CONDIÇÕES HIGIÊNICO-SANITÁRIAS EM UMA INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS SANITARY HYGIENIC CONDITIONS IN A DAIRY INDUSTRY Isabella Chaves Sousa¹, Joyce Bitencourt Athayde Lima², Daniel Praseres Chaves³, Francisca Neide Costa³ ¹ Graduanda em Medicina Veterinária - Universidade Estadual do Maranhão - UEMA; ² Mestre em Ciência Animal - Universidade Estadual do Maranhão - UEMA; ³ Professor Adjunto - Universidade Estadual do Maranhão - UEMA; Palavras-chave: qualidade, higiene, leite Introdução Na indústria alimentícia a preocupação com a qualidade dos alimentos vem crescendo a cada dia, o que torna notória a necessidade do aprimoramento dos planos de controle de qualidade das indústrias do ramo. Atualmente, as diferentes ferramentas disponíveis para a obtenção da qualidade dos alimentos enfocam principalmente o controle e monitoramento dos processos de produção. Dentre essas, merecem destaque as Boas Práticas de Fabricação (RIBEIRO e SILVA, 2008). Diante desta realidade, o presente trabalho objetivou avaliar as condições higiênico-sanitárias de uma indústria de laticínios no município de Itapecuru-Mirim – MA, tendo em vista a inexistência de qualquer sistema de controle de qualidade no local. Materiais e Métodos Foi realizado um “check-list”, semelhante ao sugerido na RDC nº 275 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA (BRASIL, 2002), no qual os dados obtidos eram tabulados em “conformes” e “não-conformes” de acordo com a Portaria 368/97 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA (BRASIL, 1997). O referido “check list” era dividido em quatro categorias distintas: 1) Edificações e instalações; 2) Equipamentos, móveis e utensílios; 3) Manipuladores; e 4) Produção e transporte do alimento; e cada uma destas exibia um determinado número de subitens a serem avaliados, totalizando 147. Foram ainda realizadas análises microbiológicas de 10 amostras de queijo tipo mussarela, 10 amostras de swab de utensílios (lira e faca) e 10 das mãos de manipuladores, coletadas em 5 diferentes visitas ao estabelecimento. As amostras foram analisadas quanto ao número mais provável (NMP) de coliformes a 35°C e a 45°C, contagem direta em placas de Staphylococcus spp. e bactérias aeróbias mesófilas, de acordo com o Manual de métodos de análise microbiológica de alimentos (SILVA et al., 2007). Resultados e Discussão Ao analisar os dados coletados no “check List” (Tabela 1), percebeu-se que 34,69% destes apresentavam-se em não-conformidade com o exigido na legislação vigente, merecendo destaque os quesitos referentes aos manipuladores e às edificações e instalações, com os maiores índices de irregularidades, 50,00% e 40,51%, respectivamente. Quanto às análises microbiológicas do queijo mussarela verificou-se que os valores da determinação do NMP de coliformes a 35°C variaram de < 3,0 a >1,1x10³, e para coliformes a 45°C variaram de 150 a >1,1x10³. Na contagem de Staphylococcus coagulase positiva, por sua vez, uma das amostras (10%) apresentou valor insatisfatório, com 5,6x10³UFC/g, sendo que o valor permitido segundo a Portaria 146/96 do MAPA (BRASIL, 1996), varia entre 100 e 1000 UFC/g. A contaminação dos queijos por esses microrganismos pode ter ocorrido por contaminação cruzada pelo uso de utensílios não satisfatoriamente higienizados, ou pelas mãos dos próprios manipuladores, que dispensam o uso de luvas em diversos momentos na produção. Fatos estes, evidenciados pelos resultados das amostras coletadas pela técnica de swabs em utensílios e nas mãos de manipuladores. Tabela 1. Categorias abordadas e o respectivo percentual de Conformidades e NãoConformidades encontradas durante aplicação do Check-List Categorias Analisadas Nº de CF NC NA Itens Edificações e Instalações 79 41 (51,90%) 32 (40,51%) 06 (07,59%) Equipamentos, Móveis e Utensílios 21 13 (61,90%) 08 (38,10%) Manipuladores 14 07(50,00%) 07(50,00%) Produção e Transporte do Alimento 33 29 (87,88%) 04 (12,12%) TOTAL 147 90 (61,22%) 51 (34,69%) 06 (04,09%) CF: Conforme; NC: Não-conforme; NA: Não-Aplicáveis; ( - ) Nenhum item na categoria Das 10 amostras coletadas em utensílios, 100% encontravam-se fora dos padrões para contagem de mesófilos, com >50UFC/cm². O padrão microbiológico para utensílios de produção de alimentos indica que os mesmos devem estar livres de coliformes a 45ºC e Staphylococcus coagulase positiva, porém, nas amostras analisadas 80% foram positivas para coliformes a 45ºC, e 90% para Staphylococcus. Quanto às amostras das mãos de manipuladores, todas estavam dentro do padrão permitido para microrganismos mesófilos (até 10.000UFC/mão). Entretanto, na contagem de Staphylococcus coagulase positiva, 3 amostras (30%), apresentaram valores superiores à 50UFC/mão, que é o padrão estimado para o mesmo. Os coliformes a 45ºC devem estar ausentes nas mãos de manipuladores de alimentos, porém, 6 amostras (60%) apresentaram tais microrganismos. Diante das diversas não-conformidades encontradas no estabelecimento e dos inúmeros resultados microbiológicos fora do padrão, percebe-se que a ausência das boas práticas de fabricação, fato comum em pequenas indústrias de alimentos no Brasil (FIGUEIREDO e COSTA NETO, 2001), pode ter sido fator crucial para a formação deste quadro. Conclusões A avaliação realizada demonstra que as condições higiênico-sanitárias da indústria não são satisfatórias, o que enfatiza a necessidade emergencial da implantação de um sistema de controle da qualidade, como as boas práticas de fabricação, no estabelecimento. Referências Bibliográficas BRASIL. MAPA. Portaria n° 146 de 07 de março de 1996. Aprova os Regulamentos Técnicos de Identidade e Qualidade dos Produtos Lácteos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 07 mar. 1996. BRASIL. MAPA. Portaria n° 368 de 08 de setembro de 1997. Aprova o regulamento técnico sobre condições higiênico-sanitária e de boas práticas de fabricação para estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 04 set. 1997. BRASIL. ANVISA. RDC Nº 275 de 21 de outubro de 2002. Dispõe sobre o Regulamento Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados aplicados aos Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos e a Lista de Verificação das Boas Práticas de Fabricação em Estabelecimentos Produtores/ Industrializadores de Alimentos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasilia, DF, 06 de nov. de 2002, Secao 1, p. 4-21. FIGUEIREDO, V. F. de; COSTA NETO, P. L. de O.. Implantação do HACCP na Indústria de Alimentos. Rev. Gestão & Produção, São Paulo, v. 8, n. 1, p.100-111, 2001. RIBEIRO, A. R.; SILVA, J. P. R. Implantação das boas práticas de fabricação em uma queijaria artesanal, produtora do queijo tipo Boursin. Rev. Higiene Alimentar, v. 22, n.161, p.32-35, set. 2008. SILVA, Neusely da et al. Manual de Métodos de Análise Microbiológica de Alimentos. 3. ed. São Paulo: Livraria Varela, 2007. 552 p. Autor a ser contactado: Isabella Chaves Sousa, Curso de Medicina Veterinária - Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) – e-mail: [email protected].