OS PROFESSORES FRENTE À INTERNET: UMA ANÁLISE DO “INTERNETÊS” Resumo: Neste artigo apresentamos análises preliminares de uma pesquisa feita da escrita, a qual vem sendo denominada “internetês”. A motivação para consideramos esta análise necessária é para que o professor possa entender que isto não é um “erro”, mas sim uma escrita que acontece, num suporte especifico, que tem configurações diferentes e que a adaptamos conforme a ferramenta que adotamos para nos comunicarmos. Quando questionados sobre a escrita utilizada na Internet, professores são unânimes ao afirmarem que: é uma escrita utilizada por jovens e que não deve ser proibida, mas que o professor tem que tomar muito cuidado quando “os jovens” usarem essa escrita na escola, ou seja, essa escrita é considerada como “errada” pelo professor. Realizamos nossa pesquisa em duas etapas: primeira conversando com professores, alunos de cursos de especialização; segunda coletando dados com professores e alunos por e-mail para verificarmos qual a característica desta escrita utilizada na internet. Palavras-Chave: escrita na Internet, ferramentas de comunicação, formação de professores. Introdução O avanço tecnológico tem provocado inúmeras transformações na sociedade desde questões econômicas, formação social e questões culturais. Também esse avanço tem levado a revisar valores estabelecidos confirmando-os ou não ou ainda estabelecendo novos valores, em uma nova sociedade e um novo ser humano. Como retrata kenski (2003), cada época corresponde a um domínio de tecnologia, alterando a forma do homem viver e conviver o presente, reaver o passado e idear o futuro. Como haveria de se prever, a educação tem sido muito pressionada por essas mudanças, porque não está criando mecanismos para que o individuo (re)aprenda a conhecer, a comunicar-se, a ensinar; (re)aprenda a integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o grupal e o social. (Brito e Purificação, 2003, p.9) Neste contexto, para Pretto (1999) a escola ainda se encontra calcada no paradigma da modernidade que é centrada em procedimentos dedutivos e lineares. Ainda desconhece o universo da tecnologia do mundo contemporâneo. Portanto estar atento às novas formas de aprender, propiciadas pelas tecnologias da informação e comunicação, e criar novas formas de ensinar, tornam-se imprescindíveis para a escola sob pena desta tornar-se obsoleta. Para que ocorra uma mudança, Breede, interpretando Paulo Freire, aponta dois níveis: Em primeiro lugar será preciso captar pelo menos o vislumbre da realidade social como totalidade, tendo o uso problemático dos computadores em educação como objeto especial. Na área da educação, a pedagogia de Freire é descrita como um trabalho libertador e problematizador. Representa uma correlação horizontal onde educadores e educandos são igualmente autorizados a fazerem perguntas e darem respostas. O traço característico deste método repousa no dialogo que representa um grande desafio inerente à própria forma de programação dos computadores. Em segundo lugar será preciso ter cuidado com as forças que põem em movimento a instalação e a aplicação das novas tecnologias e da mídia em educação.(p. 581, 1996) Para tanto, é necessário um trabalho de formação do professor que o leve a refletir sobre sua ação escolar e elabore e operacionalize projetos educacionais com a inserção das novas tecnologias da informação e da comunicação. Este educador terá que: - entender que o simples uso das tecnologias não assegura a eficiência do processo de ensino-aprendizagem e não garante uma “inovação” ou “renovação” das metodologias de ensino no ambiente educacional. - refletir que qualquer forma de interação, inicialmente, gera polêmica e uma sensação estranha por não se saber ao certo o que irá resultar do seu uso. - considerar que a internet, de modo geral, funciona para os adolescentes como um canal de interação. Os jovens precisam e gostam de questionar idéias, partilhar sua vida com os amigos e ainda, de alguma forma, desafiar os padrões da sociedade convencional. Garcia, Brito e Purificação (2003) realizaram uma pesquisa com alunos de um curso de pós-graduação em Língua Portuguesa(Curitiba-PR). Nesta pesquisa constataram que há uma clara relação entre o conhecimento teórico e prático que os professores de língua elaboram em relação a natureza e usos das ferramentas de comunicação disponibilizadas na rede internet, e as atitudes que assumem a uma possível inserção destes recursos nas suas práticas pedagógicas em sala de aula. Nesta mesma pesquisa, quando questionados sobre a escrita utilizada na Internet, todos os pesquisados foram unânimes ao afirmarem que: é uma escrita utilizada por jovens e que não deve ser proibida, mas que o professor tem que tomar muito cuidado quando “os jovens” usarem essa escrita na escola, ou seja, essa escrita é considerada como “errada” pelo professor. Partindo deste dado colocado por Garcia, Brito e Purificação (2003), começamos nossas reflexões. Primeiro não consideramos a escrita na Internet como erro, mas sim como novos processos de produção e construção do texto escrito. Precisamos lembrar sempre que a ortografia é artificial, uma decisão política, e que a língua é natural. A ortografia oficial é necessária para que todos possam ler e compreender o que está escrito. Dessa forma, é normal acharmos que nos bate-papos na Internet teríamos de usá-la também, mas quando empregamos esses recursos, estamos simulando uma dinâmica de fala (apesar do meu ineterlocutor não estar face a face), por isso, é normal que, em vez de beijo, eu escreva bêjo ou bju, ou simplesmente coloque um emotion (símbolos). Segundo, que o professor de precisa entender que essa forma de escrita acontece num suporte específico (o computador) e tem configurações diferentes conforme a ferramenta (processador de texto, MSN, e-mail, blog, floog, orkut, etc.) que utilizamos. Entendemos que a Internet veio para mexer com os paradigmas educacionais, em que não cabem mais arbitrariedade de opiniões ou linearidade de pensamento, um único caminho a ser trilhado. Recorrer a uma nova forma de integrar e interagir a Internet no processo de comunicação com nosso aluno, buscando a formação de um sujeito para um mundo em transformação, no mínimo é possibilitar a visão de um mundo em que as informações chegam sobre diferentes óticas e cabe ao insubstituível professor a análise junto com seu aluno de um descortinar de “verdades”. Trilhando o caminho da investigação Optamos, num primeiro momento, por realizarmos a primeira parte da pesquisa em conversas informais com professores (a maioria alunos de cursos de especialização), com o objetivo de mapear qual a impressão deste professor sobre a escrita na Internet. Destas conversas chegamos as seguintes constatações: a) este professor não está conectado, ou se está, utiliza simplesmente o e-mail; b) desconhece as ferramentas que seus alunos utilizam para se comunicarem (messenger, orkut, gazzag, fotolog, blog, vídeo blog, etc); c) acham um absurdo a escrita “diferente” que se usa na Internet “erro grave” ou “graves erros”. Quando solicitados a dar um exemplo desta escrita “diferente” o mais citado foi: vc = você. Estes professores têm um “afastamento” das ferramentas que seus alunos utilizam, portanto fica difícil perceberem que a escrita “diferente” na internet está sendo adequada pelas próprias características que a ferramenta oferece, ou seja, temos que considerar que a interação comunicativa face a face, atualmente também se dá “tela a tela” (Freitas, 2005). Quando afirmam que a escrita na internet é um “grave erro”, esses professores desconhecem que a ortografia é arbitrária e é resultado de uma convenção social. É necessário que estes professores considerem, como diz Bagno (2002, p. 130), que “usar a língua, tanto na modalidade oral como na escrita, é encontrar o ponto de equilíbrio entre dois eixos: o da adequabilidade e o da aceitabilidade” e quando os jovens estão utilizando o “internetês” estão adequando a escrita a uma configuração particular que ocorre intermediada num suporte específico: o computador. Partimos então para a coleta de palavras, ou expressões escritas na Internet. Enviamos por e-mail a 100 pessoas: professores e alunos de diversos cursos e níveis, escolhidos aleatoriamente a seguinte pergunta: Você costuma abreviar ou escrever palavras de forma "diferente" no messenger, no email, no orkut, no fotolog? Se você respondeu sim, escreva pelo menos duas palavras que você abrevia ou escreve "diferente" com maior freqüência. Recebemos respostas de: 26 alunos e 34 professores. Dos 34 professores 6 afirmaram não utilizar abreviaturas ou grafias “diferentes”. Ficamos então com 54 respostas com dados para analise. Apresentamos a seguir, por ordem de maior ocorrência, uma tabela com os dados coletados: PALAVRA INTERNETÊ Número de pessoas que usam S você vc= 35 também tb tbém tbm 18 4 2 beijos Bjs Bjos Bjus bjo 13 8 7 4 porque pq 11 que q 11 beleza Blz Bleza bleza 10 1 1 não Naum ñ n 8 3 2 para p 9 aqui aki 5 falou Flw falow 5 1 de d 4 hoje Hj hje 4 1 Fim semana cadê de Fds findi kd 3 1 3 As palavras que mais aparecem como ocorrência são: “você” (vc) e “também” (tb, tbém, tbm). Observando a tabela podemos perceber que na grafia das palavras há uma “técnica” de abreviação no internetês, ou seja, se escolhe uma solução gráfica na qual as vogais são cortadas. Quando escrevemos um texto não sofremos tanta pressão no momento de sua produção, porque não sentimos as mesmas exigências do processo de produção da fala, em que se monitoram ao mesmo tempo o planejamento e o produto. Mas quando estamos escrevendo mensagens em tempo real, utilizando o messenger, por exemplo, está pressão se faz presente, seja pelos recursos da própria ferramenta, seja pelo número de pessoas que se está teclando(conversando) ao mesmo tempo, por isso a grafia das palavras tendem a ter o mínimo de caracteres, são mais curtas e escritas com rapidez. Os dados coletados não nos mostram que a escrita que utilizamos para nos comunicarmos na Internet é informal e traz todas as características da diversidade e variabilidade do português falado no Brasil., como afirma alguns autores. Estamos analisando mais os dados e já planejando uma terceira etapa de pesquisa, ou seja, coletar mais dados com um grupo de estudantes e professores da graduação, num ambiente especifico de interação, o Orkut. O que já podemos concluir é que o receio que o professor tem em relação ao internetês não tem fundamentação. Os professores tem que buscar novas formas de integrar a internet nos trabalhos da sala de aula. Dessa forma mostrando aos eu aluno que produzir textos é se comunicar e que cada gênero textual exige uma configuração particular, ou seja, deve estar adequado ao lugar, contexto e interlocutor. Referencias: BAGNO, Marcos. O preconcepto lingüístico: o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 2002. BREEDE, Werner e. Paulo Freire e os computadores. In: GADOTTI, Moacir (org). Paulo Freire uma biobibliografia. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire; Barsilia, DF; UNESCO,1996 BRITO, Glaucia da Silva; PURIFICAÇÃO, Ivonélia. Educação professor e novas tecnologias: em busca de conexão real. Curitiba: PROTEXTO, 2003. FREITAS, Maria Teresa de Assunção; COSTA, Sérgio Roberto. Leitura e escrita de adolescentes na internet e na escola.Belo Horizonte: Autêntica, 2005. GARCIA, Joe; BRITO, Glaucia da Silva; PURIFICAÇÃO, Ivonélia. Um estudo sobre a reação dos professores frente a Internet. Trabalho apresentado na IV International Conference on Education, Training and New Technologies - Virtual Educa 2003. Miami, 2003. KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e o ensino presencial e a distância. Campinas, SP : Papirus, 2003. PRETTO, Nelson de Luca. Uma escola sem/com futuro : Educação e multimídia. Campinas: Papirus, 1999.