VISITA A UMA REUNIÃO DE ALCOÓLICOS ANÔNIMOS
"(...) para lavar a roupa: omo; para viagem longa: jato; para difíceis contas:
calculadora (...) " [1], para alcoolismo: tratamento terapêutico.
Por Jessyka Ribeiro
Em uma reunião de Alcoólicos Anônimos relatos de vidas que se perderam na
imensidão da doença. Porém, com muita dificuldade e força de vontade, estão
conseguindo dar a volta por cima.
Para os visitantes, um pedido: "Quem você vê aqui, o que você ouve aqui, quando
sair daqui, deixe que fique aqui." As histórias que serão contadas foram todas
ouvidas lá, mas em respeito à imagem das pessoas ali presentes, o anonimato da
identidade será mantido, pois o que foi visto ou ouvido ali, foi deixado lá. Apenas
as impressões foram trazidas. Falas sem nomes. Histórias aparentemente sem
dono, mas todas com a marca irreversível que o vício deixou.
Em uma sala simples no fundo de uma Igreja Católica, a reunião começa
pontualmente às 20h. O coordenador bate o sino. Todos se levantem; rezam;
sentam. Ouve-se então uma voz: "Queria convidar à cabeceira de mesa o
companheiro número 1 para compartilhar conosco o seu depoimento...". Com o
convite feito, não há espaço para negá-lo. Mas eles nem pensam nisso, passam a
reunião ansiosos para irem à frente. É com notável prazer que contam suas vidas,
pois sentem-se úteis ao contribuir para com a recuperação do próximo.
O companheiro número 1 é um senhor de idade. Ele levanta-se com certa
dificuldade e se dirige à cabeceira de mesa, ou melhor, à frente da sala. Nos
bolsos da calça, muitas moedas. Com as mãos lá dentro, ele as meche
incontrolavelmente. É difícil ouvir sua voz. Mas ele faz questão de aconselhar os
outros companheiros que o maior problema é o primeiro gole, portanto deve ser
vivamente evitado. No fim ele afirma com um sorriso no rosto e semblante
orgulhoso: "aqui é que a gente se cura". Aplausos para ele.
Mais um convite é feito. Desta vez a convocada é uma mulher bastante jovem.
Era casada e tem um filho. Para ela uma vitória: está há quatro anos sem beber.
Seu vício começou quando ainda era menina, com 12 anos. Envolveu-se com
bebidas fortes, "cerveja para mim era água". Hoje, com a doença controlada, ela
diz que foram os depoimentos de seus companheiros que a ajudaram melhorar.
Com os olhos rasos d'água ela conta que perdeu tudo, e ainda não conseguiu
recuperar, pois é preciso muito mais do que força de vontade, é necessário
acreditar que o amanhã vai ser melhor do que hoje, mas "com fé em Deus eu vou
conseguir". Aplausos para ela.
Na sala havia seis pessoas. Cinco homens e uma mulher. Cada um com fatos
diferentes fincados no mesmo caminho; o do álcool. Hoje é aparentemente fácil
reconhecer que são doentes, mas só eles sabem o quanto tiveram de ferir o
próprio ego a fim de admitir que eram impotentes perante ao álcool e acreditarem
que a sanidade poderia voltar a reger suas vidas.
Às 21h uma pausa para o lanche. É momento de relaxar, fumar, conversar.
Jamais beber. Depois de quinze minutos, todos voltam para sala. É hora de ouvir
os outros companheiros. O próximo era um jovem; o seguinte um senhor e os
outros dois eram homens de idade mediana. Diante de todos os relatos, muitos
fatos em comum.
Tudo começou naquele primeiro gole com os amigos. Sem pretensões, sentaram
no boteco. Estavam apenas se divertindo. Uma risada aqui outra acolá. Um gole
hoje, outro amanhã. Os anos passaram e muitos amigos também. Mas aquela
sensação do primeiro encontro é que eles queriam de novo. Logo, uma busca
insaciável e renovável.
A cada dia, a esperança de encontrá-la dava espaço a um gole a mais. A dose de
ontem não era mais o suficiente para hoje. "Só mais um, é o último". Com as
mãos trêmulas, a boca sedenta e os olhos turvos, o copo era divido entre boca,
camisa e chão. No fim do gole, o desespero. Percebiam que precisavam de mais.
Com a língua já enrolada eles pediam "mais um, por favor".
A história contada acima se repete na vida de todos eles. Durante anos a fio, seus
dias começaram e terminaram daquele jeito. A maioria já não se lembra do que
aconteceu depois do desespero com o fundo do copo. Os que se recordam,
relatam o desânimo que sentiram ao perceberem que haviam dormido na rua.
No fim da reunião relatos contados; vidas tocadas e, aos poucos, mudadas.
Depoimentos que ajudam e fortalecem. Terapia que "é melhor do que qualquer
remédio", e que abre brechas para outro vício, "se eu parar de freqüentar essa
reunião, eu volto pro botequim". Aos que conseguiram vencer a bebida por mais
um dia, uma frase como forma de gratidão: "Obrigado, mais 24 horas". A reza; o
sino; a voz: "A reunião está encerrada".
Alcoolismo; uma doença que é progressiva, fatal e não tem cura. Tem como
principal causa a irrefreável vontade de experimentar, acrescida da fantasia de
que será uma única vez. Tudo isso meche com o íntimo da moléstia, e uma vez
cutucada, ela aflora e dá origem à incontrolável paixão pelo álcool.
Assim como todo e qualquer vício, este também não escolhe classe ou sexo para
maltratar. Na maioria das vezes, exibise-se como denúncia de um problema na
atmosfera familiar. Com sutileza invade e destrói famílias, amizades, emprego,
confiança, felicidade e, sobretudo, a dignidade da pessoa. Talvez esta seja a
maior fatalidade proporcionada pela doença, pois tudo o que é conquistado ao
longo de uma vida, pode ser devastado com uma pequena sequência de porres.
[1] Diariamente - Marisa Monte
E AGORA?
VOCÊ COMPANHEIRO (A)
Antes de você colocar o seu nome em uma das chapas, leia com atenção e reflita.
ENCARGOS EM A. A.
Encargos em A.A. - Responsabilidades e Serviços
Parece que infelizmente os "Encargos" e as "Eleições" em A.A. são, as vezes,
objeto de interpretação errônea por parte de alguns companheiros. Os encargos
têm sido encarados por alguns como fatores de prestigio e promoção às eleições
como teste de popularidade nos grupos.
Há companheiros que se candidatam a tudo e geralmente acontece uma das
duas coisas: ou ele é eleito e se promove com isso e simplesmente não trabalha;
ou então tremendamente ressentido ou deixa de freqüentar o grupo, por achar
que sua recuperação não foi reconhecida.
Em verdade, convém lembrar o que nos diz o livreto "O Grupo de A.A." a respeito:
As funções que executam não podem ter títulos. "Mas os títulos em A.A. não
representam autoridade ou honrarias, referem-se a serviços e responsabilidades".
Quando começa a nossa recuperação em A.A. percebemos o valor da dádiva
recebida, e compreendemos que é algo tão valioso que não podemos nos fechar
egoisticamente dentro daquilo que recebemos. Procuramos então, através de
serviços prestados a outras pessoas, com a responsabilidade e humildade colocar
a disposição de outro tudo aquilo que nos foi dado. Quando os serviços em A..A.
são encarados dentro deste espírito de doação e desprendimento, crescemos em
nossa recuperação, e se esvazia orgulho e vaidade.
O Trabalho em A.A. nos dá a consciência do muito que se tem ainda por fazer,
não dando assim condição de nos sentirmos grandiosos pelas pequenas coisas
que tenhamos feito individualmente. . Isso nos mantém realmente integrados no
espírito de unidade de A.A. cada um de nós com a consciência de que nossa
parte está sendo realmente feita, irmanado no propósito de compartilhar com
outro aquilo que recebemos. Quando pelo contrário, serviços em A.A.. são usados
como motivo de vaidade e orgulho próprio coloca em perigo nossa harmonia e só
trazem prejuízos à Irmandade. Surge "Personalismo" que se colocam acima de
nossos princípios, deixa-se de lado a tão "Difícil" humildade e luta-se por prestígio
pessoal. O Grupo e o A.A. deixam de ser um todo harmonioso e passa a ser palco
de conflito de "Personalidades" e os princípios relegados a segundo plano.
São uma de nossas responsabilidades como membros de A.A. escolhermos como
nossos servidores de confiança aqueles que realmente estejam dispostos e em
condições de serviço ao A.A. e não se servir de A.A.
Devemos ser criteriosos na escolha de companheiros que nos servirão, porque os
resultados dessa escolha, bons ou maus, serão sentidos por todos nós. Cada
grupo, ou A.A. no seu todo, tem os servidores que merece, e é de
responsabilidade nossa tudo o que acontece em A.A.
Cada um de nós deve zelar pela harmonia e a unidade de A.A., pois é acima de
tudo, compartilhando de um bem estar comum que podemos usufruir nosso bem
estar individual e então transmiti-lo a quem chega à irmandade. Diante do exposto
acima, percebemos a necessidade dos grupos realizarem reuniões específicas
para falar do serviço e servidores. Com isso dando oportunidade aos membros
novos que estão chegando de conhecerem a Irmandade da qual fazem parte e
assim, não ter que passar pelas mesmas dificuldades que nós outros passamos
por falta de um apadrinhamento adequado. Muitos de nós entramos para o
serviço em A.A., apenas com o desejo de ficar sem beber alguns dias, ainda não
tínhamos decidido se íamos ficar ou não. Entretanto, entramos para o Comitê de
Serviços do Grupo e começamos a prestar serviços de qualquer maneira, sem
nenhuma consciência do que é A.A., tínhamos apenas o desejo de ficar sem
beber.
O Procedimento que tem sido adotado de se colocar qualquer pessoa,
despreparada para prestar serviços e geralmente com a intenção de ajudá-la, tem
trazido muitos problemas para o membro, para os grupos e para o A.A. como um
todo.
Portanto, gostaríamos de sugerir aos companheiros dos grupos, para incluir na
programação do grupo, reunião de esclarecimentos sobre o Terceiro legado,
usando os livros "O Grupo de AA... onde tudo começa" , o "Manual de Serviços" e
"Guia de Capacitação". Acreditamos que com essa atitude vamos acabar com a
dificuldade de formar os Comitês de serviços nos grupos e também nos Órgãos
de Serviços.
Fonte: Informativo "um amigo" Órgão de Serviço de A.A. (BH).
MEDITAÇÃO
MEDITAÇÃO
PASSO 11
PROCURAMOS ATRAVÉS DA ORAÇÃO E MEDITAÇÃO MELHORAR NOSSO
CONTATO CONSCIENTE (SOB A FORMA QUE O CONCEBEMOS), PEDINDO
SOMENTE PELO CONHECIMENTO DA SUA VONTADE PERANTE NÓS E A
CAPACIDADE DE REALIZÁ-LA.
A sensação de estar mantendo os Passos deve ser boa. O Passo Onze pede-nos
que melhoremos o nosso contato consciente com Deus, tal como o entendemos.
Os Passos Dois e Três tornaram-nos conscientes de que os recursos humanos
não eram suficientes, muito embora quando a maioria entrou em Alcoólicos
Anônimos achou que essa ajuda humana seria
suficiente. Eventualmente, fomo-nos conscientizando que a nossa adicção
significava que precisávamos utilizar toda a ajuda possível. Agora, precisamos
aprender melhor como comunicar com nosso Poder Superior. Como podemos
receber a maior ajuda possível? Como podemos combinar a ajuda do Poder
Superior com a ajuda humana? Iremos precisar das duas.
Na época dos dias de ativa, essa comunicação era virtualmente impossível.
Naqueles dias, a maioria de nós sentia-se indigna, envergonhada e excluída
desse contato vital.
Procurávamos ajuda, mas não oferecíamos nada de nós. Quando nos sentimos
excluídos, não fazemos qualquer esforço para nos comunicar com nosso Poder
Superior.
Ao aproximarmo-nos do Passo Onze, dois pontos parecem importantes. Um deles
é se este Passo é necessário; e o segundo é se este Passo ajuda a controlar o
ego. Precisamos deste Passo?
Falando com outros membros, será dito que precisas de toda ajuda que puderes
obter.
Também te será dito que alguns problemas, que podem ser a porção destinada à
tua pessoa, não podem ser solucionados apenas pelos recursos humanos. A
ajuda está disponível – então decide-te a fazer uso dela. Custe o que custar, faz o
que for necessário fazer para evitar retornar ao álcool ou à personalidade do
alcoólatra compulsivo.
O segundo ponto a ser considerado é o ego. Aqueles que já estão no programa
há algum tempo, veem como o ego é capaz de mudar. De uma extrema falta de
valor, o ego pode expandir-se em segundos até a um tamanho muito grande e
nada saudável. Quando o ego incha, a mente fecha-se a novas idéias.
Principalmente àquelas que não são as nossas. Então o
nosso Poder Superior torna-se desnecessário. "Podemos resolver tudo sozinhos".
Está na hora de apagarmos essa maneira de pensar e substituí-la por outra que
aceite um Poder Superior no comando e que, portanto, não "inchará" até o ponto
de perdermos o controle. À medida que vais crescendo no Programa de
Alcoólicos Anônimos, o ego vai ficando mais saudável, com a aprendizagem. O
antigo ego, a fonte de muito stress, desconforto, muita impaciência e ansiedade,
será substituído por um ego sereno e amante da paz.
Um contato consciente parece começar com a oração diária. O que é uma
oração? Para alguns, é uma conversa pessoal com o seu Poder Superior. Assim,
cada um de nós pode orar como achar apropriado. Aceitando a tua fraqueza,
procurarás a vontade do teu Poder Superior e a força para realizá-la. Procura pela
vontade do teu Poder Superior, pois estás cego quanto ao plano maior.
Diariamente, agradeça ao seu Poder Superior pela graça de mostrar-lhe a Sua
vontade.
No início, é difícil orar, e podes "fazer de conta" até saber como fazê-lo. Com o
tempo, passarás a aceitar a prece com entusiasmo e conhecerás as recompensas
que isso te trará.
À medida que tentas lidar com os novos problemas que a vida oferece a cada dia,
a oração aumenta a capacidade de lidar com eles.
A meditação é a prece num estágio ainda mais profundo de desenvolvimento
espiritual.
Quando se reza a Oração da Serenidade, o esforço de concentração está na
prece inteira. Se quisesses meditar concentrar-te-ias numa palavra ou num
pequeno grupo de palavras.
Serenidade, coragem ou sabedoria seriam um bom começo. Examinar as
palavras assim torna a oração mais significativa e faz com que te tornes mais
consciente do teu lugar na ordem humana. Isto é um simples início de meditação
e ajudar-te-á a desenvolver esta prática significativa.
O resultado final parece ser um reconhecimento mais completo de quem
realmente és em relação a Deus e aos seres humanos. O teu sucesso agora é o
sucesso Dele e os teus fracassos, aceita-os como teus, para procurar aprender
com eles.
Deus dar-te-á a força para realizar a Sua vontade, caso procures a Sua vontade e
a Sua força.
(Fonte: Um companheiro)
MEDITAÇÃO
"Na Opinião do Bill"
LIVRES DA ESCURIDÃO
A auto análise é o meio pelo qual trazemos uma nova visão, ação e graça para
influir no lado escuro e negativo de nosso ser. Com ela vem o desenvolvimento
daquele tipo de humildade, que nos permite receber a ajuda de Deus. No entanto,
ela é apenas um passo. Vamos querer ir mais longe. Vamos querer que o bem
que está dentro de todos nós, mesmo dentro dos piores, cresça e floresça. Mas,
antes de tudo, vamos querer a luz do sol; pouco se pode crescer na escuridão. A
meditação é nosso passo em direção ao sol.
"Uma luz clara parece descer sobre nós – quando abrimos os olhos. Uma vez que
nossa cegueira é causada por nossos próprios defeitos, precisamos primeiro
conhecê-los a fundo. A meditação construtiva é o primeiro requisito para cada
novo passo em nosso crescimento espiritual."
ALICERCE PARA A VIDA
Descobrimos que recebemos orientação para nossas vidas, à medida que
paramos de fazer exigências a Deus, a fim de que Ele nos dê aquilo que
queremos.
Ao orar, simplesmente pedimos que durante o dia todo Deus nos dê o
conhecimento de Sua vontade e nos conceda a graça, com a qual possamos
realizá-la.
Há uma relação direta entre o auto exame e a meditação e a oração. Usadas
separadamente, essas práticas podem trazer muito alívio e benefício. Mas
quando são relacionadas e entrelaçadas com lógica, resultam numa base sólida
para a vida toda.
ATMOSFERA DE GRAÇA
Aqueles dentre nós que se acostumaram a fazer o uso regular da oração, não
seriam mais capazes de passar sem ela, como não passariam sem ar, alimentos
ou a luz do sol. E pela mesma razão. Quando ficamos sem ar, luz ou alimento, o
corpo sofre. E quando nos afastamos da meditação e da oração, estamos
privando nossas mentes e nossas intuições de um apoio vitalmente necessário.
Da mesma forma que o corpo, a alma pode deixar de funcionar por falta de
alimentação. Todos precisamos da luz da realidade de Deus, do alimento de Sua
força, e da atmosfera de Sua graça. Os fatos da vida de A. A. confirmam de
maneira surpreendente essa verdade eterna.
APRENDER EM SILÊNCIO
Em 1941, um membro de New York chamou nossa atenção para um recorte de
jornal. Tratava-se de uma nota da seção de necrologia de um jornal local, onde
apareciam as seguintes palavras: "Concedei-me Senhor, a serenidade necessária
para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas
que posso e sabedoria para distinguir umas das outras".
Nunca tínhamos visto tanto de A. A. em tão poucas palavras. Com uma
velocidade surpreendente a Oração da Serenidade chegou ao uso geral.
Na meditação não há lugar para o debate. Descansamos tranquilamente com os
pensamentos ou as orações de pessoas espiritualmente centradas e
compreensivas, para que possamos sentir e aprender. Esse é o estado de espírito
que com tanta frequência revela e aprofunda um contato consciente com Deus.
A SENSAÇÃO DE FAZER PARTE
Talvez uma das maiores recompensas da meditação e da oração seja a sensação
de que passamos a fazer parte. Não mais vivemos num mundo completamente
hostil. Não mais nos sentimos perdidos, amedrontados e inúteis.
A partir do momento em que percebemos ainda que um vislumbre da vontade de
Deus, e começamos a ver a verdade, a justiça e o amor como valores reais e
eternos, não mais ficamos tão perturbados por todas as aparentes evidências do
contrário, que nos rodeiam nos assuntos puramente humanos. Sabemos que
Deus nos protege com amor. Sabemos que quando nos voltarmos para Ele, tudo
estará bem conosco, aqui e depois.
PERSISTÊNCIA NA ORAÇÃO
Muitas vezes temos a tendência a desprezar a meditação e a oração sincera,
como se fossem algo que não é realmente necessário. Sinceramente, sentimos
que elas poderiam nos ajudar a enfrentar uma emergência, mas a princípio muitos
de nós são capazes de considerá-las uma prática misteriosa dos clérigos, da qual
podemos esperar obter um benefício de segunda mão.
Em A. A. descobrimos que os reais bons resultados da oração são indiscutíveis.
Eles são o fruto do conhecimento e da experiência. Todos os que persistiram,
encontraram uma força que geralmente não tinham. Encontraram sabedoria
superior à sua capacidade normal. E encontraram cada vez mais a paz de espírito
que pode se manter firme, frente às mais difíceis circunstâncias.
SEM LIMITES
A meditação é algo que sempre se pode aperfeiçoar. Ela não tem limites, tanto em
extensão como em profundidade. Ajudados pelos ensinamentos e exemplos que
possamos encontrar, a meditação é essencialmente uma aventura individual, algo
que cada um de nós realiza à sua maneira. Mas seu objetivo é sempre o mesmo;
melhorar nosso contato consciente com Deus, com Sua graça, sabedoria e amor.
E recordemo-nos sempre que a meditação é na realidade algo muito prático. Um
de seus primeiros frutos é o equilíbrio emocional. Com ela podemos alargar e
aprofundar o canal de ligação entre nós e Deus, como nós O concebemos.
EXPERIMENTADORES
Nós, agnósticos, gostávamos de A. A. e não hesitávamos em dizer que produzia
milagres. Todavia, ante a meditação e a oração, sentíamos o mesmo retraimento
do cientista que se recusava a realizar certa experiência por temor de ter de
derrubar sua teoria predileta. Quando finalmente fizemos a experiência, e
surgiram resultados inesperados, nos sentimos diferentes: na verdade
enxergamos a diferença e assim aceitamos a meditação e a oração. E
descobrimos que isso pode acontecer com qualquer pessoa que se disponha a
tentar. Acertou quem disse que "os que zombam da oração são, quase sempre,
os que não experimentaram o suficiente".
A HORA DA DECISÃO
Nem todas as grandes decisões podem ser tomadas simplesmente anotando os
prós e os contras de uma determinada situação, por mais útil e necessário que
seja esse processo.
Não podemos sempre depender daquilo que nos parece lógico. Quando há
dúvidas acerca de nossa lógica, contamos com Deus e procuramos ouvir a voz da
intuição. Se, na meditação, essa voz é persistente o suficiente, podemos ter
bastante confiança em agir de acordo com ela, e não de acordo com a lógica.
Se, depois de tentar nos guiar por essas duas coisas, ainda estivermos em
dúvida, então deveríamos esperar uma maior orientação e, quando possível, adiar
por algum tempo as decisões importantes.
Então, com maior conhecimento de nossa situação, a lógica e a intuição podem
estar bem de acordo no caminho certo.
Mas se a decisão deve ser tomada na hora, não vamos fugir dela por medo. Certa
ou errada, sempre podemos tirar proveito da experiência.
PENSAMENTOS MATINAIS
Ao acordar, pensemos nas próximas vinte e quatro horas. Pedimos a Deus que
dirija nossos pensamentos, especialmente que eles estejam isentos de auto
piedade e dos motivos desonestos ou de interesseiros. Livres disso, podemos
utilizar nossas faculdades mentais com segurança, pois Deus nos deu o cérebro
para ser usado. Nossos pensamentos estarão num nível mais elevado quando
começarmos a clareá-los, eliminando os falsos motivos.
Se temos que decidir qual o caminho tomar, pedimos a Deus inspiração, um
pensamento intuitivo ou uma decisão, e a seguir relaxamos. Depois de tentar este
procedimento por algum tempo, muitas vezes nos surpreendemos ao ver como de
repente as respostas certas aparecem.
Geralmente concluímos nossa meditação com uma oração na qual pedimos que
durante todo o dia nos seja indicado qual o próximo passo a ser dado. Pedimos
especialmente para sermos libertados de vontade que possam nos causar danos.
O PASSO QUE NOS MANTÉM CRESCENDO
Algumas vezes, quando amigos nos dizem como estamos indo bem, sabemos em
nosso íntimo que não é assim. Ainda não conseguimos lidar com a vida como ela
é. Deve haver alguma falha séria em nossa prática e desenvolvimento espirituais.
Que falha é esta, então?
O mais provável mesmo é que localizemos nossa dificuldade em nossa falta de
compreensão ou negligência, em relação ao Décimo Primeiro Passo de A. A. –
prece, meditação e orientação de Deus.
Os outros Passos podem manter a maioria de nós sóbrios e, de alguma forma,
funcionando. Mas o Décimo Primeiro Passo pode nos manter crescendo, se
tentarmos arduamente e trabalharmos sempre nele.
A GRANDE REALIDADE
Reconhecemos que sabemos pouco. Deus revelará cada vez mais, tanto a você
como a nós. Pergunte-Lhe, em sua meditação matinal, o que você pode fazer a
cada dia por quem ainda está doente. As respostas virão, se sua própria casa
estiver em ordem.
Porém, evidentemente, você não pode transmitir algo que não tem. Procure fazer
com que sua relação com Ele seja boa e acontecerão grandes coisas para você e
para muitos outros. Essa é nossa grande realidade.
Ao recém-chegado:
Entregue-se a Deus, como você O concebe. Admita suas faltas a Ele e a seus
semelhantes. Desfaça-se da ruína de seu passado. Dê livremente aquilo que você
receber e junta-se a nós. Estaremos com você na irmandade do espírito, e você
certamente se encontrará com alguns de nós, quando trilhar o caminho do destino
feliz.
Que deus o abençoe e o proteja até lá.
(Fonte – "Na Opinião do Bill" – paginas: 10-33-93-108-117-127-150-189-202-243264-331)
MEDITAÇÃO
PROCURAMOS ATRAVÉS DA PRECE E MEDITAÇÃO MELHORAR NOSSO
CONTATO CONSCIENTE COM DEUS, NA FORMA EM QUE O
CONCEBÍASMOS, ROGANDO APENAS O CONHECIMENTO DE SUA
VONTADE EM RELAÇÃO À NÓS E FORÇAS PARA REALIZAR ESSA
VONTADE.
Os primeiros dez passos prepararam o terreno para melhorarmos o nosso contato
consciente com DEUS da nossa compreensão. Eles nos dão a base para
alcançarmos nossas metas positivas que, há muito buscamos. Entrando nesta
fase do nosso programa espiritual, através da prática dos dez passos anteriores,
a maioria de nós acolhe de bom grado, o exercício da prece e da meditação
(oração). Nosso estado espiritual é o alicerce de uma recuperação bem sucedida,
que oferece crescimento ilimitado.
Muitos de nós começam realmente à apreciar a recuperação quando chegam ao
Décimo Primeiro Passo. Neste Passo nossas vidas adquirem um significado mais
profundo.
Deixando de controlar ganhamos um poder muitíssimo maior através da rendição.
A natureza da nossa crença irá determinar a maneira como oramos ou
meditamos. Só precisamos da certeza de que temos um sistema de crença que
funcione para nós. Os resultados contam na recuperação. Como já foi dito
anteriormente, as nossas preces parecem funcionar, assim que entramos no
programa de recuperação e nos rendemos à nossa doença. O contato consciente
descrito neste passo é o resultado direto da vivência dos passos. Usamos este
passo para melhorar e manter nosso estado espiritual.
Quando viemos para Fazenda, ou grupo de auto ajuda, recebemos a ajuda de um
PODER SUPERIOR. Isto se deu com a nossa rendição ao programa. O objetivo
do Décimo Primeiro Passo é aumentar a nossa consciência desse PODER e
melhorar a nossa capacidade de usá-lo como fonte de força em nossas vidas.
Quanto mais aprimorarmos o nosso contato com nosso DEUS, através da prece e
da meditação, mais fácil fica dizer: Seja feita a SUA vontade e não a minha.
Podemos pedir a ajuda de DEUS quando precisamos, e nossas vidas melhoram.
Nem sempre as experiências dos outros com a meditação e crenças religiosas
individuais são adequadas para nós. O Programa dos Doze Passos é um
programa espiritual. Quando chegamos ao Décimo Primeiro Passo, já
identificamos e lidamos com os defeitos de caráter, que nos causavam problemas
no passado, através do trabalho dos dez passos anteriores. A imagem do tipo de
pessoa que gostaríamos de ser é apenas um vislumbre da palavra de DEUS para
nós. Freqüentemente a nossa perspectiva é tão limitada que só conseguimos ver
as nossas necessidades imediatas.
É fácil recairmos nas nossas velhas maneiras. Temos que aprender à manter as
nossas vidas numa sólida base espiritual, para assegurarmos a continuidade do
nosso crescimento e da nossa recuperação. DEUS não vai nos impor a SUA
bondade, mas podemos recebê-la, se a pedirmos. Geralmente, sentimos uma
diferença na hora, mas, só mais tarde, notamos a diferença em nossas vidas.
Quando, finalmente, tiramos nossos motivos egoístas do caminho, começamos à
descobrir uma paz que nunca imaginávamos ser possível. A moralidade forçada
não tem o poder que vem à nós, quando escolhemos uma vida espiritual. A
maioria de nós reza, quando está com dor. Aprendemos que, se rezarmos com
regularidade, não sentiremos dor com tanta freqüência ou com tanta intensidade.
Fora dos grupo de auto ajuda, tais como Narcóticos Anônimos e até mesmo
Alcoólicos Anônimos, existem incontáveis grupos diferentes que praticam a prece
e meditação. Quase todos esses grupos estão ligados à uma determinada religião
ou filosofia. O endosso de qualquer desses métodos seria uma violação à filosofia
e à tradições de grupos anônimos. A meditação permite que nos desenvolvamos
espiritualmente da nossa maneira. Algumas das coisas que não funcionavam para
nós no passado, poderão funcionar hoje. Temos um novo olhar à cada dia, com a
mente aberta. Sabemos que, se rogarmos a vontade de DEUS, receberemos o
que for melhor para nós, independente do que pensamos. Este conhecimento é
baseado na nossa crença e na nossa experiência como dependentes químicos
em recuperação.
Orar é comunicar nossas preocupações com um PODER SUPERIOR. Às vezes,
quando rezamos, acontece uma coisa impressionante: encontramos os meios, as
maneiras e energias para realizar tarefas que estão muito além das nossas
capacidades. Alcançamos a força ilimitada, que nos proporcionam a oração diária
e a rendição, enquanto mantivermos a fé e a renovarmos.
Para alguns, oração é pedir ajuda de DEUS; meditação é escutar a resposta de
DEUS. Aprendemos à ser cuidadosos ao rezar por coisas específicas.
Rezamos para que DEUS nos mostre a SUA vontade, e para que nos ajude à
realizá-la. Em alguns casos, a SUA vontade é tão óbvia que temos pouca
dificuldade em vê-la. Em outros, estamos tão egocêntricos que só aceitaremos a
vontade de DEUS, após muita luta e rendição. Se rogamos à DEUS que remova
quaisquer influências que nos distraiam, a qualidade das nossas preces
geralmente melhora e sentimos a diferença. A prece exige prática, e devemos nos
lembrar que as pessoas habilidosas não nascem com suas habilidades. Foi
preciso muito esforço da parte delas para desenvolvê-las. Através da prece,
buscamos o contato consciente com nosso DEUS. Na meditação, alcançamos
este contato, e o Décimo Primeiro Passo nos ajuda à mantê-lo.
Podemos Ter sido expostos à muitas religiões e disciplinas meditativas, antes de
chegarmos à Narcóticos Anônimos. Alguns de nós estavam aniquilados e
totalmente confusos por causa destas praticas. Estávamos certos de que era
vontade de DEUS que usássemos drogas e/ou álcool para alcançarmos uma
consciência mais elevada. Muitos de nós se encontravam em estados muito
estranhos como resultados destas práticas. Nunca suspeitamos que os efeitos
prejudiciais da nossa dependência fossem a raiz da nossa dificuldade, e
seguíamos até o fim qualquer caminho que oferecesse esperança.
Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se
evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior
que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da
meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à
não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum
sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática
preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem
de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a
meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós.
O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa
experiência confirma isso. Alguns de nós chegaram ao programa quebrados e se
agüentaram por um tempo, só para encontrarem DEUS ou a salvação em algum
tipo de culto religioso. É fácil flutuarmos porta à fora numa nuvem de fervor
religioso, e esquecermos que somos dependentes químicos com uma doença
incurável.
Diz-se que, para a meditação Ter algum valor, os resultados deverão ser sentidos
nas nossas vidas cotidianas. Este fato está implícito no Décimo Primeiro Passo:
SUA vontade em relação à nós e o poder de realizar esta vontade. Para aqueles
de nós que não rezam, a meditação é a única maneira de realizar este passo.
Rezamos porque nos traz paz e devolve a nossa confiança e coragem. Ajuda-nos
à viver uma vida livre do medo e da desconfiança. Quando removemos os nossos
motivos egoístas, e rogamos por orientação, descobrimos sentimentos de paz e
serenidade. Começamos a vivenciar uma consciência e uma empatia com as
outras pessoas, o que não era possível antes de trabalhar este passo.
À medida que buscamos o nosso contato pessoal com DEUS, começamos à
desabrochar como uma flor para o sol. Começamos à ver que o amor de DEUS
esteve sempre presente, apenas esperando que nós o aceitássemos. Fazemos o
trabalho de base e aceitamos o que nos tem sido dado livremente à cada dia.
Descobrimos que ficamos mais à vontade com a ideia de confiar em DEUS.
Quando chegamos pela primeira vez ao programa, costumamos pedir muitas
coisas que parecem ser vontades e necessidades importantes. À medida que
crescemos espiritualmente e encontramos um PODER SUPERIOR, começamos à
perceber que, enquanto as nossas necessidades espirituais forem satisfeitas, os
nossos problemas existenciais estão reduzidos à um nível confortável.
Quando esquecemos onde reside a nossa verdadeira força, rapidamente ficamos
sujeitos aos mesmos padrões de pensamento e ações que primeiro nos
trouxeram para o programa. Acabamos redefinindo as nossas crenças e a nossa
compreensão até enxergar que a nossa maior necessidade é o conhecimento da
vontade de DEUS em relação à nós e a força para realizá-la. Conseguimos deixar
de lado algumas das nossas preferências pessoais, pois aprendemos que a
vontade de DEUS em relação à nós consiste nas coisas que mais valorizamos. A
vontade de DEUS para nós torna-se a nossa própria verdadeira vontade. Isso
acontece de uma maneira intuitiva, que não pode ser adequadamente explicada
em palavras.
Começamos à sentir vontade de deixar que os outros sejam quem são, sem
precisarmos julgá-los. Perdemos a urgência de controlar as coisas. No princípio,
não podíamos compreender a aceitação; hoje, podemos.
Sabemos que DEUS nos deu tudo aquilo que precisamos para o nosso bem-estar
espiritual, independente do que o dia nos trouxe. É certo admitirmos a nossa
impotência, pois DEUS é suficientemente poderoso para ajudar à nos mantermos
limpos e à desfrutarmos o progresso espiritual. DEUS está nos ajudando à
arrumar a casa.
Começamos a perceber mais claramente o que é real. Através do contato
constante com o nosso PODER SUPERIOR, as respostas que buscamos vêm até
nós. Ganhamos a capacidade de fazer o que não conseguimos. Respeitamos s
crenças dos outros. Nós os encorajamos à procurar força e orientação de acordo
com a sua crença.
Somos gratos à este passo, pois começamos à ter o que é melhor para nós. Às
vezes, rezávamos de acordo com as nossas vontades, e éramos encurralados por
elas. Podíamos rezar e conseguir alguma coisa, e depois ter que rezar pela sua
remoção, porque não éramos capazes de lidar com ela.
Esperamos que, tendo aprendido o poder da oração e a responsabilidade que ela
traz consigo, possamos usar o Décimo Primeiro Passo como uma diretriz do
nosso programa diário.
Começamos a rogar apenas a vontade de DEUS em relação à nós. Desta
maneira alcançamos apenas aquilo com o que somos capazes de lidar. Somos
capazes de corresponder e de lidar com isso, pois DEUS nos ajuda à nos
prepararmos. Alguns de nós simplesmente usam a palavra para agradecer a
graça de DEUS.
Com uma atitude de rendição e humildade, retomamos este passo,
repetidamente, para recebermos a dádiva do conhecimento e da força do DEUS
da nossa compreensão. O Passo Dez limpa os erros do presente, para que
possamos trabalhar o Passo Onze. Sem aquele passo, seria improvável que
pudéssemos experimentar um despertar espiritual, praticar princípios espirituais
nas nossas vidas, ou levar uma mensagem capaz de atrair outras pessoas para a
recuperação. Existe um princípio espiritual de dar aquilo que nos foi dado dentro
do grupo de auto ajuda e dentro da Fazenda do Senhor Jesus, para podermos
mente-lo. Ao ajudarmos os outros à se manterem limpos, desfrutamos os
benefícios da riqueza espiritual que encontramos. Temos que dar livremente e
com gratidão o que nos foi dado livremente e com gratidão.
(Fonte: Companheiro Anônimo)
MEDITAÇÃO
"Livro Azul"
.
O Décimo Primeiro Passo sugere a oração e a meditação. Nesta questão da
oração não devemos ter vergonha. Pessoas bem melhores do que nós usam-na
constantemente. É uma prática que resulta, se tivermos a atitude adequada e se
trabalharmos por isso. Seria fácil ficarmos por generalidades neste aspecto,
contudo achamos que podemos fazer determinadas sugestões precisas e
valiosas.
Quando nos deitamos à noite, revemos construtivamente o nosso dia. Tivemos
ressentimentos, fomos egoístas, desonestos ou tivemos medo? Devemos uma
desculpa a alguém? Guardamos alguma coisa só para nós que devíamos ter
falado imediatamente com outra pessoa? Fomos amáveis e carinhosos com
todos? O que podíamos ter feito melhor? Estivemos a pensar em nós mesmos
todo o tempo? Ou estivemos a pensar no que poderíamos fazer pelos outros, no
que poderíamos contribuir para o curso da vida? Temos de ter cuidado em não
nos deixar arrastar pela preocupação, pelo remorso ou reflexão mórbida, porque
isso reduziria a nossa utilidade para com os outros. Depois de termos revisto o
nosso dia, pedimos perdão a Deus e que nos indique as medidas a tomar para
nos corrigirmos.
Ao despertar, pensamos nas vinte e quatro horas que temos à nossa frente.
Pensamos nos nossos planos para o dia. Antes de começarmos, pedimos a Deus
que oriente os nossos pensamentos e especialmente que sejam livres de motivos
de auto piedade, desonestidade e interesse pessoal. Sendo assim, podemos
empregar as nossas faculdades mentais com confiança, porque apesar de tudo,
Deus deu-nos inteligência para a utilizarmos. O mundo dos nossos pensamentos
ficará situado a um nível muito mais elevado, quando a nossa maneira de pensar
estiver isenta de falsos motivos.
Ao pensarmos no nosso dia, podemos confrontar-nos com a indecisão. Podemos
não ser capazes de encontrar qual o caminho a seguir. Neste caso pedimos a
Deus inspiração, um pensamento intuitivo ou uma decisão. Procuramos estar
tranqüilos e levar as coisas com calma. Não lutamos. Sentimo-nos
frequentemente surpreendidos ao ver como nos surgem as respostas certas
depois de um certo tempo desta prática. O que costumava ser um palpite ou uma
inspiração de momento torna-se gradualmente no processo habitual da nossa
maneira de pensar. Inexperientes ainda, e tendo apenas começado o nosso
contato consciente com Deus, não é provável que nos sintamos sempre
inspirados. Pode sair-nos muito cara esta presunção e dar origem a todo o gênero
de ideias e atitudes absurdas. No entanto percebemos que, com o tempo, a nossa
maneira de pensar se situará cada vez mais ao nível da inspiração. Acabamos por
confiar nisso.
Concluímos geralmente o período de meditação com uma oração, para que nos
seja indicado ao longo de todo o dia qual há de ser o passo seguinte, para que
nos seja concedida a ajuda necessária para lidarmos com as dificuldades que se
nos deparam. Pedimos especialmente que nos liberte da obstinação e temos
cuidado em não pedir nada só para nós próprios. Pedimos, no entanto, para nós
mesmos se isso ajudar os outros. Temos cuidado de nunca rezar com fins
egoístas. Muitos de nós já perdemos demasiado tempo com isso e não resulta.
Pode perceber-se facilmente porquê.
Se as circunstâncias o permitirem, pedimos às nossas mulheres ou amigos que
nos acompanhem na meditação da manhã. Se a religião que temos requer um
culto especial de manhã, cumprimos este dever. Se não pertencemos a nenhuma
forma de religião organizada, por vezes escolhemos e aprendemos de cor umas
orações que expressem particularmente os nossos princípios. Existem muitos
livros que nos podem ser úteis. Padres, pastores ou rabinos podem dar-nos
sugestões neste sentido. Faça por ver onde é que as pessoas religiosas têm
razão. Faça uso do que elas têm para oferecer.
Ao longo do dia, quando nos sentimos agitados ou em dúvida, fazemos uma
pausa e pedimos que nos seja concedida a ideia certa ou a maneira adequada de
atuar. Lembramo-nos constantemente de que já não somos nós que dirigimos o
espetáculo, dizendo humildemente para nós próprios várias vezes ao dia: "Façase a Tua vontade". Estamos assim muito menos expostos ao perigo da excitação,
medo, raiva, preocupação, auto piedade ou decisões tontas. Tornamo-nos muito
mais eficientes. Não nos cansamos com tanta facilidade porque não
desperdiçamos energias disparatada mente como fazíamos quando tentávamos
moldar a vida à nossa maneira.
Resulta, realmente resulta!
Nós, os alcoólicos, somos indisciplinados. Por isso deixamos que Deus nos
discipline da maneira simples que descrevemos. Mas isto não é tudo. É preciso
ação e mais ação. "A fé sem obras é morta".
(Fonte: Livro Alcoólicos Anônimos – Capítulo 6 – Entrando em Ação)
MEDITAÇÃO
DÉCIMO PRIMEIRO PASSO
"Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato crescente
com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de
Sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade."
A oração e a meditação são nossos meios principais de contato consciente com
Deus.
Nós AAs somos pessoas ativas, desfrutando a satisfação de lidar com as
realidades da vida, geralmente pela primeira vez em nossas vidas, tentando
denodadamente ajudar o primeiro alcoólico que aparecer. Portanto, não é de se
estranhar que, com freqüência, façamos pouco caso da meditação e da oração
séria como não sendo coisas de real necessidade. Sem dúvida, chegamos a
considerá-las como algo que possa nos ajudar a enfrentar uma emergência, mas,
a princípio, muitos dentre nós são capazes de entendê-las como expressão de um
Dom misterioso dos religiosos, do qual poderemos esperar qualquer benefício de
Segunda mão. É possível que não acreditemos em nada destas coisas.
Para certos ingressantes e para aqueles antigos agnósticos que ainda se apegam
ao grupo de A .A. como sua "força superior", as afirmações sobre o poder da
oração, apesar de toda a lógica e a experiência que a comprovam, podem não
convencer e até desagradar bastante. Aqueles entre nós que uma vez já se
sentiram assim, certamente podem Ter por eles simpatia e compreensão.
Recordamo-nos muito bem da revolta que se levantava em nosso íntimo contra a
ideia de genuflexão perante qualquer Deus. Outros, usando lógica convincente,
"provavam" a não existência de Deus. E os acidentes, a doença, a crueldade e a
injustiça do mundo? E todas essas criaturas infelizes, resultados diretos da
pobreza e de um conjunto de circunstâncias incontroláveis? À vista desses fatos,
não poderia haver justiça e, consequentemente, qualquer Deus.
Às vezes, argumentávamos de outra maneira. Está certo, nos dizíamos, a galinha
provavelmente veio antes do ovo. Sem dúvida o universo teve algum tipo de
"origem primeira"; o Deus do átomo, quem sabe, se transformando
sucessivamente em frio e calor. Mas certamente não havia indicação alguma da
existência de um Deus que conhecia e se interessava pelos homens. Gostávamos
de A. A. e não hesitávamos em dizer que operava milagres. Todavia, ante a
meditação e a oração, sentíamos o mesmo retraimento do cientista que se
recusava a realizar certa experiência por temor de Ter que derrubar sua teoria
predileta. É claro que no fim resolvemos experimentar e, quando surgiram
resultados inesperados, nós vimos as coisas diferentes; de fato, sentimos de
forma diferente e acabamos capitulando totalmente diante da meditação e da
oração. E isso, descobrimos, pode acontecer com qualquer pessoa que
experimente. Acertou quem disse que "os chateadores da oração são, quase
sempre, aqueles que não a experimentaram devidamente."
Aqueles de nós que estão se utilizando regularmente da oração seriam tão
incapazes de dispensá-la como ao ar, , ao alimento ou à luz do sol, tudo pela
mesma razão. Quando recusamos ar, luz ou alimento, o corpo sofre. Se viramos
as costas à meditação e à oração, também estamos negando às nossas mentes,
emoções e intuições, um apoio imprescindível. Da mesma forma que o corpo, a
alma pode deixar de funcionar por falta de alimentação. Todos necessitamos da
luz da presença de Deus, do alimento de Sua força e da atmosfera de Sua graça.
Os fatos da vida de A. .A. confirmam a uma extensão maravilhosa esta verdade
eterna.
A prática do auto exame, da meditação e da oração estão diretamente
interligadas. Usadas separadamente, elas podem trazer muito alívio e benefício,
mas quando são relacionadas e interligadas logicamente, resultam em uma base
inabalável para toda a vida. De vez em quando podemos gozar de um vislumbre
dessa realidade suprema que é o reino de Deus. E estaremos reconfortados e
assegurados de que nosso próprio destino nesse reino estará garantido enquanto
tentarmos, mesmo que vacilantes, encontrar e realizar a vontade de nosso próprio
Criador.
Como nos foi dado perceber, é pelo exame de nossos próprios pensamentos e
sentimentos que conseguimos que uma nova visão, ação e a graça venham a
influir no lado escuro e negativo de nosso ser. É um passo para o
desenvolvimento daquele tipo de humildade que nos permite receber a ajuda de
Deus. No entanto, é apenas um passo e devemos querer ir mais longe.
Vamos querer que o bem que está em todos nós, mesmo dos piores, cresça e
floresça. Na certa, precisaremos do ar revigorante e de abundante alimentação.
Mas, antes de mais nada, desejaremos a luz solar: pouco pode crescer na
escuridão. A meditação é um passo em direção ao Sol. De que forma, então,
meditaremos?
A experiência existente a respeito da oração e da meditação através dos séculos,
é por certo imensa. As bibliotecas e as igrejas do mundo são um tesouro à
disposição de todos que o procuram. É de se esperar que todo A. A. filiado a uma
religião que dê ênfase à meditação, retorne a essa prática com maior devoção do
que nunca. Porém, que dizer aos menos afortunados entre nós, que nem sabem
por onde começar?
Bem, poderíamos começar desta maneira. Primeiro procuremos uma oração que
seja boa de fato. Não será necessário procurar muito. Grandes homens e
mulheres de todas as religiões nos deixaram uma coleção maravilhosa. Iniciemos
com uma que é clássica.
Seu autor foi um homem que é considerado um santo, há algumas centenas de
anos. Não nos impressionaremos ou nos assustaremos com esse fato, pois,
embora ele não tivesse sido alcoólico, passou, como nós, pelo crivo de todas as
emoções. E quando ele surgiu do outro lado dessa dolorosa experiência
chegando à outra margem da vida, na oração abaixo expressou o que viu, sentiu
e desejou ser:
"Ó Senhor!
Fazei de mim um instrumento da Tua Paz;
Onde há ódio, fazei que eu leve o Amor;
Onde há ofensa, que eu leve o Perdão;
Onde há discórdia, que eu leve a União;
Onde há dúvidas, que eu leve a Fé!
Onde há erros, que eu leve a Verdade;
Onde há desespero, que eu leve a Esperança;
Onde há tristeza, que eu leve a Alegria;
Onde há trevas, que eu leve a Luz!
Ó Mestre! Fazei que eu procure menos
Ser consolado, do que consolar;
Ser compreendido, do que compreender;
Ser amado, do que amar...
Porquanto:
É dando que se recebe, é perdoando, que se é perdoado;
E é morrendo que se vive para a Vida Eterna.
Amém."
Como principiantes, poderíamos aprender a meditar, relendo esta oração várias
vezes e bem devagar, para saborear cada palavra e procurar absorver o sentido
profundo de todas as frases e ideias. Seria de grande ajuda se pudéssemos
abandonar toda a resistência às palavras desse nosso amigo. Pois na meditação
não há lugar para o debate. Descansemos sossegada mente com os
pensamentos de quem entende do assunto, para que possamos experimentar e
aprender. Como se estivéssemos deitados numa praia ensolarada, relaxemos e
respiremos profundamente a atmosfera espiritual com a qual a graça desta
oração teve o Dom de nos envolver. Que nos tornemos dispostos a tomar parte,
fortalecer-nos e elevar-nos pelo poder, beleza e amor espirituais absolutos,
transmitidos por essas magníficas palavras. Então, olhemos para o mar e
meditemos sobre os mistérios que ele esconde e deixemos que o nosso olhar se
perca no horizonte distante, além do qual iremos procurar todas as maravilhas
ainda desconhecidas para nós.
"Ora!" – diz alguém – "Isto é bobagem, não é prático."
Quando tais pensamentos surgem, é bom lembrar, mesmo com certa dose de
tristeza, quanto valor dávamos, em outro tempo, à imaginação que tentava criar a
realidade de dentro das garrafas. Não é verdade que nos deleitávamos com esse
modo de pensar? E, hoje, embora sóbrios, não continuamos tentando, às vezes,
fazer coisa semelhante? Talvez nosso problema não residisse no fato de usarmos
a imaginação. Quem sabe, o verdadeiro problema fosse nossa quase total
incapacidade para dirigir a imaginação no rumo dos objetivos certos. Nada há de
mal na imaginação construtiva; todo o empreendimento bem fundado depende
dela. Afinal de contas, ninguém pode construir uma casa sem antes arquitetar um
plano. Bem, a meditação também é assim; ela nos ajuda a Ter uma noção de
nosso objetivo espiritual antes que tentemos nos encaminhar em sua direção. Isto
posto, voltemos àquela praia ensolarada, ou talvez, à planície ou às montanhas.
Quando, por métodos simples como esse, tivermos entrado num estado de
espírito que nos permita a concentração na imaginação construtiva, sem
interrupção, poderemos proceder assim: relemos a nossa oração, tentamos
novamente compreendê-la na profundidade de sua essência e pensamos no
homem que foi o primeiro a proferi-la. Primeiro, ele quis tornar-se um "instrumento
de paz". Então ele pediu a graça de levar amor, perdão, harmonia, verdade, fé,
esperança, luz e alegria a todos quantos pudesse. Depois veio a expressão de
uma aspiração e de uma esperança para ele próprio. Ele esperava que se Deus
quisesse, lhe fosse permitido ser capaz de encontrar alguns desses tesouros
também. Isso ele tentaria realizar através do que chamou dar de si mesmo. O que
ele quis dizer com "é dando que se recebe" e como se propôs a consegui-lo?
Ele achava melhor consolar e não ser consolado; compreender e não ser
compreendido; perdoar e não ser perdoado.
Tudo isso poderia ser parte do que designamos por meditação, talvez nossa
primeira tentativa em alcançar um estado espiritual ou, então, fazer uma viagem
ao reino do espírito. Deveríamos, assim, comparar o ponto em que agora estamos
com aquele em que poderíamos estar se pudéssemos nos aproximar do ideal que
apenas vislumbramos. A meditação é algo que pode sempre ser desenvolvido. Ela
não tem limites, tanto na extensão como na altura. Embora possamos ser
auxiliados por qualquer instrução ou exemplo que encontrarmos, ela é
essencialmente uma aventura individual que cada um de nós realiza à sua
maneira. Porém, seu objetivo é sempre o mesmo: melhorar nosso contato
consciente com Deus, com Sua graça, sabedoria e amor. Lembremo-nos sempre,
que a meditação é na realidade sumamente prática. Um de seus primeiros frutos
é o equilíbrio emocional. Com ela podemos alargar e aprofundar o canal de
ligação entre nós e Deus, na forma em que o entendemos.
E a oração? A oração é a elevação do coração e da mente para Deus e, neste
sentido, abrange a meditação. Mas, como se deve orar? E como se relaciona a
oração com a meditação? O estilo comum de oração é uma petição a Deus.
Havendo aberto o nosso canal de comunicação da melhor forma possível,
procuramos pedir determinadas coisas de que nós, ou outros, temos premente
necessidade. Acreditamos que em certa parte do Décimo Primeiro Passo está
bem definida a extensão completa de nossas necessidades quando diz: "... o
conhecimento de Sua vontade em relação a nós e forças para realizá-la..." Um
pedido como este pode ser feito a qualquer hora do dia.
Cedo, de manhã, pensamos nas horas que virão. Talvez venhamos pensar no
trabalho daquele dia, nas oportunidades de sermos úteis e prestativos ou em
algum problema especial que possa aparecer. Possivelmente, hoje ainda
perdurará uma séria questão não resolvida desde ontem. Teremos a tentação
imediata de pedir soluções específicas para casos específicos e ajuda para outras
pessoas, da forma que nós julgamos devam ser ajudadas. Nesse caso, estamos
pedindo a Deus que faça à nossa maneira. Portanto, devemos ter o cuidado de
aquilatar o mérito real de cada pedido antes de fazê-lo. Mesmo assim, sempre
que tivéssemos de fazer determinados pedidos, faríamos bem em acrescentar
esta ressalva: "Se for de Sua vontade." Simplesmente pedimos que durante todo
o dia, Deus nos dê a melhor compreensão de Sua vontade e, através da graça,
nos seja concedida força suficiente para cumpri-la.
No decorrer do dia, quando tivermos de enfrentar situações delicadas e tomar
decisões, podemos parar um momento e renovar o mais simples de todos os
pedidos: "Seja feita a Sua vontade, não a minha." Nos momentos de fortes
perturbações emocionais, manteremos nosso equilíbrio se nos lembrarmos de
uma oração qualquer ou frase que, particularmente, nos tenha agradado durante
a leitura ou meditação. Dizendo esta frase ou oração por algumas vezes,
podemos, em geral restabelecer uma ligação interrompida pelo rancor, pelo medo,
pela frustração ou pelo desentendimento, e poderemos voltar à mais segura de
todas as ajudas: a procura da vontade de Deus, não a nossa, no momento de
tensão. Assim, nestes momentos críticos, se nos lembrarmos de que "é melhor
consolar do que ser consolado, compreender do que ser compreendido, amar do
que ser amado", estaremos seguindo a intenção do Décimo Primeiro Passo.
É razoável e compreensível que se faça repetidamente a pergunta: "Por que não
podemos submeter diretamente a Deus um dilema específico e perturbador e,
através da oração, receber dEle respostas certas e definidas a nossos pedidos?"
Isso pode ser feito, mas apresenta graves riscos. Temos visto AAs pedirem, com
muita sinceridade e fé, orientação explícita de Deus sobre assuntos que variam
desde desastrosas crises domésticas ou financeiras, até a correção de pequenas
falhas, como a impontualidade. Porém, é freqüente o fato de que os pensamentos
que afloram à mente e parecem vir de Deus não são respostas adequadas.
Provam ser, isto sim, bem intencionadas racionalizações inconscientes. É um
indivíduo muito desconcertante o AA, ou qualquer homem, que tenta implantar
rigorosamente em sua vida este modo de rezar, com esta necessidade egoística
de respostas divinas. A qualquer pergunta ou crítica a suas ações, ele vem logo
com sua inabalável confiança na oração como guia para todos seus feitos,
grandes ou pequenos. Pode Ter esquecido a possibilidade de que seus desejos e
a tendência humana de auto justificar, tenham distorcido sua decantada
orientação. Com a melhor das intenções, ele tende a impor sua própria vontade
em qualquer situação ou problema, confortavelmente seguro de que está agindo
diretamente dirigido por Deus. Iludido desta maneira, é claro que pode sem querer
causar grandes estragos.
Há uma outra tentação semelhante, na qual caímos quando formulamos ideias
sobre o que achamos ser a vontade de Deus para com outras pessoas. Dizemos
a nós mesmos: "Este deve ser curado desta doença fatal..." ou "Aquele deve ser
tirado desta crise emocional..." e rezamos por estas coisas bem caracterizadas.
Tais orações, é natural, representam, no fundo, atos de bondade, mas geralmente
se baseiam na suposição de que conhecemos a vontade de Deus a respeito da
pessoa que tentamos ajudar. Isto significa que, a par de uma oração sincera,
pode existir dentro de nós uma boa dose de presunção e vaidade. Evidencia-se a
experiência de A. A. especialmente nesses casos, quando sugere que deveríamos
orar para que se faça a vontade de Deus, seja qual for, tanto para nós como para
os outros.
Em A. A. descobrimos que bons e reais resultados da oração são indiscutíveis.
Eles são casos de conhecimento e experiência. Todos os que persistiram,
encontraram uma reserva de forças além de suas próprias. Ostentaram sabedoria
muito superior à sua capacidade normal e desenvolveram cada vez mais a paz de
espírito inquebrantável, mesmo nas mais difíceis circunstâncias. Descobrimos que
de fato recebemos orientação para nossas vidas em proporção à medida em que
paramos de exigir de Deus que nos dê o que queremos e como queremos. Raro é
o A. A. experiente que não possa contar como seus assuntos melhoraram incrível
e inesperadamente, na medida em que procurou estreitar seu contato consciente
com Deus. Quase sempre ele poderá contar que nas épocas de sofrimento e dor,
quando a mão de Deus parecia ser pesada e até injusta, foram aprendidas novas
lições sobre a vida, descobertas novas fontes de coragem e que, finalmente e de
forma iniludível, chegou a convicção de que Deus, efetivamente, "age de maneira
misteriosa na realização de Suas maravilhas".
Esses acontecimentos devem constituir notícia animadora para aqueles que
recuam da oração por falta de fé, ou por se sentirem não contemplados pela
ajuda ou orientação de Deus. Todos nós, sem exceção, já passamos por períodos
em que só rezamos depois de impelidos pela maior força de vontade possível. Às
vezes, chegamos a ir mais longe ainda, quando somos acometidos por uma
rebelião tão mórbida que simplesmente não rezamos. Quando estas coisas
acontecem, não devemos ser demasiadamente rigorosos conosco. Devemos
apenas voltar à prática da oração tão logo pudermos, fazendo o que sabemos ser
bom para nós.
Talvez, uma das maiores recompensas que conseguimos obter com a meditação
e a oração seja a íntima convicção de que passamos a fazer parte. Não mais
vivemos num mundo inteiramente hostil. Já não nos sentimos abandonados,
amedrontados e sem objetivo na vida. A partir do momento em que percebemos,
mesmo que seja um pequeno vislumbre da vontade de Deus, e começamos a ver
a verdade, a justiça e o amor como os valores reais e eternos na vida, não mais
ficaremos profundamente abalados com a aparente evidência do contrário que
nos rodeia em assuntos apenas humanos. Sabemos que o amor de Deus vela
sobre nós. Sabemos que quando nos voltarmos para Ele, tudo estará bem
conosco, aqui e no que vier após.
(Fonte: Livro – Os Doze Passos e as Dozes Tradições)
MEDITAÇÃO
"A Linguagem do Coração"
o 11o Passo do livro "A Linguagem do Coração" na pag.282,onde em artigo
escrito para revista The Grapevine,em Junho de 1958,BILL W.,humildemente
admite após reler o capítulo que tratava sobre o Décimo Primeiro Passo,no livro
Doze Passos e Doze Tradições, o qual havia sido escrito por ele, há quase cinco
anos ,e neste exato
momento fica "assombrado" ao perceber o pouco tempo que dedicou em relação
a seguir seu próprio conselho elementar referente à meditação, a oração e a
orientação – coisas que ele próprio, com tanto entusiasmo havia recomendado a
todo mundo fazer
"Dar o Décimo Primeiro Passo" (A Grapevine – Por Bill W. – junho de 1958)
Com relação à prática do Décimo Primeiro Passo de A. A. – "Procuramos através
da prece e meditação melhorar nosso contato consciente com Deus, como nós O
Concebemos, pedindo-lhe somente que nos deixe conhecer sua vontade para
conosco e nos dê forças para cumpri-la" – não tenho dúvida que sou um mero
principiante; considero- me quase um caso de desenvolvimento retardado.
Vejo ao meu redor muitas pessoas que se relacionam com Deus muito melhor
que eu. Não se pode dizer que eu não tenha feito nenhum progresso no decorrer
dos anos; simplesmente confesso que não fiz o progresso que poderia ter feito,
dadas às oportunidades que tive e ainda tenho.
Estou a ponto de celebrar meu vigésimo quarto aniversário de A. A.; durante todo
esse tempo não tomei nem um gole. De fato apenas me senti tentado a fazê-lo.
Isso me serve de evidência de que dei o Primeiro Passo e de que, nunca o
esqueci: "Admitimos que éramos impotente perante o álcool – que tínhamos
perdido o domínio sobre
nossas vidas". O Primeiro Passo me pareceu fácil.
Então nesses primeiros tempos, tive a sorte de experimentar um tremendo
despertar espiritual e, de repente, tive "consciência da presença de Deus", e "me
foi devolvida a sanidade" – pelos menos no que se refere ao álcool. Portanto não
tive dificuldades com o Segundo Passo, porque, em meu caso, seu conteúdo era
um puro presente. O
Quarto e o Quinto Passo, que tem a ver com o nosso inventário e a confissão dos
nossos defeitos, também não me pareceram muito difíceis. Naturalmente, meu
inventário foi freqüentemente imperfeito.
Às vezes não compartilhei meus defeitos com as pessoas apropriadas; em
algumas ocasiões, confessei seus defeitos, no lugar dos meus; e em outras,
minha confissão de defeitos pareceu-me mais com queixa clamorosa de minhas
circunstâncias e problemas.
Não obstante, creio que, no geral, ao buscar e admitir meus defeitos pessoais,
pude fazer um trabalho minucioso e completo. Que eu saiba, não há neste
momento nenhum defeito ou problema atual meu que não tenha discutido com
meus conselheiros íntimos. Mas havê-los exposto amplamente não é motivo para
cumprimentar a mim mesmo. Faz
muito tempo tive a sorte de ver que tinha que continuar fazendo minha auto
análise; se não, teria enlouquecido completamente. Ainda que motivado pela pura
necessidade, o me descobrir continuamente – frente a mim mesmo e frente outras
pessoas – era uma coisa difícil de engolir. Porém, anos de repetição tornaram
essa tarefa muito fácil. O
Nono Passo, fazer reparação pelos danos causados, chegou a se incluir
na mesma categoria.
No Décimo Segundo Passo – levar a mensagem de A. A. aos outros – só
encontrei grandes alegrias. Nós os bêbados somos gente de ação e eu não sou
uma exceção. Quando a ação nos dá recompensas, como o faz em A. A., não é
de se estranhar que o Décimo Segundo Passo seja o mais popular e, para
maioria de nós o mais fácil de todos.
Este breve resumo de meu próprio progresso nesta caminhada dá para ilustrar
um elemento de altíssima importância que ainda me falta, e que talvez a muitos
outros membros. Por falta de atenção disciplinada e, às vezes, por falta do tipo
apropriado de fé, muitos de nós ficamos ano após ano no cômodo jardim de
infância espiritual que acabo de descrever. Mas inevitavelmente acabamos nos
sentindo insatisfeitos, temos que reconhecer que chegamos a uma espécie de
atoleiro incômodo e talvez muito angustiante.
Fazer o trabalho do Décimo Segundo Passo, falar nas reuniões, contar nossas
histórias de bebedores, confessar nossos defeitos e observar o progresso que
tenhamos feito a respeito, já não oferece uma vida plena e liberada.
Freqüentemente uma calamidade inesperada ou um grande transtorno emocional
nos revela nossa falta de desenvolvimento. Talvez ganhássemos na loteria, nos
surpreenderíamos que não resolve quase nada; que, apesar de tudo, ainda
continuamos aborrecidos e angustiados.
Como normalmente não nos embebedamos nessas ocasiões, nossos amigos
otimistas nos dizem que nos encontramos muito bem.
Mas no nosso íntimo, sabemos que não é assim. Sabemos que não nos
encontramos suficientemente bem. Ainda não podemos enfrentar a vida, tal como
ela é. Deve haver um grave defeito em nossa prática e em nosso
desenvolvimento espiritual.
Então, no que consiste?
É bem possível que a causa de nosso problema se encontre em nossa falta de
compreensão e em nossa falta de praticar o Décimo Primeiro Passo de A. A. – a
oração, a meditação e a orientação em
Deus. Os demais Passos tornam possíveis para a maioria manter-nos sóbrios e
funcionar. Mas o Décimo Primeiro Passo nos permite continuar desenvolvendonos se nos dedicarmos diligentes e constantemente a praticá-lo. Se nos dedicar
ao Décimo Primeiro Passo tão somente cinco por cento do tempo que
costumamos dedicar (e com
razão) ao Décimo Segundo Passo, os resultados podem ter conseqüências
transcendentais. Esta é a experiência de todos aqueles que se dedicam
constantemente à prática do Décimo Primeiro Passo.
Neste artigo gostaria de falar mais detalhadamente sobre o Décimo Primeiro
Passo – para benefício do totalmente incrédulo, o desventurado que acredita não
ter em absoluto nenhum mérito.
Creio que em muitos casos a pessoa encontra seu primeiro obstáculo na frase
"Deus na forma em que concebemos". É provável que o incrédulo diga: "Em
primeiro lugar, ninguém pode formar um conceito adequado de Deus. Estou meio
convencido de que exista uma Causa Primária, um algo, e talvez alguém. Mas
não posso ir, além disso.
Creio que a pessoa que diz sim, engana-se a si mesma. Inclusive se existisse
alguém, por que teria que ocupar-se de mim, se, para manter em andamento o
universo, já tem bastante o que fazer? E quanto àqueles que pretendem que
Deus lhes diga onde encontrar petróleo ou quando escovar os dentes – ora,
simplesmente me cansam".
Claramente. Nosso amigo é alguém que acredita em algum tipo de Deus – "Deus
como ele O concebe". Mas não lhe parece possível formar um conceito mais claro
ou uma melhor impressão de Deus.
FÉ
BILL ESCREVE SOBRE A FÉ
DEUS NA FORMA EM QUE O CONCEBEMOS
"O Melhor de Bill"
A frase "Deus na forma em que O concebemos" é talvez a expressão mais
importante que pode ser encontrada em todo o vocabulário de A. A. No âmbito
dessas sete palavras significativas, podem ser incluídos todos os tipos e todas as
intensidades da Fé, juntamente com a garantia positiva de que cada um de nós
pode escolher sua própria Fé. Dificilmente menos valiosas para nós são aquelas
expressões complementares – "um Poder Superior" e "um Poder Superior a nós
mesmos". Para todos aqueles que negam ou duvidam seriamente da existência
de uma divindade, essas expressões levam a uma porta aberta para além da qual
o incrédulo pode dar seu primeiro passo rumo a uma realidade até agora
desconhecida para ele – o domínio da Fé.
Esses avanços constituem acontecimentos diários em A. A. Os eventos são ainda
mais notáveis quando refletimos sobre o fato de que uma Fé funcional parecia
anteriormente ser uma impossibilidade de primeira ordem, para talvez a metade
da atual Irmandade de mais de 350.000 membros. Tornou-se uma grande
revelação para todos esses incrédulos que, assim que conseguiram depositar sua
principal confiança em um poder superior – mesmo que esse poder fosse seu
próprio Grupo de A. A. – eles haviam vencido aquele obstáculo que sempre
mantivera a ampla estrada afastada da sua visão. Desse momento em diante –
admitindo-se que eles tenham se empenhado com afinco em praticar o restante
do programa de A. A., com a mente aberta e descontraída – havia surgido, às
vezes inesperada e com frequência misteriosa, uma Fé ainda mais profunda e
ampla.
Lamentamos muito que esses fatos da vida em A. A. não sejam compreendidos
pela legião de alcoólicos do mundo que nos rodeia. Um número razoável desses
alcoólicos continua atormentado pela triste convicção de que, se algum dia
aproximar-se de A. A., será pressionado no sentido de obedecer a alguma
determinada espécie de fé ou teologia. Essas pessoas simplesmente não
perceberam que a Fé nunca foi uma exigência para filiação em A. A., que a
sobriedade pode ser conseguida com um mínimo de Fé facilmente aceitável e que
nosso conceito de um poder superior e de Deus, na forma em que O
concebemos, permite a todos uma escolha quase ilimitada no que diz respeito à
crença e à ação espirituais.
A maneira de transmitir essa boa nova é um dos nossos problemas de
comunicação mais desafiadores, para o qual pode ser que não exista nenhuma
resposta rápida ou abrangente. Nossos serviços de informação ao público talvez
pudessem começar a enfatizar mais intensamente esse aspecto da máxima
importância de A. A. E poderíamos muito bem desenvolver , entre nossos próprios
membros, uma conscientização mais compassiva em relação à penosa situação
desses sofredores realmente isolados e desesperados. Ao socorrê-los, não
podemos os contentar com nada menos do que a melhor atitude possível e as
ações mais engenhosas que possamos empreender.
Podemos também reexaminar o problema da "falta de fé", tal como ele existe bem
à nossa porta. Embora mais de 350.000 membros tenham se recuperado durante
os últimos trinta anos, mais de meio milhão, talvez, tenha chegado até nós e
depois se afastado. Alguns desses membros estavam, sem dúvida nenhuma,
doentes demais até mesmo para começar. Outros não conseguiram ou não
quiseram admitir seu alcoolismo. Outros ainda não puderam encarar seus defeitos
de caráter subjacentes. E muitos deles se afastaram por outras razões.
Mesmo assim, não podemos nos contentar com a ideia de que todos esses
fracassos de recuperação tenham ocorrido inteiramente por falta dos próprios
recém-chegados. Muitos deles talvez não tenham recebido o tipo e a intensidade
de apadrinhamento dos quais tanto necessitavam. Não nos comunicamos com
eles quando podíamos tê-lo feito. Assim, nós, os Aas, falhamos com eles. Pode
ser que, mais frequentemente do que pensamos, ainda não façamos nenhum
contato em profundidade com aqueles que sofrem do dilema da falta de Fé.
Nenhum de nós é certamente mais sensível ao orgulhos e à agressividade
espirituais do que eles. Tenho certeza de que isso é algo que esquecemos
frequentemente. Nos primeiros anos de A. A., eu quase arruinei todo o
empreendimento com esse tipo de arrogância inconsciente. Deus como eu O
concebia tinha que ser para todos. Minha agressividade era às vezes patente.
Mas ela era de qualquer forma prejudicial – talvez fatalmente – para os inúmeros
incrédulos. É claro que esse tipo de coisa não fica restrito ao trabalho do Décimo
Segundo Passo. É algo muito propenso a contaminar nosso relacionamento com
todo mundo. Mesmo hoje em dia, eu me flagro entoando o mesmo velho refrão
gerador de barreiras, "Faça como eu faço, acredite como eu acredito – ou você
vai se dar mal!"
Segue-se um exemplo recente do custo elevado do orgulho espiritual. Um
candidato muito cabeça-dura foi levado à sua primeira reunião de A. A. O primeiro
depoente pontificou sobre sua forma de beber. O candidato parecia
impressionado. Os dois depoente seguintes (talvez palestristas) concentraram-se
sobre "Deus na forma em que eu O concebo". Isso também poderia ter sido bom,
mas certamente não foi. O problema foi a atitude dos depoentes, a forma pela
qual apresentaram suas experiências. Eles transpiravam arrogância. O último
depoente foi na realidade longe demais sobre algumas das suas convicções
teológicas pessoais. Os dois estavam repetindo com perfeita fidelidade o meu
desempenho de anos atrás. Muito velada mas no entanto implícita em tudo que
eles disseram, haviam a mesma ideia – "Pessoal, preste atenção ao que eu digo.
Nós possuímos a única mensagem verdadeira de A. A. – e é melhor que vocês a
aceitam!"
O novo candidato disse que bastava para ele – e bastava mesmo. Seu padrinho
em perspectiva protestou contra aquilo não era realmente A. A. mas já era tarde
demais; ninguém poderia mais convencer o candidato após tal episódio. Ele tinha
além disso um álibi de primeira classe para outra bebedeira. A última vez que
ouvimos falar dele, parecia ser provável um encontro prematuro com o agente
funerário.
Felizmente, essa agressão vinda dos companheiros, em nome da espiritualidade,
não é observada com frequência hoje em dia. No entanto, esse triste e raro
episódio pode ser convertido em aprendizado. Podemos nos perguntar-se, de
maneira menos óbvias mas não obstante destrutivas, não estaremos mais
sujeitos a ataques de orgulho espiritual do que havíamos imaginado. Se isso for
constantemente trabalhado, tenho certeza de que nenhum tipo de auto
questionamento poderia ser mais benéfico. Nada poderia incrementar com mais
segurança nossas comunicações interpessoais e com Deus.
Um assim-chamado incrédulo fez-me ver isso muito claramente, há alguns anos
atrás. Tratava-se de um médico e de um bom médico. Conheci-o e à sua mulher
Mary, na casa de um amigo em uma cidade do meio oeste. A ocasião era
puramente social. A nossa Irmandade de alcoólicos era o meu único assunto e eu
monopolizei em grande parte a conversa. Não obstante, o médico e sua mulher
pareciam verdadeiramente interessados, fazendo-me ele muitas perguntas. Mas
uma delas me fez suspeitar de que ele fosse um agnóstico ou talvez um ateu.
Isso me pôs em ação imediatamente e me decidi a convertê-lo, ali naquele
momento. Extremamente sério, eu na realidade me vangloriei da minha
espetacular experiência espiritual no ano anterior. O médico perguntou-me
gentilmente se essa experiência não poderia ter sido alguma coisa diferente
daquilo que eu pensava. Isso me atingiu profundamente e eu fui abertamente
indelicado. Não houvera nenhuma provocação real; o médico mantivera-se cortês,
bem-humorado e até mesmo respeitoso durante todo o tempo. Sem nenhuma
ansiedade, disse que frequentemente desejara ter ele também uma fé sólida. Mas
era muito claro que eu não o havia convencido de nada.
Três anos depois visitei novamente o meu amigo do meio oeste. Mary, a esposa
do médico, apareceu também para uma rápida visita e eu soube que o médico
havia morrido na semana anterior. Muita abalada, ela começou a falar do marido.
Ele era de uma distinta família de Boston e havia estudado em Harvard.
Estudante brilhante, poderia ter obtido fama na sua profissão. Poderia ter
desfrutado de uma clínica rica e de uma vida social entre seus velhos amigo. Ao
invés disso, ele insistira em ser um médico de empresa em uma cidade industrial
dilacerada por conflitos. Quando Mary lhe perguntava ocasionalmente por que
não voltavam para Boston, ele segurava a mão dela e dizia: "Talvez você esteja
certa, mas não consigo me convencer a sair daqui. Acho que as pessoas da
empresa realmente precisam de mim".
Mary recordou então que nunca ouvira seu marido reclamar seriamente acerca de
nada ou criticar com amargura quem quer que fosse. Embora parecesse
perfeitamente saudável, ele havia esmorecido nos últimos cinco anos. Quando
Mary o estimulava a sair à noite ou tentava fazer com que chegasse ao
consultório na hora, ele sempre apresentava uma desculpa plausível e bem
humorada. Até o momento da sua súbita e última doença, ela nunca soubera que
ele era portador de problema cardíaco que o poderia matar a qualquer momento.
Exceto por um único médico da sua própria equipe, ninguém tinha a menor
suspeita do fato. Quando ela o recriminou sobre isso, ele simplesmente disse:
"Bem, eu não vejo de que serviria levar as pessoas a se preocuparem comigo –
especialmente você, querida".
Esta é a história de um homem de grande valor espiritual. As marcas registradas
disso estão à vista de todos: humor e paciência, delicadeza e coragem, humildade
e dedicação, altruísmo e amor – uma demonstração de algo que eu talvez nunca
viesse a igualar. E esse era o homem que eu havia repreendido e tratado com
condescendência. Esse era o incrédulo a quem eu havia pretendido esclarecer!
Mary contou-nos essa história há mais de vinte anos. E foi então que, pela
primeira vez, desabou sobre mim a percepção do quanto a Fé pode ser útil –
quando desacompanhada da responsabilidade. Aquele médico tinha uma Fé
inabalável nos seus ideais. Mas ele também praticava a humildade, a sabedoria e
a responsabilidade. E disso decorria a extraordinária vivência daquele homem.
Meu próprio despertar espiritual havia me concedido uma Fé imanente em Deus –
na realidade uma benção. Mas eu não tinha sido nem humilde nem sábio. Ao
alardear minha Fé, eu havia esquecido meus ideais. O orgulho e a
irresponsabilidade haviam tomado o lugar desses ideais. Extinguindo dessa forma
minha própria luz, eu tinha pouca coisa a oferecer aos meus companheiros
alcoólicos. Minha Fé era portanto inútil para eles. Finalmente percebi porque
muitos deles haviam se afastado – alguns para sempre.
A Fé é portanto algo maior do que a nossa dádiva máxima, e compartilhar essa
Fé com os outros é a nossa maior responsabilidade. Assim, possamos nós de A.
A. buscar continuamente a sabedoria e a boa vontade através das quais
poderemos corresponder àquela imensa confiança que o Doador de todas as
dádivas perfeitas colocou em nossas mãos.
(Fonte: O Melhor de Bill – paginas: 3 a 11)
FÉ
"Reflexões Diárias"
A FÉ A TODA HORA
A fé precisa estar em ação durante as vinte e quatro horas do dia, dentro e
através de nós, ou morreremos.
A essência de minha espiritualidade, e minha sobriedade, se baseia na fé diária
em um Poder Superior. Preciso lembrar e confiar no Deus do meu entendimento
enquanto prossigo em todas as minhas atividades diárias. Como é confortante
para mim o conceito de que Deus funciona dentro e através das pessoas. Quando
faço uma pausa no meu dia, lembro-me de exemplos concretos e específicos da
presença de Deus? Estou assombrado e enaltecido pelo numero de vezes que
este poder é evidente? Estou dominado pela gratidão da presença de Deus na
minha vida de recuperação. Sem esta força onipotente em cada uma das minhas
atividades, cairia novamente nas profundezas de minha doença e morreria.
ALVO
SANIDADE
"... o Segundo Passo, sutil e gradualmente, começou a se infiltrar em minha vida.
Não posso dizer a ocasião e a data em que vim a acreditar num Poder Superior a
mim mesmo, mas certamente tenho essa crença agora".
"Viemos a acreditar". Eu acreditava da boca para fora quando sentia vontade ou
quando pensava que ficaria bem. Eu realmente não confiava em Deus. Não
acreditava que Ele se preocupava comigo. Continuei tentando mudar as coisas
que eu não podia mudar. Aos poucos, de má vontade, comecei a colocar tudo nas
mãos Dele dizendo: "Você é onipotente, então tome conta disto." Ele tomou.
Comecei a ter respostas para os meus problemas mais profundos, algumas vezes
nas horas mais inesperadas: dirigindo para o trabalho, comendo um lanche, ou
quando estava quase adormecido. Percebi que eu não tinha pensado naquelas
soluções – um Poder Superior a mim mesmo as estava dando.
Eu vim a acreditar.
PREENCHENDO UMA LACUNA
Bastava para o caso fazermo-nos uma lacônica pergunta: "Creio agora ou estou
disposto a crer, que exista um Poder Superior a mim mesmo?" Uma vez que o
homem possa responder que crê ou quer acreditar, asseguramos-lhe
enfaticamente que está no caminho certo do êxito.
Sempre fui fascinado com o estudo dos princípios científicos. Estava emocional e
fisicamente distante das pessoas enquanto procurava o Conhecimento Absoluto.
Deus e espiritualidade eram exercícios acadêmicos, sem significado. Era um
moderno home de ciência, o conhecimento era o meu Poder superior. Colocando
as equações na posição correta, a vida era apenas outro problema a resolver.
Mas meu ego interior estava morrendo pela solução proposta pelo meu exterior
para os problemas da vida e a solução sempre foi o álcool. Apesar de minha
inteligência, o álcool tornou-se meu poder superior. Foi através do amor
incondicional que emana das pessoas de A. A. e das reuniões, que fui capaz de
descartar o álcool como meu poder superior.
A grande lacuna estava preenchida. Não estava mais sozinho e separado da vida.
Tinha encontrado um verdadeiro Poder Superior a mim mesmo, tinha encontrado
o amor de Deus. Existe somente uma equação que realmente me importa agora:
Deus está em A. A.
QUANDO A FÉ ESTÁ PERDIDA
"Ás vezes A. A. é aceito com maior dificuldade pelos que perderam ou rejeitaram
a fé do que pelos que nunca a tiveram, pois acham que já experimentaram a fé e
esta não lhes serviu.
Experimentaram viver com fé e sem fé."
Tão convencido estava de que Deus tinha me abandonado que ao final tornei-me
provocador, embora soubesse que não devia ser assim, e mergulhei numa última
bebedeira. Minha fé tornou-se amarga e não foi por coincidência. Aqueles que já
tiveram uma grande fé atingem o fundo com mais dificuldade.
Levou tempo para que minha fé reascendesse, mesmo tendo vindo para A. A.
Estava intelectualmente agradecido por sobreviver a queda tão vertiginosa, mas
meu coração sentia-se endurecido. Ainda assim, persisti com o programa de A. A.:
as alternativas eram muito tristes! Continuei assistindo as reuniões e, aos poucos,
minha fé foi ressurgindo.
UMA LIBERTAÇÃO GLORIOSA
"A partir do momento em que desisti de argumentar, comecei a ver e a sentir.
Nesse instante, o Segundo Passo, sutil e gradualmente, começou a se infiltrar em
minha vida. Não posso dizer a ocasião e a data em que vim a acreditar num
Poder Superior a mim, mas, certamente, tenho esta crença agora. Para adquiri-la
bastou-me parar de lutar e praticar o restante do programa de A. A. Com o maior
entusiasmo de que dispunha."
Depois de anos satisfazendo a uma "desenfreada obstinação", o segundo Passo
tornou-se para mim uma libertação gloriosa de ficar sozinho. Nada agora é mais
doloroso ou intransponível na minha jornada. Alguém está sempre aqui para
compartilhar comigo as cargas da vida. O Segundo Passo tornou-se uma forma
de reforçar minha relação com Deus, e agora percebo que minha insanidade e
meu ego estavam curiosamente ligados. Para livrar-me do anterior, devo entregar
este a alguém com os ombros muito mais largos que os meus.
UM CAMINHO PARA FÉ
A verdadeira humildade e a mente aberta poderão nos conduzir a fé. Toda reunião
de A. A. é uma segurança de que Deus nos levara de volta da sanidade, se
soubermos nos relacionar corretamente com Ele.
Minha última bebedeira deixou-me num hospital totalmente quebrado. Foi então
que eu fui capaz de ver meu passado flutuar na minha mente. Percebi que por
causa da bebida, tinha vivido todos os pesadelos que pudera haver imaginado.
Minha própria teimosia e obsessão para beber levaram-me a um abismo escuro
de alucinações, apagamentos e desesperos. Finalmente vencido, pedi ajuda de
Deus. Sua presença convenceu-me para que acreditasse. Minha obsessão pelo
álcool foi tirada e minha para nóia foi suspensa. Não estou mais com medo. Sei
que minha vida é saudável e sã.
EU NÃO DIRIJO O ESPETÁCULO
Quando nos tornamos alcoólicos, abatidos por uma crise auto imposta que não
podíamos adiar ou evitar, tivemos que encarar, sem medo, a proposição de que
Deus é tudo ou nada. Deus existe ou não existe. Qual seria a nossa opção?
Hoje minha opção é Deus. Ele é tudo. Por isso sou realmente grato. Quando
penso que estou dirigindo o espetáculo, estou bloqueando Deus em minha vida.
Rogo para que possa lembrar-me disto quando permito a mim mesmo ser levado
a erros pelo ego. A coisa mias importante é que hoje estou disposto a crescer
espiritualmente e que Deus é tudo. Quando estava tentado parar de beber da
minha maneira, nunca funcionou: com Deus e A. A. está funcionando. Isso parece
ser um pensamento simples para um alcoólico complicado.
OS LIMITES DA AUTOCONFIANÇA
Perguntamo-nos por que os tínhamos (os medos). Não por falta de
autoconfiança?
Todos os meus defeitos de caráter me separam da vontade de Deus. Quando
ignoro minha ligação com Ele, me encontro sozinho enfrentando o mundo e o
meu alcoolismo e não me resta outro recurso senão a autoconfiança.
Nunca achei segurança e felicidade através da teimosia, e o único resultado
obtido é uma vida de medo e descontentamento. Deus fornece o caminho de volta
para Ele e à sua dádiva de serenidade e conforto. Porém primeiro devo estar
disposto a conhecer meus medos e entender suas origens e poder sobre mim.
Frequentemente peço a Deus para ajudar-me a entender como me separo Dele.
NÃO PODEMOS PENSAR EM SER SÓBRIO A NOSSA MANEIRA
Para o homem ou mulher intelectualmente auto suficiente, muitos Aas podem
dizer: "Sim. Éramos como você – inteligentes demais para o nosso próprio bem...
Secretamente achávamos que poderíamos flutuar acima dos outros, somente
com o poder da inteligência".
Mesmo a mente mais brilhante não tem defeito contra a doença do alcoolismo.
Não posso pensar em ser sóbrio a minha maneira. Tento lembrar-me de que a
inteligência é um atributo dado por Deus que eu possa usar, é uma alegria – como
ter talento para dançar ou desenhar ou ainda fazer um trabalho de carpintaria. Isto
não me faz ser melhor do que qualquer um e, particularmente, não é ferramenta
digna de confiança para recuperação. Para isto um Poder Superior a mim mesmo
me devolverá a sanidade – não um alto Q.I. ou diploma do colégio.
O AMOR EM SEUS OLHOS
Alguns de nós se recusam a acreditar em Deus, outros não podem e ainda outros,
embora acreditem na existência de Deus, de forma alguma confiam que Ele
levará a cabo este milagre.
Foram as mudanças que vi nas novas pessoas que vieram para Irmandade que
me ajudaram a perder o medo e mudaram minha atitude negativa em positiva.
Podia ver o amor em seus olhos e estava muito impressionado pelo muito que a
sobriedade "um dia de cada vez" significava para eles. Eles olharam
honestamente para o Segundo Passo e vieram acreditar que um Poder Superior a
eles, iria restituí-los à sanidade. Isto fez com que eu tivesse fé na Irmandade e
esperança que funcionaria também para mim. Descobri que Deus era um Deus
amoroso, não aquele Deus puni dor que eu temia antes de chegar me A. A.
Descobri que Ele tinha estado comigo durante todas aquelas horas em que eu
estava com problemas antes de vir para A. A.
Hoje sei que foi Ele quem me levou para A. A. e que eu sou um milagre.
DIREÇÃO
"... isso significa a crença num criador que é todo poder. Justiça e amor; um Deus
que quer para mim um propósito, o significado e um destino para crescer, ainda...
que aos poucos e com hesitação, em direção à sua imagem e semelhança".
Quando me dei conta de minha própria impotência e de minha dependência de
Deus, como eu O entendo, comecei a ver que havia uma vida que, se eu pudesse
tê-la, teria escolhido para mim desde o início. Através do continuo trabalho dos
Passos e a participação na vida da Irmandade é que aprendi a ver que realmente
existe uma maneira melhor pela qual estou sendo guiado. Quando comecei a
conhecer mais sobre Deus, fui capaz de confiar em Seu caminho e no Seu plano
para desenvolvimento do seu caráter em mim. Rapidamente ou lentamente,
cresço em direção a sua própria imagem e semelhança.
FUNCIONA
Funciona – realmente funciona.
Quando consegui ficar sóbrio, no início eu tinha fé somente no programa de
Alcoólicos Anônimos. Desespero e medo mantiveram-me sóbrio (e talvez um
atencioso e severo padrinho ajudou-me). A fé em um Poder Superior veio mais
tarde. Esta fé chegou lentamente a princípio, depois que eu comecei a ouvir os
outros compartilhando nas reuniões suas experiências – experiências as quais
nunca tinha enfrentado sóbrio, mas que eles estavam encarando reforçados por
um Poder Superior. Desse compartilhar veio a esperança de que eu também
poderia conseguir um Poder Superior. Com o tempo aprendi que um Poder
Superior – uma fé que funciona sob qualquer condição é possível. Hoje esta fé,
mais a honestidade, uma mente aberta e boa vontade de praticar os Passos do
programa, dão-me a serenidade que procurava. Funciona – realmente funciona.
A IDÉIA DE FÉ
Não permita que preconceitos contra termos espirituais levem-no a deixar de
perguntar honestamente o que eles significam para você.
A ideia de fé é algo difícil de engolir quando, medo, dúvida e raiva sobejam dentro
e em volta de mim. Às vezes, a simples ideia de fazer algo diferente, algo a que
não estou acostumado a fazer, pode eventualmente tornar-se um ato de fé se a
fizer regularmente, sem discutir se é a coisa certa a fazer. Quando um dia está
ruim e tudo está dando errado, uma reunião ou uma palestra com outro bêbado
muitas vezes me distrai, o bastante para me persuadir de que nem tudo é tão
impossível, tão esmagador como eu tinha pensado. Da mesma maneira, ir à uma
reunião ou conversar com outro companheiro alcoólico é um ato de fé; acredito
que estou detendo minha doença. Estas são as maneiras pelas quais movo-me
lentamente para uma fé num Poder Superior.
A CHAVE EA BOA VONTADE
Uma vez que introduzimos a chave da boa vontade na fechadura e entreabrimos
a porta descobrimos que sempre se pode abrir um pouco mais.
A boa vontade para entregar o meu orgulho e minha obstinação a um Poder
Superior a mim mesmo, provou ser o único ingrediente necessário para resolver
meus problemas hoje. Até mesmo pequenas doses de boa vontade, se sincera, é
suficiente para permitir que Deus entre e tome o controle sobre qualquer
problema, dor ou obsessão. Meu nível de bem-estar está em relação direta com o
grau de boa vontade que tenho num determinado momento para abandonar
minha vontade própria e permitir que a vontade de Deus se manifeste em minha
vida. Com a chave da boa vontade, minhas preocupações e medos são
poderosamente transformados em serenidade.
ENTREGANDO-A
Todos os homens e mulheres que ingressaram e pretenderam ficar em A. A.
começaram a praticar o Terceiro Passo sem que mesmo se apercebessem disso.
Não é verdade que em todo o assunto relacionado com o álcool cada um decidiu
entregar sua vida aos cuidados, proteção e guia de Alcoólicos Anônimos?...
Qualquer recém-chegado com boa vontade está convicto que A. A. é o único porto
seguro para o navio quase afundado que ele representa. Ora, se isso não é
entregar a vontade e a vida à Providência recém-encontrada, o que é então?
Submissão à Deus foi o primeiro passo para minha recuperação. Acredito que
nossa Irmandade procura uma abertura espiritual para uma nova afinidade com
Deus. Quando me esforço para seguir o caminho dos Passos, sinto uma liberdade
que me dá habilidade de pensar por mim mesmo. Minha adição me aprisionou
sem qualquer liberdade e atrapalhou minha habilidade de libertar-me do meu
próprio crescimento; mas A. A. me garante uma maneira de ir para frente. O
compartilhar mútuo, a preocupação e o cuidado são a nossa dádiva natural de um
para com o outro, e a minha dádiva é fortalecida à medida em que muda minha
atitude em relação a Deus. Aprendo a submeter-me à vontade de Deus em minha
vida, a ter dignidade e a manter sempre estas atitudes, dando sempre o que
recebo.
A PEDRA ANGULAR
Ele é o Pai e nós somos Seus Filhos. Na maioria das vezes, as boas idéias são
simples, e este conceito passou a ser a pedra angular do novo arco do triunfo,
através do qual passamos à liberdade.
A pedra angular é a peça cunhada na parte mais alta de um arco que prende as
outras peças no lugar. As "outras peças" são os Passos Um, Dois e Quatro até o
Décimo Segundo.
Neste sentido isto soa como se o Terceiro Passo, fosse o Passo mais importante,
que os outros onze dependem o Terceiro para suporte. Na realidade porém, o
Terceiro Passo é apenas um dos doze. Ele é a pedra angular, mas sem as outras
onze pedras para construir a base e os lados, com ou sem a pedra angular,
simplesmente não haverá arco. Através do trabalho diário de todos os Doze
Passos, encontro este arco do triunfo esperando que eu passe através dele para
outro dia de liberdade.
A IDÉIA DE DEUS
Quando vimos os outros resolverem seus problemas através de uma simples
confiança no Espírito do Universo, tivemos que deixar de continuar duvidando do
poder de Deus. Nossas ideias eram ineficazes. Porém, a ideia de Deus surtia
efeito.
Como um homem cego recuperando gradualmente a visão, lentamente tateei o
meu caminho no Terceiro Passo. Percebendo que somente um Poder Superior a
mim mesmo poderia me socorrer do abismo sem esperança onde eu estava,
soube que este era um Poder em que eu tinha que me agarrar e que seria minha
âncora no meio de um mar de desgraças. Muito embora minha fé naquela hora
fosse minúscula, foi grande o bastante para me fazer ver que era hora de me
livrar de minha confiança no meu orgulhoso ego, e colocá-la na fortaleza segura
que somente pode vir de um Poder muito Superior a mim mesmo.
CULTIVANDO A FÉ
Não penso que podemos fazer alguma coisa muito bem neste mundo, a não ser
que nós a pratiquemos. E não acredito que nós façamos bem o programa de A. A.
a não ser que pratiquemos.
Devemos praticar... adquirir o espírito de serviço. Devemos tentar adquirir alguma
fé, o que não é fácil fazer, especialmente para a pessoa que tem sido sempre
muito materialista, seguindo o modelo da sociedade atual, porém, penso que a fé
pode ser, mesmo que lentamente, adquirida; ela precisa ser cultivada. Não foi fácil
para mim e, suponho que é difícil para qualquer um...
Muitas vezes o medo é a força que me impede de adquirir e cultivar o poder da fé.
O medo bloqueia minha apreciação de beleza, tolerância, perdão, serviço e
serenidade.
"BEM DENTRO DE NÓS"
Encontramos a Grande Realidade dentro de nós. Em última análise, somente ali
Ele pode ser achado... procurem diligentemente dentro de vocês... Com esta
atitude não poderão fracassar. O conhecimento consciente de sua própria crença
chegará com segurança.
Eu estava em profunda solidão, depressão e desespero quando procurei a ajuda
de A. A. Quando fui me recuperando e comecei a ver como minha vida estava
vazia e em ruínas, comecei a me abrir para a possibilidade curadora que a
recuperação oferece através do programa de A. A. indo às reuniões,
permanecendo sóbrio e praticando os Passos, tive a oportunidade de ouvir com
atenção crescente as profundezas de minha alma. Todo dia eu esperava, com
esperança e gratidão, por esta crença segura e este amor constante pelos quais
esperei por muito tempo em minha vida. Neste processo eu encontrei meu Deus,
como eu O entendo.
MEDO E FÉ
A conquista da libertação do medo é uma tarefa para toda a vida, é algo que
nunca pode ficar completamente concluído.
Ao sermos duramente atacados, estarmos gravemente enfermos ou em qualquer
situação de séria insegurança, todos nós vamos reagir a essa emoção de alguma
maneira – bem ou mal – conforme o caso se apresente. Somente os que
enganam a si mesmos alegam que estão totalmente livres do medo.
O medo causou-me muito sofrimento, quando poderia ter tido mais fé. Há horas
em que o medo subitamente me arrasa, justamente quando estou
experimentando sentimento de alegria, felicidade e leveza no coração. A fé – e um
sentimento de valor próprio em relação a um Poder Superior – me ajudam a
suportar a tragédia e o êxtase. Quando optar por entregar ao meu Poder Superior
todos os meus medos, então eu serei livre.
UMA FÉ NATURAL
... dentro de cada homem, mulher ou criança, jaz oculta a ideia fundamental de
Deus. Poderá estar sombreada pela calamidade, pela pompa, pela adoração de
outras coisas; porém, de uma forma ou de outra, está ali. Porque a fé em um
Poder Superior a nós e as demonstrações milagrosas desse Poder nas vidas
humanas, são fatos tão velhos como a própria humanidade.
Tenho visto as obras de um Deus invisível nos Grupos de A. A. por todo os pais.
Milagres de recuperação são evidentes em toda a parte. Agora acredito que Deus
está nas reuniões e no meu coração. Hoje para mim, um antigo agnóstico, a fé é
tão natural como respirar, comer e dormir. Os Doze Passos ajudaram a mudar a
minha vida sob vários aspectos, porém nenhum é mais eficaz do que ter a
consciência do meu Poder Superior.
UM FALSO ORGULHO
Muitos de nós, que nos havíamos considerado religiosos, despertamos para as
limitações desta atitude. Recusando colocar Deus em primeiro lugar, havíamos
nos privado de Sua ajuda.
Muitas noções falsas operam no falso orgulho. A necessidade de orientação para
viver uma vida descente é satisfeita pela esperança experimentada na irmandade
de A. A.. Aqueles que trilharam este caminho por muitos anos, um dia de cada
vez, dizem que uma vida centrada em Deus tem possibilidades ilimitadas para o
crescimento pessoal. Sendo assim, muita esperança é transmitida pelos
veteranos em A. A..
Agradeço ao meu Poder Superior por deixar-me saber que Ele funciona através
de outras pessoas, e agradeço a Ele por nossos servidores de confiança na
Irmandade, que ajudam os novos membros a rejeitar falsos ideais e a adotar
aqueles que levam à uma vida de compaixão e confiança. Os veteranos em A. A.
desafiam os novos a "despertar-se" – assim eles podem "vir a acreditar". Peço a
Deus que me ajude em minha descrença.
UMA DÁDIVA SEM PREÇO
A esta altura com toda a probabilidade, já teremos adotado, de certo modo,
medidas capazes de remover os obstáculos que mais nos prejudicam.
Desfrutamos momentos em que sentimos algo parecido à verdadeira paz de
espírito. Para aqueles de nós que, até então, conheceram somente a excitação, a
depressão ou a ansiedade – em outras palavras, para todos nós – esta nova paz
conquistada é uma dádiva inestimável.
Estou aprendendo a soltar-me e deixar Deus agir, a ter uma mente aberta e um
coração disposto a receber a graça de Deus em todos os meus assuntos: desta
maneira posso experimentar a paz e liberdade que vêm como resultado da minha
entrega. Tem sido provado que um ato de entrega, originado do desespero e da
derrota, pode crescer num progressivo até de fé significa liberdade e vitória.
SEMENTES DE FÉ
A fé é absolutamente necessária, porém, a fé isolada não basta para nosso
propósito. Porque podemos ter fé e ao mesmo tempo deixar Deus fora de nossas
vidas.
Quando criança sempre questionava a existência de Deus. Para um "pensador
científico" como eu, nenhuma resposta resistia a uma dissecação completa, até
que uma mulher muito paciente finalmente me disse: "você precisa ter fé."
Com esta simples declaração, as sementes de minha recuperação foram
plantadas.
Hoje, quando prático minha recuperação aparando as ervas daninhas do
alcoolismo – lentamente estou deixando essas antigas sementes de fé crescer e
florescer. Cada dia de recuperação, de ardente jardinagem, se integra mais em
minha vida o Poder Superior de meu entendimento. Meu Deus tem estado sempre
comigo através da fé, mas é de minha responsabilidade ter a disposição para
aceitar a Sua presença.
Peço a Deus para me conceder a disposição para fazer a Sua vontade.
OUVINDO ATENTAMENTE
Com que persistência apregoamos nosso direito de decidir sozinhos o que
pensaremos e com agiremos.
Se aceito a atuo pelos conselhos daqueles que têm feito o programa funcionar
para si, tenho chance para superar os limites do passado. Alguns problemas se
reduzirão a nada, enquanto outros podem requerer uma ação paciente e bem
pensada. Ouvindo atentamente quando os outros compartilham, pode-se
desenvolver a intuição para tratar os problemas que surgem inesperadamente.
Normalmente é melhor para mim evitar ações impetuosas. Assistir a uma reunião
ou falar com um membro de A. A. geralmente reduz a tensão o bastante para
trazer alívio a um sofredor desesperado como eu. Compartilhando problemas nas
reuniões com outros alcoólicos com os quais me relaciono, ou em particular com
meu padrinho, posso mudar aspectos das posições nas quais me encontro.
Defeitos de caráter são identificados e começo a ver como eles trabalham contra
mim. Quando coloco minha fé no poder espiritual do programa, quando confio em
que outros me ensinem o que preciso fazer para ter uma vida melhor, descubro
que posso confiar em mim mesmo para fazer o que é necessário.
LEVANTEI A CABEÇA PARA A LUZ
"Acredite mais profundamente: Levante a cabeça para a luz, ainda que no
momento você não possa ver."
Num domingo de outubro, durante minha meditação matinal, olhei pela janela a
árvore de freixo no pátio da frente. Uma vez mais fui vencido pela sua magnífica
cor dourada! Enquanto olhava com admiração a obra de arte de Deus, as folhas
começaram a cair e, dentro de minutos, os galhos estavam nus. A tristeza me
assaltou quando pensei nos meses de inverno à frente, mas enquanto estava
refletindo no processo anual do outono, a mensagem de Deus apareceu. Como
as árvores, despidas de suas folhas no outono, germinam novas flores na
primavera, eu, despojado de meus modos compulsivos e egoístas removidos por
Deus, posso florescer como um sóbrio e alegre membro de A. A.
Obrigado, Deus, pela mudança das estações e por minha vida em mudança
contínua.
(Fonte: Reflexões Diárias – páginas: 27-40-42-43-44-46-49-50-52-56-61-69-7475-76-82-83-120-177-181-194-209-211-225-226-336)
"A FÉ CHEGARÁ"
"Viemos a Acreditar"
No início, rejeitei parte do programa de A. A. que se referisse a Deus de alguma
maneira. Até mesmo permanecia em silêncio quando as reuniões eram
encerradas com o Pai-Nosso. (Mesmo porque, eu nem sabia a oração.)
Voltando para o passado, não creio que eu fosse um agnóstico e nem tampouco
um ateu. Mas sei que não conseguia aceitar nada desse "negócio de Deus" e
nem queria vir a acreditar ou a experimentar qualquer despertar espiritual. Afinal
de contas, havia procurado A. A. para ficar sóbrio, e uma coisa não tinha nada a
ver com a outra.
Mesmo com toda a minha estúpida arrogância, vocês ainda assim me amaram,
estenderam suas mãos em um gesto de amizade e, tenho certeza, usaram de
cautelosa sabedoria ao tentar chegar a mim com o programa. Mas eu só
conseguia ouvir aquilo o que queria ouvir.
Permaneci "seco" durante alguns anos. Então, como vocês já podem ter
adivinhado, bebi novamente. Era inevitável. Eu tinha aceitado apenas aquelas
partes do programa que se encaixavam na minha vida, sem nenhum empenho da
minha parte. Ainda era o egocêntrico de sempre, cheio de todos os meus antigos
ódios, do meu egoísmo e da minha incredulidade – tão carente de maturidade
quanto quando cheguei a A. A.
Desta vez não tinha mais nenhuma esperança, quando fui internado no hospital.
Afinal de contas, vocês me haviam dito que A. A. era a última esperança para o
alcoólico, e eu havia fracassado. Não existia nada mais. Nesse exato momento,
minha irmã resolveu me enviar um recorte do jornal da Escola Dominical.
Nenhuma carta, apenas o recorte: "Reze com descrença, mas reze com
sinceridade e a fé chegará".
Rezar? Como é que eu poderia rezar? Eu não sabia como rezar. Apesar disso,
estava pronto a fazer qualquer coisa para conseguir minha sobriedade e alguma
coisa que se parecesse com uma vida normal. Acho que simplesmente desisti.
Parei de lutar. Aceitei aquilo em que eu realmente não acreditava, muito menos
entendia.
Comecei a rezar, não de uma maneira formal. Apenas falei com Deus, ou melhor,
implorei: "Ajude-me, amado Deus. Eu sou um bêbado". Eu não tinha ninguém a
quem recorrer, exceto esse Deus que eu não conhecia.
Não me lembro de nenhuma mudança imediata ou dramática em minha vida.
Lembro-me de ter dito à minha esposa o quanto isso me parecia inútil. Por
sugestão dela, recomecei a ler o Livro Grande e os Doze Passos e então
encontrei neles muito mais do que havia encontrado antes. Não rejeitei nada.
Aceitei tudo exatamente como estava escrito. Também não li nada além daquilo
que estava escrito.
Repito que nada mudou da noite para o dia. Mas, à medida em que o tempo
passava, adquiri uma fé cega onde, aceitando um Deus que eu não entendia e o
programa de A .A. exatamente como fora escrito, eu poderia manter minha
sobriedade um dia de cada vez. Se quisesse ter mais alguma coisa, ela viria à
medida em que o tempo passasse, exatamente como vieram as outras coisas
boas.
Não acho mais necessário provar minha descrença em Deus, através de cada
raciocínio e cada propósito, da maneira que fiz durante anos. Também não acho
mais que seja necessário provar minhas ideias perante os outros. Não – as únicas
contas e a única prova que devo prestar são a mim mesmo e a Deus, na forma
em que O concebo (ou não concebo). Tenho certeza de que irei errar de tempos
em tempos, mas tenho que aprender a perdoar a mim mesmo como Deus me
perdoou pelo meu passado.
Creio que tive um despertar espiritual, o mais simples possível, que prosseguirá
enquanto eu continuar a praticar este programa em todas as minhas atividades.
Para mim, não existe nenhum "lado espiritual" no programa de Alcoólicos
Anônimos; o programa todo é espiritual.
Tal como vejo as coisas, algumas das evidências de um despertar espiritual são a
maturidade, o abandono do ódio habitual, a capacidade de amar e ser amado, a
capacidade de acreditar, mesmo sem entender, que Algo permite que o sol se
levante pela manhã e se ponha à noite, que as folhas renasçam na primavera e
caiam no inverno, e que dê musicalidade aos pássaros. Por que não deixar que
esse Algo seja Deus?
(Fonte: Viemos a Acreditar - St. Petersburg, Florida)
FÉ
"Na Opinião do Bill"
DOR E PROGRESSO
"Alguns anos atrás eu costumava ter pena de todas as pessoas que sofriam.
Agora somente tenho pena daqueles que sofrem por ignorância, que não
entendem o propósito e a utilidade definitiva da dor."
Certa vez alguém disse que a dor é a pedra de toque do progresso espiritual.
Nós, Aas, podemos concordar com isso, pois sabemos que as dores decorrentes
do alcoolismo tiveram que vir antes da sobriedade, assim como o desequilíbrio
emocional vem antes da serenidade.
"Acredite mais profundamente: Levante a cabeça para a Luz, ainda que no
momento você não possa ver."
A DÁDIVA COMPARTILHADA
A. A. é mais do que um conjunto de princípios; é uma sociedade de alcoólicos em
ação. Precisamos levar a mensagem, caso contrário nós mesmos poderemos
recair, e aqueles a quem não foi dada a verdade podem perecer.
A fé é mais do que nossa maior dádiva; compartilhá-la com os outros é nossa
maior responsabilidade. Que nós, de A. A., possamos buscar continuamente a
sabedoria e a boa vontade pelas quais possamos desempenhar bem a grande
tarefa que o Doador de todas as dádivas perfeitas colocou em nossas mãos.
NUNCA MAIS!
"Muitas pessoas se sentem mais seguras com o plano das vinte e quatro horas do
que com a resolução de que nunca mais beberão. Muitas delas já quebraram
muitas resoluções. Esse é realmente uma questão de escolha pessoal; cada AA
tem o privilégio de interpretar o programa como quiser.
"Eu, pessoalmente, pretendo nunca mais beber. Isso é um pouco diferente de
dizer: `Nunca mais beberei.' Essa última atitude às vezes põe as pessoas em
dificuldade, porque significa comprometer-se, em nível pessoal, a fazer o que nós,
alcoólicos, nunca poderíamos fazer. Esse é um ato de vontade e deixa muito
pouco lugar para a ideia de que Deus nos libertará da obsessão de beber,
contando que sigamos o programa de A. A."
SOMOS TODOS ADORADORES
Descobrimos que de fato tínhamos sido adoradores. Que calafrio nos dava pensar
nisso! Não tínhamos, em várias ocasiões, adorado pessoas, sentimentos, coisas,
dinheiro e a nós mesmos?
E também, com melhor motivo, não tínhamos contemplado com adoração o pôrdo-sol, o mar ou uma flor? Quem de nós não tinha amado alguma coisa ou
alguém? Não foi com isto que foram construídas nossas vidas? Não foram esses
sentimentos que, afinal de contas, determinaram o curso de nossa existência?
Era impossível dizer que não éramos capazes de ter fé, amor ou adoração. De
uma forma ou de outra, estivemos vivendo pela fé e nada mais.
A VERDADEIRA INDEPENDÊNCIA DO ESPÍRITO
Quanto mais nos dispomos a depender de um Poder Superior, mais
independentes ficamos. Portanto, a dependência, como se pratica em A. A. é
realmente um meio de se obter a verdadeira independência de espírito.
Na vida diária ficamos surpresos ao descobrir o quanto somos realmente
dependentes e quão inconscientes somos dessa dependência. Toda casa
moderna tem fios elétricos que levam força e luz a seu interior. Aceitando nossa
dependência dessa maravilha da ciência, descobrimos que somos pessoalmente
mais independentes, que nos sentimos mais à vontade e seguros. A força corre
exatamente para onde é necessária. Silenciosa e certeira a eletricidade, essa
estranha energia que tão poucas pessoas entendem, vem ao encontro de nossas
necessidades diárias mais simples.
Embora aceitemos prontamente esse princípio de saudável dependência em
muitos de nossos assuntos temporais, muitas vezes resistimos fortemente a esse
mesmo princípio, quando nos pedem que o apliquemos como um meio de crescer
espiritualmente. É claro que nunca conheceremos a liberdade sob a dependência
de Deus, até que tentemos buscar. Sua vontade em relação a nós. A escolha é
nossa.
A HUMILDADE EM PRIMEIRO LUGAR
Encontramos muitos em A. A. que antes pensavam, como nós, que humildade era
sinônimo de fraqueza. Eles nos ajudaram a nos reduzir ao nosso verdadeiro
tamanho. Com seu exemplo nos mostraram que a humildade e o intelecto
poderiam ser compatíveis, contanto que colocássemos a humildade em primeiro
lugar. Quando começamos a fazer isso, recebemos a dádiva da fé que funciona.
Essa fé é para você.
Apesar da humildade primeiro ter significado uma humilhação, agora ela começa
a representar o ingrediente que pode nos trazer serenidade.
VER E CRER
A fé quase infantil dos irmãos Wright, de que poderiam construir uma máquina
que voasse foi a mola mestra de seu sucesso. Sem ela, nada poderia ter
acontecido.
Nós, os agnósticos e ateus, estávamos agarrados à ideia de que a auto
suficiência resolveria nossos problemas. Quando os outros nos mostravam que a
"suficiência de Deus" funcionava para eles, começamos a nos sentir como
aqueles que tinham insistido em que os irmãos Wright nunca voariam. Estávamos
vendo um outro tipo de voo, uma libertação espiritual deste mundo, pessoas que
se elevavam acima de seus problemas.
A CHEGADA DA FÉ
Em meu caso, a pedra fundamental da libertação do medo é a fé: uma fé que, a
despeito de todas as aparências mundanas em contrário, faz-me crer que vivo
num universo que faz sentido.
Para mim, isso significa a crença num Criador que é todo poder, justiça e amor;
um Deus que quer para mim um propósito, um significado e um destino para
crescer, ainda que aos poucos e com hesitação, em direção à Sua imagem e
semelhança. Antes de chegar à fé eu tinha vivido como um estranho num cosmo,
que muitas vezes parecia ser hostil e cruel. Nele não poderia haver, para mim,
nenhuma segurança interior.
"Quando caí de joelhos por causa do álcool, me achei pronto para pedir a dádiva
da fé. E tudo mudou. Nunca mais, apesar de meus sofrimentos e problemas,
experimentaria minha antiga desolação. Vi o universo iluminado pelo amor de
Deus; eu não estava mais sozinho."
BENEFÍCIOS DA RESPONSABILIDADE
"Felizmente as despesas de A. A. por pessoa são muito pequenas. Deixarmos de
atendê-las seria fugir a uma responsabilidade que nos beneficia.
Muitos alcoólicos têm dito que nunca tiveram dificuldades que o dinheiro não
resolvesse. Nós somos um grupo que, quando bebíamos, sempre estendíamos a
mão em busca de auxílio. Então, quando começamos a pagar nossas próprias
contas, isso constitui uma mudança saudável."
"Por causa da bebida, meu amigo Henry perdeu um emprego de salário elevado.
Restava uma bela casa – com um despesas três vezes maior do que seus
reduzidos ganhos.
Ele poderia ter alugado a casa, por uma quantia suficiente, a fim de se sustentar.
Mas não! Henry disse que sabia que Deus o queria morando ali e Ele daria um
jeito de serem pagas as contas. Assim, ele continuou amontoando dívidas e cheio
de fé. Não foi surpresa quando finalmente os credores se apossaram da casa.
Henry hoje ri disso, pois aprendeu que Deus ajuda muito mais àqueles que estão
dispostos a se ajudar."
COMPLETA SEGURANÇA
Ao ingressar em A. A., a lembrança dos anos desperdiçados nos levou ao pânico.
A importância financeira não era mais nosso principal objetivo; clamávamos agora
por segurança material.
Mesmo após estarmos bem restabelecidos em nossos negócios, temores terríveis
continuavam nos perseguindo. Isso nos tornou mesquinhos e pão duros de novo.
Precisávamos ter completa segurança material de qualquer modo.
Esquecíamos que a maioria dos membros de A. A. tem capacidade bem acima da
média para ganhar dinheiro; esquecíamos da enorme boa vontade de nossos
companheiros Aas, tão ansiosos para nos ajudar a conseguir melhor trabalho,
desde que o merecêssemos; esquecíamos da real insegurança financeira, atual
potencial, que acompanhava todos os habitantes da terra. E, pior de tudo,
esquecíamos de Deus. Em matéria de dinheiro, só confiávamos em nós e, mesmo
assim, não muito.
NENHUM PODER PESSOAL
"A princípio, o remédio para minhas dificuldades pessoais parecia tão evidente
que eu não podia imaginar um alcoólico recusando a proposta que lhe fosse
adequadamente apresentada. Acreditando firmemente que Cristo pode fazer tudo,
eu tinha ideia inconsciente de supor que Ele faria tudo que eu quisesse. Depois
de seis longos meses, tive que admitir que ninguém tinha se apoderado do Mestre
– nem mesmo eu.
"Isso me levou à boa e saudável conclusão de que havia muitas situações no
mundo sobre as quais eu não tinha nenhum poder pessoal – que, se eu estava
tão pronto a admitir isso respeito do álcool, devia admitir também em relação a
muitas outras coisas. Tinha que ficar quieto e entender que Ele e não eu, era
Deus."
A SENSAÇÃO DE FAZER PARTE
Talvez uma das maiores recompensas da meditação e da oração seja a sensação
de que passamos a fazer parte. Não mais vivemos num mundo completamente
hostil. Não mais nos sentimos perdidos, amedrontados e inúteis.
A partir do momento em que percebemos ainda que um vislumbre da vontade de
Deus, e começamos a ver a verdade, a justiça e o amor como valores reais e
eternos, não mais ficamos tão perturbados por todas as aparentes evidências do
contrário, que nos rodeiam nos assuntos puramente humanos. Sabemos que
Deus nos protege com amor. Sabemos que quando nos voltarmos para Ele, tudo
estará bem conosco, aqui e depois.
O CAMINHO DA FORÇA
Não precisamos nos desculpar com ninguém por depender do Criador. Temos
boas razões para descrer dos que acham que a espiritualidade é o caminho da
fraqueza. Para nós ela é o caminho da força.
O ver edito da história é que raramente falta coragem aos homens de fé. Confiam
em seu Deus. Assim, nunca nos desculpamos por crer n'Ele. Ao contrário,
tentamos deixá-Lo demonstrar, através de nós, o que Ele pode fazer.
PODER MILAGROSO
No mais profundo de cada homem, mulher e criança, está a ideia fundamental de
um Deus. Ela pode estar obscurecida pela calamidade, pela pompa, pela
adoração de outras coisas, mas de uma forma ou outra ela está ali. Pois a fé num
Poder Superior a nós mesmos e as demonstrações milagrosas desse Poder nas
vidas humanas são fatos tão antigos como a própria humanidade.
"A fé pode muitas vezes ser adquirida através de ensinamentos inspirados ou de
um convincente exemplo pessoal de seus frutos. Pode às vezes ser obtida
através da razão. Por exemplo, muitos clérigos acreditam que são Tomás de
Aquino provou realmente a existência de Deus por pura lógica. Mas o que se
pode fazer quando todos esses meios falham? Esse era meu doloroso dilema.
"Foi somente quando passei a acreditar completamente que eu era impotente
perante o álcool, somente quando apelei a algum Deus que talvez existisse, que
experimentei um despertar espiritual. Essa experiência libertadora veio primeiro; e
a fé veio em seguida – foi sem dúvida uma dádiva!"
NÃO TEMER MAL ALGUM
Embora nós de A. A. estejamos vivendo num mundo caracterizado por medos
destrutivos como nunca houve na história, vemos grandes momentos de fé e
fortes aspirações de justiça e fraternidade. Contudo, nenhum profeta ousa dizer
se o futuro do mundo nos reserva uma terrível destruição ou o começo da mais
brilhante era jamais conhecida pela humanidade, sob a vontade de Deus.
Estou certo de que nós, AAS compreendemos esta perspectiva. Em menor
escala, experimentamos este mesmo estado de terrível incerteza, cada qual em
sua própria vida privada. Sem nenhum orgulho, podemos dizer que não tememos
o futuro do mundo, qualquer que ele seja. Isto porque nos tornamos capazes de
sentir profundamente e dizer: "Não temos mal algum a temer – seja feita Sua
vontade, não a nossa".
SOBREVIVER AOS TESTES
Em nosso modo de pensar, qualquer esquema para combater o alcoolismo, que
se propõe a proteger completamente o doente da tentação, está destinado ao
fracasso. Se o alcoólico tenta se proteger, ele pode ser bem-sucedido por algum
tempo, mas geralmente acaba tendo a maior das explosões. Já tentamos esses
métodos. Essas tentativas de fazer o impossível sempre fracassaram. Nossa
resposta é libertar-se do álcool, e não fugir dele.
"A fé sem obras é morta." Essa é uma aterradora verdade para o alcoólico!
Porque se um alcoólico deixa de aperfeiçoar e ampliar sua vida espiritual por meio
do trabalho e do sacrifício próprio em benefício dos demais, ele não pode
sobreviver aos testes e aos momentos de fraqueza que esperam por ele. Se não
trabalhar, com certeza voltará a beber, e se beber, certamente morrerá. Então, a
fé será realmente morta.
ANTÍDOTO PARA O MEDO
Quando nossas falhas geram o medo, sofremos uma doença da alma. Essa
doença, por sua vez, gera mais defeitos de caráter.
O medo irracional de que nossos instintos não sejam satisfeitos nos leva a cobiçar
os bens dos outros, a desejar ardentemente sexo e poder, a ficar com raiva
quando nossas exigências instintivas são ameaçadas, a sentir inveja quando as
ambições dos outros parecem ser realizadas, enquanto as nossas não o são.
Comemos, bebemos e nos apossamos de mais do que precisamos, sempre por
medo de não ter o suficiente. E realmente nos alarmamos frente a perspectiva de
trabalho, permanecemos preguiçosos.
Desperdiçamos tempo e procrastinamos ou, na melhor das hipóteses,
trabalhamos de má vontade e sem energia.
Esses medos são os cupins que, incessantemente, devoram os alicerces de
qualquer tipo de vida que tentamos construir.
Conforme cresce a fé, cresce a segurança interior. O grande medo latente do
nada começa a desaparecer. Nós de A. A. descobrimos que nosso antídoto básico
para o medo é o despertar espiritual.
A RAZÃO – UMA PONTE PARA A FÉ
Enfrentamos honestamente a questão da fé. Não podíamos evitar a polêmica.
Alguns de nós já tinham atravessado a ponte da razão em direção ao litoral da fé,
onde mãos amigas se estendiam nos dando as boas-vindas. Ficamos
agradecidos pela razão nos levar tão longe. No entanto, por algum motivo, não
nos atrevíamos a botar o pé no litoral. Talvez estivéssemos dependendo demais
da razão e não quiséssemos perder seu apoio.
Mas sem saber, não tínhamos sido levados até onde estávamos, por um certo tipo
de fé? Não é verdade que acreditávamos em nosso próprio raciocínio? Não é
verdade que tínhamos confiança em nossa capacidade de pensar? E não era isso
uma espécie de fé? Sim, tínhamos tido fé, de maneira objetiva, tínhamos sido fiéis
ao deus da razão. Assim, descobrimos que, de uma maneira ou de outra, a fé
estava sempre presente.
FÉ E AÇÃO
A educação e o treinamento religiosos de seu provável membro podem ser bem
superiores aos que você tenha. Nesse caso, ele vai duvidar que você possa
acrescentar alguma coisa, ao que ele já conhece. Mas desejará saber por que as
próprias convicções não funcionaram, enquanto as suas parecem funcionar bem.
Talvez ele seja um exemplo de que a fé sozinha não basta.
Para ser vital, a fé deve ser acompanhada de auto sacrifício, altruísmo e ação
construtiva.
Admita a possibilidade de ele saber mais a respeito de religião do que você, mas
chame a atenção dele para o fato de que, por mais profundas que sejam sua fé e
educação religiosa, essas qualidades não devem ter lhe servido muito, caso
contrário ele não estaria solicitando ajuda.
O Dr. Bob não precisava de mim para sua orientação espiritual. Ele tinha mais do
que eu. Na verdade o que ele mais precisava, quando nos encontramos pela
primeira vez, era de uma profunda deflação e da compreensão, que somente um
bêbado pode dar a outro. O que eu precisava era de humildade, de esquecimento
de mim mesmo e de estabelecer um verdadeiro parentesco com outro ser
humano de meu próprio tipo.
DISPOSTOS A ACREDITAR
"Não permita que qualquer preconceito contra termos espirituais possa impedi-lo
de se perguntar, o que eles poderiam significar para você. No começo, era disso
que precisávamos, para dar início a um crescimento espiritual, `para estabelecer
nossa primeira relação consciente com Deus como nós O concebíamos'. Mais
adiante passamos a aceitar muitas coisas que nos pareciam inteiramente fora de
alcance. Isso era crescimento, mas para crescer tínhamos que começar de algum
modo. Assim, no princípio, usamos nossas próprias concepções de Deus, ainda
que limitadas.
"Precisávamos nos fazer apenas uma simples pergunta: `Acredito, ou estou
mesmo disposto a acreditar que exista um Poder Superior a mim?' Assim que o
indivíduo possa dizer que acredita, ainda que seja em pequeno grau, ou que
esteja disposto a acreditar, nós lhe asseguramos enfaticamente que ele está no
caminho."
DEUS NÃO NOS ABANDONARÁ!
"Acabo de saber que você está suportando magnificamente a adversidade, sendo
essa adversidade seu estado de saúde. Isso me dá a oportunidade de expressar
minha gratidão por sua recuperação em A. A., e especialmente pela
demonstração de seus princípios que você nos está dando agora de maneira tão
inspiradora.
"Você gostará de saber que a este respeito os Aas raramente falham. Acho que
isso ocorre por sabermos com tanta segurança que, seja qual for nossa sorte,
Deus não nos abandonará. De fato Ele não nos abandonou quando estávamos
bebendo. E assim há de ser para o resto de nossas vidas.
"Certamente Ele não tenciona nos salvar de todos os problemas e adversidades.
Nem tampouco, no fim, nos salvará da chamada morte – que afinal é apenas uma
passagem para uma nova vida na qual habitaremos em SUAS muitas mansões.
Com respeito a essas coisas, sei que você tem uma fé muito grande."
A RESPOSTA NO ESPELHO
Enquanto bebíamos, tínhamos certeza de que nossa inteligência, apoiada pela
força de vontade, poderia muito bem controlar nossa vida interior e garantir nosso
sucesso no mundo em que vivemos. Essa filosofia valente, na qual cada um de
nós fazia o papel de Deus, soava muito bem, mas ainda tinha que passar pela
prova decisiva: será que funcionava mesmo? Uma boa olhada no espelho foi
resposta suficiente.
Meu despertar espiritual foi muito rápido e absolutamente convincente. De
repente, me tornei uma parte – embora pequenina – de um cosmo que era
dirigido pela justiça e pelo amor na pessoa de Deus. Apesar das conseqüências
de minha própria obstinação e ignorância, ou da de meus companheiros de
viagem na terra, a verdade ainda era essa. Essa era minha nova e positiva
certeza – e ela nunca me abandonou.
EM BUSCA DA FÉ PERDIDA
Muitos Aas podem dizer a uma pessoa sem fé: "Nos desviamos da fé que
tínhamos quando crianças. Com a chegada do sucesso material, achamos que
estávamos ganhando o jogo da vida. Isso era emocionante e nos fazia felizes.
"Por que deveríamos nos preocupar com abstrações teológicas e deveres
religiosos ou com o estado de nossas almas aqui ou no além?
A vontade de ganhar os levaria para frente".
"Mas então o álcool começou a nos dominar. Finalmente, quando começamos a
ver nosso placar marcando zero, e percebemos que mais um golpe nos colocaria
fora do jogo para sempre, tivemos que buscar nossa fé perdida. Foi em A. A. que
a reencontramos."
REALIDADE INTERIOR
À medida que a humanidade estuda o mundo material, nós é constantemente
revelado que sua aparência exterior não é, de modo algum, a realidade interior. A
prosaica trave de aço é uma massa de elétrons, girando uns ao redor dos outros,
em velocidade incrível, e esses pequenos corpos são governados por leis
precisas. Assim nos diz a Ciência. Não temos nenhuma razão para duvidar disso.
Entretanto, quando é sugerida a hipótese perfeitamente lógica, de que além do
mundo material, como o contemplamos, existe uma inteligência criadora,
orientadora e todo-poderosa, no mesmo instante vem à tona nosso traço perverso
de temperamento e procuramos nos convencer de que isso não é verdade. Se
fosse certa nossa argumentação significaria que a vida se originou do nada, que
nada significa e que não leva a nada.
MEDO E FÉ
A conquista da libertação do medo é uma tarefa para toda a vida; é algo que
nunca termina.
Ao sermos duramente atacados, estarmos gravemente enfermos ou em qualquer
situação de grande insegurança, todos reagimos a essa emoção – bem ou mal,
conforme o caso. Somente os que enganam a si mesmos pretenderão estar
totalmente livres do medo.
Finalmente percebemos que a fé em alguma forma de Deus era parte de nosso
ser. Algumas vezes tivemos que procurá-Lo persistentemente, mas Ele estava ali.
Ele era tão real quanto nós. Encontramos a Grande Realidade no mais profundo
de nosso ser.
A FÉ – UM PLANO – E TRABALHO
"A ideia de viver um "plano de vinte e quatro horas" aplica-se primeiramente à
vida emocional do indivíduo. Emocionalmente falando, não devemos viver no
ontem, nem no amanhã.
"Mas nunca entendi que isto significasse que o indivíduo, o grupo ou A. A. como
um todo não deveria pensar em como funcionar amanhã ou mesmo num futuro
mais distante. A fé sozinha nunca construiu a casa em que você mora. Foi preciso
haver um plano e um bocado de trabalho para que essa casa se tornasse uma
realidade.
"Nada é mais verdadeiro para nós, de A. A., do que o dito bíblico: `A fé sem obra é
morta'. Os serviços de A. A., todos destinados a fazer mais, e o melhor possível, o
trabalho do Décimo Segundo Passo, são as `obras' que garantem nossa vida e
nosso crescimento, impedindo a anarquia ou a estagnação."
GENTE DE FÉ
Nós que atravessamos o caminho do agnosticismo e ateísmo, lhe pedimos para
se despojar do preconceito, até do preconceito contra a religião organizada.
Aprendemos que sejam quais forem as fraquezas humanas que os vários credos
possam ter, estes têm dado propósito e orientação a milhares de indivíduos. As
pessoas com fé têm uma ideia lógica do que seja a vida.
Na realidade, não costumávamos ter nenhuma concepção racional.
Costumávamos nos divertir, ridicularizando cinicamente as crenças e as práticas
espirituais, quando poderíamos ter visto que muitas pessoas espiritualizadas, de
todas as raças, cores e credos, estavam demonstrando ter um grau de equilíbrio
emocional, felicidade e utilidade que deveríamos ter procurado para nós mesmos.
APRENDENDO A CONFIAR
Todo o programa de A. A. se baseia no princípio da confiança mútua. Confiamos
em Deus, confiamos em A. A. e confiamos uns nos outros. Portanto, não podemos
deixar de confiar em nossos líderes em serviço. O "Direito de Decisão" que lhes
oferecemos não é somente um meio prático de permitir que eles atuem e dirijam
efetivamente, mas também um símbolo de nossa confiança implícita.
Se você chega a A. A. sem ter uma convicção religiosa, você pode, se quiser,
fazer do próprio A. A. ou de seu grupo seu "Poder Superior". Eles são um grande
número de pessoas que resolveu seu problema com o álcool. Nesse sentido,
certamente representam um poder superior a você. Esse mínimo de fé já era
suficiente.
Muitos membros que só dessa maneira atravessaram o limiar contar-lhe-ão que,
uma vez do outro lado, sua fé se ampliou e se aprofundou. Libertados da
obsessão pelo álcool, com suas vidas inexplicavelmente transformadas, vieram a
acreditar num Poder Superior, e a maioria deles começou a falar em Deus.
(Fonte: "Na Opinião do Bill" – paginas: 3-13-16-23-26-36-47-51-84-112-114-117129-152-166-188-196-208-212-219-221-225-235-260-263-284-300-310)
FÉ NAS PESSOAS
"Viemos a Acreditar"
Meus pais me legaram uma fé que perdi nos anos mais recentes. Não, não era
uma fé religiosa, embora tivesse sido influenciada pelos ensinamentos de duas
denominações religiosas. Essa fé também não me foi imposta; simplesmente me
afastei dela através do tédio, e a minha crença em Deus, frágil e superficial,
desapareceu tão logo tentei pensar sobre ela.
Era uma fé nas pessoas, aquela que meus pais me transmitiram – tanto me
amando quanto me respeitando como um indivíduo, habilitado a fazer suas
próprias escolhas. Esse amor eu aceitei e correspondi sem questioná-lo, como
um fato natural.
Sozinha no mundo por minha conta, ainda tinha a sensação de estar sob a
proteção benevolente; meus chefes imediatos (de ambos os sexos) pareciam me
encarar tão gentilmente quanto meus professores haviam feito. Estranhamente,
minha boa-sorte às vezes aborrecia-me. "O que é isso?", eu me perguntava.
"Será que desperto impulsos maternais?" Porque havia dentro de mim um
elemento em guerra com minha fé nas pessoas. Esse elemento era um orgulho
obstinado e furioso que ansiava por independência total. Com meus
contemporâneos, era sempre dolorosamente tímida e, mesmo naquela época,
interpretei corretamente essa deficiência como um sintoma de egocentrismo – o
medo de que os outros não concordassem com minha própria auto avaliação.
Essa avaliação não incluía certamente uma imagem de mim mesma como uma
bêbada. Sempre suspeitei que o orgulho mata tantos alcoólicos quanto a bebida.
Poderia ter sido muito facilmente uma dessas vítimas, porque minha reação ao
rápido avanço do alcoolismo foi principalmente um frenético esforço para ocultálo. Pedir ajuda? Nem pensar!
Chegou o dia em que meu orgulho foi esmagado (temporariamente) e pedi ajuda.
Pedi ajuda às pessoas – a estranhos. Mas meu orgulho, expandindo-se à medida
em que a saúde voltava, bloqueou minhas duas primeiras aproximações de A. A.
(Durante esse interlúdio, os amigos não alcoólicos também me ajudaram – sem
que lhes pedisse.) Depois de outro fracasso em reconquistar minha capacidade
de bebedora social, fiquei convencida e ingressei em A. A. com toda a
honestidade.
Ingressei felizmente em um Grupo que dedicava suas reuniões fechadas à
discussões sobre os Passos. A maioria dos membros tinha seu próprio conceito
sobre um Deus; a atmosfera de fé que me rodeava era tão acentuada que
pensava às vezes estar pronta para me integrar nela. Nunca o fiz. E não obstante
descubro os Passos a revelar, em cada discussão, novas profundidades de
significado.
No Segundo Passo, o "Poder Superior a nós mesmos" significava A. A., mas não
apenas os membros que conheci. Significava todos nós, em toda parte,
partilhando a preocupação uns pelos outros e criando assim um recurso espiritual
mais forte do que cada um de nós poderia proporcionar isoladamente. Outra
mulher do meu Grupo acreditava que as almas dos alcoólicos mortos, inclusive
aquelas de tempos anteriores a A. A., contribuíam para esse manancial de boavontade. O pensamento era tão belo que desejei também poder acreditar nele.
Inicialmente, o Terceiro Passo era simplesmente a maneira como me sentia nas
manhãs sem ressaca do início da sobriedade, sentada ao lado da janela em dias
que pareciam ser sempre ensolarados, sem nenhuma perspectiva imediata de
emprego, mas sentindo-me de qualquer forma perfeitamente feliz e confiante.
Depois, esse Passo tornou-se uma alegre aceitação do meu lugar no mundo:
"Não tenho a menor ideia de Quem ou o Que está dirigindo o espetáculo, mas sei
que faço parte dele!" Também podia encarar o Terceiro Passo como uma boa
atitude, uma efetiva aproximação à vida: "Se eu estiver nadando em água salgada
e entrar em pânico, se começar a bracejar e a lutar contra a água, ela me afogará.
Mas se relaxar e tiver fé, ela me manterá boiando".
Embora o Quarto Passo não mencione um Poder Superior, a palavra "moral" traz
para mim uma implicação de pecado, o que no meu manual se traduz numa
ofensa a Deus. Assim, considerei o inventário como uma tentativa de descrição
honesta do meu caráter, no lado negativo, ficavam as qualidades que tendiam a
ferir as pessoas. Tentando viver no mundo ao invés de fugir dele, tentando me
abrir para as outras pessoas ao invés de me afastar delas, esperava que esse
contato com meus semelhantes aplainasse de alguma forma as arestas agudas e
ferinas da minha personalidade – Sexto e Sétimo Passos.
Não tenho certeza de que estivesse trabalhando conscienciosamente os Passos,
mas na certa eles estavam agindo sobre mim. Por volta do quarto ano de
sobriedade, um incidente trivial me fez perceber subitamente que minha velha
desculpa da timidez havia desaparecido. "Sinto-me em casa no mundo!", disse a
mim mesma atônita.
Hoje, cerca de dez anos depois, ainda me sinto assim. Sob todos os aspectos da
minha vida, os benefícios da experiência de A. A. compensaram de longe os
prejuízos do alcoolismo ativo. O que é que supera (momentaneamente) meu
orgulho e me torna acessível? A melhor resposta que posso encontrar é aquilo
que meu pai chamava de "a força vital". (Ele era um velho médico de família e
havia visto muitas vezes essa força brotando ou desaparecendo.) Ela existe em
todos nós, acredito; anima as coisas vivas e mantém as galáxias girando. A
metáfora da água salgada, aplicada ao Terceiro Passo, não foi escolhida por
acidente, porque o oceano é para mim um símbolo dessa força; chego mais perto
do Décimo Primeiro Passo quando posso contemplar um horizonte infinito a partir
do convés de um navio. Fico reduzida ao meu tamanho real; sinto serenamente
que sou uma pequena parte de alguma coisa vasta e incompreensível.
Mas, o oceano não é um símbolo bastante frio? Sim. Será, penso eu, que seu
orgulho enxergava os peixinhos e também está interessado no destino de algum
indivíduo? Falaria eu com ele? Não. Certa vez, um pouco antes de parar de
beber, dirigi três palavras a Algo não humano. Na obscuridade que antecede a
manhã, levantei-me da cama, ajoelhei-me, juntei as mãos e implorei: "Ajude-me,
por favor". Então, dei de ombros e disse: "Com quem estou falando?" e voltei para
a cama.
Quando contei esse episódio a um dos meus padrinhos, uma mulher, ela disse:
"Entretanto Ele respondeu à sua prece".
Pode ser. Mas não senti isso. Não argumentei com minha madrinha, mas hoje
não ataco o mistério com a lógica pura. Se você puder me provar logicamente que
existe um Deus pessoal – e não acho que possa – nem assim me sentirei
inclinada a falar com uma Presença que não possa sentir. Se eu pudesse provarlhe logicamente que não existe nenhum Deus – e sei que não posso – a sua fé
verdadeira não ficaria abalada. Em outras palavras, as questões relativas à fé
residem inteiramente fora do domínio da razão. Existe algo além do domínio da
razão humana? Sim, acredito que exista algo.
Nesse ínterim, aqui estamos todos juntos – quero dizer todos nós e não apenas
os alcoólicos. Precisamos uns dos outros.
(Fonte: Viemos a Acreditar - Nova York, Nova York)
Fé
por Marco Leite
Fé pode ser definida de diversas formas, como: crença religiosa, conjunto de
dogmas e doutrinas que constituem um culto, a primeira virtude teologal: adesão
e anuência pessoal a Deus, seus desígnios e manifestações, firmeza na
execução de uma promessa ou de um compromisso, crença, confiança,
asseveração de algum fato ou testemunho autêntico que determinados
funcionários dão por escrito acerca de certos atos, e que tem força em juízo (isso
no caso de uma relação de trabalho).
Essas definições aí de cima são do Aurélio e estão colocadas de forma fria para
mim, um alcoolista em recuperação e praticante dos 12 Passos de AA. A palavra
FÉ, para mim, é a essência do 2º Passo, no qual ingressei depois de admitir que
tinha sido derrotado por uma ou mais garrafas de vodka, que a minha vida em
ruína não tinha mais controle, e que a derrota seria ainda pior se eu não aceitasse
que não tinha mais esse controle, pois nesse momento quem tinha o controle era
o álcool.
Era aceitar isso e pedir ajuda, pois sozinho eu não iria mais conseguir sair do
buraco onde me enfiei. O vazio que tomava conta do meu ser tinha que ser
preenchido e escolhi vir a acreditar, mas realmente acreditar, que alguém Superior
a mim poderia me devolver a sanidade e me guiar rumo a saída do poço sem
fundo que havia me metido.
Foi exatamente nesse momento que eu conheci a FÉ de um alcoolista que
realmente quer recuperação. Eu escolhi vir a acreditar que seria possível viver
longe do álcool e das drogas. E é esse vir a acreditar e a entrega a Deus que me
dão a FÉ necessária para prosseguir a minha caminhada. Sei perfeitamente que,
hoje, onde havia um grande vazio agora existe esperança e salvação para uma
pessoa que passou a acreditar que através da FÉ existia uma saída para ela.
Obrigado a todos e espero poder ter colaborado.
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