UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE TRABALHO: SATISFAÇÃO OU MARTÍRIO? Por: Gabrielle Da Silva Ramos Orientador Prof. Sérgio Majerowicz Rio de Janeiro 2010 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE TRABALHO: SATISFAÇÃO OU MARTÍRIO? Apresentação Candido de Mendes monografia como à requisito Universidade parcial para obtenção do grau de especialista em Gestão de Recursos Humanos. Por: . Gabrielle Da Silva Ramos 3 AGRADECIMENTOS Primeiramente à Deus, pela inspiração, pela força que me acalmou nas horas que pensei não ser capaz e nas horas de dor durante este caminho. Aos meus pais, sem esta ajuda preciosa, presente em todos os momentos, eu nada seria. Com todo amor e admiração fico grata por tudo. Ao professor Sérgio Majerowicz por ter me ajudado a confeccionar este trabalho. Às pessoas que me ajudaram direta e indiretamente, as que caminharam comigo e as que estiveram comigo de alguma forma, seja com palavras de conforto e coragem, seja com palavras coercitivas. 4 DEDICATÓRIA ...Aos meus pais por todo esforço que fizeram para eu concretizasse este sonho... 5 O trabalho não causa o sofrimento, é o sofrimento que produz o trabalho (Dejours) RESUMO O presente estudo traz como tema a indagação Trabalho: satisfação ou martírio? A partir de então, ao longo do texto, pretendemos respondê-la, investigando a relação homem X trabalho. O trabalho que nos dias, consegue ao mesmo tempo, proporcionar crescimento, satisfação e prazer, paradoxalmente pode promover a insatisfação, assim tornando-se um fardo e causador de patologias. Na tentativa de uma melhor compreensão da questão satisfação no trabalho, apresenta-se o conceito de Qualidade de Vida no Trabalho – QVT. Uma emergência do mundo globalizado, um movimento a favor da qualidade frente a tantas mudanças e exigências. É evidente que todo esse avanço tecnológico, todas essas mudanças e exigências trazem a proposta de progresso; porém, a medida que vem promovendo uma evolução (inovação) - no sentido de crescimento – vem promovendo, também, a involução no ser humano, ou seja, o esvaziamento de suas relações, voltandose para si próprios; e este é um dos fatores que torna a QVT uma emergência e uma das problemáticas na nossa época. O principal objetivo foi investigar a complexidade da relação do homem com o seu trabalho. Palavras-chave: Trabalho. Martírio. Satisfação. 6 METODOLOGIA Foi utilizada pesquisa bibliográfica para o presente trabalho, auxílio da Internet, além da captação de informações das aulas de Qualidade de Vida no Trabalho, ministradas pela Professora Nívea Ricardo neste curso de PósGraduação. Através de minhas buscas, pude ter acesso à livros bastante interessantes, onde fez aprofundamento do tema. crescer ainda mais meu empenho pelo 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - A História 11 CAPÍTULO II - O Mercado 20 CAPÍTULO III – A Proposta 39 CONCLUSÃO 47 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 52 BIBLIOGRAFIA CITADA (opcional) 55 ANEXOS 58 ÍNDICE 59 FOLHA DE AVALIAÇÃO 63 8 INTRODUÇÃO A proposta deste estudo é investigar e discutir eventos presentes no atual cenário laboral. Eventos que abrem a possibilidade do homem encontrar o ambiente de trabalho como um lugar onde o que se faz tem algum sentido, onde se tem liberdade de ação (autonomia), onde se tem reconhecimento, que se abre a possibilidade de crescimento profissional e estabilidade; um ambiente que proporcione bem-estar; e, eventos que fazem o homem adoecer devido sua organização rígida – e outros diversos fatores – portanto, desencadeadora de sofrimento. É evidente, que atualmente o conceito de trabalho tem a ver com realização. As pessoas buscam realização e quando não a encontram, sofrem. Elas estão entrando em colapso porque o sofrimento e a vivência da falta de significado se exarceba devido a ameaça do downsizing (redução de pessoal), do avanço tecnológico e da mudança de processos (a reengenharia), hoje integrantes do universo corporativo. O universo corporativo cria essas inquietudes no homem, mas, pode também, proporcionar bem-estar e crescimento a ele. Ao contrário do que se pensa, o avanço tecnológico não é um vilão, ele traz grandes impactos, que permite ao homem imprimir sua própria marca e identidade ao que faz, com autonomia e liberdade. Portanto, tecnologia e Qualidade de Vida no Trabalho QVT caminham juntas (LIMONGI-FRANÇA, 2004). Assim, o primeiro capítulo traz uma discussão sobre o por quê do trabalho ser sinônimo de sofrimento, trazendo também uma investigação acerca das doenças ocupacionais. No segundo capítulo, encontra-se a 9 diferença entre estresse e burnout. Burnout, por Freudenberger (apud BENEVIDES-PEREIRA, 2002), como “a vela que se apaga lentamente”, é o estresse crônico a que pode chegar um profissional em constante tensão no meio laboral. E, estresse, por Selye (1926), como um conjunto de reações que ocorrem em um organismo quando está submetido a um esforço de adaptação (Ibid). O terceiro capítulo tem como temática Qualidade de Vida no Trabalho. Trata da importância do bem-estar, da saúde e da segurança do homem (que deve abranger todas as hierarquias) no trabalho, já que é no trabalho que se passa parte do tempo. Ao realizar um trabalho, o indivíduo está inserido em um contexto social mais amplo. A representação que esse trabalho tem socialmente causa impacto na vida e no bem-estar desse indivíduo, podendo levar a situações de maior ou menor desgaste (LIMONGI-FRANÇA, 2004, p. 35). É importante ressaltar que a proposta deste estudo está intimamente ligada com a tentativa de investigar até que ponto o trabalho promove a saúde e a doença. 10 CAPÍTULO I TRABALHAR É SOFRER? Nos primórdios, o trabalho era concebido como castigo e dor. O termo trabalho em latim, tripalium refere-se a um instrumento de tortura para punir os indivíduos que já não tinham direito à liberdade e eram submetidos ao trabalho forçado (FERRARI, 1998). Ao étimo e indispensável que o dicionário acrescente a descrição sumária de sua história e evolução. Diremos o quanto basta se informamos que trabalhar se prende ao neutro palum, fonte do português pau, através de um adjetivo tripalis, “ composto de três paus”, de que deduziu o neutro tripalium, apenas atestado em variante tripalium, ecúlio, cavalete de três paus, usado para sujeitar os cavalos no ato de se lhes aplicar a ferradura. Desta concepção passou tripaliare, alterado por assimilação em tripalium, a dizer-se toda e qualquer atividade mesmo intelectual. (FERRARI, 1998, p. 14). Na concepção religiosa, tendo como fonte a Sagrada Escritura, no livro de Gênese, trabalho constitui uma dimensão fundamental para a existência humana sobre a terra. Este mesmo livro diz que o homem foi condenado ao trabalho porque Adão e Eva constituíram pecado. Sendo trabalho considerado castigo, onde o homem teria que trabalhar para garantir a sua sobrevivência (FERRARI, 1988, p. 14). Por que ouviste a voz de tua mulher e comeste o fruto da árvore que eu te havia proibido de comer, maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida (BÍBLIA, 1997: Gênese 3, 17). 11 Portanto, pode-se constatar que a conotação de sofrimento para o trabalho é uma construção histórica, porque desde os primórdios da existência humana e posteriormente, enquanto escravo representavam castigo e com o suor do rosto garantiam a sobrevivência. Mas, afinal trabalhar é sofrer? De acordo com Dejours (1994) não existe trabalho sem sofrimento. Esse mesmo autor coloca a organização do trabalho como sendo a responsável pelo aparecimento de tal sofrimento. Sofrimento este, que pode resultar em comprometimentos mentais ou em doenças somáticas. Destaca ainda que, contra este sofrimento, a essa insatisfação e à angústia, o trabalhador tende a elaborar estratégias defensivas que vem a ser uma fonte de sublimação, de mascarar tal sofrimento. A organização do trabalho exerce sobre o homem, uma ação específica cujo impacto é o aparelho psíquico. Em certas condições, emerge um sofrimento pode ser atribuído ao choque entre uma história individual, portadora de projetos, de esperanças e desejos, e uma organização do trabalho que os ignora (DEJOURS, 1994, p. 133). Ou seja, para este autor, o sofrimento surge quando a relação do trabalhador com a organização é bloqueada, quando o rearranjo já não é mais possível. A organização do trabalho geradora do sofrimento enquanto imposição da vontade de um Outro que negligencia o desejo do trabalhador, à medida que esta se opõe à necessidade de autonomia, realização e de identidade dele (trabalhador). 12 O trabalho torna-se perigoso para o aparelho psíquico quando ele se opõe à sua livre atividade. O bem estar, em matéria de carga psíquica, não advém só da ausência de funcionamento, mas, pelo contrário, de um livre funcionamento, articulado dialeticamente com o conteúdo da tarefa, expresso, por sua vez, na própria tarefa e revigorado por ela. Em termos econômicos, o prazer do trabalhador resulta da descarga de energia psíquica que a tarefa e autoriza, o que corresponde a uma diminuição da carga psíquica (FERRARI, 1998, p. 14). Segundo Codo e Sampaio (1995), do choque entre um indivíduo dotado de uma história personalizada e a organização do trabalho portador de uma injunção despersonalizante, emergem uma vivência e um sofrimento que determinarão a saída na organização e seu funcionamento. A vivência do sofrimento está também na falta de significado que o trabalho pode ter para o próprio sujeito. A falta de significação humana, quando neste trabalho o sujeito não vê a possibilidade de realização profissional e pessoal, e tampouco, socialmente deriva o que Dejours (1987) denomina de vivência depressiva. A vivência depressiva condensa de alguma maneira os sentimentos de indignidade, de inutilidade e desqualificação. Esta depressão vem acompanhada pelo cansaço; porém, não se trata de um cansaço pelo esforço físico, mas também pelo esforço psicossensorial. Executar uma tarefa sem investimento material ou afetivo, exige a produção de um esforço e vontade, em outras circunstâncias suportada pelo jogo da motivação e do desejo.A vivencia depressiva alimenta-se da sensação de adormecimento intelectual, anquilose mental, de paralisia da imaginação e marca o triunfo do condicionamento do comportamento produtivo (FERRARI, 1998, p. 47). 13 Limongi-França e Rodrigues (2002), ratificam, também, que o trabalho quando não é reconhecido socialmente, quando não há uma identificação pode se tornar uma ameaça à dignidade e auto-estima do sujeito. Mencionam, 1 o filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin , para ilustrar tal afirmativa. Peter K. Spink, (apud LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2002) afirma: O que muitas empresas têm de desumano é o próprio modelo de trabalho, um modelo que, diariamente, sistematicamente, violenta e restringe as reais capacidades de uma pessoa dentro de um escritório ou de uma fabrica. Muito provavelmente estas reais capacidades a potencialidades intelectuais e sanções a partir de interações pessoais que embora em nome da produtividade, pouco tem a ver com ela (LIMONGIFRANÇA e RODRIGUES, 2002, p. 123). Segundo Dejours (1994, p. 30) “a relação do homem com a organização do trabalho é origem da carga psíquica do trabalho”. Quando o trabalho permite a diminuição de tal carga, ele é equilibrante e contrapartida, o trabalho se opõe a esta diminuição, ele é fatigante. Portanto, o trabalho pode ser fonte de prazer, de equilíbrio para uns assim com o pode ser causa de fadiga para outros. Assim, transformações, o trabalho, além de possibilitar o crescimento, as o reconhecimento e a independência profissional e pessoal, também causa problemas de insatisfação e desinteresse, apatia e irritação. 1 Quando coloca o trabalhador numa posição de “máquina de apertar parafusos”, perdendo assim, a noção do processo de produção total, tendo o ritmo de trabalho fora de controle e perdendo o poder de decisão sobre o seu trabalho. 14 O autor também ratifica o trabalho como favorável ao homem quando pontua que, para que a organização do trabalho seja saudável, portanto, favorável, pelo menos duas condições tende a ser realizada, sendo estas: - as necessidades do trabalhador têm que estar de acordo com as exigências específicas da tarefa a ser desempenhada; e ou, - quando o trabalhador pode modificar a organização do seu trabalhado, a partir de seus desejos, e expectativas pessoais e profissionais. O trabalho forma a identidade do sujeito, a profissão delimita o seu ser e, conseqüentemente, o existir, ou seja, o sujeito é a sua profissão. Portanto, o trabalho é o instrumento de identificação porque este representa a força, o tempo que se vende para suprir as necessidades de morar, vestir, comer. Ele situa o sujeito na hierarquia social de valores, no prestígio social de algumas profissões em detrimento a outras; assim sendo, remete à possibilidade de consumo, felicidade, adoecimento e morte ( CODO e SAMPAIO, 1995). “Podemos afirmar que existe uma onipresença do trabalho humano em todas as expressões da vida social” (ibid, p. 65). Embora se trate de uma relação subjetiva, a relação homem-trabalho tem seus efeitos concretos e reais, ou seja, absenteísmo, o presenteísmo – descrito por Dejours (1994) com engajamento excessivo a uma tarefa por alguns trabalhadores; e que, conseqüentemente, vem acompanhados pelas doenças somáticas podem vir comprometer severamente a saúde mental do trabalhador. 15 1.1 As patologias ocupacionais Uma maneira de definir saúde é ausência de doenças. Contudo, os riscos de saúde como riscos físicos e biológicos, tóxicos e químicos, assim como condições estressantes, podem provocar danos às pessoas no trabalho. O ambiente de trabalho em si também pode provocar doenças.Uma definição mais ampla de saúde é um estado físico, mental e social de bem-estar. Esta definição enfatiza as relações entre corpo, mente e padrões sociais. A saúde de um empregado pode ser prejudicada por doenças, acidentes ou estresse. Os gerentes devem assumir também a responsabilidade de cuidar do estado geral de saúde dos funcionários, incluindo seu bem-estar psicológico. Um funcionário excelente e competente -, mas deprimido e com baixa auto-estima, pode ser tão improdutivo quanto um funcionário doente e hospitalizado (CHIAVENATO, 1999, p. 376). A doença não é bem vista pelo meio laboral, pela empresa, e tampouco pelo trabalhador. Na empresa, a doença representa queda da produtividade e além de diversos comprometimentos nos seus resultados. Para o trabalhador, a doença e a dor, significam fragilidade. A esta fragilidade que, além de comprometer sua capacidade mental e física enquanto retorno financeiro para sobrevivência da família e outras necessidades, podem representar custos a mais como a invalidez ou até mesmo a demissão. Somente o sofrimento físico pode ser reconhecido pela organização do trabalho - enquanto que o sofrimento mental e, em particular - a ansiedade, não tem direito de existir no local de trabalho. Assim, recusar-se a retomar o 16 trabalho, por ansiedade, equivaleria à demissão, automaticamente, sem indenização nem pensão. Somente uma doença mental caracterizada permitiria a aquisição de um status de invalidez. (DEJOURS, 1987, p. 124). Por esta razão, torna-se comum a negligência de qualquer doença, seja psicológica ou física, o tão comum: “não é nada. Isso é só psicológico”. Quando na verdade, nada é só psicológico, as dores, as queixas e outros sintomas ou problemas, são reflexos das condições da vida e sinalizam que algo não anda bem. O “só psicológico”, além manifestação de ser uma atribuição a qualquer sem diagnóstico, é uma crença de que as manifestações de carga emocional não levam a problemas graves de saúde – doença. “(...) Somente o corpo que trabalha, o corpo produtivo do homem, o corpo trabalhador da mulher são aceitos” (DEJOURS, 1987, p. 32) Segundo este autor, a organização do trabalho é responsável pela maioria das doenças somáticas, já tem o poder de dificultar que o trabalhador se adeqüe ao ritmo de trabalho. “Uma das maiores causas da doença somática é o bloqueio contínuo que a organização do trabalho pode provocar no funcionamento mental” (ibid, p. 129). Como já mencionado, o cansaço mental não é caracterizado e aceito pela empresa/organização, somente quando este toma efeito de cronificação ou enquanto manifestação física, que pode sinalizar a necessidade de mudanças, seja na empresa ou no próprio trabalhador. 17 Contudo, a fadiga que por muitos é correlacionada a uma excessiva carga de trabalho, de fato nem sempre o é; porque pode se ter uma tradução somática . A fadiga é simultaneamente psíquica e somática porque corresponde a um obstáculo para o psicossomático, e também pode ser uma vivência subjetiva. Mas é também, e principalmente, somática porque sua origem está claramente no corpo (id., p. 130). A fadiga é definida como uma síndrome, por se tratar de um conjunto de sinais e sintomas que podem ser produzidos por mais de uma causa, do que simplesmente um sintoma (LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES 2002). Assim sendo, a síndrome da fadiga provoca inúmeras alterações não só no organismo (físico) como também pode conduzir ao absenteísmo do trabalho, assim como distúrbios emocionais e dificuldades no convívio familiar e social. Como principais características da síndrome da fadiga têm-se: - a sensação constante de cansaço, principalmente após esforço mental; - sintomas orgânicos mais comuns, como as dores musculares e nas articulações, tonturas, dores de cabeça do tipo tensional, diversas perturbações do sono ou sonolência excessiva; - alterações digestivas, manifestações de ansiedade; - reações depressivas leves, como diminuição do prazer naquilo que faz, pouco interesse pela vida, afastamento de parentes e amigos, sentimentos de desmotivação, falta de interesse sexual ou menor prazer sexual; além da 18 sensação de “peso” sobre os ombros, a dificuldade de tomar decisões, de concentração e de memória (LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2002). Algumas doenças físicas e distúrbios psiquiátricos podem causar fadiga, porém, a fadiga pode ter a sua causa em situações que provocam um estado de tensão crônico, no qual há uma desarmonia entre motivação, o esforço físico e as funções orgânicas (LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2002). Como descrito anteriormente, o sujeito acometido por fadiga, quando passa por uma situação que dela exige esforço, pode apresentar dentre outros sintomas, os distúrbios do sono. Atualmente, os distúrbios do sono são categorizados da seguinte forma: insônias, sonolência excessiva, distúrbios do sono-vigília, e, parasonias (LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2002). A insônia é caracterizada pela dificuldade em iniciar e manter o sono. Pode ser considerada comum quando é transitória, ou seja , relacionada a um momento estressante e desaparece espontaneamente assim que haja adaptação à situação – o eustresse. Em contrapartida pode ser secundária quando derivada de algum quadro psiquiátrico como ansiedade, depressão ou pelo uso ou interrupção, de diversas drogas; e pode estar relacionada, também a algum problema orgânico (LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2002). Os distúrbios de sonolência excessiva têm causa bem comum que é a apnéia do sono, caracterizada pelas interrupções na respiração durante o sono. O sujeito com apnéia do sono costuma ser sonolento durante o dia, 19 podendo dormir no trabalho; e não tem consciência de seu distúrbio do sono (LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2002). Os distúrbios do padrão sono-vigília são caracterizados nos trabalhadores de turno, que são submetidos à mudança constantes, bruscas e involuntárias do padrão de sono e vigília. São sujeitos que sentem dificuldades em conciliar e manter o sono, sentindo-se cansados e sonolentos quando estão acordados, tendo assim um rendimento prejudicado no trabalho, bem como, no que se refere a sua vida familiar e social (LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2002). As parasonias são o sonambulismo, o bruxismo, determinado tipo de enxaqueca, sendo relacionados, em geral, à situações de estresse (Id.). Patologia, assim como a DORT (distúrbio osteomolecular relacionado ao trabalho), tornou-se protagonista no contexto laboral. Assim como o trabalho alienado e os workholics também o são. A DORT, distúrbio osteomolecular relacionado ao trabalho, em princípio diagnosticada somente em digitadores, hoje já é detectada em trabalhadores cujas funções assumem caráter repetitivo (Id.). Em alguns artigos, livros e etc, é comum encontrar as siglas LER/DORT na intenção de simplesmente alertar que se trata das LER, agora denominadas DORT por ser este mais abrangente porque o anterior correspondia a síndrome, apenas as lesões que tivessem como origem esforços repetitivos. Hoje, se tem conhecimento que não são apenas estas situações que dão origem à DORT (GUIMARÃES e GRUBITS, 2004). 20 (...) em função de tantas definições e divergências diagnósticas, a Previdência Social, em sua revisão da norma técnica de 1998, substituiu a sigla LER por DORT, pois essa ultima permite o reconhecimento de maior variedade de entidades mórbidas, bem definidas ou não, causadas pela de fatores laborais os mais diversos, e não só por apenas um único agente causal, com presença obrigatória de lesão orgânica ou restrita a uma só localização (Ibid., p. 163). Segundo Limongi-França caracterizada como e Rodrigues (2002), a DORT seria uma dor mal definida que nem sempre é localizada, mesmo que os sintomas inflamatórios, em sua maioria, sejam encontrados nas articulações das mãos e punho, que pode conduzir a um afastamento ocupacional. A DORT é uma patologia multifatorial, segundo estes mesmos autores, por ser psicossomática; somática em função do perfil fisiopatológico; psíquica já que envolve as características da personalidade do trabalhador e é social porque se relaciona com a organização e a divisão do trabalho (Ibid). Em geral, algumas doenças classificadas como DORT apresentam sinais e sintomas bem definidos, como tendinite, síndrome do túnel do carpo, e outras. Enquanto algumas são caracterizadas por sintomas menos específicos como queixas de dormência, de formigamento no pescoço, ombros, membros superiores e coluna lombar, sendo estas de difícil diagnóstico mas que representam comprometimentos físicos e incapacitação (GUIMARÃES e GRUBITS, 2004). A LER, pela perspectiva psicossomática, configura-se uma doença que remete a um sentido figurado, uma metáfora das relações de trabalho de nossa época, em 21 que o culto da maquina consagra a desvalorização do trabalho humano. Reflete uma cultura que é constituída e introjetada pelo ser humano, ator e autor dos processos sociais, retrata uma realidade que é edificada a partir das relações das pessoas com a realidade social, decorrente da vida cotidiana que se apresenta pelos homens e é subjetivamente dotada de sentido para eles. Tais relações determinam respostas psicossomáticas que, se repetitivas e/ou intensas, dão origem a diferentes doenças, inclusive a LER. (LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2002, p. 109). É importante ressaltar que trabalhadores com DORT podem apresentar quadros de depressão e ansiedade enquanto resposta a situações de perda de identidade no trabalho, na família e no círculo social, podendo ser, também a tratamentos demorados e uma variedade de perícias que questionam a veracidade da doença. A raiva, também, pode se apresentar como resposta a tais temores (GUIMARÃES e GRUBITS, 2004) É evidente que esta apreensão quanto ao futuro, as incertezas que a doença traz, aumentam no trabalhador seu sofrimento psíquico. Segundo Dejours (1987), o trabalho torna-se fonte de alienação quando os interesses do trabalhador acabam por se confundir com os da organização, quando a cisão já não pode mais ser efetuada. “Vencido pela vontade contida na organização do trabalho, ele acaba por usar os esforços para tolerar o enxerto contra sua natureza, ao invés de fazer triunfar sua própria vontade” (p. 137). O trabalho se torna alienante quando este usualmente é desenvolvido de maneira coercitiva; as potencialidades são negligenciadas, como a criatividade; os trabalhadores não têm controle sobre o processo de trabalho e 22 as relações de trabalho são fragmentadas e competitivas (LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2002). Estes autores denominam como experiência subjetiva de alienação, a experiência emocional que o ambiente de trabalho pode desencadear no sujeito, como a sensação de falta de poder, sentimentos de insatisfação, frustração, sensação de viver num mundo invisível e hostil às suas pretensões e necessidades. O trabalho se torna alienado, quando é parceliarizado, rotinizado e leva o homem a sentir-se alheio, distante ou estranho àquilo que produz. No trabalho alienado essa identidade se transforma em antagonismo, o Outro se apresenta a mim como um ser estranho, independente, irreconhecível. A alienação inventa a solidão humana, transforma cada um de nós em seres irreconhecíveis perante o outro (CODO e SAMPAIO, 1995, p. 260). Os workalics são aquelas pessoas “viciadas”, dependentes do trabalho, que não sabem e parecem não conseguir fazer outra coisa a não ser trabalhar, tem dificuldades no convívio familiar, social e com o lazer. São pessoas que não desfrutam do tempo livre, porque são muito ansiosas e costumam lidar com estresse, utilizando o trabalho como uma válvula de escape (LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2002). Os workalics são muito valorizados no meio empresarial, pois são pessoas muito produtivas, competitivas, eficazes, vivem para a empresa e em busca de objetivos relacionados ao trabalho, com alto nível de rendimento profissional (Ibid., p. 97). 23 As pessoas estão adoecendo em função da organização do trabalho, tais como, clima competitivo, trabalho sob pressão, etc. Tudo que sentem e não podem exteriorizar acabam por acumular dentro delas próprias e quando não encontra uma válvula de escape, toda essa carga acaba por voltar-se para si próprias. A maneira como reagirá diante da situação de sobrecarga determinará o desencadeamento e desenvolvimento da patologia. “As pessoas estão pagando com sua saúde, com suas vidas, pelo reconhecimento como ser humano” (CODO e SAMPAIO, 1995, p. 261). 24 CAPÍTULO II A DIFERENÇA ENTRE ESTRESSE E BOURNOUT Burnout não é sinônimo de estresse. Burnout é um estado de cronificação do estresse, estando este associado ao meio laboral; e, ao contrário do que se tem acreditado, este não está associado a profissão mas sim, a atividade laboral exercida pela pessoa- ao investimento que deposita sobre tal (BENEVIDES-PEREIRA, 2002) O estresse pode ser positivo – eustresse – ou negativo – distresse (LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2002). Portanto, estresse e burnout não querem dizer a mesma coisa. Embora o termo estresse ocupacional, muito empregado atualmente, seja referido à atividade laboral desempenhada e, possa vir a ser motivo de dúvida entre esses dois termos, em nada se assemelham. No Burnout há uma perspectiva relacional presente. ou seja: Um alto executivo ou um engenheiro de sistemas podem vir a sofrer estresse devido à dedicação excessiva e sobrecarga de trabalho, mas dificilmente desenvolverão as atitudes defensivas presentes na despersonalização (BENEVIDES-PEREIRA, 2002, p. 46) 2.1 O que é estresse? O termo stress vem da Física, e significa a intensidade da deformação que uma estrutura vem a sofrer sendo submetida a um esforço (ARANTES e VIEIRA, 2002). 25 O estresse – stress – foi apresentado ao meio científico por Hans Selye em 1926. Embora não houvesse sido sua real intenção – a descoberta do conceito stress - segundo Sapouski (apud BENEVIDES-PEREIRA, 2002, p. 25), “esta foi uma descoberta acidental”. Seu estudo estava centrado na função dos hormônios sexuais em ratos; e mesmo direcionado para outros aspectos, Selye observa como um organismo reage diante de uma agressão. Passa então, a estudar esses agentes agressores que culminou num conceito muito conhecido e por vezes empregado distorcidamente, o stress. Selye define estresse como: “estado manifestado por uma síndrome específica que consiste em todas as mudanças não específicas induzidas dentro de sistema biológico” (Ibid., p. 25). O estresse vem sendo empregado de maneira distorcida porque este, em geral, recebe um semblante negativo, ou seja, a qualquer tipo de alteração que a pessoa vem a sofrer é tida como estresse – o comum, “não me estresse ou estou estressado”, no sentido de não querer ter se irritado ou de estar irritado. A verdade é que o estresse nem sempre é negativo. A pessoa pode sofrer estresse por razões bem agradáveis como casamento, formaturas, etc, neste caso considera-o como sendo positivo, o eustresse. Como já mencionado anteriormente, o estresse pode ser negativo – distresse - ou positivo – distresse. Vale, então, ratificar que estresse segundo Hans Selye “é um conjunto de reações que ocorrem em um organismo quando está submetido a um esforço de adaptação” (apud BENEVIDES-PEREIRA, 2002, p. 25). E, ainda, 26 que o estresse é a resposta um estímulo ou agente estressor, é algo que interfere no equilíbrio homeostático, podendo ser de caráter afetivo, físico, cognitivo e até mesmo benigno de acordo com a demanda que o acarreta. De acordo com Benevides-Pereira (2002, p. 25), o organismo diante do agente estressor “foge ou enfrenta”. Desta forma, o processo de estresse se diferencia por três fases: a fase de alarme, a fase de resistência e a fase de exaustão. A fase de alarme é caracterizada como uma fase de rápida orientação e identificação do perigo. É o momento em que o organismo se depara com o agente estressor e então ativa o estado de alerta. A fase de resistência pode durar anos. É a fase que o organismo se adapta à situação nova, ao agente estressor. A fase de exaustão é o momento em que o mecanismo de adaptação falhou, os sintomas da fase de alarme retomam e, aí então, é neste caso que a doença aparece. A estas três fases que distinguem o processo de estresse, Hans Selye nomeou de Síndrome de Adaptação Geral. Para que o processo de estresse ocorra, a pessoa não passa, necessariamente, pelas três fases. Somente nos casos mais graves é que se atinge a fase de exaustão (apud BENEVIDESPEREIRA 2002). Desta forma, pode-se pensar em estresse a partir da forma como a pessoa reage ou enfrenta este, considerando o modo como ela interage com o meio; e não somente fisiologicamente ou biologicamente. 27 o stress deve ser observado não só como uma reação do organismo, mas também como: uma reação particular entre uma pessoa, seu ambiente e as circunstâncias as quais está submetida, que é avaliada pela pessoa como uma ameaça ou algo que exige dela mais que sua própria habilidades ou recursos e que põe em perigo seu bem-estar ou sobrevivência. (LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2002, p. 34) Ao que se trata de estresse laboral, estes mesmos autores, o considera como sendo aquelas situações em que a pessoa tem sua atividade ou ambiente de trabalho como ameaça; ameaça às suas necessidades de realização profissional e pessoal, e ou à sua saúde mental e física. O estresse laboral trata-se de uma incompatibilidade entre as condições de trabalho e as necessidades individuais do trabalhador. No entanto, o estresse por si só não é suficiente para desencadear uma doença ou provocar uma disfunção significativa na vida da pessoa. Para que isto aconteça é necessário que outras condições sejam satisfeitas, tais como, vulnerabilidade orgânica ou uma forma inadequada de avaliar e enfrentar a situação estressante, ou seja, “o stress pode ou não levar a um desgaste geral do organismo dependendo de sua intensidade, duração, vulnerabilidade da pessoa e habilidade em administrá-lo” (LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2002, p. 35). 2.2 O que é burnout? Sinto-me impotente ao lidar com os alunos, pois é algo semelhante a remar contra a maré. As vezes é possível observar algum esforço por parte de alguns, mas não há 28 retorno, pois as deficiências de aprendizagem e as barreiras são grandes. No total de alunos, 50% são totalmente apáticos, os outros 50% até tem esforço, mas não possuem base, não absorvem. Não vejo resultado em meu trabalho, sendo que os alunos da noite conseguem ser ainda piores.Estou sendo sincera, não consigo encontrar nenhum tipo de satisfação no magistério; se existir alguma, é quase desprezível. Trabalho apenas por obrigação. Ao sair para o trabalho, consigo perceber o sofrimento de obrigação, é como o gado que sai para pastar e depois volta para casa. (LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2002, p. 53) Segundo Benevides-Pereira (2002), o número de profissionais de ensino, hoje, afetados pela síndrome de burnout é superior a dos demais profissionais. Cabe ressaltar que para muitos, a síndrome de burnout é tida como característica dos profissionais que tem como objeto de trabalho o Outro; ou seja, profissionais cujo trabalho é o contato direto com pessoas, na sua assistência – sejam elas, pacientes, alunos, clientes. Em contrapartida, Freudenberger (1975) admite que não só as profissões cuja atividade é a prestação de serviços de assistência à outras pessoas soa susceptíveis à síndrome, as outras também o são. Portanto, pode-se afirmar que burnout é um personagem do mundo laboral, e está relacionado à atividade desempenhada e não especificamente à profissão. Não existe uma definição unânime para burnout, existe um consenso de que burnout é uma resposta ao estresse laboral. Mas afinal, o que é burnout? 29 Burnout não é um conceito recente nas literaturas. De acordo com Schaufeli e Ezman, este conceito já havia sido utilizado por Brandley em 1969, como uma proposta de criação de uma nova estrutura organizacional que pusesse fim à um fenômeno que acometia profissionais que prestavam serviços assistenciais, o qual denominou de Staff Burnout (Id.). Ambos autores, colocam ainda que, o termo burnout, havia aparecido em um estudo de caso publicado em 1953, por Schwarta e Will, no qual relatava que uma enfermeira apresentava uma espécie de comprometimento cuja sintomatologia era a de burnout. Portanto, ao contrário do que se pensa hoje, o conceito de burnout não surgiu na década de 70, este, apenas ganhou força a partir de Freudenberger (1974-1975) através de seus artigos e estudos. Apesar de não ter sido o primeiro a falar de burnout referindo-se ao esgotamento físico e mental que atinge o mundo laboral, seus artigos foram um marco, proporcionando que outros estudos surgissem, ampliando assim, a possibilidade ao meio científico desenvolver mais sobre este conceito (Id.). Limongi-França e Rodrigues (2003) referem-se ao burnout como sendo um conceito desenvolvido na década de 1970, tendo como principais pioneiros Herbert J. Freudenberger, psicanalista e Cristina Malasch, psicóloga social. O burnout seria a resposta emocional a situações de stress crônico em função de relações intensas – em situações de trabalho com outras pessoas ou de profissionais que apresentam grandes expectativas em relação a seus desenvolvimentos profissionais e dedicação à profissão; no entanto, em função de diferentes obstáculos, não alcançaram o retorno esperado (id., p. 50). 30 Ratifica o que anteriormente foi mencionado, o burnout é o mesmo que exaustão física e emocional, causada pelo estresse no trabalho, sendo os profissionais cuja atividade é a prestação de serviços de assistência à outras pessoas, os mais propensos à síndrome, porém, profissões cuja atividades envolvem riscos de vida ou pessoas que não sentem prazer no que fazem, também se tornam susceptíveis à síndrome. O fato de a síndrome de burnout ser conhecida como a que afeta os profissionais que prestam assistência, segundo Arantes e Vieira (2002), seria explicado pelo fato destes profissionais terem menos oportunidades de desenvolver estratégias defensivas eficazes. De acordo com Malasch (1975), “burnout é uma experiência específica do trabalho” (apud BENEVIDES-PEREIRA, 2002, p. 205). Limongi-França e Rodrigues (2003), citando Malasch, caracterizam burnout como uma síndrome que se apresenta a partir de três aspectos básicos: exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal e profissional. Na exaustão emocional, o profissional sente-se esgotado.Tornando-se pouco tolerante, irritável, nervoso, amargo dentro e fora do ambiente de trabalho. Na despersonalização o distanciamento emocional se exacerba, os profissionais tornam-se insensíveis, adotam uma postura desumanizada, são indiferentes às necessidades das outras pessoas. Enquanto redução da realização pessoal e profissional é que, segundo Freudenberger (1974-1975), o burnout se instala, principalmente nas áreas que a pessoa julgam como sendo as mais promissoras para suas realizações. 31 Conjuntamente a exaustão emocional e despersonalização e todas as suas conseqüências, é comum a pessoa se sentir inadequada e culpada por ter cometido falhas, com seus ideais, normas, conceitos. Podendo sentir-se como se tivesse tornando uma outra pessoa, mais fria e descuidada. Não existe somente esta conceituação, a de Malasch, com proposta de explicitar a forma como desencadeia e se instala o burnout. Existem as conceituações de Leiter (1993), de Bussing e Glasser (2000), entre outras, sendo todas estas, fundamentadas através do MBI, o Maslasch Burnout Inventory, de Malasch e Jackson (1986), é um questionário auto-informe. Este instrumento ainda não é comercializado no Brasil, o que é possível é encontrar traduções para o português (BENEVIDES-PEREIRA, 2002). A síndrome de burnout, de acordo com esta mesma autora, apresenta inúmeros sintomas que podem ser: físicos, psíquicos, comportamentais e defensivos. Como sintomas físicos, têm-se: fadiga constante e progressiva – referida como sensação de falta, vazio, de desmotivação; dores musculares ou osteomusculares – dores na nuca e ombros; distúrbio do sono – apesar do cansaço a pessoa não consegue relaxar, dormir bem; cefaléias e enxaquecas – em geral, são do tipo tensional; comprometimentos gastrointestinais – neste grupo não incluem somente a gastrite ou a úlcera, mas também a perda de apetite ocasionando emagrecimento ou até mesmo a ingestão excessiva de alimentos, ocasionando o oposta; imunodeficiência - a pessoa fica mais vulnerável à gripes, resfriados, alergias, etc; transtornos cardiovasculares; 32 distúrbios do sistema respiratório; disfunções sexuais; alterações menstruais nas mulheres. Os sintomas psíquicos são: a falta de atenção; de concentração; de memória; lentificação do pensamento; sentimentos de alienação; sentimentos de solidão; sentimento de impotência; labilidade emocional – mudanças bruscas de humor; dificuldade de auto-aceitação; baixa auto-estima; astenia, desânimo, disforia, depressão; desconfiança – a pessoa acha que não pode contar com a outra. Tem-se entre os sintomas comportamentais: negligência ou escrúpulos excessivos – em razão da dificuldade de atenção, a pessoa pode se descuidar em determinados pontos da atividade a ser desempenhada e até mesmo passam a ser mais detalhistas executando suas atividades de uma forma mais lenta; irritabilidade – pouca tolerância com os outros; agressividade; incapacidade para relaxar – como se a pessoa não se permitisse descansar, não usufruindo de férias, momentos de lazer – estando sempre tenso; dificuldade na aceitação de mudanças – a não adaptação à novas situações ; perda da iniciativa – a pessoa dá preferência à rotinas; aumento do consumo de substancias – que vai das substancias licitas às ilícitas; comportamento de alto risco – a pessoa como tendo a necessidade de minimizar o sentimento de insuficiência se expõe à situações de alto risco afim de demonstrar coragem ou de se sobressair; e, suicídio. Por fim, têm-se como sintomas defensivos: tendência ao isolamento; sentimento de onipotência; perda do interesse pelo trabalho ou pelo lazer; absenteísmo; ímpetos de abandonar o trabalho; ironia, cinismo; 33 Benevides-Pereira (2002), afirmam que a pessoa com a síndrome de burnout não apresentará, necessariamente, todos esses sintomas. A intensidade de tais sintomas dependerá de fatores individuais – assim como programação genética, historia de vida - e de fatores ambientais – local de trabalho – e, dependerá também, da forma como a síndrome vem se instalando na pessoa. “Os sintomas da síndrome não são universais e dependem das características individuais de cada pessoa e das circunstancias em que essa se encontre” (p. 193). As perdas e os prejuízos que a síndrome de burnout causa, atinge não só a pessoa – ocasionando comprometimentos físicos, mentais, profissionais – como também a organização – absenteísmo, queda da produtividade, rotatividade etc. O burnout é fruto da interação dinâmica entre o individuo ( com sua forma de perceber o mundo, suas expectativas, suas características, e o ambiente no qual desempenha seu trabalho. Os elementos próprios da tarefa, as características da organização na qual trabalha, a relação com os companheiros e os superiores, etc são elementos de vital importância como variáveis explicativas da aparição do burnout (apud BENEVIDES-PEREIRA, 2002, p. 252). Em suma, a síndrome de burnout pode ser entendida como uma experiência subjetiva interna que tem aspecto negativo para a pessoa, ou seja, implica em alterações, problemas e disfunções cujas conseqüências são nocivas para a pessoa e para a organização. 34 CAPÍTULO III QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO De acordo com Rodrigues (1995), no início da década de 50, na Inglaterra, Eric Trist e colaboradores estudavam um modelo para a compreensão da relação homem/ trabalho/ organização. A esta nova técnica nomeou de Qualidade de Vida no trabalho. Nesta data, enquanto Eric Trist e seus colaboradores desenvolviam estudos embasados na satisfação do trabalhador no trabalho, o que originou a abordagem sócio-tecnica em relação à organização do trabalho; Louis Davis e colaboradores, nos EUA, realizavam pesquisas nas linhas de montagens, na tentativa de modificar a relação que os operários tinham em torno do trabalho, tornando-a mais agradável e satisfatória. Este mesmo autor, afirma ser somente na década de 60, que as preocupações voltadas para a QVT ganharam força, com Nadler e Huse Cummings que, em 1974, estabeleceram o desenvolvimento de tal técnica. A primeira fase, que teve inicio em meados da década de 60 e se estendeu ate 1974 foi marcada pela crescente preocupação de cientistas, lideres sindicais, empresários, pelas formas de como influenciar a qualidade das experiências do trabalhador num determinado emprego. Impulsionada pela perspectiva de uma sociedade progressista, induzida pelo contexto da época, e tendo como base a saúde, segurança e satisfação dos trabalhadores, a QVT seguiu, primeiramente, uma linha sócio-técnica. 35 A abordagem sócio-técnica tinha como principio maior a organização do trabalho, a partir da analise e da reestruturação da tarefa (Ibid., p. 77). Para Chiavenato (1999), a conceituação de QVT, envolveria não só os aspectos físicos e ambientais com também os aspectos psicológicos do ambiente laboral. A QVT abrange duas perspectivas antagônicas, uma por parte dos trabalhadores quanto à reivindicação do bem-estar e satisfação no trabalho e outra, no que refere ao interesse das empresas aos seus efeitos potenciais sobre a produtividade e a qualidade. A QVT tem uma implicância nas experiências humanas e no grau de satisfação no trabalho. Visto que, as empresas para alcançarem níveis consideráveis de qualidade e produtividade, precisam de pessoas motivadas, pró-ativas ou que pelo menos sejam estimuladas a participarem ativamente no trabalho e devidamente recompensadas por suas contribuições. Envolve ainda, fatores como: a satisfação com o trabalho executado; a possibilidade de futuro na organização; o reconhecimento pelos resultados alcançados; o salário percebido; os benefícios auferidos; o relacionamento humano dentro da organização; o ambiente psicológico e físico de trabalho; a liberdade e responsabilidade de decidir; as possibilidades de participar. Além de envolver aspectos intrínsecos, o conteúdo, e extrínsecos, o contexto, do cargo (CHIAVENATO, 1999). A cultura do trabalhador e da organização, assim como, o desempenho no cargo e o clima organizacional, e a atuação sistêmica de tais, determinarão a QVT. 36 Desta forma, segundo este mesmo autor, existem vários modelos de QVT, de autores diversos, porém, ele destaca apenas três como mais importantes: modelo de QVT de Nadler e Lawler, modelo de QVT de Hackman e Oldhan e modelo de QVT de Walton. No Modelo de Nadler e Lawler (1974), quatro são os aspectos fundamentais para que haja resultados de melhoria na QVT, sendo estes: - a participação dos funcionários nas decisões; - a reestruturação do trabalho através do reconhecimento de tarefas e de grupos autônomos de trabalho; - a inovação no sistema de recompensas para influenciar o clima organizacional; - a melhoria no ambiente de trabalho quanto a condições físicas e psicológicas, horário de trabalho, dentre outros. De acordo com Rodrigues (1995) o modelo de Nadler e Lawler (1974), propõe que: Para que o programa de QVT seja bem sucedido existem três necessidades básicas. A primeira seria o desenvolvimento do projeto em níveis diferentes, correntes com o contexto em que será aplicado. O segundo aspecto envolve mudanças nos sistemas de gerenciamento e disposições organizacionais. E, finalmente, são necessárias mudanças no comportamento do gerenciamento superior. É preciso que a alta gerência não só esteja comprometida com o processo, mas participando ativamente dele, para que este possa ser disseminado em toda organização (RODRIGUES, 1995, p. 93). 37 No Modelo de Hackman e Oldhan (apud CHIAVENATO, 1999), há um embasamento no desenho de cargos, ou seja, as dimensões do cargo produzem estados psicológicos que conduzem a resultados pessoais e de trabalho que podem afetar a QVT. As dimensões do cargo são importantes para QVT por oferecerem recompensas intrínsecas, fazem com que as pessoas trabalhem mais motivadas e satisfeitas em seus cargos. Segundo esses autores as dimensões do cargo seriam: a variedade de habilidades – o cargo deve abranger diversas habilidades do trabalhador; identidade da tarefa – o trabalho deve proporcionar ao trabalhador começar e terminar a tarefa para assim averiguar o resultado; a possibilidade do trabalhador verificar o impacto do seu trabalho sobre os outros; autonomia – responsabilidade e liberdade para planejar e executar a tarefa; retroação do próprio trabalho – a tarefa deve proporcionar a possibilidade de auto-avaliação para o trabalhador; retroação extrínseca – a possibilidade de retorno dos superiores ou clientes a respeito da tarefa; inter-relacionamento – a tarefa deve proporcionar a possibilidade de contato interpessoal com outros trabalhadores e clientes. Hackman e Oldham concluíram que a positividade pessoal e o resultado do trabalho (alta motivação interna, alta satisfação no trabalho, alta qualidade no desempenho e baixo absenteísmo e rotatividade) são obtidos quando três estados psicológicos (significação percebida - SP, responsabilidade percebida – RP, conhecimento dos resultados do trabalho CR) estão presentes num determinado trabalho e apresentam um resultado positivo (RODRIGUES, 1995, p. 120). O modelo de Walton (apud CHIAVENATO, 1999), compreende oito fatores que afetam a QVT: a compensação justa e adequada – refere – se ao 38 salário adequado ao trabalho; condições de segurança e saúde no trabalho – refere-se à jornada de trabalho e do ambiente físico; utilização e desenvolvimento de capacidades – proporcionam a possibilidade de desenvolver a autonomia, auto-controle e obtenção de informação e autoavaliação quanto ao desempenho no trabalho; oportunidades de crescimento contínuo e segurança – a possibilidade de seguir carreira na empresa; integração social na organização – eliminação de barreiras hierárquicas coercitivas; constitucionalismo – estabelecimento de um clima democrático dentro da empresa; trabalho e espaço total de vida, dar possibilidade ao trabalhador de usufruir seus momentos de lazer, de convívio familiar, sem que o trabalho absorva todo o seu tempo; relevância social da vida no trabalho – a empresa deve ter um prestígio social, para que o trabalhador sinta-se satisfeito e comprometido com a organização. Para Walton, a expressão Qualidade de Vida é usada com crescente freqüência para descrever certos valores ambientais e humanos, negligenciados pelas sociedades industriais em favor do avanço tecnológico, da produtividade e do crescimento econômico (RODRIGUES, 1995, p. 81). Além disso, Chiavenato (1999) afirma que os programas de bem-estar dos funcionários garantem o estabelecimento de boa QVT, pois podem proporcionar satisfação no trabalho. De acordo com Limongi-França (2004), a Qualidade de Vida no Trabalho é uma das novas exigências de adaptação do viver globalizado. Com isto, ela quer dizer que existe uma nova realidade social, as pessoas estão se 39 preocupando mais em trabalhar em atividades produtivas, em questões ligadas à saúde, à responsabilidade social, a consolidação de um rendimento sustentável e, enfim, a usufruir maneira saudável a vida. “A QVT faz parte das mudanças pelas quais passam as relações de trabalho na sociedade moderna, em rápida transformação” (LIMONGIFRANÇA, 2004, p. 22). Esta mesma autora afirma que, as visões e definições de QVT são multifacetadas, cujas implicações são éticas, políticas e de expectativas. Desta forma, faz-se necessário adotar um modelo de eixos temáticos fundamentais, que constituem fatores críticos para a discussão das interfaces da QVT, no contexto organizacional. “Os eixos temáticos são: conceito de QVT; produtividade; legitimidade; perfil do administrador; práticas e valores organizacionais; nova competência para a gestão de QVT” (LIMONGIFRANÇA, 2004, p. 22). Esses fatores constituem a construção da nova competência da gestão nas empresas. O conceito de QVT, para esta mesma autora já fora mencionado, porém, agora se faz oportuno passar à noção de produtividade, que para a mesma, trata de um conceito de importância na compreensão do trabalho humano durante o século XX até os dias atuais. Enquanto produtividade, Limongi-França (2004, p. 44) define como “grau de aproveitamento dos meios utilizados para produzir bens e serviços”. Cada área, como a Engenharia de Produção, Administração, Economia e Psicologia do Trabalho, tem uma conceituação acerca da noção de produtividade. Contudo, para que haja uma melhor compreensão desta no 40 que se refere a QVT, na gestão empresarial faz-se necessário, entre outros aspectos, pensá-la como algo que não está dissociado da dimensão humana. Ou seja, que proporcione um bem-estar ao trabalhador, mesmo que o contexto, o ambiente, seja competitivo e atravessado pelo avanço tecnológico; enfim, priorizar o trabalhador enquanto cidadão (pessoa) e profissional; O conceito de produtividade vai além da idéia de uma boa produção ou de ser eficiente. É também um conceito que encontra raízes no dinamismo humano, porque tem indispensável conexão com a melhoria da qualidade de vida de cada individuo no trabalho e suas conseqüências fora essa esfera (LIMONGI-FRANÇA, 2004, p. 46). Portanto, a atual conceituação de produtividade, no que se refere a uma proposta de QVT, tem uma implicância humana, pois, prioriza o homem; assim como deve dar relevância à qualidade e à competitividade, por meio da produtividade com qualidade, já que, de acordo com Limongi-França (2004), competitividade e produtividade são conceitos que são comumente confundidos. Ressalta ainda que, a tecnologia como fator determinante para a produtividade, ou seja, à medida que as novas tecnologias vêm surgindo, a tecnologia da informação e comunicação, o número de empregos aumenta e, conseqüentemente, a produtividade também, ao passo que reduz os custos dos empregadores. A esta conceitualização de produtividade vem atrelado à idéia de um homem diferente do trabalhador manual, o trabalhador da era do conhecimento que vem como suporte das novas tecnologias que, segundo 41 Limongi-França (2004), são representados por seis fatores que determinariam a produtividade do trabalhador do conhecimento, são eles: - A produtividade do trabalhador do conhecimento requer que se faça a seguinte pergunta: Qual é a tarefa? Ela exige que se coloque a responsabilidade pela produtividade nos próprios trabalhadores do conhecimento. Eles precisam gerenciar a si mesmos e ter autonomia. - A inovação continuada tem de fazer parte do trabalho, da tarefa e da responsabilidade dos trabalhadores do conhecimento. O trabalhador do conhecimento requer aprendizado continuo. - A produtividade do trabalhador do conhecimento não é – ao menos principalmente – uma questão de quantidade produzida. A qualidade é, no mínimo, igualmente importante. - Finalmente, a produtividade do trabalhador do conhecimento requer que ele seja visto e tratado como ativo, e não como custo, e que queira trabalhar para a organização (LIMONGI-FRANÇA, 2004, p. 52). Portanto, há de se concordar que a era do conhecimento, a atual, desmistifica o conceito, a compreensão do senso comum sobre produtividade. No que diz respeito à legitimidade, como fator crítico à QVT, ressaltese esta estabelece, como afirma Limongi-França (2004), que esta “envolve a noção de que, alem de os deveres e direitos serem respeitados, as decisões, os comportamentos e as atitudes individuais ou específicos são aceitos e respeitados” (p. 54). Quanto ao perfil do gestor, esta mesma autora, ratifica a importância que tem um administrador para a empresa. O quanto sua atuação torna viável a administração de QVT mais efetiva e consistente com as necessidades dos trabalhadores e da empresa. 42 As práticas e valores de QVT dizem respeito aos programas de produção de saúde e qualidade de vida que as empresas vêm adotando para tornar o ambiente de trabalho mais produtivo e saudável (LIMONGI-FRANÇA, 2004). Contudo, as empresas que adotam tais posturas, não estão preocupadas somente em propiciar o bem-estar no trabalho, mas preocupamse também com a qualidade das relações que os profissionais tem fora deste contexto – do trabalho. Visto que alguns maus hábitos podem repercutir severamente na produtividade. A nova competência para gestão de QVT, segundo esta autora, tem como proposta a incorporação das revoluções conceituais das idéias inovadoras e das novas formas de administrar. Deve pressupor a integração comunitária, organizacional e da pessoa no trabalho, resultando em vivencias de bem-estar. Por isso, deve haver esforço conceitual e prático para passar do Taylorismo e das Teorias Classificatórias de Administração para um modelo avançado que dialoga com ambientes globalizados, de uso intensivo de tecnologia com atuação nos grupos e comunidades com desequilíbrio e carência de condições sócio-econômicas (LIMONGI-FRANÇA, 2004, p. 94). Esses fatores críticos da QVT elucidam a personalidade da empresa moderna, ou seja, a nova gestão empresarial – a nova forma de administrar o bem-estar. Leva à compreensão que, para a efetivação de uma produtividade considerável, a de se levar em consideração o que se passa com o homem dentro e fora do trabalho. 43 Limongi-França (2004) traz uma conceitualização de QVT, mais adaptada à realidade atual, talvez mais moderna, ou seja, QVT, vem historicamente sendo tratada como algo associado a questões de saúde e segurança no trabalho. Enquanto que hoje, apresenta-se como mais amplo, abrangendo associações com a produtividade, legitimidade, competências gerenciais e enfim, integração social. Além de sinalizar por emergência de habilidades, atitudes e conhecimento do simples trabalhador ao empresário dono da empresa. “O chão de fábrica é o tradicional alvo de programas de saúde ocupacional e de segurança no trabalho. Hoje, a QVT passa a englobar outras categorias de colaboradores, incluindo gerência e alta direção” (p. 150). Portanto, a QVT é um conceito amplo, engloba aspectos subjetivos, já que está intimamente relacionado com as necessidades e expectativas do trabalhador. Portanto à satisfação no trabalho; e objetivos, ou seja, tudo que se refere ao ambiente organizacional, aos recursos que dispõe e aos que podem vir a dispor e então usufruir. Ou seja, não depende de uma só parte, mas simultaneamente do trabalhador e da empresa. 44 CONCLUSÃO É certo que as pessoas estão adoecendo ou adoecem porque trabalham insatisfeitas; trabalham numa pressão constante, seja da empresa ou delas próprias, já que precisam suprir suas necessidades e da família; ficam insatisfeitas por não ter um retorno financeiro e pessoal. Mas, adoecem também porque o trabalho ocupa o lugar de essencial em suas vidas e não de fundamental no sentido de base, de sustentação. Quando o trabalho é tido como essencial, surgem impasses como falta de equilíbrio entre carreira e família, além de problemas de saúde física e mental, uso abusivo de drogas dentre outros. É evidente que as doenças ocupacionais traduzem um momento atual, pois são reflexos de uma situação sócio-política-econômica que gera insegurança, incerteza, e, portanto, geradora de angústia e de sofrimento. Há de se ressaltar que o desemprego é um fato social que ameaça o homem contemporâneo, portanto, sua saúde. Por isso, muitos aceitam condições precárias de trabalho. Uma das causas de todo esse sofrimento, dessa insatisfação no trabalho, é que o homem vem trazendo o trabalho para a sua vida. É quando a rotina de trabalho se estende até o final de semana, e mesmo quando não vai à empresa pode ser contactado pelo celular ou pelo e-mail. Ou, quando aproveitam o tempo disponível para fazer um curso de especialização, uma especialização. Onde está o lugar para vida pessoal? Com isso as relações vão e estão se esvaziando. 45 Muito se tem falado de Qualidade de Vida no Trabalho, mas enquanto prática da empresa. É responsabilidade da mesma a implementação de programas e estratégias que promovam o bem-estar do trabalhador. Pensando sobre esta perspectiva, realmente se trata de um luxo. A QVT pode ser uma prática do próprio trabalhador, ou seja, pode – e o ideal seria – começar por atitude dele. Trata-se de uma receita pessoal, ou seja, primeiramente, levando a vida para o trabalho e não o contrário, desta forma, reavaliando o modo como executa as tarefas e o modo de pensar sobre elas. Enfim, o primeiro passo para se ter uma boa qualidade de vida no trabalho é o homem respeitar seus próprios limites. O trabalho ocupa 70% do tempo de vigília, se este for um fator de descontentamento e aborrecimento, como viver saudavelmente os outros 30%? Levando-se em consideração que com tamanho descontentamento, trabalhar consumiria mais energia do que o normal, sem contar com o impacto de tudo isso sobre a vida emocional do trabalhador. Torna-se importante continuarmos a pesquisar sobre o assunto para elaborarmos estratégias reais de aplicação e desenvolvimento dos programas de QVT nas organizações. 46 BIBLIOGRAFIA ARANTES, Maria Auxiliadora de Almeida Cunha; VIEIRA, José Femenias Vieira. Estresse. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002. BENEVIDES-PEREIRA, Ana Maria T. Burnout: Quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002. BÍBLIA SAGRADA. Gênese. 107 ed. São Paulo: Ave Maria, 1997. CODO, Wardeley; SAMPAIO, José Jackson Coelho. Sofrimento psíquico nas organizações: saúde mental e trabalho. Petrópolis: Vozes, 1995. CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas. 3. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. 390 p. DEJOURS, Christophe. A loucura do Trabalho Estudo de Psicopatologia do Trabalho. São Paulo: Oboré, 1987. _______; ABDOUCHELI, Elizabeth; JAYET, Cristian. Psicodinâmica do Trabalho. São Paulo: Atlas,1994. FERRARI, Ivany. História do Trabalho e do Direito do Homem. São Paulo: LTR, 1998. 19 p. GUIMARÃES, Liliana Andolpho Magalhães; GRUBITS, Sonia (orgs). Série Saúde Mental e Trabalho. v. 3. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. LIMONGI-FRANÇA, Ana Cristina. Qualidade de Vida no Trabalho QVT conceitos e práticas nas empresas pós-industrial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004. _______; RODRIGUES, Avelino Luiz. Stress e Trabalho. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. RODRIGUES, Marcus Vinicius Carvalho. Qualidade de Vida no Trabalho QVT. Petrópolis: Vozes, 1995. 47 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 2 AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4 RESUMO 5 METODOLOGIA 6 SUMÁRIO 7 INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I (Trabalho é sofrer?) 10 1.1 – As patologias ocupacionais 15 CAPÍTULO II (A diferença entre estresse e bournout) 24 2.1 – O que é estresse? 24 2.2 – O que é Bournout? 27 CAPÍTULO III (Qualidade de vida no trabalho) 34 CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA ÍNDICE 44 46 47 48 FOLHA DE AVALIAÇÃO Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes – Instituto A Vez do Mestre. Título da Monografia: Trabalho: Satisfação ou Martírio? Autor: Gabrielle da Silva Ramos Data da entrega: 25/07/2010 Avaliado por: Sérgio Majerowicz Conceito: