UMA ANÁLISE AGUDA DA INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO DE FORÇA SOBRE O EPOC E O GASTO ENERGÉTICO FLAMARION CLÉRISTON CANDIDO ELIAS (1) (1) GRADUADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA PELA UFPE PÓS GRADUADO EM FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO PELA UNIVERSIDADE GAMA FILHO RESUMO A obesidade cresce assustadoramente tanto nos países industrializados, quanto nos países em desenvolvimento, devido a um aumento nos índices de pessoas inativas e da maior ingesta de alimentos calóricos, se tornando uma problemática de saúde pública. Para tentar combater o aumento da massa corporal e diminuir os índices de óbitos decorrentes da obesidade, sempre foram prescritos exercícios aeróbicos e dietas hipocalóricas,objetivando maximizar a perda de gordura e minimizar a perda de massa isenta de gordura. Com o decorrer do tempo o treinamento de força ganhou espaço devido à exposição dos seus benefícios como aumento da força, potência e resistência muscular. O American College (1998,2000) preconizou que para prevenir, combater o acúmulo de tecido adiposo e melhorar os níveis de qualidade de vida seria necessário um gasto energético de 700kcal a 1.500kcal por semana, conquistados com auxilio de 2 a 3 sessões semanais de treinamento de força de moderada a alta intensidade. A comunidade cientifica especializada passou a analisar quais seriam as principais variáveis do treinamento de força que produziriam um maior gasto energético, e aumentaria o consumo de oxigênio pós exercício(EPOC) e se este treinamento seria mais eficiente do que o treinamento aeróbico. Perante esta inquietação, o objetivo deste estudo foi fazer uma revisão nas bases de dados Scielo, Journal Apliedd Physiology, Pubmed, resgatando artigos desde a década de 70 até os dias atuais, onde foi relatada a influência do treinamento de força sobre o gasto energético e o EPOC em uma visão de respostas orgânicas agudas, comparando este método com o treinamento aeróbico. Nesta revisão, verificamos que os métodos do treinamento de força, como o treinamento em circuito, treinamento com séries múltiplas, podem gerar gastos energéticos variados (50kcal,114kcal,202,4kcal), durante a atividade, sendo influenciado pelo volume de trabalho da sessão de treinamento. O consumo energético pós exercício (EPOC), parece ser mais influenciado pela intensidade do treinamento, porém, nos estudos avaliados, também apresentou valores baixos (19kcal,34kcal), dentro de um período de 20min a 120min, tendo as mulheres um consumo energético durante e pós atividade menor que os homens devido a um menor peso magro. O processo de emagrecimento não pode ter em seu planejamento só intervenções do treinamento de força, uma vez que o mesmo não mostrou gastos energéticos elevados, tendo este que ser associado a treinamentos aeróbicos e dietas hipocalóricas. Com isso, mais investigações tem que ser realizadas relacionando o consumo energético com os diversos métodos do treinamento de força, como super séries, bi-sets, tri-sets, dentre outros, buscando uma prescrição cada vez direcionada para perda ponderal. PALAVRAS – CHAVE: Treinamento de força, gasto energético e EPOC INTRODUÇÃO A obesidade, que é caracterizada como uma doença desde de 1985(Greenway e Smith, 2000), cresce assustadoramente no Brasil e no mundo e já se tornou uma problemática de saúde pública, acarretando perdas importantes não só na qualidade, como na quantidade de vida (Fontaine et al,2003), além de gerar gastos para os países desenvolvidos que giram em torno de 2% a 7% das despesas totais voltadas para a saúde(Organização Mundial da Saúde,1998). Esta doença é multifatorial podendo se desenvolver por distúrbios genéticos, hormonais, associados a má alimentação e inatividade física, além de estar intimamente ligada ao desenvolvimento de diabetes mellitus, hipertensão, problemas psicológicos, como depressão e baixa auto-estima, criando um complexo eixo de causa-efeito (Bouchard et al,1991; Stunkard et al, 2000; Monteiro 1995; Sichieri, 1998; Stunkard,2000). No Brasil, ocorreu um processo de transição demográfica e nutricional, que teve como conseqüência o maior acesso de uma parte da população a alimentos com alto índice calórico. Em um estudo de revisão feito por Ferreira et al(2006), podemos detalhar o crescente índice da obesidade e do sobrepeso no Brasil. Segundo esta autora cerca de 5% das crianças brasileiras estão classificadas como obesas, 24% dos adolescentes do gênero masculino e 7% do gênero feminino são obesos, sendo esta diferença explicada devido as adolescentes se preocuparam mais com padrões estéticos e com uma alimentação saudável(Fonseca, Sichieri e Veiga, 1998). Nos idosos, que compreendem indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos, 18% das mulheres e 5% dos homens são acometidos pelo excesso de peso (Frank, 1996; Pereira, 1998). O combate e/ou prevenção a esta doença multifatorial é complexa no que diz respeito ao melhor tipo de exercício prescrito para auxiliar na queda ponderal. Ao longo do tempo foram prescritas dietas hipocalóricas associadas a exercícios aeróbicos, com o intuito de maximizar a redução nos depósitos de gordura e reduzir a perda de massa magra observados em intervenções dietéticas apenas (Wilmore, 1983; Haggan, 1986; Ballor,1994). Os exercícios anaeróbicos, incluindo o treinamento de força começaram a serem mais prescritos, tendo seus efeitos no aumento consumo energético já evidenciados em trabalhos realizados por Gettman et al(1978), Wilmore & Grimditch et al(1978), Wilmore & Girandola et al.(1978) e Gettman et al (1979),onde as pesquisas foram conduzidas para analisar e prescrever os dois estímulos tentando potencializar o combate a obesidade(DIONNE; TREMBLAY, 2003FERNANDEZ et al.,2004). Porém, observa-se uma perda de massa magra severa quando existe uma maior restrição calórica, perdendo este indivíduo, o efeito termogênico dos alimentos e o aumento do gasto energético provocado pela massa muscular, que segundo Henson (1987) é a variável que mais contribui para o dispêndio de energia durante o dia. Em tese, gera-se um balanço energético negativo, quando o gasto energético diário criado pela termogênese da atividade física, da digestão dos alimentos e pela energia desprendida para manutenção da homeostase é maior que a energia ingerida(NELSON ET AL,1992;OWEN ET AL,1987;RAVUSIN ET AL,1982). Exercitar-se resulta em um efeito benéfico no balanço energético, representando uma fonte adicional de gasto energético:uma única série de exercícios normalmente gera cerca de 200 a 500kcal(ou mais), dependendo da duração e da intensidade da sessão. Teoricamente o exercício por si só, pode induzir um balanço energético negativo, que é suficientemente relevante para levar a uma perda de peso significativa. Além disso a influencia positiva dos exercícios no gasto energético é prolongada por alguns minutos ou por algumas horas após sua realização, causando posterior gasto energético e oxidação de gorduras(POEHLMAN ET AL,1986). Os exercícios de força ganharam destaque ao longo dos anos pela comprovação dos seus benefícios em aumentar a força, por conseqüência também do aumento da massa magra, prevenindo sua redução mesmo em dietas hipoenergéticas, mantendo ou elevando o consumo de energia no decorrer do dia , além de prevenir e combater quadros de osteoporose, diabetes mellitus, e hipertensão (American College and Sports Medicine, 1998, 2002, Ballor, 1988, Bálsamo, 2005). Com isso surgiu a inquietação, diante dos elevados índices de obesidade, em comprovar, ou tentar demonstrar a influência do treinamento de força na geração de um maior dispêndio energético, levando em consideração todas as suas variáveis como volume (nº de séries, nº de repetições, freqüência semanal), intensidade (carga relativa e absoluta, amplitude de movimento, intervalo entre séries e exercícios), velocidade de execução e os vários tipos de protocolos que existem como as séries piramidais, super séries, bi-set, tri-set. Esta complexidade dos componentes do treinamento de força levanta a discussão de qual seria o melhor protocolo a ser aplicado para uma maior perda ponderal ou se realmente o treinamento de força é mais eficaz para elevar o dispêndio energético do que os exercícios aeróbicos tão bem prescritos anteriormente. É com o objetivo de embasar cada vez mais o treinamento de força como fator predominante e/ou auxiliar no combate a obesidade, que este estudo de revisão bibliográfica se apresenta para a comunidade científica. MATERIAIS E MÉTODOS Revisão literária realizada em diversas bases de dados como Scielo, Bireme, Journal Apllied Physiology, Pubmed, levando em consideração os artigos desde a década de 70 até os dias atuais, que expressem os métodos de treinamento de força em circuitos, séries múltiplas, protocolos de força dinâmica, protocolos de resistência muscular localizada, utilizados para influenciar o gasto energético durante a atividade e o EPOC. GASTO ENERGÉTICO E EPOC DIANTE O TREINAMENTO DE FORÇA E SEUS VÁRIOS PROTOCOLOS O gasto energético é descrito como a energia desprendida pelo organismo para manter suas funções vitais em um período de 24horas e varia de acordo com a hora do dia, com o tipo de alimentos ingeridos, os intervalos dados entre as refeições, pela influência de alguns hormônios como as tiroxinas, catecolaminas, testosterona, GH, insulina, leptina, duração, intensidade das atividades físicas e pelo consumo energético influenciado por estas atividades, durante e após sua execução, sendo a atividade física, o componente mais manipulável e variável na composição do gasto energético diário (Bouchard 2000). O gasto energético durante as atividades físicas é conseqüência de uma maior demanda energética exigida para gerar, manter as contrações do músculo esquelético, músculo cardíaco, musculatura que auxilia na respiração, através da produção de ATP pelas diversas vias de fornecimento energético, regulação da temperatura corporal, regulação da ação dos hormônios liberados, estando este gasto mais intimamente relacionado com a duração da atividade realizada. As vias de fornecimento de ATP trabalham de forma simultânea alternando sua predominância de atuação de acordo com as características da atividade. No início de um atividade aeróbica submáxima ocorre um déficit de oxigênio sanado por um fornecimento de energia através da glicólise anaeróbica. A medida que esta atividade prossegue e o organismo atinge o steady state, e a fonte energética mais utilizada é a via oxidativa com maior oxidação de lipídeos(KIENS ET AL,1989;KING,1995;CALLES ET AL,1994). Em atividades progressivas como em testes máximos de capacidade aeróbica, existe uma transição entre fornecimento energético aeróbico para anaeróbico até que a fadiga se instale e impeça a continuidade da atividade. No treinamento de força as vias energéticas estimuladas para fornecerem energia são a via ATP-CP, e a glicólise anaeróbica,com consequente produção de lactato, que se modula de acordo com o nível de treinamento do indivíduo e intensidade da sessão de treino. Pinto et AL(2011) faz uma relação entre a concentração de lactato e oxigênio consumido para a remoção deste lactato e seus subprodutos como CO2. De acordo com este autor 1mMOL de lactato consome 3ml de o2/kg de peso, e esta concentração varia de acordo com a intensidade imposta pela sessão de treinamento. Já o gasto pós atividade que é conhecido como EPOC ou consumo de oxigênio pós exercício, se eleva para reparar microlesões musculares, regular temperatura corporal, repor glicogênio, sintetizar ATP-CP,regular níveis hormonais, atividade cardíaca, aumento do metabolismo dos ácidos graxos, entre outros,variando de acordo com a intensidade, o volume, e quantidade de massa muscular envolvida nas atividades realizadas (Binzen et al., 2001; Burleson et al., 1998; Thornton et al., 2002, Elliot et al., 1992; Gaesser e Brooks, 1984; Dolezal et al., 2000;Roberg e Roberts,2002). Em 1978,Wilmore e cols, realizaram o primeiro estudo que analisou o gasto energético gerado por um trabalho em circuito composto de 3 passagens por 10 estações, com 30seg de execução e 15 de intervalo entre cada estação, encontrando um consumo energético de 202,4kcal, 9kcal por minuto aos homens e 137kcal, 6,1kcal por minuto para mulheres, onde este consumo foi considerado baixo devido a duração da atividade que foi de 22,5min. O autor ainda relata e corrobora com McArdlle(2003) no que diz respeito ao menor gasto energético das mulheres devido a um menor peso corporal relacionado com um menor índice de massa magra em níveis absolutos encontrados neste gênero. Analisando o aspecto do gasto energético durante a atividade podemos destacar uma metanálise realizada por Meirelles em 2004 que exacerba os trabalhos de força em forma de circuito e verifica uma variação entre 3,0kcal.min e 8,0kcal.min de consumo energético em treinamentos que tinham um volume de trabalho variando entre 27min e 60min. Este estudo analisou ambos os gêneros, indivíduos treinados e destreinados, indivíduos obesos e saudáveis, e com doença arterial coronariana. Elliot et al(1992) e Pinchon et al(1996) compararam os efeitos sobre o gasto energético entre sessões de treinamento de força(T.F), realizadas em circuito e de forma contínua, e reportaram um maior gasto no modo circuito durante a sessão (9,1 vs 6,2kcal·min-1 e 4,9 vs 4,5kcal·min-1 para circuito e contínuo, respectivamente). Não houve diferenças significativas no EPOC (cerca de 10 L O2). Alguns aspectos de ambos os estudos, contudo, devem ser ressaltados. Os estudos não diferiram apenas no modo de execução; os indivíduos foram submetidos a um maior volume de trabalho na situação circuito, sendo os números de séries e repetições, a intensidade e os intervalos de recuperação diferentes entre as condições testadas, o que prejudica qualquer comparação e posterior conclusão. Monteiro e cols.(2009) realizaram um estudo com 8 homens e 9 mulheres que realizaram um circuito com pesos livres, onde os indivíduos permaneciam 1min em cada estação com 15seg de pausa, sendo analisado o consumo de energia influenciado por esta sessão e foram encontrados valores de gasto energético de 4,45kcal.min para mulheres e 6,97kcal.min para os homens. Ballor et al(1989) verificaram após uma sessão de treinamento composta por 9 exercícios, realizados todos com 3x30seg. a 44% do máx. com execução lenta, intermediária e rápida, um gasto energético nos homens de 7,9kcal.min, 7,6kcal.min, 8,0kcal.min para as distintas velocidades respectivamente, enquanto as mulheres tiveram um gasto energético de 5,2kcal.min, 5,1kcal.min,5,0kcal.min respectivamente, podendo estar essa diferença significativa na massa muscular absoluta que é maior nos homens. Binzen et al (2001) analisaram 12 mulheres treinadas que realizaram uma sessão de treinamento de força composta por 10exercícios com 3x10 a 70% do max. com intervalo de 1min. e verificou um gasto energético de 2,3kcal.min. podendo ratificar uma possível redução no gasto energético absoluto nas mulheres devido a um menor índice absoluto de massa isenta de gordura.Esta grande variabilidade do gasto energético durante o treinamento de força é decorrente das inúmeras combinações que podem ser feitas entre volume e intensidade nos distintos protocolos que surgem a cada dia e os que já estão consolidados dentro desta modalidade, onde verificamos estudos que apontam gastos entre 50 a 115kcal(Thornton et. al,2002;Beckham et al. 2000; Hunter et al. 2003 ) até valores de 864kcal em uma única sessão de treinamento, excluindo o EPOC (Schuenke et al.2003). As variáveis do treinamento de força também influenciam a magnitude de duração do EPOC, que pode variar de 60 a 90min(BINZEN;SWAN; MANORE, 2001; THORNTON; POTTEIGER, 2002), e em alguns casos se eleva e se mantém por 38horas dependendo do protocolo utilizado (Burleson et al., 1998; Schuenke et al., 2002; Neto e Farinatti, 2009). Burleson et al (1998) compararam a duração e magnitude do EPOC de uma sessão típica de exercícios contraresistência com a produzida por exercícios aeróbios pareados pela duração (27min) e intensidade (aproximadamente 44% do VO2máx). Os resultados apontaram que o consumo de oxigênio permaneceu significativamente elevado até 90min após o término da atividade contra-resistência e apenas 30min após o treino aeróbio. O EPOC foi estatisticamente mais alto nos primeiros 30min na primeira situação (19 litros) do que na segunda (12,7 litros), o que representou um gasto adicional de 95 e 64kcal, respectivamente. Em um estudo mais recente de Braun (2005) foi comparado o EPOC de um treinamento de força, composto por 3x15repetições a 65% de 1RM a um treinamento em esteira a 85% da freqüência cardíaca máxima e verificou-se que o treinamento de força gerou uma magnitude maior de EPOC nos primeiros 30min de recuperação. Já no estudo do Crometti e Kinzei realizado em 2004, não foram encontradas diferenças significativas entre a magnitude do EPOC, quando comparada uma sessão de treinamento de força composta por exercícios realizados com 3x12 a 70% de 1RM e 12min em cicloergômetro a 60/65% do Vo2máx. Ao analisar e comparar dois protocolos distintos em relação a sua intensidade Thornton e Potteiger (2005) verificaram um maior EPOC no grupo que realizou o treinamento na intensidade de 85% de 8RM(alta intensidade – A.I), composto por 2 séries de 8 repetições em forma de circuito, comparado ao grupo que realizou o treinamento a 45% de 8RM(baixa intensidade B.I), composto por 2 séries de 15 repetições em forma de circuito. O EPOC foi maior para o grupo que realizou o treinamento em maior intensidade em todos os intervalos que foi mensurado(0-20 min,AI. 1.72 ± 0.70 LO2; BI, 0.9 ± 0.65, LO2), 45-60 min (AI, 0.35 ± 0.25 LO2; BI, 0.14 ± 0.19 LO2), and 105-120 min (AI, 0.22 ± 0.22 LO2; BI, 0.05 ± 0.11, LO2).enaltecendo a teoria que quanto maior a intensidade, maior pode ser a magnitude e a duração do EPOC. Melby et al(1992) verificou após 42 min de treinamento de força, composto por 3x12 a 70% de 1RM com 2min de intervalo um EPOC de 19kcal que perdurou durante 60min pós atividade. Já em outro estudo seu, Melby(1993) verififou um EPOC de 35kcal mensurado por 120min, após uma sessão de treinamento com duração de 96min, composta de 10exercícios, 5séries a 70% de 1RM com intervalo de 4min entre os exercícios. Nestes dois estudos do pesquisador Melby, verificamos que a duração do treinamento foi o fator influenciador na magnitude do EPOC, mesmo com o segundo estudo possuindo um intervalo de recuperação maior, fato que está intimamente ligado a intensidade do exercício. Em outro estudo, Thornton e Potteiger (2002) utilizaram duas séries de nove exercícios com 8RM e um minuto de intervalo. Os resultados demonstraram um EPOC com 20 minutos de duração, o equivalente a 11 kcal de gasto calórico acima do valor de repouso. Em um estudo mais recente, Ormsbee et al. (2007), após um treinamento em forma de circuito com três séries de 10 RM em 10 exercícios, encontraram uma magnitude do EPOC de 10 kcal em 45 minutos de duração. Já é mais prescrito nos dias atuais a associação do exercício aeróbico, com treinamento de força em busca de uma melhor qualidade de vida, aumento de massa magra e na redução ponderal, ou só do percentil de massa adiposa. O American College(2008) preconiza em seu novo posicionamento sobre saúde e qualidade de vida que os indivíduos necessitam ter um gasto energético de 300kcal a 500kcal por dia, cerca de 700kcal a 2.000kcal por semana, realizando 2 ou 3 dias de treinamento de força com uma intensidade moderada a alta,que permita a realização de 8 a 12 repetições por série em cada exercício, associados a treinos aeróbicos, tendo como um dos objetivos o combate à doenças crônico-degenerativas, como a obesidade. Com a constante prescrição de treinos de força e aeróbicos intercalados, ou em uma mesma sessão de treinamento, surge a inquietação sobre a melhor ordem de execução dos treinamentos, em uma mesma sessão de treino, que possa levar a uma maior perda ponderal. Para fornecer informações científicas para este debate e embasar a prescrição de treinamentos que visam o emagrecimento, Panisa et al (2009) colocou este ponto em análise no seu estudo. Nesta ocasião foram recrutados 10sujeitos do sexo masculino, ativos, que executaram os treinamentos em duas ordens distintas: força – aeróbico (F.A) e aeróbico – força(A.F). O treinamento de força era composto por 4 exercícios executados a 70% de 1RM com 3x12, sendo realizados até a falha voluntária. Já o treinamento aeróbico era composto por 30min em ciclo ergômetro a 90% do limiar anaeróbico. Os resultados mostram que não houve diferença significativa sobre o gasto energético nas duas ordens de execução, uma vez que na ordem F.A o gasto energético foi de 2,793+ 811kJ e na ordem AF foi de 2,893+ 903kJ, mostrando que nessas intensidades os exercícios podem ser executados em qualquer ordem. Tentando verificar a influencia da ordem do exercício sobre o EPOC, Lira (2007), analisou a magnitude do EPOC medido até 30min após o treinamento concorrente. No primeiro momento foi encontrado um gasto energético de 15kcal acima dos níveis de repouso, e um consumo de oxigênio relativo de 3,95+0,39ml de o2/kg/min, quando o exercício aeróbico, composto por 30min de esteira rolante a 90% do limiar anaeróbico, foi realizado antes do treinamento de força, composto por 3x12 em 4 exercícios a 70% de 1RM. Na ordem inversa o gasto permaneceu 13kcal acima do repouso, e provocou um consumo de oxigênio relativo de 4,01+0,97ml de o2/LG/min em até 30min de EPOC. Neste estudo ficou exposto que não existe diferença significativa entre a ordem dos exercícios e a magnitude e duração do EPOC. É elucidado neste estudo de revisão, a grande dificuldade em quantificar uma média de gasto energético durante e pós treinamento de força, devido aos diversos protocolos utilizados para mensuração deste gasto, os indivíduos envolvidos, se treinados ou não, se são homens ou mulheres, idosos ou jovens, a associação do treinamento de força com exercícios aeróbicos, e a ordem de execução dos distintos treinamentos, abrindo assim um grande leque de opções para utilização dos inúmeros procedimentos deste treinamento visando o emagrecimento, e em paralelo abrindo-se várias lacunas científicas com intuito de determinar qual(is) protocolo(s) experimental(is) seriam mais eficientes para os diversos grupos populacionais. CONCLUSÃO Verifica-se que a intensidade do treinamento de força é a variável que mais pode elevar os valores do gasto energético acima dos níveis de repouso e fazer com que o EPOC possa ter uma duração que varia de 20min a 2horas. Quando os estudos comparam o treinamento aeróbico de baixa intensidade com o treinamento de força de alta intensidade verificamos um maior gasto para os protocolos de treinamentos de força. Em relação aos protocolos do treinamento de força, parece que os mais utilizados são os treinos em circuito, porém treinamentos com séries múltiplas também estão sendo bastante avaliados e se mostram eficazes em aumentar o gasto energético, a magnitude e duração do EPOC. Deve-se levar em consideração também o grupo estudado, uma vez que nos estudos expostos nesta revisão as mulheres mostraram um menor gasto energético comparado aos homens devido, provavelmente a uma menor massa muscular absoluta. Indivíduos treinados na mesma intensidade mostram um menor gasto energético do que indivíduos menos ativos ou sedentários exercitados na mesma intensidade. Diante destas particularidades, os estudos a seguir tem que buscar mais esclarecimentos na relação do treinamento de força, gasto energético e EPOC, uma vez que podemos observar nos estudos abordados uma variação de 50 a 115kcal no gasto energético da atividade e no EPOC que variou de 19kcal a 34kcal mensurados em até 120min. Com isso não podemos afirmar que só o treinamento de força é eficaz no processo de emagrecimento, e sim, que este é um potente somador e modificador da taxa metabólica de repouso, do EPOC, por poder gerar altas intensidades de trabalho e interferir diretamente no aumento da massa isenta de gordura. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Sichieri R, editor. Epidemiologia da obesidade. Rio de Janeiro: Eduerj, 1998. 2. Greenway F, Smith R. The future of obesity research. Nutrition, 2000;16: 976–982. 3. World Health Organization. Obesity: Preventing and managing the global epidemic. Geneva: WHO, 1998. 4. Bouchard C. Can obesity be prevented? Nutr Rev 1996;2:S125-30. 5. 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