UMA TRAJETÓRIA HIPOTÉTICA DE APRENDIZAGEM PARA O ENSINO DE FUNÇÃO AFIM EM UM CURSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA Julio Cezar Rodrigues de Oliveira UNESPAR – Campus Apucarana / UEL – Universidade Estadual de Londrina [email protected] Romário Tomilhero Frias UNESPAR – Campus Apucarana [email protected] Letícia Barcaro Celeste Omodei UNESPAR – Campus Apucarana [email protected] Resumo: Nesse trabalho, apresentamos uma trajetória hipotética de aprendizagem (THA) na perspectiva da Resolução de Problemas. Nessa THA apresentamos uma proposta que será desenvolvida em um curso de formação continuada promovido pela UNESPAR – Campus Apucarana. Esse curso tem como objetivo proporcionar aos professores participantes a possibilidade de trabalhar com algumas das tendências em Educação Matemática, com o auxílio do software GeoGebra, no desenvolvimento de propostas elaboradas pelos acadêmicos do curso de Licenciatura e pelas professores orientadoras. A elaboração dessa THA possibilitou que os acadêmicos planejassem e antecipassem as possíveis discussões que surgiriam no decorrer da aula, e assim estariam mais seguros no desenvolvimento da atividade. Palavras-chave: Trajetória Hipotética de Aprendizagem. Resolução de Problemas. Função Afim. Introdução Neste trabalho apresentamos uma Trajetória Hipotética de Aprendizagem (THA) a ser desenvolvida com professores da Educação Básica em um curso oferecido pela UNESPAR – Campus Apucarana. Esse curso faz parte do projeto intitulado “O Ensino de Matemática com o GeoGebra: uma Abordagem por meio de Tendências em Educação Matemática em um Curso de Formação Continuada”. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 As propostas desenvolvidas no curso têm por objetivo promover momentos de reflexão e discussão sobre conteúdos e metodologias de ensino, pelos quais os professores da educação básica podem contribuir com suas experiências para o desenvolvimento das propostas, e, em contrapartida, os acadêmicos conduzem os encontros pautados em algumas das tendências em Educação Matemática (Resolução de Problemas, Investigação Matemática, História da Matemática e Modelagem Matemática), com o auxílio do software GeoGebra. Para esta THA, optou-se por utilizar a Resolução de Problemas como tendência, pois Ao se ensinar matemática através da Resolução de Problemas, os problemas são importantes não somente como um propósito de se aprender matemática mas, também, como um primeiro passo para se fazer isso. O ensino-aprendizagem de um tópico matemático começa com uma situação-problema que expressa aspectos chave desse tópico e são desenvolvidas técnicas matemáticas como respostas razoáveis para problemas razoáveis. (ONUCHIC, 1999, p. 207) Ao planejar uma aula de matemática, o professor deve se questionar a respeito do que o estudante já sabe sobre determinado conteúdo, para que assim ele tenha uma ideia de como irá conduzir sua aula. Sob esse viés, acreditamos que a THA pode representar uma alternativa para que o professor consiga explorar as possíveis dúvidas e discussões que podem surgir no decorrer da aula. Algumas dissertações de mestrado apontam que as THA representam uma alternativa para o professor planejar sua atuação em sala de aula, tais como Angiolin (2009), Barbosa (2009), Lima (2009), Luna (2009), Mesquita (2009), Rosenbaum (2010), que desenvolveram THA para ser trabalhadas com conteúdos de Ensino Fundamental e Médio. Com o objetivo de compreender a teoria proposta por Simon (1995), estudamos o seu trabalho buscando compreender o que ele propõe quando apresenta a THA. As Trajetórias Hipotéticas de Aprendizagem nas Aulas de Matemática A Trajetória Hipotética de Aprendizagem (THA) foi proposta por Simon (1995), e pode ser utilizada pelo professor oferecendo-lhe a possibilidade de construir seu próprio projeto de decisões, com base em suas melhores suposições de como o conhecimento pode ser construído em sala de aula. De acordo com o autor XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Eu uso o termo “trajetória hipotética de aprendizagem” para me referir a previsão do professor como um caminho pelo qual a aprendizagem pode ocorrer. É hipotético porque a trajetória real de aprendizagem não é conhecida previamente. Ela caracteriza uma tendência esperada. A aprendizagem individual dos estudantes ocorre de forma idiossincrática, embora frequentemente em caminhos similares. É assumido que uma aprendizagem individual tem alguma regularidade, que a sala de aula limita a atividade matemática frequentemente de formas previsíveis, e que muitos estudantes na mesma sala podem se beneficiar da mesma tarefa matemática. Uma trajetória hipotética de aprendizagem fornece ao professor uma análise racional para escolher um projeto instrucional particular; assim, eu tomo as minhas decisões baseado nas minhas melhores suposições de como a aprendizagem pode acontecer (SIMON, 1995, p. 135, tradução nossa). O autor justifica sua escolha pela palavra “trajetória” para referir-se a um caminho, e faz uma analogia a uma viagem, considerando que você pretenda fazer uma viagem pelo mundo, e não pretende viajar aleatoriamente, mas também não planejou um itinerário a ser seguido. Com esse objetivo, você busca o máximo de informações a respeito de cada lugar que pretende visitar, formulando um plano. A princípio, você pode ter toda a viagem planejada ou apenas parte dela. No início da viagem, você seguirá o seu plano, mas no decorrer, devido às condições que você encontrar, você tem que ajustar constantemente esse plano de viagem. Dessa forma pode ser que você mude a ordem pela qual visitará os lugares ou fique por mais tempo em determinados lugares e menos tempo em outros, podendo até deixar de visitar alguns deles e visitar outros que não havia planejado. Enfim, o caminho pelo qual você viaja é a sua “trajetória”, e o caminho que você havia planejado é a sua “trajetória hipotética” (SIMON, 1995). Uma das características presentes na THA é a relação entre a compreensão matemática do professor e suas hipóteses a respeito do conhecimento dos estudantes. Simon refere-se à hipótese sobre o conhecimento dos estudantes para enfatizar que o professor não consegue acessar diretamente o conhecimento deles, o que implica que o professor pode comparar a sua compreensão de um conceito particular a partir da sua construção de entendimentos dos estudantes hipoteticamente, mas não é possível que ele conheça de antemão os entendimentos reais dos estudantes. O autor concebe a THA em três componentes: o objetivo que o professor pretende alcançar com direções claras para a aprendizagem dos estudantes, as atividades de aprendizagem, e o processo hipotético de aprendizagem, que representa uma previsão de como a compreensão e os pensamentos dos estudantes evoluirão no XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 contexto das atividades de aprendizagem. Além disso, ele ressalta que a criação e a modificação constante da THA é a peça central do modelo (Quadro 01). Quadro 01: Ciclo de Ensino de Matemática (abreviado) - (Simon, 1995, p. 136) A noção de THA na perspectiva de Simon não impõe que o professor sempre busque um objetivo por vez, ou que apenas uma trajetória deve ser considerada, mas vale salientar a importância de se ter um objetivo, fazer uma análise racional para a tomada de decisões do professor, e a natureza hipotética de tal pensamento. O autor chama a atenção para os benefícios da THA ao afirmar que [...] o desenvolvimento de um processo de trajetória hipotética de aprendizagem e o desenvolvimento de atividades de aprendizagem têm um relacionamento simbiótico; a geração de ideias para atividades de aprendizagem é dependente das hipóteses do professor sobre o desenvolvimento do pensamento e da aprendizagem dos estudantes, além disso a geração de hipóteses do desenvolvimento conceitual do estudante depende da natureza de atividades antecipadas (SIMON, 1995, p. 136, tradução nossa). O desenvolvimento de uma THA para uma aula é o processo pelo qual o professor desenvolve um plano de atividade. Segundo Fernandes e Pires (2013, p. 2), neste plano é apresentada “uma descrição detalhada de uma aula hipotética que evidencia possíveis dúvidas que possam aparecer, com encaminhamentos e caminhos para discussões”. Para Simon e Tzur (2004), a seleção das atividades a serem utilizadas e as hipóteses sobre o processo de aprendizagem dos estudantes são interdependentes, e, subjacentes à elaboração da THA, encontramos os seguintes pressupostos: XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 1. A geração de um THA é baseada na compreensão do conhecimento atual dos estudantes envolvidos. 2. Uma THA é um veículo para o planejamento da aprendizagem de conceitos matemáticos particulares. 3. As atividades matemáticas fornecem ferramentas para promover a aprendizagem de conceitos matemáticos particulares e são, portanto, uma parte chave para o processo. 4. Dada a natureza hipotética e inerentemente incerta desse processo, o professor está frequentemente envolvido em modificar cada aspecto da THA (SIMON e TZUR, 2004, tradução nossa) Steffe (2004) afirma que uma trajetória de aprendizagem apresenta um modelo de conceitos iniciais que os estudantes possuem, e a consideração de mudanças observáveis nesses conceitos como o resultado da atividade matemática interativa em situações de aprendizagem, além de uma descrição das interações matemáticas que estiveram envolvidas nessas mudanças. No desenvolvimento da atividade, conforme o professor observa os estudantes e interage com eles, uma experiência é constituída coletivamente que pode ser, e geralmente é, diferente daquela antecipada pelo professor na THA. Nesse sentido, as ideias do professor sobre como os estudantes agiriam hipoteticamente na THA se transformam ao passo que ele nota como os estudantes estão desenvolvendo a atividade, o que pode fazer com que o professor recrie sua THA, com novas perspectivas para uma próxima atividade. Gómez, González e Lupiáñez (2007) descrevem como a THA pode oferecer subsídios com relação aos planejamentos para o professor em sua formação inicial, por meio de uma adaptação do conceito apresentado por Simon (1995) e por Simon e Tzur (2004). Nessa perspectiva, vamos apresentar nesse trabalho uma THA relacionada ao estudo de função afim em um curso de formação continuada, com o auxílio do software GeoGebra, ressaltando as discussões desencadeadas no decorrer da THA e destacando como o software pode ser utilizado com o intuito de promover a aprendizagem. O Curso de Formação Continuada e o GeoGebra O curso intitulado “A Educação Matemática e a prática em sala de aula: ideias e possibilidades com o GeoGebra” (parte de um projeto da UNESPAR – Apucarana em parceria com o Núcleo Regional de Educação de Apucarana) é voltado para os XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 professores da Educação Básica, a fim de que os professores participantes sejam capacitados para utilizarem os laboratórios de informática nas aulas de Matemática, trabalhando com o computador como uma ferramenta que pode ser utilizada na construção do conhecimento matemático. Este curso faz parte de um projeto de iniciação científica, no qual o primeiro autor desse trabalho atua como voluntário, e de um projeto de extensão, no qual o segundo autor desse trabalho atua como bolsista, ambos coordenados e orientados pela terceira autora desse trabalho. Neste curso, os acadêmicos do curso de Licenciatura em Matemática – bolsistas e voluntários, com o auxílio das professoras coordenadoras, elaboram e colocam em prática propostas para serem desenvolvidas com o auxílio do software GeoGebra, sempre por meio de uma das tendências em Educação Matemática (Resolução de Problemas, Investigação Matemática, História da Matemática e Modelagem Matemática). O software GeoGebra é gratuito e foi criado em 2001 por Markus Hohenwarter, que tinha como meta desenvolver um software voltado para o ensino e a aprendizagem de matemática nos vários níveis de conhecimento. Atualmente, o GeoGebra reúne recursos de álgebra, geometria e cálculo, possibilitando o trabalho com tabelas, gráficos, construções geométricas, probabilidade, matemática financeira, estatística, entre muitos outros conteúdos em um único ambiente. Nas propostas realizadas, os professores buscaram investigar as questões envolvidas para descobrir e justificar suas respostas com a ajuda do software, discutindo suas resoluções e como poderiam trabalhar com o GeoGebra em sala de aula. Vamos apresentar um THA sobre o estudo de função afim que será desenvolvida nesse curso. THA: Estudando Função Afim por meio da Resolução de Problemas A THA desse trabalho é destinada a professores da Educação Básica em um curso de formação continuada, com o objetivo de levantar a discussão a respeito do conceito de função afim por meio de uma situação-problema. Nela vamos investigar, com o auxílio do GeoGebra, como é possível determinar o domínio, a imagem, e em quais intervalos é mais interessante escolher uma ou outra proposta de pagamento, e, XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 por fim, analisaremos o fato de termos uma função discreta, que pode ser representada por uma progressão aritmética (PA), um caso particular de função afim. A proposta apresentada foi adaptada de uma questão de vestibular da Universidade de Brasília. Nessa aula, os conceitos serão abordados conforme as discussões se desenvolverem e, partindo da lei de associação, estudaremos quais são os componentes das funções estudadas e como podemos compará-las. No desenvolvimento desta THA as falas dos professores participantes do curso iniciarão pela letra Pn, sendo que cada n representa um possível professor, e as falas do acadêmico responsável por ministrar a aula iniciarão com a letra A. A princípio, será explicado aos professores que seria interessante que eles testassem suas ideias, ao construir os gráficos no software GeoGebra, para também poderem analisar graficamente o que estão investigando. É importante ressaltar que nosso objetivo com este trabalho não está no aprofundamento das instruções de como realizar construções no GeoGebra, mas sim nas possibilidades que o software traz para o desenvolvimento de propostas que visam a aprendizagem dos estudantes, por meio de discussões a respeito dos conteúdos envolvidos. O papel do acadêmico responsável pela aula será de questionar as sugestões dos professores, com o objetivo de fazê-los refletir sobre o que estão considerando e se a rota pela qual eles estão seguindo é interessante, pensando ainda nos possíveis obstáculos de aprendizagem que podem ser gerados, dependendo de como eles estão resolvendo essa proposta. A proposta será abordada em grupo, e sua resolução ocorrerá seguindo as sugestões dos professores, para que assim, por meio dessa construção coletiva, eles consigam resolvê-la e discutir os conceitos envolvidos. A proposta a ser apresentada é a seguinte: O Parque de Diversões (Unb 97 - Adaptado) Cada bilhete vendido em um parque de diversões dá direito à utilização de apenas um brinquedo, uma única vez. Esse parque oferece aos usuários três opções de pagamento: I: R$ 3,00 por bilhete; II: Valor fixo de R$ 15,00, acrescidos R$ 0,40 por bilhete; III: Valor fixo de R$ 30,00 com direito a 10 bilhetes mais R$ 0,20 por bilhete excedente. a) Quais as expressões que definem as funções das opções I, II e III? Esboce seus respectivos gráficos no GeoGebra. b) Julio está com a família e pretende usar 15 bilhetes. Qual opção é mais vantajosa para ele? XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 c) Existe algum ponto que torna indiferente a escolha entre as opções II e III? d) Emily, seu marido e seus três filhos foram ao parque no dia em que o parque estava comemorando seu aniversário. Nesse dia, as crianças pagavam apenas R$ 2,00 por bilhete e os adultos escolheram a opção I. Sabendo que eles gastaram R$ 13,00, e cada um utilizou um bilhete, determine quantas crianças o casal tem. Quadro 02: Proposta do Parque de Diversões Os professores farão a leitura dessa proposta antes de dar início a resolução. A: Como podemos pensar no problema do parque? P1: Como esse problema envolve o conceito de funções afins, basta encontrarmos as funções que definem cada uma das opções de pagamento do parque, para, em seguida, respondermos as questões propostas. P2: Para a primeira opção, a expressão que define a função f é dada por f(x)= 3x. A: Além da lei de associação, o que mais definiria a função que representa a opção I? P1: Como assim? A: Pense em funções de um modo geral. Para definir uma função, o que precisamos conhecer? P1: Ah, sim. Precisamos dos conjuntos que definem o domínio e o contradomínio. Nesse caso, o domínio seria representado pela quantidade de bilhetes a ser comprada, e a imagem seria determinada pelo preço que pagaremos. Vamos considerar, nesse caso, que o conjunto que define o contradomínio seja o conjunto dos números reais. A: O que vocês acham da sugestão de P1? P3: É interessante, mas como podemos traçar esse gráfico no GeoGebra, porque eu digitei no campo de entrada “f(x) = 3x”, mas o gráfico apresentado é uma reta, e nele também é considerado os valores da função para x < 0. P4: Se conseguirmos restringir o domínio para x > 0, com x real, seria possível traçar o gráfico dessa função. Para isso, podemos digitar no campo de entrada “Função[3x,0,∞]”, assim, conseguimos apresentar a expressão que define a função, e o intervalo no qual ela é definida. A: Plotando esse gráfico, agora podemos afirmar que ele descreve a forma de pagamento caso escolhermos a opção I? XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 P3: Muito bem, se cada bilhete nos dá direito a utilização de um único brinquedo, observando esse gráfico pressupõe-se que ½ bilhete dá direito a utilização de ½ brinquedo já que consideramos o domínio como o conjunto dos números reais maiores que 0, correto? Mas isso não faz sentido. P5: Então temos que repensar no domínio, como ele é definido pela quantidade de bilhetes a ser comprada, teremos que o domínio é representado pelo conjunto dos Números Naturais. Mas como o software poderá ajudar a plotar esse gráfico? A: É nisso que temos que pensar, muitas vezes o software pode trazer alguns obstáculos, por isso temos que compreender de fato como representamos o domínio da função, para que o gráfico não seja mal interpretado. Felizmente podemos utilizá-lo para definir essa função, embora tenhamos que restringir o domínio. Digamos então que a quantidade de bilhetes esteja entre 0 e 120, e assim podemos utilizar o comando “Sequência” para definir o domínio dessa função como um subconjunto dos números naturais. Gráfico da função definida por f(x) = 3x, com Dom = {x > 0}, Gráfico da função definida por f(x) = 3x, com Dom = {0 ≤ x ≤ com x real 120}, com x natural Quadro 03 – Gráficos que podem ser construídos para supostamente representar a Opção I Fonte: Do autor. A: Uma vez definido o domínio da função, qual será o conjunto imagem? XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 P6: O conjunto imagem é dado pelos números 0, 3, 6, 9, ..., 360, considerando o conjunto que restringimos para plotar o gráfico da função. Ou poderíamos também dizer que o conjunto imagem é representado pelos múltiplos de 3, de 0 a 360. A: E agora, conseguimos determinar os elementos da função que representa o quanto vamos pagar pelos bilhetes caso escolhermos a opção I? P1: Agora temos todos os elementos que definem a função: a lei de associação, o domínio e o contradomínio. Mas, se pararmos para pensar, o domínio das funções que representam as opções II e III será o mesmo, pois também estaremos relacionando a quantidade de bilhetes comprada com o total a ser pago. P3: Então para determinar a função que define a opção II fica fácil, porque temos um valor fixo de R$ 15,00, mais R$ 0,40 por bilhete, teremos que o coeficiente angular da função será 0,4, que representa o quanto o preço aumentará a cada unidade a mais de bilhete que comprar, e o coeficiente linear será igual a 15, que é a taxa fixa. Logo, temos uma função g definida por g(x) = 0,4x+15, e a imagem dessa função é um subconjunto dos racionais. P7: Mas e a função h que define a opção III? Como vamos determinar a lei? P8: Essa função é definida em dois intervalos diferentes, sendo o primeiro deles definido pelo conjunto dos números naturais de 0 a 10, no qual a função será igual a 30, ou seja, uma constante. P9: Então a segunda parte é definida no conjunto dos naturais maiores que 10, e a lei de formação será h(x) = 30 + 0,2x. P10: Mas então quer dizer que a segunda parte da função h intercepta o eixo das ordenadas no ponto (0,30)? Isso não parece fazer sentido, parece? A: Se comprarmos 11 bilhetes, escolhendo a opção III, quanto pagaríamos? P5: Temos que pagar R$ 30,20, sendo que os R$ 30,00 é a parte fixa, e R$ 0,20 por um bilhete excedente. A: E se substituirmos x por 11 na função sugerida, ou seja, h(x) = 30+0,2x, o que vamos encontrar? P9:Assim concluiríamos que h(11) = 32,20. É, não vai dar certo. Então não é essa lei que determina a função para o segundo intervalo. P6: Mas como sabemos que f (11) = 30,2, e que o acréscimo é de 0,20 centavos por cada unidade extra, podemos substituir esses valores na função afim y = ax+b. E XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 assim descobriremos o valor de b e teremos a lei que define a função para o segundo intervalo. P4: Fazendo essas substituições, temos que a função h é definida por h(x)=28+0,2x. E o domínio dessa função é o conjunto dos números naturais, mas a imagem pode ser representada por um subconjunto dos números racionais. E essa última função é uma função por partes, pois temos que considerar duas leis de formação, uma para cada um dos intervalos. P11: Mas, como os domínios dessas funções afins que encontramos são os números naturais, podemos considerar que cada uma dessas funções pode ser representada por uma progressão aritmética (PA), não podemos? A: O que vocês acham? P13: Podemos sim, até pela definição de PA, na qual a diferença entre dois termos consecutivos é uma constante real, e se considerarmos, por exemplo, a primeira opção como uma PA, teríamos que o primeiro termo (a1) seria 3 e a razão seria 3, deixando de lado o termo zero, ou ainda considerando a0 = 0. Dessa forma, o termo geral seria dado por: an a1 (n 1).r 3 (n 1).3 3 3n 3 3n , onde n é o número de bilhetes comprados e an o quanto pagaremos por n bilhetes. P10: É interessante observar que as progressões aritméticas podem ser tratadas como um caso particular das funções afins. P13: E, da mesma forma, poderíamos definir a função g por meio de uma PA. No caso da função h, teríamos duas progressões aritméticas, no primeiro intervalo teríamos uma PA de razão igual a zero, e na segunda uma PA de razão 0,2. P3: Então conseguimos definir as funções que representam cada uma das opções fornecidas pelo parque, são elas: Opção I: f : IN IR definida por f ( x) 3x Opção II: g : IN IR definida por g ( x) 0,4 x 15 30, se x 10 Opção III: h : IN IR definida por h( x) 0,2 x 28, se x 10 Quadro 04: As funções que representam as três opções de pagamento Graficamente, temos: XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Quadro 05: Gráficos que representam as três opções de pagamento Fonte: do autor P8: Uma vez plotado o gráfico das três funções, fica tranquilo para responder as perguntas do problema: a letra a) está feita. No caso da letra b), basta calcular f(15), g(15) e h(15), e verificar qual dos três valores será o mais baixo. P6: Mas, podemos ver também pelo gráfico que, se traçarmos a reta vertical definida por x=15, a função g é a que intercepta essa reta no menor valor de y. Logo, a opção II é mais vantajosa para Julio. P13: No caso da letra c), graficamente temos que as funções g e h aparentemente se interceptam em apenas um ponto. Para descobrir as coordenadas desse ponto, igualamos a função g à parte da função h cujo coeficiente angular é 0,2, pois é nessa semirreta que temos a interseção de ambas as funções. Temos que: 0,4x 15 0,2x 28 0,2x 13 x 65 . Assim, se resolvêssemos comprar 65 bilhetes, a escolha entre a opção II e opção III seria indiferente. E podemos ter certeza disso ao calcular g(65) e h(65). P14: Em relação à letra d), eu penso que o enunciado está dando a resposta, pois se Emily vai ao parque com seu marido e seus três filhos, fica implícito que o número de crianças é três, não fica? A: Mas será que os três filhos do casal são crianças? P14: É verdade, isso não está escrito no enunciado. Bom, mas se for assim então podemos pensar em um sistema? XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 A: Como você sugere? P14: Considerando que o número total de pessoas seja cinco e temos x adultos e y crianças, teríamos a equação x y 5 . E como eles escolheram a opção I, todos pagariam R$ 3,00 por bilhete, mas, como as crianças pagam R$ 2,00 por bilhete nesse dia, temos que o total pago pode ser representado pela equação 3x 2 y 13 . P15: Agora existem várias formas de resolver, mas eu resolveria por substituição, isolando x ou y na primeira equação e substituindo na segunda. A: É interessante que a resolução de um sistema de equações lineares pode ser feita de várias formas. Graficamente, como poderíamos interpretar essa solução? P10: Se considerarmos os gráficos das retas dadas por cada uma das equações que montamos, o ponto de interseção dessas retas, quando elas são concorrentes, determina a sua solução. Plotando os gráficos no GeoGebra, podemos observar com mais facilidade: Quadro 06: Representação Gráfica do Sistema de Equações de Reta P10: Dessa forma, o número de adultos é 3, e juntos eles pagaram R$ 9,00, e o número de crianças é 2, e eles pagaram R$ 4,00, totalizando R$ 13,00. P11: O GeoGebra pode ajudar na interpretação das respostas encontradas quando resolvemos um sistema linear, porque quando o sistema não possui solução, as retas seriam paralelas, e fica fácil de observar esse detalhe. Ao finalizar a THA, o professor não somente planejou todo o conteúdo que pretende abordar em sala de aula e a metodologia pela qual irá trabalhar, mas também se colocou no lugar do estudante ao imaginar as possíveis dúvidas que viriam a surgir no decorrer da aula. Além disso, o professor simulou as possíveis discussões que podem XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 ser geradas conforme eles buscam uma resolução para o problema apresentado, podendo antecipar qual será a sua postura perante cada uma dessas situações, ou seja, como ele agirá como um mediador no processo de ensino e aprendizagem. Considerações Finais A elaboração de uma THA para o projeto do qual fazemos parte constituiu-se como uma diferente alternativa para planejarmos o trabalho com os professores participantes do curso, antecipar e promover reflexões relacionadas aos conteúdos estudados e trabalhar com as possibilidades que o GeoGebra oferece para o ensino de matemática. A THA pode oferecer mais segurança ao professor, pois se ele antecipou as possíveis situações que podem ocorrer em sala de aula, ele também já estruturou como será a sua reação à determinada dúvida ou discussão que surgir, e se por acaso surgir alguma dúvida que o professor não havia antecipado, ele poderá esclarecer essa dúvida do estudante e complementar a sua THA. Segundo Steffe (2004) A construção de trajetórias hipotéticas de aprendizagem dos estudantes é um dos problemas mais difíceis, porém urgentes que a educação matemática enfrenta atualmente. É também um dos problemas mais empolgantes porque é nela que podemos construir uma compreensão da matemática dos estudantes e como nós professores podemos afetar de forma rentável essa matemática (STEFFE, 2004, p. 130, tradução nossa). Corroboramos com o autor, pois ao elaborar a THA, foi necessário que refletíssemos sobre como os professores pensariam ao tentar resolver o problema apresentado, e que dúvidas poderiam surgir. Para tanto, nos pautamos nas dissertações sobre as THA que encontramos na literatura, e por meio dessa pesquisa construímos uma THA a ser desenvolvida com professores em um curso de formação continuada. Enquanto estudantes de licenciatura, acreditamos que as THA oferecem um suporte à formação inicial do professor, e por meio dela é possível descrever algumas situações de aprendizagem que podem surgir no decorrer de uma aula, de forma a melhor preparar o professor para trabalhar em sala de aula. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Referências ANGIOLIN, A. G. Trajetórias Hipotéticas de Aprendizagem sobre Funções Exponenciais. 2009. 196 fls. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) – PUCSP, São Paulo 2009. BARBOSA, A. A. Trajetórias Hipotéticas de Aprendizagem relacionadas às Razões e às Funções Trigonométricas, visando uma Perspectiva Construtivista. 2009. 159 fls. Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino de Matemática) – PUC-SP, São Paulo 2009. FERNANDES, R. K. PIRES, M. N. Uma Trajetória Hipotética de Aprendizagem: Construindo o Pensamento Algébrico nos Anos Iniciais. XI ENEM, Curitiba, 2013. GÓMEZ, P. GONZÁLEZ, M. J. LUPIÁÑEZ, J. L. Adapting the Hypothetical Learning Trajectory Notion to Secondary Preservice Teacher Training. Chipre: Universidade de Chipre, 2007. LIMA, P. O. de. Uma Trajetória Hipotética de Aprendizagem sobre Funções Logarítmicas. 2009. 213 fls. 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