Gestão do Conhecimento nas Escolas Técnicas Profissionalizantes: as Escolas Ensinam, mas Como Será que Aprendem? Autoria: Gilmar Luiz Colombelli, Adriana Porto, Graziela Dias de Oliveira RESUMO O principal objetivo deste artigo é identificar como ocorre o processo de Gestão do Conhecimento empregado nas Escolas técnicas profissionalizantes de um município da região central do Rio Grande do Sul. Além disso, verifica a aplicabilidade do conhecimento gerado à sua realidade interna. O aporte teórico utilizado para a operacionalização desta pesquisa, foi o modelo da Espiral do Conhecimento de Nonaka e Takeuchi (1997). A chamada espiral de criação do conhecimento tem início com a socialização, processo de conversão de novos conhecimentos tácitos por meio de experiências compartilhadas em interações sociais e técnicas. Por ser de difícil formalização, este tipo de conhecimento só pode ser obtido por meio de experiências diretas e ações de caráter mais prático. O conhecimento tácito criado é articulado na externalização, onde ele é explicitado e compõe base conceitual para produção de novos conhecimentos na forma de imagens e documentos. O processo de combinação consiste na reunião, edição e processamento de conhecimentos explícitos gerando conhecimentos explícitos mais complexos ou sistematizados que são, por suas vezes, disseminados na organização ou comunidade. Por fim, no processo de internalização, o conhecimento explícito, materializado, é aplicado, usado em experiências práticas e compõe a base cognitiva para novos processos. Na pesquisa adotou-se o método qualitativo e os dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas individuais com o (a) diretor (a) e três membros do corpo docente de três escolas selecionadas, através de uma amostra nãoprobabilística intencional, além de fontes documentais. Para a sistematização e interpretação dos dados foi adotada a análise de conteúdo. Os resultados da pesquisa evidenciam que as escolas B e C, privadas, possuem maior efetividade nos processos de aplicação do modelo da espiral do conhecimento, através das práticas dos quatro modos de conversão do conhecimento. Em relação a escola A, pública, percebeu-se um menor nível de aplicabilidade dos processos de criação do conhecimento. Assim, concluiu-se que, no que se refere a contextualização de cada unidade pesquisada, a escola A carece de dar mais atenção à aprendizagem em grupo, já a escola B, a partir de uma nova gestão, apresenta aplicação básica da Espiral do Conhecimento e a escola C em vários aspectos analisados (socialização, externalização e combinação) serve como benchmarking para as demais. Em função do exposto, salienta-se que as três escolas analisadas possuem a aplicação da chamada espiral do conhecimento, porém, é visível a maior utilização por parte das escolas B e C dos referidos processos. 1 1 INTRODUÇÃO À medida que o conhecimento e a inovação tornam-se mais importantes para o sucesso competitivo, a crescente insatisfação com as estruturas organizacionais tradicionais não surpreende (NONAKA e TAKEUCHI, 1997). Portanto, autores como Nolan e Croson (1996) sugerem que os gestores e funcionários se preparem para modificar estruturas departamentais rígidas baseadas em tarefas, promover e assimilar a necessidade do aprendizado contínuo, ampliar as habilidades de resolução de problemas e implementar equipes baseadas em projeto como forma dominante de executar o trabalho. Percebe-se na literatura certo consenso de que a marca das organizações de sucesso no futuro será a capacidade de aprender (ADLER e COLE, 1993). Atualmente, gerentes seniores e educadores de negócios apontam o sufocante impacto das estruturas organizacionais nos esforços de melhorar o desempenho organizacional, esforços esses impulsionados pelo processo de abertura global que determina que quanto mais uma organização se envolve em mercados de concorrência global, mais seu sucesso depende de sua habilidade em responder rápida e eficientemente às mudanças. Por isso, existe uma grande necessidade em redesenhar as organizações para que sejam capazes de aprender (MCGILL, SLOCUM e LEI, 1993). A aprendizagem organizacional se apresenta, portanto, como uma maneira de viabilizar a sobrevivência através da catalisação de um ambiente interno onde os problemas da empresa podem ser resolvidos de forma inovadora e as soluções registradas na sua memória. Neste contexto , de grandes mudanças, as organizações, de uma forma geral, começaram a se preocupar com um processo de renovação contínuo. Esse processo transformou e fortaleceu a área da gestão do conhecimento, que tem o objetivo de auxiliar na criação e a disseminação de conhecimentos em ambientes organizacionais e tem como principal foco o indivíduo e o grupo, já que a produção do conhecimento é própria da natureza humana (VON KROGH, 2001). Este trabalho, por sua vez, visa identificar o processo de Gestão do Conhecimento empregado nas Escolas técnicas/profissionalizantes em um município da região central do Rio Grande do Sul, verificando a aplicabilidade do conhecimento gerado à sua realidade interna. Tendo em vista a necessidade de profissionalização de pessoas para atuar neste mercado e, considerando que este campo de atuação necessita estabelecer um direcionamento específico e próprio nos seus processos gerenciais, para tanto, esse estudo foi baseado no seguinte problema de pesquisa: “Qual (is) procedimento(s) a escola utiliza para realimentar o seu próprio potencial intelectual?” Em função do problema apresentado foram definidos os seguintes objetivos de pesquisa: levantar as metodologias relativas à Gestão do Conhecimento existentes no referencial teórico; contextualizar cada organização pesquisada, resgatando aspectos históricos, culturais, sociais e econômicos e relativos à Gestão do Conhecimento; analisar a Gestão do Conhecimento das Escolas sob a luz do modelo apresentado pelos autores Nonaka e Takeuchi (1997) e, propor uma revisão e/ou reestruturação no gerenciamento da Escola, a partir da identificação das características de Gestão do Conhecimento. A principal justificativa para este estudo é a relevância do tema gestão do conhecimento nas escolas técnicas. A escolha desse tipo de organização ancorou-se na necessidade de observar o comportamento do aprendizado ou o processo de transformação do conhecimento individual em coletivo e a aplicabilidade do conhecimento organizacional em seu desempenho. 2 2 REFERENCIAL TEÓRICO Esta seção traz o referencial teórico, o qual fundamentou a elaboração e execução deste estudo. Aborda o conceito fundamental de Gestão do Conhecimento, os modelos de Gestão do Conhecimento e o modelo de Nonaka e Takeuchi (1997). 2.1 Conceito de Gestão do Conhecimento De acordo com Drucker (2000), estamos ingressando no terceiro período de transformação: a organização de comando e controle, de departamentos e divisões, é convertida em organização do conhecimento e isto se constitui num desafio gerencial. Gestão do conhecimento é o processo que se propõe a estruturar a informação em geral, garantindo o seu controle e facilidade de acesso no intuito de atingir a excelência organizacional. Ainda para Lacombe e Heilborn (2003) a gestão do conhecimento pode ser definida como o conjunto de esforços ordenados e sistematizados visando criar novo conhecimento, difundi-lo na organização para os que dele precisam e incorporá-lo a produtos, serviços e sistemas, bem como protegê-lo contra o uso indevido. 2.2 Modelos de Gestão do Conhecimento Existe um grande número de autores que trabalham sobre o tema gestão do conhecimento. Nesta etapa do trabalho apresentam-se alguns destes autores, buscando classificá-los de acordo com a ordem crescente de relevância para este estudo. O modelo proposto por Lacombe e Heilborn (2003, p. 493 e 494) provê a gestão do conhecimento através de quatro processos: geração, organização, desenvolvimento e distribuição do conteúdo: • geração: identificar o conteúdo desejado e incentivar as pessoas a contribuírem com idéias. Tanto barreiras tecnológicas como culturais e psicológicas têm de ser vencidas. • organização: uma vez que a informação foi coletada, deve ser organizada e ordenada para ser representada e recuperada eletronicamente com rapidez e facilidade. • desenvolvimento: a seleção e o refinamento do material para aumentar seu valor para os usuários. Material em excesso polui a informação e o conhecimento, dificultando seu uso e recuperação. • distribuição: forma como as pessoas acessam o material. Existem duas maneiras objetivas: tornando o material fácil de ser encontrado e encorajando seu uso. Os três últimos processos não pressupõem outra forma de guarda e recuperação de informações que não seja por meio de computadores interligados em rede. A seguir Fleury e Fleury (1997, p. 23) apresentam o seguinte modelo de gestão do conhecimento. Para Chiavenato (2004) o conhecimento não pode ficar ao sabor do acaso nem das oportunidades. O aprendizado e o desenvolvimento devem ser feitos nas atividades do dia-a-dia para associa o que se aprende ao que se faz na prática. O aprendizado deve ser organizado e contínuo, envolvendo todos os membros da organização e não apenas alguns deles. Fleury e Fleury (1997, p. 23) afirmam que o processo de aprendizagem refere-se à aquisição de conhecimento e habilidades e o de memória ao de retenção desses conhecimentos. Garvin (1993) apud Fleury e Fleury (1997) propõe cinco caminhos através dos quais a aprendizagem organizacional pode ocorrer: 3 • resolução sistemática de problemas: esta atividade, segundo o autor, se apóia a solução de problemas, que nos últimos anos ganhou grande destaque através dos princípios e métodos dos movimentos de qualidade. Suas idéias principais são hoje universalmente conhecidas: diagnóstico feito com métodos científicos, uso de dados para tomada de decisões e uso de ferramental estatístico para organizar as informações e proceder a inferência; • experimentação: esta atividade envolve a procura sistemática e o teste de novos conhecimentos; para isto o uso do método científico é essencial. Diferentemente da resolução de problemas, porém a experimentação usualmente é motivada por oportunidades de expandir horizontes e não pelas dificuldades correntes; • experiências passadas: as organizações precisam rever seus sucessos e fracassos, avalia-los sistematicamente e gravar as lições de forma acessível a todos os membros; • circulação de conhecimento: o conhecimento precisa circular rápida e eficientemente por toda a organização; novas idéias têm maior impacto quando são compartilhadas coletivamente do que propriedade de uns poucos; • experiências realizadas por outros: a observação das experiências realizadas por outras organizações pode constituir importante caminho para a aprendizagem (o benchmarking tem sido realizado como uma estratégia importante para se repensar a própria organização). As organizações de aprendizagem têm sua abordagem aprofundada sob a ótica das Cinco Disciplinas. Para Senge uma organização de aprendizagem é aquela que está continuamente expandindo sua capacidade de criar o futuro, onde surgem novos e elevados padrões de raciocínio, as pessoas aprendem continuamente a aprender em grupo (1990, p. 11). Assim, as organizações de aprendizagem devem desenvolver "cinco disciplinas", quais sejam: • raciocínio sistêmico: constitui um modelo conceitual, composto de conhecimentos e instrumentos, que visam melhorar o processo de aprendizagem como um todo, e apontar futuras direções para aperfeiçoamento. É uma disciplina para ver o conjunto, uma estrutura para ver inter-relações e padrões de mudança. • maestria pessoal: através do auto-conhecimento, as pessoas aprendem a clarificar e aprofundar seus próprios objetivos, a concentrar esforços e ver a realidade de uma forma objetiva. Possibilita-nos esclarecer as coisas que são realmente importantes, levandonos a viver com as nossas mais altas aspirações. É o espírito da organização de aprendizagem. • modelos mentais: são idéias profundamente enraizadas, generalizações e mesmo imagens que influenciam o modo como as pessoas vêem o mundo e suas atitudes. Modelam o nosso modo de agir, controlam nossa percepção. • objetivo comum ou visões partilhadas: objetivos compartilhados por um grupo de pessoas, criam um sentimento de coletividade que permeia a organização e abre espaço para a coerência, tornando as pessoas mais aptas a se empenharem em grandes questões. Os objetivos comuns têm como base os objetivos pessoais. • aprendizagem em grupo: é o processo de alinhamento e desenvolvimento da capacidade de um grupo criar os resultados que seus membros realmente desejam, nos grupos em que as habilidades coletivas são maiores que as individuais, desenvolvem-se a capacidade para a ação coordenada. A aprendizagem em grupo começa pelo diálogo, com a capacidade dos membros do grupo em propor idéias e participar da elaboração de uma lógica comum. Abordadas as Cinco Disciplinas de Senge (1990) apresenta-se o modelo de Gestão do Conhecimento apresentado por Nonaka e Takeuchi (1997). Este modelo foi a base bibliográfica para elaboração e execução de toda a pesquisa, já que o tema Gestão do 4 Conhecimento apresenta uma série de modelos, preferiu-se focalizar em um somente, visando percepção aprofundada da teoria exposta. 2.3 O Modelo de Nonaka e Takeuchi O conhecimento é explícito e tácito, admitir o valor do conhecimento tácito ou descobrir como utilizá-lo é o principal desafio de uma organização criadora do conhecimento, exigindo amplas conversas e bons relacionamentos pessoais. Esta característica de mutabilidade e de especificidade em relação ao contexto é que transforma este conhecimento em ferramenta poderosa para a inovação; consistindo desafio criar condições para o desenvolvimento dessa fonte criativa. A eficácia da criação de conhecimento depende de um contexto capacitante. Um espaço compartilhado que fomente novos relacionamentos, podendo ser físico, virtual e/ou mental. O conhecimento é dinâmico, relacional, baseado na ação humana, depende da situação e das pessoas envolvidas e não de verdades absolutas e de fatos tangíveis. Finalmente, a criação de conhecimento organizacional envolve cinco fases principais: compartilhamento do conhecimento tácito, criação de conceitos, justificação de conceitos, construção de protótipos e nivelação do conhecimento. Nonaka e Takeuchi (1997) apresentam na dimensão ontológica – adiante receberá maior ênfase – em que níveis as entidades criadoras do conhecimento se dão: individual, grupal, organizacional e interorganizacional. Esses níveis interagem mútua e continuamente, desenvolvendo o processo de cinco fases da criação do conhecimento organizacional: • compartilhamento do conhecimento tácito - corresponde à socialização; o conhecimento rico e inexplorado que habita dentro dos indivíduos precisa ser amplificado dentro da organização; • criação de conceitos - o conhecimento tácito compartilhado por uma equipe auto-organizada é convertido em conhecimento explícito na forma de um novo conceito, um processo semelhante à externalização; • justificação de conceitos - o conceito criado precisa ser justificado e a organização determina se vale realmente a pena perseguir o novo conceito; • construção de um arquétipo - recebido o sinal verde, os conceitos são convertidos em arquétipos que podem assumir a forma de um protótipo; • difusão interativa do conhecimento - amplia o conhecimento criado, incluem clientes, distribuidores, universidades, etc., intercâmbio constante de conhecimento com o ambiente externo. Os autores citados anteriormente, afirmam que o conhecimento é criado e expandido via interação social, quem aprende são os indivíduos e este saber pode ser alavancado pela organização, a qual não pode criar conhecimento por si mesma, pode dar um suporte para indivíduos criativos desenvolver-se, pode melhorar o contexto, ampliar o conhecimento criado e cristalizado nas redes de trabalho organizacional. A socialização é a transformação do conhecimento tácito em conhecimento tácito, é um processo de compartilhamento de experiências e, a partir da criação do conhecimento tácito, como modelos mentais ou habilidades técnicas compartilhadas. O segredo para a aquisição do conhecimento tácito é a experiência. Sem alguma forma de experiência compartilhada, é extremamente difícil para uma pessoa projetar-se no processo de raciocínio do outro indivíduo. (NONAKA e TAKEUCHI, 1997, p. 69). 5 A externalização é um processo de articulação do conhecimento tácito em conceitos explícitos. É um processo de criação do conhecimento perfeito, na medida em que o conhecimento tácito se torna explícito, expresso na forma de metáforas, analogias, conceitos, hipóteses ou modelos. O modo de externalização é um processo de articulação do conhecimento normalmente é visto no processo de criação do conceito e é provocado pelo diálogo ou pela reflexão coletiva. Um método utilizado com freqüência para criar um conceito é combinar dedução e indução (NONAKA e TAKEUCHI, 1997, p. 71). Dentre os quatro modos de conversão do conhecimento, a externalização é a chave para a criação do conhecimento, pois cria conceitos novos e explícitos a partir do conhecimento tácito. De acordo com Nonaka e Takeuchi (1997) a metáfora, citada anteriormente, é uma ferramenta importante para a criação de uma rede de novos conceitos, esse processo criativo e cognitivo continua à medida que pensamos nas semelhanças entre os conceitos e sentimos um desequilíbrio, incoerência ou contradição em suas associações. A combinação é um processo de sistematização de conceitos em um sistema de conhecimento, potencializa o conhecimento explícito em conhecimento explícito. Esse modo de conversão do conhecimento envolve a combinação de conjuntos diferentes de conhecimento explícito. Nonaka e Takeuchi (1997, p.75) orientam: “Os indivíduos trocam e combinam conhecimentos através de meios como documentos, reuniões, conversas ao telefone ou redes de comunicação computadorizadas”. A educação formal que recebemos em um treinamento ou na Escola assume esta forma. A internalização é o processo de incorporação do conhecimento explícito no conhecimento tácito. É intimamente relacionada ao “aprender fazendo”. Quando são internalizadas nas bases do conhecimento tácito dos indivíduos sob a forma de modelos mentais ou know-how técnico compartilhado, as experiências através da socialização, externalização e combinação tornam-se ativos valiosos. De acordo com Nonaka e Takeuchi (1997) para que o conhecimento explícito se torne tácito, é necessária a verbalização e diagramação do conhecimento sob a forma de documentos, manuais ou histórias orais. Sendo assim: A documentação ajuda os indivíduos a internalizarem suas experiências, aumentando assim seu conhecimento tácito. Além disso, documentos ou manuais facilitam a transferência do conhecimento explícito para outras pessoas, ajudando-as a vivenciar indiretamente as experiências dos outros (ou seja, “re-experimentá-las”) (NONAKA e TAKEUCHI, 1997, p. 78). A chamada espiral de criação do conhecimento tem início com a socialização, processo de conversão de novos conhecimentos tácitos por meio de experiências compartilhadas em interações sociais e técnicas. Por ser de difícil formalização, este tipo de conhecimento só pode ser obtido por meio de experiências diretas e ações de caráter mais prático. O conhecimento tácito criado é articulado na externalização, onde ele é explicitado e compõe base conceitual para produção de novos conhecimentos na forma de imagens e documentos. O processo de combinação consiste na reunião, edição e processamento de conhecimentos explícitos gerando conhecimentos explícitos mais complexos ou sistematizados que são, por suas vezes, disseminados na organização ou comunidade. Por fim, no processo de internalização, o conhecimento explícito, materializado, é aplicado, usado em experiências práticas e compõe a base cognitiva para novos processos. 6 Na socialização os indivíduos compartilham conhecimento tácito através de conversas e de experiências conjuntas. É através da socialização que uma pessoa conhece o raciocínio da outra pessoa compartilhando com este seu raciocínio. Nonaka e Takeuchi (1997, p. 262) nos relata que "O modo de socialização começa com a formação de uma equipe cujos membros compartilham suas experiências e modelos mentais". Externalização é o uso do diálogo ou reflexão coletiva para articular o conhecimento tácito em conceitos explícitos. É a transmissão de insights, vivências e percepções dos indivíduos. Na opinião dos autores (1997, p. 73) “a externalização é a chave para a criação do conhecimento, pois cria conceitos novos e explícitos a partir do conhecimento tácito”. A utilização dos modos de conversão possibilita a criação de um espiral da criação do conhecimento, onde a cada transformação do conhecimento tácito para explícito e novamente para o tácito entre um grupo de indivíduos promove a ampliação do conhecimento. A inclusão de novos indivíduos no espiral da criação do conhecimento promove a criação do espiral da criação do conhecimento organizacional, conforme figura 4. Em termos restritos, o conhecimento só é criado por indivíduos. Uma organização não pode criar conhecimento sem indivíduos. A organização apóia indivíduos criativos ou lhes proporciona contextos para criação do conhecimento. Sendo que, segundo estes autores, a espiral do conhecimento surge quando a interação entre conhecimento tácito e conhecimento explícito eleva-se dinamicamente de um nível ontológico inferior até níveis mais altos. A seguir apresenta-se seção 3 – Método de Trabalho, a qual norteou os aspectos metodológicos desta pesquisa. 3 MÉTODO DE TRABALHO O presente estudo caracteriza-se por ser uma pesquisa qualitativa. Quanto ao objetivo do estudo, utilizou-se a pesquisa exploratória descritiva, que segundo Gil (2002) tem por finalidade proporcionar maior familiaridade com o problema, visando o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições. Já no que se refere ao procedimento técnico utilizado foi o estudo de múltiplos casos. Como lembra Gil (2002) “(...) se caracteriza pela análise profunda e exaustiva de um objeto ou poucos objetos. Ainda, segundo o autor, permite também um conhecimento mais amplo e detalhado de problemáticas mais complexas” (GIL, 2002). Por se tratar de um estudo de múltiplos casos foram analisadas três organizações educacionais localizadas na zona urbana de Cachoeira do Sul, pertencentes à 24ª Coordenadoria Regional de Educação, que se encontram no Corede Jacuí-Centro, onde todas trabalham com ensino técnico/profissionalizante de nível médio, a seguir definidas: • Escola A – Curso Técnico em Contabilidade; • Escola B – Curso Técnico em Segurança no Trabalho e • Escola C – Técnico em Administração. 3.1 Sujeitos da Pesquisa A seleção dos sujeitos da pesquisa foi alinhada com a perspectiva qualitativa, configurando-se assim como amostra não-probabilística intencional. Sendo assim, foram pesquisados o (a) diretor (a) e três membros do corpo docente de cada uma das Escolas, acima qualificadas, que oferecem Ensino Técnico/Profissionalizante em Cachoeira do Sul, a fim de analisar e confrontar a percepção desses sobre a Gestão do Conhecimento na prática cotidiana da organização. 3.2 Técnicas e Instrumentos de Coleta de Dados 7 A técnica de coleta de dados utilizada foi a entrevista semi-estruturada, visto que este trabalho apresentou cunho qualitativo. Minayo (2004) orienta que nesta técnica considera-se imprescindível a presença do pesquisador, portanto para a validação da coleta dos dados foi realizado o registro das entrevistas através de gravação, devido à necessidade posterior de transcrição dos dados. A entrevista utilizou-se de um roteiro, previamente enviado ao entrevistado, para que esse pudesse se preparar para responder às questões. Deu-se também liberdade para o entrevistado expor sua opinião, suas convicções e dúvidas. A entrevista semi-estruturada foi composta por cinco blocos, já que esta pesquisa abordou cinco variáveis como objeto de estudo. Os quatro primeiros blocos abordaram os modos de conversão do conhecimento (socialização, externalização, combinação e internalização), buscando identificar o entendimento dos participantes do tema e sua aplicabilidade à organização. O quinto bloco contemplou o tema da pesquisa Gestão do Conhecimento, visando averiguar o processo de criação, aquisição e proteção do conhecimento. Salienta-se que cada entrevistado recebeu uma codificação que ficou assim constituída: Diretor (a) da Escola A, B e C (DEA, DEB, DEC) e Professor da Escola A, B e C (P1EA, P1EB e P1EC), sendo que o número de professores foi até 3 (três) em cada uma das Escolas. 3.3 Tratamento, Análise e Interpretação dos Dados Para análise e interpretação dos dados das entrevistas utilizou-se a técnica denominada de análise de conteúdo descrita por Minayo (2004), que buscou descobrir relações e semelhanças entre o tema pesquisado. A freqüência das variáveis foi obtida a partir de uma categorização das mesmas. Após a realização das entrevistas com os diretores e professores das três escolas técnicas/profissionalizantes, foram codificadas, classificadas, categorizadas e transcritas todas as entrevistas. Realizou-se a análise das respostas às questões formuladas, estruturou-se um quadro comparativo entre a resposta do diretor e dos professores das Escolas A, B e C, com seus pares e um comparativo por cargo – diretores e professores. Realizado este procedimento, se deu início a confecção dos quadros que constituíram a exposição dos resultados do estudo, para posterior conclusão do mesmo. De acordo com o resultado da pesquisa, foram realizadas sugestões e/ou recomendações a cada uma das Escolas. 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Nesta seção apresenta-se a análise das variáveis da pesquisa: socialização, externalização, combinação, internalização e gestão do conhecimento, as quais foram coletadas através de entrevista semi-estruturada com o(a) Diretor(a) e três Professores das Escolas A, B e C. A seguir, passa-se à exposição dos resultados, analisando de forma comparativa as respostas dadas pelas três Escolas estudadas. A primeira variável a ser contemplada será a socialização. Notou que a principal técnica utilizada para a socialização do conhecimento utilizada pelas Escolas é a reunião. Na Escola A os pesquisados informaram que estas acontecem de forma longínqua e esporádica; na Escola B as reuniões se dão com uma periodicidade rígida – bimestrais (gerais), mensais (por curso) e quinzenais (para práticas de estágio); já na Escola C as reuniões são denominadas de capacitação continuada, e realizam-se de forma quinzenal. Ainda quanto à socialização, percebeu-se que na Escola A os professores devem ser pró-ativos, porque geralmente as informações não vêm até eles, eles que têm que ir ao 8 encontro dos dados que precisam, inclusive no que tange a situar o Professor na turma, que conteúdo continuar a ensinar, situação que não ocorre nas Escolas B e C. Estas duas Escolas têm suas reuniões periódicas justamente para tratar deste tipo de assunto, buscando desenvolver as habilidades técnicas do Professor nestas oportunidades. Na Escola A como alternativa encontrada, o conhecimento é buscado mais externamente do que internamente, ou seja, existem as reuniões, mas o conhecimento que embasa vem dos cursos, seminários e palestras que participam em outras instituições. As Escolas B e C, também participam destes eventos fora da organização, mas priorizam e dão ênfase ao conhecimento que é gerado internamente. A segunda variável contemplada é o modo de conversão do conhecimento: externalização. Nesta variável, os pesquisados da Escola A afirmam que a formalização e transferência do conhecimento ocorrem em cursos e treinamentos oferecidos fora da Escola; nas Escolas B e C acontece o mesmo, mas estas buscam promover eventos internos também. Nas três Escolas a maioria dos Professores trabalha em mais de uma instituição, seja de ensino ou não – específico em sua área de formação. No que concerne aos momentos para reflexão sobre o ensino-aprendizagem, na Escola A estas ocasiões inexistem em grupo, apenas praticam uma reflexão interna, aqueles Professores mais interessados a praticam; já na Escola B percebeu-se que a atividade principal tanto da socialização quanto da extenalização são as reuniões bimestrais, mensais e quinzenais; na Escola C todas as atividades realizadas são prestadas relatórios nas reuniões quinzenais. Na Escola A as avaliações sobre o oferecimento de novos cursos são empíricas, sem a utilização de instrumentos de avaliação específicos; já na Escola B faz-se a divulgação da Escola e dos cursos em feiras e eventos que ocorrem em Cachoeira do Sul, procura-se promover os cursos fora do município também, mas a Escola C possui a noção correta do mercado, do público que deseja atingir e utiliza-se dos meios de comunicação corretos para promover o curso. Contemplam-se agora as informações extraídas das entrevistas acerca da variável combinação, terceiro modo de conversão do conhecimento abordado nesta pesquisa. Iniciando sempre pela Escola A, a sistemática utilizada para disseminação do conhecimento são as conversas informais e as reuniões temáticas esporádicas; na Escola B e C observa-se que as reuniões periódicas também são as principais formas de dispersão das informações; ainda na Escola C existem os relatórios das atividades que são executadas. O conhecimento adquirido é comunicado, na Escola A, pelo Projeto PolíticoPedagógico e Plano de Curso, nas reuniões e oralmente em situações particulares ou individuais; já na Escola B há um Planejamento Estratégico, a Grade Curricular e outros documentos que comunicam mais o aprendizado do educando; na Escola C, assim como na Escola A, o Projeto Político-Pedagógico é um instrumento de comunicação, mas a Escola C possui um diferencial: o Relatório Anual de Atividades. No que se refere à oportunidade de reconfiguração e/ou ampliação do conhecimento, oportunidade de diálogo e reflexão, na Escola A os professores afirmam não haver esta chance, seu aperfeiçoamento e conhecimento são buscas constantes próprias, por acreditarem em ter um dever (ensinar), não há tempo para autocrítica, segundo eles há um distanciamento neste sentido. Analisando-se as Escola B e C percebeu-se uma situação contrária à Escola A, tudo é realizado nas reuniões, que são espaços destinados à avaliação das situações cotidianas da Escola, onde se podem melhorar, mudar ou extinguir conhecimentos e conceitos, visando uma melhor interação com o educando. 9 A seguir, analisa-se a último modo de conversão do conhecimento: a internalização. Na Escola A no que tange à documentação do conhecimento da Escola percebeu-se que estes são inerentes à vida escolar do educando: diários de classe, relatórios de bancas orais, o único instrumento utilizado para documentação das informações sobre os Professores e Diretora é a ata das reuniões; na Escola B utilizam-se também das atas, mas procede-se o arquivamento dos relatórios das visitas técnicas e dos certificados de cursos, palestras e seminários que o corpo docente participa; já na Escola C toda documentação materializa-se em relatórios das atividades que envolvem os Professores. Quando questionados acerca da existência de um banco de dados para armazenagem do conhecimento da Diretora e Professores, as Diretoras das Escolas A e B afirmam que há arquivos de todos os documentos que orientam o processo de ensino-aprendizagem e que visam sua melhoria, já os Professores desconhecem a existência do banco de dados; já na Escola C há um banco de dados físico que armazena os Relatórios Anuais de Atividades, acessível a todos que buscarem informações. No que concerne à re-experimentação dos conhecimentos armazenados notou-se que este inexiste nas Escolas A e B, pois se percebe que os conhecimentos são re-experimentados somente em nível estratégico, sendo que o operacional fica alheio a isto, na Escola B afirmam que a re-experimentação só é possível acontecer se for sugerido o tema como pauta de uma reunião; já na Escola C a intenção de reutilizá-los é válida: criar e inovar em cima do já foi feito. Para finalizar, a variável gestão do conhecimento que se constituiu no tema deste trabalho terá sua comparação exposta a seguir. Os entrevistados na Escola A quando inquiridos acerca do processo de criação, aquisição e proteção de novos conhecimentos responderam que estes acontecem nas reuniões e nas conversas de corredores, a pesquisadora considera tal processo não adequado, já que na Escola estes agrupamentos acontecem de forma parca e pouca; na Escola B as reuniões são objeto deste processo, mas nesta Escola tudo está em construção, já que a Direção é nova. Na Escola C os procedimentos e técnicas para tais objetivos estão ancorados nos relatórios anuais de atividades, relatórios de bancas, mural, intranet e home page da Escola. Quanto à estrutura utilizada para a obtenção da criação, aquisição e proteção de novos conhecimentos, as Escolas A, B e C apresentam em comum um Laboratório de Informática, uma Biblioteca, os registros em diários de classe, a internet; as Escolas B e C possuem ainda uma home page, na Escola B se encontra em construção. No que concerne às atitudes individuais e do grupo para atingir a criação, aquisição e proteção de novos conhecimentos notou-se que na Escola A que ambos os níveis, estratégico e operacional, estão empenhados a darem o seu melhor, mesmo sendo mal remunerados, mal incentivados, basta haver uma mudança de atitude coletiva, que parta da equipe diretiva da Escola, para que estes profissionais deslanchem. Notou-se o desejo insaciável nestes Professores da Escola A em fazer uma educação pública diferente, de qualidade. Na Escola B percebeu-se que apesar da Escola ter uma periodicidade boa de reuniões, a Diretora e os Professores sentem a necessidade de reuniões com uma periodicidade menor, que possibilite mais encontros para diálogo e reflexão. Já na Escola C se notou que a criatividade é a palavra de ordem nesta Escola, pois segundo os pesquisados serem copiados prova que são referência. Este ato da concorrência permite-lhes estarem sempre avaliando e reavaliando seus métodos e ajustando-se às exigências do mercado. Com a análise dos resultados acima expostos, percebeu-se que as reuniões é a forma mais recorrente para aplicação dos quatro modos de conversão do conhecimento, pode-se notar que a Escola A carece de dar mais atenção à aprendizagem em grupo; já a Escola B, 10 com sua nova gestão, percebeu-se que há indícios da Gestão do Conhecimento e a Escola C, em vários aspectos analisados serve como benchmarking para as demais. Notou-se ainda uma diferença muito grande nas Escolas quanto à sua dependência administrativa, percebeu-se que nas duas instituições privadas a Direção e Professores têm pensamentos e atitudes completamente diferentes da escola pública pesquisada, em termos de engajamento e participação nas atividades. A visão das organizações educacionais privadas é de melhoramento contínuo, buscando ampliar suas ações e não as retraindo. Em seguida, apresentam-se as conclusões e recomendações inerentes a esta pesquisa, visando assim o fechamento deste trabalho. 5 CONCLUSÕES Na base do processo da Gestão do Conhecimento em uma organização educacional está um profissional que precisa esclarecer continuamente o que é importante para seus educandos e aprender consecutivamente a enxergar com mais clareza a realidade do momento, o que gera a tensão criativa: assim é o “professor”. Geralmente, são indivíduos com alto nível de maestria pessoal, possuindo as seguintes características: têm um sentido especial de vida, a realidade do momento é um aliado, aprenderam a identificar e trabalhar com as forças da mudança, são profundamente inquisitivos, sentem-se ligados ao próximo e à vida em si, sentem-se parte de um processo criativo maior, vivem num modo contínuo de aprendizagem, são profundamente autoconfiantes. Sendo assim, conclui-se que não basta apenas boa vontade por parte da Direção de uma Escola para que os eventos aconteçam, mais do que nunca, é preciso ter o comprometimento e a participação de todos, visto que as equipes são unidades chave de aprendizagem, quase todas as decisões importantes de uma organização são tomadas em grupo. O estímulo à participação com certeza tornará a gestão das escolas mais democrática, justa e igualitária. É possível concluir também que este tipo de organização necessita de líderes corajosos, que possam pensar e agir de forma integrada, sistêmica e sentimental e, que não tenham medo de criar. Para isso, faz-se necessário alterar as relações de poder dentro da Escola, criando mecanismos eficazes para a transferência da aprendizagem individual para a grupal e desta para a organizacional. Pôde-se assim averiguar como uma instituição que ensina, aprende. Recomenda-se que as três escolas continuem a realizar suas reuniões e que, principalmente a escola A, dê maior atenção a esta técnica, a fim de que a capacidade de compartilhar o entendimento ou consciência, crie conhecimento promovendo a aprendizagem organizacional, visto que o conhecimento provê suporte à colaboração, permitindo transformar informação em vantagem operacional para a organização, num mercado competitivo. Nesse sentido, há uma constante preocupação em transformar dados em informação e conhecimento, de modo a promover um entendimento ou consciência geral de uma instituição educacional, bem como disponibilizar o resultado deste processo aos gestores por meio de um portal corporativo, permitindo a gestão de toda informação organizacional. A escola A precisa conscientizar-se que o conhecimento é criado e expandido via interação social, quem aprende são os indivíduos e este saber pode ser alavancado pela organização, a qual não pode criar conhecimento por si mesma, pode dar um suporte para indivíduos criativos desenvolver-se, pode melhorar o contexto, ampliar o conhecimento criado e cristalizado nas redes de trabalho organizacional, aí se configura a importância das reuniões esporádicas realizadas pela Escola tornarem-se periódicas como acontece nas demais Escolas pesquisadas. Sugere-se que no início as reuniões sejam realizadas de forma bimestral, evoluindo assim para mensais ou quinzenais, conforme a Diretora desejar. Para isso, é preciso 11 que todos – Professores, Supervisão e Equipe Diretiva “vistam a camiseta da Escola” e sintam-se num clima participativo para a criação do conhecimento. Isto exposto, sugere-se às gestoras das escolas A, B e C que seja criado na home page da Escola ou na intranet um banco de dados, com níveis de acesso por senha, que permitirá aos Professores e Direção anexar e acessar dados inerentes ao funcionamento da Escola como atas de reuniões, para a interação nas pautas; Relatórios Anuais de Atividades; o Projeto Político-Pedagógico; estatísticas de aprovação e reprovação por turma; enfim, todos os documentos que as Diretoras considerarem que devem ser socializados, para conhecimento de toda a organização de ensino, que dará suporte ao trabalho do Professor. Esta ação não será inviável, visto que todas as Escolas pesquisadas possuem estrutura para isso, basta contatar o suporte operacional para a realização de tal “obra”. Propõe-se também que os dados a serem colocados nesse banco sejam organizados e ordenados para serem representados e recuperados eletronicamente com rapidez e facilidade; deverá ocorrer a seleção e o refinamento do material para aumentar seu valor para os usuários. Portanto, sugere-se a seleção das páginas amarelas da Escola: quais os educandos atuais, potenciais e egressos; quais as habilidades e os conhecimentos disponíveis na Escola e por quem, entre outros; as lições aprendidas: check-list do que deu certo e do que deu errado nos projetos já realizados; o conhecimento adquirido nos projetos; decisões que foram tomadas de forma certa e errada e o porquê, por exemplo; e para finalizar incentivar as pessoas acessarem o material, ou seja, tornando o material fácil de ser encontrado e encorajando seu uso. Percebeu-se que as Escolas B e C estão caminhando para implantação da Gestão do Conhecimento, portanto, notou-se que ainda precisam ser implantados alguns procedimentos os quais possibilitarão tal ação como a experimentação: esta atividade envolve a procura sistemática e o teste de novos conhecimentos, para isto o uso do método científico é essencial, sendo motivada por oportunidades de expandir horizontes e não pelas dificuldades correntes (um dos Professores sugeriu a publicação interna de anais); e as experiências passadas: as Escolas precisam rever seus sucessos e fracassos, avaliá-los sistematicamente e gravar as lições de forma acessível a todos os membros. Sugere-se às três Escolas a utilização do benchmarking que é uma importante estratégia para repensar a própria organização, através da observação das experiências realizadas por outras organizações. Esta lição as Escolas precisam aprender: aprender, no sentido sistêmico do termo, significa ser capaz de transformar-se, de modo a modificar a própria estrutura de comportamentos, tornando-a mais eficaz no sentido de perseguir valores essenciais da própria pessoa, grupo social ou comunidade. Por isso, criar organizações voltadas para o conhecimento implica formar pessoas que aprendam a ver as coisas pela perspectiva sistêmica, que desenvolvam sua própria maestria pessoal e que aprendam a expor e reestruturar modelos mentais, de maneira colaborativa. Cabe salientar que nada acontece de uma hora para outra, na implantação de uma gestão voltada para o conhecimento, os objetivos que são realmente compartilhados levam tempo para emergir, pois é um subproduto de interações dos objetivos pessoais dos membros da organização. Quanto aos objetivos traçados inicialmente, conclui-se que, no que se refere à contextualização de cada escola, pôde-se notar que a escola A carece de dar mais atenção à aprendizagem em grupo; já a escola B, com sua nova gestão, percebeu-se que há indícios da Gestão do Conhecimento e a Escola C, em vários aspectos analisados (socialização, externalização, combinação) serve como benchmarking para as demais. Percebeu-se uma diferença muito grande nas Escolas quanto à sua dependência administrativa, notou-se que 12 nas duas instituições privadas a Direção e Professores têm pensamentos e atitudes completamente diferentes da escola pública pesquisada, em termos de engajamento e participação nas atividades. Notou-se também a diferença que faz um Administrador, mesmo que seja em uma organização educacional. A Escola C é a única das três Escolas pesquisadas que possui este tipo de profissional atuando juntamente com a Direção, só em questionar, já se percebeu a diferença de visão da Escola, as maiorias dos procedimentos tornam-se científicos (pesquisas de mercado, Relatório Anual de Atividades), sabem o querem e onde vão chegar. Na consumação desta pesquisa, percebeu-se que fora dada atenção aos níveis estratégico e operacional das Escolas, ou seja, aos profissionais que pensam a organização e aos que executam as tarefas. Em pesquisas posteriores, sugere-se que o seu enfoque estrutural contemple também o nível tático, aqueles que organizam, controlam a organização e também apóiam os colegas. Visto que, o gerente (no caso das Escolas o Coordenador Pedagógico/Supervisor) está no centro da criação do conhecimento e redefine o papel da alta gerência (Direção) e dos funcionários da base (Professores). Eles são investidos de empowerment, desenvolvem conceitos mais concretos que os funcionários da base possam compreender e implementar, tentam resolver a contradição entre o que a alta gerência espera criar e o que existe no mundo real, conseguem o equilíbrio entre o que é e o que deve ser, projetam o novo conhecimento, assumem a liderança da conversão do conhecimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADLER, P. S.; COLE, R. E. Designed for learning: A tale of two auto plants. Sloan Management Review, Spring, 1993. BARDIN, Laurence. L’analiyse de contenu. Paris: Presses Universitaires de France, 1977. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. DRUCKER, Peter F. O advento da nova organização. In: Gestão do conhecimento. Harvard Business Review. 7. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000. DRUCKER, Peter F. Os três pilares da gestão do conhecimento. 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