INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL - CAMPUS BENTO GONÇALVES TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO PREFERÊNCIA DOS CONSUMIDORES DE VINHO DA CIDADE DE RECIFE, PERNAMBUCO Fatores que afetam o consumo da bebida na cidade MICHEL DINIZ HOLZBACH Bento Gonçalves, setembro de 2009. 2 INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL - CAMPUS BENTO GONÇALVES TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO PREFERÊNCIA DOS CONSUMIDORES DE VINHO DA CIDADE DE RECIFE, PERNAMBUCO Fatores que afetam o consumo da bebida na cidade Pesquisa apresentada como requisito para aprovação do Trabalho de Conclusão de Curso sob orientação do professor Eduardo Giovannini. MICHEL DINIZ HOLZBACH Bento Gonçalves, setembro de 2009. 3 AGRADECIMENTOS Agradeço a ajuda de meu orientador professor Eduardo Giovannini, pela paciência, companheirismo e bom gosto musical durante todos esses anos; Aos meus pais Julieta e Marco, além de minha irmã Ariane, pelo apoio de sempre; A todos que responderam aos questionários. 4 SUMÁRIO Agradecimentos........................................................................................03 Sumário.....................................................................................................04 Lista de Tabelas........................................................................................05 Introdução.................................................................................................06 1. Revisão Bibliográfica.........................................................................07 1.1 Histórico Vitivínicola Brasileiro.........................................................07 1.2 Cultivares Viníferas e Sua Produção no Nordeste Brasileiro.............08 1.3 Cultivares Comuns e Híbridas e Sua Produção no Nordeste Brasileiro..............................................................................................09 1.4 Importância do Vale do São Francisco no Âmbito Vitivinícola Nacional...............................................................................................09 1.5 Produção de Uva e Vinho no Vale do São Francisco.........................10 1.6 Desafios e Perspectivas do Vale do São Francisco............................10 1.7 Consumo de Vinhos per capita no Brasil..........................................11 2. Resultados Obtidos na Aplicação dos Questionários.....................12 2.1 Questionários aplicados aos estabelecimentos...................................12 2.1.1 Primeiro Questionário (Casas Especializadas - Adegas)................12 2.1.2 Segundo Questionário (Bares e Restaurantes)................................13 2.1.3 Explanações Referentes ao Primeiro Questionário.........................13 2.1.4 Explanações Referentes ao Segundo Questionário.........................15 3. Conclusões e Considerações Finais..................................................18 4. Obras Consultadas............................................................................22 5 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Classificação de bares e restaurantes pelo número de mesas..............16 6 INTRODUÇÃO No contexto atual, o ramo vinícola nacional encontra dificuldades em escoar sua produção nas diversas regiões do país. Mesmo contando com uma área produtora de vinhos finos, o estado de Pernambuco não costuma ser relevante quando tomados dados de consumo de vinhos per capita no Brasil. O objetivo desta pesquisa é verificar os hábitos do consumidor fiel ou ocasional de vinhos da capital pernambucana, Recife. Tendo como justificativa o fraco consumo de vinhos per capita no país, creio ser necessário verificar os principais entraves e motivos colocados pelo consumidor dentro desse contexto. Para tanto, procurei nortear os seguintes problemas: quais os entraves considerados pelos consumidores? Quais fatores relevantes na hora da escolha da bebida? Em que ocasiões o vinho é consumido? Aponto como hipóteses para este baixo consumo a cultura (questão histórica), o clima (predominantemente quente e ensolarado) e o poder aquisitivo dos consumidores (abaixo da média nacional). Delimitei como público-alvo os consumidores das classes A e B, pois acredito que estes tragam uma maior fidelidade relacionada ao consumo de vinhos finos nesta região. A análise será apresentada em três momentos: no primeiro, o trabalho terá um enfoque teórico onde serão consultados vários autores sobre o conteúdo. Posteriormente, a pesquisa será voltada à aplicação de questionários em bares, restaurantes e casas especializadas (adegas), com posterior análise qualitativa dos mesmos para traduzir os fatores considerados pelos entrevistados. Por fim serão oferecidas as conclusões da pesquisa. 7 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1 Histórico Vitivinícola Brasileiro A cultura da videira no Brasil inicia em 1532, época em que o Brasil era dividido em capitanias hereditárias, com Martim Afonso de Souza na capitania de São Vicente, São Paulo. Nessa época, foram plantadas cultivares Vitis vinifera trazidas em sua maioria de Portugal e Espanha. Nas primeiras décadas do século XIX, inicia-se a importação de mudas das castas americanas, procedentes da América do Norte e, junto com elas, as pragas americanas míldio, oídio e principalmente filoxera que devastaram parreirais em todo mundo, inclusive no Brasil. Apesar dessa forte crise, a cultivar americana Isabel se adaptou muito bem ao solo brasileiro e se tornou a base da viticultura nos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. No entanto, já no século XX, a Isabel foi preterida em São Paulo e substituída por Niágara (branca e rosada) e Seibel 2 (também conhecida como Seibeleto), principalmente para elaboração de suco e consumo in natura. Por sua vez, a partir da década de 60, o Vale do Rio São Francisco no Nordeste semi-árido brasileiro assistiu a uma grande mobilização no sentido de plantio de vinhedos de uva de mesa, principalmente para exportação. Na Serra Gaúcha, a partir da década de 70, a união de clima favorável, conhecimento vinícola dos colonos italianos e estímulos governamentais aliados ao crescimento da indústria multinacional ocasionaram o incremento no plantio das cultivares européias. Nesta mesma década, surgiu o pólo vitícola ao norte do Paraná, seguido pelo desenvolvimento nas regiões a noroeste de São Paulo e Pirapora em Minas Gerais, todas voltadas à produção de uvas finas para consumo in natura. 8 Segundo os especialistas da Embrapa: com iniciativas mais recentes, como as verificadas nas regiões Centro-Oeste (Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás) e Nordeste (Bahia e Ceará), projeta-se um aumento significativo na atividade vitivinícola para os próximos anos. (SANTOS, 2003: 6) 1.2 Cultivares Viníferas e Sua Produção no Nordeste Brasileiro Cultivares européias são aquelas originadas de espécies Vitis vinifera. De acordo com Kuhn: é a espécie mais cultivada no mundo, produzindo uvas para mesa, vinho, passas e outros derivados. As uvas de maior renome internacional para a elaboração de vinhos de alta qualidade pertencem a esta espécie. Em geral são bastante sensíveis às doenças fúngicas exigindo esmero no controle fitossanitário (KUHN, 2003: 37) Com a necessidade maior de controle fúngico por parte destas cultivares européias, há um aumento considerável nos custos de produção repassados à uva e consequentemente ao vinho. As cultivares viníferas são amplamente utilizadas na produção de vinho fino com qualidade superior aos provenientes de uvas americanas. Dentre essas cultivares, as variedades brancas mais encontradas no Nordeste são Moscato Canelli (e outras castas da família dos moscatéis), Chenin Blanc e Sauvignon Blanc. Nas tintas, encontramos Cabernet Sauvignon, Syrah (também chamada de Shiraz), Petit Syrah e Ruby Cabernet. É importante salientar que grande parte dessas cultivares são consideradas clássicas e, consequentemente, possuem uma imagem consolidada por parte do consumidor e também da indústria, sendo o carro-chefe das vinícolas do Vale do São Francisco. 9 1.3 Cultivares Comuns e Híbridas e Sua Produção no Nordeste Brasileiro As cultivares americanas e híbridas, também chamadas comuns, são amplamente utilizadas para produção de sucos, vinhos comuns, outros derivados e também para consumo in natura. Khun define cultivares comuns ou americanas e híbridas como: (...) cultivares de Vitis labrusca, de Vitis bourquina e cultivares híbridas interespecíficas, envolvendo várias espécies americanas e, em muitos casos, também Vitis vinifera. Como regra, são cultivares de alta produtividade e resistentes às doenças fúngicas, adaptandose bem às condições ambientais do Sul do Brasil. (KHUN, 2003: 41) Vale salientar que o vinho elaborado a partir dessas variedades possui invariavelmente uma qualidade e preços inferiores àqueles elaborados a partir de viníferas. Portanto, é amplamente difundido nas camadas mais populares. Não são cultivadas castas americanas para elaboração de vinhos no Vale do São Francisco, no entanto, são cultivadas castas americanas para a elaboração de uvas para o consumo in natura. Ainda é utilizada a Isabel para elaboração de suco em algumas cidades do interior de Pernambuco, como São Vicente Férrer. 1.4 Importância do Vale do São Francisco no Âmbito Vitivinícola Nacional O Vale do São Francisco é a região que margeia o rio São Francisco nos estados de Minas Gerais, Bahia e Pernambuco. É uma área fértil que tem recebido diversos investimentos em irrigação federal e estadual. Tornou-se um importante produtor de frutas e hortaliças. A sub-região que mais se desenvolve é formada pelas cidades de Juazeiro (Bahia) e Petrolina (Pernambuco) e se tornou o maior conglomerado urbano do semi-árido. Essa região também se destaca pela produção de vinhos finos tropicais, conhecidos como “sertanejo” ou “vinho do sol”. 10 O Vale do São Francisco é o principal pólo produtor e exportador de uvas de mesa do país com crescimento vertiginoso de uvas sem semente (apirênicas), as preferidas do mercado externo. Já a base vinícola nordestina que teve início em meados dos anos 90 encontra-se instalada nos municípios pernambucanos de Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista, distantes 700 quilômetros da capital Recife. Também há produção de vinhos em Casa Nova, na Bahia, distante 584 quilômetros da capital Salvador. Esta região responde atualmente por aproximadamente 15% da produção de vinhos finos do país com elaboração estimada em sete milhões de litros por ano. 1.5 Produção de Uva e Vinho no Vale do São Francisco Mello mostra que desde 1995 o crescimento na elaboração de vinhos finos pulou de pouco mais de 600 mil litros para sete milhões atualmente graças, em grande parte, ao crescente número de vinícolas que investem no Vale a cada ano. No tocante aos hectares plantados, o autor afirma que: O Vale do São Francisco tornou-se a principal região vinícola tropical e a segunda maior produtora do Brasil, atrás apenas do Rio Grande do Sul. É, também, o maior produtor de uvas de mesa do país, com 10 mil hectares plantados. A área com uvas viníferas ocupa cerca de 800 hectares. (SANTOS, 2003: 32) Se considerarmos a produção de uva, Santos mostra que em 2002, a região despontava com pouco mais de 180 mil toneladas de uvas processadas. Destas, 100 mil eram referentes a Pernambuco e o restante à Bahia. Já em 2006, a produção chegou a quase 250 mil toneladas de uva, sendo 155 mil de Pernambuco e o restante referente ao estado da Bahia. 1.6 Desafios e Perspectivas do Vale do São Francisco Um dos maiores desafios da vitivinicultura nordestina é encontrar cultivares que possuam grande potencial para a região. A Syrah parece ser a 11 grande vedete, já que castas como Ruby Cabernet e Petit Syrah não são consideradas uvas nobres para viticultura mundial. Como o Vale do São Francisco se situa no Paralelo 8ºS, considerado antigamente como inapto para produção de grandes vinhos, outro entrave está no desafio de conquistar reconhecimento no mercado. Para tanto, as vinícolas estão buscando cada vez mais recursos de logística e marketing para diferenciar o vinho fino produzido no Vale dos outros produtos produzidos nas demais regiões do mundo. O turismo integrado também promete trazer bons lucros no futuro. 1.7 Consumo de Vinhos per capita no Brasil O consumo brasileiro não mudou muito ao longo dos anos. Mello mostra que em 1993 este consumo estava em 1,85 litros per capita. Já em 2003 o consumo tinha caído para 1,68 litros. No entanto, após um programa televisivo que foi ao ar pela Rede Globo que demonstrava os benefícios do vinho, principalmente o tinto, para a saúde, este número ultrapassou pela primeira vez a casa dos 2 litros per capita nos dias atuais. Não existem dados concretos a respeito do consumo de vinhos por parte dos nordestinos, mas é certo que o consumo deve estar abaixo desse número, considerando a falta de hábito devido a questões culturais e por ser ainda muito recente a elaboração de vinhos no local. 12 RESULTADOS OBTIDOS NA APLICAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS Nesta análise apresentarei os resultados da pesquisa de campo realizada através de questionários na cidade de Recife, Pernambuco. O objetivo desta pesquisa foi verificar as características e hábitos dos consumidores fiéis ou ocasionais de vinhos no local. Desenvolvi dois questionários. O primeiro foi destinado a nove casas especializadas (adegas) e teve onze perguntas; ao segundo, destinado a vinte e quatro bares e restaurantes, foi acrescentado um questionamento, totalizando assim doze perguntas. 2.1 Questionários aplicados aos estabelecimentos 2.1.1 Primeiro Questionário (Casas Especializadas - Adegas) 1) Quantos rótulos de vinhos são oferecidos? 2) Quantos vinhos são vendidos, em média, por semana? 3) Quantos clientes são atendidos, em média, por semana? 4) Qual a percentagem de vinhos brancos e tintos comercializados? 5) Qual a percentagem de vinhos nacionais do total da carta? 6) Destes nacionais, quantos são de origem nordestina (Vale do São Francisco)? 7) Quais os principais motivos para a escolha dos vinhos que compõem a carta? 8) Quais fatores relevantes na hora da escolha da bebida por parte do consumidor? 9) No geral, em quais ocasiões o vinho é consumido? 10) O que está faltando para um maior conhecimento do vinho originário do Vale do São Francisco? 11) O que está faltando para a bebida ter um aumento significativo no consumo geral? 13 2.1.2 Segundo Questionário (Bares e Restaurantes) 1) Quantos rótulos de vinhos são oferecidos? 2) Quantas mesas o estabelecimento possui? 3) Quantos vinhos são vendidos, em média, por semana? 4) Quantos clientes são atendidos, em média, por semana? 5) Qual a percentagem de vinhos brancos e tintos comercializados? 6) Qual a percentagem de vinhos nacionais do total da carta? 7) Destes nacionais, quantos são de origem nordestina (Vale do São Francisco)? 8) Quais os principais motivos para a escolha dos vinhos que compõem a carta? 9) Quais fatores relevantes na hora da escolha da bebida por parte do consumidor? 10) No geral, em quais ocasiões o vinho é consumido? 11) O que está faltando para um maior conhecimento do vinho originário do Vale do São Francisco? 12) O que está faltando para a bebida ter um aumento significativo no consumo geral? 2.1.3 Explanações Referentes ao Primeiro Questionário A primeira pergunta visa dar uma idéia geral do tamanho da adega consultada. Por serem casas especializadas em vinhos, não foi necessário fazer qualquer delimitação relacionada ao tamanho. A média citada ficou em 806 rótulos oferecidos por estabelecimento, sendo que o universo de rótulos disponíveis alternou de 200 a 1500. As cinco perguntas seguintes buscam quantificar em seus dados o mercado vinícola da região. Por motivos particulares, 44,44% e 55,55% das casas pesquisadas não quiseram fornecer dados a respeito da média de vinhos vendidos e clientes atendidos por semana, respectivamente. Dos que se propuseram a responder a questão, a média de vinhos vendidos por semana se situou em 678 rótulos, com o mínimo ficando em 30 e o máximo em 2100 garrafas. No que diz respeito aos clientes atendidos, a média girou em torno de 958 pessoas por semana, com picos de 3150 e mínimo de 180 clientes. Com isso, chegamos a uma média de garrafas vendidas por cliente por semana de 0,7, ou seja, 70% das pessoas que vão ao estabelecimento levam no mínimo uma garrafa para casa. 14 Com relação aos tipos de vinhos vendidos não houve muita variação, pois a predominância de vinhos tintos disponíveis, incluindo rosés, girou sempre no intervalo fechado de 80% a 92%, o que levou a uma alta média geral de 87%. Dessa forma, para os brancos, o intervalo fechado se situou entre 8% e 20%, perfazendo uma baixa média geral de 13%. Quando perguntados a respeito da percentagem presente de vinhos nacionais na adega, 22,22% dos entrevistados disseram não ter vinhos brasileiros. Dos que disseram possuir, a constância prevaleceu, perfazendo uma média de 5,25% de vinhos nacionais no total dos vinhos disponíveis. Com relação aos vinhos disponíveis provenientes do Vale do São Francisco, estas médias são ainda menos vigorosas, visto que 77,77% dos entrevistados não possuem qualquer vinho desta estirpe para comercialização. Mesmo os que dizem possuir, a presença de vinhos nordestinos não chega a representar 3% do total. Os cinco questionamentos finais procuram traduzir os hábitos dos compradores de vinhos e as diversas opiniões do entrevistado a respeito da realidade atual do mercado vinícola local e nacional. Quando questionados sobre os principais motivos para a escolha dos vinhos que compõem a carta, as respostas foram praticamente unânimes, visto que a qualidade dos vinhos é o fator determinante para tal. Também foram citados o custo-benefício (preço), a diversidade e o pedido do cliente. Com relação aos fatores decisivos na hora da escolha da bebida por parte do consumidor, ocorre uma inversão: o custo-benefício (preço) é mais citado. Qualidade, harmonização, sugestão do vendedor e o próprio conhecimento do cliente também surgiram como respostas. O vinho é consumido quase em sua totalidade no jantar, ou, em menor constância, em reuniões festivas e comemorações. Quando questionados a respeito do que está faltando para um reconhecimento maior do vinho originário do Vale do São Francisco, as respostas foram as mais variadas. Algumas sugestões citadas foram: divulgação, marketing e trabalho em cima das marcas (33,33%); pouca qualidade dos rótulos disponíveis no mercado (22,22%); poder aquisitivo do consumidor, visto que o 15 preço do vinho está muito alto; opções mais fartas; cultura/valores dos residentes na cidade; ajuda do governo (todas com 11,11%). Opiniões diversas também foram citadas quando perguntados o que estava faltando para bebida ter um aumento no consumo. Apesar de o fator cultural ter sobressaído com 22,22%, também foram colocados em pauta, contabilizando 11,11% cada, uma divulgação e maior trabalho voltado para os vinhos brasileiros; redução de impostos; serviço final com relação a um cuidado maior para com o consumidor; interesse por parte do consumidor; maior informação; desmistificação; terminar com a Lei Seca. 2.1.4 Explanações Referentes ao Segundo Questionário Assim como no primeiro questionário, a pergunta que abre esta seção visa nos direcionar para o tamanho da carta do respectivo bar ou restaurante. Foi realizada uma delimitação no tocante à quantidade mínima de rótulos disponíveis, e, dessa forma, foram considerados estabelecimentos com no mínimo 20 rótulos. Acredito que com isso a pesquisa terá uma fidelidade maior no resultado. A média geral de rótulos disponíveis ficou situada em 158, com comércios atingindo um máximo de 400 e mínimo de 20 garrafas. A pergunta seguinte tem a mesma finalidade da anterior, pois ter um conhecimento do total de mesas nos leva ao enquadramento da área disponível para o consumidor no local estudado. Para tanto, o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Pernambuco1 classifica desta forma os estabelecimentos segundo o número de mesas: 1 Av. Dantas Barreto, 512 - Bairro Santo Antônio, Recife - PE, 50010-360 Tel.: 081 3224-2057. 16 Classificação Número de Mesas I 1 a 20 II 21 a 40 III 41 a 80 IV Mais de 80 Tabela 1. Classificação de bares e restaurantes pelo número de mesas. Cada mesa equivale a quatro cadeiras. Para dar sequência à pesquisa foi preciso fazer uma delimitação a respeito do número mínimo de mesas. Desta forma foi retirada a classificação I por entender que esses locais não forneceriam dados concretos para o estudo pelo fato de possuírem pouca quantidade de rótulos disponíveis e alta comercialização de vinhos com qualidade abaixo do visado nesta pesquisa. Vale lembrar também que este é o único questionamento exclusivo dos bares e restaurantes. Os estabelecimentos que se enquadraram nestas características perfizeram uma média geral de 75 mesas, o que nos leva a um total de 300 cadeiras disponíveis. Todos os entrevistados responderam a média de vinhos comercializados por semana, resultando em aproximadamente 84 garrafas. Os extremos variaram de forma impressionante, tendo mínimo de 10 e máximo de 300 rótulos comercializados por semana. Com relação aos clientes atendido semanalmente, 8,33% não souberam responder. Do restante, a média geral ficou em 1377 clientes atendidos por semana. Com estes dados, chegamos a uma média de garrafas vendidas, por cliente, em torno de 0,061, ou seja, 6,1% das pessoas que frequentam os estabelecimentos degustam vinhos em suas refeições. A respeito da tipicidade dos vinhos degustados, as médias e intervalos foram semelhantes aos das adegas, com o vinho branco sendo solicitado por 13,58% dos clientes e o tinto, incluindo rosés, se sobressaindo e ficando com 86,42% da preferência do consumidor. Há um bom acréscimo com relação às adegas quando questionados a respeito dos vinhos nacionais. A média de vinhos brasileiros presentes na carta ultrapassou os 12%, sendo notável o fato de todos os estabelecimentos possuírem vinhos brasileiros disponíveis. Também houve um acréscimo quando 17 perguntados a respeito dos vinhos de origem nordestina, com 75% dos entrevistados afirmando possuir rótulos desta estirpe em sua carta. Ainda, segundo os entrevistados, a representatividade dos vinhos originários do Vale do São Francisco alcança uma média de 5% do total de vinhos disponíveis na casa. O custo-benefício (preço) foi amplamente citado quando questionados a respeito dos principais motivos para escolha dos vinhos que compõem a carta. Qualidade, diversidade, harmonização e conhecimento prévio também foram comentados. Sobre os fatores relevantes na escolha da bebida por parte do consumidor, um terço dos entrevistados colocam o custo-benefício como fator decisivo. Outro terço cita como significante a qualidade da bebida. O terço final está dividido em harmonização, conhecimento prévio e sugestão da casa. Com exceção de um estabelecimento que abre apenas no horário de almoço, todos os entrevistados disseram que o vinho é consumido preferencialmente no jantar. Quando o assunto é um conhecimento maior do vinho originário do Vale do São Francisco, 75% dos entrevistados disseram faltar divulgação e trabalho de marketing em cima das marcas por parte das vinícolas. Também foram comentadas a falta de treinamento destas vinícolas junto aos garçons e a falta de hábitos por questões culturais do nordestino com relação ao vinho. Assim como ocorreu com os entrevistados das adegas, diversas respostas foram obtidas quando questionados sobre o que falta para a bebida ter um aumento no consumo geral. Apesar da falta de divulgação ter um pequeno predomínio contando com 25% do total, valores e falta de cultura em torno da bebida contabilizou 16,66% enquanto incentivo do governo, preços mais atraentes, qualidade, apresentação da bebida, serviço final, trabalho das vinícolas em restaurantes e acabar com o elitismo também foram citados pelos entrevistados com 8,33% cada resposta. 18 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo feito o desenvolvimento das análises pertinentes, o objetivo principal era verificar os hábitos do consumidor ocasional ou fiel de vinhos na cidade de Recife, capital de Pernambuco, focando entre os principais itens o baixo consumo da bebida e os entraves colocados pelos consumidores dentro deste contexto. Para tanto, levantei como hipóteses para o baixo consumo a falta de hábito devido a questões culturais, o clima e o poder aquisitivo dos residentes na cidade. Acredito que o objetivo foi alcançado com êxito e as hipóteses foram confirmadas durante a pesquisa. Interessante notar que enquanto 70% das pessoas que procuram uma casa especializada (adega) para compras de vinhos levam, em média, uma garrafa para casa, apenas 6,1% dos clientes de bares e restaurante degustam algum rótulo. Fica evidente, e foi muito comentado pelos entrevistados, a falta de preocupação por parte das marcas em difundir seus rótulos com marketing direto nestes estabelecimentos. Uma situação que corrobora para o fraco consumo local é o fato de 22,22% das casas especializadas não possuírem, em seu acervo, vinhos nacionais disponíveis. A situação torna-se pior quando 77,77% dos entrevistados dizem sequer possuir vinhos procedentes do Vale do São Francisco e, dos que possuem a percentagem de vinhos nordestinos nem chega a 3% do total disponível. Acredito que este seja um fator decisivo para o baixo consumo, pois a pessoa que degusta vinhos e mora no local de produção tem curiosidade em conhecer as marcas existentes na região. 19 Ocorre uma inversão com relação às adegas, visto que 12% destas acusam possuir vinhos nacionais e 75% indicam ter vinhos de procedência nordestina. No entanto, apesar de muitas casas possuírem o produto, a média com relação ao total é pequena, se situando em 5%. Neste caso, também acredito que esteja faltando para as vinícolas um maior trabalho de difusão da marca, visto que muitas vezes o consumidor desconhece o fato de que existe produção de vinhos no Nordeste brasileiro. Com relação à tipicidade de vinhos consumidos não houve surpresa. Em ambos os casos os vinhos tintos (incluindo rosés) sobressaíram com uma média superior aos 85% de preferência enquanto os brancos ficaram abaixo dos 15%. Isto é explicado pelo fato de possuir uma maior oferta de vinhos tintos no mercado atualmente. Outro fator explicativo para o episódio foi a exibição de um Globo Repórter veiculado em 18 de março de 2005, da Rede Globo, que colocava o consumo moderado de vinho tinto como benéfico para a saúde. A qualidade e o custo-benefício (preço) foram amplamente citados quando questionados a respeito dos motivos para a escolha dos vinhos que farão parte da carta. Qualidade é o fator mais considerado segundo os entrevistados das casas especializadas, seguido do custo-benefício. Ocorrendo uma inversão no tocante aos bares e restaurantes. Torna-se claro que o preço é o entrave mais considerado quando tomamos por base os fatores relevantes por parte do consumidor para escolha da bebida uma vez que a renda per capita do pernambucano é a vigésima quarta dos vinte e sete estados do Brasil2. Tanto para as casas especializadas quanto para as adegas este é o fator decisivo na hora de comprar um vinho, o que confirma o fato de que o poder aquisitivo do consumidor tem uma enorme influência na hora de degustar a bebida. É praticamente unânime que os vinhos sejam consumidos principalmente à noite, durante o jantar. Por ser uma região equatorial, Recife possui um clima quente, com médias acima dos vinte graus celsius durante todo ano3, inibindo assim o consumo de vinhos, principalmente tintos. Acredito que uma saída seria 2 3 http://www.ipeadata.gov.br/ipeaweb.dll/ipeadata?Tick=187054296 http://www.inmet.gov.br/ 20 a difusão do consumo de vinhos espumantes, que se encontram na moda em todo país. O Brasil produz espumantes frescos e jovens com qualidade superior, sendo comparável aos melhores da Europa. Neste contexto, o Nordeste conta com uma vocação para Moscatel, que é ideal para o clima da região, por ser leve (7,5% de grau alcoólico) e consumido fresco. Vale ressaltar que o espumante Moscatel é um vinho elaborado na região. Dois terços dos entrevistados dos bares e restaurantes disseram faltar uma divulgação maior, com trabalho de marketing em cima das marcas por parte das vinícolas para que a popularidade do vinho originário no Vale do São Francisco fosse maior. Vinho é um produto que só é degustado quando se torna conhecido. Sendo assim, afirmo que as vinícolas da região deveriam possuir um marketing mais agressivo no sentido de difundir suas marcas e, assim, o consumo geral da bebida. Importante ressaltar que preço alto e a ajuda do governo foram fatores considerados segundo os entrevistados das casas especializadas, além de altos impostos segundo as adegas. Estes fatores estão interligados pelo fato de a carga tributária presente nos vinhos nacionais figurar entre as maiores do mundo. Desta forma o preço final, por rótulo, repassado para o consumidor fica acima do poder aquisitivo. Sugiro ao consumidor uma pesquisa de preços antes da compra para verificar eventuais promoções e valores menores devido à concorrência natural entre as adegas. O fator cultural teve destaque quando questionados a respeito do que estava faltando para a bebida ter um aumento geral no consumo. Esta questão também foi levantada no quesito anterior, porém com menos vigor. É notório que o Nordeste devido a questões históricas e principalmente clima, não é um consumidor voraz de vinhos finos, preferindo a cerveja e a cachaça. Outro fator a ser considerado é a enxurrada de sangrias e vinhos suaves de qualidade inferior, porém com preços atraentes, que sempre fizeram parte do quotidiano do recifense. Esta questão tende a mudar agora que existem vinícolas de grande porte na região elaborando vinhos finos a preços competitivos. 21 O serviço final do vinho também deve ser considerado, visto que conhecer a maneira correta de servir e degustar engrandece e facilita a desmistificar o elitismo presente em torno da bebida. Isto pode ser feito através de treinamento das vinícolas junto aos garçons, com cursos e palestras e qualificação dos trabalhadores para entrada no mercado de trabalho. 22 OBRAS CONSULTADAS CORRÊA, S. [et al.]; Anuário Brasileiro da Uva e do Vinho 2005. Santa Cruz do Sul: Editora Gazeta, 2005. 136p. CORRÊA, S. [et al.]; Anuário Brasileiro da Uva e do Vinho 2006. Santa Cruz do Sul: Editora Gazeta, 2006. 136p. FREIRE, L.M. DE M.; FREIRE, J. DE M.; CALDART, W. L. Transformações na Estrutura Produtiva dos Viticultores da Serra Gaúcha 1985/1991. Bento Gonçalves, RS: EMBRAPA – CNPUV, 1992. 44p. GIOVANNINI, EDUARDO; Produção de Uvas Para Vinho, Suco e Mesa. Porto Alegre: Renascença, 2ª Edição, 2005. 368p. KUHN, G. B.; Uva Para Processamento. Produção. Bento Gonçalves, RS: Embrapa Informação Tecnológica, 2003. 134p. MELLO, L. M. R. de; Produção de Vinhos e Mostos. Disponível em: <www.cnpuv.embrapa.br/servicos/vitivinicultura/producao/1995_1999.html> Acesso em 1.jul.2008. REDE GLOBO; Globo Repórter: O Poder do Vinho. Disponível em: <http://grep.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-5231-3,00.html> Acesso em 17.set.2009. 23 REETZ, E. [et al.]; Anuário Brasileiro da Uva e do Vinho 2004. Santa Cruz do Sul: Editora Gazeta, 2004. 136p. SANTOS, C [et al.]; Anuário Brasileiro da Uva e do Vinho 2003. Santa Cruz do Sul: Editora Gazeta, 2003. 136p. POMMER, C. V.; Uva: Tecnologia de Produção, Pós-Colheita, Mercado. Porto Alegre: Cinco Continentes, 2003. 777p. VENCATO, A [et al.]; Anuário Brasileiro da Uva e do Vinho 2007. Santa Cruz do Sul: Editora Gazeta, 2007. 128p. 24