Resumo Gerenciar os diversos conflitos relacionados aos recursos hídricos em uma determinada região exige uma abordagem participativa. O comitê de bacia hidrográfica, como prevê a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei n o 9433/97) é o órgão que congrega os diversos atores em torno das discussões que buscam garantir água em quantidade e qualidade adequada para todos os usos da água na bacia. É necessário que um grande número de colaboradores de diferentes instituições contribua para o processo. Gestão colaborativa envolve a articulação de diversas instituições por um longo tempo para encontrar soluções políticas sustentáveis para os problemas de seu contexto. Esses esforços precisam ser alinhados, com uma direção comum, que promova a convergência dos diversos interesses, processo esse que tem como principal insumo o material humano, preparado tecnicamente e comprometido com ideais coletivos. Isso mostra que existem condições favoráveis para “cidadanizar” a política, conforme sugere JACOBI (2009, p.47), deslocando seu eixo do âmbito estatal para o cidadão. O objetivo deste trabalho foi analisar as potencialidades e as dificuldades de comitês de bacia no Brasil, no âmbito do Projeto Marca d’Água (2008). Para esta análise utilizou-se um modelo de gestão colaborativa com as seguintes etapas interrelacionadas: contexto, reconhecimento dos problemas, direcionamento, estruturação, comunidade cívica, legitimidade e resultados. A construção do processo colaborativo em bacias hidrográficas requer uma permanente circulação por essas etapas. Implica integrar novos colaboradores, redefinir metas, rever procedimentos, melhorar estruturas, gerar e avaliar resultados. É um processo de aprendizagem pública e contínua dos representantes e do organismo como um todo. A coleta de dados ocorreu durante a realização de oficinas de autoavaliação do Projeto Marca d’Água, em 2008. Os dados de cada comitê foram tratados em planilhas, por categorização, conforme modelo adotado de gestão colaborativa. Após, procedeu-se a análise dos dados para ver como os comitês incorporam a colaboração nos seus processos, destacando-se aspectos positivos e dificuldades enfrentadas. Percebeu-se que o modelo de gestão colaborativa auxilia a entender o funcionamento de um comitê, pois clarifica a dinâmica do processo interno, ao atribuir as características e informações levantadas àquelas etapas. Ajuda a situar o momento de cada comitê e apontar as dificuldades a ser superadas. No conjunto, o modelo se mostrou adequado para analisar o desenvolvimento dos comitês de bacia. A análise mostrou que o direcionamento é a etapa mais crítica do processo de gestão, ou seja, sem um rumo definido o comitê não consegue avançar. GRAY (1985) aponta a coincidência de valores e a dispersão de poder entre os colaboradores como condições que facilitam estabelecer o direcionamento. Os comitês que possuem um direcionamento mais claro têm tido bons resultados. Mas a estruturação é a etapa mais trabalhosa, mais difícil, é aquela em que são registradas mais fraquezas. Os comitês em geral não estão conseguindo se estruturar para atender as demandas existentes e para conduzir o processo colaborativo. A análise apresentada está longe de ser profunda, pois se baseou em dados pontuais, colhidos em determinado momento da vida dos comitês. Destaca-se, porém, que houve uma significativa participação qualitativa dos membros nas oficinas. Uma análise mais aprofundada necessitaria de mais levantamentos e estudos, como por exemplo, das políticas estaduais, as quais exercem forte influência na vida dos comitês. Seria interessante realizar outros acompanhamentos dos comitês para diagnosticar se houve mudanças significativas nos seus processos de gestão. Mas, sem dúvida, os resultados apresentados mostram que a implantação efetiva da gestão participativa de recursos hídricos requer políticas e ações específicas de apoio continuado para o desenvolvimento da gestão colaborativa dos comitês de bacia hidrográfica. Palavas-chaves: comitês de bacia; gestão colaborativa; recursos hídricos Referências Bibliográficas GRAY, Barbara. Conditions facilitating interorganizational collaboration. Humans, relations, 1985:38;911. http://hum.sagepub.com/cgi/content/ abstract/38/10/911 JACOBI, Pedro Roberto. Governança da água no Brasil. In: Wagner Costa Ribeiro. (Org.). Governança da água no Brasil - uma visão interdisciplinar. São Paulo: Annablume Editora, 2009, v. 1, 380 p. Projeto Marca d’Água: seguindo as mudanças na gestão as bacias hidrográficas do Brasil: caderno 2: comitês de bacia sob o olhar dos seus membros. Beate Frank (org.). Blumenau: FURB, 2008.