Interpretação da Imagem 4 níveis de interpretação / transferência (1) transferência indiciária: a força alucinatória, mágica, o vestígio, o rudimento da verdade; (2) transferência cultural: produção do significado no contexto cultural; (3) transferência icónica: animação e ganho de vida pela semelhança/analogia com um ícone/modelo; (4) transferência do motivo: fixação do tema predominante. Cartoon, Carlos Lutaff Transferência Icónica Interpretação (1) Num primeiro plano, uma figura feminina avantajada ampara, no seu regaço, uma figura masculina com o tronco nu e ensanguentada, sob o olhar imponente das forças policiais, personificadas por três homens, em posição erecta, armados. As armas esfumam, parecendo terem sido usadas. Em fundo, observam-se favelas e um céu cinza; (2) Política policial de repressão violenta: em 2007, a polícia do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, matou 1330 indivíduos. Lei da selecção natural do mais apto (beneficiado pelo recurso às armas); (3) Parecença com o modelo Pietà; (4) Sofrimento, dor maternal pela perda do filho; imponência das armas; retrato do Brasil. “Vigilante”, Nelson Fernandes. In http://olhares.aeiou .pt/vigilante_foto21 36814.html Tranferência Icónica: “Dédalo e Ícaro”, Frederick Leighton, 1869 Interpretação (1) Num primeiro plano, observamos parte de um barco em cor azul e um rapaz com asas, auréola e calções/bermudas de cor azul e em tronco nu, a olhar para o lado direito da imagem. Em fundo, um céu azul com poucas nuvens; (2) Alusão aos anjos, figuras religiosas, santas – e daí as asas e a auréola do rapaz –, presentes em várias religiões. Auto da Barca do Inferno: Anjo que guarda a Barca da Glória. Ícaro: Em vez de voar junto ao sol – conforme advertência de Dédalo – e numa inversão da história original, está sereno no barco. Daí os atributos: vigilante, cuidadoso e ponderado; (3) Parecença com Ícaro que, com a ajuda de Dédalo, constrói umas asas próprias com as de gaivota e colando-as com mel; (4) Relaxamento, ponderação, vigilância, cautela, serenidade, paz. Alusão a céu: predominância da cor azul, presença do anjo. “Ausência”, Alexander Kharlamov, 2009. In http://olhares.aeiou.pt/ausencia_foto3111616.html Transferência Icónica: Capela Sistina, Michelangelo, 1482 Interpretação (1) Num primeiro plano, os dedos indicadores de duas mãos distintas – uma humana, outra virtual ou superior – aproximamse, parecendo tocar-se (ou não) num momento seguinte, com um céu nublado em fundo; (2) Mãos sem rosto, que se pressupõe que se tocarão (ou não) num momento seguinte; Sugestão do primeiro sopro de vida concedido por Deus a Adão. Proximidade com a fatalidade de ausência de toque, daí o imenso céu escuro e tenebroso. Questionamento sobre a consumação do toque; (3) Parecença com a pintura na Capela Sistina; (4) Contacto, aproximação; vida; (des)encontro entre o humano e o divino. Annie Leibovitz, Lavazza Tranferência Icónica: “O Nascimento de Vénus”, Sandro Botticelli Interpretação (1) Mulher nua num prato de esparguete em cima de uma mesa de refeição (num primeiro plano) e todo um cenário de vegetação atrás; (2) A italianidade: esparguete, ode à beleza da mulher italiana, que surge sensual. Ideia de refeição e apetecibilidade, presente em 4 dimensões: (1) talheres e guardanapo sobre a mesa; ideia de “mesa posta”; (2) prato de esparguete; (3) mulher nua e sensual entre a massa; (4) chávena de café que a mulher segura ; (3) Parecença com o quadro “O Nascimento de Vénus”, de Botticelli; (4) Sedução, paraíso, sonho, apetecibilidade, desejo – italianidade. Annie Leibovitz, Lavazza Tranferência Icónica: Estátua da Loba do Capitólio Interpretação (1) Mulher semi-nua, com aparência animalesca, de gatas e com dois bebés sob si; Coliseu em fundo; (2) Italianidade (Coliseu), lenda do nascimento de Roma: criação de Rómulo e Remo pela loba; (3) Parecença com a Estátua da Loba do Capitólio; (4) Imponência, historicidade, grandeza (Coliseu); protecção, maternalidade (mulher-crias). Neil Folberg, 2006 Tranferência Icónica: “A Primavera”, Sandro Botticelli, 1476-1477 Interpretação (1) Arco em fundo, casal à direita (homem agarra mulher). Centro ocupado: num primeiro plano por uma mulher com um violino nas mãos, em fundo junto ao arco, um homem toca piano. Do lado esquerdo, um homem estica-se para colher um fruto; num primeiro plano, três indivíduos de costas para o espectador observam os actores e cenário descritos. Flores povoam a imagem. A arcada ao centro funciona como uma janela para o exterior. Interpretação (2) Classe média alta. Aristocracia. Embate dos novos valores perfilhados pelas novas gerações em contraposição (observação) pelas gerações mais velhas (indivíduos de costas). Virtuosidade encarnada pelas gerações mais velhas (“as três graças”). Analogia entre a música e o amor (Vénus e Cupido). “Olimpo” como cenário interior com “janela” para o mundo. Primavera como sinónimo de renascimento, florescimento, recomeço; (3) Similaridade com “A Primavera” de Botticelli; (4) Musicalidade, bem-estar, bom-gosto, elegância; confronto geracional; modernidade, renovação, vigência de novos valores; alheamento da realidade exterior, enclausuramento na sua essência. “Four Dancers”, Neil Folberg, 2003-2005 Transferência Icónica: “Quatro Bailarinas em Cena”, Degas, 1885-1890 Interpretação (1) Quatro bailarinas num estúdio ensaiando, com um espelho do lado esquerdo; (2) Educação feminina requintada: ballet; (3) Semelhança com a pintura de Degas, “Quatro Bailarinas em Cena”; (4) Treino, concentração, esforço.