância entre dois vícios, um por excesso e
outro por falta". Portanto, vamos revalorizar as coisas. Assim sendo, vamos tentar atribuir às coisas
valores compatíveis.
Depois de alguma discussão com colegas, onde se fez o possível para demonstrar a validade de um ponto
de vista, a pessoa pode sentir-se profundamente magoada, ou ofendida e humilhada, ou contrariada, enfim
pode experimentar sentimentos desagradáveis tornando a discussão um verdadeiro agente estressor.
Racionalmente falando, qual teriam sido os elementos supervalorizados nesse exemplo?
1.
2.
3.
4.
Meu ponto de vista?
A opinião contrária do colega?
Sentir-me contrariado?
Ter que abrir mão de um ponto de vista?
Qualquer um desses casos mereceria uma revalorização, de maneira que não fosse tão valorizado ao
ponto de nos causar mal estar, desadaptação ou qualquer outro sentimento produtor de intensa ansiedade,
angústia, mágoa, aborrecimento e, por outro lado, nem tão insignificante ao ponto de tornar-nos apáticos,
desinteressados e desmotivados. Novamente aqui a questão do bom senso e da sabedoria.
O conceito que passamos aqui é o seguinte: No universo psicológico e psiquiátrico só existem duas
coisas: o sujeito e o objeto. Sujeitos somos nós, e objeto é tudo que não seja nós mesmos. Englobam os
objetos tudo que pertence à realidade; pessoas, objetos materiais, acontecimentos, fatos, eventos, enfim,
tudo que está externo à nós.
Os objetos, em si, comportam dois tipos de valores: um valor objetivo, material e universal e u m valor
abstrato, subjetivo e pessoal. Vejamos, por exemplo, uma barra de 200 gr. de ouro; terá um valor objetivo
e material ao qual chamamos cotação (mais ou menos universal) que pode ser expressa em tantos dólares
por grama.
Ao lado desse valor objetivo, existirá um outro valor subjetivo para cada um de nós que não pode ser
expresso em dólares, mas por anseio, necessidade, inclinação, ambição, gosto, enfim, um valor que
depende muito da pessoa. Esse valor é tão subjetivo que nem depende da barra de ouro em si, mas da
simples idéia da barra de ouro. Algumas pessoas se angustiam por NÃO ter uma barra de ouro, portanto,
essa hipotética barra causa sentimentos mesmo sem existir concretamente.
Portanto, nossa vida emocional existe de acordo com o valor subjetivo das coisas, ou seja, do valor que as
coisas têm para nós. Como sabemos também, é uma função exclusiva do sujeito (de nós) atribuir valores
subjetivos às coisas. Portanto, os objetos, coisas, eventos, fatos, acontecimentos e pessoas terão para nós
os valores que nós mesmos atribuirmos à eles.
A conclusão à qual devemos chegar, será que as coisas poderão influir emocionalmente nas pessoas no
tanto e na proporção que essas pessoas "permitirem" que elas valham. As outras pessoas só conseguirão
nos ofender, humilhar, magoar ou constranger, na proporção que permitirmos esse valor (e poder) à elas.
Valos exemplificar essa questão com duas situações, abordando os lados racional e emocional do
problema. Primeiramente, em termos de valores, vamos reconsiderar quais os bens mais valiosos de que
dispomos. Quais os nossos bens que não podem ter seus valores expressos por cifras? Evidentemente
você escolherá a saúde e a liberdade, dois pré requisitos para todo o resto; para curtir sua família, para
trabalhar, passear, viver a vida com satisfação, poder ler isso que está lendo... Liberdade e saúde, apesar
de terem valores imensuráveis, nós só nos damos conta disso quando nos privamos delas. Agora vamos
aos exemplos.
Vamos imaginar que um ladrão nos roube o aparelho de s om do carro. Racionalmente pensando, esse
aparelho de som tem um valor objetivo, uma cotação que pode ser expressa por valores numéricos.
Entretanto, caso fiquemos extremamente abalados com o roubo ao ponto de termos alguma alteração
orgânica de fundo emocional (hipertensão, taquicardia, asma, enxaqueca, etc.) teremos perdido o aparelho
de som, propriamente dito, mais nossa saúde, nosso bem estar e nossa felicidade.
Isso, materialmente falando, nos custará mais ainda, supondo o tratamento, os medicamentos, médico,
dias parados, etc. Trata-se de um prejuízo que pode vir algum tempo depois do estresse, pode ser até que
nem consigamos relacionar esse transtorno somatiforme ou psicossomático ao estresse. Mas, se nos
abalarmos emocionalmente, com certeza um dia virá o prejuízo. A opção ainda é do sujeito: permite que
lhe roubem só o aparelho de som, ou o aparelho de som mais as despesas com a saúde.
Vejamos agora um exemplo eminentemente emocional. Sabendo que nosso maior patrimônio é a saúde e
a felicidade, que importância atribuímos à pessoa que permitimos ser capaz de roubar-nos tal patrimônio?
Seria inteligente colocar nossa saúde e felicidade nas mãos daquele motorista de ônibus que nem sabemos
quem é? Nas mãos daquele imbecil que se diz chefe? Nas mãos daquele colega de trabalho que agora
deve estar mais tranqüilo que nós? Nas mãos de quem, exatamente, vamos confiar nosso mais valioso
patrimônio?
Pensando assim, chegaremos à conclusão de que será sempre um atributo do sujeito (no caso EU)
valorizar os objetos, sejam eles pessoas, aparelhos de som, atitudes do cotidiano, perspectivas futuras, etc.
Portanto, jamais podemos dizer que Fulano me magoou, que Sicrano me ofendeu, que Beltrano me
irritou. Não. Isso jamais acontece sem nossa expressa permissão. Então, só podemos dizer que EU foi
quem me magoei com Fulano, EU me ofendi com Sicrano e EU me irritei com Beltrano.
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BALLONE, G J - Estresse, in. PsqWeb, programa de Psiquiatria Clínica na Internet,
http://meusite.osit.com.br/ballone/, Campinas, SP, 1999.
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