Desafios de DMI e suprimentos médico-hospitalares
A discussão envolvendo os Dispositivos
Médicos Implantáveis (DMI) ganhou
repercussão nacional em 2015, a partir
do escândalo da chamada Máfia das
Órteses e Próteses, que estampou as
manchetes dos principais veículos de
comunicação do país no início do ano.
Apesar de o tema já ser abordado no
âmbito do setor saúde há bastante
tempo, o debate ganhou força na esfera pública, e uma CPI para investigar as relações do setor
foi instaurada pela Câmara dos Deputas.
A partir desse cenário, os atores da saúde também passaram a inserir o tema com mais
frequência nas principais discussões do setor. A Anahp tem debatido o assunto e promovido
vários estudos, com o intuito de contribuir para estabelecer relações mais saudáveis e
transparentes em relação aos DMI.
Na manhã de ontem, 17 de novembro, os aspectos técnicos na utilização de DMIs e suprimentos
médico-hospitalares, e a regulação e os impactos para a saúde suplementar foram os temas
abordados durante o Workshop promovido pelos Grupos de Trabalho da Anahp - Legal
Regulatório, Relacionamento com Operadoras de Planos de Saúde e Relacionamento com
Fornecedores.
Leonisa Obrusnik, Superintendente de Suprimentos do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP); Ana
Paula Gomes de Melo, Logística e Farmácia Hospitalar do Hospital Beneficência Portuguesa (SP);
e Rodrigo Macedo, Superintendente de Suprimentos do Hospital Sírio-Libanês (SP),
compartilharam as boas práticas e o mapeamento do fluxo de DMIs nas instituições.
No hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP) há uma grande equipe dedicada a estabelecer o fluxo
adequado de DMIs na instituição e ferramentas que auxiliam na gestão dos dispositivos. Os
fornecedores cadastrados no hospital devem ser avaliados pelo Grupo de Avaliação de
Fornecedores (GAFO), além de manterem uma série de documentações atualizadas. “Há uma
equipe envolvida, utilizamos ferramentas que nos auxiliam neste processo, além do apoio do
GAFO, engenharia clínica, entre outras áreas que nos ajudam a manter a qualidade dos materiais
e a garantir a segurança do paciente”, comenta Leonisa.
De acordo com Leonisa, hoje a instituição possui 145 fornecedores de materiais de alto custo
cadastrados, 640 fabricantes e mais 117 mil itens. “Realizamos reuniões anuais de alinhamento
com os fornecedores”, complementa. A palestrante ainda ressaltou a importância de manter o
processo integrado na instituição.
Ana Paula, por sua vez, falou sobre a logística hospitalar de DMIs na instituição, a partir das
diferentes áreas envolvidas no processo - Central de OPME, Centro Cirúrgico (CC), Centro de
Materiais Esterilizados (CME) e
Engenharia Clínica. “Trata-se de
um processo complexo e ainda
temos muitos desafios pela
frente, como a necessidade de
implementação
de
uma
ferramenta de gestão de OPME;
pretendemos
investir
em
metodologias de acreditação,
como Lean Six Sigma, para
melhorar os processos; investir em rastreabilidade e automação por meio do RFID”,
compartilha.
Ao serem questionados sobre o motivo pelo qual a compra de OPME fica concentrada na
operadora de plano de saúde e não na instituição, os participantes da mesa concordaram que
os hospitais não conseguiram se organizar para atender essa demanda. “Falta capacidade de
gestão e negociação dos hospitais para absorver essa demanda”, afirma Rodrigo.
Em relação aos aspectos regulatórios e impactos financeiros para o sistema, Teresa Gutierrez,
Coordenadora da Area de Direito Regulatório e Direito da Saúde do escritório Nunes e Sawaya
Advogados; Edmilson Cruci, Gerência de Auditoria Médica e de Recurso de Glosas do Hospital
Samaritano (SP); Sério Lopes Bento, Diretor de Projetos Especiais da Planisa; José Henrique
Salvador, Diretor Comercial do Hospital Mater Dei (MG); e Murilo Moreira, Assistente Comercial
do Hospital São Camilo Pompeia (SP), apontaram os principais gargalos e dificuldades do setor.
Segundo Teresa, não há um marco regulatório sobre OPME e materiais especiais. “O que existe
são várias regulamentações, de várias autarquias, o que dificulta que se chegue a um consenso”,
comenta.
A Advogada ainda citou a judicialização da saúde - que coloca em cheque a sustentabilidade do
sistema - e compartilhou que o judiciário tem olhado com uma atenção especial para este
problema, estabelecendo núcleos de apoio técnico para a tomada de decisões dos juízes. “Os
juízes não têm conhecimento para embasar as deliberações judiciais na saúde, e esses núcleos
podem ajudar a elucidação das
decisões”, afirma.
Edmilson ressaltou a relação
conflituosa do setor, a assimetria
de informações quando o assunto
é OPME e sugeriu o diálogo com
as operadoras de planos de
saúde. “A partir do momento em
que eu tenho uma relação entre
médico, hospital e provedor
adequada, eu consigo evitar o canibalismo do mercado”, ressalta.
O Gerente de Auditoria Médica e de Recurso de Glosas do Hospital Samaritano (SP) ainda
reforçou a necessidade de mudança do modelo de remuneração do setor e destacou que a
gestão de pacotes cirúrgicos pode proporcionar previsibilidade.
O peso dos insumos nas receitas e custos hospitalares, a alta carga tributária e a falta de
padronização das informações foram apontados por Sérgio. “A variabilidade dos itens dificulta
a gestão de DMI, fazendo com que isso tenha um alto custo para as instituições de saúde”,
explica.
Recomendações
A partir dos debates realizados nos dois paineis, Fernando Rocha, Gerente Comercial do HCor e
Coordenador do Grupo de Trabalho Relacionamento com Operadoras de Planos de Saúde da
Anahp, resumiu as principais recomendações para o setor, especialmente para os hospitais:
manter o cadastro de fornecedores atualizado e com documentação autenticada; estabelecer
regras de compliance na cadeia de fornecedores; avaliação de performance em sistema dos
fornecedores; alinhar os processos de acordo com as recomendações das acreditadoras;
padronizar os materiais nas instituições, associados aos protocolos alinhados ao corpo clinico
para gerar valor assistencial; avaliar a viabilidade do fornecimento direto de materiais para os
hospitais, sem intervenção das operadoras de planos de saúde; necessidade de atualização dos
contratos de forma legítima e transparente; levar os contratos para conhecimento e discussão
do corpo clínico e outras áreas da instituição; trazer as empresas contratantes de planos de
saúde, reais fontes pagadoras do sistema, para o debate e para as ações a serem desenvolvidas;
e promover auditoria interna nos hospitais previamente a auditoria das operadoras.
Fonte: www.anahp.com.br
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