INTERNETÊS: UMA DENTRE AS POSSÍVEIS INFLUÊNCIAS NA ESCRITA DA INTERNET SOBRE A ESCRITA DOS DISCENTES DO QUARTO CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL EM TRÊS ESCOLAS (PÚBLICA E PRIVADAS) DE CAMPOS DOS GOYTACAZES LUANA MANHÃES TAVARES UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO – UENF CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ FEVEREIRO-2010 LUANA MANHÃES TAVARES INTERNETÊS: UMA DENTRE AS POSSÍVEIS INFLUÊNCIAS NA ESCRITA DA INTERNET SOBRE A ESCRITA DOS DISCENTES DO QUARTO CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL EM TRÊS ESCOLAS (PÚBLICA E PRIVADAS) DE CAMPOS DOS GOYTACAZES Dissertação apresentada ao programa de PósGraduação Stricto Sensu em Cognição e Linguagem do Centro de Ciências do Homem da Universidade Estadual do Norte Fluminense “Darcy Ribeiro”- UENF, como parte das exigências para obtenção de título de Mestre em Cognição e Linguagem. Orientador: Prof. Dr. Mário Galvão de Queirós Filho CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ 2010 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca do CCH / UENF 011/2010 Tavares, Luana Manhães Internetês : uma dentre as possíveis influências na escrita da internet sobre a escrita dos discentes do quarto ciclo do ensino fundamental em três escolas (pública e privadas) de Campos dos Goytacazes / Luana Manhães Tavares -- Campos dos Goytacazes, RJ, 2010. 78 f. : il Orientador: Mário Galvão de Queirós Filho Dissertação (Mestrado em Cognição e Linguagem) – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Centro de Ciências do Homem, 2010 Bibliografia: f. 67 - 69 1. Internet. 2. Mídia – Influências Sociais. 3. Comunicação e Cultura. 4. Escrita. 5. Linguagem. I. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Centro de Ciências do Homem. II. Título. CDD – 303.4833 AGRADECIMENTOS Institucionalmente: A todo o corpo docente que pôde ter contribuído de alguma forma para meu crescimento pessoal. Sou intensamente grata, também, por todas as palavras de incentivo dos meus professores em todos os momentos difíceis dos quais percorri durante todo o mestrado. Sem qualquer formalidade: Primeiramente a Deus, por me proporcionar a oportunidade, a força e a sabedoria para iniciar e concluir mais uma etapa em minha vida. Sou muito grata em especial ao meu orientador Mário Galvão, a sua esposa Edissa Fragoso e a todos os professores que contribuíram para que eu chegasse até aqui. Agradeço também aos meus pais, familiares e ao meu noivo, os quais presenciaram grande parte da minha angústia, falta de paciência e noites mal dormidas. Agradeço, enfim, a todos os que de alguma forma puderam contribuir para cada página dessa pesquisa que concretiza um dos grandes sonhos da minha trajetória nesta vida. “Navegar é preciso”. Fernando Pessoa “A linguagem se renova quando se renovam os meios”. Else Santos “Os livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”. Mário Quintana SUMÁRIO Resumo .......................................................................................................... 08 Abstract ............................................................................................................ 09 Introdução ..................................................................................................... 10 1 – Caracterização da Linguagem.................................................................. 11 2 - O Surgimento da Internet................................................................. 13 2.1 Internetês: conceito ...................................................................... 26 2.2 reflexões sobre “Internetês” ....................................................... 27 3 - O uso da escrita na Escola .................................................................. 38 4 - Análise do “Internetês” na escola ........................................................... 48 Considerações Finais -................................................................................ 64 Referências – ........................................................................................... 67 Apêndice - ................................................................................................ 71 RESUMO Pesquisa e reflexões, a partir de dados colhidos entre escolares do ensino fundamental das redes pública e privada, acerca das possíveis interferências da internet no linguajar dos internautas, oral e escrito. O uso do “internetês” como problema cultural, sua definição e características nas salas de bate-papo e influência na vida social e escolar. Diversas opiniões acerca do uso do “internetês”. Análise dos primeiros contatos da criança com a sociedade, com sua vida escolar e consequentemente com a escrita. A influência da mídia na vida das pessoas bem como seu poder de atração. Análises dos resultados obtidos durante a pesquisa de campo. Busca de uma possível resposta diante da interferência ou não do "internetês" na vida dos discentes e, para além dela, sobre a língua portuguesa. Palavras-chave: Internet. Internetês. Escrita do idioma. Língua Portuguesa. ABSTRACT Research and reflections based on data collected from elementary students from public and private schools, about the possible influence of Internet use on language, oral and written, of those students. The use of the Internet typical lingo as a cultural problem, its definition and characteristics on the chat rooms and also the influence it may causes in student’s social life, as well as at school. Several reviews about the internet lingo. Analysis of the first child’s contact with society, with his life at school and, therefore, with the writing. The influence of media on people’s lives and their power of attraction. Analysis of the results obtained during the field research. The Search for a possible answer in face of the way how the internet lingo interferes in the lives of students and, beyond that, on the Portuguese language. Keywords: Computer, language, Portuguese. Internet, Internet lingo, Writing 10 INTRODUÇÃO A língua, em suas diversas formas e variantes é uma entidade viva, dinâmica, usada pelo ser humano para se comunicar com seus semelhantes, trocar informações, difundir idéias e conceitos. A presente dissertação, cujo tema é: “Internetês: Uma dentre as possíveis influências da escrita na Internet sobre a escrita dos discentes do quarto ciclo do ensino fundamental em três escolas (pública e privadas) de Campos dos Goytacazes” tem como propósito analisar algumas das possíveis influências que essa nova modalidade de escrita pode ocasionar no ensino da Língua Portuguesa, tendo como finalidade fazer um intercâmbio entre presente/passado, objetivando mostrar os métodos contemporâneos, imersos em altas tecnologias (muitas vezes utilizadas no ensino), como, por exemplo, o computador, que, presumivelmente, pode auxiliar o processo educacional, uma vez que é mais uma ferramenta atual e que está disponível no mercado. Mediante a pesquisa teórica e os resultados obtidos na pesquisa de campo propõe-se apresentar alguns pontos “positivos” e “negativos” do “internetês”, bem como mostrar algumas das possíveis consequências do uso contínuo dessa forma de linguagem na grafia dos alunos do ensino fundamental da rede pública, Liceu de Humanidades de Campos (8º ano), e particulares de ensino, Anglo Santos Dumont (8º ano) e Externato Campista (9º ano) na cidade de Campos dos Goytacazes. Torna-se necessário esclarecer que a pesquisa de campo, realizou-se em duas etapas. A primeira etapa foi realizada no ano de dois mil e sete com alunos do oitavo ano das escolas já mencionadas anteriormente. Já a segunda etapa ocorreu no ano de dois mil e oito com alunos do nono ano do ensino fundamental de uma escola também já citada anteriormente. O principal objetivo de não realizar-se toda a pesquisa de campo num mesmo período deve-se ao fato de se pretender acompanhar os resultados relatados durante a pesquisa paralelamente ao avanço das leituras e consequentemente, experiência no assunto. Outro fator relevante foi a possibilidade de haver uma possível mudança na escrita e nos costumes dos adolescentes internautas, que ainda seriam entrevistados, de um ano para o outro, visto que o período de doze meses pode enriquecer ou até mesmo deteriorar a escrita de alguém. 11 Capítulo 1 Caracterização da Linguagem Segundo o esquema, de Willian James (2007), “A linguagem é um processo mental de manifestação do pensamento e de natureza essencialmente consciente, significativa e orientada para o contacto inter-pessoal”. O termo linguagem tem sido tomado com várias acepções. Para alguns, é a faculdade ou potência que tem o homem para entrar em comunicação. Para outros, linguagem é sinônimo de fala. Independente da classificação, a linguagem é um meio de expressão das diferentes formas comunicativas. (TONDO, 1973, 31). Através do processo mental de manifestação do pensamento, da comunicação entre os homens, etc. o ser humano operacionaliza a sua capacidade de se comunicar, expor suas idéias, pensamentos e emoções através do uso de símbolos, através de uma linguagem. À medida que cada povo, cada grupo tem uma linguagem própria, cada comunidade de falantes terá uma língua própria. Uma vez que a língua demarca características territoriais e culturais de um povo, de uma nação, não devemos pensar em língua melhor ou pior, língua superior ou inferior num país onde a diversidade linguística é tão marcante. Diante da diversidade de línguas existentes em todo o mundo, o uso da língua poderá ser considerado certo ou errado, somente, de acordo com o período avaliado. Exemplo da mudança histórica, segundo L.F.L Cintra,1972: • A forma de tratamento “Vossa Senhoria” é atestada nos meados do século XV como expressão reservada ao rei. Já no final do século XVI, esta perde seu estatuto de realeza, sendo empregada no trato com arcepisbos, bispos, duques, marqueses, condes, além de uma gama de altos funcionários (como, por exemplo, vice-rei ou governador das Índias). Segundo Saussure (1989, p. 115), a língua é uma instituição pura e está inserida na complexidade cultural das massas sociais e do tempo. Portanto, 12 podemos dizer que a língua evolui de acordo com as necessidades e práticas de comunicação entre os indivíduos e grupos sociais. Sendo viva e dinâmica ela estará em constante evolução. Esta ocorre primeiramente na fala, para consequentemente ser incorporada a escrita. O domínio da linguagem verbal é uma das características essenciais e distintivas entre o homem e os outros animais, propiciadora do desenvolvimento sociocultural da humanidade. Sendo assim, todo ser humano provido de linguagem, pode se comunicar através das mais variadas formas de linguagem: verbal, nãoverbal, gestual e etc. Assim como não devemos confundir as várias formas de linguagem, não devemos confundir as modalidades da língua, a oral e a escrita. A escrita representa um estágio posterior de uma língua. Enquanto a língua falada é mais espontânea e é acompanhada pelo tom de voz, algumas vezes, incluindo-se fisionomias, gestos, etc. a língua escrita não é apenas a representação da língua falada, mas sim um sistema mais disciplinado e rígido, uma vez que não conta com o jogo fisionômico, as mímicas e o tom de voz do falante. Diante de tamanha riqueza, de tamanhas descobertas, inovações tecnológicas, etc. a língua dificilmente sairia imune. Muitas palavras que existiam somente na linguagem falada, já foram incorporadas a língua escrita. Mas as mudanças não pararam. Com a chegada da internet, a linguagem utilizada pelos usuários, dentro dos sites de relacionamento (via internet), também sofreu alterações, uma vez que deixou de ser uma linguagem escrita, para ser uma fala oralizada, ou seja, uma mistura da linguagem falada com a linguagem escrita. Esse modismo, essa expressão grafolinguística, com características próprias e “febre’ entre milhares de adolescentes é conhecido como “internetês”. 13 Capítulo 2 O Surgimento da Internet Atualmente a informática, sobretudo, a internet proporciona aos seus usuários a troca de informações com rapidez e "segurança". Na sociedade globalizada, as inovações tecnológicas evoluem a uma velocidade estonteante, de forma que, acompanhar tais novidades, torna-se uma tarefa quase impossível. As tecnologias se sucedem uma a uma e o novo de hoje é fruto de um “amadurecimento”, de uma evolução que se desenvolve progressivamente. Há um processo evolutivo das sociedades humanas e o avançado de ontem é o ultrapassado de amanhã. Dessa forma, o modo de vida das pessoas vai se modificando gradativamente. (SOUZA 2003, p. 51). Portanto, não há como negar que o computador, internet etc., estão cada vez mais presentes no nosso cotidiano. A simplificação que as novas tecnologias oferecem a partir da chegada da internet tem provocado inúmeras mudanças em nossa sociedade. Atualmente já não é mais necessário sair de casa para acessar a conta bancária, para fazer compras, ler um jornal, etc. Com tantas transformações, simultaneamente, a escrita também sofre alterações. É o fenômeno conhecido como "internetês". Segundo Souza (2003, p. 65) "A Internet é uma rede mundial de computadores, ou seja, é uma rede que envolve milhares de outras redes", e prossegue: Uma rede de computadores é composta por um computador central (servidor), e outros computadores (cada um sendo uma estação de trabalho) que funcionam trocando mensagens entre si, através do servidor. Quando se interligam dois servidores, têm-se os computadores de ambas as redes trocando mensagens entre si, como se fosse uma única rede. Pois bem, imaginemos milhares de redes, localizadas nos mais diversos lugares do mundo, interligadas, através de seus servidores, de uma maneira bem simples. Isso é Internet. Esta proposta de comunicação surgiu como resultado da guerra fria envolvendo Estados Unidos da América (USA) e União Soviética. Em 1957, os EUA criaram a ARPA (Advanced Research Projects Agency), com a missão de desenvolver e pesquisar alta tecnologia para as forças armadas. O primeiro grande passo, rumo à Internet, surgiu com a publicação de Paul Baran, em 1964, do tratado sobre redes de comutação de pacotes 14 intitulado "On Distributed Communication" (Tratado Sobre Comunicação Distribuída) A partir da chegada do computador, e mais precisamente da Internet, milhares de serviços passaram a ser intermediados pelo uso do sistema virtual. Atualmente a rede oferece uma infinidade de serviços como pesquisas, contatos, compras e vendas os quais agilizam a vida da sociedade como um todo de forma direta ou não. Tyler (1995) apud Santos (2005) também discorre sobre o assunto e afirma que: “A Internet, uma rede global amorfa de milhares de computadores interligados que enviam e recebem informação - vem importando uma série de transformações nos hábitos das pessoas”. Pensando nisso, podemos perceber que milhares de pessoas usam de alguma forma, direta ou indiretamente, algum serviço oferecido pela rede, embora a imensa maioria das pessoas nem mesmo se dê conta disso, isto é, do fato de que, ao solicitar um saldo num caixa eletrônico ou fazer um pagamento por cartão de crédito, a pessoa está utilizando teleprocessamento de dados, ou seja, um recurso oferecido pela internet. Apesar de tantas facilidades que as tecnologias oferecem, milhares de pessoas apresentam resistência perante o desconhecido, em outras palavras, resistem àquilo que lhes oferecem dificuldade. É o exemplo das salas de bate-papo oferecidas pela rede, que utilizam a todo o momento um tipo de linguagem (internetês), que ainda não é compreendida por todos. Assim, o "internetês" é uma febre entre milhares de adolescentes, e um "terror" para os que não compreendem essa nova modalidade de escrita e, consequentemente, para os professores. “A informática superou os outros meios de comunicação, principalmente pela velocidade com que as coisas se realizam. Neste universo, o básico é buscar e saber usar a informação”. (SOUZA 2003, p. 53). Não há como negar a presença cada vez mais constante do computador no nosso dia-a-dia, a ponto de sua frequência ser quase obrigatória. Evidentemente não podemos afirmar que atinge todos com a mesma intensidade e frequência, porém observa-se que a informática avança impetuosamente numa velocidade, comodidade e até mesmo facilidade jamais observadas em outras tecnologias existentes anteriormente. Um dos grandes motivos da atração pela rede é a facilidade de informações, contatos, compras e vendas. Basta apenas um toque 15 para alcançar milhares de coisas que se deseja. Toda essa facilidade/mobilidade é fruto das novas tecnologias, que estão evoluindo cada vez mais. Até poucos anos atrás as pesquisas escolares eram quase todas realizadas em bibliotecas. Hoje, um bom número de alunos, por terem computadores e internet em suas casas, ou até mesmo na escola, não se deslocam, até porque a rede oferece uma imensidade de informações, livros on line, etc. Opina Levy (1996):” A informática parece reencenar, em algumas décadas, o destino da escrita: usada primeiro para cálculos, estatísticas, a gestão mais prosaica dos homens e das coisas, tornou-se rapidamente uma mídia de comunicação de massa (...)” É a tecnologia cada vez mais presente na vida de milhares de pessoas. A rede oferece diversos tipos de serviços, os quais algumas pessoas ainda desconhecem. Esses serviços variam de uma simples pesquisa até a compra de veículos, aparelhos, etc. É válido lembrar que mesmo diante de todos esses recursos oferecidos pela rede, o computador, mais precisamente a internet, ainda não é assimilado por todos. Estamos caminhando para isso. Souza (op.cit.,p. 66) faz um estudo diacrônico sobre a Internet e afirma que: Durante duas décadas, a Internet ficou restrita ao ambiente acadêmico e científico, o que lhe dá características acadêmicas. A sua utilização para fins comerciais foi liberada a partir de 1987, entretanto, popularizou-se somente no início da década de 90. Começaram a surgir nos Estados Unidos os primeiros provedores de acesso. Deste modo, centenas de milhares de pessoas começaram a colocar informações na rede, tornandoa cada vez mais atraente, gerando a febre que hoje é a Internet. Passados alguns anos, a Internet passou a popularizar-se devido ao advento do micro computador pessoal. Ele sim foi um divisor de águas para que a Internet se tornasse essa febre que é atualmente. Apesar de empresas, bancos, supermercados, lojas etc. utilizarem o computador, o número de máquinas pessoais é possivelmente maior. Depois da revolução dos PC (personal computer) nos anos 80 e 90, temos a revolução dos laptops, ou notebooks, e hoje já estamos na era dos computadores de mão e muitas funções de computação, inclusive internet, até mesmo edição de textos e outras, é feita até mesmo nos próprios celulares. Tudo isso se tornou possível pela expansão tecnológica que a Internet proporcionou. Atualmente temos a internet “no ar”, (ou seja, internet sem fio conhecida como wireless), via rádio, linha 16 telefônica etc. Há uma imensa variedade de possibilidades para os mais diversos tipos de usuários. Muitas pessoas deslocam-se para diversos centros, como praças de alimentação em shopping centers, devido ao uso grátis da internet sem fio. Este é um fenômeno tecnológico presente cada vez mais para um número maior de pessoas. A internet oferece dois tipos de comunicação: síncrona e assíncrona. A primeira pode ser observada em chats (salas de bate-papo), onde a troca de mensagens ocorre simultaneamente. Já a comunicação assíncrona pode ser observada nos e-mails nos quais há intervalos até de dias entre o envio e o recebimento das mensagens. Mesmo com essa enorme acessibilidade que a rede vem oferecendo a diversas pessoas, independentemente de etnias e culturas, há quem resista às tecnologias. É válido ressaltar, porém, que qualquer pessoa é capaz de dominar essa ferramenta (computador/ internet) e desfrutar de uma vida mais cômoda e até mesmo descomplicada. Os números da Internet, que já são gigantescos, crescem em proporções geométricas. A Internet possui milhares de computadores interligados em mais de 100 países. É impossível contabilizar o número correto de usuários que a utilizam. A cada dia ingressam aproximadamente 150 mil novos usuários, sem contar que muitos usuários possuem acesso através de diversos provedores simultaneamente, utilizando, muito provavelmente, identidades diferentes. (SOUZA, 2003, p. 66). Esse é o fenômeno da Internet compartilhada. Compartilhada, porque atende a diversas pessoas com apenas uma conexão. Isso normalmente ocorre entre vizinhos ou até mesmo em pensões e vilas, nas quais as casas são bem próximas umas das outras, possibilitando assim que um fio vá até outra casa para que haja uma interconexão. Nesse caso, apenas uma pessoa se conecta, mas na verdade várias estão usufruindo dos benefícios da rede. Portanto, não há como contabilizar um número exato de usuários. Não podemos deixar de relatar que o custo de uma assinatura mensal para uso da internet não é algo tão barato. Até porque não basta ter apenas o computador para fazer uso dos serviços disponíveis na rede. Num país com tantos problemas sociais, como o nosso, e onde milhares de famílias sobrevivem apenas com um salário mínimo, a necessidade de possuir um computador em cada residência ainda é um sonho muito distante. 17 Essas observações demonstram a maneira como a Internet foi ganhando espaço na sociedade e no mundo. Se antes, a Internet era restrita a apenas um grupo, hoje ela é disponível para todos, (ao menos potencialmente, posto que, as "barreiras" e "impossibilidades" tecnológicas pelas simplificações referidas, tanto pela agilização no nível da portabilidade dos computadores e dos modems, quanto pelas reduções de custos), isto sem se levar em conta outros graves fatores que determinam "exclusão econômica e social + exclusão digital". Todavia, dados tais fatores, há ainda um enorme percurso a superar até que de fato o binômio informática/ internet seja realmente acessível ao grande público: temos os problemas econômicos, sociais e culturais, temos o chamado "analfabetismo informático" e assim por diante, a constituírem elementos da exclusão digital. Diante de toda essa acessibilidade e facilidade que nos é oferecida, atualmente, recordemos o surgimento do primeiro computador segundo Lévy (1998, p. 101): O primeiro computador, o Eniac dos anos 40, pesava várias toneladas. Ocupava um andar inteiro em um grande prédio, e para programá-lo era preciso conectar diretamente os circuitos, por intermédio de cabos, em um painel inspirado nos padrões telefônicos. Nos anos cinqüenta, programavase os computadores transmitindo à máquina instruções em código binário através de cartões e fitas perfuradas. Os cabos ainda existiam, mas recolheram-se no interior da máquina, cobertos por uma nova pele de programas e dispositivos de leitura. Falemos agora de "Exclusão digital". O adjetivo "digital", aqui, refere-se a um aspecto, ou, se assim se quiser, a uma modalidade do fenômeno histórico e cultural da "exclusão", que pode ir desde os aspectos étnicos até os econômicos e políticos, passando pela exclusão em relação à informação e ao conhecimento. Todo período de obscurantismo vivido pelo Homem teve suas formas prediletas de exclusão. Em "O nome da rosa", Umberto Eco trata do fenômeno hoje conhecido como epistemicídeo, ou seja, a exclusão pela interdição do acesso à informação e, consequentemente, ao próprio conhecimento. O romance se passa na Itália no ano de 1327, tendo como cenário um mosteiro beneditino, em que misteriosas mortes são o alvo principal da trama. Dentro do mosteiro, havia uma biblioteca à qual apenas alguns monges tinham acesso. Essa restrição, além de despertar a desconfiança do monge 18 Guilherme de Baskerville, por haver uma ligação dos mortos com a biblioteca, fez com que ele ficasse mais atento aos monges que tinham acesso a ela, fazendo assim, uma ligação entre as mortes e os livros, ou seja, querer acesso ao conhecimento poderia ter consequências mortais. Kledson Camargo (s.d) faz uma análise sobre a restrição de acesso à biblioteca e diz que: (...) a biblioteca tem que ser secreta, porque ela inclui obras que não estão devidamente interpretadas no contexto do cristianismo medieval. O acesso da biblioteca é restrito, porque há ali um saber que é ainda estritamente pagão (especialmente os textos de Aristóteles), e que podem ameaçar a doutrina cristã. Ainda quanto ao acesso à informação, Celso Antunes (2001, p. 11) faz um paralelo entre as maneiras de receber e compreender as informações e conhecimentos de anos atrás e as contemporâneas, seguidas de altas tecnologias e afirma que: Vivemos um período histórico de extrema banalização de informações. Estas que antes chegavam aos poucos, capazes de serem assimiladas, comentadas e, portanto, mantidas nas lembranças, foram literalmente "atropeladas" por um avanço notável dos meios de comunicação que nos traz de toda parte, a cada segundo, uma infinidade imensa de saberes. O rádio, a televisão, os vídeos, mas ainda muito mais expressivamente a Internet, fizeram com que as informações ganhassem uma nova dimensão e incomensurável volume, alterando de forma substancial o papel da escola e a função do professor. Observe-se que Antunes faz uma breve reflexão sobre a forma como as informações chegavam antigamente em relação à de hoje. É válido ressaltar que não é pelo fato de surgir o novo que podemos descartar os demais meios de comunicação. O importante é aprender a se comunicar, independentemente do meio disponível no momento. O autor também nos mostra que, a partir da chegada da Internet, as informações criaram um incomensurável volume que, ao mesmo tempo, tem seu lado positivo e negativo. Antunes também deixa bem claro que é necessário saber absorver essa nova forma de receber informações. É preciso cautela. Qualquer pessoa é capaz de pesquisar sobre algo com apenas um toque, através da rede mundial de computadores – internet, porém as informações pesquisadas, na rede, nem sempre são de fontes confiáveis, visto que muitos 19 internautas escrevem o que pensam sobre algum assunto, sem ao menos ter um pressuposto teórico. Basta a esse respeito pensar no fato de que, atualmente, muitos estudantes e pessoas em geral supõem que recorrendo a Wikipédia, por exemplo, para esclarecer alguma coisa ou algum trabalho, estejam valendo-se de conhecimentos abonáveis, o que raramente ocorre, tendo em vista que a Wikipédia é uma ferramenta em que qualquer pessoa pode incluir uma informação. É como se fosse um livro aberto, onde pessoas podem acrescentar algo mais. Esse é o grande problema, visto que não sabemos quem são essas pessoas que acrescentam “esse algo mais”, se são letradas, formadas, etc. Numa sociedade onde cada vez mais é “um por si e Deus por todos”, torna-se necessário desconfiar e checar qualquer informação vinda de estranhos e até mesmo de conhecidos, até porque qualquer ser humano é passível de erros. Esse caso merece atenção de alunos, professores e pesquisadores de maneira geral. Com tantas informações disponíveis, verídicas e falsas na rede, cabe aos voluntários corrigi-las e até mesmo enriquecê-las. Consertar as falsas informações é, até mesmo, uma nova forma de os usuários testarem seus conhecimentos e consequentemente contribuírem para que informações errôneas, mesmo malintencionadas, não sejam passadas adiante. Isso significa que o hipertexto permite ao leitor um papel mais ativo do que o que nos era oferecido pelo texto impresso, ao qual estávamos habituados. Opinando sobre o mesmo assunto, Bernardes, Alessandra Sexto e Fernandes, Olívia Paiva (2006) afirmam: “ Poderíamos nos referir à pesquisa como uma procura por algo verdadeiro; busca pelo conhecimento, busca feita com cuidado e profundidade, até mesmo método para tornar mais interessante e participativo o ensino em sala de aula". A pesquisa torna-se uma continuidade do ensino oferecido nas escolas. O professor que pesquisa estimula seus alunos a pesquisarem. Sendo assim, o mundo contemporâneo permite aos discentes uma pesquisa mais abrangente, não se limitando apenas a livros impressos e enciclopédias, como se fazia há alguns anos. A Internet é uma prova viva desse fenômeno, que possibilita ao aluno também levar novos conhecimentos e informações para a sala de aula. O número de informações é tão vasto, que elas chegam a "atropelar-se". Porém nunca é demasiado lembrar que é preciso verificar a fonte pesquisada na rede para que se possa ter certeza da credibilidade, ou não, do que foi pesquisado. 20 Pierre Lévy (1996, p. 44) indaga: Essa nova forma de escrita oportunizada pela net pode alterar a consciência e a cognição?" e prossegue, chamando-nos à atenção para "as mudanças nas formas de ler e escrever operadas pelo hipertexto digital. Não é mais o leitor que se desloca fisicamente nas operações de leitura de um texto, virando páginas, procurando volumes entre estantes de livrarias ou bibliotecas, mas é "um texto móvel e caleidoscópico, que apresenta suas facetas, gira, desdobra-se à vontade diante do leitor. Mesmo considerando que um leitor diante de um computador e de um mouse com seu teclado não está imóvel, executando diversas operações, nem por isso as observações de Lévy são menos pertinentes. Sérgio Roberto Costa (2006, p. 37) completa: Os (hiper) textos, produzidos/construídos sem fronteiras nítidas misturam formas, processos e funções da oralidade, da leitura e da escrita. Leitor e autor/escritor se cruzam, on-line, no esforço de releitura, correção e recriação de um texto, participando da edição do texto que lêem e escrevem. Nesse ciberespaço, leitor e escritor deparam-se com novos conceitos, novo léxico, novos gêneros discursivos, novas formas de linguagem, novo código, novo estilo de ler, escrever e conversar. O hipertexto possibilita ao leitor viagens nas quais leva um texto a outro, que leva a outro, e assim sucessivamente; ele não possui uma forma fixa, padronizada. Vale lembrar que os hipertextos podem ser típicos da internet, bem como uma réplica fiel de textos e livros de origem impressa. O hipertexto também possibilita ao leitor a oportunidade de expressar sua opinião diante do que lê, não sendo mais submisso às informações que pesquisam e recebem a todo o instante, porém os usuários da construção do texto virtual precisam estar atentos às normas ortográficas. Um dos recursos do hipertexto é a presença de sons, imagens, gráficos, animações, entre outros. Apesar da infinidade de informações de que a rede dispõe através de seus textos, hipertextos, etc. é preciso ter paciência e sorte para encontrar o que realmente precisa. De acordo com as idéias de Rogério da Costa (2003, pág. 9,43) milhares de pesquisadores, professores e estudantes, etc. de todo o planeta apostam na Internet como fator tecnológico na evolução do ensino presencial e principalmente à distância. Completa: “Daí nasce a necessidade do filtro de informação, o que 21 tornaria a pesquisa mais avançada. Esse filtro de informações funcionaria como um banco de dados para direcionar as pessoas para mais próximo de sua pesquisa”. Ainda deixa no ar a seguinte pergunta: “Não seria interessante se essas ferramentas pudessem entender seu usuário, tal como, por exemplo, uma secretária entende os diretores de sua empresa ou bibliotecária entende os frequentadores assíduos de sua biblioteca?”. Nesse ambiente, de exposição de textos e informações, o "internetês" não deve ser usado de forma alguma, pois o público que utiliza essa fonte de pesquisa é o mais variado possível, ou seja, o "internetês" não é assimilado por todos. Também vale ressaltar que o texto disponível na rede não significa necessariamente a "morte" dos livros impressos, uma vez que a leitura continua sendo uma atividade desenvolvida pelas pessoas. Torna-se importante ratificar essa idéia, por mais que seja óbvia, uma vez que, muitos pensam dessa forma e até mesmo acreditam que os livros impressos poderão “evadir” a partir da chegada dos diversos aparatos tecnológicos, que não só a internet, mas o mundo globalizado dispõem. Essa nova modalidade de texto permite que o leitor interaja, participe e construa novos textos sobre os já criados. É uma produção coletiva. Sendo assim, autor e leitor se confundem nesse universo. É fundamental motivar docentes e discentes para aprenderem juntos, sejam quais forem os estágios de suas vidas. De nada adianta equipar as escolas com computadores, quando na verdade não há capacitação adequada dos profissionais para recebê-los e manejá-los corretamente. Atualmente, já se pode notar a presença tecnológica nas escolas através de programas de informática e até mesmo da TV Escola. A internet e a informática possuem suas linguagens próprias. Com o intuito de desmitificá-las e esclarecê-las, Lévy (1999) explica: O ciberespaço (que também chamarei de "rede") é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos. Quanto ao neologismo "cibercultura", especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço. 22 Podemos, então, entender que ciberespaço é um lugar virtual onde as pessoas se encontram e trocam informações. Cada usuário busca um tipo de conhecimento. E é através das buscas em comum entre alguns internautas que se dá a formação de culturas em comum, daí o termo cibercultura. Pode-se dizer que ciberespaço e cibercultura estão diretamente ligados, já que é através do ciberespaço que se "movimenta/age/manifestam- se" os fenômenos e os fatos cujo somatório configura a cibercultura. Após uma melhor compreensão dos termos citados acima, ainda desconhecidos por grande parte da população, o internauta sente-se muito mais seguro e confiante ao usar a Internet. Essa segurança acontece devido ao fato do mesmo, a partir de então, saber que também conhece termos pertencentes às novas tecnologias. Lévy (1996, p. 16) um dos autores mais importantes, ao menos academicamente, na construção e estudo do significado do virtual, define o virtual como: O virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual. Contrariamente ao possível, estático e já constituído, o virtual é como o complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a atualização. Quando Lévy afirma que o virtual não se opõe ao real é porque na verdade os dois estão interligados, até porque o virtual é a combinação de fatos a partir do real, ou seja, o virtual é uma releitura do real. Podemos dizer que o virtual e real são estudos da mesma natureza, uma vez que primeiro ocorre em nossa realidade, em nossa sociedade para em seguida, na maioria das vezes, imergir no mundo virtual. Também é importante salientar que não são todos os fatos que acontecem em nossa sociedade farão parte do mundo virtual e vice-versa. Diferentemente da não oposição citada acima, temos a oposição do virtual ao atual. Isso acontece porque o atual é algo que percebemos naquele instante, enquanto o virtual carrega uma potência de ser, acontece depois do atual e não concomitantemente. O meio virtual transforma o conhecimento em algo não-material, flexível e indefinido, provocando rupturas; a interatividade, a manipulação de dados, 23 a correlação dos saberes através de nós na rede, a plurivocidade, o apagamento das fronteiras rígidas entre textos-margens e autores-leitores. (RAMAL, 2001, p.18) Após essas discussões entre virtual/real e virtual/atual, pode-se deduzir que Lévy tinha como objetivo esclarecer melhor as diferenças e semelhanças de uma nova era tecnológica, que já faz parte da vida de milhares de pessoas e, daqui a algum tempo, do mundo inteiro. Assim como cada segmento social, tais como médicos, advogados, militares, etc. tem sua linguagem específica, a internet também possui uma. Termos como os citados acima podem ser vistos como obscuros e inoportunos para muitos, porém qualquer usuário que precise e trabalhe com a internet frequentemente deve ao menos compreendê-los, uma vez que esses termos são muito usados no ambiente virtual. Assim como as novas tecnologias, principalmente o computador/internet, trouxeram mudanças na vida das pessoas, calcula-se que também trará mudanças no hábito de escrever. Com tantas evoluções e mudanças nos hábitos e posturas das pessoas, o professor possui ainda mais responsabilidades, pois deixa de ser aquele que transmite informações para ser um mediador e facilitador, ajudando seus alunos a organizarem as informações, exercendo assim o papel de guia, deixando de fazer apenas palestras e exposições. Lévy (2001, p.117) apud Souza (2006) também relaciona a informática com a escrita afirmando que: A informática parece reencenar, em algumas décadas, o destino da escrita: usada primeiro para cálculos, estatísticas, a gestão mais prosaica dos homens e das coisas, tornou-se rapidamente uma mídia de comunicação de massa, ainda mais geral, talvez, que a escrita manuscrita ou a impressão, pois também permite processar e difundir o som e a imagem enquanto tais. Se um dia o uso dos computadores foi exclusivo para pesquisadores, atualmente é utilizada por diversos tipos de usuários. Apesar do meio digital fazer cada vez mais parte da vida das pessoas, SOUZA (2003, p.55) não descarta o índice de analfabetismo digital do mundo globalizado. Ele afirma que nas classes mais humildes esse número é mais 24 acentuado e ainda faz uma comparação: "Assim como a Ferrari divide espaço com a carroça, a informática divide espaço com o analfabetismo". Computador e internet estão diretamente ligados, ainda mais que é através da rede que milhões de pessoas se comunicam, trocam informações, realizam pesquisas, etc. Segundo SOUZA (2003, p.11): Existe uma visão que considera as novas tecnologias como uma simples evolução do quadro negro ou dos livros didáticos. Para aqueles que sustentam esta posição, a metodologia utilizada com os livros pode continuar sendo empregada hoje com o uso do computador. Ainda de acordo com SOUZA (2003), a Internet é vista por muitos como um veículo de aglutinação dos demais, ou seja, através dela é possível ouvir rádio, ver televisão, acessar informações, estudar, etc. Sem dono, ela permite a qualquer pessoa criar sua própria página, na qual difundirá conteúdos, sua produção. Todavia, SOUZA (2003 – pág.11) relata: “Existe uma visão que considera as novas tecnologias como uma simples evolução do quadro negro ou dos livros didáticos. Para aqueles que sustentam esta posição, a metodologia utilizada com os livros pode continuar sendo empregada hoje com o uso do computador”. De nada adianta acrescentar aparatos tecnológicos uma vez que o método de ensino permanece o mesmo. O avanço tecnológico por si só não consegue grande repercussão na melhoria de ensino, pois funciona apenas como mais um “enfeite” que só permanece no papel (em projeto). As informações adquiridas na rede são diferentes das encontrados nos livros, uma vez que na Internet o usuário além de deparar-se com uma infinidade de conteúdos, estes podem ser trocadas com pessoas das mais distintas culturas, crenças e costumes. Dessa forma, o indivíduo pode interagir com uma infinidade de internautas, adquirir novas formas de pensar e receber informações e até construir e reconstruir seus conhecimentos. Contudo, não é demasiado lembrar que, para o conhecimento confiável ocorrer, é preciso assegurar-se da fidedignidade da pesquisa. Tendo em vista esses esclarecimentos sobre o mundo virtual, podemos concluir que no mundo contemporâneo, a Internet é a ferramenta mais utilizada para se trocar informações de forma rápida. Sabemos também que, até o surgimento da Internet, nenhum meio de comunicação fora tão utilizado e a esta, que até pouco 25 tempo era restrita a apenas uma pequena parcela da população, vem conquistando cada vez mais espaço. Pierre Lévy apud Costa (2003) também opina sobre o assunto. Para ele as comunidades virtuais funcionam como estímulo para que as pessoas possam aprender juntas, para incentivar a inteligência coletiva. O autor ainda acha que quanto mais pessoas interessadas num mesmo assunto, mais ele renderá frutos. Podemos entender que a internet é um meio onde as pessoas podem alcançar um conhecimento relevante que pode até proporcionar frutos futuramente. Basta lembrarmos que em qualquer lugar há alguém para oferecer um conselho, contar uma história, ou seja, com experiências para trocar. A facilidade para que as pessoas possam se comunicar está cada vez maior, seja ela presencial, ou não. Contudo, apesar de tais evoluções e facilidades que a Internet nos oferece com sua linguagem peculiar, não podemos perder de vista a língua padrão, que é ensinada no ambiente escolar e solicitada na maioria das situações comunicativas. É importante que esse fato fique claro para os usuários da língua e principalmente para estudantes e pesquisadores. Também é importante ressaltar que ainda não há um meio eficiente e confiável de medir as interferências da Internet na linguagem, bem como nos hábitos de práticas de leitura e escrita. LOPES E TRIVINHO (2000) refletem: Pode-se atribuir à presença intensa e diversificada de tecnologias de suporte ao processo social da comunicação como sendo uma das razões mais próximas e visíveis para se dizer que vivemos hoje uma sociedade midiática. De fato, essas tecnologias estão por toda parte como que condicionando e diferenciando a experiência social de vivermos juntos. 26 2.1 Internetês: conceitos Internetês: Forma de expressão grafolinguística explodiu principalmente entre adolescentes que passam horas na frente do computador no Orkut, em chats, blogs e comunicadores instantâneos em busca de interação - e de forma dinâmica. (Silvia Marconato, 2006) O internetês - expressão grafolinguística criada na internet pelos adolescentes na última década - foi durante algum tempo um bicho de sete cabeças para gramáticos e estudiosos da língua. Eles temiam que as abreviações fonéticas (onde "casa" vira ksa; e "aqui" vira aki) comprometessem o uso da norma culta do português para além das fronteiras cibernéticas. (Fabiano Rampazzo). O internetês é uma linguagem surgida no ambiente da internet, baseada na simplificação informal da escrita, com o objetivo principal de tornar mais ágil e rápida a comunicação, fazendo dela uma linguagem taquigráfica, fonética e visual. Abreviações, simplificações, símbolos criados por combinação de caracteres, símbolos gráficos próprios, e uma diversidade de recursos de comunicação por imagens utilizados na internet são as principais características encontradas nas mensagens que utilizam esta linguagem. (Leandro Braçaroto). 27 2.2 Reflexões sobre Internetês A comunicação na Internet é um evento textual fundamentado na escrita. Apesar dos recursos disponíveis de som e de imagem, a escrita ainda é essencial. Os jovens usuários da Internet costumam tratar a variedade linguística da Internet como uma "fala escrita", ou seja, uma transposição da fala para a escrita, ou noutras palavras uma "oralidade escrita". É preciso considerar que a idéia de uma "fala por escrito" deve ser vista com cautela, pois a escrita (regida, em ambientes virtuais, mais por normas fonéticas do que por normas ortográficas) está entremeada de representações semióticas. Normalmente o que ocorre, em várias salas de batepapo, por parte dos usuários, é uma escrita regida de traços da fala, ou seja, há uma tentativa de escrever exatamente como se fala, ou muitas vezes dar ênfase a algumas palavras através de onomatopéias e repetições excessivas de palavras. Exemplo: “oiiiiiiiiiiiiiiiii” (oi); nnnnnnnnnnnnn (não), etc. Marcuschi (1995) apud Santos (2005) afirma que: Tanto a fala quanto a escrita variam em função de um contexto, de uma situação de produção e de um portador específico. A língua é um fenômeno heterogêneo, variável, indeterminado e situado, refletindo a organização da sociedade. Através das idéias defendidas por Marcuschi, deduz-se que, é preciso saber adequar os mais diversos tipos de escrita/ linguagem, até porque cada situação exige do sujeito um tipo de comportamento, um tipo de escrita/linguagem. A língua portuguesa oferece uma imensa variedade linguística, podendo ser usada da maneira mais simples até a mais elaborada. É de grande importância lembrar que o uso linguístico também varia de acordo com o nível econômico e social de cada falante, porém não é norma. Else Santos (2005, p. 157) afirma: Numa IOL¹, o "chatter²", ao escrever o que pensa, lança mão de recursos linguísticos que fogem dos aspectos formais da escrita e busca "imitar" a informalidade e espontaneidade do discurso oral cotidiano, através do uso 28 de onomatopéias, alongamentos de vogais e consoantes, entre outros elementos. É preciso que não só os estudantes, mas todos, que buscam evoluir se dêem conta de um simples e importante fato: há uma linguagem falada e uma linguagem escrita. Numa situação informal até é permitido o uso de uma linguagem coloquial, porém a escrita (o texto redigido) exige uma formalidade, em determinadas situações, não sendo de bom alvitre uma linguagem peculiar. Numa IOL, há uma mescla da escrita e da fala, não havendo uma linguagem predominante. Ainda segundo Santos: A marca principal dessa escrita é sempre a tentativa de desobediência às normas gramaticais pré-estabelecidas no que diz respeito, principalmente, à ortografia, à pontuação expressiva e ao registro quase obrigatório da forma como se falam as palavras (...) No "bate-papo” ou "chat", o tipo de interação entre os interlocutores ocorre por um canal eletrônico, o computador. Nesse ambiente, a comunicação é uma mistura da língua falada e da língua escrita, ou seja, é a construção de um texto "falado" mediado pela escrita. A interação nos chats ocorre em tempo real, mas não face a face. A pontuação da língua escrita na rede é um recurso para efetivamente imprimir um caráter "falado". Isso varia de acordo com a emoção e as características da conversa momentânea e acontece quando os internautas tentam transmitir na escrita traços próprios da fala. Podemos perceber esse exemplo no prolongamento de interrogações, exclamações, etc. durante as conversas. Para comprovar tais traços, Bernardes, e Vieira (2006) exemplificam: Início da sessão: Sun Jul 09 01:19:29 2000 <{ Thunder}> Oiiiiiiiiiiiiiiiiiii, Lili... <{ Thunder}> Como vai vc? _________________________________________________________________ 1. IOL - Usuários das interações on line. 2. Chatter - O internauta, quem faz uso da mediação on line. 29 < lliliifl> OI!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1 <{ Thunder}>Está fazendo frio aí em JF? < lliliifl> nao mto <{ Thunder}> E pq vc está com esta blusa de lã ai? < lliliifl>hahahah < lliliifl> como adivinhou? <{ Thunder}>Poxa... <{ Thunder}> Eu to te vendo! <{ Thunder}> N muito bem, mas daqui eu tenho uma vista razoável. <{ Thunder}> Só n me pergunte mais detalhes, viu? < lliliifl>hahahahaha < lliliifl> ta legal [...] Fim da sessão: Sun Jul 09 02:11:59 2000 ### Algumas das principais diferenças de uma conversa mediada pela internet e face a face são: espaço real – espaço virtual; língua falada – linguagem escrita; comunicação real – comunicação virtual. Através da comunicação on-line novos códigos são criados a todo o momento. Dentre eles temos as onomatopéias, emotions, uso excessivo de pontuação, como se pode ver na sessão acima, etc. A linguagem que pontua tal dinâmica social é o "internetês". Integrados à tecnologia e com acesso fácil a computadores e a conexões de banda larga, os jovens buscam respostas rápidas, proximidade com seus interlocutores e nutrem a expectativa de aproveitar cada momento de diversão. Quando o assunto é internetês, há diferentes opiniões acerca do assunto. Silva, Dionísio, apud Hansen, Karla (2006. p. 02) opina: “Os pequenos burgueses tinham internet e celular, mas não dominavam a língua escrita. E por isso criaram a deles. Nada espantoso. Também os habitantes das periferias não dominam a norma culta da língua e criam suas gírias, devidamente circunscritas a cada grupo de usuário”. Souza (2007, s/p) também reflete sobre a questão do "internetês": Existia um mito de que os jovens se viciariam na forma fonética de escrever e começariam a usar este 'estilo' na sua vida real como nas formulações de redações de vestibulares, por exemplo. Porém acho que isso já foi descartado. Marisa Lajolo, pesquisadora do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade de Campinas (Unicamp), possui a mesma opinião e afirma que: "De forma nenhuma o ‘internetês’ pode ser considerado um perigo para a Língua 30 Portuguesa. Essa forma de escrita, que provavelmente existe para todas as línguas, é completamente inofensiva. E inventiva". Relata a autora. Porém deixemos a seguinte reflexão: Apesar da economia de palavras também se fazer presente na última década, como por exemplo, os telegramas (uma forma de economizar palavras e consequentemente dinheiro), pode-se dizer que a economia de palavras e o uso de excessivas abreviações, do mundo contemporâneo, o intenetês, não interfirá de alguma forma na vida de nossos adolescentes? O melhor caminho é aprofundar-se nessa linguagem, haver comunicação, mesmo sabendo que o "internetês" é baseado na velocidade. Para estabelecer comunicação com quem está habituado a esse tipo de linguagem, a velocidade faz a diferença. Uma das principais características dos chats, além da rapidez, é o risco constante do equívoco, uma vez que a comunicação é realizada em alta velocidade. Outra característica importante é a tentativa de reproduzir na escrita traços que são tipicamente da fala. Pode-se dizer que há uma tentativa de "recriar" a escrita, desejo em comunicar-se de uma nova maneira que não irá matar a língua padrão, sendo apenas uma nova tendência como tantas que são criadas. Deduz-se, de acordo com a presente pesquisa de campo, relatada posteriormente, que o "internetês" agrada aos adolescentes justamente por vir romper, por vir agir de forma diferenciada dos padrões comunicacionais de fala e escrita vigentes na sociedade. Não seria muito mais fácil escrever não ao invés de naum? Até porque os internautas que são a favor da economia quebram essa regra acrescentando a vogal U a palavra não. A economia na hora de escrever não é algo novo, basta lembrarmos os telegramas, apesar de não serem mais tão utilizados como outrora, nas situações onde a rapidez e a economia eram necessárias. Contrapontuando a economia de palavras acima, LEVY (2004) analisa a importância da escrita não só na vida das pessoas, mas também no mundo e ressalta que: "Sem escrita, não há datas nem arquivos, não há listas de observações, tabelas de números, não há códigos legislativos, nem sistemas filosóficos e muito menos crítica desses sistemas.” A partir da invenção da escrita, o homem não precisou mais se preocupar com desaparecimentos de seus registros, uma vez que estes poderiam ser arquivados através dela. A escrita, além de ser uma forma de arquivar documentos, registros etc, também é uma forma de o ser humano organizar seus pensamentos e 31 até mesmo se comunicar. Apesar de muitas pessoas só utilizarem o recurso do texto escrito mediante um teclado de computador, inclusive para correio eletrônico, ainda há quem se mantém aderente, (sendo, certamente, ainda os mais numerosos), em plena era da internet, à prática de enviar cartas pelo correio de forma tradicional. Diante do fenômeno Internet, Silvia Marconato (2006, p. 1) publicou na revista Língua Portuguesa um artigo, no qual divulga o resultado de uma pesquisa do Ibope/NetRatings: No Brasil, um batalhão de 15 milhões de usuários troca 500 milhões de mensagens por dia por meio do Messenger (MSN), o comunicador instantâneo da Microsoft. - O brasileiro adere fácil à tecnologia; é um povo muito aberto à comunicação - explica Priscyla Alves, gerente de produtos, comunicação e marketing para Brasil e América do Sul da Microsoft. O internauta brasileiro continua sendo o campeão mundial da navegação, com uma média de 17 horas e 59 minutos, deixando para trás Estados Unidos, Japão e Austrália. Abrindo um parêntese, com uma visão um tanto quanto questionadora, refletimos sobre a seguinte questão: A média de 17 horas e 59 minutos de navegação significa que o sujeito está ali de corpo presente ou apenas seu computador estaria ligado durante todo esse tempo? Fica a dúvida. A ansiedade do brasileiro por contato já foi alvo de estudo de Anne Kirah, uma antropóloga americana, e acessora da Microsoft, que vive em Paris. O que chama atenção na sua pesquisa é o fato de países mais desenvolvidos como Estados Unidos, Japão e Austrália ficarem atrás do Brasil, ou seja, a população desses países, que possuem uma excelente infra-estrutura e grande riqueza tecnológica, permanece em menor tempo na rede. Essa é uma questão que merece ser analisada até porque não podemos afirmar definitivamente quais benefícios e malefícios, assim dizendo, serão herdados pelo uso excessivo da internet. Ainda é inoportuno classificá - la definitivamente, uma vez que se trata de um fenômeno novo. Na tentativa de compreender o motivo de os jovens brasileiros serem os principais usuários do "internetês", Anne Kirah, relata que, numa de suas pesquisas, conviveu por semanas com famílias de adolescentes brasileiros. Chamou sua atenção a tendência de o jovem "interneteiro" no Brasil ter, em geral, permissão para sair só uma vez por semana. A antropóloga concluiu que o nosso adolescente, usuário do computador, faz das ferramentas on-line uma extensão da vida social. Na 32 frente do monitor, marca encontros, mantém viva a emoção do fim de semana e estreita laços com novos amigos. Diante disso indagamos: controlar a frequência de saída dos nossos adolescentes assegura proteção aos nossos jovens? A Internet também tem oferecido riscos e até mesmo perigo aos jovens e à população de maneira geral. Basta lembrarmos os hackers e os crimes virtuais que estão tornando-se cada vez mais comuns na rede. Acredita-se que os jovens foram o público da pesquisa, relatada acima por Anne Kirah, uma vez que se sabe, segundo a voz corrente, que os adolescentes são os que mais utilizam a internet. Não seria uma tamanha coincidência o brasileiro liderar a navegação mundial e ao mesmo tempo “ostentar” a liderança de mortalidade infantil, o estupro, etc., apesar de se tratar de assuntos completamente diferentes? Na opinião de muitos estudiosos, dentre eles Marisa Lajolo, as diversas formas de escrita no ciberespaço, tais como ORKUT, CHATS, MSN, entre outras, contribuem para o desenvolvimento da criança e do adolescente, mas nem todos são da mesma opinião. Alguns linguistas acreditam, assim como um grande número de professores de Língua Portuguesa, que o "internetês" proporcionará o fim de nossa língua. Será que realmente há motivos para tanta preocupação? O internetês teria em algum momento tanta influência e persuasão na vida de milhares de pessoas ao ponto de modificar a Língua? A linguagem da Internet, especificamente a do bate-papo e do correio eletrônico, possui características tanto da fala quanto da escrita; é hipertextual, permitindo ligações de vários textos, em vários lugares, através de formas verbais e não-verbais. O programa de bate-papo mais utilizado é o MSN, que proporciona o contato com pessoas distantes e a geração de novos simbolismos através do uso de abreviações. Na pesquisa que realizamos, no âmbito dessa dissertação, mais adiante relatada, com alunos do quarto ciclo do ensino fundamental, os simbolismos do bate-papo apresentam como características uma linguagem tão reduzida, quanto incorreta. Dessa forma, a escrita começa a ser feita cada vez mais por códigos, dificultando o trabalho dos professores de Língua Portuguesa. Nesse caso, cabe à escola, principalmente ao professor, não somente o de Língua Portuguesa, não aceitar as abreviações e particularmente a linguagem derivada do "internetês". É preciso, portanto, conscientizar os usuários dessa nova modalidade de escrita de 33 que não se deve, de maneira alguma, utilizar essa linguagem fora do ambiente próprio. Ainda diante desse assunto vale lembrarmos que exceções como KG (quilograma), MM (milímetro), CM (centímetro), G (grama), dentre outros são abreviações, que se tornaram aceitáveis e compreendidas digamos que quase por todos. De acordo com grande parte dos estudiosos, professores e pesquisadores, que buscam pelo tema internetês, um dos grandes atrativos dessa nova modalidade de escrita é fugir das normas da língua culta. Os internautas fazem uso demasiado da língua falada nas mensagens que trocam entre si. É quase uma fala digitalizada. Segundo as idéias de Miglio, apud Souza (2006), tudo é uma questão do meio onde se realiza a conversação. E mesmo na vida real, as pessoas não costumam ficar atentas à norma culta do idioma num "bate-papo" informal. A má utilização da linguagem formal, ou ao menos mais elaborada, mais formulada, resulta numa fala/escrita pobre e até mesmo desleixada. A preocupação e o cuidado em realizar uma comunicação adequada, independentemente de ser falada ou escrita preparam o Homem para as mais diversas situações da vida. Ele ainda completa: A linguagem do "internauta" não vai passar para a vida real, até porque o que o internauta escreve ninguém fala, sendo aceito apenas naquele circuito e não mais em nenhum outro. Existe uma barreira natural das pessoas que não entendem nem falam esse jargão³. Se não relativizarmos essa linguagem, apontada por Miglio, chegaremos ao absurdo de pensar que os internautas também falam pq (porque), tc (teclar), n (não), etc, como ocorre na comunicação escrita nos chats, que é uma simulação em parte da língua falada. Não podemos generalizar. _________________________________________________________________ 3. Jargão - Linguagem corrompida, Gíria. 34 Em contrapartida, Chartier (2001) reflete sobre o uso excessivo da escrita mediada pelo teclado do computador: Tanto na leitura como na escrita, a mediação do teclado instala uma distância entre o texto e seu leitor ou autor. A relação do corpo com o texto escrito ou lido muda fica mais distante. A percepção passa a independer do contato físico do traçar das palavras no papel ou do livro posto entre as mãos. Mas, se por um lado algumas habilidades manuais se perdem e a escrita pessoal se deteriora, por outro o aparato tecnológico permite fazer um jogo criativo com a escrita, usando variações de fontes, cores e paginação. Chartier além de destacar as infinitas possibilidades lúdicas que um teclado pode oferecer, também ressalta, com maior intensidade, a distância que um simples teclado do computador pode causar entre o indivíduo e a grafia correta das palavras. Ou seja, o não exercício em escrever à mão pode resultar em dúvidas na hora de escrever e digitar textos e até mesmo palavras graficamente corretas por meio do computador. MARTINS (2006) apud MARCONATO (2006) também olha com reservas o fenômeno da escrita. Ele acredita que o aprendizado da escrita depende da memória visual: muita gente escreve uma palavra quando quer lembrar sua grafia. Se bombardeados por diferentes grafias, muitos jovens, ainda em formação, tenderão à dúvida. É importante destacar que todos estão sujeitos a essa situação, a partir do momento em que fazem uso do mundo virtual ou até mesmo convivem com pessoas que usufruem desse meio. A simples falta de hábito de escrever pode levar à dúvida na momento de produzir um texto ou um simples recado informal. Quando o tema abordado é economia de palavras, abreviações, etc. recorrese, muitas vezes, aos telegramas, onde a economia impunha a simples exclusão de preposições e conjunções, alcançando-se a maior objetividade o que, não raro, acabava por sacrificar a clareza do texto. Parece que, apesar do telegrama atualmente ser pouco utilizado, a linguagem telegráfica continua gerando seus frutos, sendo usada nas situações que requerem rapidez e economia, como no caso dos chats. É um exemplo de herança sócio-linguística. O uso dos telegramas não interferiu na representação mental que as pessoas tinham das palavras. Embora menos utilizada que o “internetês”, a linguagem 35 telegráfica era compreendida, mesmo com todas as abreviações que eram necessárias para tornar a sua utilização acessível. BAGNO apud CONSOLARO (2007) magistralmente sintetiza os pontos cruciais das questões que aqui estudamos: A Internet é uma escrita virtual, uma fala digitalizada, uma mescla das duas modalidades da língua. Assim como é inútil tentar corrigir a língua falada, também me parece inútil tentar corrigir a língua escrita na Web, porque ela é fugaz, efêmera e se dissipa no ar (porque sequer chega a ser impressa). Como pode ser observado, esse autor enfatiza que o tipo de escrita usado na Internet, mais precisamente conhecida como "internetês", é caracterizada pela transposição da fala juntamente com onomatopéias e efeitos lúdicos. Também destacou ser inútil tentar corrigi-la por ser um instrumento de comunicação rápido, tendo como único objetivo a comunicação, independentemente de regras ortográficas. Mesmo diante desse fenômeno (internetês), cabe aos professores, em conjunto com os pais, conscientizar esse grupo de que o “internetês” não pode vir para o ambiente escolar, para os vestilulares, para as possíveis entrevistas de emprego ao longo da vida, etc., ou seja, não deve sair do ambiente virtual devendo ser apenas uma linguagem típica para um único tipo de ambiente: as salas de batepapo na rede, Orkut, Blogs, entre outros. Também é importante conscientizar os discentes de que essa linguagem não é compreendida por grande parte da população. É preciso cautela no momento da interação on line, uma vez que o ambiente virtual não é apenas utilizado por jovens e pessoas que fazem uso do “internetês”. De acordo com MACCARTHY (1995) o aprendizado auxiliado por computadores no ensino, com base em levantamentos feitos junto a alguns professores, apresenta lados positivos e negativos. Como pontos negativos, há falta de recursos adequados, insegurança por parte dos docentes, o que é ocasionado pela falta de treinamento e ausência de softwares educacionais. Apesar desses problemas apresentados, o método de ensino auxiliado pelo uso de computadores tem o seu lado positivo, pois, através dele, são proporcionadas importantes vantagens. Dentre elas temos: motivação, melhoria quantitativa e qualitativa para o ensino, se este for bem planejado, interação de grupo e autonomia do aprendiz. 36 Mais um aspecto positivo é a relevância que a interação em grupo tem para pessoas que sofrem com a timidez. Na internet, esse sujeito tem a oportunidade de dizer o que pensa, soltar-se, (ser como deseja ser visto, em muitos casos), etc. uma vez que na maioria das vezes essa mediação não ocorre face a face. A rede também já proporciona a qualquer pessoa o acesso ao conhecimento, à informação sem ao menos deslocar-se de sua própria casa. Sendo assim, a escola já não é a única para buscar informações, para aprender. O ambiente virtual pode proporcionar autonomia ao aprendiz que tem interesse em buscar além do que é oferecido na escola, que busca sempre mais, que apresenta curiosidade, interesse, etc. Também é importante destacar mais uma vez que para que “autonomia” aconteça é importantíssimo permanecer atento aos sites dos quais busca-se informações. Por outro lado, Cassoni (1999) afirma: "A Internet está influenciando muito a língua. O mundo virtual tem uma linguagem própria e que, por mais que a gramática tente segurar esse fenômeno, ele já aconteceu". Cassoni diz, ainda: "Caminhamos para uma língua universal via computador e que usuários da Internet criaram e continuam criando novos códigos a todo o momento". Acredita-se que a uma das principais características da língua dos "internautas" é a fuga das rígidas normas gramaticais e ortográficas. Eles utilizam os fonemas como meio mais acelerado no processo escrito ou, muitas vezes, meras substituições de uma letra por outra. Vale ressaltar que essa afirmação também pôde ser observada durante a pesquisa de campo relatada mais adiante. Mesmo com tantas inovações a escrita faz cada vez mais parte da vivência das crianças, dos jovens, enfim de todos de maneira geral. O meio digital traz novos entendimentos sobre a escrita, especificamente dos adolescentes. Jovens, ávidos por interação, no canal virtual, escrevem com liberdade e percebem que esta escrita pode ser aceita e entendida, gerando compreensão na esfera digital. Porém cabe aqui a seguinte reflexão: Há em algum momento, na consciência dos internautas e de todos que utilizam o internetês, a preocupação em não utilizar essa modalidade de escrita em qualquer ambiente e com qualquer pessoa? A relação de dialogicidade do sentido não é rompida e eles se comunicam, desfazendo a crença imposta, principalmente pelas instituições de ensino, de que apenas a notação escrita "correta" das palavras, conforme as regras, pode gerar sentido, interação, comunicação. O que acontece é que o mais importante nesse ambiente é a comunicação, a interação, a liberdade. 37 Redigir um texto sempre foi difícil para a maioria das pessoas, pois uma boa dissertação exige conhecimento, leitura e treino. Observa-se que na linguagem do "internauta" quase tudo, ou até mesmo tudo, é permitido e quebrar as regras é o mais interessante. Quando a escrita é feita através de e-mail, escreve-se de acordo com a norma culta, a rapidez não se faz necessária, há tempo para pensar sobre o que será escrito. Além disso, também há programas que sublinham as palavras grafadas de forma errada. O advento da internet realmente fez com que pessoas que quase não redigiam um texto, um e-mail passassem a fazê-lo, porém deixamos a seguinte pergunta: produzir textos significa escrever e comunicar-se de forma adequada, satisfatória? Dissertar bem exige leitura e treino e isso não se adquire de um dia para o outro. Esse trabalho começa ou ao menos deveria começar nos primeiros anos de vida do estudante na escola. É válido ressaltar que quem lê muito não é automaticamente alguém que escreve bem, porém há uma grande probabilidade para que assim seja. Não podemos negar que a partir do surgimento da internet quem jamais havia escrito algo além de seus nomes próprios foi obrigado a elaborar mensagens para seus chefes, familiares ou até mesmo namorada. Em partes, ela reconquistou aqueles que fugiam da escrita, ou seja, as pessoas passaram a escrever mais através de simples e-mails, conversas informais nos messengers e até no próprio ambiente de trabalho. Sérgio Nogueira (2006) também expõe aspectos positivos e negativos em relação ao "internetês" (vocabulário virtual da rede): "O "internetês" interfere apenas na escrita e não na língua. Como exemplos, podem-se citar: pq (porque), vc (você), tc (teclar), que são usadas apenas na digitação, isso significa que nenhum indivíduo fala dessa maneira". Mas isto significa também, por outro lado, que uma pessoa que está habituada a escrever "vc" ao invés de "você" ou até mesmo qualquer outra palavra, pode ter dúvida, quanto à grafia correta das palavras, no momento em que precisar escrever uma carta ou um documento de acordo com a norma culta. Em controvérsia, Umberto Eco, (2001, pág. 21) opina: “A internet implantou a solidão: as pessoas passaram a trabalhar em casa e a comunicar-se virtualmente. Atualmente, há uma preocupação em transformar a solidão em ocasiões sociais”. Apesar das mais variadas opiniões citadas acima, não podemos negar que cada qual possui um aspecto relevante. É claro que não podemos cair no absurdo 38 de nos prendermos a uma delas como única e inquestionável. Uma vez que se trata de um fenômeno recente, é necessário “deixar o tempo falar”... EISENKRAEMER (2008) analisa as diferenças formais que podem ser apontadas como distinção entre a fala e a escrita: As diferenças formais são causadas pelas condições de produção e de uso da linguagem. Elas existem muito mais em função do gênero e do registro do que em função da modalidade escolhida. Já as diferenças funcionais entre a fala e a escrita estabelecem quais são as funções da escrita dentro da cultura de uma comunidade de fala. É possível afirmar que nem sempre se escreve como se fala quanto à gramática, léxico e situação contextual. O fato de não se escrever como se fala, como nos demais idiomas, evidencia também as duas faces da Língua Portuguesa: a falada e a escrita. Para cada situação é exigido um tipo de (fala/escrita), de comportamento, porém nem todas as culturas trabalham esses aspectos da mesma maneira. Escrever se tornou uma ferramenta cada vez mais necessária e indispensável nas mais diversas situações cotidianas. Isso pode acontecer desde o comunicado de uma grande empresa até um bilhete informal entre amigos. O importante não é só escrever, mas sim comunicar-se, fazer-se entender. Se não se escreve de forma comunicativa, frustra-se o objetivo da escrita, que é justamente se comunicar. As situações de comunicação vão muito além do círculo fechado do "internetês". Fora desse meio diversos tipos de linguagens são usados a todo o momento. Para isso, lembremos mais uma vez que o domínio da língua culta é de extrema importância para o convívio social e que o "internetês" não deve vir para a vida real em hipótese alguma. Com a Internet, a linguagem segue o caminho dos fenômenos da mudança, como o que ocorreu com "você", que se tornou o pronome "cê", numa pronúncia rápida /relaxada/ coloquialíssima, recordando que "você", por sua vez, já é uma simplificação do arcáico "vossa mercê" => "voss'mecê" etc. Vale ressaltar que o "interneteiro" pode ajudar a reformular a ortografia e, no futuro, quem sabe, tornar a comunicação mais eficiente desde que se torne universal e que não venha desconstruir nossos valores nem mesmo desvalorizar a beleza de nossa língua. Também é importante destacar, que a reformulação da nossa ortografia, “pelo 39 interneteiro” só é válida desde o momento que favoreça a população e facilite assim, a comunicação. A partir das diversas opiniões dadas sobre o uso do "internetês", pode- se dizer que o importante é se comunicar, até porque é muito difícil encontrar um indivíduo que segue todas as normas da língua culta no dia-a-dia. Também pode-se deduzir que a Língua Portuguesa deverá passar por mudanças rápidas devido à veiculação de mensagens nos mais variados suportes, incluindo-se a internet e consequentemente o "internetês". Deixemos a seguinte reflexão: o "internetês" poderá "emburrecer" os jovens e atrapalhar a escrita? Nada pode ser descartado. Lévy (1993, p. 11) apud Freitas, Maria Teresa de A. (2006) sugere: “É necessário deixar a técnica pensar em mim ao invés de debruçar-me sobre ela escrita e criticá-la.” Ou seja, é necessário estar aberto ao novo, as mudanças que surgem a todo o momento. 40 Capítulo 3 O uso da escrita na escola Sabendo-se que a língua é viva e dinâmica, além de ser o código utilizado pelo ser humano para se comunicar com seus semelhantes, trocar informações, etc. é fundamental, ou ao menos deveria ser, que todo e qualquer ser humano compreenda o mínimo, que seja, sobre o processo escrita/fala. Sobre o conceito de linguagem VALENTE, 2001 opina: A linguagem é tudo aquilo que permite a comunicação entre homens. Expressão dos nossos desejos e sentimentos, das nossas ideias e emoções, a linguagem torna-se vital para a convivência humana. Não existe sociedade sem comunicação e, por seguinte, sem linguagem. O conceito de Valente permite compreender que pensamento e linguagem estão interligados de forma que um completa o outro, até porque todo pensamento se estrutura através de uma linguagem seja ela gestual, visual, verbal etc. A linguagem é considerada a primeira forma de interação da criança com o meio social. Essa interação é mediada pelos pais através de instruções verbais durante atividades diárias. Antes mesmo de aprender a falar, a criança, através da linguagem, tem acesso a valores, crenças e regras, absorvendo, dessa forma, os conhecimentos de sua cultura. Com o desenvolvimento da criança, a audição e a visão se tornam refinados e ela alcança um nível linguístico e cognitivo mais elevado, principalmente quando ela entra na escola e tem maior oportunidade de interagir com outras crianças. Pode-se dizer que a linguagem difere o homem do animal. O animal não conhece o símbolo, somente o índice, uma forma fixa e única de relação com a coisa a que se refere. A linguagem animal visa a adaptação a uma situação concreta, enquanto a linguagem humana intervém como um abstrato da situação, situando-nos no tempo através do pensamento, enquanto o animal vive apenas no presente. Vygotsky, (1989, p.44) declara: "O pensamento verbal não é uma forma de comportamento natural e inata, mas é determinada por um processo históricocultural e tem propriedades e leis específicas que não podem ser encontradas nas 41 formas naturais de pensamento e fala”. Isto é, os conceitos são construções culturais, internalizados pelos indivíduos ao longo de seu processo de desenvolvimento. Os atributos necessários e suficientes para definir um conceito são estabelecidos por características dos elementos encontrados no mundo real, selecionados como relevantes pelos diversos grupos culturais. É o grupo cultural no qual o indivíduo se desenvolve que vai lhe fornecer, pois, o universo de significados que ordena o real em categorias (conceitos), nomeadas por palavras da língua desse grupo. A constatação de que as crianças apresentam intenções comunicativas desde seus primeiros meses de vida influenciou os estudiosos da linguagem a pesquisar a fala espontânea da criança em interação com seus pais. Segundo Chomsky (1973), a aquisição da linguagem se dá através do processo inatista, contrapondo assim a teoria de Vygotsky, afirmando que a fala dos adultos apresentada às crianças é mal formada, limitada e contendo hesitações, e, portanto, a criança não poderia aprender a linguagem a partir de fontes externas. Outra possibilidade de analisar a aquisição linguística é sugerida no filme "Nell" (Drama), dirigido por Michael Apted (1994 – EUA). O filme “Nell” é produzido e estrelado pela atriz Jodie Foster e conta a história de uma mulher que é criada por sua mãe em uma floresta isolada de qualquer tipo de civilização. Sua mãe, uma eremita que sofrera um derrame, morre, deixando Nell sozinha no mundo. Ao ficar sabendo da existência de uma "mulher selvagem", um médico da cidade, interpretado por Liam Neeson, resolve estudar o comportamento de Nell e se admira com o modo com que ela consegue garantir sua sobrevivência mesmo estando isolada de qualquer outro ser humano. Outro fator que chama a atenção do médico é a linguagem que Nell desenvolveu para se comunicar. Ele percebe que na verdade não se trata de um dialeto totalmente desconhecido, e sim de um tipo de inglês um tanto destorcido, provavelmente ensinado por sua mãe incapacitada. Porém, o médico não é o único a tomar conhecimento da existência de Nell, visto que ela vivia isolada com a mãe na floresta. A psicóloga Dra. Olsen também resolve estudar o comportamento de sua "paciente". Durante o filme, as opiniões dos dois profissionais quanto ao destino de Nell são divergentes. Olsen acha que Nell deve ser levada a uma clínica para ser internada e estudada por profissionais do ramo da psiquiatria (pois acredita que Nell tenha problemas mentais). Já o médico acredita que Nell pode se virar muito bem 42 sozinha e que não necessita de um tratamento, pois apenas a convivência com outras pessoas é o suficiente para que Nell desenvolva um comportamento considerado "normal". "Como a personalidade é formada?" "O que é inato, o que se aprende?" Essas são perguntas feitas pelos personagens do filme Nell para resolver o grande dilema: Nell é ou não capaz de continuar vivendo sozinha, isolada do mundo, apenas com aquilo que lhe fora ensinado por sua mãe? Podemos acrescentar mais algumas perguntas como: de onde vêm as ideias? Nascemos conhecendo e as vamos lembrando com o passar da vida, ou adquirimos o conhecimento através das nossas experiências? Poderia uma pessoa como Nell, que se criou afastada da humanidade, se tornar civilizada? Teria cada pessoa uma limitação intelectual própria ou temos todos a capacidade de raciocinar, clara e ordenadamente? A partir do filme Nell podemos pensar na "outra face da moeda", ou seja, nos descentrar do mundo da linguagem, dos conceitos e da cultura tradicional e repensar nosso papel como membros de uma sociedade que congrega sujeitos ricamente diferentes entre si. Infelizmente, a sociedade é composta por valores e costumes conceituados como certos e errados. Mas o que é certo? O que é errado? Por que ser diferente gera rejeição, estranheza e preconceitos? Esses são temas de suma importância para serem trabalhados na escola. Já que ela deve preparar o aluno para a sociedade, para o mundo, é fundamental que ele esteja pronto para conviver, para deparar-se com os mais diversos tipos de pessoas que surgirão a todo o momento. VALENTINI (2001) destaca a questão do respeito à diferença e faz a seguinte reflexão: "No enfoque tradicional as ciências humanas tendem ou tendiam à busca de uma grande generalização ou de uma igualdade do ser humano. Os indivíduos e grupos que não estão inseridos nos parâmetros tradicionais são excluídos." VALENTINI (2001) mostra o motivo de Nell ter se tornado um objeto de estudo de dois cientistas, ou seja, ser diferente é motivo para tornar-se excluído. Pode-se afirmar que a linguagem é um indispensável elemento de comunicação social, e nem por isso a mesma deixa de pertencer ao domínio individual. Ao usá-la, o indivíduo busca a integração com os semelhantes e exercita, então, a sua cidadania. Ressaltamos que há uma diversidade de linguagens, 43 linguagens essas usadas para atender as necessidades de cada grupo social. Exemplo: linguagem visual, gestual, simbólica e até mesmo a nova modalidade de linguagem criada pelos interneteiros, o internetês. Toda educação verdadeiramente comprometida como exercício da cidadania precisa criar condições para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaça suas necessidades pessoais – que podem estar relacionadas às ações efetivas do cotidiano, à transmissão e busca de informação, ao exercício da reflexão (PCN, 1999, p. 30). Após análises e reflexões sobre pensamento/linguagem analisemos um pouco do processo escrita/leitura dos nossos jovens. Santos (2005, p. 152) ressalta: Diz-se com frequência, que o adolescente não lê! É até verdade que a maioria dos jovens não lê muito a chamada literatura de prestígio e só o faz, quando o faz, ao ser obrigado pelos professores. Entretanto, apesar de não ser habitual e espontaneamente leitor da grande literatura, o adolescente está em permanente contato com a leitura, tendo acesso, diariamente, a inúmeros gêneros de textos (uma vez que a circulação da escrita é intensa em nossa sociedade) tais como: panfletos, revistas, out doors, faixas, jornais em ônibus, cartazes em supermercados e lojas em geral, músicas (poemas) que escutam, cantam e copiam com avidez, e ainda blogs, sites, chats entre outros. Sabe-se, de acordo com nossas experiências, que o primeiro processo entre a leitura e a criança ocorre mediante ao reconhecimento de uma embalagem de um produto, por exemplo, por uma criança. Ao ver esse determinado produto, a criança diz seu nome. Isso não significa necessariamente que a criança leu o nome dessa mercadoria, mas sim fez o reconhecimento visual, uma vez que aprendeu o nome de uma determinada mercadoria, brinquedo, etc. com alguém. Isso significa que ao chegar à escola a criança já possui uma linguagem de mundo, com suas experiências e emoções, o que não deve ser podado, mas sim respeitado a todo o momento, visto que cada indivíduo tem uma realidade de vida não necessariamente igual à dos demais que o cercam. O incentivo a leitura precisa ser trabalhado na vida do ser humano desde os primeiros anos de vida. Uma criança que tem pais leitores, dentro de casa, tende a ser um adolescente e consequentemente um adulto que aprecie um bom texto ou que faz uso contínuo da leitura. É primordial que a leitura também seja incentivada 44 em casa, não devendo somente fazer parte da função da escola. Apesar do ser humano de maneira geral, em seus mais variados estágios da vida, deparar-se com diversos tipos de textos, como propagandas, cartazes, músicas, etc., não é sinônimo de convívio e/ou contato com bons textos, com boa leitura/escrita, uma vez que os veículos de comunicação, na maioria das vezes, comentem erros primários de escrita. A produção textual é outro importante aspecto, salientado pelos PCN’s, que merece muita atenção, pois os textos produzidos pelos alunos, em sala de aula, as chamadas redações, podem, de acordo com o que é postulado no documento, ser usadas como recurso de ensino para trabalhar a língua, propriamente dita, passando de mera atividade de escrita, cujos objetivos são apenas avaliativos, a instrumento voltado ao ensino. Dessa forma, um dos objetivos dos Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa do ensino fundamental é trabalhar o conhecimento necessário sobre as diferentes formas de realização da linguagem na sociedade, a fim de que os sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem possam se comunicar produtivamente nos grupos sociais de que participam e participarão. Por isso, sugere-se aos professores que ensinem seus alunos a utilizar-se da linguagem na escuta e produção de textos orais e na leitura e produção de textos escritos de modo a atender as múltiplas demandas sociais, responder a diferentes propósitos comunicativos e expressivos, e considerar as diferentes condições de produção do discurso (PCN, 1999, p. 33). Santos (2006), em uma de suas pesquisas referentes a escrita na rede, pôde observar que até mesmo na hora de produzir um simples bilhete, os jovens fazem uso de uma escrita espontânea, despreocupada e com um número grande de reticência e palavras de origem inglesa. Observou-se que há uma tentativa de manter a escrita no mesmo ritmo com que se fala. Isso é preocupante. INCONTRI (1996) apud SOUZA (2003 – p. 11) reflete sobre questões pertinentes a evolução na educação: O progresso tecnológico pode nos atiçar, nos empurrar, mas não promove por si só um salto qualitativo na história. E se falamos em revolução, reconheça-se em primeiro lugar que uma revolução é necessária na Educação, independentemente do fato ‘multimídia’ ou ‘informática’. Estes fatores tecnológicos podem instrumentalizar umas tantas mudanças, que 45 seriam necessárias mesmo sem o seu advento. Mas esse advento tornouas de certa forma mais necessária. É indiscutível que ainda há muito que melhorar no âmbito educacional. Mesmo antes da chegada do computador/internet essa mudança já era necessária. Não foi necessariamente a internet que provocou tantas mudanças, ela apenas acelerou esse processo. O Homem necessita de mudanças, de atualização. Sendo assim, o ser humano busca novas descobertas, evolui e consequentemente, impõe mudanças. Enquanto isso, a mídia também está em constante evolução, portanto, mais uma vez, a escola precisa renovar seus métodos e técnicas de ensino. A primeira mudança ocorre na fala, para em seguida acontecer na escrita, ou seja, a mudança ocorre primeiramente entre os falantes, que incorporam e criam novas palavras (neologismo) nas mais diversas situações orais, para assim, serem inseridas, posteriormente, na escrita. A internet já proporciona essa mudança no hábito de escrever, principalmente em sites de relacionamentos, como o MSN. É essa mudança que atrai e conquista milhares de jovens, pois a rede oferece liberdade que a escola, mas particularmente a norma culta, não oferece. Nas instituições e até mesmo na vida existem regras e limites a serem seguidos, quando na verdade o que os nossos jovens mais gostam é justamente quebrar essas regras. Portanto, é necessário que o professor saiba mediar a escrita formal das demais, ou seja, mediar a escrita pertinente a norma culta com a escrita derivada da internet, “internetês”. Diante dos meios de comunicação, Dondis (1999, p.12-13), apud Faria, Maria Alice destaca: Nos modernos meios de comunicação (...) o visual predomina (...). A impressão ainda não morreu, e com certeza não morrerá jamais; não obstante, nossa cultura dominada pela linguagem já se deslocou sensivelmente para o nível icônico. Quase tudo em que acreditamos, e a maior parte das coisas que sabemos, aprendemos e compramos, reconhecemos e desejamos, vem determinado pelo domínio que a fotografia exerce sobre nossa psique. Um grande exemplo de que o visual predomina, na maior parte das circunstâncias, é o outdoor. Ele é considerado, por muitos, o último apelo ao consumidor antes da compra. Ele está ali, na rua, bem próximo ao seu ponto de 46 venda. Num mercado tão competitivo quanto o nosso, isso pode ser decisivo. São esses, os detalhes, da influência que um texto, como a propaganda, pode ter na vida de uma pessoa. O outdoor é um tipo de anúncio que objetiva alcançar, principalmente, quem está dirigindo, quem tem pressa, pois seu tamanho e a pequena quantidade de palavras atraem a atenção dos motoristas. Concorda? Também é importante estar atento diante do consumo excessivo e da persuasão que a propaganda exerce na vida de cada um de nós. Nos ambientes em que o visual predomina, é preciso analisar cada imagem seguida dos objetos e pessoas que a rodeiam. Também é necessário ver além da imagem fotografada, ou seja, o seu significado como um todo. Isso se torna importante no momento em que compramos algo. Precisamos refletir se realmente estamos precisando daquilo que estamos prestes a adquirir. Diante disso, o professor precisa aprender a analisar as imagens, o valor e a necessidade de cada coisa, e conseqüentemente ensinar aos seus alunos. É preciso enxergar além da imagem, sendo crítico suficientemente para compreender além daquilo que está diante de seus olhos. O professor pode fazer uma analogia sobre esse assunto criando situações para que seus alunos enxerguem e entendam que por trás de uma imagem, de uma oração, de um verbo, de um sujeito, por exemplo, há o objetivo do aprendizado de frases grafadas e pronunciadas de forma correta. Segundo Dondis, (1999, p.7) “A informação visual é o mais antigo registro da história humana”. Enquanto o visual predomina nos meios de comunicação, o verbal predomina nas escolas e na área jornalística. Atualmente, muita coisa já gira em torno da imagem, como a propaganda, o consumo, a informação, etc. A quem diga que uma imagem vale mais que mil palavras. Com a presença da mídia cada vez mais constante na vida das pessoas, ela alcança seus objetivos. É de algo assim que a escola precisa. Necessita-se de um estímulo, um atrativo a mais para que os alunos despertem dentro de si a importância da escola em suas vidas. Também não podemos deixar de enfatizar o professor nesse ambiente, que ocupa um papel de suma importância na educação, mas que na verdade está sendo cada dia mais mal remunerado e menos valorizado. 47 Costa, Sérgio Roberto (2006, p. 25) faz a seguinte reflexão: Assim como o homem, para escrever e ler textos inventou/ criou discursivamente os sistemas da escrita (pictóricos, ideográficos e alfabéticos) e diversos recursos editoriais, assim como os editores de romances, contos, novelas poemas inventaram recursos de escrita para criar seu discurso estético; assim como os produtores de histórias em quadrinhos e de tirinhas também buscaram outros recursos gráficos, além do sistema de escrita, assim também os internautas estão revolucionando a escrita no ciberespaço, tanto como sistema quanto como processo discursivo. Se formos observar, hoje, manchetes, textos de jornais, revistas propagandas, publicações diversas, etc., certamente encontraremos o estilo on-line influenciando a escrita off-line. A colocação de Costa é importantíssima, visto que são os vícios do ambiente virtual que os alunos estão levando para a sala de aula. São diversos os pais e educadores que tentam romper esse fenômeno. Em cada época e grupo social alguma coisa terá predominância. Essa é a época do internetês. Assim como houve a fase do rock, do Elvis, do Michael Jackson, etc., há agora, no mundo contemporâneo, a fase de uma nova forma de grafar as palavras. A linguagem dos chats é uma boa fonte para se verificar o português falado no Brasil. Dessa forma, o ensino nas escolas pode ser avaliado, e até mesmo reavaliado, procurando assim, melhorar os erros que estão sendo cometidos, melhorando assim o nosso ensino. 48 Capítulo 4 Análise do “Internetês” na Escola A internet, desde os seus primórdios, revelou-se uma fonte aparentemente inesgotável de conhecimento. De tanta informação que recebiam, as pessoas chegavam ao ponto de ler as coisas e, depois esquecê-las completamente. Não há como negar, que após o surgimento da web diversos tipos de atividades comerciais e educacionais tornaram-se mais práticas, velozes, etc. Uma vez que a rede atraiu e ainda atrai uma grande diversidade de público, torna-se cada vez mais difícil prender a atenção dos que se fazem presentes no mundo virtual, visto que as instituições de ensino, de maneira geral, normalmente, utilizam uma simples gama de métodos de ensino para pessoas, na maioria das vezes, que estão acostumadas com um nível de tecnologia avançado, diversificado, ou seja, enquanto a escola possui uma metodologia de ensino “padronizada” com regras e prazos a ser cumpridos, a internet não possui regras fixas, sendo consequentemente mais atraente. As crianças também estão cada vez mais inseridas nesse novo ambiente. Uma vez que milhares de adultos encontram dificuldades para dominar essa nova técnica, internet/ computador, elas aparentam dominar essa ferramenta com facilidade e entusiasmo. Estão se comunicando, brincando e até mesmo aprendendo com essas novas mídias. Diante do grande número de pessoas que fazem uso do ambiente virtual, ressaltemos o fato de milhares de pessoas não terem o privilégio de ser ao menos alfabetizadas digitalmente. Com isso, a socialização da internet se tornará um sonho cada vez mais distante, uma vez que os professores e profissionais na área, não são capacitados, na maioria dos casos, para desfrutar as atualizações e comodidades que a rede oferece. O uso de computadores cresce rapidamente em nosso país, sendo assim, a rede de usuários aumenta a cada instante, de forma que, não só o mercado de trabalho, mas também diversas situações cotidianas exigem novos modos de aprendizagem, atualizações, etc. Também é importante lembrar que as publicações 49 e informativos presentes na web não são uma versão eletrônica do impresso, do papel, mas sim uma nova tecnologia em construção. A presente pesquisa, ao entrevistar adolescentes do quarto ciclo do ensino fundamental, buscou compreender em seus diversos aspectos a construção da escrita no mundo virtual. De acordo com a professora de Língua Portuguesa, Fernanda Pereira Moreira¹ – Externato campista (rede privada) seus alunos raramente usam o internetês diante dos trabalhos escolares pedidos por ela. A docente alega que faz um trabalho de conscientização sobre onde se deve ou não usar essa linguagem. Ela acredita que esse método funciona também pelo fato de descontar pontos nas atividades quando isso ocorre. Isso intimida, afirma. Sendo assim, cada escola deve criar estratégias para diminuir, combater ou até mesmo ter o internetês como um aliado, se for o caso. Isso irá variar de acordo com o regimento de cada instituição. A pesquisa de campo buscou compreender a vida escolar dos alunos bem como verificar a importância e a influência do computador/internet em suas respectivas vidas. A pesquisa de campo dividiu-se em duas etapas: a primeira realizou-se em 2007 com o oitavo ano do ensino médio, e a segunda em 2008 com o nono ano do ensino médio, ou seja, com o quarto ciclo do ensino fundamental. Vale ressaltar que de um ano para o outro houve pequenas alterações mediante alguns métodos de comprovação de dados. O grande objetivo de ter realizado a pesquisa de campo em duas etapas, foi buscar compreender o objeto de estudo que vinha sendo estudado através de pesquisas bibliográficas, bem como crescer e simplesmente aprimorar o método de avaliação de um ano para o outro. _________________________________________________________________ 1. Professora de Língua Portuguesa do Colégio Externato Campista na cidade de Campos dos Goytacazes. 50 PRIMEIRA ETAPA (OITAVO ANO) A pesquisa, em sua primeira etapa, foi realizada em duas escolas, sendo uma particular (Colégio Santos Dumont – Anglo) e a outra pública (Liceu de Humanidades de Campos). Analisaremos perguntas realizadas durante a entrevista com os alunos, bem como o percentual das possíveis respostas colhidas nesse processo. Ao serem questionados da possibilidade de o “internetês” interferir no rendimento escolar, 33% dos discentes disseram que essa grafia não interfere, pois, na sala de aula, costumam utilizar a linguagem padrão e só usam o “internetês” ao conversarem em MSN, ORKUT, etc. Todavia, 47% dos discentes responderam que a grafia utilizada na Internet atrapalha, já que os jovens e eles próprios costumam permanecer várias horas em bate-papos, adquirindo o hábito de escrever como na rede. Os demais alunos, totalizando 20% disseram que algumas vezes atrapalha e outras não, visto que algumas pessoas utilizam o “internetês” no contexto apropriado, e outras não conseguem fazer essa distinção e acabam utilizando-a de modo indiscriminado. Durante a realização da pesquisa, pôde ser detectado que 100% dos alunos entrevistados nas duas escolas possuíam algum tipo de influência da escrita pertencente ao “internetês”. Vale ressaltar que a dimensão do uso dessa linguagem variou entre os alunos, sendo que em proporções diferentes. 51 No colégio Santos Dumont, a faixa etária dos alunos do oitavo ano (7ª série) que participaram da pesquisa é de 13 a 15 anos. Por meio dessa detectou-se que os discentes permanecem de 2 à 7 horas por dia na rede. Essas normalmente são distribuídas nos sites mais acessados por eles. São eles: Google, Orkut, Messenger (MSN), Youtube e site de jogos. Já no Liceu de Humanidades de Campos (rede pública), a faixa etária dos discentes, do oitavo ano (7ª série), é 13 e 14 anos. Nesta escola a pesquisa pôde detectar que os discentes permanecem de 2 a 3 horas por dia na rede. Quando perguntados se conseguem viver sem a Internet, 27% dos alunos responderam que sim, ao passo que 67% disseram que não. Os 6% restantes afirmaram que é relativo, pois por um lado, a Internet agiliza e facilita a comunicação e é um meio muito útil de pesquisa, contudo é possível viver sem ela, uma vez que o que pertence ao mundo virtual partiu do real. Ainda relatam que apesar da internet oferecer uma enorme comodidade, grande parte dos serviços, realizados na rede, também podem ser realizados fora dela. Por exemplo: a leitura de alguns livros, jogos, contato pessoal e etc. Colégio Santos Dumont - Anglo Grande parte dos alunos, mais precisamente 67%, responderam que conseguem viver sem a Internet, pois há outros entretenimentos e outras formas de se comunicar, no entanto enfatizam que o cotidiano seria um tédio sem a mesma. Apenas 33% disseram que não conseguiriam viver sem ela, pois é o meio de 52 comunicação que utilizam para conversar com os amigos e usam-na com frequência em trabalhos escolares. Liceu de Humanidades de Campos Exatamente (84%) dos alunos, quando questionados se a Internet atrapalha a vida escolar, responderam que sim e disseram que, devido ao fato de utilizarem com grande frequência o “internetês”, acabam se acostumando com a escrita e usando-a em contextos não adequados. Uma pequena porcentagem dos discentes (16%) respondeu que o “internetês” não atrapalha. 53 Um marco, também muito importante, desta pesquisa, foi a diferença qualitativa textual de uma escola para a outra.. Pôde-se observar que na rede privada a produção textual é bem mais rica, com palavras mais elaboradas, porém em menor quantidade. Já na rede pública, os alunos escreviam mais e exploravam o assunto trabalhado, entretanto utilizavam um vocabulário bem limitado, com palavras repetitivas e simples, ou seja, pouco criativo. 54 SEGUNDA ETAPA (NONO ANO) A segunda etapa da pesquisa foi realizada no Colégio Externato Campista (rede particular) com o nono ano do Ensino Fundamental. A faixa etária dos alunos entrevistados, deste colégio, varia entre quatorze e quinze anos. Quando perguntados se sempre estudaram em rede particular, apenas três alunos, o que corresponde (13%), responderam que nem sempre, ou seja, também já estudaram em rede pública de ensino. Pode-se dizer que os alunos da rede pública de ensino estudam lá por não terem condições financeiras e não por escolha. Deixemos bem claro que estamos longe do objetivo de desmerecer uma escola seja ela estadual, municipal, porém não podemos omitir o fato que as mesmas, na maioria dos casos encontram-se numa situação precária tendo muito a ser melhorado. Baseando-se na pesquisa de campo e na própria experiência, em sala de aula enquanto docente, muitos internautas usam o “internetês” em diversas situações diárias, e não somente na internet, como deveria. Diante desta informação, inserimos na entrevista a seguinte pergunta: “Há alguma disciplina que você aprecie menos que as demais ou sinta maior dificuldade? Num caso ou no outro, por quê?” O objetivo desta indagação foi verificar se ocorreria um relevante número de respostas em comum. No caso, um grande número de alunos que não apreciasse e/ou mostrasse interesse pela Língua Portuguesa. Se por algum instante este fato ocorresse, haveria a necessidade de realizar-se um segundo estudo com a finalidade de descobrir se existiria, algum tipo de ligação, entre o uso excessivo do “internetês” e o desgosto pela Língua Portuguesa. Portanto, as disciplinas mencionadas pelos alunos, diante da pergunta acima foram: Inglês; Matemática; Português; Química; 55 A pesquisa também pôde detectar que a grande maioria dos alunos da rede particular (90%), permanece na rede numa média de duas a nove horas por dia de segunda à sexta-feira. Porém nos finais de semana, normalmente não há limite de tempo imposto pelos pais, ao menos quando não se refere ao período de provas. Já quando perguntados se o internetês já fazia parte de suas vidas, de seu cotidiano, 77% dos jovens responderam que sim, enquanto 13% responderam que não e os outros 10% alegaram que vêem lutando contra o uso constante de abreviações. SIM (77%) NÃO (13%) LUTANDO (10%) Uma das justificativas relatadas para o uso demasiado das abreviaturas das palavras seria a rapidez e a facilidade para se comunicar. Outro fator mencionado pelos alunos é a economia de tempo na hora de escrever. Para 88% dos entrevistados possíveis motivos do sucesso e importância da Internet são: Comunicação entre amigos; Facilidade de estudar, pesquisar; Proximidade (forma de conter a saudade); Lazer (jogos); Fonte de informação; 56 Para os demais 18% dos entrevistados a Internet possui pouca ou nenhuma importância. Também apresentamos reflexões: “Para você, o que é mais importante? A internet ou o computador, como veículo dela? Para você, o uso do computador sem a Internet não teria a mesma importância? Por quê?”. Através dessas perguntas, a pesquisa verificou que para apenas um aluno, o que corresponde a 4%, o computador é mais importante que a Internet. Já para 73% do alunado “o computador é morto, sem graça” sem a Internet. Vale ressaltar que apenas 23% dos entrevistados têm consciência de que computador e Internet complementam-se. "SEM GRAÇA" (73%) UM COMPLETA O OUTRO MAIS IMPORTANTE (4%) Noventa por cento (90%) dos alunos entrevistados, concordam que permanecer muito tempo na rede, fazendo uso de abreviações e do próprio internetês, pode ocasionar dúvidas na hora de escrever corretamente uma palavra. Esses 90% defendem a opinião de que o uso demasiado de abreviações, gera o esquecimento da ortografia correta das palavras. Já os 10% restantes discordam e alegam que, as pessoas que escrevem errado de acordo com a norma culta, lêem pouco e que o fato de saber a ortografia correta depende também da inteligência de cada um. A afirmação acima concedeu à pesquisa a oportunidade de verificar, se por acaso, os discentes já passaram por momentos de dúvidas quanto a ortografia de 57 algumas palavras. Pôde-se confirmar que 64% dos alunos já passaram por isso, 23% não e 13% não se lembram. PASSARAM (64%) NÃO PASSARAM (23%) NÃO SE LEMBRAM (13%) Os que já passaram por essa situação relataram que o professor retirou pontos e sublinhou a palavra, portanto passaram a pesquisar no Google, no dicionário ou até mesmo perguntar a alguém quando não sabiam. Um relevante fato mencionado no decorrer das entrevistas é que a internet funciona como uma “companhia” quando não há nada para fazer. Por outro lado, mostraram-se viciados na rede, uma vez que afirmaram que a vida não teria a mesma graça sem o mundo virtual. Também evidenciam que o mundo gira em torno da rede e sem ela, portanto, o mundo estacionaria. Isto é o que se depreende das nossas opiniões. Mediante o assunto, 59% dos entrevistados dizem que a vida não teria a mesma graça sem a internet, enquanto 41% afirmam que a vida não mudaria, até porque há outras coisas para fazer. Aproveitando o gancho, afirmou-se: “A linguagem se renova quando se renovam os meios”. Diante dessa afirmação temos 81% que opinam pela mesma opinião contra 18% que não. Segundo 73% dos próprios alunos o “internetês” mudou ou influenciou de alguma forma a escrita deles. 58 A internet também se torna atraente pelo fato de as pessoas manterem contato, seja com pessoas próximas ou distantes. Nesse caso, a palavra chave é interação. Uma vez perguntados se o impacto do “internetês” poderá gerar profundas e duradouras mudanças na Língua Portuguesa, as respostas mais frequentes foram: “Não mudará. A língua portuguesa continuará a mesma coisa”; “Não, pois as pessoas só escrevem errado na internet e nem todos a usam”; “Não. As pessoas sabem que a linguagem da internet precisa ser diferente da vida social”; “Sim, já há muita gente se prejudicando por conta desse vício”; “Sim, pois a internet abrange a cada dia um número maior de pessoas”; “Sim. O número de palavras escritas de forma errada crescerá cada vez mais, prejudicando a língua padrão e isso poderá gerar dúvidas para escrever da forma correta”; “Sim. A língua já está mudando. A nova ortografia pode provar isso”; “Talvez a longo prazo”; Como o “internetês” traz opiniões divergentes quanto a seus benefícios e malefícios, digamos assim, também foi escutada a opiniões dos jovens segundo esse tema tão polêmico. Obtivemos as seguintes: 41% - O internetês proporciona mudanças negativas, pois a língua portuguesa poderá perder suas origens devido ao fato de ocasionar esquecimento e dúvidas no momento em que se exige a norma culta; 32% - O internetês poderá trazer mudanças positivas com o intuito de facilitar e agilizar a escrita; 27% - Depende. É bom para o internauta e ruim para quem não pertence a esse mundo, que se sente excluído. Pode-se notar que as opiniões são bem variadas acerca do tema. Da mesma maneira que indagamos os sites mais acessados pelos alunos do oitavo ano, na primeira etapa, citada anteriormente, também verificamos os sites mais visitados pelos discentes, com o intuito de permanecermos atualizados em relação ao que interessa esta nova geração. Os mais visitados são: 59 Orkut; Google; You Tube; Globo.com; Sites de música e jogos; Podemos notar que os sites mais visitados tanto pelo oitavo ano, como pelo nono ano, foram muito similares, ou seja, quase os mesmos. A pesquisa de campo além de ter contato com entrevistas, método para avaliar os discentes, também contou com uma pequena amostragem de textos redigidos por alunos da primeira etapa da pesquisa já mencionados anteriormente. Ao serem solicitados para escrever suas respectivas opiniões, sobre o tema “O que é mais importante: namorar ou internetar?”, buscou-se verificar se as respostas obtidas durante a entrevista iriam de encontro com a escrita, com os vícios e etc. dos textos redigidos por eles. Os textos foram: “O QUE É MELHOR NAMORAR OU ‘INTERNETAR”? Eu gosto mas de interneta do que namora porque Eu posso falar com meus amigo e com minha amiga Eu também gosto de entra nos saites defutebool E tambem interneta e muito melho do que namora E tambem interneta e mais divertido essa e a minha redassão” Neste primeiro texto, é nítida a falta da letra “R” nos vocábulos interneta, namora, entra, melho ao invés de internetar, namorar, entrar, melhor. Também é possível notar a presença de palavras repetitivas em curto espaço de palavras, erros de concordância, ausência de pontuação, erros ortográficos e uso de uma linguagem típica da fala e não da escrita. 60 “O QUE É MELHOR NAMORAR OU ‘INTERNETAR”? Depende muito do momento.Adoro ficar na net, na maioria das vezes eu passo o dia todo tc.tenho vários amigos que nunca nem vi, nem sei como é, conversamos sobre tudo principal mente nossas vidas, desilusões, como foi nosso dia, mais o ruim e quando precisamos de um ombro amigo, um a braço, ou alguém pra chorar juntos ai pela net fica difícil. mais eu amo meus amigos da net tenho gente ate de Portugal. Namorar tbm e MT bom e uma coisa mais real agente sabe que uma coisa ñ substitui a outro, um namorado na net ñ e a msm coisa de um namorado que ta sempre com vc, namorar e mto bom, mais mts vezes substitui o meu namorado pela net. So para tc com meus amigos. Pow a net foi a melhor coisa que criaram na minha opinião. Pow mais namorar tbm e MT bom sair, conversar, dançar cortir a vida for da net.amoooo tudinhuu issooo...” Já neste segundo texto a discente apresenta sua opinião sobre os dois lados da internet. Pode-se perceber que esta aluna mostra-se não ser uma usuária assídua da rede, uma vez que ela conhece e convive com os dois mundos, real e virtual, sabendo distinguir o lado bom de cada um. Também é possível notar a presença constante de abreviações, o uso do “internetês”, a falta de parágrafos, forte presença da linguagem falada, gírias (Pow), erros de concordância e até mesmo a ausência de letras maiúsculas ao iniciar uma frase. “O QUE É MELHOR NAMORAR OU ‘INTERNETAR”? N a minha opinião um ajuda o outro pq se vc tem vergonha de chega em uma garota pode ir chegando nela pelo MSN ai na hora de fla com ela pessoalmente jah tah mais tranqüilo. Quando vc pega ela pela 1ª vez vc tem q ser educado para vc pode pega mais vezes. 61 Iniciando uma análise pelo título, já é possível perceber o uso incorreto das aspas, não só neste texto, mas nos anteriores também. Na primeira linha já é notável o uso do “internetês” como em (pq, vc, fla). A presença do fonema “h” nas palavras (jah e tah) oferece uma sensação de alongamento nas palavras. Rompe justamente, com a principal marca do “internetês”, a economia de palavras. Além da presença constante de traços típicos da fala, o autor do texto mostra ter um vocabulário pouco rico em opções de palavras, visto que faz uso do pronome “você” três vezes numa mesma linha. É importante observar que ele também mistura números com letras em um texto que não apresenta caráter informativo, mas sim opinativo. Cabe a seguinte reflexão: as escolas estão oferecendo aulas de redação, incentivo a leitura, estão apenas ensinando gramática ou os nossos discentes não estão apresentando o menor interesse com a aprendizagem? O QUE É MELHOR NAMORAR OU ‘INTERNETAR”? Eu naum defendo nem critico nenhum dos dois..., pois um ajuda o outro... Por exemplo... Vc quer chegar em uma garota e tah “meio” sem coragem de chegar nela... ai vc começa a flar com ela no MSN...ai rola um lero mais inspontaneo... Ai depois q vc jah fla com ela pego uma moral..ai vc chega nela pelo MSN... “internet” ai depois fk... “namorar”!!! O texto inicia-se com o “tão famoso” (naum), expressão típica do “internetês”. Visto isso, é importante notar que o discente, produtor do texto em questão, aparenta não saber utilizar os sinais de pontuação de forma adequada. Tanto neste 62 como nos demais, há a presença da expressão grafolinguística, conhecida como “internetês”, bem como traços da linguagem falada num texto escrito. “O QUE É MELHOR NAMORAR OU ‘INTERNETAR”? Os 2 são bons podem dar vantagens ou não na minha opinião pessoao são bons a internet serve pro desenrrolo o no namoro eh pro creu... boa combinação .papo reto manow se o cara souber usar os 2 ele se da bem. Neste pequeno texto, o que mais chama a atenção, é a linguagem. O autor utiliza de uma linguagem, um tanto quanto, “vulgar, rústica”, mistura números com letras e, além disso, peca na ortografia de algumas palavras. O QUE É MELHOR NAMORAR OU ‘INTERNETAR”? Não tem como dizer o que é melhor, depende do momento tem horas que você ta afim de ficar na net e outras que ta afim de namorar, depende de quem é o cara e de o que ta fazendo na internet... intão não tem como dizer com certeza os dois é sempre bom (: Ao realizar uma breve leitura do texto acima, nota-se que há a presença de uma opinião estabelecida. Visto isso, pode-se notar que apesar de existir traços da fala, e até mesmo falta de pontuação, temos um texto bastante razoável, para o ano escolar da aluna e para um grupo em que 100% dos alunos fazem uso do “internetês”. Após todas as exposições dos dados obtidos durante a realização da pesquisa de campo, não podemos esquecer que não é apenas a internet que está banalizando a escrita, mas também as diversas formas midiáticas que cometem equívocos na sua forma de redação. Será que há apenas um culpado, digamos 63 assim, quanto à fuga da norma culta e a adesão do “internetês”? É uma resposta que vários estudiosos buscam. A prova Brasil nos mostra que dos mais de 5,5 mil municípios brasileiros, apenas 62 apresentam turmas de 1ª a 4ª série com um ensino público de qualidade (nota 6,0). O ensino significativo da leitura e escrita é apontado como o maior responsável pela boa qualidade da aprendizagem nos níveis iniciais. Após essa informação, cabe-nos a seguinte pergunta: Seria o “internetês” “um vilão” da Língua Portuguesa, apenas um novo advento sem maiores consequências, ou mais um gênero textual com suas modalidades e características próprias? Um gênero textual possui características que o fazem ser rapidamente reconhecido, que o diferencia dos demais. Talvez possamos dizer que o “internetês” é mais um gênero textual, uma vez que ele é fundamentado na escrita e a escrita, por sua vez é fundamentada na fala que se renova constantemente. Marcuschi (2002, p. 35) considera o trabalho com gêneros textuais “uma oportunidade de se lidar com a linguagem em seus mais diversos usos autênticos no dia-a-dia”. Para o autor, nada do que fizermos linguisticamente está fora de ser feito em algum gênero. A leitura de diferentes gêneros possibilita verificar as várias possibilidades de realização da linguagem que cumprem objetivos entre seres que interagem em grupos sociais específicos e em situações particulares. Assim, é salientado que “a noção de gênero, constitutiva do texto, precisa ser tomada como objeto de ensino” (PCN, 1999 p. 23). Vistos dessa forma, os gêneros textuais podem ser apreendidos como ferramentas indispensáveis de socialização, usados para compreender, expressar e interagir nas diferentes formas de comunicação social de que participamos. Para concluirmos esse capítulo, sugiro ao leitor, a seguinte reflexão de NOGUEIRA, Sérgio apud HANSEN, Karla (2006): Não se trata de rejeitar, diminuindo-lhe a importância, ou de elevar aos céus, atribuindo-lhe poderes para “revolucionar” ou mesmo ameaçar a língua portuguesa. As experiências em sala de aula têm a qualidade de reconhecer o fenômeno e explorá-lo, mostrando sua dimensão real. Dessa forma, é possível que o “internetês” ainda dê o que falar. Mas, com o vocabulário reduzido de que ele dispõe, é provável que o debate, assim como a própria vida do novo dialeto, não sejam capazes de ir muito longe [...] 64 Considerações Finais Um usuário competente na escrita e na fala é cada vez mais importante, não só no mundo globalizado, mas também na condição efetiva para a participação social. Sendo assim, o domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento, etc. De acordo com os PCNs, para poder ensinar Língua Portuguesa a escola precisa: Livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma “certa” de falar, a que se parece com a escrita, e o de que a escrita é o espelho da fala, e sendo assim, seria preciso “ consertar” a fala do aluno para evitar que ele escreva errado. Essas duas crenças produziram uma prática de mutilação cultural que, além de desvalorizar a forma de falar do aluno, tratando sua comunidade como se fosse formada por incapazes, denota desconhecimento de que a escrita de uma língua não corresponde inteiramente a nenhum de seus dialetos, por mais prestígio que um deles tenha em um dado momento histórico. Dessa forma, a presente dissertação expressa a busca, por parte de uma professora de português a lidar com adolescentes, em sua maioria internautas e "netfalantes/netescribas", de elementos de compreensão e convivência com esse linguajar e com seus usuários. Preocupou-se, a pesquisa, não apenas com o "internetês" em si mesmo. Atentou ela para suas razões, manifestações, eventuais consequências ou riscos, tanto para os adolescentes quanto para os praticantes do “internetês”. Voltou sua atenção também para a evolução da cultura em cujo seio se alastra ou para a integridade, a pureza do idioma em que ele vai a constituir uma espécie de "linha paralela" - no caso, a nossa "última flor do Lácio, inculta e bela". Pragmaticamente, a pesquisa se ocupou, principalmente, em observar o comportamento deste “falar e escrever ‘internetês’” e de uma amostra de seus usuários, com a preocupação de contrastar as idiossincrasias desses “falares” contra o pano de fundo dos valores pertinentes a Língua Portuguesa, das 65 variedades linguísticas, da valorização da língua materna, dos conhecimentos que o aluno já traz ao chegar à escola, enfim daquilo que, na sociedade em que vive esse aluno "internético", o aguarda em seu caminho para galgar espaços no mercado de trabalho, na valorização pessoal e social. Este jovem encontra-se, hoje, numa encruzilhada, e não apenas cultural, não somente por seus falares destoantes da norma culta, mas também pelas incompreensões e rejeições a isto relacionadas. Assim, as novas tecnologias, principalmente a Internet, trazem para os professores um novo desafio na forma de ensinar. Diante de tamanha mudança, pais, professores e educadores de maneira geral, estão cada vez mais preocupados com a linguagem predominante no ambiente virtual, o “internetês”. Cabe a pergunta: haveria motivos para tanto alarme diante do fenômeno “internetês”? A pesquisa sugeriu que não. Os dias passam, a vida passa, as pessoas mudam e por que não aconteceria o mesmo com as coisas que nos cercam? A mudança é inevitável na vida do ser humano, no mundo, mas para tanto é preciso que o homem evolua, para que assim evoluam também nossas formas de agir, pensar e para que nossa qualidade de vida consequentemente melhore. Em suma, a pesquisa bibliográfica, seguida de uma pesquisa de campo, pôde detectar, que a nova modalidade de escrita usada pelos internautas, “internetês”, influencia a ortografia dos estudantes tanto na prática escolar quanto, presumivelmente, na vida social. Dado o caráter, tão recente, da voga do “internetês”, e a escassez, ainda hoje, de estudos e reflexões a respeito desse novíssimo objeto de estudo, não se tem ainda condições de afirmar, com segurança, todos os possíveis pontos “positivos” e “negativos” que ele trouxe e/ou trará. Pode-se inferir, ao analisarmos com cautela os dados obtidos durante a pesquisa de campo e bibliográfica, que tanto os alunos das escolas particulares 66 quanto os da escola pública analisada revelam influência na grafia devido ao excessivo uso do “internetês”. Também se pode afirmar que a pesquisa pôde nos aproximar mais da vida dos alunos, entendendo-os melhor e acompanhando-os de perto. E este contato mais estreito, essa busca de compreensão do fenômeno estudado, construíram esta dissertação de modo a mostrar, não apenas o internetês como interveniente na comunicação de alunos do quarto ciclo do ensino fundamental, mas também como mais um gênero textual a reafirmar o poder de permanente recriação que a linguagem e as línguas humanas revelam através dos tempos. 67 REFERÊNCIAS ANTUNES, Celso. Como transformar informações em conhecimento. Petrópolis – RJ: Vozes, 2001. AREND, Silvana (2006). Ler e escrever hoje é como antigamente? Ciências & Cognição; Ano 03, Vol 07: 128-134. <www.cienciasecognicao.org> (Disponível em 20/01/08). BRAÇAROTO, Leandro. Internetês ou Português – Analfabetismo <www.meuartigo.brasilescola.com> (Disponível em 16/03/2010). CAMARGO, Kledson Bruno. Comentários <www.coladadweb.com> (Disponível em 18/09/06). - O nome da Virtual. rosa CHARTIER, Roger. 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[]´s abraços (:-) careca :-) feliz :-( triste B-) batman :- )> barbudo %+( espancado ?-) olho roxo R-) óculos quebrado :^) nariz quebrado :-t mal-humorado __________________________________________________________ Emotions: símbolos utilizados na rede, principalmente no MSN para expressar algum sentimento por meios de carinhas ao invés de palavras. 71 X-) estrábico :´-( chorando i-) detetive :-)´babando <:-) pergunta estúpida ::-) usuário de óculos _m(o-o)m_ espiando por cima do muro :-}+:-)=(_)> vamos tomar um chopinho :-´) resfriado :-C queixo caído :-# beijo :+) nariz grande :-D gargalhando :-} olhando maliciosamente para alguém (-: canhoto :-9 lambendo os lábios :-{ bigode (-) precisando de um corte de cabelo :^) nariz deslocado =:-) punk O:-) santo :-@ gritando :-O chocado :-V berro :-i fumante :-6 gosto azedo da boca :-V falando *-) drogado :-T lábios selados :-p língua na bochecha :-/ indeciso :- )) muito feliz :- (( muito triste :-e muito infeliz 72 D:-) usando boné [:- ) usando headfones :- (#) usando aparelho dentário ;-) piscando :-7 sorriso irônico I-O bocejando Com torna-se C ou C/ Quando torna-se Kdo, qdo ou qd ou qnd Quanto em kto ou qto ou qnt Donde torna-se dd Comigo torna-se cmg Para torna-se p/ ou p Beleza torna-se blz Não torna-se ñ, n, nom ou naum Também torna-se tbm, tb Teclar torna-se tc Imagem torna-se img Como torna-se cmo, cm Firmeza torna-se fmz Muedues! Variação de Meu Deus! Hehehehe q é usada como risada Sei lah que substitui sei lá Pqp que significa p*** que pariu FDP que significa filho da p*** Us mano i as mina que é usado para descrever sujeitos que seguem o estilo hip-hop Kd vc? Que simboliza Cadê você? Flw que simboliza Falou T+ que simboliza Até mais O q? que simboliza O quê? Vc que simboliza Você C que simboliza se Vlw que simboliza Valeu Eh que simboliza è Mto que simboliza Muito 73 Blz que simboliza Beleza Tb ou tbm que simboliza Também + que simboliza mais - que simboliza menos +/- que simboliza mais ou menos Qm que simboliza Quem Xau que simboliza Tchau Aff que simboliza Afe Tah que simboliza Tá Tou que simboliza estou Oby que simboliza obviamente Axu que simboliza Acho quê Vsf que simboliza vai se f**** B4 (before) = depois hehehehehe = tipo de risada Beijaum= beijam HUMPF= demonstra desagrado BLZ ou blz ou Blz = beleza Ixi, putz, = exclamações BUÁÁÁÁ = choro Lammer = pessoa idiota CHUIF = choro Naum = não SNIFF ou sniff!! = choro Nomidade = nome e idade CD,cd, kd, KD = cadê Otoh (On the other han) = por outro lado Chatear = conversar com alguém no CHAT PVT-me (Private me) = chamar alguém para a sala. Cool = legal (o mesmo que rulez) Sacmskssssss = representa beijo Fonte: ZAGO, Rodrigo do Prado, Knowledge Home Page. Internet <http://www.terravista.pt/FerNoronha/2312/index23.ht> 74 APÊNDICE 2 ENTREVISTA COM PROFESSORES Escrevendo na Internet, as pessoas abreviam as palavras de várias maneiras. Esta escrita é conhecida como INTERNETÊS. Pedimos-lhe suas opiniões sobre isto. Elas serão de imensa valia para minha dissertação de mestrado em Cognição e Linguagem, UENF, e desde já lhe expresso meu agradecimento. 1 - Por favor, informe seu nome, escola em que trabalha e endereço eletrônico. Fernanda Pereira Moreira – Externato campista. 2 - Há quanto tempo trabalha como docente de Língua Portuguesa? Uns 15 anos. 3 - Durante toda a sua carreira profissional, que tipos de "erros de português” têm sido mais frequentes, e quais são aqueles que, a longo prazo, considera mais danosos/ mais difíceis de serem corrigidos? Erros de concordância, acentuação, acentos diferenciais. 4 – De acordo com sua experiência, quais os (eventuais) principais “malefícios” e “benefícios” que o advento da Internet ocasionou? Malefícios – na escrita de alguns, pois os erros, o computador conserta.E benefícios, nenhum, pois tudo que querem pesquisar já vem pronto e a maioria nem se dá ao trabalho de copiar. 5 – Else Martins dos Santos considera que: “A linguagem se renova quando se renovam os meios” Você concorda com isso? Em caso afirmativo, o que diria sobre Internet/ “Internetês”? Sim, se usada de maneira adequada com escrita e concordância corretas e não com o intenetês. 6 – A partir do surgimento do “Internetês”, você pôde observar mudanças no rendimento escolar dos seus discentes? Quais positivas e/ou negativas? Como a escola que eu trabalho é particular, é difícil usarem o internetês em suas atividades. 75 7 – Sabe-se que, com cada vez mais frequência as pessoas estão abreviando palavras. Você também costuma abreviar palavras em questões formais ou informais? Qual é a sua opinião a respeito disso? Em que contextos e em que tipos de situações o uso de tais grafias seria válido? Informais. Não concordo, porém a pressa fala mais alto. Seria válido apenas em poucas situações informais. 8 - CARLOS E FRANCO apud JUSTI (2008) afirmam que "A Internet trouxe de volta aqueles que fugiam da escrita. Quem jamais havia escrito algo além de seus nomes próprios foi obrigado a elaborar mensagens para seus chefes, familiares ou mesmo namorado (a)". Qual sua opinião em relação a afirmação dos autores acima? Não acho que com a internet ensinou a escrever. As pessoas podem escrever mais, pois ficam mais tempo no computador, porém com isso apareceu o internetês que virou mania e eles (os jovens) acabam não diferenciando onde e como devem usálo. 9 - Desejando ampliar sua colaboração, que muito lhe agradecemos,sinta-se à vontade para o fazer a seguir. Data 07/11 /2008 Respondida em 24/11/08 76 APÊNDICE 3 ENTREVISTA COM OS ALUNOS (PRIMEIRA ETAPA) Entrevista realizada pelo MSN com os discentes da rede pública e privada do oitavo ano do ensino fundamental. 1 – Qual seu nome, onde você estuda e quantos anos você tem? 2 – Com que frequência você utiliza o computador/internet? 3 – Quantas horas por dia você permanece na internet? 4 – Qual é a disciplina de que você menos gosta ou tem dificuldade? Por quê? 5 – Quais sites você costuma acessar na rede? 6 - No mundo contemporâneo (atual) você conseguiria viver sem a internet? Por quê? 7 – Você concorda que a linguagem utilizada na internet (internetês) é mais atraente que a linguagem da norma culta? 8 – Você costuma elaborar textos com a mesma ortografia utilizada no MSN? 9 – Por acaso você se preocupa com a ortografia ao “conversar” (de modo geral) com as pessoas? 10 – Você concorda que o “internetês” atrapalha o desempenho do aluno na vida escolar (principalmente no que se refere à língua portuguesa)? 77 ENTREVISTA COM OS ALUNOS (SEGUNDA ETAPA) Escrevendo na Internet, as pessoas abreviam as palavras de várias maneiras. Esta escrita é conhecida como INTERNETÊS. Pedimos-lhe suas opiniões sobre isto. 1- Qual o seu nome e idade? 2- Em que colégio e série você estuda atualmente? 3- Você sempre estudou em escola particular? No caso negativo, em que série passou para ela? 4- Há alguma disciplina que você aprecie menos que as demais ou sinta maior dificuldade? Num caso ou no outro, por quê? 5- Você navega diariamente na rede? Quantas horas por dia você permanece na Internet? 6- O "Internetês" está fazendo cada vez mais parte da escrita de milhares de pessoas. Ele também já faz parte da sua? No caso afirmativo ou no caso negativo, por quê? 7- Qual a importância que a Internet tem em sua vida? 8 - Para você, o que é mais importante? A internet ou o computador, como veículo dela? Para você, o uso do computador sem a Internet não teria a mesma importância? Por quê? 9- Atualmente, seus dias e noites, sua vida enfim, teriam o mesmo prazer sem a internet? Por que sim, ou por que não? 78 10 - Algumas pessoas imaginam que "A linguagem se renova, quando se renovam os meios." Você concorda com isso? No caso afirmativo, você diria que a “Internet” mudou sua linguagem? 11 - Você concorda que o fato de uma pessoa permanecer por muito tempo e frequência na rede, usando palavras derivadas do "Internetês" durante a comunicação, pode ocasionar dúvidas na hora de escrever corretamente uma palavra? Por quê? 12- Alguma vez já lhe aconteceu algo assim? Como foi? 13 - Você acredita que, com o impacto do "Internetês", a Língua Portuguesa poderá sofrer alterações profundas e duradouras? Por que sim, ou por que não? 14- Você acredita que, com o impacto do “Internetês”, aquelas alterações seriam positivas ou negativas? Por quê? 15- Quais sites você mais acessa na rede? 16- Para completar sua colaboração, que muito lhe agradecemos, faça o favor de dizer, num pequeno parágrafo, o que pensa sobre o ensino do português que lhe tem sido oferecido nas escolas.