LUCAS GOMES CLEMENTINO RELAÇÃO ENTRE AUTOGESTÕES EM SAÚDE E PRESTADORES DE SERVIÇO: ESPECIFICIDADES DO MERCADO E CONSIDERAÇÕES NO MOMENTO DA NEGOCIAÇÃO Monografia apresentada ao Curso de Pós Graduação lato sensu Televirtual em Gestão de Planos de Saúde, na modalidade Formação para o Mercado de Trabalho, como requisito parcial à obtenção do grau de especialista Gestão de Planos de Saúde. Universidade Anhanguera - UNIDERP Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes – RDE LFG Área de Concentração: Gestão da Assistência à Saúde Orientador: Professor Alba Valéria Eira Fleury SALVADOR – BA 2011 TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito e que se fizerem necessários, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade Anhanguera, a Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes, as Coordenações do Curso de Especialização Televirtual em Gestão de Planos de Saúde, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca da monografia. Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico. Salvador, janeiro de 2011. LUCAS GOMES CLEMENTINO DEDICATÓRIA A minha família – Adalberto, Márcia, Daniel Maria Rita, Adalberto Filho e Elba: meu suporte, meu auxílio, minha fortaleza. AGRADECIMENTOS Para que essa conquista fosse possível, muitas pessoas contribuíram. Sem o auxílio e compreensão deles, esse resultado não existiria. Assim, fica meu eterno agradecimento aos colegas da Petrobras, que entenderam e deram suporte à minha necessidade de estar ausente em algumas oportunidades; a minha família que, como uma verdadeira equipe, esteve sempre dedicada em apoiar e tornar possível meus sonhos. EPÍGRAFE “O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele.” Immanuel Kant RESUMO A presente monografia apresenta a temática da negociação no mercado de saúde, demonstrando a necessidade de uma visão mais ampla do cenário negocial e especificidades que cercam esse mercado, para obtenção de ganhos substancias para as operadoras e, conseqüentemente, seus beneficiários. A análise parte de um conhecimento do cenário atual para avaliar os modelos de acordos firmados no mercado e negociações recentes entre operadoras e prestadores de serviço. As experiências e ensinamentos de renomados profissionais da área de negociação estão presentes nesse trabalho, ilustrando as melhores práticas a serem incorporadas no processo de negociação no mercado de saúde. Dessa forma, tornase viável traçar algumas orientações que devem fazer parte da rotina dos responsáveis por negociação das operadoras, para que não percam oportunidades e obtenham resultados satisfatórios. Palavras-chave: negociação, mercado de saúde, operadoras, prestadores de serviço. ABSTRACT This monograph presents the subject of negotiation in the health market, demonstrating the need for a wider view of the scenery and negotiating specifics surrounding this market, to obtain substantial gains for operators and, consequently, their beneficiaries. The analysis is based on a knowledge of the current climate models to assess the market and the agreements signed in recent negotiations between operators and service providers. The experiences and teachings of renowned professionals from the negotiation are present in this work, illustrating best practices to be incorporated into the negotiation process in the healthcare market. Thus, it becomes possible to draw some guidelines that should be routine for those responsible for negotiating the carriers, not to lose opportunities and achieve satisfactory results. Key words: trading, healthcare market, operators, service providers. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..........................................................................................................01 CAPÍTULO 1 .............................................................................................................03 NEGOCIAÇÃO DEFINIÇÃO ETAPAS DA NEGOCIAÇÃO O NEGOCIADOR NEGOCIAÇÃO E FORTALECIMENTO DE PARCERIAS CAPÍTULO 2 ............................................................................................................11 DILEMAS E AVANÇOS DO MERCADO DE SAÚDE CORRETA REMUNERAÇÃO DOS SERVIÇOS MÉDICOS PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE X COMERCIALIZAÇÃO DE MATERIAIS E MEDICAMENTOS FALTA DE LEITOS E LOTAÇÃO DOS SERVIÇOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA APH - ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR HOME CARE - ATENDIMENTO DOMICILIAR CONCLUSÃO............................................................................................................27 REFERÊNCIAS.........................................................................................................30 1 INTRODUÇÃO O mercado de saúde possui fatores específicos, tornando as relações entre operadoras e prestadores diferentes das encontradas em outros ramos. São questões como a intervenção governamental, regulando o mercado e exigindo adaptações desses atores; o papel do cliente, muito mais exigente e bem informado, verdadeiro juízes do seu bem-estar; a assimetria de informações entre os atores, dessa forma, quem arca com os custos do cuidado com saúde, por falta de conhecimento técnico, está sujeito às determinações dos prestadores; caráter imprevisível da necessidade de cuidados de saúde, uma vez que a demanda pode acontecer a qualquer momento, muitas vezes em situações de urgência; alto custo de materiais e medicamentos, agravado pela atuação de fornecedores e altas taxas de comercialização exigidas pelos prestadores. Portanto, são diversos fatores que geram dificuldades nos relacionamentos do mercado e que devem ser resolvidas através de negociação. Assim, é fundamental entender a negociação além dos acordos de prestação de serviço, além da precificação de tabelas de diárias e taxas. A negociação em saúde é um processo constante e fundamental para a satisfação dos beneficiários, redução de custos e melhoria do relacionamento entre seus atores. Negociar no mercado de saúde é um processo que demanda várias etapas de discussão, justamente pelas peculiaridades citadas acima. Ainda persiste a visão de que as partes possuem interesses totalmente distintos e operadoras e prestadores não se enxergam como parceiros: de fato, muitos ainda não incorporaram a filosofia do “ganha-ganha”. Essa visão dificulta os entendimentos e prejudica o oferecimento de um melhor serviço. 2 Nesse cenário, o maior prejudicado é o beneficiário, esquecido no processo e sendo obrigado a suportar um atendimento cada vez mais precário, mesmo possuindo um benefício de saúde que deveria lhe fornecer cobertura. O beneficiário deseja, apenas, ter acesso a um atendimento de saúde com qualidade e, para tanto, o plano de saúde figura como o meio, enquanto que o serviço de saúde é representa esse fim almejado. Portanto, a grande questão é: como enfrentar as especificidades e problemas observados no mercado de saúde, a partir de processos negociais bem estruturados? É com base nas experiências adquiridas como negociador de uma operadora de saúde, conhecimentos obtidos nesse curso de especialização, observação do mercado e ensinamentos de renomados profissionais da área, que esse trabalho buscará elucidar o tema proposto, apresentando a realidade do mercado de saúde e relacionando pontos importantes para a condução de melhores negociações, não apenas em termos financeiros como, também, na otimização da prestação do serviço. 3 1 NEGOCIAÇÃO Quando se pensa em negociação, surge a idéia de grandes empresas operando no mercado, chefes de estado tratando de divergências entre suas nações, assinaturas de acordos multimilionários. Na realidade, a vida é uma negociação permanente e parte integral de qualquer relacionamento. Todo indivíduo, portanto, é um negociador nato. O que caracteriza o negociador profissional e o separa o indivíduo comum, é o conhecimento dos conceitos e técnicas de negociação. Aquele conhece o cenário em que está inserido, estuda cada proposta, planeja suas ações e está preparado para as situações que podem surgir ao longo do processo. Nas últimas décadas, o mercado de saúde tem passado por intenso processo de profissionalização. O surgimento de novos cursos de especialização e aumento nos critérios para contratação dos profissionais gestores de prestadores e operadoras de saúde faz com que essas instituições estejam mais bem preparadas, não permitindo que o relacionamento entre elas seja conduzido com amadorismo, principalmente no que tange às regras necessárias à boa condução dessa parceria. Nesse sentido, o negociador profissional surge como peça-chave. 4 1.1 DEFINIÇÃO A negociação é o processo de alcançar objetivos por meio de um acordo nas situações em que existam interesses comuns, complementares e opostos, isto é, conflitos, divergências e antagonismos de interesses, idéias e posições. 1 Destrinçando a definição do ilustre consultor José Augusto Wanderley, alcançam-se algumas considerações: 1. Como um processo, a negociação é composta por etapas, que devem ser respeitadas do início ao final. O sucesso de uma negociação, portanto, pode ser destruído pela falha no desenvolvimento de uma destas etapas; 2. Toda negociação é iniciada por algum interesse, ou seja, sempre há um objetivo a ser alcançado. Portanto, ao entrar em uma negociação, é preciso estar claro o que se deseja e até qual limite pode ceder, na busca desse objetivo; 3. Como já mencionado, a negociação é parte integral de um relacionamento, portanto, seu sucesso depende de um acordo, consenso, pacto, entre as partes. O interesse do outro partícipe deve ser respeitado; 4. Em uma negociação sempre haverá dificuldades, seja por conflitos de interesses, dificuldades de relacionamento, divergências de idéias. O que precisa ficar claro, em uma negociação profissional, é que a negociação é um processo de “ganha-ganha”, ou seja, não existe um derrotado no processo, mas sim, um acordo como resultado da cessão de interesses, em prol de um resultado justo para todos. Além disso, o negociador deve estar ciente de que representa uma entidade maior, portanto, deve superar qualquer rejeição à figura do outro interlocutor, na busca dos interesses de sua organização. 1 WANDERLEY, José Augusto. Negociação Total: encontrando soluções, vencendo resistências, obtendo resultados. 13ª Ed. Editora Gente, São Paulo, 1998, p. 21. 5 1.2 ETAPAS DA NEGOCIAÇÃO Como dito, negociação é um processo e, como tal, constituído por diversas etapas. Todas as etapas têm uma razão de ser e são responsáveis por um desfecho positivo. É importante cuidar de cada momento: antes da negociação, durante a reunião de negociação e posterior à negociação. Assim, observa-se que a reunião, em si, o momento das partes “sentarem à mesa”, é apenas parte de um processo maior. Antes da reunião, ocorre a importante etapa de preparação. Nesse momento, devem-se identificar todos os fatores necessários e suficientes para que o restante do processo ocorra com maior tranqüilidade, em condições favoráveis. O primeiro passo de uma boa preparação é conhecer o cenário. Assim, um bom negociador em saúde procura analisar quem serão os interlocutores do prestador. Serão técnicos, gestores? Possuem poder de decisão? Qual seu estilo comportamental? Na identificação do cenário é importante, ainda, escolher o melhor local para ocorrência de negociação. No caso de uma pauta de reunião, que necessite da participação de médicos do prestador, por exemplo, pela dificuldade desses profissionais se ausentarem, será mais estratégico que ocorra nas instalações do hospital. O segundo ponto é analisar quais os interesses de cada parte. Assim, é possível identificar os interesses comuns e focar naqueles opostos, que costumam “travar” as negociações. Além disso, deve-se saber exatamente o que quer, onde pode ceder, qual o limite de negociação, entre outros fatores. Finalizando a preparação, realiza-se o processo de negociação. É nesse momento que o negociador se prepara para a reunião, apresentando suas estratégias e táticas, para que os conhecimentos obtidos sejam bem empregados. O negociador deve estar ciente dos possíveis impasses e concessões que tenha de fazer. No mercado de saúde, onde os interlocutores são cada vez mais preparados, esse é um momento que deve ser tratado com extremo cuidado. A próxima etapa é a reunião de negociação, dividida em cinco etapas: abertura, exploração, apresentação, clarificação e ação final. Abertura é o momento de criar um clima favorável à reunião. Não é o momento de entrar no foco da reunião, mais tratar de outras questões que possam 6 desarmar até aquele interlocutor que vem na defensiva. No mercado de saúde, é interessante elogiar a nova estrutura do hospital ou extensão de serviços do prestador, comentar novas determinações das agências reguladoras e elogiar os avanços obtidos em reuniões anteriores. Na exploração, o negociador busca coletar informações, para entender melhor a situação. Assim, antes de ir direto ao problema, é necessário conhecê-lo pelo olhar da outra parte. A ANS – Agência Nacional de Saúde elabora diversas resoluções normativas, afetando as relações do mercado. Nesse momento, mesmo conhecendo essa determinação, uma das partes não deve partir para uma proposta, sem entender como a outra foi afetada. Esse exemplo demonstra o objetivo da exploração. A apresentação, como o nome sugere, é o momento de oferecer a proposta, que deve ser clara, impactante, coerente e trazer soluções e compromissos capazes de serem implementados. O interlocutor deve utilizar uma linguagem clara, ser paciente na explicação e esclarecimento de dúvidas e entender que a outra parte pode não possuir o mesmo grau de conhecimento. Supondo uma reunião, para tratar de um novo equipamento diagnóstico, conduzida por um médico representante de importante prestador, com participação do gestor de plano de saúde, formado em economia. Seria racional que o interlocutor do prestador apresentasse sua proposta, embasada em diversos termos técnicos e operacionais? Fica claro que essa apresentação poderia ficar para um segundo momento, envolvendo equipes técnica, mas, conhecendo a formação do gestor, prosseguir nessa linha não traria sucesso à negociação. A clarificação sucede à apresentação e visa esclarecer quaisquer dúvidas que tenha permanecido e receber a resposta à proposta apresentada. Essa resposta pode ser uma aceitação, contraproposta ou surgimento de impasse. É o momento das partes analisarem onde podem ceder, para tentar partir para o acordo. Na ação final, o acordo é finalizado, lembrando que não basta ter firmado um acordo de qualidade, sem que a outra parte não esteja satisfeita. Isso compromete a correta execução do acordado. O acordo final deve ser corretamente elaborado, sem brechas e falhas, deixando claros as obrigações, compromissos e regras. 7 É fundamental entender que a negociação só encerra com o acordo implementado. As instituições do mercado de saúde atuam com sistemas, onde são inseridos os valores acordados para cada item da tabela de preços. Mesmo depois de finalizado o acordo, se a operadora não providencia a implementação dessas bases negociadas, quando realizar o envio das faturas, como resposta, o prestador receberá glosas indevidas nos serviços prestados. Para muitos, chegando a um acordo final, está encerrada a negociação. Na verdade, o processo não termina, até que o firmado seja cumprido. É quando inicia a etapa de pós-reunião de negociação. A primeira fase dessa etapa cuida do controle e avaliação, não apenas verificando se o acordo está sendo cumprido, mas, também, tomando as providências para tratar dos desvios e, se for o caso, até renegociar algum ponto. Por fim, é após a reunião que a negociação deve ser avaliada, em um processo de aprendizagem, para que os erros e acertos sejam discutidos. Esse aprendizado torna o negociador mais preparado para os próximos desafios. É o feedback atuando na formação destes interlocutores. Portanto, negociar no mercado de saúde não difere do que ocorre em outros ramos de atividade. É preciso maior profissionalismo e preparo dos representantes de entidades, pois, o cenário atual apresenta problemas graves que somente serão sanados com a participação de todos e extrema negociação, para que o prestador possa obter remuneração justa, dentro do que as operadoras possam arcar e sem onerar mais o beneficiário ou diminuir a qualidade do seu atendimento. Esse, portanto, é o paradigma a ser alcançado. 1.3 O NEGOCIADOR Obviamente, não existe um padrão que indique as características necessárias a um bom negociador, até porque, diferentes situações exigem perfis diferentes de negociadores. Muitas vezes, um negociador pode atuar com diversos estilos, adaptando-se à situação surgida; em outros casos, é necessário envolver outro interlocutor, apto a tratar de determinada questão. É preciso ficar claro que não se trata, apenas, de conhecimento ou formação acadêmica. Em uma reunião, onde é conhecido que o interlocutor da outra parte possui um perfil intimidador, buscando pressionar a outra parte e até criando um 8 clima de tensão, é aconselhável que a representação seja feita por alguém de perfil moderado e experiente (para não se deixar intimidar). Assim, é importante conhecer a outra parte, pois a escolha do representante é um forte fator estratégico. No mercado de saúde, podem ser necessários diversos perfis de negociador. Para tratar de questões técnicas, como autorização de determinado material cirúrgico ou necessidade de realizar um procedimento, a condução deve ser feita por um técnico; no atendimento a um beneficiário, às vésperas de realizar uma cirurgia, irritado por não ter o ato cirúrgico autorizado, é recomendada a participação de interlocutor que busca boas relações interpessoais, como um assistente social; para tratar de um reajuste, pode ser necessário um profissional com grande conhecimento do mercado. Seja qual for o perfil, algumas características são fundamentais aos bons negociadores. Primeiramente, é necessário gostar de negociar. A empresa pode possuir o profissional mais experiente e conhecedor de mercado em atividade, se não tiver gosto e perfil pela negociação, não desempenhará um bom papel. Isso acontece com freqüência no mercado de saúde, principalmente em instituições cujos proprietários são médicos, dedicados ao exercício da profissão, mas que não delegam essa função para funcionários capacitados. O negociador deve ser um bom comunicador. Ele lida com o convencimento, apresentando propostas e buscando a aceitação da outra parte. Ter boa expressão é fundamental. Nesse ponto, se junta a outras duas características importantes: ser entusiasta e persuasivo. O negociador tem que ser sociável, respeitador e honesto. Construir uma imagem respeitada é essencial. Quando perde a credibilidade e respeito do mercado, é certo que sua carreira está no fim. Por fim, o mais importante: o negociador tem que ser profissional. Uma empresa que busca sucesso, não pode ser representada, aleatoriamente, por qualquer funcionário “à disposição”. O negociador profissional é capacitado, com ampla formação, sempre participando de cursos de atualização. Não inicia uma negociação sem um preparo prévio, simulando cenários e conhecendo o problema. Com a crise do setor de saúde, onde operadoras e hospitais lutam para melhorar suas situações financeiras, não há mais espaço para amadorismo dos negociadores. A tendência é que esses profissionais sejam mais valorizados. 9 1.4 NEGOCIAÇÃO E FORTALECIMENTO DE PARCERIAS Para muitos, um bom negociador é aquele que consegue os melhores resultados para sua empresa, “extraindo” o máximo possível da outra parte. Pouco importa os prejuízos que o outro tenha que suportar: o importante é obter resultados expressivos para sua organização. Não existe visão de parceria e nunca cede espaço em uma negociação. Esse perfil de negociador ainda pode funcionar, em algumas relações de mercados onde uma das partes exerce forte domínio sobre a outra, praticamente eliminando o poder de negociação desta. Nessas situações, não se observa uma real negociação, e sim, imposição de vontades. No entanto, vive-se uma economia aberta, onde a concorrência é cada vez mais acirrada e as instituições, em cada mercado, atuam como uma cadeia, um sistema, onde o desempenho e sobrevivência de uma dependem dos insumos disponibilizados pela outra. Aquele que antes era um adversário passou a ser visto como parceiro. Exemplo claro está no mercado de saúde, onde operadoras e prestadores, aos poucos, deixam de se enxergarem como inimigos, para buscar soluções em conjunto. Demoraram muito para atender que um depende do outro. A operadora é responsável por enorme volume de atendimentos e faturamento dos hospitais, por outro lado, são os prestadores quem atendem aos beneficiários e respondem pelo custo das operadoras. Imagine um grande plano de saúde que, valendo-se dessa condição, impõe uma tabela de remuneração muito baixa, a um determinado hospital, que está iniciando suas atividades. Com certeza, no momento em que esse prestador alcançar maior espaço e prestígio no mercado, “a conta será cobrada”. Assim, algum dia o plano irá precisar de um apoio desse prestador e, nesse momento, todo o passado do relacionamento será posto à mesa de negociação. Uma posição de vantagem, hoje, serve não apenas para obter um bom resultado de curto prazo, mas, principalmente, para demonstrar respeito pela parceria, ceder, mesmo estando nessa condição vantajosa, e construir relacionamentos que lhe serão favoráveis no longo prazo. Portanto, quanto maior for a dependência, mais importante torna-se considerar as necessidades e objetivos da outra parte. Falhar nessa consideração 10 pode ocasionar na destruição de um bom relacionamento, o que, no longo prazo, trará diversas complicações. Dessa forma, uma verdade é indiscutível: uma negociação, em que um único lado sai vencedor, é uma negociação mal-sucedida, não apenas para aquele que sofreu a derrota imediata, mas para a sustentabilidade do relacionamento futuro. Nos conceitos, atualmente, mais respeitados de negociação eficaz, sempre está presente o objetivo básico de se busca o “ganhaganha”, ou seja, benefícios para todas as partes. Como ficou claro na argumentação acima, um bom negociador caracteriza-se por alcançar excelentes resultados para sua organização, respeitando o limite para que a outra parte também tenha ganhos. Contudo, é muito difícil encontrar esse equilíbrio e, estar munido de informações adequadas, pode ser o grande trunfo do negociador. Se é fundamental que seu parceiro também obtenha benefícios em um acordo, primeiramente, deve-se saber o que ele deseja e de que maneira poderá agradá-lo. Esses dados sobre as necessidades e objetivos da outra parte, representam uma enorme vantagem no momento da negociação. Uma estratégia eficiente é ser direto e, nos momentos iniciais de uma conversa, perguntar o que outro está almejando, demonstrando que seu objetivo é buscar uma negociação de “ganha-ganha”. Além de reduzir o risco de posicionamento, uma vez que o negociador poderá conduzir o processo com base em dados claros, evita que se perca tempo discutindo determinado ponto que, na realidade, pouco impacto acarreta para ambas as partes. É a condução de uma negociação de forma objetiva, focando aquilo que realmente interessa. Já dizia o mestre Peter Drucker: primeiro o mais importante. 11 2 DILEMAS E AVANÇOS DO MERCADO DE SAÚDE A sociedade sempre buscou melhorar a qualidade e expectativa de vida dos cidadãos, através do desenvolvimento científico-tecnológico e aplicação de novos conhecimentos. Esses avanços ocorrem em diversos setores da economia, ocasionando impactos em áreas como educação, segurança e preservação da natureza. Com a saúde, a situação não é diferente. A saúde, nas últimas décadas, passou por diversas e importantes mudanças que, de maneiras diferentes, impactaram no governo, cidadãos, prestadores e operadoras de saúde. O problema, contudo, é que muitas dessas mudanças não foram estruturadas e coordenadas para atender aos anseios de toda a sociedade, principalmente em se tratando de um país com dimensões do tamanho do Brasil. Além disso, a desorganização dos avanços fez com que grandes problemas fossem sanados, enquanto demais questões forma deixadas de lado e novos problemas surgiram. É importante salientar que, avanços em outras áreas, também afetam na qualidade da prestação de serviços de saúde. Antigamente, por exemplo, o atendimento médico era apenas presencial. Hoje, com o avanço da telecomunicação, através de serviços de atendimento pré-hospitalar, o beneficiário pode ser consultado e medicado através de uma ligação telefônica, sem a necessidade de se deslocar para um hospital. A melhoria dos transportes, possibilitando o deslocamento rápido de um paciente em estado grave, é outro exemplo da melhoria em outras áreas afetando a saúde. Porém, também nesses setores, ainda existem muitos problemas que prejudicam a melhor prestação dos serviços de saúde. Basta verificar os problemas da malha aérea brasileira. 12 Nesse cenário, o Estado possui papel fundamental, afinal, a Constituição Federal garante o direito de assistência à saúde para todos os cidadãos. O que se observa, no entanto, é um aumento da crise da saúde pública, onde os hospitais públicos já não possuem condições de atender, aumentando a lotação dos hospitais particulares conveniados ao SUS. A dificuldade em atrair e manter profissionais qualificados é outro dilema do Estado. O principal entrave é a baixa remuneração do serviço público. Geralmente, os profissionais iniciam uma carreira no Estado, atuando em PSF – Programa Saúde da Família, hospitais públicos, entre outros. São empregos visto como temporários, uma vez que servem para custear a especialização desses jovens profissionais e como forma de se apresentarem ao mercado. Alcançado esses objetivos, a maioria deixa a saúde pública, para seguir carreira no setor privado. Cabe salientar que problemas semelhantes são encontrados em instituições privadas. Falta de leitos, baixa qualificação profissional, alto, índice de infecção hospitalar, urgências lotadas, são encontrados tantos em instituições públicas quanto privadas. Observando-se os pontos expostos acima, fica claro que o grande desafio está em como prestar uma assistência à saúde onde o cidadão tenha acesso ao sistema de saúde, com qualidade do atendimento e por um custo capaz de ser absorvido pela fonte pagadora. No enfrentamento desse cenário, importantes avanços ocorreram nas últimas décadas. Foram mudanças que impactaram na relação entre os elementos desse mercado e têm promovido conquistas consideráveis para os cidadãos e desafios para o setor. Um movimento que tem ganhado força e impactado no triângulo prestador/operadora/beneficiário é a chamada “judicialização do mercado de saúde”. Hoje, com a maior conscientização de seus direitos, principalmente pelo incremento dado pelo Código de Defesa do Consumidor, o cidadão passou a buscar mais o judiciário, na resolução de conflitos das diversas relações de consumo. Nesse sentido, a saúde não ficou fora. O fim, ou diminuição, das barreiras comerciais é outro ponto importante a ser observado. Com a globalização da economia, surpreende a velocidade com que produtos e serviços surgem e são disseminados entre países. Diferente do que 13 ocorria décadas atrás, produtos são lançados, simultaneamente, em países de primeiro e terceiro mundo. Em paralelo, o Brasil ganhou força no cenário externo. Possuímos uma economia forte, atraindo multinacionais e investidores estrangeiros, inclusive na área da saúde. O resultado é observado na aquisição de novos e modernos equipamentos, acesso dos profissionais a novas técnicas e importação de medicamentos e produtos de saúde. Em paralelo, o consumidor torna-se cada vez mais exigente, seja pela melhoria da educação e facilidade de acesso às informações, seja pelo aumento do poder econômico da população. As operadoras passaram a lidar com um beneficiário questionador, ciente das melhores opções de tratamento e preparados para argumentar em defesa desse entendimento. O próprio médico passou a dedicar maior tempo à explicação da sua alternativa de tratamento, uma vez que seu paciente já não aceita, passivamente, a decisão do profissional. A Pirâmide Demográfica Brasileira já não é a mesma dos anos 70. Aumentou a expectativa de vida, ao passo que a melhor educação e acesso aos meios de prevenção têm diminuído a taxa de fecundidade. Assim, a sociedade brasileira está mais idosa, conseqüentemente, aumentando a busca por tratamentos de saúde, principalmente pelo crescimento de pacientes crônicos. Epidemiologicamente, também, vive-se um momento delicado. Muitos males do passado ainda perduram, demonstrando que as campanhas de saúde do governo e implementação das melhorias sanitárias não foram suficientes, ao mesmo tempo em que novas doenças e epidemias são identificadas. Em resposta aos anseios do consumidor e necessidades do mercado, a indústria do setor de saúde tem investido em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Apesar do lado positivo da busca por melhoria na qualidade do serviço de saúde, esses avanços têm elevado o custo. Se um hospital adquire um equipamento de nova geração, obviamente, precisará repassar o alto valor investido. Assim, embora o avanço do conhecimento e surgimento de novas tecnologias estejam disponíveis para um melhor tratamento dos pacientes, não há recursos suficientes para arcar com todas essas despesas. Se a situação já é difícil para o cidadão beneficiado com um plano de saúde complementar, torna-se insustentável para àqueles que dependem, exclusivamente, da assistência do Estado. 14 Ainda assim, o investimento em tecnologias de saúde do Brasil quando comparado ao de países desenvolvidos, ainda é muito inexpressivo. O Brasil investe, aproximadamente, 7% a 8% do seu PIB, correspondente ao que países desenvolvidos investiam na década de 80. Hoje, a diferença no montante de investimento é gritante! Os EUA, por exemplo, investem cerca de nove vezes o Brasil investe em saúde por habitantes. Em todo caso, somente aumentar o investimento não é o suficiente. Antes de qualquer coisa, é preciso gerenciar bem esse processo, para que os recursos sejam adequadamente empregados. A fim de tentar equilibrar essa balança onde, de um lado, encontra-se o custo do atendimento em saúde e, do outro, os limitados recursos das fontes pagadoras, surge a economia da saúde. Essa é uma nova área do conhecimento busca incorporar os conhecimentos econômicos ao setor saúde. Assim, através da economia da saúde, o intuito é encontrar uma forma de se ofertar saúde, selecionando o melhor conjunto de serviços e produtos, sem distinção entre os membros da sociedade e por um custo capaz de ser absorvido. A economia da saúde é parte de um conjunto de ações que acarretaram na maior profissionalização do setor. Com o passar do tempo, essa necessidade foi ganhando importância e, diante de tanta turbulência, a capacitação e investimento em mão-de-obra qualificada tornou-se questão fundamental. Operadoras e prestadores passaram a entender a complexidade e peculiaridades do setor. Hospitais não poderiam mais ser conduzidos apenas por médicos, que assumiam papel de gestor financeiro, RH, comercial. Operadoras não sobreviveriam gerenciadas por administradores ou economistas sem um mínimo conhecimento em saúde. Em outras palavras, a gestão profissional da saúde passou a ser reconhecida. Esses gestores são responsáveis pelo uso apropriado dos recursos e pela qualidade e eficiência do sistema de saúde. Essa mudança de conceitos implicou na criação de cursos e surgimento de consultorias especializadas. A educação em saúde tem avançado no surgimento de cursos de graduação, como a administração hospital, e diversos cursos de pósgraduação. Para um bom funcionamento desse mercado, é necessário que haja um sistema de regulação eficaz. O Brasil tem avançado na implementação e fiscalização de políticas voltadas para a saúde. A Agência Nacional de Saúde Suplementar é exemplo dessa conquista. Cabe frisar, no entanto, que é necessária 15 a regulação de todos os participantes dessa cadeia, para não ocorrer de apenas alguns terem que suportar todo o peso. É necessário, ainda, observar as distinções entre tipos de operadoras e prestadores de serviço, para uma regulação justa. Em resumo, é preciso que todos possuam suas obrigações e limites de atuação bem definidos. Os pontos tratados acima não esgotam a complexidade e dilemas do sistema de saúde brasileiro. Outras questões poderiam ser relacionadas, porém, mesmo diante de tantas dificuldades, já é possível verificar avanços e soluções para muitos desses problemas. Sabe-se que ainda há muito para ser feito e o resultado não será sentido no curto prazo. O foco principal desse trabalho são as situações capazes de serem minimizadas ou sanadas, por ações de operadoras e prestadores de saúde, conduzidas através de um planejado processo de negociação. Portanto, passa-se agora a uma análise mais aprofundada dessas questões. 2.1 CORRETA REMUNERAÇÃO DOS SERVIÇOS MÉDICOS A saúde está em constante evolução. A cada dia, surgem novas técnicas cirúrgicas, drogas e equipamentos médicos, materiais hospitalares. De repente, procedimentos e tratamentos são realizados de maneira completamente diferente daquela utilizada há pouco tempo atrás. Em muitos casos, essas alterações são justificadas pela melhor qualidade do serviço e, conseqüentemente, maior resolutividade no atendimento ao paciente. Por outro lado, muitas vezes são aplicadas novas técnicas, cuja eficácia não foi comprovada ou produz resultado semelhante ao encontrado pelos meios anteriormente existentes. Observa-se que a saúde é tratada, cada vez mais, como um comércio. Seus produtos e serviços são vendidos, não por serem necessários ao tratamento do paciente, mas por gerarem lucros às instituições hospitalares. Nesse sentido, cada parte elege um culpado: para as operadoras, os médicos e hospitais deixaram de lado a ética de suas atividades, colocando os lucros à frente do atendimento à saúde; para os prestadores de serviço, as fontes pagadoras impõem baixa remuneração, obrigando-os a compensar seus prejuízos naquilo que não é a sua atividade fim. 16 A verdade é que não existe um único culpado, mas sim, uma falha histórica, distorcendo as relações comerciais entre esses entes. Por inércia de ambos, ao longo dos anos, as negociações foram reduzindo-se à remuneração de diárias, taxas, equipamentos hospitalares e taxas de comercialização sobre tabelas referenciais de medicamentos e materiais. As características de cada prestador deixaram de ter importância, reduzindo-se às insignificantes classificações de hospitais por porte ou local de instalação. Questões fundamentais como resolutividade do atendimento e qualificação da equipe médica, ficaram em segundo plano. Assim, pouco peso passou a ter uma revascularização do miocárdio realizada em um centro de referência, por uma equipe técnica renomada, em comparação ao mesmo procedimento em um hospital de atendimento geral, por um profissional recémformado: é negociado um “pacote de serviço”, remunerando ambos pelo mesmo preço. Assim, torna-se urgente uma revisão desses critérios. Esse modelo simplificado de negociação, colocando todos os prestadores no mesmo patamar, gera injustiças, prejudicando os melhores prestadores, que investem na qualificação dos seus profissionais, adequação de suas estruturas e maior humanização do atendimento. 2.2. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE X COMERCIALIZAÇÃO DE MATERIAIS E MEDICAMENTOS Qual o papel de um hospital: comercializar produtos ou prestar serviços de saúde? Apesar de parecer óbvio, essa resposta seguirá abaixo. São todos os estabelecimentos com pelo menos Cinco leitos, para internação de pacientes, que garantem um atendimento básico de diagnóstico e tratamento, com equipe clínica organizada e com prova de admissão e assistência permanente prestada por médicos. Além disso, considera-se a existência de 17 serviço de enfermagem e atendimento terapêutico direto ao paciente, durante 24horas, com a disponibilidade de serviços de laboratório e radiologia, serviço de cirurgia e/ou parto, bem como registros médicos organizados para a rápida observação e acompanhamento dos casos".2 Essa é a definição de hospital, pela respeitada Organização Pan Americana de Saúde. Portanto, fica claro que sua função é de prestação de serviço. No entanto, observando-se o faturamento das entidades hospitalares, a impressão é inversa. Analisando-se os grandes hospitais, percebe-se que, em média, 60% do seu faturamento estão nos valores cobrados por medicamentos e matérias utilizados no tratamento dos pacientes. Apenas 40% destinam-se ao pagamento de honorários médicos, exames e leitos e equipamentos necessários à prestação do serviço. Assim, percebe-se uma clara distorção: os hospitais prestam serviços, mas “sobrevivem” através do comércio. Materiais e medicamentos são insumos à prestação do serviço. Teoricamente, não deveria haver margem de comercialização sobre eles, ou, na pior das hipóteses, aplicação de percentuais bem menores do que os atualmente praticados. No entanto, os valores das diárias e taxas hospitalares não são suficientes para sobrevivência dessas instituições, obrigando-as a buscar a compensação nesses insumos. Nesse cenário, o “grande vilão”, para operadoras, e “meio de sobrevivência”, para os prestadores de serviço, é o OPME. 2 Organização Pan-Americana da Saúde. Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada. Disponível em: http://new.paho.org/bra/index.php?option=com_ docman&task =cat_view&gid=1161&Itemid=423. Acesso em: 24/03/2011. 18 OPME é uma sigla que representa os materiais de alto custo hospitalar: Órteses, Próteses e Materiais Especiais. Antes de dissertar sobre os impactos desses materiais no mercado, é necessário distinguir cada espécie. Órteses são dispositivos utilizados temporariamente, para que um órgão ou segmento do corpo possa realizar suas funções corretamente. Assim, trata-se de um dispositivo externo, destinado a alinhar, prevenir ou corrigir deformidades, além de melhorar o exercício de funções do corpo. Como exemplos inserem-se nessa categoria os coletes e munhequeiras. Enquanto as órteses auxiliam uma parte do corpo, as próteses substituem uma estrutura anatômica, realizando as atividades que caberiam a ela. Como exemplo, temos os diversos membros mecânicos e as próteses dentárias. Por fim, não existe uma definição clara para materiais especiais, uma categorização de materiais como comuns ou especiais. Essa é uma classificação particular, negociada por cada operadora com seus prestadores, considerando, principalmente, o custo de cada item. Assim, quando um material ultrapassa determinado valor teto, é classificado como material especial, necessitando de um processo mais burocrático de autorização. Ao longo dos anos, e com o avanço tecnológico na saúde, o OPME foi se tornando elemento de elevado comprometimento dos custos da assistência à saúde. Esta é uma questão cuja necessidade de solução é urgente, contudo, envolve diversos atores que não conseguem visualizar a questão sobre a mesma ótica. Assim, antes de traçar soluções à questão, é necessário conhecer como o OPME influencia cada uma das partes. O aumento de custo do atendimento à saúde, anualmente, ocorre em proporção muito maior do que eleva o valor da contribuição do beneficiário à sua operadora de saúde. Não há como se repassar todo o aumento de custo e, por esse motivo, a solução é aumentar a gestão sobre esse elemento. O OPME, como já dito, é a maior preocupação das operadoras, que tem procurado “apertar” o controle sobre suas autorizações. Muitas vezes, no entanto, esquecem de avaliar questões técnicas e melhor resolutividade para o paciente, visualizando apenas a questão financeira. Os hospitais, como já mencionados, estabelecem margens de comercialização sobre os produtos hospitalares utilizados no atendimento aos beneficiários do plano de saúde. É uma forma de compensar as diárias e taxas de 19 salas e equipamentos, muitas vezes aquém do custo de manutenção. Contudo, mesmo sendo real esse quadro, muitos prestadores aproveitam-se par aplicar taxas exorbitantes. Em se tratando de OPME, que, em muitos casos, são necessários em um atendimento de urgência e emergência, quando o espaço para negociação é míninimo, essas instituições aproveitam para aumentar seus ganhos. Hoje, o maior acesso à informação, principalmente com o advento da internet, faz com que os pacientes participem da prescrição médica e opinem na definição da técnica a ser utilizada na cirurgia. Os pacientes já não são totalmente leigos. Conhecem os benefícios de cada tecnologia ou droga e, dessa forma, influenciam na escolha do OPME utilizado em seu tratamento. Contudo, mesmo com a influência dos pacientes, a famosa máxima de que “o cliente tem sempre a razão”, nesse caso, não é válida. Por melhor informado que estejam, não são capazes de discernir o material que é confiável do que não é. Essa decisão cabe ao médico, que precisa estar bem informado, diante das novas tecnologias que surgem a cada dia, e seguro, para que suas indicações sejam convincentes, diante desse novo perfil de paciente. Nesse sentido, o médico passa a ser o maior responsável por aumentar a utilização de materiais de alto custo. São assediados pelas distribuidoras de materiais e fabricantes que, dentro dos centros cirúrgicos dos hospitais, oferecem premiações e vantagens pela indicação dos seus produtos. Obviamente que, até pelo respeito que têm ao juramento profissional, não se deve crer que os médicos considerem essa influência, como critério principal para indicação de um tratamento, porém, observa-se que, havendo mais de uma opção de material para tratamento do seu paciente, ambas com eficácia comprovada, o profissional opta pela aquela que lhe trará um “ganho extra”. Assim, a operadora de saúde ficou em segundo plano, sendo, o fornecedor de material, melhor parceiro para o médico. Portanto, quem paga essa conta é a operadora de saúde. Há situações em que o próprio médico é o representante de determinada marca em seu Estado. Outros, não só determinam a marca do material, mesmo havendo outras opções no mercado, como exigem o fornecedor do mesmo. Esse tipo de direcionamento elimina qualquer possibilidade de se obter a negociação de um melhor preço, mesmo indo contra determinação do próprio CFM- Conselho Federal de Medicina, em Resolução n°1.956/2010, artigos 1° ao 5°. . 20 Art. 1° Cabe ao médico assistente determinar as características (tipo, matéria-prima, dimensões) das órteses, próteses e materiais especiais implantáveis, bem como o instrumental compatível, necessário e adequado à execução do procedimento. Art. 2° O médico assistente requisitante deve justificar clinicamente a sua indicação, observadas as práticas cientificamente reconhecidas e as legislações vigentes no país. Art. 3° É vedado ao médico assistente requisitante exigir fornecedor ou marca comercial exclusivos. Art. 4° As autorizações ou negativas devem ser acompanhadas de parecer identificado com o nome e número de inscrição no Conselho Regional de Medicina do médico responsável pelo mesmo. Art. 5° O médico assistente requisitante pode, quando julgar inadequado ou deficiente o material implantável, bem como o instrumental disponibilizado, recusá-los e oferecer à operadora ou instituição pública pelo menos três marcas de produtos de fabricantes diferentes, quando disponíveis, regularizados juntos à Anvisa e que atendam às características previamente especificadas. O OPME corresponde a, aproximadamente, 10% do sinistro total das operadoras e 20% do custo de uma internação. Fica nítida, portanto, a importância em aumentar o controle sobre esse item e, de fato, não falta esforços, para uma melhor gestão desse custo. Porém, em seu Caderno de Informação de Saúde Suplementar 2008, a ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar demonstrou que esses esforços não estão sendo eficazes e o peso do material especial é crescente. O estudo apresentou um resultado alarmador: as internações têm sofrido aumento de 14%, ao ano, desde 2002. É certo que o grande responsável é o OPME. Tendo em vista os claros efeitos desse problema, resta às operadoras buscar meios eficientes para, ao menos, amenizá-los. Algumas saídas são: 21 1. Referenciar sua rede credenciada, optando por aqueles prestadores parceiros, tanto profissionais médicos, quanto instituições hospitalares; 2. Investir em equipe técnica, capaz de verificar, previamente, a requisição do uso de OPME. Dessa forma, busca-se, junto ao médico solicitante, alternativas menos onerosas, sem que o paciente seja prejudicado. 3. Como discutido acima, os hospitais possuem papel importante nesse cenário. Uma vez que a remuneração do serviço hospitalar é inadequada, os hospitais acharam, nos materiais e medicamentos, a saída para obter alguma margem de lucro ou diminuir seus prejuízos. É fundamental, portanto, equilibrar essa balança e negociar os valores de materiais e taxas de comercialização mais baixas com os hospitais. 4. Assumir a responsabilidade pela compra dos materiais. Hoje, são várias as empresas especializadas em tecnologia de gestão de saúde, oferecendo portais eletrônicos de compra. Ainda existe rejeição, por muitos prestadores, em permitir que a operadora adquira os produtos diretamente dos fornecedores. Contudo, uma vez sendo negociada uma taxa de administração dos hospitais, essa possibilidade pode se tronar viável. É fundamental, contudo, que também se negocie com os fornecedores. Nesse sentido, a depender do número de vidas da operadora e perfil de seus beneficiários, o volume de aquisições pode ser forte argumento, para essa negociação. 5. Os pacotes de procedimentos cirúrgicos figuram como outra opção. Nesse caso, há um compartilhamento do risco, visto que acordasse um preço médio para aquele ato cirúrgico, já envolvendo o valor do OPME, e o procedimento pode fugir desse valor, para mais ou menos, a depender do quadro do paciente. 6. Muitas operadoras e instituições estão empenhadas na criação de listas referenciais de preço. Assim, os valores são previamente acordados, em condições razoáveis, com a vantagem de reduzir tempo e burocracia (como envio de cotações) no momento da autorização e pagamento dos serviços. 7. Utilizar a Câmera Técnica de Avaliação de Incorporação de Novas Tecnologias, da ANS, para embasar as justificativas técnicas, para negativa de materiais e preservação da saúde dos beneficiários. Trata-se de equipe técnica responsável por avaliar eficácia de OPME, assim como novos exames e técnicas cirúrgicas. 22 Seja qual for a alternativa adotada, o fato é que esse tipo de desgaste com negativa de materiais cria um problema e desgaste com todos os envolvidos – médico, operadora, paciente, hospital e fornecedor. Não importa quem está lucrando mais com essa situação: os fabricantes e distribuidores, com alta margem de lucro; profissionais, com premiações, financiamento de congressos; hospitais, através de altas margens de comercialização; operadoras, reduzindo custo de suas internações. A saída só existirá quando todos estiverem envolvidos, inclusive com intervenção e regulamentação do Estado, principalmente eliminando abusos nas margens aplicadas pelos fabricantes de OPME, na busca de uma solução. Do contrário, mais cedo ou mais tarde, um lado desse pentágono não resistirá. Finalmente, fica claro que se deve rever o papel do hospital e sua justa remuneração pelo serviço que realiza, qualidade do atendimento aos pacientes e resolutividade. O médico, da mesma forma, deve ser melhor remunerado pelo importante papel que desempenha na sociedade. No entanto, a realidade econômica é difícil. Há que se encontrar um ponto de equilíbrio, em que as operadoras também possam sobreviver. 2.3 FALTA DE LEITOS E LOTAÇÃO DOS SERVIÇOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Outrora, era comum encontrar nos veículos de comunicação, notícias a respeito da crise de leitos e dificuldades no atendimento de urgência, para assistidos pelo SUS – Sistema Único de Saúde. Atualmente, essa precariedade deixou de ser um desafio restrito a quem depende do serviço público. A falta de leitos para internação hospitalar é uma realidade do sistema privado de saúde e o setor de atendimento de urgência/emergência, muitas vezes compartilhado com o SUS, encontra-se em lotação máxima. Os números demonstram o agravamento do problema, ao longo dos anos: houve redução de 14% no número de vagas para atendimento particular, nos últimos 34 anos, enquanto que o SUS teve aumento de 28,4%. No geral, apenas, entre 2005 e 2009, houve redução de 11.214 vagas (pesquisa AMS - Assistência Médico-Sanitária). O país possui um total de 431.996 leitos, sendo ainda grande a 23 diferença na distribuição: 35,4% estão em instituições públicas e 64,6% em hospitais privados. Há, ainda, uma desigualdade na distribuição regional. A região Sudeste responde pela maioria dos leitos (54,2%), enquanto o Norte, região mais pobre do país, possui apenas 4,6%. Segundo Marco Antônio Andreazzi, gerente de pesquisa do IBGE, quando se observa a proporção entre número de habitantes e oferta de serviços, a população vive situação semelhante à enfrentada na década de 70. Para ele: “A rede particular tem repetido essa queda desde 1999 e isso tem pesado para o país, que está envelhecendo. Somos cerca de 180 milhões de brasileiros e a saúde é fundamental para a população”. O Ministério da Saúde demonstra preocupação com essa realidade. A entidade estima ser necessário entre 2,5 a 3 leitos, para cada grupo de mil brasileiros. Em 2009, a quantidade de leitos por mil habitantes estava na proporção de 2,3. Diante desse cenário e consciente de que as melhorias necessárias ao correto atendimento da população não ocorrerão no curto prazo, as operadoras devem buscar alternativas. Nesse sentido, Home Care e serviços de atendimento pré-hospitalar, são excelentes alternativas. 2.2.1 APH – ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR O APH – Atendimento Pré-Hospitalar destina-se ao atendimento emergencial, em ambiente extra-hospitalar. Quando bem estruturado, o APH diminui o deslocamento de pacientes aos hospitais de emergência, além de reduzir o custo das operadoras (uma vez que o atendimento hospitalar é bastante oneroso). A empresa contratada para esse tipo de serviço possui profissionais habilitados a prestar atendimento tanto à distância, por telefone, quanto presencial, com o deslocamento dos profissionais para o local onde o paciente necessita de cuidados. Mesmo nos casos em que se verifique a necessidade de remoção, o serviço de APH é interessante, uma vez que ocorre uma consulta prévia aos 24 hospitais habilitados ao atendimento, evitando o direcionamento do paciente para um prestador sem disponibilidade de leitos. O serviço é acionado pelo próprio paciente, familiar ou por outras instituições sociais. A triagem ocorre em uma central de atendimentos, formada por médicos, enfermeiros e demais profissionais, todos especializados em prestar esse tipo de atendimento. Nesse momento, é verificado o grau de urgência e o tipo de atendimento que será prestado (à distância ou presencial). Apesar de ser uma medida bastante eficaz, o sucesso do APH é conseqüência de um prévio e bem planejado processo de negociação. Por ser um serviço muito específico, é necessário ter as obrigações e contrapartidas claramente definidas, criar um forte canal de divulgação do serviço e aproximar as demais instituições envolvidas no processo, principalmente, a rede hospitalar. É cultural: o brasileiro possui enorme confiança no atendimento hospitalar, apesar do caos existente nas emergências, lotando esses centros de atendimento, mesmo em situações que não se configuram como emergência. Para desmitificar esse entendimento, o APH necessita funcionar o mais próximo da perfeição. Portanto, ponto-chave para o sucesso desse serviço é o estabelecimento de prazos de atendimento e indicadores de controle. Essa deve ser uma cláusula bem explicitada no acordo, inclusive com medidas punitivas no caso de descumprimento. O negociador precisa ter atenção com o valor contratado. Geralmente, essas empresas negociam a partir do número de vidas a ser atendido. Assim, para se chegar a um valor coerente, é necessário uma série de dados, como a quantidade e custos dos atendimentos de urgência e internações e perfil dos usuários. Em um primeiro momento, é sugerido trabalhar através de um projeto piloto, uma vez que não se sabe como será a aceitação dos beneficiários, assim, podendo ser revisado em curto tempo. Firmado o acordo, é necessário criar uma estratégia de comunicação eficaz, a fim de apresentar os benefícios do serviço e convencer os beneficiários a utilizar o serviço. Esse plano de comunicação deve anteceder ao serviço e seguir nos primeiros meses do seu funcionamento, até que sua idéia esteja fortemente disseminada. Por fim, nos atendimentos críticos, será necessário um bom relacionamento do APH com a rede hospitalar. Trata-se de uma logística difícil de 25 ser criada, necessitando da intermediação do negociador. O importante é buscar construir uma relação de efetiva parceria entre o atendimento pré-hospitalar e as instituições de saúde que são responsáveis pela continuidade do atendimento, principalmente para que haja a garantia de leito, naqueles referenciados para receber os pacientes oriundos dessa modalidade de atendimento. 2.2.1 HOME CARE – ATENDIMENTO DOMICILIAR Assim como o APH, o Home Care – Atendimento Domiciliar destaca-se pela prestação de serviços na área de saúde, em um ambiente extra-hospitalar, contudo, diferente do APH, o Home Care não se dedica a situações de urgência, mas a beneficiários que se encontram em internação hospitalar. Além disso, o home care é compreendido como uma modalidade contínua de serviços na área de saúde. Cabe salientar que, como pré-requisito ao atendimento domiciliar, uma condição está sempre presente: a impossibilidade de locomoção do paciente. Dessa forma, são duas as modalidades de serviços prestados: atendimento domiciliar, propriamente dito, e internação domiciliar. No atendimento domiciliar, são tratados os pacientes que aguardam seu restabelecimento e retorno às suas atividades normais, em situações de menor gravidade, sem necessidade de plantão de profissionais de saúde. Trata-se, portanto, de impossibilidade de locomoção temporária. No caso de pacientes que necessitam de gerenciamento constante (pacientes crônicos) ou que se encontra em fase terminal, o home care oferece a internação domiciliar. Cabe ressaltar que, para os pacientes em fase terminal, é uma maneira de conceder um final de vida digno, mantendo-o em sua residência, próximo à sua família. O home care, portanto, atua na rotatividade dos leitos hospitalares, uma vez que a estrutura de internação é instalada na residência do paciente. Além disso, representa menor custo para operadora, quando comparado a uma diária de internação hospitalar. A prestação do serviço de home care prevê uma negociação entre operadora e serviço de saúde. Nesse momento, são estabelecidas as modalidades de atendimento contratadas e composição de cada atendimento. Devem ficar claros os serviços que comporão cada diária, destacando as quantidades de visitas 26 médicas, sessões de fisioterapias, responsabilidade por remoção para exames, entre outros. Cabe ao negociador, ainda, acordar com sua rede hospitalar, para que o serviço tenha acesso aos pacientes aptos ao home care. Não devem ser criados obstáculos à remoção dos pacientes, ficando claro, contudo, que esse gerenciamento ocorre com base em critérios técnico-científicos e que as decisões devem ser baseadas no melhor nível de evidência clínica possível. Por fim, muitas vezes as famílias não entendem os benefícios da internação domiciliar ou, em sentido inverso, não compreendem as razões para não aceitação do paciente. Nesse momento, os representantes da operadora necessitam ter domínio das estratégias de negociação e persuasão, para convencer a família. As alternativas apresentadas são apenas exemplos de estratégias que podem ser adotados pelas operadoras de saúde, no enfrentamento de dois dos maiores problemas encontrados em nosso mercado: falta de leitos hospitalares e superlotação das emergências. Aos negociadores, conhecendo a realidade do seu nicho de atuação, cabe analisar outras saídas, mesclar alternativas e atuar nesses problemas. 27 3 CONCLUSÃO O presente estudo apresentou uma série de dilemas em que vivem as instituições atuantes no mercado de saúde. Não são problemas simples e temporários. Tratam-se de questões críticas, que têm causado a falência de muitas empresas, algumas, antes vistas como poderosas e financeiramente equilibradas. A tendência é que o cenário venha a se agravar. Com a crise dessas instituições, há diminuição do número de leitos, redução da concorrência e pior prestação do serviço. Por outro lado, com a melhoria do poder aquisitivo da população, existe uma maior procura de tratamentos médicos e aquisição de planos de saúde complementar. Portanto, cresce a demanda, enquanto a oferta de saúde está em decréscimo. Tudo isso demonstra que o mercado de saúde está em crise e, quando isso ocorre, é necessário rever os processos, quebrar paradigmas e implementar novas estratégias de gestão. Gestão, com certeza, é algo que foi esquecido por essas empresas, durante muito tempo. No entanto, na contramão da maioria, algumas empresas entenderam a necessidade de revisão dos seus processos e, como resultado, estão crescendo no mercado e absorvendo suas concorrentes. Portanto, o segredo do sucesso no mercado de saúde, não difere da “receita” encontrada nos demais atividades empresariais: vence aquele que adota as melhores práticas de gestão! Nesse sentido, a negociação tornou-se importante ferramenta, para as empresas superarem essas dificuldades. Através de negociações planejadas, as instituições têm encontrado saídas inovadoras e alterando a maneira de pensar a administração da saúde. 28 Negociar, no entanto, é um processo que depende da disposição de todas as partes, para conversar e buscar um entendimento. Do contrário, não há negociação, mas sim, imposição de vontades. Esse tipo de atitude não tem mais espaço em mercados dinâmicos e com enorme interdependência das empresas. Assim, é visível os avanços da negociação no mercado de saúde, até mesmo na maneira como a ANS tem conduzido a construção de suas determinações, convidando às partes interessadas para opinarem em consultas públicas. A Classificação Brasileira Hierarquizada de Honorários e Procedimentos Médicos, CBHPM, é outro exemplo da participação e negociação entre os diversos atores, para, nesse caso, construir uma tabela referencial de preços para os atos médicos. No entanto, ainda há muito para avançar, principalmente para que o cidadão possa ter um atendimento de qualidade, no tempo e medida adequados. Para isso, precisa-se estudar maneiras de aperfeiçoar o atendimento nos prontosocorros, criar leitos e dar condições das instituições manterem-nos funcionando, melhorar as condições de trabalho dos profissionais de saúde. Enfim, mais do que nunca, é preciso que os envolvidos estejam dispostos a negociar e cientes dos seus interesses e daquilo que podem ceder na busca de um resultado satisfatório para todos. É preciso ainda que o Estado reconheça esses problemas e assuma a impossibilidade de buscar soluções isoladas. Afinal, a saúde é um direito fundamental do ser humano, reconhecido na Constituição Federal, no entanto, fica claro que o estado não tem como promover esse cuidado isoladamente. As instituições particulares desempenham um papel fundamental, inclusive com o atendimento aos pacientes do SUS. Instituições filantrópicas e ONGS, também estão envolvidos nesse contexto. Há de se reconhecer que algumas medidas já foram tomadas pelo Estado. Exemplo claro é a criação da ANS. Contudo, é preciso que a regulamentação venha para todos. Hoje, o que se observa é uma agência reguladora atuando forte sobre as operadoras de saúde e pouco fiscalizando a atuação das instituições de saúde. É necessário ainda, com a maior urgência, controlar a atuação dos distribuidores e fabricantes de materiais e medicamentos. 29 Enfim, crescem as especializações em gestão de saúde no Brasil. As instituições estão investindo na profissionalização de seus colaboradores e, com isso, há sensível melhoria no relacionamento de mercado. Surgem especialistas nas diversas áreas voltadas à gestão de saúde, como auditoria de contas, compras hospitalares, e como já citados, em negociação de saúde. Deve-se confiar em uma realidade muito melhor, nos próximos anos, uma vez que todas essas mudanças de comportamento estão sendo incorporadas pelas organizações. Uma coisa é certa: a negociação é sempre a melhor saída e, para aqueles que investirem na melhoria dos relacionamentos e conhecerem o mercado que estão inseridos e aquilo que desejam, será o diferencial que conduzirá não penas à sobrevivência, mas o crescimento dessas instituições. 30 REFERÊNCIAS WANDERLEY, José Augusto. Negociação Total. 13ª ed. São Paulo: Editora Gente, 1998. PORTER, Michael, TEISBERG, Elizabeth. Repensando a Saúde. Porto Alegre: Bookman, 2007. COHEN, Herb. Você Pode Negociar Qualquer Coisa. Rio de Janeiro: Record, 1982. BRASIL. Resolução CFM nº 1956 de 25 de outubro de 2010. Disciplina a prescrição de materiais implantáveis, órteses e próteses e determina arbitragem de especialista quando houver conflito. Diário Oficial da União. Brasília, 25 out. 2010. Organização Pan-Americana da Saúde. Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada. Disponível em: http://new.paho.org/bra/index.php? option=com_docman&task=cat_view&gid=1161&Itemid=423. Acesso em: 24/03/2011. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 21ª ed. São Paulo: Malheiros, 2002.