CIRCUITOMATOGROSSO
ESPECIAL PG 6
CUIABÁ, 12 A 19 DE OUTUBRO DE 2011
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DIA DAS CRIANÇAS
Como é importante jogar e brincar!
Brincadeiras e jogos da infância são fundamentais para formar o caráter do adulto. É o que confirmam músicas e a psicóloga,
Daniela Freire. Por Simone Alves. Fotos: Lucas Ninno
Menino de Poconé gosta de brincar com o estilingue,
mas já aprendeu que não pode matar pássaros
Pelada na rua é uma das recreações
preferidas da garotada; lama ou falta de
gramado não é barreira para a diversão
“Há um menino, há um
moleque, morando sempre
em meu coração, toda vez
que o adulto balança ele (o
moleque) vem pra me dar a
mão”. A música “Bola de
Meia, Bola de Gude”, de
Milton Nascimento e
Fernando Brant, é um
perfeito conjunto de sons e
palavras que evoca o
passado, nos levando a um
tempo pueril, quando as
brincadeiras e os primeiros
sentimentos de amizade, por
exemplo, nos envolvem de
tal maneira a auxiliar na
formação do nosso caráter.
Este é o tema desta
reportagem: o brincar,
direito assegurado na
Constituição Federal
brasileira, uma necessidade
para as crianças, pois é
fundamental para o seu
desenvolvimento psicomotor,
afetivo e cognitivo, sendo
uma ferramenta para a
construção do seu caráter.
Nesse sentido, muitas
são as teorias sobre o
brincar e todas elas são
unânimes em afirmar que a
recreação desenvolve na
criança a capacidade de
representar a realidade e
imaginar ao mesmo tempo
em que ativa processos de
diferenciação, ou seja, da
constituição da identidade.
A professora Daniela Freire,
psicóloga coordenadora do
Grupo de Pesquisa em
Psicologia da Infância da
Pós-Graduação em
Educação, da Universidade
Federal de Mato Grosso,
concorda com essa teoria.
Segundo ela, uma criança
brincando nos revela como
ela se coloca diante da
realidade concreta ou
imaginária, qual seu medo,
expectativas, como ela (a
criança) entende o mundo e
se entende no mundo. “A
brincadeira de faz-de-conta,
por exemplo, é considerada
por teóricos russos como a
mais completa entre todas as
brincadeiras, porque ativa
zonas de desenvolvimento
iminentes, indica
possibilidades de novas
formações psicológicas, pois
a criança assume
comportamentos que estão
além de seu desenvolvimento
atual”, destaca.
“Imaginemos uma
criança que ainda não
divide seus brinquedos com
os amigos e assume o papel
de professora ou mãe em
um faz-de-conta. Neste caso
será ela quem regulará a
distribuição de brinquedos
junto aos seus amigos
encarnados no papel de
alunos ou de filhos. Já o
brinquedo pode ser
compreendido como um
artefato cultural, cujo manejo
pela criança lhe ajuda a
entrar em contato com
significados sociais às vezes
repletos de ideologias”,
completa.
O que devemos pensar
sobre o comportamento dos
adultos ao comprar
brinquedos cor-de-rosa para
meninas e azul para
meninos? E sobre o fato de
os brinquedos com maior
tecnologia serem aqueles
destinados aos meninos? E
ainda de brinquedos que
não exigem nenhum esforço
imaginativo da criança
porque são absolutamente
prontos sendo o apertar de
um botão a única ação da
criança? É a própria
professora quem ajuda na
resposta. “Podemos pensar
que os brinquedos
funcionam como suporte
para o ato de brincar e
podem ser estruturados ou
não, representar objetos
reais ou imaginários. Neste
caso podemos pensar em
diferentes brincadeiras como
os jogos de construção blocos lógicos; a própria
brincadeira de faz-de-conta
- bonecas, vestuários e
acessórios em desuso pelos
adultos; e jogos tradicionais
– pipa, amarelinha, cinco
Marias”, exemplifica.
E se no meio destas
explicações há algum jogo
que lhe parece estranho,
caro leitor, experimente, mas
com toda vontade voltar ao
passado. Assim poderá ter
um belo encontro com pelo
menos uma peripécia ou
mesmo com um bicho ou
figura que, com imensa
alegria, conseguiu visualizar
numa nuvem num dia
qualquer.
Tirando o foco das
simples brincadeiras e
enfatizando os jogos
dotados de regras, esse leitor
adulto se lembrará dos jogos
educativos, ou seja, que
contam com um objetivo
diretamente associado à
aprendizagem de conteúdos.
“No caso de crianças até seis
anos penso que a
brincadeira livre e de faz-deconta são as expressões
lúdicas que devem ser
estimuladas e as mesmas
podem ocorrer por meio de
jogos dramáticos os quais a
criança encena ou maneja
bonecos criando cenários
com caixa de papelão e
retalhos de pano”, menciona
a professora.
Daniela Freire pondera
que a combinação criativa
entre brinquedos estruturados
e desestruturados é uma boa
experiência lúdica e que
deve ser acompanhada por
uma boa dose de
autorização dos pais para
que a criança organize suas
cenas de forma prazerosa e
espontânea dando outra
ordem ao espaço para
depois guardar tudo e
recomeçar logo adiante.
Especialista, Daniela
lembra que os jogos de
regras complexas são
estimulantes para crianças
maiores. “Estamos falando
não apenas de jogos de
tabuleiro, mas também de
jogos esportivos e games em
geral, porque não?”,
elucida.
Gostoso desafio...
Arcebispo Metropolitano de Cuiabá, Dom Milton
ainda mostra destreza com o pião de madeira
Por que não
regressar à infância?
Duas personalidades
mato-grossenses
aceitaram o prazeroso
desafio sem embaraços.
O arcebispo
metropolitano de
Cuiabá, Dom Milton
Santos, foi o primeiro
deles. Estava ocupado,
mas no momento em
que soube do tema,
imediatamente atendeu a
reportagem. Destacou o
quão agraciado foi ao
poder contar com a
participação de oito
irmãos durante suas
brincadeiras, as de um
tempo em que nem
imaginava ordenar-se
sacerdote. “Éramos seis
homens e três mulheres e, de
fato, as brincadeiras uniram
laços de forma tremenda.
Hoje muitos brinquedos e
jogos eletrônicos trabalham
o individual e esquecem a
importância da equipe”,
avalia. O salesiano não se
fez de rogado ao receber
um pião. Manipulou o
brinquedo com destreza e
nem se preocupou em fazer
pose para as lentes. “Pião,
caixa de fósforos, ir para o
quintal olhar as nuvens e
tentar reconhecer nelas
bichos... boas lembranças”,
diz com saudosismo o
arcebispo.
Nico, da dupla
“Nico e Lau”
(de chapéu),
nem conseguiu
definir qual era
a brincadeira
preferida entre
tantas
relembradas
O segundo
personagem convive com
as brincadeiras infantis
diariamente. É um
humorista, cuja maioria
de seus fãs é criança,
então ele não pode
dispensá-las. Lioniê
Vitório, o Nico da dupla
“Nico e Lau”, sempre
gostou de passar as férias
de um mês e três meses
na fazenda denominada
Tamanduá dos tios/avós,
localizada em Santo
Antonio do Leverger. “No
meio do Pantanal matogrossense as brincadeiras
eram as mais divertidas.
Como não tinha os
industrializados, usava
toda a criatividade”,
destacou Nico.
Montar a cavalo,
fazer do cocho de gado
uma canoa nos
alagados, nadar nas
estradas alagadas,
brincar com os animais
domésticos e criar
brincadeiras com frutas,
ossos, pedras, barro,
coquinhos e madeira,
eram algumas das
diversões que ele mais
gostava. “Brincava até de
finca-finca (risos). Hoje
isso pode ser entendido
como sacanagem, porém
era uma brincadeira de
jogar um raio de bicicleta
pontiagudo no barro
molhado após a chuva,
tentando fechar o
adversário”. Em meio a
tantas opções, ficou até
difícil identificar o
entretenimento preferido
dele. Mas há quem teve
dificuldades, ou melhor,
falta de tempo para
relembrar os divertimentos
da infância. O
governador Silval
Barbosa é um deles. Mas
deixa pra lá. Vamos ficar
nas boas lembranças, é
bem mais interessante e
divertido.
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