Respostas das perguntas da última aula: 1. Exemplo para cada forma de desenvcolvimento: Enterobius vermicularis (direto), Necator americanus com migração, Wuchereria bancrofti (indireto) 2. Picada de mosquito recém infectado com microfilárias infectante? Não. (larva 1 tem de se desenvolver para larva 3 que demora uns dias) 3. Porque Strongyloides stercoralis tão perigoso para aidéticos? Por causa da desenfreada migração tecidual direta (larva -> intestino -> pulmão -> adulto intestino) 4. Qual larva de Strongyloides stercoralis infectante? Filariforme (L3) 5. Quais maiores causadores da patologia na infecção com Wuchereria bancrofti? As bacterias endosimbiontes Wolbachia que produzem LPS -> processo inflamatório liberados na morte do verme Artrópodes como agentes causadores de doenças 1. Artrópodes: características gerais 2. Insetos causadores de doenças em humanos 3. Ácaros causadores de doenças em humanos Taxonomia: o filo Arthropoda (Barnes, 1977) Subfilo Trilobita Fósseis, todos extintos Subfilo Chelicerata Classe Merostomata - límulos - carangueijo Classe Arachnida - escorpiões, aranhas, carrapatos Ordem Acari Classe Pynogonida - aranhas marinhas Subfilo Mandibulata Classe Crustacea - camarão, lagosta, pitu Classe Insecta - moscas, mosquitos, pulgas, barbeiro Ordem Hemiptera Ordem Diptera Ordem Anoplura Ordem Siphonaptera Classe Chilopoda - centopéia Classe Diplopoda - milipés Classe Symphyla - sínfilos de terra vegetal Classe Pauropoda - paurópodos de húmus Subfilo Pentastomida - artrópodes vermiformes 1. Artrópodes: características gerais • O filo Arthropoda (grego: “pé articulado”) é o mais bem sucedido e abundante do reino animal. • Cerca de 80% das espécies de animais do planeta. • Esqueleto externo: exoesqueleto • Apêndices articulados • Simetria bilateral Abdome Cabeça Tórax Morfologia externa: exemplo inseto Tórax • formado por 3 metâmeros ou segmentos - protórax, mesotórax e metatórax; Abdome • formado por 8 a 10 anéis Morfologia Externa: insetos Cabeça • olhos - maioria possui um par de olhos compostos ou olhos simples ou ocelos; • antenas - são duas e apresentam formas e tamanhos variáveis; • peças bucais - são muito variáveis em tamanho e forma; função sugadora ou mastigadora; Morfologia Externa Asas - formadas por várias nervuras de sustentação e células Características gerais: exoesqueleto Proteção, mas crescimento exige mudas epicutícula exocutícula endocutícula epiderme membrana basal Componente fundamental (50%): quitina, um polímero da N-acetilglicosamina Ciclo Biológico - Ontogênese Existem três tipos de desenvolvimento dos insetos: Ametabolia exemplo: traça Hemimetabolia Insetos passam pelas formas de ovo, ninfa e adulto, e as ninfas são semelhantes aos adultos em termos de ambiente e alimentação. Cada estádio termina com a ecdise Hemiptera: Reduviidae Holometabolia ou Metamorfose completa Insetos passam pelas fases de ovo, larva, pupa e adulto (imago) e os habitos alimentares das larvas são diferentes dos adultos Siphonaptera - pulgas Diptera - moscas e mosquitos diferentes estádios larvais Importante: diferentes estádios podem não responder a medidas de controle!! 2. Insetos causadores de doenças em humanos Ordem: Diptera Familia: Muscidae Mosca berneira: Dermatobia hominis Doença: miíase (Berne) infestação de vertebrados vivos por larvas de dípteros que se alimentam de tecidos ou líquidos corpóreos • Dermatobia hominis é encontrado em várias áreas úmidas da Américas central e sul • A fêmea coloca os ovos na parte abdominal de outros insetos (foréticos) que se alimentam de sangue ou secreções (moscas ou pernilongos) • Durante o pouso no hospedeiro, os ovos eclodem e a larva de Dermatobia penetra a pele sã (biontófaga) e evolui, dentro da lesão, até a larva 2. estádio • Após 6-12 semanas, a larva três emerge do hospedeiro e cai no solo onde se transforma em pupa D. hominis inseto forético • O local de infecção fica suscetível a entrada de oportunistas: bactérias • A infecção normalmente é benigna (inflamação localizada) (larva biontófaga) Após abandono do hospedeiro pupa no solo Emergência da mosca adulta após 4-11 semanas que vive poucos dias, copula e realiza postura (5-12 d) Tratamento • Remoção da larva com esparadrapo ou técnicas cirúrgicas • Eventualmente, aplicação de um antibiotico Moscas varejeiras: Cochliomyia hominivorax (biontófaga) Cochliomyia macellaria (necrobiontófaga) Doença: miíase (Bicheira) • Presente do sul dos EUA até Argentina, em regiões tropicais (ano inteiro) e temperadas (primaveraverão) • Fêmeas de Cochliomyia hominivorax depositam 200300 ovos/dia durante 3-4 dias ao redor de um ferimento recente (biontófaga, oviposição somente em seres vivos) • 12-24 horas depois a larvas eclodem e fixam-se e nutrem se dos tecidos • durante 6-7 dias há duas ecdises (L1-L3) • abandonam o hospedeiro e pupam no solo (6-8 dias) • emergem os adultos • Cochliomyia macellaria: ovos em tecidos necrosados Patogenia • Larvas secretam enzimas proteolíticas • Ferimento aumenta de tamanho • Decomposição de material no ferimento Atrai moscas Miíases secundárias Miíases por necrobiontófagas (Cochliomyia macellaria) Tratamento: • Limpar ferimento (com anestesia local) • Remoção individual dos vermes (CAVE: fluido corporal tóxico!) • Aconselhavel: Aplicação de um antibiótico de largo espectro • No caso de miíase cavitária, (ingestão de ovos/larvas de uma variedade de moscas): antihelmínticos Controle: • Zoonose: Tratamento também dos animais! • Manipulações em gado (castração/descornas) no inverno • Tratamento do gado com Ivermectina/Doramectina para diminuir a densidade populacional das moscas Miíases - ação terapêutica – tratamento pode ser vantajoso no caso de resistência a antibióticos – utilização larvas necrobiontófagas – úlceras crônicas: pé diabético, estase venosa (forma de terapia milenar) Lucilia sericata, L. ilustris Phornia regina • Remoção de tecidos necróticos – secreção de proteases – ingestão do tecido liquefeito • Atividade antimicrobiana – S. aureus, Streptococcus sp. • Cicatrização – movimento (?) – alantoína, uréia, bicarbonato de amônia 1 semana 1 ano Ordem Siphonaptera: Tunga penetrans – pulga da areia – “bicho do pé” ou “bicho do porco”, hospedeiro usual é o porco (mas ataca gatos, cachorros e seres humanos) As lesões passam a ser porta de entrada de micróbios como Clostridium tetani (tétano), C. perfringens (gangrena gasosa), Paracoccidioides braziliensis (blastomicose) Tunga penetrans • A fêmea, após fecundação penetra a pele e começa a sugar sangue, os ovos se desenvolvem em 2 dias e são expelidos, o parasita morre ovos, larva 1 e 2, pupa Terapia: Remoção do parasita Prevenção: Aplicação de inseticidas Ordem Anoplura: Pediculus capitis, P. humanus e Pthirus pubis Doenças: Pediculose e Ftiríase Ectoparasitos cosmopolitas exclusivamente de humanos Em todas as classes sócio-econômicas Hemimetábolos (ovo, larva, ninfa, adulto) Todos os estádios hematófagos Piolhos: habitats • Pediculus capitis : cabeça • P. humanus: na roupa, em áreas protegidas do corpo • Pthirus pubis : predominantemente na área pubiana. • Os ovos são depositados mediante substância cimentante em fios de cabelo (onde eles são detectados mediante luz UV) ou de roupas • Ciclo evolutivo: após 10 dias, a larva eclode do ovo e começa sugar sangue, estádio ninfa, após 14 dias ficam maduros Patogenia da Pediculose/Ftiríase • Prurido, entrada de oportunistas (bactérias) • Phtirus pubis pode ser considerada uma DST (transmissão rara através de roupa) • P. humanus é um importante transmissor de Tifo exantemático (Rickettsia prowazekii), o artrópode abandona o hospedeiro que está com febre) Tratamento: P. capitis : Lavar cabeça com “shampoo” que contem 1% permethrina, uso repetido garante 100% sucesso Usar pente especial para remover as lêndeas do cabelo! P. humanus e Pthirus pubis : Lavar roupa contaminada a 50°C por 30 min, ou deixar em lugar seco fechado por 2 semanas 3. Ácaros causadores de doenças em humanos Filo Artropoda Classe Arachnida Subclasse Acari Morfologia geral dos ácaros larvas com 3 pares, ninfas/adultos com 4 pares de patas (aparelho bucal e palpos) (corpo) Subordem: Astigmata (Sarcoptiformes) Sarcoptes scabiei Doença: Escabiose ou Sarna dorsal ventral • Cosmopolita, democrático • 300 milhões de casos • parasita de seres humanos e outros mamíferos (existem variedades com diferentes preferências: S. scabiei canis, S. scabiei cuniculi, S. scabiei ovis etc.) • Não possuem traquéias, respiram pelo tegumento • Macho (0,2 mm) e fêmea (0,4 mm) • Infecção ocorre por contato pessoa-pessoa ou objetos contaminados (roupa, pentes etc.) • Os ácaros migram na epiderme, depositam ovos, dos quais eclodem larvas (depois 3-4 dias), que se desenvolvem para ninfas que ficam adultos (4 dias). • Fêmea: 3-4 ovos/dia (durante até 50 d), ciclo total: 20 d • Sítio preferencial de infecção: interdigital, nas pernas Patologia • A atividade migratória e a deposição de antígenos causa o influx de células T mononucleares e reações alérgicas (hipersensitividade do tipo IV) • Prurido, causa ferimentos secundários na pele e infecções bacterianas são frequentes • Em aidéticos ou imunossuprimidos, ocorre dermatite generalizada com grandes areas de pele comprometidas, altissimo número de ácaros presentes e o indivíduo é forte transmissor de Scabies Diagnóstico: • Clínico: Anamnese, pruridos noturnos, localização e aspecto das crostas • Parasitológico: Fita gomada sobre crostas ou raspado profundo lâmina microscópio Tratamento (repetido!): - Creme com permethrina 5% ou - Lindan 1% (pessoas imunocomprometidos plus 1 dose Ivermectina) - Tratamento da roupa contaminada: Lavar e secar por 10 min a 50°C, ou estocagem em recipientes fechados por 5 dias Aspectos epidemiológicos • Infestação do homem por variedades S. scabiei de animais: • auto-limitante, fugaz • Hipótese - origem das variedades: • Homem: hospedeiro primário • Adaptações a outras espécies de hospedeiros • Intercruzamento de cepas de animais e do homem evita especiação variabilidade genética leva a ampliação do espectro de hospedeiros (40 ssp de 17 famílias e 7 ordens) Ácaros de vida livre como causador de doença • Vivem em poeira domiciliar, grãos armazenados, alimentos processados • Família Phyroglyphidae: • Família Glycyphagidae: • Família Chortoglyfidae: • Família Saproglyphidae: - Dermatophagoides pteronyssinus Dermatophagoides farinae Pyroglyphus africanus Dermatophagoides deanei Euroglyphus maynei Blomia tropicalis Chortoglyphus arcuatus Suidasia pontifica • Pessoas suscetíveis (número crescente): alergias respiratórias • Alérgeno é o próprio ácaro e/ou seus produtos: dejetos, secreções, fezes que ficam em suspensão em poeira Muitos artrópodes são importantes vetores de várias parasitoses, bacterioses e viroses ... Culicíneos (filaríase) Flebotomíneos (leishmaniose) Simulídeos (oncocercíase) Ixodídeos (Riquetsiose, Babesiose) ...MAS... Triatomíneos Tripanossomíase americana Anofelinos (malária) Sifonápteros (peste) ...a própria saliva destes artrópodes hematófagos pode também causar fortes alergias em pessoas suscetíveis! atividade observada produto Flebotomíneo (Lutzomyia, Flebotomus) anti-agregação plaquetária Apirase (ATP-difosfohidrolase ) vasodilatador maxadilan inibidor ativação macrófago maxadilan (não comprovado) Mosquitos (Anopheles, Culex, Aedes) hemaglutinina anticoagulante anti Fator Xa, antitrombina Fator anti TNF anti-agregação plaquetária apirase desconhecido D7 (proteína específica de fêmeas) Triatomíneos (Triatoma) anti-agregação plaquetária apirase anticoagulante anti Fator 8, antitrombina Glossina anti-agregação plaquetária apirase anticoagulante antitrombina Borrachudos (Simulium) anticoagulante antitrombina, anti Fator Xa Efeitos da saliva de diferentes carrapatos Ixodideos anti-agregação plaquetária apirase anti histamina anticoagulante anti Fator 8, anti fator 5a, antiprótrombinase Kinase (antibradicinina) Carboxypeptidase N-like Antianafilatoxina Carboxypeptidase N-like Vasodilatadores Prostaglandina E2 Anti fator de ativação de plaquetas PGE2 Imunosupressores Inibidor de ativação de neutrófilos Inibidor de ativação de células T Anticomplemento (via alternativa) Argasideos anticoagulante TAP (tick anticoagulant peptide) anti-agregação plaquetária apirase $? • Não esquecer os artrópodos que passivamente transmitem parasitas (ovos, cistos, oocistos, bactérias e virus) Barata Formiga do cartao Literatura: L. Rey: Parasitologia, 3 ed., Guanabara Koogan, 2001 Guimarães JH, Papavero N: Myiasis in man and animal in the neotropical region. Bibliographic database, Ed. Plêiade, 1999 Beaty BJ, Marquardt WC: The Biology of Disease vectors. University Press of Colorado, 1996 Muitas imagens foram publicadas na internet no site do Prof. Marcelo Campos Pereira, ICB-USP