1 A INFLUÊNCIA DA AFETIVIDADE NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL JOICE GRASIELLE SANTOS CASTRO WIDES FONTES DOS SANTOS RESUMO A presente pesquisa refere-se à influência da afetividade no processo de aprendizagem nas séries iniciais do Ensino Fundamental, com o objetivo de analisar e avaliar a contribuição do fator afetividade no desenvolvimento cognitivo do aprendente. Partiu-se das questões: De que forma é possível associar a aprendizagem à prática educativa? A presença da afetividade na sala de aula favorece o desenvolvimento cognitivo do aluno nas séries iniciais do ensino fundamental. Seguiram-se como base de estudo as concepções dos teóricos Jean Piaget e Henri Wallon, os quais consideram o desenvolvimento da inteligência indissociável e complementar ao da afetividade. Teve como hipóteses de trabalho que crianças que convivem em ambientes com maior índice de afetividade apresentam maior rendimento escolar; o professor que inclui a afetividade em suas práticas pedagógicas promove em seus alunos maior vontade de aprender e com isso maior desenvolvimento; a afetividade é capaz de resgatar a dimensão de cuidados necessários ao processo educativo, influenciando de forma positiva o processo de aprendizagem. No sentido de conhecermos a prática pedagógica dos professores e com o intuito de verificar a existência da afetividade na dinâmica da sala de aula, foi realizada uma amostragem com alunos do 4º e 5º ano do Ensino Fundamental em uma escola pública municipal na cidade de Aracaju. A análise foi realizada através de entrevistas e questionários aplicados a alunos, pais e professores. Verificou-se um especial desenvolvimento dos alunos no processo de aprendizagem quando são tratados com afetividade, atenção e respeito ao invés de rigidez e autoritarismo. Nesse sentido, pudemos constatar que as interações que ocorrem no contexto escolar são marcadas pela afetividade em todos os seus aspectos. Palavras-Chave: Afetividade, Cognição e Desenvolvimento. INTRODUÇÃO A presente pesquisa tem como objetivo analisar e avaliar a influência da afetividade no processo de aprendizagem nas séries iniciais do Ensino Fundamental. O motivo pelo qual esse tema foi escolhido é que a maioria dos professores, por se prenderem ao tradicionalismo, não utiliza a afetividade como uma ferramenta de trabalho. Durante os últimos séculos a escola era totalmente 2 tradicionalista, onde o professor tinha o poder maior em relação ao ato de educar, e desvalorizava a afetividade no processo ensino-aprendizagem, uma vez que era o único portador do conhecimento e não permitia a socialização do mesmo, pois as pessoas, naquela época, agiam pela razão, deixando a emoção inexistente nos seus atos. Estes pressupostos sugerem investigar o significado e as contribuições da afetividade na dinâmica da sala de aula, como fator que potencializa o processo de ensino-aprendizagem, no âmbito da educação básica. Diante deste contexto investigativo emergiram algumas questões que nortearam a reflexão sobre o propósito desse trabalho. 1- A presença da afetividade na sala de aula favorece o desenvolvimento cognitivo do aluno nas séries iniciais do ensino fundamental? 2- De que forma é possível associar a aprendizagem à prática educativa? Tendo como hipóteses de trabalho: crianças que convivem em ambientes com maior índice de afetividade apresentam maior rendimento escolar; o professor que inclui a afetividade em suas práticas pedagógicas promovem em seus alunos maior vontade de aprender e com isso maior desenvolvimento; a afetividade é capaz de resgatar a dimensão de cuidados necessários ao processo educativo, influenciando de forma positiva o processo de aprendizagem. Para fazer a verificação das nossas hipóteses de trabalho utilizamos uma amostragem com alunos do 4º e 5º ano do Ensino Fundamental em uma escola municipal da cidade de Aracaju. A pesquisa foi dividida em três etapas, inicialmente foi feita uma observação sistemática e não participante da unidade de ensino, após a etapa de observação foram feitas entrevistas com professores e alunos, com o intuito de por meio do interrogatório dos informantes, analisar como a afetividade é vista por educadores e educandos. Na terceira etapa da pesquisa foi aplicado questionário a educadores e educandos com objetivo de obtermos respostas mais precisas, possibilitando medir com maior exatidão os dados necessários ao problema investigado. Após todas as etapas da pesquisa foi possível confirmar a hipótese de que alunos tratados com afetividade tanto na escola, quanto em casa apresentam maior desenvolvimento na aprendizagem. METODOLOGIA 3 Esse trabalho teve como objetivo verificar se a presença da afetividade na dinâmica da sala de aula favorece o desenvolvimento cognitivo do aluno nas séries iniciais do ensino fundamental e para isso foi fundamentada na análise bibliográfica e pesquisa de campo. De acordo com Cervo e Bervian (2002), a pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos, buscando conhecer e analisar as contribuições culturais ou cientificas do passado existente sobre um determinado assunto, tema ou problema. A coleta de dados foi feita com alunos, pais e professores do 4º e 5º anos do Ensino Fundamental, durante o turno da manhã, em uma escola da rede Municipal de Ensino, localizada na zona norte da cidade de Aracaju/SE. A pesquisa foi dividida em três etapas, inicialmente foi feita uma observação sistemática e não participante dos alunos das duas salas de aula da unidade de ensino, com duração de cinco dias, com o intuito de verificar as práticas pedagógicas utilizadas pelos professores e como os alunos reagem diante dessas práticas. A observação sistemática tem como característica o planejamento prévio e a utilização de anotação, de controle de tempo e da periodicidade...a observação não participante ocorre quando o observado deliberadamente se mantém na posição de observador e de expectador, evitando se envolver ou deixar-se envolver com o objeto da observação (CERVO e BERVIAN, 2002 p. 28) Após a etapa de observação, foram feitas as entrevistas com os professores das duas séries, com o intuito de, por meio do interrogatório dos informantes, analisar como a afetividade é vista pelos educadores, para que com isso pudéssemos fazer um confronto entre a teoria e a prática, que nos proporcionará o esclarecimento da questão norteadora do nosso projeto de pesquisa. Segundo Alves-Mazzotti (1999 apud Lakatos e Marconi 2009), a entrevista, por ser de natureza investigativa, “permite tratar de temas complexos, que dificilmente poderiam ser investigados adequadamente através de questionário, explorando-os em profundidade (p.68)”. 4 A análise das entrevistas foi feita de forma qualitativa, analisando os conteúdos das respostas dadas pelo sujeito investigado, organizando os conteúdos semelhantes, complementares e contraditórios presentes nas falas dos entrevistados, para que as informações possam ser interpretadas e codificadas. A metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento e etc. (LAKATOS e MARCONI, 2009 p.269). A terceira etapa da pesquisa esteve centrada na aplicação dos questionários a educadores e educandos com o objetivo de obtermos respostas mais precisas, possibilitando medir com maior exatidão os dados necessários ao problema investigado, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, interesses, expectativas e situações vivenciadas. Após conhecermos o aspecto afetivo na prática pedagógica nas duas séries de ensino, verificamos a influência da afetividade no processo de ensino/aprendizagem por meio de uma amostra com 24 alunos, sendo 12 (doze) de cada sala que estarão subdivididos em dois grupos, com os maiores e com os menores rendimento escolar. A amostragem foi feita através de sorteio. Onde os professores da turma indicaram os alunos que têm o maior desenvolvimento e os que apresentam menor rendimento. Diante da indicação foi feito o sorteio e os educandos escolhidos fizeram parte da amostragem, como os alunos ainda não tinham notas fizemos a analise das médias do ano anterior. Por intermédio da escola, entramos em contato e entrevistamos as famílias dos educandos selecionados, para que pudéssemos descobrir se os alunos escolhidos vivenciam a afetividade no seu cotidiano. Diante disso, fizemos a relação entre os dados e informações obtidas com os familiares dos educandos e seus respectivos boletins. Após todas as etapas da pesquisa, foi feita a análise de todo o material coletado durante a pesquisa de campo para que pudéssemos confirmar a hipótese de que alunos tratados com afetividade tanto na escola quanto em casa apresentam maior desenvolvimento na aprendizagem. 5 RESULTADOS O questionário de tipo fechado foi aplicado, com o intuito de obtermos respostas mais precisas, possibilitando medir com maior exatidão os dados necessários ao problema investigado, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, interesses, expectativas e situações vivenciadas. Foi nessa etapa que visualizamos as diferenças de práticas pedagógicas existentes entre os professores analisados. Quando um professor possui uma postura através da pedagogia inovadora o aprendizado é significativo, pois os alunos respondem de forma satisfatória aos estímulos feitos pelo professor. Porém, isso não ocorre da mesma maneira com educadores que ainda ministram uma pedagogia retrógada, onde só o professor é o dono do saber. Paulo Freire (1974 apud SALTINI 2008) diz que, para que uma educação seja válida, toda ação educativa deverá necessariamente ser precedida de uma reflexão sobre o homem, e uma análise profunda do meio de vida daquele que se quer educar, ou seja, daquele que se quer ajudar a educar. Sem essa reflexão, nos arriscamos a adotar métodos educativos não eficientes, nos quais, o aprendiz ficaria reduzido a simples condição de objeto da aprendizagem e não agente da mesma. Sem que seja feita uma análise do meio cultural concreto, corremos o risco de realizar uma educação pré-fabricada e castradora. Para ser válida, a educação deverá levar em conta que o fator primordial do homem é aquele de ser sujeito nas condições em que vive. Partindo desse pressuposto Saltinho (2008) afirma que educar é: “um processo que permite ao homem ser sujeito da ação e não o objeto de outro sujeito", ou muitas vezes o próprio objeto; um meio pelo qual o homem possa construir-se como pessoa ocupando seu potencial de sentir e pensar; uma iniciação à crítica, à interpretação e a transformação do mundo, inovando para o seu bem próprio e do outro. DESCRIÇÃO DE ENTREVISTAS APLICADAS AOS PROFESSORES 6 Professor da Turma A O professor entrevistado T.B.S. S é licenciado em pedagogia, e está tendo sua primeira experiência com a Tuma do 5° ano do ensino fundamental, o docente afirma estar muito entusiasmado com o seu primeiro contato com a sala de aula, procurando a cada dia dar o seu melhor. Quando questionado sobre o papel do professor nas series iniciais do ensino fundamental o educador T.B.S. S considera a construção no nível fundamental de ensino o contato inicial que os alunos têm verdadeiramente com a escola, e se logo no início os alunos aprendem uma experiência saudável certamente prosseguirão seus estudos “é muito importante esse primeiro contato, porque eu acredito muito que a evasão escolar dos outros períodos se dêem devido ao que eles viram no início da sua escolaridade” (T.B.S.S.). Levando em consideração a relação professor-aluno no contexto em que trabalha, o entrevistado considera essa relação muito importante, tentando manterse próximo aos seus alunos, contudo, sente que eles não estão acostumados a essa outra forma de olhar. O professor T.B.S.S. considera que é preciso quebrar o paradigma do professor como um ser “intocável” que esta acima dos alunos. “Eu estou tentando construir uma relação saudável com os meus alunos, porque se eu não tiver uma relação amigável com eles eu acho que fica mais difícil de trabalhar a questão de aprendizagem e se eu me colocar em um pedestal, o dono da verdade, onde eles não participam, não falam, fica um conteúdo vazio.” Questionado se os alunos trazem problemas de casa para sala de aula o educador T.B.S.S. afirma que os problemas estão nas entrelinhas, que não são ditos pelos alunos, mas, no convívio com cada um, acaba percebendo. Os gestos entregam algum problema. Uma forma que o professor utiliza para diagnosticar seus alunos é através do desenho, já que muitas vezes o real problema não é externado de forma tão aberta, os alunos muitas vezes apresentam somente os sintomas. O entrevistado considera que a escola não é uma ilha, são seres humanos complexos, e todos que estão nela têm um propósito e devido ao seu contexto de vida alguns apresentam um bom rendimento e outros nem tanto. 7 “Eu pedi a eles que fizessem um desenho que representasse o seu dia a dia e muitos representaram um policial com uma arma atirando no outro. Então, assim, é um contexto bem nítido de violência, não sei se vivenciado em casa, ou na rua, que eles acabam trazendo para sala de aula.” Em relação à influência da afetividade no processo de aprendizagem o professor T.B.S.S. respondeu que afetividade tem grande influência nesse processo. “É mais interessante eu aprender com uma pessoa que eu tenho simpatia, do que uma que eu não tenho tanto entrosamento, então se eu tenho uma relação próxima com meus alunos fica mais fácil de eles acreditarem e prestarem atenção em que eu estou dizendo.” Professora da Turma B A professora entrevistada M.J.A. é graduada em pedagogia, aposentada pela rede Estadual de ensino, atua há 22 anos na rede municipal, atualmente no 4° ano, no período da manhã. Quando questionada sobre o papel do professor nas primeiras séries do ensino fundamental, afirma que principalmente o desenvolvimento dele “quem trabalha em escola pública tem que ver o aluno como um todo, não só no desenvolvimento da aprendizagem, mas também nos problemas que eles trazem de casa”. Tendo em vista a relação professor aluno no seu contexto de trabalho, M.J. A. alega que os alunos são criados soltos, por conta disso se deve ter muito cuidado. A professora diz que eles são muito criativos, eles chegam em casa e inventam coisas, a mesma relata um episódio ocorrido em sala de aula: “Aquele menino é a terceira vez que repete o ano comigo, eu pedi para ele trocar de lugar, por que ele é grande e prejudica a visão dos pequenos, sabe o que ele fez? Disse a mãe que não estava aprendendo porque não estava vendo o quadro, aí a mãe foi reclamar de mim para a direção. É muito difícil o relacionamento com eles.” A entrevistada se considera uma professora afetiva, afirmando procurar fazer o máximo que pode. “Eu posso até parecer muito durona, mas é que a gente 8 precisa botar uma certa pressão porque senão vira bagunça (risos), então a gente com jeito chega lá”. Com relação aos alunos trazerem problemas de casa para o ambiente escolar M.J.A. responde que, os alunos trazem sim! Seus problemas familiares para a sala de aula, tudo que eles vêm em casa trazem para a escola. A professora considera que o resultado negativo na aprendizagem dos alunos deve-se a família, pois eles não têm ajuda em casa, “é muito difícil manter o contato com os pais, eles são muito ausentes, para eles virem aqui só em uma situação como essa”, afirma a professora se referindo à entrega dos uniformes completos doados pela prefeitura para todos os alunos. Ao responder sobre a influência da afetividade, a professora afirma ter conhecido a importância da afetividade na relação ensino-aprendizagem durante sua formação, responde que, claro a afetividade influencia, porém não consegue explicar que influência seria essa, de que forma ela acontece, retomando novamente a questão da família “eles transportam tudo o que eles têm na vida da casa deles, eles são aqui e olhe se não for pior, porque, assim, já que eles não encontram afeto em casa, na escola eles procuram extravasar”. Descrição de entrevistas aplicadas aos Pais Com o objetivo de fazermos a relação entre os dados obtidos da escola com o contexto familiar dos alunos entrevistamos os pais daqueles com maior e menor rendimento escolar. A entrevista aplicada aos pais foi composta por sete perguntas direcionadas a verificação da forma como a afetividade é vivenciada no ambiente familiar. Para que a identidade dos que colaboraram com a pesquisa seja preservada usaremos somente as iniciais dos entrevistados, será feita apenas a indicação da turma a qual o filho (a) do entrevistado (a) pertence. Entrevistada M.L.S. mãe do aluno J.V.S. estudante da turma A (apresenta bom desenvolvimento na aprendizagem) Quando questionada sobre o desempenho do filho na escola a mãe informou que o filho vai bem e que é muito estudioso, informou também que quanto 9 às tarefas escolares, ela ajuda o filho no que sabe, porém não precisa ajudar muito, pois o filho faz banca no horário contrário ao da escola. M.L.S. nos informou que participa sempre das reuniões, porque gosta de saber sobre o seu filho. Quando perguntada se costuma brincar com o filho e quais as brincadeiras ela nos respondeu: “Às vezes, não sou muito de brincar”. M.L.S. afirmou também conversar com o filho sobre tudo, sendo que para ela afeto é amor, carinho e amizade. Entrevistado J.S.S. pai do aluno C.S.S. estudante da turma A (apresenta baixo desenvolvimento na aprendizagem) J.S.S. nos relatou que sua esposa abandonou a família e além de C.S.S. tem mais uma filha que convive com a avó paterna. Quando perguntado se costuma participar das reuniões escolares J.S.S. respondeu: “Nunca participei não, deixo ele aqui todos os dias e pronto, depois venho buscar”. J.S.S. nos informou ainda que costuma conversar com seu filho sobre o interesse dele na escola, o pai relatou que o filho tem muita preguiça, “Tem uma prima que quer ajudar no dever, mas ele não quer e começam a ‘arengar'". Perguntado se costuma brincar com seus filhos, o entrevistado informou que: “É muito difícil, a gente senta no sofá e brinca na televisão”. Quando perguntamos ao entrevistado sobre o que é afeto o pai de C.S.S. nos relatou que não sabe o que isso significa. Entrevistada E.M.T. tia do aluno A.F.A. estudante da turma A (apresenta baixo desenvolvimento na aprendizagem) E.M.T. convive com o sobrinho desde que ele nasceu, pois, a mãe o abandonou e como ela não pode ter filho, o cria como tal. Perguntada sobre o desenvolvimento do filho na escola a entrevistada nos informou que ele vai bem. Com relação à participação nas reuniões da escola, ela nos relatou que costuma participar das reuniões de pais porque: “É bom para saber como ele vai na escola”. 10 Quando questionada se costuma conversar com o sobrinho e quais os assuntos E.M.T. nos disse que: “Sim. Drogas, sexo e sobre o mundo lá fora”. Tendo em vista o que é afeto M.E.T. considera-o como amor, respeito e carinho. Entrevistada M.A.S. avó da aluna J.A.S. estudante da turma B (apresenta baixo desenvolvimento na aprendizagem) M.A.S. mora na mesma casa que J.A.S. e mais outros três netos. Mas M.A.S. informou que sua neta apresenta um bom desenvolvimento na escola, porém ela não a ajuda nas atividades escolares, pois não sabe ler, quem ajuda nas atividades escolares é uma das netas mais velhas. Contudo J.A.S. sempre chega à escola com os deveres sem responder e cada dia inventa uma nova desculpa para a professora. Quando questionada se costuma brincar com a neta e quais as brincadeiras a entrevistada respondeu que brinca, porém não soube informar quais as brincadeiras. M.A.S. nos relatou que costuma conversar com a neta sobre o que é a vida. Para M.A.S. afeto significa carinho e amor. Entrevistado J.N.S. pai da aluna C.A. S. estudante da turma B (apresenta bom desenvolvimento na aprendizagem) J.N.S. tem outros dois filhos além de C.A.S. Quando questionado se ajuda a filha nas tarefas de casa o entrevistado nos informou que não em tudo, “Tenho só até a 4° série, mas, fiscalizo sempre se ela fez o dever”. Perguntado se participa das reuniões escolares, o pai entrevistado nos informou que esse é o primeiro ano de sua filha nessa escola e até agora não teve nenhuma reunião, mas sempre vai conversar com a professora para saber como ela está. Com relação ao desenvolvimento da filha J.N.S. relatou que a filha vai bem. Quando questionado se costuma brincar com a filha o entrevistado disse que sim, “a gente costuma brincar de brincadeiras normais e às vezes de bola”. 11 Tendo em vista os assuntos que J.N.S. costuma conversar com sua filha ele relatou que conversam sobre assuntos de colégio e obediência. Quando questionado sobre o que é afeto o entrevistado diz não saber. Entrevistada A.S.C. mãe da aluna J.G.C. estudante da turma B (apresenta baixo desenvolvimento na aprendizagem) A.S.C. tem mais três filhos além de J.G.C. Quando questionada sobre o desenvolvimento da filha na escola, a entrevistada garante que a filha não vai muito bem na escola, porém ela não ajuda nas tarefas escolares “Saio cedo para trabalhar e quando chego em casa já estou cansada e tenho que organizar as coisas para o outro dia”. Perguntada se participa das reuniões escolares, a entrevistada informou que ainda não teve reunião esse ano, mas que costuma mandar o filho mais velho. Quando questionada sobre os assuntos que conversa com a filha em casa, a entrevistada nos disse que conversa pouco, pois o tempo é curto, quando conversam é sobre coisas que aconteceram no dia. Com relação às brincadeiras que costuma brincar com os filhos A.S.C. respondeu que tem coisas mais importantes para fazer que brincar. Ao ser indagada sobre o que é afeto A.S.C. afirma ser carinho e amor. CONCLUSÃO A partir da análise de toda informação coletada durante a pesquisa percebeu-se que a dimensão afetiva vem sendo abordada de diferentes maneiras, até mesmo contraditórias. Tivemos a oportunidade de estar em contato com dois professores, totalmente diferentes em suas práticas pedagógicas, o que nos possibilitou fazermos um confronto de qual atitude pedagógica mantida pelo docente perante os seus alunos tem os resultados mais favoráveis no decorrer do processo de aprendizagem. Durante a observação e a realização dos questionários e entrevistas pode-se perceber um maior envolvimento afetivo com seus educandos por parte do professor da turma A, o mesmo é bastante comprometido com a aprendizagem dos 12 seus alunos, apresenta idéias inovadoras enquanto que a professora na turma B é autoritária e conservadora, mantendo sempre os alunos enfileirados, ministrando a aula sempre da mesma forma. O resultado da prática pedagógica de ambos os professores foi refletido na resposta dos alunos aos questionários e no desenvolvimento cognitivo dos mesmos. É notória a fragilidade da aprendizagem dos alunos da turma B e o medo que eles possuem da professora, diferente do que acontece com a turma A, na qual os alunos interagem, participam espontânea e efetivamente. Os dados demonstram que, quando professores e alunos reconhecem seu papel na dinâmica da sala de aula o ambiente escolar fica equilibrado e acolhedor, instigando o aprendente a participar ativamente do processo, e certo que as relações entre as pessoas não são sempre premiadas pela tranqüilidade e pela suavidade. Os fenômenos afetivos referenciam-se igualmente aos estados de raiva e ansiedade. Destacamos, ainda, que promover relações harmoniosas em sala de aula não implica que o professor tenha de se destituir de sua autoridade e hierarquia inerentes ao seu papel, e muito menos aceitar tudo que é feito pelo educando, sem interferir. Não existe incompatibilidade entre estes aspectos. Os resultados obtidos na pesquisa mostram que o arranjo físico da sala de aula, ou seja, a forma de dispor as carteiras na sala é um aspecto da prática pedagógica que pode contribuir para a aprendizagem dos alunos e, consequentemente, para uma relação positiva entre os aprendentes. Pode-se perceber que a turma A, na qual o professor organizava a sala em circulo e em duplas, proporcionava aos educandos melhores condições para apropriação dos conteúdos, além de estimular uma relação prazerosa entre eles. As informações relatadas mostram que mesmo afetividade sendo um fator de extrema importância na prática pedagógica, alguns educadores ainda desvinculam a relação da afetividade da sua prática educativa, enquanto outros se esforçam para perceber o que se passa com seu educando, considerando a afetividade como um fator determinante na construção do conhecimento. Outro aspecto relevante sobre o qual se pode refletir, é que a escola é o espaço onde a criança vai desenvolver sua potencialidade, transformar ou concretizar a imagem que traz de si mesmo. Por isso, ela necessita de confirmação 13 a respeito do próprio trabalho, de intervenções que a motivem para a realização, e enfim, de acolhimento às suas necessidades, uma vez que a escola é um lugar privilegiado para a socialização, onde as relações afetivas possuem substancial valor. Destacamos na escola pesquisada, tentativas de utilizar o fator afetividade na relação com o cognitivo. As respostas obtidas através dos questionários e entrevistas confirmam nossas hipóteses que professores que incluem a afetividade na sua pratica pedagógica promovem em seus alunos maior vontade de aprender, maior desenvolvimento e ainda que a afetividade seja capaz de resgatar a dimensão de cuidados necessários ao processo educativo, influenciando de forma positiva o processo de aprendizagem. Foi possível identificar, também, que os educandos que possuem acompanhamento em casa apresentam maior desenvolvimento e comprometimento, mesmo que os pais não os ajudem efetivamente, os alunos sentem-se motivados pelo fato dos pais estarem preocupados com sua aprendizagem a maioria dos entrevistados recebe algum tipo de ajuda para fazer a lição de casa. A alfabetização emocional inicia-se na família e posteriormente, amplia-se na escola, por conta disso, família e escola não podem estar dissociadas uma da outra devendo ser concordes nas ações que demandam, pois o mais importante é o educando. Os dados dessa pesquisa confirmam que a afetividade está associada à cognição e influencia de maneira positiva e significativa o processo de aprendizagem. O educador é o grande responsável neste processo, entre o afeto e cognição, devendo o professor mudar seu olhar para a dinâmica da sala de aula tanto no que diz respeito a suas posturas e diretrizes, como também posturas e diretrizes dos alunos, já que a atividade postural do aluno, a expressividade dos gestos revelam informações importantes sobre seu estado interno. Assim, quanto melhores forem as condições de se cultivarem sentimentos mais conscientes e profundos serão os relacionamentos, promovendo uma aprendizagem significativa. A função da emoção na ação educativa é a de abrir caminho para a aprendizagem que vai ao encontro das necessidades, interesses e problemas reais das crianças e que resulta em novos significados transformando sua maneira de ser, possibilitando a construção de novas ideias. 14 REFERÊNCIAS BERVIAN, Pedro Alcino; CERVO, Amado Luiz. Metodologia Científica. 5ª Ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. DANTAS, Heloysa; OLIVEIRA, Marta Kahl de; TAILLE, Yves de La. Piaget, Vygotski, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. 5 Ed. São Paulo: Atlas, 2009. SALTINI, Cláudio J. P. Afetividade e Inteligência. 5 Ed. Rio de Janeiro: Wak, 2008.