VITAMINAS
“História, descoberta e estudo”
No início do séc. XVIII já eram conhecidos os efeitos e o próprio escorbuto na
vida dos marinheiros de longas viagens. Nesta altura o escorbuto já era combatido com
frutos, porém, o limão era o que tinha mais destaque como anti-escorbútico. A
reprodução desta doença em cobaias foi efectuada por Holst e Fröhlich onde se concluiu
que o factor anti-escorbútico é incapaz de evitar o beribéri. Portanto, este factor
mostrava-se nitidamente distinto do factor anti-beribérico. Ao princípio activo
hidrossolúvel anti-escorbútico foi chamado vitamina C.
Em 1848 Bennet empregou óleo de fígado de bacalhau como anti raquitismo,
chegando-se à conclusão de que este conteria o chamado factor A do qual se concluiu
ter um efeito anti-raquítico e ser capaz de combater a xeroftalmia (doença ocular).
Por volta de 1880 em Basileia no laboratório de Bunge provou-se ser
insuficiente a ingestão de proteínas, hidratos de carbono e gorduras para a reprodução e
sustentação da vida normal em animais (ratos).
Em 1884 relativamente paralelo ao acontecimento no laboratório de Bunge em
Basileia já Japoneses tinham observado que nos seus navios o beribéri desaparecia
quando estes adicionaram à alimentação dos marinheiros cevada ou quando se substituía
o arroz branco por arroz mal descorticado (aquele a que chamamos hoje de arroz
integral).
Em 1896 Eijkam, médico holandês elaborou na ilha de Java experiências que
conduziram ao conhecimento das substâncias a que chamamos hoje de vitaminas.
Observou este homem que as aves de cativeiro de um estabelecimento prisional
adoeciam com sintomas parecidos com os da beribéri humana (comum no extremooriente) devido a serem alimentadas com restos de comida compostos essencialmente de
arroz. Brilhantemente Eijkam verificou que o farelo obtido no descasque deste cereal
evitava as aves de adoecerem e recuperava as já doentes. Assim se verificou que o
branqueamento do arroz o privava de um princípio anti-tóxico que existia apenas no
farelo.
Em 1909 Stepp elaborou uma experiência com ratazanas, alimentado-as com
uma mistura de álcool e éter que resultava num mau desenvolvimento dos animais
originando a própria morte destes. Porém, quando a essa solução era adicionado um
pouco de gema de ovos, os animais deixavam de ter qualquer problema. Chegando
assim à conclusão de que o ovo continha substâncias solúveis nos dissolventes
orgânicos, como as gorduras e insolúveis na água, exactamente o contrário do princípio
observado nas observações de Eijkman.
Em 1910 Shiga com as suas experiências mostrou que a película de arroz curava
não só a polinefrite das aves, como também o beribéri humano identificando e
demonstrando assim as duas doenças.
Aproximadamente nos anos 1911/1912 procede-se a estudos de isolamento e
identificação da substância anti-beriberica existente na película do arroz, convencendose de que se tratava dum composto químico da classe das aminas indispensáveis à vida,
levando-o a baptizar com a junção das duas palavras latinas vita e amina o fruto desta
junção, a palavra vitamina. Eijkman havia estudado os efeitos dessa substância, porém,
Funk baptizara-a.
Funk em 1912 afirmava que o beribéri, o escorbuto, a pelagra e o raquitismo
eram atribuídos a defeitos alimentares, afirmação esta mais tarde reforçada por vários
autores da altura que defendiam a pelagra como exclusiva de uma carência resultante de
uma pobre alimentação à base de milho.
Além do Beribéri, haviam outras doenças tais como o raquitismo e o escorbuto.
Hopkins influenciou a atenção dos investigadores devido a estas doenças afirmando a
existência de mais de uma vitamina com o nome de factores acessórios da nutrição.
Mellanby em 1918 conseguiu reproduzir em ratazanas o raquitismo experimental
e posteriormente Mc. Collum e Davis mostraram que esses animais precisam para o seu
crescimento de dois factores existentes no leite, e na sua distinção caracterizaram um
por factor A que é extraído da fracção gorda do leite e outro factor hidrossolúvel B que
fica na fracção aquosa.
Em 1920 Emmet observou a levedura de cerveja chegando à conclusão de que
esta submetida ao calor perdia a sua actividade antiberiberica, mas não deixava de
assegurar o crescimento normal dos ratos (ratazanas). Essa propriedade convertida após
o calor (termo-estável) combatia a pelagra. Assim dividiu-se o Factor B em vitamina B1
(termo-lábil ? antiberiberica) e vitamina B2 (termo estável ? factor PP). Mostrou-se
assim que o factor preventivo da pelagra é a amida nicotínica e que existiam mais
princípios B, de B3-B7.
Mc Collum em 1922 elaborou uma experiência em que mostrou que o óleo de
fígado de bacalhau, submetido durante 12 a 20 horas à temperatura de 100ºc, sob uma
corrente de ar, perde a sua qualidade de anti-raquítica, mas mantém o poder antixeroftálmico. Assim desdobrou-se o factor A em 2 princípios activos: Vitamina A (antixeroftálmica) e vitamina D (anti-raquítica). Também neste ano Evans e Bishop
mostraram que no óleo de gérmen de trigo encontra-se um factor de nome vitamina E,
que em carência nas ratazanas provoca o aborto.
Durante anos a acção fisiológica e a constituição química destas 5 vitaminas
eram conhecidas. Alguns anos mais tarde estabeleceu-se as fórmulas estruturais,
procurou-se conhecer o modo de actividade destas vitaminas e reconheceu a existência
de mais princípios activos (vitaminas).
Goldberger em 1924 havia mostrado que a levedura de cerveja e a carne fresca
continham algo a que foi dado o nome de factor PP (vitamina) que curava a pelagra.
Voltando um pouco atrás para compreender uma nova fase neste progresso
histórico. Wildiers (1901) deu o nome de “bios” ao Princípio Activo necessário ao
desenvolvimento das leveduras que se encontra nos sucos das plantas. Em 1923 chegouse à conclusão de que “bios” era constituído por vários factores dos quais se encontra o
ácido pantoténico e a meso-inosite.
O interesse nesta temática aumentava de ano para ano e após a descoberta dos
micróbios e a sua importância como causa de doenças graves, havia ressuscitado a
tendência para simplificar e purificar os alimentos, mostrando-se que o estudo das
vitaminas não está na direcção mais correcta.
A ideia primordial de os alimentos serem considerados somente como
fornecedores de energia estava condenada, originando-se uma reformulação na
alimentação mundial balanceando-se a importância conjunta quantitativa e qualitativa
dos alimentos.
Nesta maratona pela auto-estrada do caminho certo descobriu-se entre as
substâncias contidas nos alimentos essenciais os minerais (potássio, sódio, cálcio,
magnésio, fósforo, etc) contida na história dos carneiros australianos que tinham uma
doença misteriosa e mortal que foi resolvida com a pequena dose diária de 1mg de
cobalto.
As matérias orgânicas indispensáveis não paravam de crescer, tínhamos agora as
proteínas, as gorduras e os hidratos de carbono. Que compõem-se em ácidos orgânicos
que actualmente são e dão origem aos aminoácidos indispensáveis na alimentação
humana são: histidina, lisina, triptofana, fenilalanina, leucina, isoleucina, treonina,
valina e metionina.
Hoje em dia o termo vitamina de nada tem a ver com a constituição química, ou
com a função fisiológica, mas estes princípios activos ganharam a simpatia popular que
as continuou a chamar de vitaminas. Vitamina actualmente quer dizer: “substância(s)
orgânica(s) que os organismos não utilizam como matéria plástica ou termogénica, mas
de que carecem indispensavelmente para a vida normal, embora em muito pequenas
quantidades e que têm de receber com os alimentos por não saberem fabricá-las.”
Actualmente o emprego destas continua a ser doseado biologicamente em
preparações, submetendo-se animais desvitaminados a este tipo de experiências de
forma a sabermos as dosagens necessárias para fins preventivos e terapêuticos no caso
de carências.
André Martins
11/03/2001
BIBLIOGRAFIA:
MIRA, M. Ferreira de – Vitaminas. 1ª Edição, Edições Cosmos: Lisboa, 1943.
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