O Que Há de Novo A pesar do tropicaliente clima dominante nesta região brasileira, seria ingênuo asseverar que apenas os vinhos brancos e espumantes – mais leves e refrescantes – servem como opção adequada ao nordestino. Pensar dessa forma, pressupõe desprover de sentido toda pluralidade do vinho, além de negar que toda escolha envolve gosto, cultura, hábito, oferta, acesso e inúmeras outras variáveis. O vinho é inquestionavelmente uma bebida de ocasião, e por ocasião entenda-se não apenas o clima, mas inúmeras outras questões, como local, alimento servido, companhia, horário, tipo do evento (formal/informal), circunstâncias e, até, estado de espírito, que, juntas, dão-nos o caminho das pedras para a escolha mais adequada. Na contramão do que pensa a maioria das pessoas, o Nordeste do Brasil com seu clima predominantemente quente, oferece-nos uma diversidade de situações, que, a depender da criatividade do apreciador, permite desfrutar desde o espumante mais leve e fresco, aos tintos mais formais e encorpados, em eventos vivenciados a céu aberto, com muita luz e sol, ou em locais onde a tem- Que Vinhos Apreciar no Nordeste 58 Vinho&Cia No. 69 Gilvan Passos Consultor e colunista [email protected] Natal peratura amena, condicionada pela refrigeração, favorece a apreciação de vinhos que aqueçam. Se os tintos ainda são os vinhos mais consumidos por estas paragens, isso ocorre como reflexo de uma tendência global (afinal o mundo é tinto), que decorre da farta oferta mercadológica destes, da fama de salutar que os promoveu nos últimos anos e da falta de conhecimento do consumidor no que tange à adequação apreciativa. Mas, mesmo para estes, há salvação no reino de Baco, dado que esta categoria contempla uma escala de pesos que varia dos mais leves e refrescantes (do tipo Beaujolais Nouveau e seus congêneres), passando pelos pesos médios (Pinot Noir e Merlot de curta maceração, avessos a barrica) e chegando aos pesos pesados do Velho e do Novo Mundo (longamente maturados). A grande diferença entre levar e não levar em conta a ocasião, em detrimento da região, é que no primeiro caso desfruta-se do melhor que o vinho pode dar, independente de onde se esteja, porque ele (o vinho) estará harmonicamente inserido no contexto do apreciador, valorizando-o. Portanto em ocasiões informais, a céu aberto e durante o dia, onde a luz, o calor do sol e o finger food façam parte do contexto, mais vale recorrer aos espumantes, brancos e rosados frescos. Mas se você for irremediavelmente apaixonado pelos tintos, deleite-se com um Gamay nacional macerado carbonicamente, sirva-o a 12ºC, hidrate-se e seja feliz, como o são todos os LEGÍTIMOS filhos de Baco. 59