INTERNETÊS: UMA DENTRE AS POSSÍVEIS INFLUÊNCIAS NA ESCRITA
DA INTERNET SOBRE A ESCRITA DOS DISCENTES DO QUARTO CICLO
DO ENSINO FUNDAMENTAL EM TRÊS ESCOLAS (PÚBLICA E PRIVADAS)
DE CAMPOS DOS GOYTACAZES
LUANA MANHÃES TAVARES
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE
DARCY RIBEIRO – UENF
CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ
FEVEREIRO-2010
LUANA MANHÃES TAVARES
INTERNETÊS: UMA DENTRE AS POSSÍVEIS INFLUÊNCIAS NA ESCRITA
DA INTERNET SOBRE A ESCRITA DOS DISCENTES DO QUARTO CICLO
DO ENSINO FUNDAMENTAL EM TRÊS ESCOLAS (PÚBLICA E PRIVADAS)
DE CAMPOS DOS GOYTACAZES
Dissertação apresentada ao programa de PósGraduação
Stricto
Sensu
em
Cognição
e
Linguagem do Centro de Ciências do Homem da
Universidade
Estadual
do
Norte
Fluminense
“Darcy Ribeiro”- UENF, como parte das exigências
para obtenção de título de Mestre em Cognição e
Linguagem.
Orientador: Prof. Dr. Mário Galvão de Queirós
Filho
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ
2010
FICHA CATALOGRÁFICA
Preparada pela Biblioteca do CCH / UENF
011/2010
Tavares, Luana Manhães
Internetês : uma dentre as possíveis influências na escrita da internet
sobre a escrita dos discentes do quarto ciclo do ensino fundamental em
três escolas (pública e privadas) de Campos dos Goytacazes / Luana
Manhães Tavares -- Campos dos Goytacazes, RJ, 2010.
78 f. : il
Orientador: Mário Galvão de Queirós Filho
Dissertação (Mestrado em Cognição e Linguagem) – Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Centro de Ciências do
Homem, 2010
Bibliografia: f. 67 - 69
1. Internet. 2. Mídia – Influências Sociais. 3. Comunicação e
Cultura. 4. Escrita. 5. Linguagem. I. Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro. Centro de Ciências do Homem. II. Título.
CDD
–
303.4833
AGRADECIMENTOS
Institucionalmente: A todo o corpo docente que pôde ter contribuído de
alguma forma para meu crescimento pessoal. Sou intensamente grata,
também, por todas as palavras de incentivo dos meus professores em todos os
momentos difíceis dos quais percorri durante todo o mestrado.
Sem qualquer formalidade: Primeiramente a Deus, por me proporcionar a
oportunidade, a força e a sabedoria para iniciar e concluir mais uma etapa em
minha vida. Sou muito grata em especial ao meu orientador Mário Galvão, a
sua esposa Edissa Fragoso e a todos os professores que contribuíram para
que eu chegasse até aqui. Agradeço também aos meus pais, familiares e ao
meu noivo, os quais presenciaram grande parte da minha angústia, falta de
paciência e noites mal dormidas. Agradeço, enfim, a todos os que de alguma
forma puderam contribuir para cada página dessa pesquisa que concretiza um
dos grandes sonhos da minha trajetória nesta vida.
“Navegar é preciso”.
Fernando Pessoa
“A linguagem se renova quando se renovam os meios”.
Else Santos
“Os livros não mudam o mundo, quem muda o mundo
são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”.
Mário Quintana
SUMÁRIO
Resumo .......................................................................................................... 08
Abstract ............................................................................................................ 09
Introdução ..................................................................................................... 10
1 – Caracterização da Linguagem.................................................................. 11
2 - O Surgimento da Internet.................................................................
13
2.1 Internetês: conceito ...................................................................... 26
2.2 reflexões sobre “Internetês” .......................................................
27
3 - O uso da escrita na Escola ..................................................................
38
4 - Análise do “Internetês” na escola ...........................................................
48
Considerações Finais -................................................................................
64
Referências – ...........................................................................................
67
Apêndice - ................................................................................................
71
RESUMO
Pesquisa e reflexões, a partir de dados colhidos entre escolares do
ensino fundamental das redes pública e privada, acerca das possíveis
interferências da internet no linguajar dos internautas, oral e escrito.
O uso do “internetês” como problema cultural, sua definição e
características nas salas de bate-papo e influência na vida social e escolar.
Diversas opiniões acerca do uso do “internetês”.
Análise dos primeiros contatos da criança com a sociedade, com sua
vida escolar e consequentemente com a escrita. A influência da mídia na vida
das pessoas bem como seu poder de atração.
Análises dos resultados obtidos durante a pesquisa de campo. Busca
de uma possível resposta diante da interferência ou não do "internetês" na vida
dos discentes e, para além dela, sobre a língua portuguesa.
Palavras-chave: Internet. Internetês. Escrita do idioma. Língua Portuguesa.
ABSTRACT
Research and reflections based on data collected from elementary
students from public and private schools, about the possible influence of
Internet use on language, oral and written, of those students.
The use of the Internet typical lingo as a cultural problem, its definition
and characteristics on the chat rooms and also the influence it may causes in
student’s social life, as well as at school. Several reviews about the internet
lingo.
Analysis of the first child’s contact with society, with his life at school and,
therefore, with the writing. The influence of media on people’s lives and their
power of attraction.
Analysis of the results obtained during the field research. The Search for
a possible answer in face of the way how the internet lingo interferes in the lives
of students and, beyond that, on the Portuguese language.
Keywords: Computer,
language, Portuguese.
Internet,
Internet
lingo,
Writing
10
INTRODUÇÃO
A língua, em suas diversas formas e variantes é uma entidade viva, dinâmica,
usada pelo ser humano para se comunicar com seus semelhantes, trocar
informações, difundir idéias e conceitos.
A presente dissertação, cujo tema é: “Internetês: Uma dentre as possíveis
influências da escrita na Internet sobre a escrita dos discentes do quarto ciclo do
ensino fundamental em três escolas (pública e privadas) de Campos dos
Goytacazes” tem como propósito analisar algumas das possíveis influências que
essa nova modalidade de escrita pode ocasionar no ensino da Língua Portuguesa,
tendo como finalidade fazer um intercâmbio entre presente/passado, objetivando
mostrar os métodos contemporâneos, imersos em altas tecnologias (muitas vezes
utilizadas no ensino), como, por exemplo, o computador, que, presumivelmente,
pode auxiliar o processo educacional, uma vez que é mais uma ferramenta atual e
que está disponível no mercado.
Mediante a pesquisa teórica e os resultados obtidos na pesquisa de campo
propõe-se apresentar alguns pontos “positivos” e “negativos” do “internetês”, bem
como mostrar algumas das possíveis consequências do uso contínuo dessa forma
de linguagem na grafia dos alunos do ensino fundamental da rede pública, Liceu de
Humanidades de Campos (8º ano), e particulares de ensino, Anglo Santos Dumont
(8º ano) e Externato Campista (9º ano) na cidade de Campos dos Goytacazes.
Torna-se necessário esclarecer que a pesquisa de campo, realizou-se em
duas etapas. A primeira etapa foi realizada no ano de dois mil e sete com alunos do
oitavo ano das escolas já mencionadas anteriormente. Já a segunda etapa ocorreu
no ano de dois mil e oito com alunos do nono ano do ensino fundamental de uma
escola também já citada anteriormente.
O principal objetivo de não realizar-se toda a pesquisa de campo num mesmo
período deve-se ao fato de se pretender acompanhar os resultados relatados
durante a pesquisa paralelamente ao avanço das leituras e consequentemente,
experiência no assunto. Outro fator relevante foi a possibilidade de haver uma
possível mudança na escrita e nos costumes dos adolescentes internautas, que
ainda seriam entrevistados, de um ano para o outro, visto que o período de doze
meses pode enriquecer ou até mesmo deteriorar a escrita de alguém.
11
Capítulo 1
Caracterização da Linguagem
Segundo o esquema, de Willian James (2007), “A linguagem é um processo
mental de manifestação do pensamento e de natureza essencialmente consciente,
significativa e orientada para o contacto inter-pessoal”.
O termo linguagem tem sido tomado com várias acepções. Para
alguns, é a faculdade ou potência que tem o homem para entrar em
comunicação. Para outros, linguagem é sinônimo de fala.
Independente da classificação, a linguagem é um meio de expressão
das diferentes formas comunicativas. (TONDO, 1973, 31).
Através
do
processo
mental
de
manifestação
do
pensamento,
da
comunicação entre os homens, etc. o ser humano operacionaliza a sua capacidade
de se comunicar, expor suas idéias, pensamentos e emoções através do uso de
símbolos, através de uma linguagem. À medida que cada povo, cada grupo tem uma
linguagem própria, cada comunidade de falantes terá uma língua própria. Uma vez
que a língua demarca características territoriais e culturais de um povo, de uma
nação, não devemos pensar em língua melhor ou pior, língua superior ou inferior
num país onde a diversidade linguística é tão marcante.
Diante da diversidade de línguas existentes em todo o mundo, o uso da língua
poderá ser considerado certo ou errado, somente, de acordo com o período
avaliado. Exemplo da mudança histórica, segundo L.F.L Cintra,1972:
•
A forma de tratamento “Vossa Senhoria” é atestada nos meados do século
XV como expressão reservada ao rei. Já no final do século XVI, esta perde
seu estatuto de realeza, sendo empregada no trato com arcepisbos, bispos,
duques, marqueses, condes, além de uma gama de altos funcionários (como,
por exemplo, vice-rei ou governador das Índias).
Segundo Saussure (1989, p. 115), a língua é uma instituição pura e está
inserida na complexidade cultural das massas sociais e do tempo.
Portanto,
12
podemos dizer que a língua evolui de acordo com as necessidades e práticas de
comunicação entre os indivíduos e grupos sociais. Sendo viva e dinâmica ela estará
em constante evolução. Esta ocorre primeiramente na fala, para consequentemente
ser incorporada a escrita.
O domínio da linguagem verbal é uma das características essenciais e
distintivas entre o homem e os outros animais, propiciadora do desenvolvimento
sociocultural da humanidade. Sendo assim, todo ser humano provido de linguagem,
pode se comunicar através das mais variadas formas de linguagem: verbal, nãoverbal, gestual e etc.
Assim como não devemos confundir as várias formas de linguagem, não
devemos confundir as modalidades da língua, a oral e a escrita. A escrita representa
um estágio posterior de uma língua. Enquanto a língua falada é mais espontânea e é
acompanhada pelo tom de voz, algumas vezes, incluindo-se fisionomias, gestos, etc.
a língua escrita não é apenas a representação da língua falada, mas sim um sistema
mais disciplinado e rígido, uma vez que não conta com o jogo fisionômico, as
mímicas e o tom de voz do falante.
Diante
de
tamanha
riqueza,
de
tamanhas
descobertas,
inovações
tecnológicas, etc. a língua dificilmente sairia imune. Muitas palavras que existiam
somente na linguagem falada, já foram incorporadas a língua escrita. Mas as
mudanças não pararam. Com a chegada da internet, a linguagem utilizada pelos
usuários, dentro dos sites de relacionamento (via internet), também sofreu
alterações, uma vez que deixou de ser uma linguagem escrita, para ser uma fala
oralizada, ou seja, uma mistura da linguagem falada com a linguagem escrita. Esse
modismo, essa expressão grafolinguística, com características próprias e “febre’
entre milhares de adolescentes é conhecido como “internetês”.
13
Capítulo 2
O Surgimento da Internet
Atualmente a informática, sobretudo, a internet proporciona aos seus usuários
a troca de informações com rapidez e "segurança". Na sociedade globalizada, as
inovações tecnológicas evoluem a uma velocidade estonteante, de forma que,
acompanhar tais novidades, torna-se uma tarefa quase impossível.
As tecnologias se sucedem uma a uma e o novo de hoje é fruto de um
“amadurecimento”, de uma evolução que se desenvolve progressivamente.
Há um processo evolutivo das sociedades humanas e o avançado de
ontem é o ultrapassado de amanhã. Dessa forma, o modo de vida das
pessoas vai se modificando gradativamente. (SOUZA 2003, p. 51).
Portanto, não há como negar que o computador, internet etc., estão cada vez
mais presentes no nosso cotidiano. A simplificação que as novas tecnologias
oferecem a partir da chegada da internet tem provocado inúmeras mudanças em
nossa sociedade. Atualmente já não é mais necessário sair de casa para acessar a
conta bancária, para fazer compras, ler um jornal, etc. Com tantas transformações,
simultaneamente, a escrita também sofre alterações. É o fenômeno conhecido como
"internetês".
Segundo Souza (2003, p. 65) "A Internet é uma rede mundial de
computadores, ou seja, é uma rede que envolve milhares de outras redes", e
prossegue:
Uma rede de computadores é composta por um computador central
(servidor), e outros computadores (cada um sendo uma estação de
trabalho) que funcionam trocando mensagens entre si, através do servidor.
Quando se interligam dois servidores, têm-se os computadores de ambas
as redes trocando mensagens entre si, como se fosse uma única rede.
Pois bem, imaginemos milhares de redes, localizadas nos mais diversos
lugares do mundo, interligadas, através de seus servidores, de uma
maneira bem simples. Isso é Internet.
Esta proposta de comunicação surgiu como resultado da guerra fria
envolvendo Estados Unidos da América (USA) e União Soviética. Em 1957,
os EUA criaram a ARPA (Advanced Research Projects Agency), com a
missão de desenvolver e pesquisar alta tecnologia para as forças armadas.
O primeiro grande passo, rumo à Internet, surgiu com a publicação de Paul
Baran, em 1964, do tratado sobre redes de comutação de pacotes
14
intitulado "On Distributed Communication" (Tratado Sobre Comunicação
Distribuída)
A partir da chegada do computador, e mais precisamente da Internet,
milhares de serviços passaram a ser intermediados pelo uso do sistema virtual.
Atualmente a rede oferece uma infinidade de serviços como pesquisas, contatos,
compras e vendas os quais agilizam a vida da sociedade como um todo de forma
direta ou não.
Tyler (1995) apud Santos (2005) também discorre sobre o assunto e afirma
que: “A Internet, uma rede global amorfa de milhares de computadores interligados
que enviam e recebem informação - vem importando uma série de transformações
nos hábitos das pessoas”. Pensando nisso, podemos perceber que milhares de
pessoas usam de alguma forma, direta ou indiretamente, algum serviço oferecido
pela rede, embora a imensa maioria das pessoas nem mesmo se dê conta disso,
isto é, do fato de que, ao solicitar um saldo num caixa eletrônico ou fazer um
pagamento por cartão de crédito, a pessoa está utilizando teleprocessamento de
dados, ou seja, um recurso oferecido pela internet.
Apesar de tantas facilidades que as tecnologias oferecem, milhares de
pessoas apresentam resistência perante o desconhecido, em outras palavras,
resistem àquilo que lhes oferecem dificuldade. É o exemplo das salas de bate-papo
oferecidas pela rede, que utilizam a todo o momento um tipo de linguagem
(internetês), que ainda não é compreendida por todos. Assim, o "internetês" é uma
febre entre milhares de adolescentes, e um "terror" para os que não compreendem
essa nova modalidade de escrita e, consequentemente, para os professores.
“A informática superou os outros meios de comunicação, principalmente pela
velocidade com que as coisas se realizam. Neste universo, o básico é buscar e
saber usar a informação”. (SOUZA 2003, p. 53).
Não há como negar a presença cada vez mais constante do computador no
nosso dia-a-dia, a ponto de sua frequência ser quase obrigatória. Evidentemente
não podemos afirmar que atinge todos com a mesma intensidade e frequência,
porém observa-se que a informática avança impetuosamente numa velocidade,
comodidade e até mesmo facilidade jamais observadas em outras tecnologias
existentes anteriormente. Um dos grandes motivos da atração pela rede é a
facilidade de informações, contatos, compras e vendas. Basta apenas um toque
15
para alcançar milhares de coisas que se deseja. Toda essa facilidade/mobilidade é
fruto das novas tecnologias, que estão evoluindo cada vez mais. Até poucos anos
atrás as pesquisas escolares eram quase todas realizadas em bibliotecas. Hoje, um
bom número de alunos, por terem computadores e internet em suas casas, ou até
mesmo na escola, não se deslocam, até porque a rede oferece uma imensidade de
informações, livros on line, etc.
Opina Levy (1996):” A informática parece reencenar, em algumas décadas, o
destino da escrita: usada primeiro para cálculos, estatísticas, a gestão mais prosaica
dos homens e das coisas, tornou-se rapidamente uma mídia de comunicação de
massa (...)”
É a tecnologia cada vez mais presente na vida de milhares de pessoas. A
rede oferece diversos tipos de serviços, os quais algumas pessoas ainda
desconhecem. Esses serviços variam de uma simples pesquisa até a compra de
veículos, aparelhos, etc. É válido lembrar que mesmo diante de todos esses
recursos oferecidos pela rede, o computador, mais precisamente a internet, ainda
não é assimilado por todos. Estamos caminhando para isso.
Souza (op.cit.,p. 66) faz um estudo diacrônico sobre a Internet e afirma que:
Durante duas décadas, a Internet ficou restrita ao ambiente acadêmico e
científico, o que lhe dá características acadêmicas. A sua utilização para
fins comerciais foi liberada a partir de 1987, entretanto, popularizou-se
somente no início da década de 90. Começaram a surgir nos Estados
Unidos os primeiros provedores de acesso. Deste modo, centenas de
milhares de pessoas começaram a colocar informações na rede, tornandoa cada vez mais atraente, gerando a febre que hoje é a Internet.
Passados alguns anos, a Internet passou a popularizar-se devido ao advento
do micro computador pessoal. Ele sim foi um divisor de águas para que a Internet se
tornasse
essa
febre
que
é
atualmente.
Apesar
de
empresas,
bancos,
supermercados, lojas etc. utilizarem o computador, o número de máquinas pessoais
é possivelmente maior.
Depois da revolução dos PC (personal computer) nos anos 80 e 90, temos a
revolução dos laptops, ou notebooks, e hoje já estamos na era dos computadores de
mão e muitas funções de computação, inclusive internet, até mesmo edição de
textos e outras, é feita até mesmo nos próprios celulares. Tudo isso se tornou
possível pela expansão tecnológica que a Internet proporcionou. Atualmente temos
a internet “no ar”, (ou seja, internet sem fio conhecida como wireless), via rádio, linha
16
telefônica etc. Há uma imensa variedade de possibilidades para os mais diversos
tipos de usuários. Muitas pessoas deslocam-se para diversos centros, como praças
de alimentação em shopping centers, devido ao uso grátis da internet sem fio. Este é
um fenômeno tecnológico presente cada vez mais para um número maior de
pessoas.
A internet oferece dois tipos de comunicação: síncrona e assíncrona. A
primeira pode ser observada em chats (salas de bate-papo), onde a troca de
mensagens ocorre simultaneamente. Já a comunicação assíncrona pode ser
observada nos e-mails nos quais há intervalos até de dias entre o envio e o
recebimento das mensagens.
Mesmo com essa enorme acessibilidade que a rede vem oferecendo a
diversas pessoas, independentemente de etnias e culturas, há quem resista às
tecnologias. É válido ressaltar, porém, que qualquer pessoa é capaz de dominar
essa ferramenta (computador/ internet) e desfrutar de uma vida mais cômoda e até
mesmo descomplicada.
Os números da Internet, que já são gigantescos, crescem em proporções
geométricas. A Internet possui milhares de computadores interligados em
mais de 100 países. É impossível contabilizar o número correto de usuários
que a utilizam. A cada dia ingressam aproximadamente 150 mil novos
usuários, sem contar que muitos usuários possuem acesso através de
diversos provedores simultaneamente, utilizando, muito provavelmente,
identidades diferentes. (SOUZA, 2003, p. 66).
Esse é o fenômeno da Internet compartilhada. Compartilhada, porque atende
a diversas pessoas com apenas uma conexão. Isso normalmente ocorre entre
vizinhos ou até mesmo em pensões e vilas, nas quais as casas são bem próximas
umas das outras, possibilitando assim que um fio vá até outra casa para que haja
uma interconexão. Nesse caso, apenas uma pessoa se conecta, mas na verdade
várias estão usufruindo dos benefícios da rede. Portanto, não há como contabilizar
um número exato de usuários. Não podemos deixar de relatar que o custo de uma
assinatura mensal para uso da internet não é algo tão barato. Até porque não basta
ter apenas o computador para fazer uso dos serviços disponíveis na rede. Num país
com tantos problemas sociais, como o nosso, e onde milhares de famílias
sobrevivem apenas com um salário mínimo, a necessidade de possuir um
computador em cada residência ainda é um sonho muito distante.
17
Essas observações demonstram a maneira como a Internet foi ganhando
espaço na sociedade e no mundo. Se antes, a Internet era restrita a apenas um
grupo, hoje ela é disponível para todos, (ao menos potencialmente, posto que, as
"barreiras" e "impossibilidades" tecnológicas pelas simplificações referidas, tanto
pela agilização no nível da portabilidade dos computadores e dos modems, quanto
pelas reduções de custos), isto sem se levar em conta outros graves fatores que
determinam "exclusão econômica e social + exclusão digital".
Todavia, dados tais fatores, há ainda um enorme percurso a superar até que
de fato o binômio informática/ internet seja realmente acessível ao grande público:
temos os problemas econômicos, sociais e culturais, temos o chamado
"analfabetismo informático" e assim por diante, a constituírem elementos da
exclusão digital.
Diante de toda essa acessibilidade e facilidade que nos é oferecida,
atualmente, recordemos o surgimento do primeiro computador segundo Lévy (1998,
p. 101):
O primeiro computador, o Eniac dos anos 40, pesava várias toneladas.
Ocupava um andar inteiro em um grande prédio, e para programá-lo era
preciso conectar diretamente os circuitos, por intermédio de cabos, em um
painel inspirado nos padrões telefônicos. Nos anos cinqüenta, programavase os computadores transmitindo à máquina instruções em código binário
através de cartões e fitas perfuradas. Os cabos ainda existiam, mas
recolheram-se no interior da máquina, cobertos por uma nova pele de
programas e dispositivos de leitura.
Falemos agora de "Exclusão digital". O adjetivo "digital", aqui, refere-se a um
aspecto, ou, se assim se quiser, a uma modalidade do fenômeno histórico e cultural
da "exclusão", que pode ir desde os aspectos étnicos até os econômicos e políticos,
passando pela exclusão em relação à informação e ao conhecimento. Todo período
de obscurantismo vivido pelo Homem teve suas formas prediletas de exclusão. Em
"O nome da rosa", Umberto Eco trata do fenômeno hoje conhecido como
epistemicídeo, ou seja, a exclusão pela interdição do acesso à informação e,
consequentemente, ao próprio conhecimento.
O romance se passa na Itália no ano de 1327, tendo como cenário um
mosteiro beneditino, em que misteriosas mortes são o alvo principal da trama.
Dentro do mosteiro, havia uma biblioteca à qual apenas alguns monges
tinham acesso. Essa restrição, além de despertar a desconfiança do monge
18
Guilherme de Baskerville, por haver uma ligação dos mortos com a biblioteca, fez
com que ele ficasse mais atento aos monges que tinham acesso a ela, fazendo
assim, uma ligação entre as mortes e os livros, ou seja, querer acesso ao
conhecimento poderia ter consequências mortais.
Kledson Camargo (s.d) faz uma análise sobre a restrição de acesso à
biblioteca e diz que:
(...) a biblioteca tem que ser secreta, porque ela inclui obras que não estão
devidamente interpretadas no contexto do cristianismo medieval. O acesso
da biblioteca é restrito, porque há ali um saber que é ainda estritamente
pagão (especialmente os textos de Aristóteles), e que podem ameaçar a
doutrina cristã.
Ainda quanto ao acesso à informação, Celso Antunes (2001, p. 11) faz um
paralelo entre as maneiras de receber e compreender as informações e
conhecimentos de anos atrás e as contemporâneas, seguidas de altas tecnologias e
afirma que:
Vivemos um período histórico de extrema banalização de informações.
Estas que antes chegavam aos poucos, capazes de serem assimiladas,
comentadas e, portanto, mantidas nas lembranças, foram literalmente
"atropeladas" por um avanço notável dos meios de comunicação que nos
traz de toda parte, a cada segundo, uma infinidade imensa de saberes. O
rádio, a televisão, os vídeos, mas ainda muito mais expressivamente a
Internet, fizeram com que as informações ganhassem uma nova dimensão
e incomensurável volume, alterando de forma substancial o papel da
escola e a função do professor.
Observe-se que Antunes faz uma breve reflexão sobre a forma como as
informações chegavam antigamente em relação à de hoje. É válido ressaltar que
não é pelo fato de surgir o novo que podemos descartar os demais meios de
comunicação. O importante é aprender a se comunicar, independentemente do meio
disponível no momento. O autor também nos mostra que, a partir da chegada da
Internet, as informações criaram um incomensurável volume que, ao mesmo tempo,
tem seu lado positivo e negativo.
Antunes também deixa bem claro que é necessário saber absorver essa nova
forma de receber informações. É preciso cautela.
Qualquer pessoa é capaz de pesquisar sobre algo com apenas um toque,
através da rede mundial de computadores – internet, porém as informações
pesquisadas, na rede, nem sempre são de fontes confiáveis, visto que muitos
19
internautas escrevem o que pensam sobre algum assunto, sem ao menos ter um
pressuposto teórico. Basta a esse respeito pensar no fato de que, atualmente,
muitos estudantes e pessoas em geral supõem que recorrendo a Wikipédia, por
exemplo, para esclarecer alguma coisa ou algum trabalho, estejam valendo-se de
conhecimentos abonáveis, o que raramente ocorre, tendo em vista que a Wikipédia
é uma ferramenta em que qualquer pessoa pode incluir uma informação. É como se
fosse um livro aberto, onde pessoas podem acrescentar algo mais. Esse é o grande
problema, visto que não sabemos quem são essas pessoas que acrescentam “esse
algo mais”, se são letradas, formadas, etc. Numa sociedade onde cada vez mais é
“um por si e Deus por todos”, torna-se necessário desconfiar e checar qualquer
informação vinda de estranhos e até mesmo de conhecidos, até porque qualquer ser
humano é passível de erros. Esse caso merece atenção de alunos, professores e
pesquisadores de maneira geral.
Com tantas informações disponíveis, verídicas e falsas na rede, cabe aos
voluntários corrigi-las e até mesmo enriquecê-las. Consertar as falsas informações é,
até mesmo, uma nova forma de os usuários testarem seus conhecimentos e
consequentemente contribuírem para que informações errôneas, mesmo malintencionadas, não sejam passadas adiante. Isso significa que o hipertexto permite
ao leitor um papel mais ativo do que o que nos era oferecido pelo texto impresso, ao
qual estávamos habituados.
Opinando sobre o mesmo assunto, Bernardes, Alessandra Sexto e
Fernandes, Olívia Paiva (2006) afirmam: “ Poderíamos nos referir à pesquisa como
uma procura por algo verdadeiro; busca pelo conhecimento, busca feita com cuidado
e profundidade, até mesmo método para tornar mais interessante e participativo o
ensino em sala de aula".
A pesquisa torna-se uma continuidade do ensino oferecido nas escolas. O
professor que pesquisa estimula seus alunos a pesquisarem. Sendo assim, o mundo
contemporâneo permite aos discentes uma pesquisa mais abrangente, não se
limitando apenas a livros impressos e enciclopédias, como se fazia há alguns anos.
A Internet é uma prova viva desse fenômeno, que possibilita ao aluno também levar
novos conhecimentos e informações para a sala de aula. O número de informações
é tão vasto, que elas chegam a "atropelar-se". Porém nunca é demasiado lembrar
que é preciso verificar a fonte pesquisada na rede para que se possa ter certeza da
credibilidade, ou não, do que foi pesquisado.
20
Pierre Lévy (1996, p. 44) indaga:
Essa nova forma de escrita oportunizada pela net pode alterar a
consciência e a cognição?" e prossegue, chamando-nos à atenção para
"as mudanças nas formas de ler e escrever operadas pelo hipertexto
digital. Não é mais o leitor que se desloca fisicamente nas operações de
leitura de um texto, virando páginas, procurando volumes entre estantes de
livrarias ou bibliotecas, mas é "um texto móvel e caleidoscópico, que
apresenta suas facetas, gira, desdobra-se à vontade diante do leitor.
Mesmo considerando que um leitor diante de um computador e de um mouse
com seu teclado não está imóvel, executando diversas operações, nem por isso as
observações de Lévy são menos pertinentes.
Sérgio Roberto Costa (2006, p. 37) completa:
Os (hiper) textos, produzidos/construídos sem fronteiras nítidas misturam
formas, processos e funções da oralidade, da leitura e da escrita. Leitor e
autor/escritor se cruzam, on-line, no esforço de releitura, correção e recriação de um texto, participando da edição do texto que lêem e escrevem.
Nesse ciberespaço, leitor e escritor deparam-se com novos conceitos, novo
léxico, novos gêneros discursivos, novas formas de linguagem, novo
código, novo estilo de ler, escrever e conversar.
O hipertexto possibilita ao leitor viagens nas quais leva um texto a outro, que
leva a outro, e assim sucessivamente; ele não possui uma forma fixa, padronizada.
Vale lembrar que os hipertextos podem ser típicos da internet, bem como uma
réplica fiel de textos e livros de origem impressa. O hipertexto também possibilita ao
leitor a oportunidade de expressar sua opinião diante do que lê, não sendo mais
submisso às informações que pesquisam e recebem a todo o instante, porém os
usuários da construção do texto virtual precisam estar atentos às normas
ortográficas. Um dos recursos do hipertexto é a presença de sons, imagens,
gráficos, animações, entre outros.
Apesar da infinidade de informações de que a rede dispõe através de seus textos,
hipertextos, etc. é preciso ter paciência e sorte para encontrar o que realmente
precisa.
De acordo com as idéias de Rogério da Costa (2003, pág. 9,43) milhares de
pesquisadores, professores e estudantes, etc. de todo o planeta apostam na Internet
como fator tecnológico na evolução do ensino presencial e principalmente à
distância. Completa: “Daí nasce a necessidade do filtro de informação, o que
21
tornaria a pesquisa mais avançada. Esse filtro de informações funcionaria como um
banco de dados para direcionar as pessoas para mais próximo de sua pesquisa”.
Ainda deixa no ar a seguinte pergunta: “Não seria interessante se essas ferramentas
pudessem entender seu usuário, tal como, por exemplo, uma secretária entende os
diretores de sua empresa ou bibliotecária entende os frequentadores assíduos de
sua biblioteca?”.
Nesse ambiente, de exposição de textos e informações, o "internetês" não
deve ser usado de forma alguma, pois o público que utiliza essa fonte de pesquisa é
o mais variado possível, ou seja, o "internetês" não é assimilado por todos. Também
vale ressaltar que o texto disponível na rede não significa necessariamente a "morte"
dos livros impressos, uma vez que a leitura continua sendo uma atividade
desenvolvida pelas pessoas. Torna-se importante ratificar essa idéia, por mais que
seja óbvia, uma vez que, muitos pensam dessa forma e até mesmo acreditam que
os livros impressos poderão “evadir” a partir da chegada dos diversos aparatos
tecnológicos, que não só a internet, mas o mundo globalizado dispõem.
Essa nova modalidade de texto permite que o leitor interaja, participe e
construa novos textos sobre os já criados. É uma produção coletiva. Sendo assim,
autor e leitor se confundem nesse universo.
É fundamental motivar docentes e discentes para aprenderem juntos, sejam
quais forem os estágios de suas vidas. De nada adianta equipar as escolas com
computadores, quando na verdade não há capacitação adequada dos profissionais
para recebê-los e manejá-los corretamente. Atualmente, já se pode notar a presença
tecnológica nas escolas através de programas de informática e até mesmo da TV
Escola.
A internet e a informática possuem suas linguagens próprias. Com o intuito de
desmitificá-las e esclarecê-las, Lévy (1999) explica:
O ciberespaço (que também chamarei de "rede") é o novo meio de
comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O
termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação
digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga,
assim como os seres humanos. Quanto ao neologismo "cibercultura",
especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de
práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se
desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço.
22
Podemos, então, entender que ciberespaço é um lugar virtual onde as pessoas
se encontram e trocam informações. Cada usuário busca um tipo de conhecimento.
E é através das buscas em comum entre alguns internautas que se dá a formação
de culturas em comum, daí o termo cibercultura. Pode-se dizer que ciberespaço e
cibercultura estão diretamente ligados, já que é através do ciberespaço que se
"movimenta/age/manifestam- se" os fenômenos e os fatos cujo somatório configura
a cibercultura.
Após
uma
melhor
compreensão
dos
termos
citados
acima,
ainda
desconhecidos por grande parte da população, o internauta sente-se muito mais
seguro e confiante ao usar a Internet. Essa segurança acontece devido ao fato do
mesmo, a partir de então, saber que também conhece termos pertencentes às novas
tecnologias.
Lévy
(1996,
p.
16)
um
dos
autores
mais
importantes,
ao
menos
academicamente, na construção e estudo do significado do virtual, define o virtual
como:
O virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual. Contrariamente ao possível,
estático e já constituído, o virtual é como o complexo problemático, o nó de
tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento,
um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de
resolução: a atualização.
Quando Lévy afirma que o virtual não se opõe ao real é porque na verdade os
dois estão interligados, até porque o virtual é a combinação de fatos a partir do real,
ou seja, o virtual é uma releitura do real. Podemos dizer que o virtual e real são
estudos da mesma natureza, uma vez que primeiro ocorre em nossa realidade, em
nossa sociedade para em seguida, na maioria das vezes, imergir no mundo virtual.
Também é importante salientar que não são todos os fatos que acontecem em
nossa sociedade farão parte do mundo virtual e vice-versa.
Diferentemente da não oposição citada acima, temos a oposição do virtual ao
atual. Isso acontece porque o atual é algo que percebemos naquele instante,
enquanto o virtual carrega uma potência de ser, acontece depois do atual e não
concomitantemente.
O meio virtual transforma o conhecimento em algo não-material, flexível e
indefinido, provocando rupturas; a interatividade, a manipulação de dados,
23
a correlação dos saberes através de nós na rede, a plurivocidade, o
apagamento das fronteiras rígidas entre textos-margens e autores-leitores.
(RAMAL, 2001, p.18)
Após essas discussões entre virtual/real e virtual/atual, pode-se deduzir que
Lévy tinha como objetivo esclarecer melhor as diferenças e semelhanças de uma
nova era tecnológica, que já faz parte da vida de milhares de pessoas e, daqui a
algum tempo, do mundo inteiro.
Assim como cada segmento social, tais como médicos, advogados, militares,
etc. tem sua linguagem específica, a internet também possui uma. Termos como os
citados acima podem ser vistos como obscuros e inoportunos para muitos, porém
qualquer usuário que precise e trabalhe com a internet frequentemente deve ao
menos compreendê-los, uma vez que esses termos são muito usados no ambiente
virtual. Assim como as novas tecnologias, principalmente o computador/internet,
trouxeram mudanças na vida das pessoas, calcula-se que também trará mudanças
no hábito de escrever.
Com tantas evoluções e mudanças nos hábitos e posturas das pessoas, o
professor possui ainda mais responsabilidades, pois deixa de ser aquele que
transmite informações para ser um mediador e facilitador, ajudando seus alunos a
organizarem as informações, exercendo assim o papel de guia, deixando de fazer
apenas palestras e exposições.
Lévy (2001, p.117) apud Souza (2006) também relaciona a informática com a
escrita afirmando que:
A informática parece reencenar, em algumas décadas, o destino da escrita:
usada primeiro para cálculos, estatísticas, a gestão mais prosaica dos
homens e das coisas, tornou-se rapidamente uma mídia de comunicação
de massa, ainda mais geral, talvez, que a escrita manuscrita ou a
impressão, pois também permite processar e difundir o som e a imagem
enquanto tais.
Se um dia o uso dos computadores foi exclusivo para pesquisadores,
atualmente é utilizada por diversos tipos de usuários.
Apesar do meio digital fazer cada vez mais parte da vida das pessoas,
SOUZA (2003, p.55) não descarta o índice de analfabetismo digital do mundo
globalizado. Ele afirma que nas classes mais humildes esse número é mais
24
acentuado e ainda faz uma comparação: "Assim como a Ferrari divide espaço com a
carroça, a informática divide espaço com o analfabetismo".
Computador e internet estão diretamente ligados, ainda mais que é através da
rede que milhões de pessoas se comunicam, trocam informações, realizam
pesquisas, etc. Segundo SOUZA (2003, p.11):
Existe uma visão que considera as novas tecnologias como uma simples
evolução do quadro negro ou dos livros didáticos. Para aqueles que
sustentam esta posição, a metodologia utilizada com os livros pode
continuar sendo empregada hoje com o uso do computador.
Ainda de acordo com SOUZA (2003), a Internet é vista por muitos como um
veículo de aglutinação dos demais, ou seja, através dela é possível ouvir rádio, ver
televisão, acessar informações, estudar, etc. Sem dono, ela permite a qualquer
pessoa criar sua própria página, na qual difundirá conteúdos, sua produção.
Todavia, SOUZA (2003 – pág.11) relata: “Existe uma visão que considera as novas
tecnologias como uma simples evolução do quadro negro ou dos livros didáticos.
Para aqueles que sustentam esta posição, a metodologia utilizada com os livros
pode continuar sendo empregada hoje com o uso do computador”.
De nada adianta acrescentar aparatos tecnológicos uma vez que o método de
ensino permanece o mesmo. O avanço tecnológico por si só não consegue grande
repercussão na melhoria de ensino, pois funciona apenas como mais um “enfeite”
que só permanece no papel (em projeto).
As informações adquiridas na rede são diferentes das encontrados nos livros,
uma vez que na Internet o usuário além de deparar-se com uma infinidade de
conteúdos, estes podem ser trocadas com pessoas das mais distintas culturas,
crenças e costumes. Dessa forma, o indivíduo pode interagir com uma infinidade de
internautas, adquirir novas formas de pensar e receber informações e até construir e
reconstruir seus conhecimentos. Contudo, não é demasiado lembrar que, para o
conhecimento confiável ocorrer, é preciso assegurar-se da fidedignidade da
pesquisa.
Tendo em vista esses esclarecimentos sobre o mundo virtual, podemos
concluir que no mundo contemporâneo, a Internet é a ferramenta mais utilizada para
se trocar informações de forma rápida. Sabemos também que, até o surgimento da
Internet, nenhum meio de comunicação fora tão utilizado e a esta, que até pouco
25
tempo era restrita a apenas uma pequena parcela da população, vem conquistando
cada vez mais espaço.
Pierre Lévy apud Costa (2003) também opina sobre o assunto. Para ele as
comunidades virtuais funcionam como estímulo para que as pessoas possam
aprender juntas, para incentivar a inteligência coletiva. O autor ainda acha que
quanto mais pessoas interessadas num mesmo assunto, mais ele renderá frutos.
Podemos entender que a internet é um meio onde as pessoas podem alcançar um
conhecimento relevante que pode até proporcionar frutos futuramente. Basta
lembrarmos que em qualquer lugar há alguém para oferecer um conselho, contar
uma história, ou seja, com experiências para trocar. A facilidade para que as
pessoas possam se comunicar está cada vez maior, seja ela presencial, ou não.
Contudo, apesar de tais evoluções e facilidades que a Internet nos oferece
com sua linguagem peculiar, não podemos perder de vista a língua padrão, que é
ensinada no ambiente escolar e solicitada na maioria das situações comunicativas.
É importante que esse fato fique claro para os usuários da língua e principalmente
para estudantes e pesquisadores. Também é importante ressaltar que ainda não há
um meio eficiente e confiável de medir as interferências da Internet na linguagem,
bem como nos hábitos de práticas de leitura e escrita.
LOPES E TRIVINHO (2000) refletem:
Pode-se atribuir à presença intensa e diversificada de tecnologias de
suporte ao processo social da comunicação como sendo uma das razões
mais próximas e visíveis para se dizer que vivemos hoje uma sociedade
midiática. De fato, essas tecnologias estão por toda parte como que
condicionando e diferenciando a experiência social de vivermos juntos.
26
2.1 Internetês: conceitos
Internetês:
Forma
de
expressão
grafolinguística
explodiu
principalmente
entre
adolescentes que passam horas na frente do computador no Orkut, em chats,
blogs e comunicadores instantâneos em busca de interação - e de forma
dinâmica. (Silvia Marconato, 2006)
O
internetês
-
expressão
grafolinguística
criada
na
internet
pelos
adolescentes na última década - foi durante algum tempo um bicho de sete
cabeças para gramáticos e estudiosos da língua. Eles temiam que as
abreviações
fonéticas
(onde
"casa"
vira
ksa;
e
"aqui"
vira
aki)
comprometessem o uso da norma culta do português para além das fronteiras
cibernéticas. (Fabiano Rampazzo).
O internetês é uma linguagem surgida no ambiente da internet, baseada na
simplificação informal da escrita, com o objetivo principal de tornar mais ágil e
rápida a comunicação, fazendo dela uma linguagem taquigráfica, fonética e
visual. Abreviações, simplificações, símbolos criados por combinação de
caracteres, símbolos gráficos próprios, e uma diversidade de recursos de
comunicação
por
imagens
utilizados
na
internet
são
as
principais
características encontradas nas mensagens que utilizam esta linguagem.
(Leandro Braçaroto).
27
2.2 Reflexões sobre Internetês
A comunicação na Internet é um evento textual fundamentado na escrita.
Apesar dos recursos disponíveis de som e de imagem, a escrita ainda é essencial.
Os jovens usuários da Internet costumam tratar a variedade linguística da Internet
como uma "fala escrita", ou seja, uma transposição da fala para a escrita, ou noutras
palavras uma "oralidade escrita". É preciso considerar que a idéia de uma "fala por
escrito" deve ser vista com cautela, pois a escrita (regida, em ambientes virtuais,
mais por normas fonéticas do que por normas ortográficas) está entremeada de
representações semióticas. Normalmente o que ocorre, em várias salas de batepapo, por parte dos usuários, é uma escrita regida de traços da fala, ou seja, há uma
tentativa de escrever exatamente como se fala, ou muitas vezes dar ênfase a
algumas palavras através de onomatopéias e repetições excessivas de palavras.
Exemplo: “oiiiiiiiiiiiiiiiii” (oi); nnnnnnnnnnnnn (não), etc.
Marcuschi (1995) apud Santos (2005) afirma que:
Tanto a fala quanto a escrita variam em função de um contexto, de
uma situação de produção e de um portador específico. A língua é um
fenômeno heterogêneo, variável, indeterminado e situado, refletindo a
organização da sociedade.
Através das idéias defendidas por Marcuschi, deduz-se que, é preciso saber
adequar os mais diversos tipos de escrita/ linguagem, até porque cada situação
exige do sujeito um tipo de comportamento, um tipo de escrita/linguagem. A língua
portuguesa oferece uma imensa variedade linguística, podendo ser usada da
maneira mais simples até a mais elaborada. É de grande importância lembrar que o
uso linguístico também varia de acordo com o nível econômico e social de cada
falante, porém não é norma.
Else Santos (2005, p. 157) afirma:
Numa IOL¹, o "chatter²", ao escrever o que pensa, lança mão de recursos
linguísticos que fogem dos aspectos formais da escrita e busca "imitar" a
informalidade e espontaneidade do discurso oral cotidiano, através do uso
28
de onomatopéias, alongamentos de vogais e consoantes, entre outros
elementos.
É preciso que não só os estudantes, mas todos, que buscam evoluir se dêem
conta de um simples e importante fato: há uma linguagem falada e uma linguagem
escrita. Numa situação informal até é permitido o uso de uma linguagem coloquial,
porém a escrita (o texto redigido) exige uma formalidade, em determinadas
situações, não sendo de bom alvitre uma linguagem peculiar.
Numa IOL, há uma mescla da escrita e da fala, não havendo uma linguagem
predominante. Ainda segundo Santos:
A marca principal dessa escrita é sempre a tentativa de desobediência às
normas gramaticais pré-estabelecidas no que diz respeito, principalmente,
à ortografia, à pontuação expressiva e ao registro quase obrigatório da
forma como se falam as palavras (...)
No "bate-papo” ou "chat", o tipo de interação entre os interlocutores ocorre por
um canal eletrônico, o computador. Nesse ambiente, a comunicação é uma mistura
da língua falada e da língua escrita, ou seja, é a construção de um texto "falado"
mediado pela escrita.
A interação nos chats ocorre em tempo real, mas não face a face. A
pontuação da língua escrita na rede é um recurso para efetivamente imprimir um
caráter "falado".
Isso varia de acordo com a emoção e as características da conversa
momentânea e acontece quando os internautas tentam transmitir na escrita traços
próprios da fala. Podemos perceber esse exemplo no prolongamento de
interrogações, exclamações, etc. durante as conversas. Para comprovar tais traços,
Bernardes, e Vieira (2006) exemplificam:
Início da sessão: Sun Jul 09 01:19:29 2000
<{ Thunder}> Oiiiiiiiiiiiiiiiiiii, Lili...
<{ Thunder}> Como vai vc?
_________________________________________________________________
1. IOL - Usuários das interações on line.
2. Chatter - O internauta, quem faz uso da mediação on line.
29
< lliliifl> OI!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1
<{ Thunder}>Está fazendo frio aí em JF? < lliliifl> nao mto
<{ Thunder}> E pq vc está com esta blusa de lã ai?
< lliliifl>hahahah
< lliliifl> como adivinhou?
<{ Thunder}>Poxa...
<{ Thunder}> Eu to te vendo!
<{ Thunder}> N muito bem, mas daqui eu tenho uma vista razoável.
<{ Thunder}> Só n me pergunte mais detalhes, viu?
< lliliifl>hahahahaha
< lliliifl> ta legal
[...]
Fim da sessão: Sun Jul 09 02:11:59 2000 ###
Algumas das principais diferenças de uma conversa mediada pela internet e
face a face são: espaço real – espaço virtual; língua falada – linguagem escrita;
comunicação real – comunicação virtual. Através da comunicação on-line novos
códigos são criados a todo o momento. Dentre eles temos as onomatopéias,
emotions, uso excessivo de pontuação, como se pode ver na sessão acima, etc.
A linguagem que pontua tal dinâmica social é o "internetês". Integrados à
tecnologia e com acesso fácil a computadores e a conexões de banda larga, os
jovens buscam respostas rápidas, proximidade com seus interlocutores e nutrem a
expectativa de aproveitar cada momento de diversão.
Quando o assunto é internetês, há diferentes opiniões acerca do assunto.
Silva, Dionísio, apud Hansen, Karla (2006. p. 02) opina: “Os pequenos burgueses
tinham internet e celular, mas não dominavam a língua escrita. E por isso criaram a
deles. Nada espantoso. Também os habitantes das periferias não dominam a norma
culta da língua e criam suas gírias, devidamente circunscritas a cada grupo de
usuário”.
Souza (2007, s/p) também reflete sobre a questão do "internetês":
Existia um mito de que os jovens se viciariam na forma fonética de
escrever e começariam a usar este 'estilo' na sua vida real como nas
formulações de redações de vestibulares, por exemplo. Porém acho que
isso já foi descartado.
Marisa Lajolo, pesquisadora do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da
Universidade de Campinas (Unicamp), possui a mesma opinião e afirma que: "De
forma nenhuma o ‘internetês’ pode ser considerado um perigo para a Língua
30
Portuguesa. Essa forma de escrita, que provavelmente existe para todas as línguas,
é completamente inofensiva. E inventiva". Relata a autora. Porém deixemos a
seguinte reflexão: Apesar da economia de palavras também se fazer presente na
última década, como por exemplo, os telegramas (uma forma de economizar
palavras e consequentemente dinheiro), pode-se dizer que a economia de palavras
e o uso de excessivas abreviações, do mundo contemporâneo, o intenetês, não
interfirá de alguma forma na vida de nossos adolescentes?
O melhor caminho é aprofundar-se nessa linguagem, haver comunicação,
mesmo sabendo que o "internetês" é baseado na velocidade. Para estabelecer
comunicação com quem está habituado a esse tipo de linguagem, a velocidade faz a
diferença. Uma das principais características dos chats, além da rapidez, é o risco
constante do equívoco, uma vez que a comunicação é realizada em alta velocidade.
Outra característica importante é a tentativa de reproduzir na escrita traços que são
tipicamente da fala. Pode-se dizer que há uma tentativa de "recriar" a escrita, desejo
em comunicar-se de uma nova maneira que não irá matar a língua padrão, sendo
apenas uma nova tendência como tantas que são criadas.
Deduz-se, de acordo com a presente pesquisa de campo, relatada
posteriormente, que o "internetês" agrada aos adolescentes justamente por vir
romper, por vir agir de forma diferenciada dos padrões comunicacionais de fala e
escrita vigentes na sociedade. Não seria muito mais fácil escrever não ao invés de
naum? Até porque os internautas que são a favor da economia quebram essa regra
acrescentando a vogal U a palavra não.
A economia na hora de escrever não é algo novo, basta lembrarmos os
telegramas, apesar de não serem mais tão utilizados como outrora, nas situações
onde a rapidez e a economia eram necessárias.
Contrapontuando a economia de palavras acima, LEVY (2004) analisa a
importância da escrita não só na vida das pessoas, mas também no mundo e
ressalta que: "Sem escrita, não há datas nem arquivos, não há listas de
observações, tabelas de números, não há códigos legislativos, nem sistemas
filosóficos e muito menos crítica desses sistemas.”
A partir da invenção da escrita, o homem não precisou mais se preocupar
com desaparecimentos de seus registros, uma vez que estes poderiam ser
arquivados através dela. A escrita, além de ser uma forma de arquivar documentos,
registros etc, também é uma forma de o ser humano organizar seus pensamentos e
31
até mesmo se comunicar. Apesar de muitas pessoas só utilizarem o recurso do texto
escrito mediante um teclado de computador, inclusive para correio eletrônico, ainda
há quem se mantém aderente, (sendo, certamente, ainda os mais numerosos), em
plena era da internet, à prática de enviar cartas pelo correio de forma tradicional.
Diante do fenômeno Internet, Silvia Marconato (2006, p. 1) publicou na revista
Língua Portuguesa um artigo, no qual divulga o resultado de uma pesquisa do
Ibope/NetRatings:
No Brasil, um batalhão de 15 milhões de usuários troca 500 milhões de
mensagens por dia por meio do Messenger (MSN), o comunicador
instantâneo da Microsoft. - O brasileiro adere fácil à tecnologia; é um povo
muito aberto à comunicação - explica Priscyla Alves, gerente de produtos,
comunicação e marketing para Brasil e América do Sul da Microsoft. O
internauta brasileiro continua sendo o campeão mundial da navegação,
com uma média de 17 horas e 59 minutos, deixando para trás Estados
Unidos, Japão e Austrália.
Abrindo um parêntese, com uma visão um tanto quanto questionadora,
refletimos sobre a seguinte questão: A média de 17 horas e 59 minutos de
navegação significa que o sujeito está ali de corpo presente ou apenas seu
computador estaria ligado durante todo esse tempo? Fica a dúvida.
A ansiedade do brasileiro por contato já foi alvo de estudo de Anne Kirah,
uma antropóloga americana, e acessora da Microsoft, que vive em Paris. O que
chama atenção na sua pesquisa é o fato de países mais desenvolvidos como
Estados Unidos, Japão e Austrália ficarem atrás do Brasil, ou seja, a população
desses países, que possuem uma excelente infra-estrutura e grande riqueza
tecnológica, permanece em menor tempo na rede. Essa é uma questão que merece
ser analisada até porque não podemos afirmar definitivamente quais benefícios e
malefícios, assim dizendo, serão herdados pelo uso excessivo da internet. Ainda é
inoportuno classificá - la definitivamente, uma vez que se trata de um fenômeno
novo.
Na tentativa de compreender o motivo de os jovens brasileiros serem os
principais usuários do "internetês", Anne Kirah, relata que, numa de suas pesquisas,
conviveu por semanas com famílias de adolescentes brasileiros. Chamou sua
atenção a tendência de o jovem "interneteiro" no Brasil ter, em geral, permissão para
sair só uma vez por semana. A antropóloga concluiu que o nosso adolescente,
usuário do computador, faz das ferramentas on-line uma extensão da vida social. Na
32
frente do monitor, marca encontros, mantém viva a emoção do fim de semana e
estreita laços com novos amigos. Diante disso indagamos: controlar a frequência de
saída dos nossos adolescentes assegura proteção aos nossos jovens? A Internet
também tem oferecido riscos e até mesmo perigo aos jovens e à população de
maneira geral. Basta lembrarmos os hackers e os crimes virtuais que estão
tornando-se cada vez mais comuns na rede.
Acredita-se que os jovens foram o público da pesquisa, relatada acima por
Anne Kirah, uma vez que se sabe, segundo a voz corrente, que os adolescentes são
os que mais utilizam a internet. Não seria uma tamanha coincidência o brasileiro
liderar a navegação mundial e ao mesmo tempo “ostentar” a liderança de
mortalidade infantil, o estupro, etc., apesar de se tratar de assuntos completamente
diferentes?
Na opinião de muitos estudiosos, dentre eles Marisa Lajolo, as diversas
formas de escrita no ciberespaço, tais como ORKUT, CHATS, MSN, entre outras,
contribuem para o desenvolvimento da criança e do adolescente, mas nem todos
são da mesma opinião. Alguns linguistas acreditam, assim como um grande número
de professores de Língua Portuguesa, que o "internetês" proporcionará o fim de
nossa língua. Será que realmente há motivos para tanta preocupação? O internetês
teria em algum momento tanta influência e persuasão na vida de milhares de
pessoas ao ponto de modificar a Língua?
A linguagem da Internet, especificamente a do bate-papo e do correio
eletrônico, possui características tanto da fala quanto da escrita; é hipertextual,
permitindo ligações de vários textos, em vários lugares, através de formas verbais e
não-verbais. O programa de bate-papo mais utilizado é o MSN, que proporciona o
contato com pessoas distantes e a geração de novos simbolismos através do uso de
abreviações. Na pesquisa que realizamos, no âmbito dessa dissertação, mais
adiante relatada, com alunos do quarto ciclo do ensino fundamental, os simbolismos
do bate-papo apresentam como características uma linguagem tão reduzida, quanto
incorreta.
Dessa forma, a escrita começa a ser feita cada vez mais por códigos,
dificultando o trabalho dos professores de Língua Portuguesa. Nesse caso, cabe à
escola, principalmente ao professor, não somente o de Língua Portuguesa, não
aceitar as abreviações e particularmente a linguagem derivada do "internetês". É
preciso, portanto, conscientizar os usuários dessa nova modalidade de escrita de
33
que não se deve, de maneira alguma, utilizar essa linguagem fora do ambiente
próprio. Ainda diante desse assunto vale lembrarmos que exceções como KG
(quilograma), MM (milímetro), CM (centímetro), G (grama), dentre outros são
abreviações, que se tornaram aceitáveis e compreendidas digamos que quase por
todos.
De acordo com grande parte dos estudiosos, professores e pesquisadores,
que buscam pelo tema internetês, um dos grandes atrativos dessa nova modalidade
de escrita é fugir das normas da língua culta. Os internautas fazem uso demasiado
da língua falada nas mensagens que trocam entre si. É quase uma fala digitalizada.
Segundo as idéias de Miglio, apud Souza (2006), tudo é uma questão do meio
onde se realiza a conversação. E mesmo na vida real, as pessoas não costumam
ficar atentas à norma culta do idioma num "bate-papo" informal. A má utilização da
linguagem formal, ou ao menos mais elaborada, mais formulada, resulta numa
fala/escrita pobre e até mesmo desleixada. A preocupação e o cuidado em realizar
uma comunicação adequada, independentemente de ser falada ou escrita preparam
o Homem para as mais diversas situações da vida.
Ele ainda completa:
A linguagem do "internauta" não vai passar para a vida real, até porque o
que o internauta escreve ninguém fala, sendo aceito apenas naquele
circuito e não mais em nenhum outro. Existe uma barreira natural das
pessoas que não entendem nem falam esse jargão³.
Se não relativizarmos essa linguagem, apontada por Miglio, chegaremos ao
absurdo de pensar que os internautas também falam pq (porque), tc (teclar), n (não),
etc, como ocorre na comunicação escrita nos chats, que é uma simulação em parte
da língua falada. Não podemos generalizar.
_________________________________________________________________
3. Jargão - Linguagem corrompida, Gíria.
34
Em contrapartida, Chartier (2001) reflete sobre o uso excessivo da escrita
mediada pelo teclado do computador:
Tanto na leitura como na escrita, a mediação do teclado instala uma
distância entre o texto e seu leitor ou autor. A relação do corpo com o texto
escrito ou lido muda fica mais distante. A percepção passa a independer do
contato físico do traçar das palavras no papel ou do livro posto entre as
mãos. Mas, se por um lado algumas habilidades manuais se perdem e a
escrita pessoal se deteriora, por outro o aparato tecnológico permite fazer
um jogo criativo com a escrita, usando variações de fontes, cores e
paginação.
Chartier além de destacar as infinitas possibilidades lúdicas que um teclado
pode oferecer, também ressalta, com maior intensidade, a distância que um simples
teclado do computador pode causar entre o indivíduo e a grafia correta das palavras.
Ou seja, o não exercício em escrever à mão pode resultar em dúvidas na hora de
escrever e digitar textos e até mesmo palavras graficamente corretas por meio do
computador.
MARTINS (2006) apud MARCONATO (2006) também olha com reservas o
fenômeno da escrita. Ele acredita que o aprendizado da escrita depende da
memória visual: muita gente escreve uma palavra quando quer lembrar sua grafia.
Se bombardeados por diferentes grafias, muitos jovens, ainda em formação,
tenderão à dúvida.
É importante destacar que todos estão sujeitos a essa situação, a partir do
momento em que fazem uso do mundo virtual ou até mesmo convivem com pessoas
que usufruem desse meio. A simples falta de hábito de escrever pode levar à dúvida
na momento de produzir um texto ou um simples recado informal.
Quando o tema abordado é economia de palavras, abreviações, etc. recorrese, muitas vezes, aos telegramas, onde a economia impunha a simples exclusão de
preposições e conjunções, alcançando-se a maior objetividade o que, não raro,
acabava por sacrificar a clareza do texto. Parece que, apesar do telegrama
atualmente ser pouco utilizado, a linguagem telegráfica continua gerando seus
frutos, sendo usada nas situações que requerem rapidez e economia, como no caso
dos chats. É um exemplo de herança sócio-linguística.
O uso dos telegramas não interferiu na representação mental que as pessoas
tinham das palavras. Embora menos utilizada que o “internetês”, a linguagem
35
telegráfica era compreendida, mesmo com todas as abreviações que eram
necessárias para tornar a sua utilização acessível.
BAGNO apud CONSOLARO (2007) magistralmente sintetiza os pontos
cruciais das questões que aqui estudamos:
A Internet é uma escrita virtual, uma fala digitalizada, uma mescla das
duas modalidades da língua. Assim como é inútil tentar corrigir a língua
falada, também me parece inútil tentar corrigir a língua escrita na Web,
porque ela é fugaz, efêmera e se dissipa no ar (porque sequer chega a ser
impressa).
Como pode ser observado, esse autor enfatiza que o tipo de escrita usado na
Internet, mais precisamente conhecida como "internetês", é caracterizada pela
transposição da fala juntamente com onomatopéias e efeitos lúdicos. Também
destacou ser inútil tentar corrigi-la por ser um instrumento de comunicação rápido,
tendo como único objetivo a comunicação, independentemente de regras
ortográficas. Mesmo diante desse fenômeno (internetês), cabe aos professores, em
conjunto com os pais, conscientizar esse grupo de que o “internetês” não pode vir
para o ambiente escolar, para os vestilulares, para as possíveis entrevistas de
emprego ao longo da vida, etc., ou seja, não deve sair do ambiente virtual devendo
ser apenas uma linguagem típica para um único tipo de ambiente: as salas de batepapo na rede, Orkut, Blogs, entre outros.
Também é importante conscientizar os discentes de que essa linguagem não
é compreendida por grande parte da população.
É preciso cautela no momento da interação on line, uma vez que o ambiente
virtual não é apenas utilizado por jovens e pessoas que fazem uso do “internetês”.
De acordo com MACCARTHY (1995) o aprendizado auxiliado por
computadores no ensino, com base em levantamentos feitos junto a alguns
professores, apresenta lados positivos e negativos. Como pontos negativos, há falta
de recursos adequados, insegurança por parte dos docentes, o que é ocasionado
pela falta de treinamento e ausência de softwares educacionais. Apesar desses
problemas apresentados, o método de ensino auxiliado pelo uso de computadores
tem o seu lado positivo, pois, através dele, são proporcionadas importantes
vantagens. Dentre elas temos: motivação, melhoria quantitativa e qualitativa para o
ensino, se este for bem planejado, interação de grupo e autonomia do aprendiz.
36
Mais um aspecto positivo é a relevância que a interação em grupo tem para pessoas
que sofrem com a timidez. Na internet, esse sujeito tem a oportunidade de dizer o
que pensa, soltar-se, (ser como deseja ser visto, em muitos casos), etc. uma vez
que na maioria das vezes essa mediação não ocorre face a face. A rede também já
proporciona a qualquer pessoa o acesso ao conhecimento, à informação sem ao
menos deslocar-se de sua própria casa. Sendo assim, a escola já não é a única para
buscar informações, para aprender. O ambiente virtual pode proporcionar autonomia
ao aprendiz que tem interesse em buscar além do que é oferecido na escola, que
busca sempre mais, que apresenta curiosidade, interesse, etc. Também é
importante destacar mais uma vez que para que “autonomia” aconteça é
importantíssimo permanecer atento aos sites dos quais busca-se informações.
Por outro lado, Cassoni (1999) afirma: "A Internet está influenciando muito a
língua. O mundo virtual tem uma linguagem própria e que, por mais que a gramática
tente segurar esse fenômeno, ele já aconteceu". Cassoni diz, ainda: "Caminhamos
para uma língua universal via computador e que usuários da Internet criaram e
continuam criando novos códigos a todo o momento".
Acredita-se que a uma das principais características da língua dos
"internautas" é a fuga das rígidas normas gramaticais e ortográficas. Eles utilizam os
fonemas como meio mais acelerado no processo escrito ou, muitas vezes, meras
substituições de uma letra por outra. Vale ressaltar que essa afirmação também
pôde ser observada durante a pesquisa de campo relatada mais adiante.
Mesmo com tantas inovações a escrita faz cada vez mais parte da vivência
das crianças, dos jovens, enfim de todos de maneira geral. O meio digital traz novos
entendimentos sobre a escrita, especificamente dos adolescentes. Jovens, ávidos
por interação, no canal virtual, escrevem com liberdade e percebem que esta escrita
pode ser aceita e entendida, gerando compreensão na esfera digital. Porém cabe
aqui a seguinte reflexão: Há em algum momento, na consciência dos internautas e
de todos que utilizam o internetês, a preocupação em não utilizar essa modalidade
de escrita em qualquer ambiente e com qualquer pessoa?
A relação de dialogicidade do sentido não é rompida e eles se comunicam,
desfazendo a crença imposta, principalmente pelas instituições de ensino, de que
apenas a notação escrita "correta" das palavras, conforme as regras, pode gerar
sentido, interação, comunicação. O que acontece é que o mais importante nesse
ambiente é a comunicação, a interação, a liberdade.
37
Redigir um texto sempre foi difícil para a maioria das pessoas, pois uma boa
dissertação exige conhecimento, leitura e treino. Observa-se que na linguagem do
"internauta" quase tudo, ou até mesmo tudo, é permitido e quebrar as regras é o
mais interessante. Quando a escrita é feita através de e-mail, escreve-se de acordo
com a norma culta, a rapidez não se faz necessária, há tempo para pensar sobre o
que será escrito. Além disso, também há programas que sublinham as palavras
grafadas de forma errada. O advento da internet realmente fez com que pessoas
que quase não redigiam um texto, um e-mail passassem a fazê-lo, porém deixamos
a seguinte pergunta: produzir textos significa escrever e comunicar-se de forma
adequada, satisfatória? Dissertar bem exige leitura e treino e isso não se adquire de
um dia para o outro. Esse trabalho começa ou ao menos deveria começar nos
primeiros anos de vida do estudante na escola.
É válido ressaltar que quem lê muito não é automaticamente alguém que
escreve bem, porém há uma grande probabilidade para que assim seja.
Não podemos negar que a partir do surgimento da internet quem jamais havia
escrito algo além de seus nomes próprios foi obrigado a elaborar mensagens para
seus chefes, familiares ou até mesmo namorada. Em partes, ela reconquistou
aqueles que fugiam da escrita, ou seja, as pessoas passaram a escrever mais
através de simples e-mails, conversas informais nos messengers e até no próprio
ambiente de trabalho.
Sérgio Nogueira (2006) também expõe aspectos positivos e negativos em
relação ao "internetês" (vocabulário virtual da rede): "O "internetês" interfere apenas
na escrita e não na língua. Como exemplos, podem-se citar: pq (porque), vc (você),
tc (teclar), que são usadas apenas na digitação, isso significa que nenhum indivíduo
fala dessa maneira".
Mas isto significa também, por outro lado, que uma pessoa que está
habituada a escrever "vc" ao invés de "você" ou até mesmo qualquer outra palavra,
pode ter dúvida, quanto à grafia correta das palavras, no momento em que precisar
escrever uma carta ou um documento de acordo com a norma culta.
Em controvérsia, Umberto Eco, (2001, pág. 21) opina: “A internet implantou a
solidão: as pessoas passaram a trabalhar em casa e a comunicar-se virtualmente.
Atualmente, há uma preocupação em transformar a solidão em ocasiões sociais”.
Apesar das mais variadas opiniões citadas acima, não podemos negar que
cada qual possui um aspecto relevante. É claro que não podemos cair no absurdo
38
de nos prendermos a uma delas como única e inquestionável. Uma vez que se trata
de um fenômeno recente, é necessário “deixar o tempo falar”...
EISENKRAEMER (2008) analisa as diferenças formais que podem ser
apontadas como distinção entre a fala e a escrita:
As diferenças formais são causadas pelas condições de produção e de
uso da linguagem. Elas existem muito mais em função do gênero e do
registro do que em função da modalidade escolhida. Já as diferenças
funcionais entre a fala e a escrita estabelecem quais são as funções da
escrita dentro da cultura de uma comunidade de fala. É possível afirmar
que nem sempre se escreve como se fala quanto à gramática, léxico e
situação contextual.
O fato de não se escrever como se fala, como nos demais idiomas, evidencia
também as duas faces da Língua Portuguesa: a falada e a escrita. Para cada
situação é exigido um tipo de (fala/escrita), de comportamento, porém nem todas as
culturas trabalham esses aspectos da mesma maneira.
Escrever se tornou uma ferramenta cada vez mais necessária e indispensável
nas mais diversas situações cotidianas. Isso pode acontecer desde o comunicado de
uma grande empresa até um bilhete informal entre amigos. O importante não é só
escrever, mas sim comunicar-se, fazer-se entender. Se não se escreve de forma
comunicativa, frustra-se o objetivo da escrita, que é justamente se comunicar. As
situações de comunicação vão muito além do círculo fechado do "internetês". Fora
desse meio diversos tipos de linguagens são usados a todo o momento. Para isso,
lembremos mais uma vez que o domínio da língua culta é de extrema importância
para o convívio social e que o "internetês" não deve vir para a vida real em hipótese
alguma.
Com a Internet, a linguagem segue o caminho dos fenômenos da mudança,
como o que ocorreu com "você", que se tornou o pronome "cê", numa pronúncia
rápida /relaxada/ coloquialíssima, recordando que "você", por sua vez, já é uma
simplificação do arcáico "vossa mercê" => "voss'mecê" etc. Vale ressaltar que o
"interneteiro" pode ajudar a reformular a ortografia e, no futuro, quem sabe, tornar a
comunicação mais eficiente desde que se torne universal e que não venha
desconstruir nossos valores nem mesmo desvalorizar a beleza de nossa língua.
Também é importante destacar, que a reformulação da nossa ortografia, “pelo
39
interneteiro” só é válida desde o momento que favoreça a população e facilite assim,
a comunicação.
A partir das diversas opiniões dadas sobre o uso do "internetês", pode- se
dizer que o importante é se comunicar, até porque é muito difícil encontrar um
indivíduo que segue todas as normas da língua culta no dia-a-dia.
Também pode-se deduzir que a Língua Portuguesa deverá passar por
mudanças rápidas devido à veiculação de mensagens nos mais variados suportes,
incluindo-se a internet e consequentemente o "internetês".
Deixemos a seguinte reflexão: o "internetês" poderá "emburrecer" os jovens e
atrapalhar a escrita? Nada pode ser descartado.
Lévy (1993, p. 11) apud Freitas, Maria Teresa de A. (2006) sugere: “É
necessário deixar a técnica pensar em mim ao invés de debruçar-me sobre ela
escrita e criticá-la.” Ou seja, é necessário estar aberto ao novo, as mudanças que
surgem a todo o momento.
40
Capítulo 3
O uso da escrita na escola
Sabendo-se que a língua é viva e dinâmica, além de ser o código utilizado
pelo ser humano para se comunicar com seus semelhantes, trocar informações, etc.
é fundamental, ou ao menos deveria ser, que todo e qualquer ser humano
compreenda o mínimo, que seja, sobre o processo escrita/fala.
Sobre o conceito de linguagem VALENTE, 2001 opina:
A linguagem é tudo aquilo que permite a comunicação entre homens.
Expressão dos nossos desejos e sentimentos, das nossas ideias e
emoções, a linguagem torna-se vital para a convivência humana. Não
existe sociedade sem comunicação e, por seguinte, sem linguagem.
O conceito de Valente permite compreender que pensamento e linguagem
estão interligados de forma que um completa o outro, até porque todo pensamento
se estrutura através de uma linguagem seja ela gestual, visual, verbal etc.
A linguagem é considerada a primeira forma de interação da criança com o
meio social. Essa interação é mediada pelos pais através de instruções verbais
durante atividades diárias. Antes mesmo de aprender a falar, a criança, através da
linguagem, tem acesso a valores, crenças e regras, absorvendo, dessa forma, os
conhecimentos de sua cultura. Com o desenvolvimento da criança, a audição e a
visão se tornam refinados e ela alcança um nível linguístico e cognitivo mais
elevado, principalmente quando ela entra na escola e tem maior oportunidade de
interagir com outras crianças.
Pode-se dizer que a linguagem difere o homem do animal. O animal não
conhece o símbolo, somente o índice, uma forma fixa e única de relação com a
coisa a que se refere. A linguagem animal visa a adaptação a uma situação
concreta, enquanto a linguagem humana intervém como um abstrato da situação,
situando-nos no tempo através do pensamento, enquanto o animal vive apenas no
presente.
Vygotsky, (1989, p.44) declara: "O pensamento verbal não é uma forma de
comportamento natural e inata, mas é determinada por um processo históricocultural e tem propriedades e leis específicas que não podem ser encontradas nas
41
formas naturais de pensamento e fala”. Isto é, os conceitos são construções
culturais,
internalizados
pelos
indivíduos
ao
longo
de
seu
processo
de
desenvolvimento. Os atributos necessários e suficientes para definir um conceito são
estabelecidos por características dos elementos encontrados no mundo real,
selecionados como relevantes pelos diversos grupos culturais. É o grupo cultural no
qual o indivíduo se desenvolve que vai lhe fornecer, pois, o universo de significados
que ordena o real em categorias (conceitos), nomeadas por palavras da língua
desse grupo.
A constatação de que as crianças apresentam intenções comunicativas desde
seus primeiros meses de vida influenciou os estudiosos da linguagem a pesquisar a
fala espontânea da criança em interação com seus pais.
Segundo Chomsky (1973), a aquisição da linguagem se dá através do
processo inatista, contrapondo assim a teoria de Vygotsky, afirmando que a fala dos
adultos apresentada às crianças é mal formada, limitada e contendo hesitações, e,
portanto, a criança não poderia aprender a linguagem a partir de fontes externas.
Outra possibilidade de analisar a aquisição linguística é sugerida no filme "Nell"
(Drama), dirigido por Michael Apted (1994 – EUA).
O filme “Nell” é produzido e estrelado pela atriz Jodie Foster e conta a história
de uma mulher que é criada por sua mãe em uma floresta isolada de qualquer tipo
de civilização. Sua mãe, uma eremita que sofrera um derrame, morre, deixando Nell
sozinha no mundo. Ao ficar sabendo da existência de uma "mulher selvagem", um
médico da cidade, interpretado por Liam Neeson, resolve estudar o comportamento
de Nell e se admira com o modo com que ela consegue garantir sua sobrevivência
mesmo estando isolada de qualquer outro ser humano. Outro fator que chama a
atenção do médico é a linguagem que Nell desenvolveu para se comunicar. Ele
percebe que na verdade não se trata de um dialeto totalmente desconhecido, e sim
de um tipo de inglês um tanto destorcido, provavelmente ensinado por sua mãe
incapacitada. Porém, o médico não é o único a tomar conhecimento da existência de
Nell, visto que ela vivia isolada com a mãe na floresta. A psicóloga Dra. Olsen
também resolve estudar o comportamento de sua "paciente".
Durante o filme, as opiniões dos dois profissionais quanto ao destino de Nell
são divergentes. Olsen acha que Nell deve ser levada a uma clínica para ser
internada e estudada por profissionais do ramo da psiquiatria (pois acredita que Nell
tenha problemas mentais). Já o médico acredita que Nell pode se virar muito bem
42
sozinha e que não necessita de um tratamento, pois apenas a convivência com
outras pessoas é o suficiente para que Nell desenvolva um comportamento
considerado "normal". "Como a personalidade é formada?" "O que é inato, o que se
aprende?"
Essas são perguntas feitas pelos personagens do filme Nell para resolver o
grande dilema: Nell é ou não capaz de continuar vivendo sozinha, isolada do mundo,
apenas com aquilo que lhe fora ensinado por sua mãe? Podemos acrescentar mais
algumas perguntas como: de onde vêm as ideias? Nascemos conhecendo e as
vamos lembrando com o passar da vida, ou adquirimos o conhecimento através das
nossas experiências? Poderia uma pessoa como Nell, que se criou afastada da
humanidade, se tornar civilizada?
Teria cada pessoa uma limitação intelectual
própria ou temos todos a
capacidade de raciocinar, clara e ordenadamente?
A partir do filme Nell podemos pensar na "outra face da moeda", ou seja, nos
descentrar do mundo da linguagem, dos conceitos e da cultura tradicional e
repensar nosso papel como membros de uma sociedade que congrega sujeitos
ricamente diferentes entre si. Infelizmente, a sociedade é composta por valores e
costumes conceituados como certos e errados. Mas o que é certo? O que é errado?
Por que ser diferente gera rejeição, estranheza e preconceitos? Esses são temas de
suma importância para serem trabalhados na escola. Já que ela deve preparar o
aluno para a sociedade, para o mundo, é fundamental que ele esteja pronto para
conviver, para deparar-se com os mais diversos tipos de pessoas que surgirão a
todo o momento.
VALENTINI (2001) destaca a questão do respeito à diferença e faz a
seguinte reflexão: "No enfoque tradicional as ciências humanas tendem ou tendiam
à busca de uma grande generalização ou de uma igualdade do ser humano. Os
indivíduos e grupos que não estão inseridos nos parâmetros tradicionais são
excluídos."
VALENTINI (2001) mostra o motivo de Nell ter se tornado um objeto de
estudo de dois cientistas, ou seja, ser diferente é motivo para tornar-se excluído.
Pode-se afirmar que a linguagem é um indispensável elemento de
comunicação social, e nem por isso a mesma deixa de pertencer ao domínio
individual. Ao usá-la, o indivíduo busca a integração com os semelhantes e exercita,
então, a sua cidadania. Ressaltamos que há uma diversidade de linguagens,
43
linguagens essas usadas para atender as necessidades de cada grupo social.
Exemplo: linguagem visual, gestual, simbólica e até mesmo a nova modalidade de
linguagem criada pelos interneteiros, o internetês.
Toda educação verdadeiramente comprometida como exercício da
cidadania precisa criar condições para o desenvolvimento da capacidade
de uso eficaz da linguagem que satisfaça suas necessidades pessoais –
que podem estar relacionadas às ações efetivas do cotidiano, à
transmissão e busca de informação, ao exercício da reflexão (PCN, 1999,
p. 30).
Após análises e reflexões sobre pensamento/linguagem analisemos um
pouco do processo escrita/leitura dos nossos jovens. Santos (2005, p. 152) ressalta:
Diz-se com frequência, que o adolescente não lê! É até verdade que a
maioria dos jovens não lê muito a chamada literatura de prestígio e só o
faz, quando o faz, ao ser obrigado pelos professores. Entretanto, apesar de
não ser habitual e espontaneamente leitor da grande literatura, o
adolescente está em permanente contato com a leitura, tendo acesso,
diariamente, a inúmeros gêneros de textos (uma vez que a circulação da
escrita é intensa em nossa sociedade) tais como: panfletos, revistas, out
doors, faixas, jornais em ônibus, cartazes em supermercados e lojas em
geral, músicas (poemas) que escutam, cantam e copiam com avidez, e
ainda blogs, sites, chats entre outros.
Sabe-se, de acordo com nossas experiências, que o primeiro processo entre
a leitura e a criança ocorre mediante ao reconhecimento de uma embalagem de um
produto, por exemplo, por uma criança. Ao ver esse determinado produto, a criança
diz seu nome. Isso não significa necessariamente que a criança leu o nome dessa
mercadoria, mas sim fez o reconhecimento visual, uma vez que aprendeu o nome de
uma determinada mercadoria, brinquedo, etc. com alguém.
Isso significa que ao chegar à escola a criança já possui uma linguagem de
mundo, com suas experiências e emoções, o que não deve ser podado, mas sim
respeitado a todo o momento, visto que cada indivíduo tem uma realidade de vida
não necessariamente igual à dos demais que o cercam.
O incentivo a leitura precisa ser trabalhado na vida do ser humano desde os
primeiros anos de vida. Uma criança que tem pais leitores, dentro de casa, tende a
ser um adolescente e consequentemente um adulto que aprecie um bom texto ou
que faz uso contínuo da leitura. É primordial que a leitura também seja incentivada
44
em casa, não devendo somente fazer parte da função da escola. Apesar do ser
humano de maneira geral, em seus mais variados estágios da vida, deparar-se com
diversos tipos de textos, como propagandas, cartazes, músicas, etc., não é sinônimo
de convívio e/ou contato com bons textos, com boa leitura/escrita, uma vez que os
veículos de comunicação, na maioria das vezes, comentem erros primários de
escrita.
A produção textual é outro importante aspecto, salientado pelos PCN’s, que
merece muita atenção, pois os textos produzidos pelos alunos, em sala de aula, as
chamadas redações, podem, de acordo com o que é postulado no documento, ser
usadas como recurso de ensino para trabalhar a língua, propriamente dita, passando
de mera atividade de escrita, cujos objetivos são apenas avaliativos, a instrumento
voltado ao ensino.
Dessa forma, um dos objetivos dos Parâmetros Curriculares de Língua
Portuguesa do ensino fundamental é trabalhar o conhecimento necessário sobre as
diferentes formas de realização da linguagem na sociedade, a fim de que os sujeitos
envolvidos no processo de aprendizagem possam se comunicar produtivamente nos
grupos sociais de que participam e participarão. Por isso, sugere-se aos professores
que ensinem seus alunos a utilizar-se da linguagem na escuta e produção de textos
orais e na leitura e produção de textos escritos de modo a atender as múltiplas
demandas sociais, responder a diferentes propósitos comunicativos e expressivos, e
considerar as diferentes condições de produção do discurso (PCN, 1999, p. 33).
Santos (2006), em uma de suas pesquisas referentes a escrita na rede, pôde
observar que até mesmo na hora de produzir um simples bilhete, os jovens fazem
uso de uma escrita espontânea, despreocupada e com um número grande de
reticência e palavras de origem inglesa. Observou-se que há uma tentativa de
manter a escrita no mesmo ritmo com que se fala. Isso é preocupante.
INCONTRI (1996) apud SOUZA (2003 – p. 11) reflete sobre questões
pertinentes a evolução na educação:
O progresso tecnológico pode nos atiçar, nos empurrar, mas não promove
por si só um salto qualitativo na história. E se falamos em revolução,
reconheça-se em primeiro lugar que uma revolução é necessária na
Educação, independentemente do fato ‘multimídia’ ou ‘informática’. Estes
fatores tecnológicos podem instrumentalizar umas tantas mudanças, que
45
seriam necessárias mesmo sem o seu advento. Mas esse advento tornouas de certa forma mais necessária.
É indiscutível que ainda há muito que melhorar no âmbito educacional.
Mesmo antes da chegada do computador/internet essa mudança já era necessária.
Não foi necessariamente a internet que provocou tantas mudanças, ela apenas
acelerou esse processo. O Homem necessita de mudanças, de atualização. Sendo
assim, o ser humano busca novas descobertas, evolui e consequentemente, impõe
mudanças.
Enquanto isso, a mídia também está em constante evolução, portanto, mais
uma vez, a escola precisa renovar seus métodos e técnicas de ensino. A primeira
mudança ocorre na fala, para em seguida acontecer na escrita, ou seja, a mudança
ocorre primeiramente entre os falantes, que incorporam e criam novas palavras
(neologismo) nas mais diversas situações orais, para assim, serem inseridas,
posteriormente, na escrita. A internet já proporciona essa mudança no hábito de
escrever, principalmente em sites de relacionamentos, como o MSN. É essa
mudança que atrai e conquista milhares de jovens, pois a rede oferece liberdade que
a escola, mas particularmente a norma culta, não oferece. Nas instituições e até
mesmo na vida existem regras e limites a serem seguidos, quando na verdade o que
os nossos jovens mais gostam é justamente quebrar essas regras. Portanto, é
necessário que o professor saiba mediar a escrita formal das demais, ou seja,
mediar a escrita pertinente a norma culta com a escrita derivada da internet,
“internetês”.
Diante dos meios de comunicação, Dondis (1999, p.12-13), apud Faria, Maria
Alice destaca:
Nos modernos meios de comunicação (...) o visual predomina (...). A
impressão ainda não morreu, e com certeza não morrerá jamais; não
obstante, nossa cultura dominada pela linguagem já se deslocou
sensivelmente para o nível icônico. Quase tudo em que acreditamos, e a
maior parte das coisas que sabemos, aprendemos e compramos,
reconhecemos e desejamos, vem determinado pelo domínio que a
fotografia exerce sobre nossa psique.
Um grande exemplo de que o visual predomina, na maior parte das
circunstâncias, é o outdoor. Ele é considerado, por muitos, o último apelo ao
consumidor antes da compra. Ele está ali, na rua, bem próximo ao seu ponto de
46
venda. Num mercado tão competitivo quanto o nosso, isso pode ser decisivo. São
esses, os detalhes, da influência que um texto, como a propaganda, pode ter na vida
de uma pessoa.
O outdoor é um tipo de anúncio que objetiva alcançar, principalmente, quem
está dirigindo, quem tem pressa, pois seu tamanho e a pequena quantidade de
palavras atraem a atenção dos motoristas. Concorda?
Também é importante estar atento diante do consumo excessivo e da
persuasão que a propaganda exerce na vida de cada um de nós. Nos ambientes em
que o visual predomina, é preciso analisar cada imagem seguida dos objetos e
pessoas que a rodeiam. Também é necessário ver além da imagem fotografada, ou
seja, o seu significado como um todo. Isso se torna importante no momento em que
compramos algo. Precisamos refletir se realmente estamos precisando daquilo que
estamos prestes a adquirir. Diante disso, o professor precisa aprender a analisar as
imagens, o valor e a necessidade de cada coisa, e conseqüentemente ensinar aos
seus alunos. É preciso enxergar além da imagem, sendo crítico suficientemente para
compreender além daquilo que está diante de seus olhos. O professor pode fazer
uma analogia sobre esse assunto criando situações para que seus alunos
enxerguem e entendam que por trás de uma imagem, de uma oração, de um verbo,
de um sujeito, por exemplo, há o objetivo do aprendizado de frases grafadas e
pronunciadas de forma correta.
Segundo Dondis, (1999, p.7) “A informação visual é o mais antigo registro da
história humana”. Enquanto o visual predomina nos meios de comunicação, o verbal
predomina nas escolas e na área jornalística. Atualmente, muita coisa já gira em
torno da imagem, como a propaganda, o consumo, a informação, etc. A quem diga
que uma imagem vale mais que mil palavras.
Com a presença da mídia cada vez mais constante na vida das pessoas, ela
alcança seus objetivos. É de algo assim que a escola precisa. Necessita-se de um
estímulo, um atrativo a mais para que os alunos despertem dentro de si a
importância da escola em suas vidas. Também não podemos deixar de enfatizar o
professor nesse ambiente, que ocupa um papel de suma importância na educação,
mas que na verdade está sendo cada dia mais mal remunerado e menos valorizado.
47
Costa, Sérgio Roberto (2006, p. 25) faz a seguinte reflexão:
Assim como o homem, para escrever e ler textos inventou/ criou
discursivamente os sistemas da escrita (pictóricos, ideográficos e alfabéticos)
e diversos recursos editoriais, assim como os editores de romances, contos,
novelas poemas inventaram recursos de escrita para criar seu discurso
estético; assim como os produtores de histórias em quadrinhos e de tirinhas
também buscaram outros recursos gráficos, além do sistema de escrita,
assim também os internautas estão revolucionando a escrita no ciberespaço,
tanto como sistema quanto como processo discursivo. Se formos observar,
hoje, manchetes, textos de jornais, revistas propagandas, publicações
diversas, etc., certamente encontraremos o estilo on-line influenciando a
escrita off-line.
A colocação de Costa é importantíssima, visto que são os vícios do ambiente
virtual que os alunos estão levando para a sala de aula. São diversos os pais e
educadores que tentam romper esse fenômeno.
Em cada época e grupo social alguma coisa terá predominância. Essa é a
época do internetês. Assim como houve a fase do rock, do Elvis, do Michael
Jackson, etc., há agora, no mundo contemporâneo, a fase de uma nova forma de
grafar as palavras.
A linguagem dos chats é uma boa fonte para se verificar o português falado
no Brasil. Dessa forma, o ensino nas escolas pode ser avaliado, e até mesmo
reavaliado, procurando assim, melhorar os erros que estão sendo cometidos,
melhorando assim o nosso ensino.
48
Capítulo 4
Análise do “Internetês” na Escola
A internet, desde os seus primórdios, revelou-se uma fonte aparentemente
inesgotável de conhecimento. De tanta informação que recebiam, as pessoas
chegavam ao ponto de ler as coisas e, depois esquecê-las completamente.
Não há como negar, que após o surgimento da web diversos tipos de
atividades comerciais e educacionais tornaram-se mais práticas, velozes, etc. Uma
vez que a rede atraiu e ainda atrai uma grande diversidade de público, torna-se cada
vez mais difícil prender a atenção dos que se fazem presentes no mundo virtual,
visto que as instituições de ensino, de maneira geral, normalmente, utilizam uma
simples gama de métodos de ensino para pessoas, na maioria das vezes, que estão
acostumadas com um nível de tecnologia avançado, diversificado, ou seja, enquanto
a escola possui uma metodologia de ensino “padronizada” com regras e prazos a
ser cumpridos, a internet não possui regras fixas, sendo consequentemente mais
atraente.
As crianças também estão cada vez mais inseridas nesse novo ambiente.
Uma vez que milhares de adultos encontram dificuldades para dominar essa nova
técnica, internet/ computador, elas aparentam dominar essa ferramenta com
facilidade e entusiasmo. Estão se comunicando, brincando e até mesmo aprendendo
com essas novas mídias.
Diante do grande número de pessoas que fazem uso do ambiente virtual,
ressaltemos o fato de milhares de pessoas não terem o privilégio de ser ao menos
alfabetizadas digitalmente. Com isso, a socialização da internet se tornará um sonho
cada vez mais distante, uma vez que os professores e profissionais na área, não são
capacitados, na maioria dos casos, para desfrutar as atualizações e comodidades
que a rede oferece.
O uso de computadores cresce rapidamente em nosso país, sendo assim, a
rede de usuários aumenta a cada instante, de forma que, não só o mercado de
trabalho, mas também diversas situações cotidianas exigem novos modos de
aprendizagem, atualizações, etc. Também é importante lembrar que as publicações
49
e informativos presentes na web não são uma versão eletrônica do impresso, do
papel, mas sim uma nova tecnologia em construção.
A presente pesquisa, ao entrevistar adolescentes do quarto ciclo do ensino
fundamental, buscou compreender em seus diversos aspectos a construção da
escrita no mundo virtual.
De acordo com a professora de Língua Portuguesa, Fernanda Pereira
Moreira¹ – Externato campista (rede privada) seus alunos raramente usam o
internetês diante dos trabalhos escolares pedidos por ela. A docente alega que faz
um trabalho de conscientização sobre onde se deve ou não usar essa linguagem.
Ela acredita que esse método funciona também pelo fato de descontar pontos nas
atividades quando isso ocorre. Isso intimida, afirma.
Sendo assim, cada escola deve criar estratégias para diminuir, combater ou
até mesmo ter o internetês como um aliado, se for o caso. Isso irá variar de acordo
com o regimento de cada instituição.
A pesquisa de campo buscou compreender a vida escolar dos alunos bem
como verificar a importância e a influência do computador/internet em suas
respectivas vidas.
A pesquisa de campo dividiu-se em duas etapas: a primeira
realizou-se em 2007 com o oitavo ano do ensino médio, e a segunda em 2008 com
o nono ano do ensino médio, ou seja, com o quarto ciclo do ensino fundamental.
Vale ressaltar que de um ano para o outro houve pequenas alterações
mediante alguns métodos de comprovação de dados. O grande objetivo de ter
realizado a pesquisa de campo em duas etapas, foi buscar compreender o objeto de
estudo que vinha sendo estudado através de pesquisas bibliográficas, bem como
crescer e simplesmente aprimorar o método de avaliação de um ano para o outro.
_________________________________________________________________
1. Professora de Língua Portuguesa do Colégio Externato Campista na cidade de Campos dos Goytacazes.
50
PRIMEIRA ETAPA (OITAVO ANO)
A pesquisa, em sua primeira etapa, foi realizada em duas escolas, sendo uma
particular (Colégio Santos Dumont – Anglo) e a outra pública (Liceu de
Humanidades de Campos).
Analisaremos perguntas realizadas durante a entrevista com os alunos, bem
como o percentual das possíveis respostas colhidas nesse processo.
Ao serem questionados da possibilidade de o “internetês” interferir no
rendimento escolar, 33% dos discentes disseram que essa grafia não interfere, pois,
na sala de aula, costumam utilizar a linguagem padrão e só usam o “internetês” ao
conversarem em MSN, ORKUT, etc. Todavia, 47% dos discentes responderam que
a grafia utilizada na Internet atrapalha, já que os jovens e eles próprios costumam
permanecer várias horas em bate-papos, adquirindo o hábito de escrever como na
rede. Os demais alunos, totalizando 20% disseram que algumas vezes atrapalha e
outras não, visto que algumas pessoas utilizam o “internetês” no contexto
apropriado, e outras não conseguem fazer essa distinção e acabam utilizando-a de
modo indiscriminado.
Durante a realização da pesquisa, pôde ser detectado que 100% dos alunos
entrevistados nas duas escolas possuíam algum tipo de influência da escrita
pertencente ao “internetês”. Vale ressaltar que a dimensão do uso dessa linguagem
variou entre os alunos, sendo que em proporções diferentes.
51
No colégio Santos Dumont, a faixa etária dos alunos do oitavo ano (7ª série)
que participaram da pesquisa é de 13 a 15 anos. Por meio dessa detectou-se que os
discentes permanecem de 2 à 7 horas por dia na rede. Essas normalmente são
distribuídas nos sites mais acessados por eles. São eles: Google, Orkut, Messenger
(MSN), Youtube e site de jogos.
Já no Liceu de Humanidades de Campos (rede pública), a faixa etária dos
discentes, do oitavo ano (7ª série), é 13 e 14 anos. Nesta escola a pesquisa pôde
detectar que os discentes permanecem de 2 a 3 horas por dia na rede.
Quando perguntados se conseguem viver sem a Internet, 27% dos alunos
responderam que sim, ao passo que 67% disseram que não. Os 6% restantes
afirmaram que é relativo, pois por um lado, a Internet agiliza e facilita a comunicação
e é um meio muito útil de pesquisa, contudo é possível viver sem ela, uma vez que o
que pertence ao mundo virtual partiu do real. Ainda relatam que apesar da internet
oferecer uma enorme comodidade, grande parte dos serviços, realizados na rede,
também podem ser realizados fora dela. Por exemplo: a leitura de alguns livros,
jogos, contato pessoal e etc.
Colégio Santos Dumont - Anglo
Grande parte dos alunos, mais precisamente 67%, responderam que
conseguem viver sem a Internet, pois há outros entretenimentos e outras formas de
se comunicar, no entanto enfatizam que o cotidiano seria um tédio sem a mesma.
Apenas 33% disseram que não conseguiriam viver sem ela, pois é o meio de
52
comunicação que utilizam para conversar com os amigos e usam-na com frequência
em trabalhos escolares.
Liceu de Humanidades de Campos
Exatamente (84%) dos alunos, quando questionados se a Internet atrapalha a
vida escolar, responderam que sim e disseram que, devido ao fato de utilizarem com
grande frequência o “internetês”, acabam se acostumando com a escrita e usando-a
em contextos não adequados. Uma pequena porcentagem dos discentes (16%)
respondeu que o “internetês” não atrapalha.
53
Um marco, também muito importante, desta pesquisa, foi a diferença
qualitativa textual de uma escola para a outra..
Pôde-se observar que na rede privada a produção textual é bem mais rica,
com palavras mais elaboradas, porém em menor quantidade. Já na rede pública, os
alunos escreviam mais e exploravam o assunto trabalhado, entretanto utilizavam um
vocabulário bem limitado, com palavras repetitivas e simples, ou seja, pouco criativo.
54
SEGUNDA ETAPA (NONO ANO)
A segunda etapa da pesquisa foi realizada no Colégio Externato Campista
(rede particular) com o nono ano do Ensino Fundamental. A faixa etária dos alunos
entrevistados, deste colégio, varia entre quatorze e quinze anos. Quando
perguntados se sempre estudaram em rede particular, apenas três alunos, o que
corresponde (13%), responderam que nem sempre, ou seja, também já estudaram
em rede pública de ensino.
Pode-se dizer que os alunos da rede pública de ensino estudam lá por não
terem condições financeiras e não por escolha. Deixemos bem claro que estamos
longe do objetivo de desmerecer uma escola seja ela estadual, municipal, porém
não podemos omitir o fato que as mesmas, na maioria dos casos encontram-se
numa situação precária tendo muito a ser melhorado.
Baseando-se na pesquisa de campo e na própria experiência, em sala de
aula enquanto docente, muitos internautas usam o “internetês” em diversas
situações diárias, e não somente na internet, como deveria. Diante desta
informação, inserimos na entrevista a seguinte pergunta: “Há alguma disciplina que
você aprecie menos que as demais ou sinta maior dificuldade? Num caso ou no
outro, por quê?”
O objetivo desta indagação foi verificar se ocorreria um relevante número de
respostas em comum. No caso, um grande número de alunos que não apreciasse
e/ou mostrasse interesse pela Língua Portuguesa. Se por algum instante este fato
ocorresse, haveria a necessidade de realizar-se um segundo estudo com a
finalidade de descobrir se existiria, algum tipo de ligação, entre o uso excessivo do
“internetês” e o desgosto pela Língua Portuguesa.
Portanto, as disciplinas mencionadas pelos alunos, diante da pergunta acima
foram:
Inglês;
Matemática;
Português;
Química;
55
A pesquisa também pôde detectar que a grande maioria dos alunos da rede
particular (90%), permanece na rede numa média de duas a nove horas por dia de
segunda à sexta-feira. Porém nos finais de semana, normalmente não há limite de
tempo imposto pelos pais, ao menos quando não se refere ao período de provas.
Já quando perguntados se o internetês já fazia parte de suas vidas, de seu
cotidiano, 77% dos jovens responderam que sim, enquanto 13% responderam que
não e os outros 10% alegaram que vêem lutando contra o uso constante de
abreviações.
SIM (77%)
NÃO (13%)
LUTANDO
(10%)
Uma das justificativas relatadas para o uso demasiado das abreviaturas das
palavras seria a rapidez e a facilidade para se comunicar. Outro fator mencionado
pelos alunos é a economia de tempo na hora de escrever.
Para 88% dos entrevistados possíveis motivos do sucesso e importância da
Internet são:
Comunicação entre amigos;
Facilidade de estudar, pesquisar;
Proximidade (forma de conter a saudade);
Lazer (jogos);
Fonte de informação;
56
Para os demais 18% dos entrevistados a Internet possui pouca ou nenhuma
importância.
Também apresentamos reflexões: “Para você, o que é mais importante? A
internet ou o computador, como veículo dela? Para você, o uso do computador sem
a Internet não teria a mesma importância? Por quê?”. Através dessas perguntas, a
pesquisa verificou que para apenas um aluno, o que corresponde a 4%, o
computador é mais importante que a Internet. Já para 73% do alunado “o
computador é morto, sem graça” sem a Internet. Vale ressaltar que apenas 23% dos
entrevistados têm consciência de que computador e Internet complementam-se.
"SEM GRAÇA"
(73%)
UM
COMPLETA O
OUTRO
MAIS
IMPORTANTE
(4%)
Noventa por cento (90%) dos alunos entrevistados, concordam que
permanecer muito tempo na rede, fazendo uso de abreviações e do próprio
internetês, pode ocasionar dúvidas na hora de escrever corretamente uma palavra.
Esses 90% defendem a opinião de que o uso demasiado de abreviações, gera o
esquecimento da ortografia correta das palavras. Já os 10% restantes discordam e
alegam que, as pessoas que escrevem errado de acordo com a norma culta, lêem
pouco e que o fato de saber a ortografia correta depende também da inteligência de
cada um.
A afirmação acima concedeu à pesquisa a oportunidade de verificar, se por
acaso, os discentes já passaram por momentos de dúvidas quanto a ortografia de
57
algumas palavras. Pôde-se confirmar que 64% dos alunos já passaram por isso,
23% não e 13% não se lembram.
PASSARAM
(64%)
NÃO
PASSARAM
(23%)
NÃO SE
LEMBRAM
(13%)
Os que já passaram por essa situação relataram que o professor retirou
pontos e sublinhou a palavra, portanto passaram a pesquisar no Google, no
dicionário ou até mesmo perguntar a alguém quando não sabiam.
Um relevante fato mencionado no decorrer das entrevistas é que a internet
funciona como uma “companhia” quando não há nada para fazer. Por outro lado,
mostraram-se viciados na rede, uma vez que afirmaram que a vida não teria a
mesma graça sem o mundo virtual. Também evidenciam que o mundo gira em torno
da rede e sem ela, portanto, o mundo estacionaria. Isto é o que se depreende das
nossas opiniões.
Mediante o assunto, 59% dos entrevistados dizem que a vida não teria a
mesma graça sem a internet, enquanto 41% afirmam que a vida não mudaria, até
porque há outras coisas para fazer. Aproveitando o gancho, afirmou-se: “A
linguagem se renova quando se renovam os meios”. Diante dessa afirmação temos
81% que opinam pela mesma opinião contra 18% que não.
Segundo 73% dos próprios alunos o “internetês” mudou ou influenciou de
alguma forma a escrita deles.
58
A internet também se torna atraente pelo fato de as pessoas manterem
contato, seja com pessoas próximas ou distantes. Nesse caso, a palavra chave é
interação.
Uma vez perguntados se o impacto do “internetês” poderá gerar profundas e
duradouras mudanças na Língua Portuguesa, as respostas mais frequentes foram:
“Não mudará. A língua portuguesa continuará a mesma coisa”;
“Não, pois as pessoas só escrevem errado na internet e nem todos a usam”;
“Não. As pessoas sabem que a linguagem da internet precisa ser diferente da
vida social”;
“Sim, já há muita gente se prejudicando por conta desse vício”;
“Sim, pois a internet abrange a cada dia um número maior de pessoas”;
“Sim. O número de palavras escritas de forma errada crescerá cada vez mais,
prejudicando a língua padrão e isso poderá gerar dúvidas para escrever da
forma correta”;
“Sim. A língua já está mudando. A nova ortografia pode provar isso”;
“Talvez a longo prazo”;
Como o “internetês” traz opiniões divergentes quanto a seus benefícios e
malefícios, digamos assim, também foi escutada a opiniões dos jovens segundo
esse tema tão polêmico. Obtivemos as seguintes:
41% - O internetês proporciona mudanças negativas, pois a língua
portuguesa poderá perder suas origens devido ao fato de ocasionar
esquecimento e dúvidas no momento em que se exige a norma culta;
32% - O internetês poderá trazer mudanças positivas com o intuito de facilitar
e agilizar a escrita;
27% - Depende. É bom para o internauta e ruim para quem não pertence a
esse mundo, que se sente excluído.
Pode-se notar que as opiniões são bem variadas acerca do tema.
Da mesma maneira que indagamos os sites mais acessados pelos alunos do
oitavo ano, na primeira etapa, citada anteriormente, também verificamos os sites
mais visitados pelos discentes, com o intuito de permanecermos atualizados em
relação ao que interessa esta nova geração. Os mais visitados são:
59
Orkut;
Google;
You Tube;
Globo.com;
Sites de música e jogos;
Podemos notar que os sites mais visitados tanto pelo oitavo ano, como pelo
nono ano, foram muito similares, ou seja, quase os mesmos.
A pesquisa de campo além de ter contato com entrevistas, método para
avaliar os discentes, também contou com uma pequena amostragem de textos
redigidos por alunos da primeira etapa da pesquisa já mencionados anteriormente.
Ao serem solicitados para escrever suas respectivas opiniões, sobre o tema
“O que é mais importante: namorar ou internetar?”, buscou-se verificar se as
respostas obtidas durante a entrevista iriam de encontro com a escrita, com os vícios
e etc. dos textos redigidos por eles.
Os textos foram:
“O QUE É MELHOR NAMORAR OU ‘INTERNETAR”?
Eu gosto mas de interneta do que namora porque
Eu posso falar com meus amigo e com minha amiga
Eu também gosto de entra nos saites defutebool
E tambem interneta e muito melho do que namora
E tambem interneta e mais divertido essa e a minha redassão”
Neste primeiro texto, é nítida a falta da letra “R” nos vocábulos interneta,
namora, entra, melho ao invés de internetar, namorar, entrar, melhor. Também é
possível notar a presença de palavras repetitivas em curto espaço de palavras, erros
de concordância, ausência de pontuação, erros ortográficos e uso de uma
linguagem típica da fala e não da escrita.
60
“O QUE É MELHOR NAMORAR OU ‘INTERNETAR”?
Depende muito do momento.Adoro ficar na net, na maioria das vezes eu passo o
dia todo tc.tenho vários amigos que nunca nem vi, nem sei como é, conversamos
sobre tudo principal mente nossas vidas, desilusões, como foi nosso dia, mais o
ruim e quando precisamos de um ombro amigo, um a braço, ou alguém pra chorar
juntos ai pela net fica difícil. mais eu amo meus amigos da net tenho gente ate de
Portugal. Namorar tbm e MT bom e uma coisa mais real agente sabe que uma
coisa ñ substitui a outro, um namorado na net ñ e a msm coisa de um namorado
que ta sempre com vc, namorar e mto bom, mais mts vezes substitui o meu
namorado pela net. So para tc com meus amigos. Pow a net foi a melhor coisa
que criaram na minha opinião. Pow mais namorar tbm e MT bom sair, conversar,
dançar cortir a vida for da net.amoooo tudinhuu issooo...”
Já neste segundo texto a discente apresenta sua opinião sobre os dois lados
da internet. Pode-se perceber que esta aluna mostra-se não ser uma usuária
assídua da rede, uma vez que ela conhece e convive com os dois mundos, real e
virtual, sabendo distinguir o lado bom de cada um. Também é possível notar a
presença constante de abreviações, o uso do “internetês”, a falta de parágrafos,
forte presença da linguagem falada, gírias (Pow), erros de concordância e até
mesmo a ausência de letras maiúsculas ao iniciar uma frase.
“O QUE É MELHOR NAMORAR OU ‘INTERNETAR”?
N a minha opinião um ajuda o outro pq se vc tem vergonha de chega em uma
garota pode ir chegando nela pelo MSN ai na hora de fla com ela
pessoalmente jah tah mais tranqüilo.
Quando vc pega ela pela 1ª vez vc tem q ser educado para vc pode pega
mais vezes.
61
Iniciando uma análise pelo título, já é possível perceber o uso incorreto das
aspas, não só neste texto, mas nos anteriores também. Na primeira linha já é
notável o uso do “internetês” como em (pq, vc, fla). A presença do fonema “h” nas
palavras (jah e tah) oferece uma sensação de alongamento nas palavras. Rompe
justamente, com a principal marca do “internetês”, a economia de palavras.
Além da presença constante de traços típicos da fala, o autor do texto mostra
ter um vocabulário pouco rico em opções de palavras, visto que faz uso do pronome
“você” três vezes numa mesma linha. É importante observar que ele também mistura
números com letras em um texto que não apresenta caráter informativo, mas sim
opinativo. Cabe a seguinte reflexão: as escolas estão oferecendo aulas de redação,
incentivo a leitura, estão apenas ensinando gramática ou os nossos discentes não
estão apresentando o menor interesse com a aprendizagem?
O QUE É MELHOR NAMORAR OU ‘INTERNETAR”?
Eu naum defendo nem critico nenhum dos dois..., pois um ajuda o outro...
Por exemplo...
Vc quer chegar em uma garota e tah “meio” sem coragem de chegar nela... ai vc
começa a flar com ela no MSN...ai rola um lero mais inspontaneo...
Ai depois q vc jah fla com ela pego uma moral..ai vc chega nela pelo MSN...
“internet” ai depois fk... “namorar”!!!
O texto inicia-se com o “tão famoso” (naum), expressão típica do “internetês”.
Visto isso, é importante notar que o discente, produtor do texto em questão,
aparenta não saber utilizar os sinais de pontuação de forma adequada. Tanto neste
62
como nos demais, há a presença da expressão grafolinguística, conhecida como
“internetês”, bem como traços da linguagem falada num texto escrito.
“O QUE É MELHOR NAMORAR OU ‘INTERNETAR”?
Os 2 são bons podem dar vantagens ou não na minha opinião pessoao são bons
a internet serve pro desenrrolo o no namoro eh pro creu... boa combinação .papo
reto manow se o cara souber usar os 2 ele se da bem.
Neste pequeno texto, o que mais chama a atenção, é a linguagem. O autor
utiliza de uma linguagem, um tanto quanto, “vulgar, rústica”, mistura números com
letras e, além disso, peca na ortografia de algumas palavras.
O QUE É MELHOR NAMORAR OU ‘INTERNETAR”?
Não tem como dizer o que é melhor, depende do momento tem horas que você ta
afim de ficar na net e outras que ta afim de namorar, depende de quem é o cara e
de o que ta fazendo na internet... intão não tem como dizer com certeza os dois é
sempre bom (:
Ao realizar uma breve leitura do texto acima, nota-se que há a presença de
uma opinião estabelecida. Visto isso, pode-se notar que apesar de existir traços da
fala, e até mesmo falta de pontuação, temos um texto bastante razoável, para o ano
escolar da aluna e para um grupo em que 100% dos alunos fazem uso do
“internetês”.
Após todas as exposições dos dados obtidos durante a realização da
pesquisa de campo, não podemos esquecer que não é apenas a internet que está
banalizando a escrita, mas também as diversas formas midiáticas que cometem
equívocos na sua forma de redação. Será que há apenas um culpado, digamos
63
assim, quanto à fuga da norma culta e a adesão do “internetês”? É uma resposta
que vários estudiosos buscam.
A prova Brasil nos mostra que dos mais de 5,5 mil municípios brasileiros,
apenas 62 apresentam turmas de 1ª a 4ª série com um ensino público de qualidade
(nota 6,0). O ensino significativo da leitura e escrita é apontado como o maior
responsável pela boa qualidade da aprendizagem nos níveis iniciais. Após essa
informação, cabe-nos a seguinte pergunta: Seria o “internetês” “um vilão” da Língua
Portuguesa, apenas um novo advento sem maiores consequências, ou mais um
gênero textual com suas modalidades e características próprias? Um gênero textual
possui características que o fazem ser rapidamente reconhecido, que o diferencia
dos demais. Talvez possamos dizer que o “internetês” é mais um gênero textual,
uma vez que ele é fundamentado na escrita e a escrita, por sua vez é fundamentada
na fala que se renova constantemente.
Marcuschi (2002, p. 35) considera o trabalho com gêneros textuais “uma
oportunidade de se lidar com a linguagem em seus mais diversos usos autênticos no
dia-a-dia”. Para o autor, nada do que fizermos linguisticamente está fora de ser feito
em algum gênero.
A leitura de diferentes gêneros possibilita verificar as várias possibilidades
de realização da linguagem que cumprem objetivos entre seres que
interagem em grupos sociais específicos e em situações particulares.
Assim, é salientado que “a noção de gênero, constitutiva do texto, precisa
ser tomada como objeto de ensino” (PCN, 1999 p. 23).
Vistos dessa forma, os gêneros textuais podem ser apreendidos como
ferramentas indispensáveis de socialização, usados para compreender, expressar e
interagir nas diferentes formas de comunicação social de que participamos.
Para concluirmos esse capítulo, sugiro ao leitor, a seguinte reflexão de
NOGUEIRA, Sérgio apud HANSEN, Karla (2006):
Não se trata de rejeitar, diminuindo-lhe a importância, ou de elevar aos
céus, atribuindo-lhe poderes para “revolucionar” ou mesmo ameaçar a
língua portuguesa. As experiências em sala de aula têm a qualidade de
reconhecer o fenômeno e explorá-lo, mostrando sua dimensão real. Dessa
forma, é possível que o “internetês” ainda dê o que falar. Mas, com o
vocabulário reduzido de que ele dispõe, é provável que o debate, assim
como a própria vida do novo dialeto, não sejam capazes de ir muito longe
[...]
64
Considerações Finais
Um usuário competente na escrita e na fala é cada vez mais importante, não
só no mundo globalizado, mas também na condição efetiva para a participação
social. Sendo assim, o domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de
plena participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem
acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões
de mundo, produz conhecimento, etc.
De acordo com os PCNs, para poder ensinar Língua Portuguesa a escola
precisa:
Livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma “certa” de falar,
a que se parece com a escrita, e o de que a escrita é o espelho da fala, e
sendo assim, seria preciso “ consertar” a fala do aluno para evitar que ele
escreva errado. Essas duas crenças produziram uma prática de mutilação
cultural que, além de desvalorizar a forma de falar do aluno, tratando sua
comunidade como se fosse formada por incapazes, denota
desconhecimento de que a escrita de uma língua não corresponde
inteiramente a nenhum de seus dialetos, por mais prestígio que um deles
tenha em um dado momento histórico.
Dessa forma, a presente dissertação expressa a busca, por parte de uma
professora de português a lidar com adolescentes, em sua maioria internautas e
"netfalantes/netescribas", de elementos de compreensão e convivência com esse
linguajar e com seus usuários.
Preocupou-se, a pesquisa, não apenas com o "internetês" em si mesmo.
Atentou ela para suas razões, manifestações, eventuais consequências ou riscos,
tanto para os adolescentes quanto para os praticantes do “internetês”. Voltou sua
atenção também para a evolução da cultura em cujo seio se alastra ou para a
integridade, a pureza do idioma em que ele vai a constituir uma espécie de "linha
paralela" - no caso, a nossa "última flor do Lácio, inculta e bela".
Pragmaticamente, a pesquisa se ocupou, principalmente, em observar o
comportamento deste “falar e escrever ‘internetês’” e de uma amostra de seus
usuários, com a preocupação de contrastar as idiossincrasias desses “falares”
contra o pano de fundo dos valores pertinentes a Língua Portuguesa, das
65
variedades linguísticas, da valorização da língua materna, dos conhecimentos que o
aluno já traz ao chegar à escola, enfim daquilo que, na sociedade em que vive esse
aluno "internético", o aguarda em seu caminho para galgar espaços no mercado de
trabalho, na valorização pessoal e social.
Este jovem encontra-se, hoje, numa encruzilhada, e não apenas cultural, não
somente por seus falares destoantes da norma culta, mas também pelas
incompreensões e rejeições a isto relacionadas.
Assim, as novas tecnologias, principalmente a Internet, trazem para os
professores um novo desafio na forma de ensinar. Diante de tamanha mudança,
pais, professores e educadores de maneira geral, estão cada vez mais preocupados
com a linguagem predominante no ambiente virtual, o “internetês”.
Cabe a pergunta: haveria motivos para tanto alarme diante do fenômeno
“internetês”? A pesquisa sugeriu que não. Os dias passam, a vida passa, as
pessoas mudam e por que não aconteceria o mesmo com as coisas que nos
cercam? A mudança é inevitável na vida do ser humano, no mundo, mas para tanto
é preciso que o homem evolua, para que assim evoluam também nossas formas de
agir, pensar e para que nossa qualidade de vida consequentemente melhore.
Em suma, a pesquisa bibliográfica, seguida de uma pesquisa de campo,
pôde detectar, que a nova modalidade de escrita usada pelos internautas,
“internetês”, influencia a ortografia dos estudantes tanto na prática escolar quanto,
presumivelmente, na vida social.
Dado o caráter, tão recente, da voga do “internetês”, e a escassez, ainda
hoje, de estudos e reflexões a respeito desse novíssimo objeto de estudo, não se
tem ainda condições de afirmar, com segurança, todos os possíveis pontos
“positivos” e “negativos” que ele trouxe e/ou trará.
Pode-se inferir, ao analisarmos com cautela os dados obtidos durante a
pesquisa de campo e bibliográfica, que tanto os alunos das escolas particulares
66
quanto os da escola pública analisada revelam influência na grafia devido ao
excessivo uso do “internetês”.
Também se pode afirmar que a pesquisa pôde nos aproximar mais da vida
dos alunos, entendendo-os melhor e acompanhando-os de perto. E este contato
mais estreito, essa busca de compreensão do fenômeno estudado, construíram esta
dissertação de modo a mostrar, não apenas o internetês como interveniente na
comunicação de alunos do quarto ciclo do ensino fundamental, mas também como
mais um gênero textual a reafirmar o poder de permanente recriação que a
linguagem e as línguas humanas revelam através dos tempos.
67
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70
APÊNDICES
APÊNDICE 1
Quadro de emotions e abreviações:
X-) com vergonha ou tímido
:- ) estou feliz
B-) estou feliz de óculos
:- ( triste ou com raiva
:- )))) estou gargalhando
<:- ) você fez perguntas bobas
( :-... mensagem de partir o coração
:-/ estou perplexa
:- 0 estou impressionada
:- P dando língua
(:-( estou muito triste
:-x mandando beijo
:-D rindo
:´-( chorando
:-0 oh, não!
[]´s abraços
(:-) careca
:-) feliz
:-( triste
B-) batman
:- )> barbudo
%+( espancado
?-) olho roxo
R-) óculos quebrado
:^) nariz quebrado
:-t mal-humorado
__________________________________________________________
Emotions: símbolos utilizados na rede, principalmente no MSN para expressar algum sentimento por meios de carinhas ao
invés de palavras.
71
X-) estrábico
:´-( chorando
i-) detetive
:-)´babando
<:-) pergunta estúpida
::-) usuário de óculos
_m(o-o)m_ espiando por cima do muro
:-}+:-)=(_)> vamos tomar um chopinho
:-´) resfriado
:-C queixo caído
:-# beijo
:+) nariz grande
:-D gargalhando
:-} olhando maliciosamente para alguém
(-: canhoto
:-9 lambendo os lábios
:-{ bigode
(-) precisando de um corte de cabelo
:^) nariz deslocado
=:-) punk
O:-) santo
:-@ gritando
:-O chocado
:-V berro
:-i fumante
:-6 gosto azedo da boca
:-V falando
*-) drogado
:-T lábios selados
:-p língua na bochecha
:-/ indeciso
:- )) muito feliz
:- (( muito triste
:-e muito infeliz
72
D:-) usando boné
[:- ) usando headfones
:- (#) usando aparelho dentário
;-) piscando
:-7 sorriso irônico
I-O bocejando
Com torna-se C ou C/
Quando torna-se Kdo, qdo ou qd ou qnd
Quanto em kto ou qto ou qnt
Donde torna-se dd
Comigo torna-se cmg
Para torna-se p/ ou p
Beleza torna-se blz
Não torna-se ñ, n, nom ou naum
Também torna-se tbm, tb
Teclar torna-se tc
Imagem torna-se img
Como torna-se cmo, cm
Firmeza torna-se fmz
Muedues! Variação de Meu Deus!
Hehehehe q é usada como risada
Sei lah que substitui sei lá
Pqp que significa p*** que pariu
FDP que significa filho da p***
Us mano i as mina que é usado para descrever sujeitos que seguem o estilo hip-hop
Kd vc? Que simboliza Cadê você?
Flw que simboliza Falou
T+ que simboliza Até mais
O q? que simboliza O quê?
Vc que simboliza Você
C que simboliza se
Vlw que simboliza Valeu
Eh que simboliza è
Mto que simboliza Muito
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Blz que simboliza Beleza
Tb ou tbm que simboliza Também
+ que simboliza mais
- que simboliza menos
+/- que simboliza mais ou menos
Qm que simboliza Quem
Xau que simboliza Tchau
Aff que simboliza Afe
Tah que simboliza Tá
Tou que simboliza estou
Oby que simboliza obviamente
Axu que simboliza Acho quê
Vsf que simboliza vai se f****
B4 (before) = depois
hehehehehe = tipo de risada
Beijaum= beijam
HUMPF= demonstra desagrado
BLZ ou blz ou Blz = beleza
Ixi, putz, = exclamações
BUÁÁÁÁ = choro
Lammer = pessoa idiota
CHUIF = choro
Naum = não
SNIFF ou sniff!! = choro
Nomidade = nome e idade
CD,cd, kd, KD = cadê
Otoh (On the other han) = por outro lado
Chatear = conversar com alguém no CHAT
PVT-me (Private me) = chamar alguém para a sala.
Cool = legal (o mesmo que rulez)
Sacmskssssss = representa beijo
Fonte: ZAGO, Rodrigo do Prado, Knowledge Home Page. Internet <http://www.terravista.pt/FerNoronha/2312/index23.ht>
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APÊNDICE 2
ENTREVISTA COM PROFESSORES
Escrevendo na Internet, as pessoas abreviam as palavras de várias
maneiras. Esta escrita é conhecida como INTERNETÊS. Pedimos-lhe suas opiniões
sobre isto. Elas serão de imensa valia para minha dissertação de mestrado em
Cognição e Linguagem, UENF, e desde já lhe expresso meu agradecimento.
1 - Por favor, informe seu nome, escola em que trabalha e endereço eletrônico.
Fernanda Pereira Moreira – Externato campista.
2 - Há quanto tempo trabalha como docente de Língua Portuguesa?
Uns 15 anos.
3 - Durante toda a sua carreira profissional, que tipos de "erros de português” têm
sido mais frequentes, e quais são aqueles que, a longo prazo, considera mais
danosos/ mais difíceis de serem corrigidos?
Erros de concordância, acentuação, acentos diferenciais.
4 – De acordo com sua experiência, quais os (eventuais) principais “malefícios” e
“benefícios” que o advento da Internet ocasionou?
Malefícios – na escrita de alguns, pois os erros, o computador conserta.E benefícios,
nenhum, pois tudo que querem pesquisar já vem pronto e a maioria nem se dá ao
trabalho de copiar.
5 – Else Martins dos Santos considera que: “A linguagem se renova quando se
renovam os meios” Você concorda com isso? Em caso afirmativo, o que diria sobre
Internet/ “Internetês”?
Sim, se usada de maneira adequada com escrita e concordância corretas e não com
o intenetês.
6 – A partir do surgimento do “Internetês”, você pôde observar mudanças no
rendimento escolar dos seus discentes? Quais positivas e/ou negativas?
Como a escola que eu trabalho é particular, é difícil usarem o internetês em suas
atividades.
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7 – Sabe-se que, com cada vez mais frequência as pessoas estão abreviando
palavras. Você também costuma abreviar palavras em questões formais ou
informais? Qual é a sua opinião a respeito disso? Em que contextos e em que tipos
de situações o uso de tais grafias seria válido?
Informais. Não concordo, porém a pressa fala mais alto. Seria válido apenas em
poucas situações informais.
8 - CARLOS E FRANCO apud JUSTI (2008) afirmam que "A Internet trouxe de volta
aqueles que fugiam da escrita. Quem jamais havia escrito algo além de seus nomes
próprios foi obrigado a elaborar mensagens para seus chefes, familiares ou mesmo
namorado (a)". Qual sua opinião em relação a afirmação dos autores acima?
Não acho que com a internet ensinou a escrever. As pessoas podem escrever mais,
pois ficam mais tempo no computador, porém com isso apareceu o internetês que
virou mania e eles (os jovens) acabam não diferenciando onde e como devem usálo.
9 - Desejando ampliar sua colaboração, que muito lhe agradecemos,sinta-se à
vontade para o fazer a seguir.
Data 07/11 /2008
Respondida em 24/11/08
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APÊNDICE 3
ENTREVISTA COM OS ALUNOS (PRIMEIRA ETAPA)
Entrevista realizada pelo MSN com os discentes da rede pública e privada do
oitavo ano do ensino fundamental.
1 – Qual seu nome, onde você estuda e quantos anos você tem?
2 – Com que frequência você utiliza o computador/internet?
3 – Quantas horas por dia você permanece na internet?
4 – Qual é a disciplina de que você menos gosta ou tem dificuldade? Por quê?
5 – Quais sites você costuma acessar na rede?
6 - No mundo contemporâneo (atual) você conseguiria viver sem a internet? Por
quê?
7 – Você concorda que a linguagem utilizada na internet (internetês) é mais atraente
que a linguagem da norma culta?
8 – Você costuma elaborar textos com a mesma ortografia utilizada no MSN?
9 – Por acaso você se preocupa com a ortografia ao “conversar” (de modo geral)
com as pessoas?
10 – Você concorda que o “internetês” atrapalha o desempenho do aluno na vida
escolar (principalmente no que se refere à língua portuguesa)?
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ENTREVISTA COM OS ALUNOS (SEGUNDA ETAPA)
Escrevendo na Internet, as pessoas abreviam as palavras de várias
maneiras. Esta escrita é conhecida como INTERNETÊS. Pedimos-lhe suas
opiniões sobre isto.
1- Qual o seu nome e idade?
2- Em que colégio e série você estuda atualmente?
3- Você sempre estudou em escola particular? No caso negativo, em que série
passou para ela?
4- Há alguma disciplina que você aprecie menos que as demais ou sinta maior
dificuldade? Num caso ou no outro, por quê?
5- Você navega diariamente na rede? Quantas horas por dia você permanece na
Internet?
6- O "Internetês" está fazendo cada vez mais parte da escrita de milhares de
pessoas. Ele também já faz parte da sua? No caso afirmativo ou no caso negativo,
por quê?
7- Qual a importância que a Internet tem em sua vida?
8 - Para você, o que é mais importante? A internet ou o computador, como veículo
dela? Para você, o uso do computador sem a Internet não teria a mesma
importância? Por quê?
9- Atualmente, seus dias e noites, sua vida enfim, teriam o mesmo prazer sem a
internet? Por que sim, ou por que não?
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10 - Algumas pessoas imaginam que "A linguagem se renova, quando se renovam
os meios." Você concorda com isso? No caso afirmativo, você diria que a “Internet”
mudou sua linguagem?
11 - Você concorda que o fato de uma pessoa permanecer por muito tempo e
frequência na rede, usando palavras derivadas do "Internetês" durante a
comunicação, pode ocasionar dúvidas na hora de escrever corretamente uma
palavra? Por quê?
12- Alguma vez já lhe aconteceu algo assim? Como foi?
13 - Você acredita que, com o impacto do "Internetês", a Língua Portuguesa poderá
sofrer alterações profundas e duradouras? Por que sim, ou por que não?
14- Você acredita que, com o impacto do “Internetês”, aquelas alterações seriam
positivas ou negativas? Por quê?
15- Quais sites você mais acessa na rede?
16- Para completar sua colaboração, que muito lhe agradecemos, faça o favor de
dizer, num pequeno parágrafo, o que pensa sobre o ensino do português que lhe
tem sido oferecido nas escolas.
Download

internetês - uma dentre as possíveis influências na escrita