BRINCADEIRAS CANTADAS: AS SITUAÇÕES DE INTERAÇÃO
LÚDICA COMO ESPAÇO DE REFLEXÃO DA PRÁTICA
PEDAGÓGICA
COLOMBO∗, Andréa Aparecida - UEL
[email protected]
OLIVEIRA∗∗, Francismara Neves de – UEL
[email protected]
Resumo
Na presente pesquisa analisou-se a importância do brincar, especificamente, das brincadeiras
cantadas e suas contribuições para o desenvolvimento infantil como espaço de reflexão da
prática formativa do professor. A modalidade de pesquisa adotada é estudo exploratório na
modalidade bibliográfica no qual objetivamos compreender como as brincadeiras cantadas
podem ser apropriadas como espaço de reflexão na prática formativa do professor, bem como
analisar as possibilidades de tratar as brincadeiras cantadas como conhecimento educacional
no contexto do brincar na contemporaneidade. Nosso estudo indicou que as brincadeiras
cantadas podem ser utilizadas pelos professores na promoção de diferentes formas de
aprendizagem, tais como as relativas à leitura e escrita, na aquisição da lateralidade,
raciocínio lógico, entre outras, possibilitando às crianças por meio das brincadeiras cantadas e
simulações, vivenciarem conflitos e possíveis soluções em situações de interação lúdica.
Apontaram ainda os resultados a possível relação entre as brincadeiras cantadas e aspectos da
transmissão cultural tais como valores e processos de auto-conhecimento (ao colocar a criança
em contato com suas habilidades e dificuldades) além do desenvolvimento da imaginação e
criatividade. Em vista desses resultados observados foi possível analisar a importância desta
compreensão pelo professor, em sua prática formativa e sugerir reflexões sobre a apropriação
das brincadeiras cantadas, como um importante espaço de construção do conhecimento na
escola.
Palavras-chave: Formação de professores; Brincadeiras cantadas; Práticas pedagógicas.
Introdução
A partir de algumas inquietações acerca da formação de professores da educação
infantil, dentre os múltiplos fatores que envolvem a atuação deste profissional, escolhemos
analisar as brincadeiras cantadas no processo de desenvolvimento da criança. Para isto,
∗
Graduanda do Curso de Pedagogia da UEL.
∗∗
Professora do Departamento de Educação da UEL. Doutora em Educação (UNICAMP).
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buscamos compreender as brincadeiras cantadas como um espaço de reflexão da prática
formativa do professor, analisando suas características enquanto recurso pedagógico.
Esta pesquisa se originou no estágio da disciplina de Educação Física para a
Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental (3GRD013), no qual objetivamos
compreender como as brincadeiras cantadas podem ser apropriadas como espaço de reflexão
na prática formativa do professor, bem como analisar as possibilidades de tratar as
brincadeiras cantadas como conhecimento educacional no contexto do brincar na
contemporaneidade. Optamos para esta investigação, por um estudo descritivo.
O Encaminhamento da Pesquisa
Ao definir os caminhos da pesquisa, buscamos por meio da literatura o que os autores
tratam sobre a temática, bem como a importância do brincar livre e espontâneo na infância.
Apoiamos-nos em alguns autores como, por exemplo, Cunha (2001), afirmando que o
brincar não é somente o brincar por brincar, mas é importante para que a criança possa se
desenvolver melhor, exercitando suas potencialidades. Dessa forma, o meio propício é
aquele que permite a criança ser criança, utilizando seu corpo, seus movimentos, sua
percepção, sua liberdade de escolha para brincar.
Ou seja, o brincar é uma linguagem e é através das brincadeiras do dia a dia, das
experiências vividas, produzidas no meio social que a criança internaliza esta linguagem
levando-a aos poucos a criar e recriar, processo esse não circunscrito ao brincar, mas
transportado para sua vida.
Brincando, a criança vai construindo os alicerces da compreensão e da utilização de
sistemas simbólicos como as brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de imitação, entre outros,
além da capacidade de estabelecer laços de afeto e confiança diante do outro. Conforme se
desenvolve, vai compreendendo que uma mesma situação na qual ela e os outros estão
envolvidos, pode parecer bastante diferente para cada um, podendo haver diferentes
perspectivas. Assim, a habilidade cognitiva desenvolvida pela criança no ato do brincar,
possibilita-lhe uma compreensão cada vez mais complexa de mundo, resultando em um
comportamento mais integrado socialmente. (CUNHA, 2001).
Nessa perspectiva, enfatizamos que o brincar proporciona experiências que podem
provocar o desenvolvimento de habilidades cognitivas e sociais, além do fato de que por
meio das brincadeiras são proporcionados momentos sociais ricos e estimuladores que
favorecem a mudança
do pensamento egocêntrico,
mudança essencial para o
desenvolvimento das relações e percepções sociais que enriquecem o repertório de leitura de
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mundo das crianças e oportuniza as trocas cooperativas. (SELMAN, 1980, FONTES, 2004,
OLIVEIRA 2005).
Segundo Teles (1997, p. 32) “a criança reproduz na brincadeira a sua própria vida,
ela constrói o real, delimita os limites frente ao outro e ao meio, sentindo o prazer de atuar
ante as situações e não ser apenas dominadas por elas”. Ou seja, a brincadeira é uma
“ferramenta” que auxilia a criança a construir a compreensão da realidade ao mesmo tempo
em que estimula a imaginação, possibilitando a criação de estratégias para se relacionar com
o outro.
Outro autor que contribui com nossas inquietações acerca do brincar é Moyeles
(2006) que o descreve como um processo, em si mesmo, capaz de proporcionar uma
variedade de oportunidades, comportamentos, motivações e habilidades. O olhar para o
brincar deve ser como um processo que atravessa um continuum de experiências.
Piaget (1967, p. 4) considera que muitos aspectos, entre eles o brincar, precedem as
condutas sociais suscitadas pelas necessidades de interação. A cada instante, inclusive da
brincadeira a ação é desequilibrada pelas ações que ocorrem no mundo exterior ou interior e
a cada nova conduta vai-se restabelecer o equilíbrio que será mais estável do que a do
estágio anterior a esta perturbação. O brincar pode ser entendido nesse sentido, como
necessidade da criança, marcada pela liberdade e criatividade, mas também como
instrumento de aprofundamento da compreensão da realidade.
Percebemos na literatura especializada que a dimensão lúdica é intrínseca ao ser
humano e que são nossos sonhos e fantasias que movem o mundo. Dessa forma, ao propor
novas possibilidades educativas brincar as brincadeiras cantadas, jogar com elas permite
além da função pedagógica, despertar sentidos diferentes, além de relações interpessoais de
amizade. Para Benjamim (1984, p. 74-75), “a essência do brincar não é um fazer como se,
mas um fazer sempre novo". Sendo assim, o brincar está a serviço do aprendizado e das
relações sociais que fazem parte da cultura de todas as sociedades.
Por meio de atividades lúdicas, ressaltam os estudos científicos, inúmeras
aprendizagens se realizam, porém, embora haja um discurso favorável às atividades lúdicas,
as mesmas parecem não estar sendo inseridas nas escolas de forma adequada.
Essa realidade, infelizmente, está presente em muitas escolas brasileiras, nas quais
jogos e brincadeiras não fazem parte do cotidiano escolar de forma planejada e organizada,
de modo que venham a constituir um recurso pedagógico, muito embora o discurso de
professores quanto a sua utilização indique o contrário. No caso das brincadeiras cantadas
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ainda é mais restrito seu uso no universo da Educação Infantil, de forma sistematizada e
estruturada como recurso à prática pedagógica.
Conforme discutimos anteriormente, quando vivenciadas pelas crianças, as
brincadeiras cantadas proporcionam experiências de grande importância tanto social, quanto
pedagógica, pois trabalham a expressão corporal e comunicativa, bem como a socialização e
o intelecto, sendo um caminho rico e lúdico, no qual, o professor pode se apropriar, por meio
de músicas, frases, palavras ou sílabas ritmadas, integradas à cultura popular.
Segundo Lara et al (2005, p. 01) as brincadeiras cantadas podem contribuir com
grande intensidade no universo infantil, quando o professor “leva em consideração a criança
em suas condições sociais, capacidades de movimento, autonomia e produção cultural”, Ou
seja, além de desenvolver as capacidades de expressão corporal e vocal, contribuem “para a
compreensão da multiplicidade cultural do universo lúdico infantil, bem como para a
valorização do brincar no processo educativo [...]” (LARA ET AL, 2005, p.02).
Por fim, sem esgotar a problemática que envolve o brincar, acreditamos que ele tem
grande potencial pedagógico, quando permitido à criança, expressar suas angústias,
desenvolver a autonomia, etc. Nesse processo do brincar, os professores precisam se
reconhecer como produtores de conhecimento, criando condições efetivas, no interior da
escola, para o debate e promoção de espaços de construção coletiva do saber, apropriando-se
não só de conteúdos, mas valorizando o brincar, as brincadeiras cantadas, principalmente, a
criança como ser histórico cultural e social.
Resultados e discussão
Ao estabelecer como problema de pesquisa qual a importância das brincadeiras
cantadas como espaço de reflexão da prática formativa do professor, notamos que no
universo do brincar, as brincadeiras cantadas são uma de suas muitas possibilidades.
Refletindo sobre essas afirmações, percebemos um outro ângulo que aflora em nossa
sociedade ofuscando a ludicidade, o brincar. A “falta de tempo das famílias modernas”, bem
como, o descomprometimento de alguns professores, que vêem as brincadeiras como
irrelevantes ao processo de aprendizagem, no qual focam/priorizam o conteúdo no processo
de ensino, deixando de lado o desenvolvimento corporal, oral, entre outros, que o brincar e
em especial as brincadeiras cantadas oportunizam.
Assim percebemos a criança cada vez mais precoce, se envolvendo prematuramente
com o mundo das obrigações cotidianas (trabalho) e/ou escolares que envolvem uma
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desvalorização do brincar tanto no processo educativo quanto nas múltiplas implicações à
vivência do lúdico. Marcellino (1997) afirma que esse processo se dá porque a infância é
considerada como uma aprendizagem necessária à idade adulta.
Outro hábito que tem roubado o tempo de diversão das crianças é a preocupação
excessiva dos pais com o futuro profissional de seus filhos. O tempo livre delas agora é
ocupado com cursos de línguas, balé, esportes, computação, entre outros. Com isso, as
brincadeiras, os jogos, etc., tendem a ficar restritos ao período em que as crianças estão na
escola. Não se trata de julgar aqui a importância destas atividades para o desenvolvimento da
criança, mas devemos “dosá-las” para que as mesmas frustrem o processo criador, para que
não impeçam a expressão da infância.
Evidentemente, não dá para querer voltar ao passado, quando a família dispunha de
tempo e disposição para passar horas e horas ao redor de um tabuleiro de quebra-cabeças,
entre outros. Vivemos a era tecnológica. A vida ficou mais corrida e os pais e filhos já não
se reúnem tanto, porém, nada disso, deve se interpor ao brincar. Refletindo sobre esse
processo (trabalho e excesso de atividades), percebemos que uns dos motivos da ocorrência
do “furto do lúdico” na infância, como alerta Marcellino (1996, p. 37), “talvez seja o fato de
considerar a criança como um adulto em miniatura, cuja finalidade única seria a sua
preparação para o futuro”.
Nesse contexto, Freire (1989, p. 13), destaca que "negar a cultura infantil, é no
mínimo, uma cegueira”, ou seja, é fechar os olhos para o mundo particular que a criança
vive, negando a importância do brincar, do faz-de-conta, das brincadeiras cantadas, entre
outros, no seu processo de desenvolvimento. Assim, torna-se necessário, tanto aos
educadores quanto aos pais, entender a criança como produtora de cultura, oportunizando a
ela tempo e espaço necessários para essa produção, assegurando-lhe o direito de brincar,
possibilitando diversificadas vivências e contribuindo para sua formação como ser humano
participante da sociedade em que vive.
Ao discutirmos as contribuições das brincadeiras cantadas para o desenvolvimento
infantil, encontramos em Lara et al (2005, p. 07) que as brincadeiras cantadas “são
visualizadas em sua construção cultural, em suas possibilidades rítmico-expressivas e
contribuição educacional, por entendermos que se trata de uma manifestação da cultura de
movimento humano que traduz sutilezas, peculiaridades e riquezas do universo infantil”. Ou
seja, as brincadeiras cantadas são entendidas como formas lúdicas de brincar com o corpo a
partir da relação estabelecida entre movimento corporal e expressão vocal.
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Muitas brincadeiras cantadas podem ser caracterizadas como formas de expressão do
corpo que integram o folclore, especialmente o infantil, sendo representadas pela associação
de musicalidade e movimento. Exemplos clássicos povoam nosso imaginário e nos remetem
à criança em nós: Ciranda-cirandinha, O cravo brigou com a Rosa, Escravos de Jó, são
algumas cantigas que, associadas às formas diferenciadas do movimentar-se, caracterizam-se
como brincadeiras cantadas de importante contribuição educacional.
Embora cada realidade/educador requeira uma práxis própria, Lara et al (2005, p. 23)
identifica e nos apresenta alguns aspectos que podem direcionar as atividades do educador,
no trato com as brincadeiras cantadas, como por exemplo: despertar o interesse dos alunos
pelas manifestações culturais; entender as brincadeiras cantadas como meio de educação,
ludicidade, desenvolvimento rítmico, musical e gestual de contribuição ao mundo de
movimento dos indivíduos; visualizar as brincadeiras cantadas como fonte de pesquisa e
conhecimento; entre outras.
Apresentam também, por meio das brincadeiras cantadas, outras contribuições que
podem ser identificadas, como por exemplo, no processo da escrita. O professor pode utilizar
de diferentes recursos pedagógicos como: contextualizar as brincadeiras (dependendo da
faixa etária) quando possível (época em que foram criadas, formas diferenciadas de
realização e transformações observadas); ensinar a melodia; incentivar a criatividade na
construção de paródias; trabalhar a construção da gestualidade de forma coletiva (professor e
aluno) que tenham relação com a letra (forma de dramatização) ou que apresentem um
gestual diferente do que a letra solicita; incentivar a pesquisa sobre brincadeiras cantadas já
realizadas por pais e avós das crianças, entre outras proposições igualmente relevantes.
Nesse universo das brincadeiras cantadas, existem materiais como dvd, cd, livros,
video-cassete, que retratam as cantigas de roda, parlendas, trava-línguas, advinhas, acalantos,
contos, entre outros. Os professores podem recorrer a recursos bem populares como as
Parlendas, muito usadas em rimas infantis, em versos curtos, com a função de divertir,
ajudar na memorização, compor uma brincadeira, como por exemplo: “Uni, duni, tê, Salamê,
minguê. O sorvete é colorê, O escolhido foi você!”
Também, um outro recurso muito interessante são os Trava-Línguas, uma espécie de
jogo verbal que consiste em dizer, com clareza e rapidez, versos ou frases com grande
concentração de sílabas difíceis de pronunciar, ou de sílabas formadas com os mesmos sons,
mas em ordem diferente, sendo uma modalidade de parlenda. Além de aperfeiçoarem a
pronúncia, servem para divertir e provocar disputa entre amigos. São embaraçosos e
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engraçados, como por exemplo: "Três tigres tristes para três pratos de trigo. Três pratos de
trigo para três tigres tristes”.
Como apresentado, são vários os meios de proporcionar o brincar para a criança. Ao
procuramos refletir sobre possibilidades de tratar as brincadeiras cantadas como
conhecimento educacional, sem esquecer as problemáticas que envolvem o brincar na
contemporaneidade, acreditamos ser possível vislumbrar caminhos possíveis de serem
percorridos no trabalho docente para o trato com esta forma de conhecimento, além de
perceber a inegável contribuição das brincadeiras cantadas ao mundo de movimento das
crianças.
Dessa forma, o trabalho com brincadeiras cantadas, seja nas aulas de Educação Física
ou em qualquer espaço de ação pedagógica, requer do profissional a disposição de participar
da multiplicidade cultural do universo lúdico da criança. Acreditando na criança como ser
lúdico, a brincadeira cantada valoriza o brincar como essencial no desenvolvimento, pois
pelas brincadeiras acontecem as adaptações, os acertos e erros, as soluções de problemas que
vão torná-lo sujeito autônomo.
Podemos dizer que nas brincadeiras cantadas as crianças podem ultrapassar a
realidade. Por meio do brincar exploram e refletem sobre a realidade, a cultura na qual
vivem, incorporando e, ao mesmo tempo, questionando regras e papéis sociais.
É de fundamental importância que as escolas e os professores criem espaços
necessários, que “olhem” e/ou “adotem” as brincadeiras cantadas como um recurso
pedagógico de grande potencial que podem ser expressos também, por meio dos jogos, do
teatro, estimulando a imitação, a imaginação, os movimentos corporais, etc. Uma criança
com possibilidades lúdicas variadas poderá ter mais criatividade, melhor desenvoltura em
relacionamentos e capacidade crítica e de opinião.
Considerações Finais
Considerar a brincadeira cantada como espaço de reflexão da prática formativa do
professor implica em entender que ela não se limita ao domínio dos conhecimentos
populares, mas envolve uma riqueza pedagógica de grande importância no desenvolvimento
infantil.
Além do compromisso do professor com a temática, outros fatores permeiam a
aplicação das brincadeiras, como por exemplo, alguns questionamentos em relação aos
cursos de formação desses profissionais: As brincadeiras cantadas, o universo do brincar, de
modo geral, são enfatizadas nos cursos de formação? Os futuros profissionais conhecem e/ou
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compreendem a importância do brincar, das brincadeiras cantadas, dos jogos, etc., como
recursos pedagógicos de grande potencial educativo? Por esses, entre outros fatores que
envolvem a docência, o processo torna-se complexo. Assim, uma das formas de minimizá-lo
é compreender a criança como sujeito histórico cultural e as contribuições que o brincar e
especificamente, as brincadeiras cantadas, colaboram nas práticas educativas que visam o
desenvolvimento global da criança.
De acordo com Silva (2002, p. 57):
A escola, na figura do professor, precisa compreender o aluno e seu universo sóciocultural. Conhecer esse universo é de grande eficácia para o trabalho do professor
que atua no plano universal, cultural e pessoal, já que existem, para a espécie
humana, processos mentais próprios, mas que podem variar de acordo com as
culturas nacionais, regionais, e até em momentos históricos específicos.
Sensibilizar sobre a importância das brincadeiras cantadas no universo do brincar, é
um dos espaços de reflexão da prática pedagógica que enfatize a confiança, o respeito ao
outro, a cultura popular, entre outros.
A literatura especializada indica que há um longo caminho a ser percorrido para que a
escola seja um instrumento de afirmação da importância das atividades lúdicas no
desenvolvimento da criança. Deste modo, precisamos propiciar por meio das brincadeiras,
seja na Educação Física e/ou outras áreas, possibilidades de reafirmar a criança como sujeito
histórico cultural e como agente de transformação social. Para isso, a formação profissional
exige um aprofundamento e uma reflexão por parte dos profissionais da educação.
Pedagogicamente, o universo do brincar fornece imagens para a criança, auxiliando-a
a lidar com suas inseguranças e incertezas com as quais irá se deparar no percurso de sua
própria vida. Também proporciona à criança, através das brincadeiras o simbolismo que está
presente e implícito nas tramas que as mesmas criam e recriam, por meio dos personagens que
agem em seu inconsciente, ajudando-a resolver os conflitos interiores normais nessa fase da
vida.
Sendo assim, é preciso que os professores se reconheçam como produtores de
conhecimento e que “enxerguem” a criança não como um adulto em miniatura com cabeças
funcionando racionalmente como as suas. É preciso desmistificar a idéia de que a maturidade
das crianças depende do ensinamento lógico, na contramão da lógica do desenvolvimento
infantil, enfatizado pela maioria das escolas que “repassam” os conteúdos pedagógicos
desprovidos de maiores significados para a vida.
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Ou seja, é preciso rever as atividades propostas às crianças em alguns momentos da
atividade escolar, quando não as envolvem, não são significativas, ou até mesmo quando as
obrigam a realizar atividades desvinculadas do caráter pedagógico, não a permitindo vivenciar
experiências fundamentais para seu desenvolvimento.
Pelo analisado afirmamos que as brincadeiras cantadas transmitem saberes, valores
sociais e, ao mesmo tempo distraem por seu poder transformador pois ao mesmo tempo
divertem e ensinam.. As brincadeiras cantadas possibilitam a construção do ser imaginário
que desperta a razão e consequentemente a criticidade perante situações de confronto
vivenciadas por elas em seu cotidiano.
Nesse contexto emergem várias atividades as quais devem ser apropriadas pelos
professores pois estão diretamente associadas a diferentes momentos do processo de
desenvolvimento da criança. Portanto, as brincadeiras cantadas proporcionam às crianças
ultrapassarem a simples retenção de informações na memória, desenvolver habilidades
reflexivas e criativas, que permitem prepará-las para a aquisição sistemática educacional, em
diferentes dimensões, como a técnica, a científica, a política e a social, construindo e
reconstruindo-se como um ser humano social e ativo.
Deste modo, o brincar, em especial as brincadeiras cantadas, ajudam a desenvolver as
diferentes formas de raciocínio, possibilitando por meio das simulações, vivenciar possíveis
conflitos e soluções. As reflexões sobre este significativo recurso do universo infantil não se
encerram aqui, mas suscitam outros estudos que enfatizem as situações de interação lúdica
como meios para que o desenvolvimento e a aprendizagem sejam desencadeados.
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MARCELLINO, Nelson Carvalho. Estudos do lazer: uma introdução. Campinas: Autores
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MOYLES, Janet R. et al. A excelência do brincar. Porto Alegre: Artmed, 2006.
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OLIVEIRA, F. N. de, Um estudo das interdependências cognitivas e sociais em
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TELES, M. L. S. Socorro! É proibido brincar. Petrópolis: Vozes, 1997.
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