O trabalho com valores na Educação Infantil por meio do universo lúdico Caroline Petit de Aragão Prefeitura Municipal de Bauru / SP [email protected] Comunicação Oral Pesquisa Concluída Resumo Expandido O presente estudo é resultado do trabalho de conclusão do curso de Especialização em “Ética, Valores e Cidadania na Escola”, oferecido pela Universidade de São Paulo/Universidade Virtual do Estado de São Paulo (USP/UNIVESP), realizado no ano de 2013. Deste modo, este trabalho retrata a questão dos valores na Educação Infantil através do contexto dos jogos e das brincadeiras, e a sua relevância na construção da identidade e da cidadania no espaço escolar. O caráter lúdico constitui um aspecto fundamental na infância, pois permite a interação e o compartilhamento das vivências adquiridas em diversos espaços sociais. Nesse sentido, estudos, como o realizado por Branco, Maciel e Queiroz, (2006) apontam que é por meio da ludicidade que ocorre a apropriação efetiva da cultura, devido à multiplicidade de elementos presentes nos grupos sociais, como as tradições culturais e valores inseridos em cada vivência. O estudo em questão aponta que a criança emprega a sua imaginação para configurar o seu universo lúdico, representando os diversos papeis existentes na sociedade. Tal representação ocorre conforme as suas necessidades pessoais, vivenciando regras e recriando diversas situações presentes na sociedade. Deste modo, todos os simbolismos inseridos nos jogos e nas brincadeiras são essenciais para a percepção do mundo, assim como a acepção que a criança possui dos outros e de si mesma, aprimorando seu potencial inventivo e edificando a sua identidade. É importante destacar que a apropriação da percepção de mundo é um processo que envolve um conjunto de interações sociais, partindo das representações culturais do universo adulto para as produções culturais geradas pela própria criança. Ou seja, a criança utiliza o aspecto lúdico para construir conceitos particulares, que são utilizados em diversas situações. Sarmento (2005) 1 compartilha desta acepção ao defender os recursos específicos que a criança utiliza para compreender o mundo ao seu redor e a sua capacidade para observar os outros e a si próprio, com todas as suas particularidades. Conforme os aspectos teóricos, devemos considerar que umas das principais características da criança no período da Educação Infantil são os jogos e as brincadeiras. Ao participar da rotina escolar e se relacionar com todos os sujeitos presentes nesse espaço, a criança expressa as suas percepções advindas dos diversos contextos sociais. Os valores também estão inseridos nessas representações e são evidenciadas nas interações com os indivíduos. Araújo (2003) retrata que a aquisição os valores está relacionada a projeções de aspectos positivos sobre pessoas, objetos e relações, sendo vivenciada desde o nascimento e ampliada por meio das relações sociais. Considerando tais aspectos, o presente trabalho verificou a apropriação dos valores na Educação Infantil através do contexto lúdico, analisando as acepções das educadoras. Para a efetivação do estudo, apresentamos como problema de pesquisa: “Qual o papel dos jogos e brincadeiras no processo de ensino e aprendizagem na percepção dos professores de uma Escola Municipal de Educação Infantil?”. A partir do problema apresentado, partimos da seguinte hipótese inicial: há o reconhecimento sobre a relevância da formação dos valores na Educação Infantil. No entanto, é necessário adotar práticas efetivas que visam privilegiar uma formação cidadã também nos momentos lúdicos, onde ocorrem as interações e troca de vivências entre os educandos. Para compreender tal questionamento, utilizamos o aporte teórico com os estudos referentes ao tema, assim como o referencial metodológico baseado na pesquisa qualitativa. Conforme Tozoni-Reis (2007, p. 10), “a pesquisa qualitativa defende a idéia de que, na produção de conhecimentos sobre os fenômenos humanos e sociais, interessa muito mais compreender e interpretar seus conteúdos que descrevê-los”. Trata-se, portanto, de uma abordagem que privilegia os aspectos pertencentes ao campo social, através das concepções dos sujeitos envolvidos e a reflexão sobre as suas práticas pedagógicas. O trabalho desenvolveu uma pesquisa de campo e foi adotado como instrumento para a coleta de dados a aplicação do questionário, proporcionando a compreensão efetiva sobre o tema. Deste modo, optamos como universo da 2 pesquisa uma Escola de Educação Infantil da Rede Municipal da cidade de Bauru, localizada no interior do Estado de São Paulo e optamos como protagonistas os professores da referida Unidade Escolar. Após a aplicabilidade do questionário, houve a análise dos dados e a interpretação das aproximações e particularidades sobre as percepções das educadoras. Através da análise, constatamos inicialmente que todas as professoras consideram a ludicidade uma atividade importante no âmbito escolar, pois a criança vivencia esse momento específico e adquire novas competências de forma coletiva, compartilhando a sua vivência com os colegas. As educadoras também destacaram a questão da aprendizagem através do contexto dos jogos e brincadeiras e o desenvolvimento implícito na aquisição de habilidades, conceitos e condutas. Sobre os saberes que podem ser utilizados por meio dos jogos e brincadeiras, as professoras relataram uma diversidade de aspectos. Conforme os relatos há a possibilidade do trabalho com os conteúdos formais, regras, valores, relações entre os indivíduos, sentimentos e a utilização das representações de papeis e dramatizações. As educadoras também retratam o constante planejamento das atividades lúdicas. Neste sentido, o entendimento sobre a questão do brincar na Educação Infantil e a sua efetivação na elaboração das atividades lúdicas. Evidentemente, tais práticas potencializam o processo de aprendizagem dos discentes, pelo fato dos conteúdos serem trabalhados de forma concreta. Contudo, ponderamos o uso do planejamento e da prática nessas atividades, evitando que o brincar esteja somente relacionado às práticas pedagógicas. É preciso, portanto, de práticas que privilegiem a espontaneidade da criança e o seu caráter ativo nesse processo. Sobre a forma como as a ludicidade é utilizada no espaço escolar, verificamos que a maioria das educadoras visualizam os jogos e brincadeiras como atividades próprias para a resolução de conflitos, a interação e a intervenção com intencionalidade, assim como o trabalho com conteúdos específicos. No que se refere ao trabalho com valores, verificamos que todas as docentes concordam com a sua efetivação na instituição escolar. Para isso, apontam que esse tema pode ser introduzido através dos jogos, brincadeiras, a representação de papeis sociais e a interação entre os alunos. Para isto, exemplificam o uso de algumas temáticas 3 comuns ao grupo, como o respeito, a boa convivência, a divisão de objetos e tarefas. Portanto, verificamos uma riqueza de elementos lúdicos presentes no cotidiano desta Unidade Escolar e a preocupação das educadoras com o trabalho pedagógico e com a transmissão de saberes. No entanto, a questão dos valores não foi totalmente explicitada nessas práticas. Deste modo, observamos que essas atividades podem ser ampliadas através da incorporação no currículo escolar e na formulação de novas práticas na escola. Através dos relatos apontamos, concluímos que há a plena consciência sobre o trabalho com valores no universo escolar através dos jogos e das brincadeiras e algumas iniciativas que contemplem a temática. Entretanto, é preciso trabalhar efetivamente com essa questão através do redirecionamento das práticas docentes, com a reflexão e elaboração de um currículo que propicie a formação de valores e, progressivamente, uma formação crítica e cidadã. Palavras-chave: Ludicidade; Educação Infantil; Valores. Referências: ARAÚJO, U. F. A dimensão afetiva da psique humana e a educação em valores. In: ARANTES, V. A. (Org.). Afetividade na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 2003. p. 153-170. QUEIROZ, N. L. N.; MACIEL, D. A.; BRANCO, A. U. Brincadeira e desenvolvimento infantil: um olhar sociocultural construtivista. 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