UM ESTUDO PRELIMINAR PAR A IMPLANTAÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL PARA PESSOAS PORTADORAS DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO Larice Maria Bonato Germani PPGE-PUCRS/FADERS/AGAAHSD RESUMO O presente estudo evidencia o resultado do levantamento dos relatos dos professores que participaram da investigação que objetivou conhecer a realidade do atendimento Educacional aos alunos com altas Habilidades/Superdotação, nas diferentes Regiões Educacionais do Estado do Rio Grande do Sul. Em março de 2003 foi remetido um questionário a 33 professores que concluiriam o Curso de Capacitação em Educação Especial: Área das Altas Habilidades no ano de 2002. A pesquisa tinha a finalidade de investigar se cada Coordenadoria Regional de Educação, que enviaram professores representantes, possuía conhecimento do Curso de Capacitação; identificar possíveis propostas de atendimento educacional aos alunos com Altas Habilidades/Superdotação; investigar se os projetos elaborados, pelas alunas no final do curso de Capacitação tiveram continuidade; e identificar a motivação dos professores para participarem do Projeto-Piloto da implantação da Política de Atendimento Educacional. Dos 33 questionários enviados, retornaram 18 deles que demonstraram que para a elaboração e implantação da Política Pública três elementos são fundamentais: a capacitação, a legislação e a motivação do professor. Para tanto, as descobertas deste estudo contribuem com três elementos, que são partes de um todo, quando forem realizadas como ações articuladas, se isoladas não serão suficientes para garantir um atendimento às Altas Habilidades na área da Educação, ou se ocorrer a ausência de uma delas. Cabe ressaltar que não há preponderância de um dos elementos sobre o outro, eles interagem em movimentos de circularidade, focalizando, às vezes um, depois outro, como se fossem de uma lente de um caleidoscópio. Estes elementos deverão estar permanentemente mediados e articulados por educadores melhor preparados, e pelas ações e o conhecimento técnico-científico, pedagógico, social e político. Palavras-chave: altas habilidades, atendimento educacional, inclusão, políticas públicas, educação especial. INTRODUÇÃO O tema da inclusão e exclusão tem se encontrado no cerne das políticas governamentais, abrangendo todas as instâncias públicas. Embora as Políticas Públicas preconizem a inserção social do sujeito e o pleno exercício da cidadania, elas não são garantia de acesso e de permanência aos direitos estabelecidos. Na área da Educação, o tema inclusão tem tido um destaque nos estudos e nas pesquisas, principalmente, nas propostas pedagógicas da Educação Especial, que têm como finalidade garantir e promover o desenvolvimento das potencialidades dos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, garantindo o atendimento às diferenças. Historicamente, o conceito de inclusão, desde a década de 80 do século passado, tem priorizado a revisão de iniciativas e a investigação de práticas e modelos que conduzem a um sistema educacional mais inclusivo, a partir da área da deficiência, ficando a área das altas habilidades/superdotação intimidada, ou até mesmo com uma certa atrofia, pelos tantos mitos que lhes são conferidos. Os mitos são comportamentos repetidos ao longo do tempo, sem uma reflexão crítica da realidade, que, provavelmente, se fundamentaram na construção de uma crença, em um determinado momento, para explicar um fato ou um acontecimento. Para que um mito se transforme é necessário que ocorra uma nova aprendizagem, isto é, que seja construída uma nova crença, com base no conhecimento da realidade. Muito bem destaca Perrenoud (apud MEIRIEU, 2002, p. 107) que: Estimular o “trabalho do sonho” é quando o professor diante de uma dificuldade vive um estado de dúvida, de hesitação, de reflexão, de formulação de hipóteses, ou de estratégias; alguém que não sonha é alguém que jamais duvida, que sabe o tempo todo o que pode e o que deve fazer, que não conhece nem a incerteza, nem a hesitação, que não perde um segundo sequer a arquitetar planos que não realizaria; essa pessoa não se arrisca a inventar o que quer que seja, pois a condição de sua eficácia é enfrentar apenas os problemas cuja solução é conhecida desde que os dados sejam identificados; o desperdício de idéias às vezes significa energia e tempo perdidos, mas também é a condição da criatividade. Nesta perspectiva, Meirieu (2002) fala que toda aprendizagem requer que seja trabalhada a resistência, o que significa aceitar que o outro seja o que ele é e oferecer recursos para substituir uma representação, pela realidade concreta, fazer com. Também é resistir a essa resistência. Muitas vezes, os maiores obstáculos da inclusão não se encontram na falta de equipamentos ou recursos materiais, mas, estão nas barreiras atitudinais que podem ser entendidas como crenças e comportamentos que caracterizam práticas pedagógicas excludentes, que controlam sem acompanhar, dominam sem formar e sufocam a liberdade do sujeito sem instrumentalizar. Assumir a prática cotidiana da inclusão exige experimentar dificuldades pessoais e sociais importantes, pois, por um lado, há um esforço para adaptar à prática os novos paradigmas da inclusão, por outro, a dificuldade em renunciar as vantagens que o antigo possibilitava. O processo de exclusão não acontece ao largo das nossas atitudes, como se estivéssemos imunes a sua existência e permanência. É preciso aceitar a nossa parcela de responsabilidade para que possamos reconsiderar nossos conceitos e comportamentos, adequando-os a uma prática em que nossos procedimentos permitam ao outro se expressar diante das suas possibilidades, como também, oferecer-lhe instrumentos que possam superar-se. Meirieu (2002, p. 235) afirma que “para fazer parte da solução, é preciso aceitar ser parte integrante do problema”. E ainda refere (p. 232): [...] não se aprende a desenhar observando um professor que desenha muito bem. Não se aprende piano ouvindo um virtuoso. Do mesmo modo não se aprende a escrever e pensar ouvindo um homem que fala e pensa bem. É preciso tentar, fazer, refazer, até pegar o jeito, com se diz. A CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA EDUCACIONAL DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS COM ALTAS HABILIDADES NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL A Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas à Pessoa Portadora de Deficiência e de Altas Habilidades no Rio Grande do Sul – FADERS, legitimada pelo Decreto nº 39.678, pertence à administração indireta do Estado do Rio Grande do Sul e está vinculada à Secretaria da Educação do Estado. Com o caráter de instituição de utilidade pública, a FADERS tem por finalidade propor, articular e coordenar a política de atendimento à pessoa portadora de deficiência e pessoa portadora de altas habilidades em todo o Estado. Para cumprir com o objetivo político e social e ser um órgão de referência no atendimento à clientela, esta Fundação embasa suas principais ações no Atendimento, Pesquisa e Capacitação, cabendo às distintas unidades de serviços, desenvolver estas três grandes competências, como também promover a interface com outros órgãos públicos e privados para executá-las. O Núcleo de Atendimento às Pessoas Portadoras de Altas Habilidades/Superdotação (NAPPAH/SD) é uma das unidades de serviços da FADERS, que iniciou suas atividades em 1981. Suas ações, no entanto, foram se ampliando a partir de 1994, realizando a identificação das altas habilidades/superdotação (AH/SD), atendimento à criança e ao adolescente com AH/SD, atendimento às famílias e escolas e a sensibilização na comunidade. Para atender a crescente demanda estadual, o Núcleo desenvolveu, ao longo de sua trajetória, estratégias de Políticas Públicas nas suas ações, antes mesmo de a FADERS ser instituída como o órgão legalmente responsável para propor, coordenar e articular as políticas públicas de atendimento à clientela. Portanto, o NAPPAH/SD, no ano de 1998, coordenou, em conjunto com a Secretaria Geral do Estado, assim na época denominada, a proposta de um Programa de Atenção Integral às Pessoas Portadoras de Altas Habilidades, construída com representantes das Secretarias Estaduais de Educação, Cultura, Trabalho e Assistência Social, Desenvolvimento e Assuntos Internacionais, e Ciências e Tecnologia; a entidade representativa - Associação Brasileira para Superdotados- seção RS (atual AGAAHSD – Associação Gaúcha de Apoio às Altas Habilidades/Superdotação), a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A construção de um espaço de reflexão continuada, com representantes legais de várias instâncias públicas, privadas e da sociedade civil possibilitou alicerçar as bases de uma Política Pública que viesse atender a real necessidade da clientela. A partir das idéias que caracterizaram os aspectos fundamentais da política em cada área, elaboramos os princípios que norteariam a escolha da área de ação para desenvolver este processo: • Atender sistematicamente o maior número de pessoas com altas habilidades/superdotação. Segundo as estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), os superdotados representam em torno de 3% a 5% da população brasileira, abrangendo mais de 400 mil pessoas no Estado do Rio Grande do Sul. O Estudo de Prevalência, realizado pela ABSD-RS (2001), demonstrou que 7,78% dos 1.054 alunos de sétima e oitava séries do Ensino Fundamental, em 384 escolas públicas e privadas da Região Metropolitana de Porto Alegre, apresentavam indicadores de altas habilidades/superdotação; • Garantir, através das bases legais já existentes, a criação e implantação de uma política pública. A Constituição do Estado do Rio Grande do Sul (1989), nos Artigos Nº 199 e 214, determina que o atendimento educacional desta clientela é dever do Estado. O Decreto 39.678, de 23/08/1999, institui a Política Estadual de Atendimento á Pessoa Portadora de Deficiência e de Altas Habilidades, no Estado, cabendo à FADERS a coordenação e a articulação dessa Política, conforme a Lei N.º 11.666, de 06/09/2001. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN de 1996; a Lei N.º 10.172, de 2001, que institui o Plano Nacional de Educação e a Resolução Nº 2 do Conselho Estadual de Educação/Câmara da Educação Básica, de 2002, também estabelecem as bases legais e as diretrizes para o atendimento a este segmento social; • Intervir nas dificuldades apresentadas na relação do sujeito com altas habilidades/superdotação consigo mesmo, com a comunidade escolar e com sua família, a partir da identificação das AH/SD. No atendimento direto à clientela, encontramos um número bastante significativo de situações-problema que se apresentavam no contexto escolar, envolvendo escola, aluno e família. Considerando estes princípios e a nossa vinculação institucional, a escolha para realizar o projeto de implantação da Política focalizou a área da Educação. O início da implantação: conhecer e reconhecer as altas habilidades/superdotação A primeira etapa deste processo de implantação foi elaborar o projeto de um Curso de Capacitação em Educação Especial: área das Altas Habilidades, com o objetivo de capacitar professores e profissionais que atuam na área da Educação, a fim de compreender o processo de aprendizagem dos alunos portadores de altas habilidades, dentro de uma proposta de escola reflexiva e crítica; e de um atendimento educacional que desenvolvesse os potencias de talento destes alunos com base no exercício da cidadania. Meirieu (2000, p. 71) destaca que: Se o homem tem necessidade de ensinar, não é unicamente pela preocupação com aqueles que tem necessidade desse ensino, nem mesmo pelo desejo de afirmar a sua própria identidade, mas porque os fatos apenas se mantêm vivos se falamos deles, a lógica se a demonstrarmos e a verdade se a professamos. É essa a necessidade do adulto, essa necessidade que se impõe a ele para que suas convicções e suas crenças existam e materializem-se diante de seus olhos. O curso de capacitação, totalizando 420 horas, se realizou de março a dezembro de 2002, em parceria com a Secretaria de Educação, UFGRS, FADERS e AGAAHSD, com a coordenação e execução do NAPPAH e Faculdade de Educação da UFGRS, e foi oferecido para 50 profissionais, sendo 40 professores da rede pública estadual, lotados na Região Metropolitana de Porto Alegre e nas Coordenadorias Regionais de Educação (CREs), situadas no interior do Estado e 10 pertencentes à FADERS e à AGAAHSD. Como trabalho de conclusão, foi solicitada, aos alunos, a elaboração de projetos que viabilizassem a efetivação do atendimento educacional na área das altas habilidades/ superdotação, nas diferentes regiões do Estado. A investigação Após o Curso de capacitação dos professores, houve o início de mais uma etapa da implantação da política pública de atendimento que estava sendo elaborada pelo NAPPAH com a colaboração da Divisão da Educação Especial da Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul. Era necessário conhecer a realidade das diferentes regiões do Estado em relação ao atendimento aos alunos com altas habilidades. Estas informações permitiriam subsidiar o projeto-piloto de implantação da Política Publica e as Diretrizes de Atendimento Educacional com o objetivo de, posteriormente, implantar este atendimento aos alunos com altas habilidades/superdotados nas Escolas Públicas Estaduais do Rio Grande do Sul, no ano de 2004. Para esse fim, foi elaborado um questionário com quatro perguntas abertas, enviado e respondido pelos professores, representantes das Coordenadorias. Os objetivos que nortearam a investigação foram: Investigar se cada Coordenadoria tinha conhecimento do Curso de Capacitação; Identificar possíveis propostas de atendimento aos alunos com altas habilidades nas Coordenadorias; Investigar se os projetos elaborados no final do Curso de Capacitação tiveram continuidade; Identificar a motivação dos professores para participar do Projeto-piloto para a Implantação da Política Educacional de Atendimento aos alunos com altas habilidades. Para os nossos questionários utilizamos a Técnica de Análise de Conteúdo, conforme a proposta de BARDIN (2002), com as etapas de pré-análise; categorização dos dados obtidos; e análise, interpretação e inferência, em apenas as duas iniciais, visto tratar-se de um trabalho prévio e embasador. Coleta e análise dos dados Os questionários foram remetidos por correio, em março de 2003, para as 33 professoras de vinte e duas Coordenadorias Regionais de Educação que concluíram o Curso de Capacitação. Retornaram 18 questionários, respondidos por professores representavam 8 das 22 Coordenadorias Regionais de Educação. que A primeira pergunta indicou que as Coordenadorias de 13 respondentes tiveram conhecimento do Curso de Capacitação, e cinco, não. A segunda pergunta, que investigava se as coordenadorias tinham alguma proposta de atendimento à área de altas habilidades, teve resposta positiva por parte de 5 respondentes, e negativa dos outros 13. É importante destacar que as respostas positivas tiveram como única justificativa o “projeto elaborado no curso”. Algumas respostas negativas foram justificadas por “falta de interesse”, “falta de informações e conhecimento sobre o tema das altas habilidades”, “falta de amparo legal”, “mudança do grupo de trabalho com o novo governo”. A terceira pergunta, que solicitava informações quanto à continuidade do projeto elaborado para a conclusão do curso e sobre os órgãos de apoio, mostrou que 7 professores estavam dando continuidade e onze, não. Dentre os projetos desenvolvidos, os professores indicaram, por exemplo, as seguintes ações: formação continuada de professores, Jornadas CriARTeiras, planejamento de um seminário regional na área de altas habilidades. Em relação ao apoio recebido para dar continuidade aos projetos elaborados no IIIº Módulo do curso, 7 professores conseguiram o suporte de suas Coordenadorias e outras instituições tais como o Centro de Atendimento ao Educando (CAE), de Canoas (RS), o NAPPAH/FADERS, a AGAAHSD e a APAE de Torres (RS), dando continuidade ao projeto que apresentaram ao final do Curso. A quarta pergunta, que indagava quanto ao interesse e disponibilidade do professor em dar continuidade ao trabalho de atendimento às altas habilidades na sua região, obteve 16 respostas de professores que manifestaram estar motivados para isso, e dois que manifestaram não aceitaram se envolver na proposta, sendo que um tinha interesse, mas não disponibilidade de tempo, e o outro não manifestou interesse em participar. Alguns comentários dos professores com interesse e disponibilidade, são apresentados a seguir, com o intuito de melhor entender o nível de respostas obtido: “Gostaria de me engajar e colocar em prática o trabalho desenvolvido no Curso De Capacitação em Educação Especial Área das Altas Habilidades. No entanto, preciso de apoio para viabilizar o Projeto. Conto com o apoio do NAPPAH/FADERS e, reafirmo que, se houver uma articulação, haverá uma parceria favorável para a Educação” . TH “Sim, tenho muito interesse, mas é preciso ter acesso às escolas para atingir o público desejado. Para isso, é necessário um contato com a Secretaria de Educação, Coordenadorias e Prefeituras e certamente o apoio do NAPPAH/FADERS, que hoje é base de Sustentação”. CR “Desejo participar, mas acredito que quanto mais parcerias e colaboradores tiverem melhor será o resultado do trabalho”. ZD “Com certeza quero participar. Estou organizando um Seminário que apresentarei à Coordenadoria, que com certeza será minha parceira, como também estou certa do apoio do NAPPAH/FADERS”. SM Sobre não aceitarem e se envolver na proposta, destacamos a fala de outro professor: “Não tenho disponibilidade, e nem desejo de continuar com este trabalho no momento”. OJ COMENTÁRIOS FINAIS A partir da análise preliminar deste nosso levantamento de dados, um dos aspectos que podemos evidenciar é que os participantes comentam quanto à carência de informação sobre o tema das Altas Habilidades/Superdotação por parte das instâncias em que eles estão, em especial as que coordenam a Educação nas Regiões no Estado do Rio Grande do Sul. Lembremos que os trabalhos com este aluno no Brasil iniciaram com Helena Antipoff, já em 1929. Além da precariedade do conhecimento, os professores relataram o precário interesse pelo assunto, por parte das coordenadorias e a falta de apoio legal direcionado para a esta área da Educação Especial. Estas, parecem ter sido as causas preponderantes, segundo os relatos dos professores, que podem ter gerado a ausência de atendimento Educacional as Altas Habilidades/Superdotação nas suas Coordenadorias. Destacamos que, mesmo após o Curso de Capacitação em Educação Especial: Área das Altas Habilidades/Superdotação, apenas 27% dos professores conseguiram continuar desenvolvendo os projetos de atendimento realizados ao final do Curso, abrangendo somente duas Coordenadorias, o que representa 25% do total das CREs engajadas no projeto piloto. Esta pequena representação de professores e Coordenadorias que deram continuidade aos projetos nas suas Regiões, nos remete a pensar que unicamente a qualificação profissional não garante mudanças de maior alcance nas práticas pedagógicas que possam oferecer uma educação inclusiva deste alunado com necessidades Educacionais Especiais na cultura escolar. Destacamos, aqui, que sem dúvida deve haver Educação Continuada. Outro aspecto a considerar, a partir do levantamento realizado, foi relativo à falta de amparo e apoio legal, manifestado pelos professores, como obstáculo para a continuidade dos trabalhos na área das Altas Habilidades/Superdotação. Sobre estes relatos, evidenciamos que existem, Políticas e Diretrizes no Ministério da Educação/Secretaria Especial de Educação, Leis e Resoluções sobre as Altas Habilidades/Superdotação, que preconizam a legitimidade deste atendimento Educacional. Desta maneira, constatamos que existe uma legislação que efetivamente ampara o atendimento do aluno e da família da pessoa com AH/SD e que serve de apoio legal para trabalhos na área. Será ela sempre entendida, atendida e obedecida? Na identificação sobre o interesse e a disponibilidade dos professores para seguir trabalhando na área das Altas habilidades, encontramos 88% dos docentes que disseram estar disponíveis e motivados em participar do projeto piloto que servirá de base à implementação e à implantação da Política Educacional de Atendimento; e somente 12% não se dispõem. Embora o índice de motivação para trabalhar na área seja considerado muito satisfatório, este fator não foi determinante para que os professores realizassem trabalhos bem-sucedidos na Educação Especial: Área Altas Habilidades/Superdotação, segundo seus relatos. Concluindo, podemos destacar que existem três elementos básicos a serem considerados para implantar um Projeto-Piloto de Política Pública de Atendimento Educacional ao aluno com Altas Habilidades /Superdotação que são: a capacitação, isto é a informação e o conhecimento teórico e prático sobre o tema AH/SD; a legislação, que fundamenta os direitos legais deste segmento social amparando recursos, ações e procedimentos; e a motivação, traduzida no desejo de inovar e de buscar novos desafios. A grande contribuição que este estudo apresenta é que os três elementos, capacitação, legislação e motivação, são partes de um todo que, se forem realizadas como ações isoladas, não serão suficientes para garantir um atendimento às Altas Habilidades na área da Educação, bem como se ocorrer a ausência de uma delas. Cabe ressaltar que não há preponderância de um elemento sobre o outro, eles interagem em movimentos de circularidade, focalizando, às vezes, um, depois outro, como se utilizássemos uma lente de um caleidoscópio. Devem então estar em um conjunto eficaz e eficiente. Estes elementos deverão estar permanentemente mediados e articulados pelo conhecimento técnico-científico, pedagógico, social e político. Finalizando, apontamos que os aspectos relevantes deste estudo fundamentaram a construção do Projeto-Piloto de atendimento aos alunos com altas habilidades, que iniciará a partir de março de 2004, em oito regiões do Estado do Rio Grande do Sul, por um período de um ano, coordenado pelo NAPPAH/SD/FADERS e Secretaria Estadual de Educação/Divisão de Educação Especial. Se bem-sucedido, será o modelo adotado pelo governo estadual para cumprir as exigências do Plano Nacional de Educação e as necessidades de Pessoas com Altas Habilidades/Superdotação e suas famílias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2002. MEIRIEU P. A Pedagogia entre o dizer e o fazer. A coragem de começar. Porto Alegre: Artmed, 2002. MITTLER, P. Educação Inclusiva. Contextos sociais. Porto Alegre: Artmed, 2003. PÉREZ GÓMEZ, A. I. A cultura Escolar na Sociedade Neoliberal. Porto Alegre: 2001. RIO GRANDE DO SUL. Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas Portadoras de Deficiência e de Altas Habilidades. Curso de Capacitação em Educação Especial: Área das Altas Habilidades.(Documento não-publicado). Porto Alegre: FADERS/NAPPAH, 2002. ______. Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas Portadoras de Deficiência e de Altas Habilidades. Projeto de Implantação de Política Pública Educacional para Pessoas Portadoras de Altas Habilidades/Superdotação. Porto Alegre: FADERS/NAPPAH/SEE, 2003.