CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA AUDIOLOGIA CLÍNICA PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM AUDIOLOGIA CLÍNICA ORIENTADORA: MIRIAN GOLDENBERG LUCIANE STEINER PORTO ALEGRE 1999 2 RESUMO OUVIR é uma habilidade que depende tanto da capacidade biológica do indivíduo, quanto das experiências que o seu meio ambiente lhe proporciona. A capacidade biológica refere-se à integridade dos sistemas envolvidos no processo de captação até à análise e à interpretação dos estímulos sonoros. Os sistemas referidos são o periférico e o central. A avaliação audiológica convencional permite estimar somente a capacidade auditiva do indivíduo em detectar sons, o que é realizado pelo sistema periférico. A habilidade do indivíduo em analisar e interpretar sons só é possível de ser mensurada através da avaliação do processamento auditivo central. Muitas pessoas, embora possuam acuidade auditiva normal (detectam sons dentro dos padrões de normalidade), apresentam dificuldades na interpretação dos mesmos, acarretando, por isso, problemas de linguagem, de fala e de aprendizado. A importância da avaliação do sistema auditivo central já está difundida há algum tempo. Entretanto, a possibilidade de avaliação do mesmo só ocorreu recentemente, devido aos avanços tecnológicos e científicos alcançados pelos pesquisadores. 3 Esse trabalho apresenta uma revisão bibliográfica da literatura especializada, em que serão enfocados diversos aspectos do processamento auditivo central, especialmente no que se refere a sua avaliação. 4 AGRADECIMENTOS À minha mãe, professora Edel Steiner, pela imensa dedicação e eficiência na revisão deste trabalho. Ao meu pai, Gabriel Steiner, pelo incentivo e solidariedade. Ao meu noivo, Ricardo Zanotto, pelas inúmeras sugestões oferecidas durante a confecção deste trabalho. Ao meu sobrinho, Cícero Steiner Ruschel, pelo auxílio na informática. 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 6 DISCUSSÃO TEÓRICA ......................................................................................... 8 1.1 Conceito .................................................................................................... 8 1.2 Fisiologia da Audição ................................................................................ 10 1.3 Etapas do Processamento Auditivo Central...............................................13 1.4 Desordens do Processamento Auditivo Central .......................................16 1.4.1 Manifestações ................................................................................ 17 1.4.2 Fatores de Risco ............................................................................ 21 1.4.3 Categorização ................................................................................ 25 1.5 Avaliação .. ................................................................................... 28 1.5.1 Testes Especiais ............................................................................ 32 1.5.2 Testes Especiais alterados por Categoria ......................................67 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 69 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 71 6 INTRODUÇÃO A avaliação do processamento auditivo central é realizada por um pequeno grupo de estudiosos por ser relativamente incipiente no Brasil. Assim, na oportunidade em que tivemos nosso primeiro contato com o tema, compartilhamos com vários colegas a sensação de impotência frente a pacientes que, embora na avaliação audiológica básica não apresentassem problemas, queixavam-se de dificuldade em compreender a fala . No passado, essas queixas eram atribuídas a outros fatores não relacionados à audição, como psicológicos, por exemplo. Todavia, na evolução dos estudos sobre processamento auditivo central, os pesquisadores demonstraram que “ouvir” é o resultado de uma série de processos que até pouco tempo não podiam ser avaliados. Assim como em outros grandes centros, na cidade de Porto Alegre, a avaliação do processamento auditivo central ainda não faz parte da rotina dos hospitais e clínicas de atendimento fonoaudiológico. A situação é, portanto, delicada para pacientes com suspeita de alteração central. Por essa razão, consideramos oportuna a realização dessa pesquisa, que consiste numa revisão bibliográfica da literatura especializada sobre diversos 7 aspectos do processamento auditivo central, principalmente no que se refere a sua avaliação. Esperamos em breve, juntamente com colegas também interessados no assunto, poder dar início a esse trabalho na nossa cidade, pois, como já dizia MUSIEK (1989): “se nós audiologistas esperamos avaliar a audição, temos que ser capazes de avaliar todo o sistema e não apenas um segmento periférico”(pg. 325). 8 DISCUSSÃO TEÓRICA 1.1. CONCEITO PROCESSAMENTO AUDITIVO O processamento auditivo tem sido definido de diversas maneiras. Uma das definições mais comentadas é a que LASKY & KATZ elaboraram em 1983, que resumia o processamento auditivo em “o que fazemos com o que ouvimos”, ou seja, a utilização efetiva da informação auditiva recebida. Mais tarde, em 1992, KATZ redefiniu o processamento auditivo como o processo de decodificação das ondas sonoras desde a orelha externa até o córtex auditivo. (KATZ & TILLERY, 1997). PEREIRA (1997) e PHILIPS (1995) apresentam definições análogas para o processamento auditivo. Para PEREIRA (1997) o termo refere-se a uma série de processos que se sucedem no tempo, que permitem que um indivíduo realize uma análise metacognitiva dos eventos sonoros. São eles: detecção, sensação, discriminação, localização, reconhecimento, compreensão, memória, atenção seletiva. Essa autora comenta que PHILIPS (1995) considera o processamento auditivo como todo o processo que envolve a detecção de eventos acústicos; a capacidade de discriminação quanto ao local, espectro, amplitude e tempo; a habilidade para agrupar sons em figura-fundo 9 (como por exemplo separar o som de uma voz de outra); a habilidade para identificar um som, denominá-lo verbalmente e ter acesso ao seu significado. Segundo vários autores especialistas, esse processo ocorre no sistema auditivo periférico (orelha externa, média, interna e VIII par), no sistema auditivo central (tronco cerebral, vias subcorticais, córtex auditivo - lobo temporal, corpo caloso) e também áreas não-auditivas centrais (lobo frontal, conexão temporo-parietais, lobo occipital). PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL Processamento auditivo central é considerado por PEREIRA (1997) a série de processos que acontecem nas estruturas do sistema nervoso central: vias auditivas e córtex. AZEVEDO (1997) concorda, acrescentando que a organização das informações acústicas pelo sistema auditivo central está relacionada com a capacidade biológica e experienciação auditiva do indivíduo, sendo que as estruturas envolvidas localizam-se a partir do Tronco Cerebral. 10 1.2. FISIOLOGIA DA AUDIÇÃO (rápida abordagem) Um dos pré-requisitos básicos para estudar processamento auditivo central é o conhecimento de outras áreas científicas, como anatomia e fisiologia do sistema auditivo. Assim, algumas noções são necessárias, principalmente em relação à fisiologia das estruturas do sistema nervoso, mais importantes no processamento de estímulos sonoros. Os componentes do sistema auditivo são três: o componente condutivo (composto pela orelha externa e média), o componente sensorial (a cóclea) que transforma o impulso sonoro em elétrico, e o componente neural. Os dois primeiros componentes, condutivo e sensorial, fazem parte do sistema periférico, e o componente neural, responsável pela atividade central, faz parte do sistema nervoso. A atividade periférica tem a função de detecção e transmissão dos sons, e a atividade central tem a função de discriminação, localização, reconhecimento do som, compreensão, atenção seletiva e memória auditiva. As estruturas que compõem o sistema auditivo responsáveis pela atividade central são: o tronco encefálico, vias subcorticais, córtex auditivo, lobo temporal e corpo caloso. Segundo alguns autores, é possível associar determinadas funções a algumas estruturas do sistema auditivo central. Assim: ∗ Núcleos cocleares: 11 Iniciam a análise sensorial complexa e diminuem os sinais de ruído de fundo. ∗ Núcleos do complexo olivar superior: Codificam a direção de um som no espaço, através da análise das diferenças de intensidade e tempo interaural, ou seja, são responsáveis pela localização sonora. Essa estrutura também faz parte do arco reflexo do reflexo acústico do músculo do estapédio. ∗ Núcleos do colículo inferior: É responsável pela atenção ao estímulo sonoro. Também tem um papel importante nos reflexos auditivos como o “startle” (sobressalto) e também para o desenvolvimento de crises audiogênicas e respostas motoras, resultantes de hipersensibilidade auditiva causadas pela privação sensorial, desde muito cedo, na vida do indivíduo. ∗ Corpo geniculado medial: A sua divisão ventral é a única especificamente auditiva. ∗ Córtex auditivo: É responsável pela análise de sons complexos; pela localização de sons; pela atenção seletiva para estímulos auditivos baseados na posição da fonte sonora; pela inibição das respostas motoras inapropriadas; pela identificação de estímulos; pela discriminação de padrões temporais; pela memória auditiva para sons em seqüência; sendo, ainda, necessário para tarefas auditivas mais difíceis. 12 Além do sistema auditivo periférico e do sistema auditivo central, outras áreas centrais (não-auditivas) podem estar envolvidas no processamento auditivo. São elas: lobo frontal, conexão temporal-parietal, lobo occipital. Essas estruturas fazem a integração das informações sensoriais auditivas com outras não-auditivas. 13 1.3. ETAPAS DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL Apesar de não existirem muitos detalhes quanto ao procedimento do sistema auditivo efetuar esse processamento, BOOTHROID (1986) identificou algumas etapas. São elas: - ATENÇÃO: “Estar ligado”; dar prioridade de atenção a um som entre outros (atenção seletiva) . PEREIRA (1993) acrescenta que, além da priorização de um determinado som entre outros, como, por exemplo, conversar com um grupo de pessoas em ambiente ruidoso, a atenção seletiva permite ao indivíduo monitorar um determinado estímulo auditivo, mesmo quando a atenção primária está em outra modalidade sensorial. Exemplo: conversar enquanto o indivíduo está dirigindo um carro. Essa habilidade se desenvolve a partir do nascimento e é primordial para qualquer aprendizagem. - MEMÓRIA: Armazenar informações acústicas e poder recuperá-las depois, quando necessário; conseguir ordenar sons em seqüência. 14 - DETECÇÃO DO SOM: Identificação da presença do som. Já é possível a partir do quinto mês de vida intra-uterina, quando o sistema auditivo periférico já está pronto. (NORTHERN & DOWNS,1989). - SENSAÇÃO SONORA: Tem várias dimensões relacionadas à intensidade, à freqüência e à qualidade do estímulo sonoro. É uma experiência individual. - DISCRIMINAÇÃO SONORA: É a habilidade de detectar diferenças entre padrões de estímulos sonoros. PEREIRA (1993) comenta que já existem evidências de que os bebês são capazes de discriminar sons de fala e de selecionar os sons que têm significado para eles. - LOCALIZAÇÃO: Habilidade de saber de onde vem o som. Com seis meses, a criança já localiza os sons à direita e à esquerda de sua cabeça. AZEVEDO (1996) explica que essa habilidade vai sendo aprimorada, de maneira que, aos 2 anos de idade, a criança é capaz de localizar os sons em qualquer ângulo. - RECONHECIMENTO: 15 Habilidade que exige experiência prévia e ocorre, quando um dado sensorial conhecido anteriormente, é reconhecido. É um processo totalmente aprendido. - COMPREENSÃO: Habilidade em interpretar corretamente o significado de uma informação acústica. A compreensão pode ser observada a partir de 1 ano de idade; esse é um comportamento totalmente aprendido. 16 1.4. DESORDEM DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL De acordo com a Association of Children and adults with learning Desabilites, a desordem do processamento auditivo central é “a inabilidade ou impedimento da habilidade de atender, discriminar, reconhecer ou compreender as informações apresentadas auditivamente mesmo em indivíduos com acuidade auditiva e inteligência normais” (AZEVEDO; PEREIRA; VILANOVA; GOULART, 1995). MACFARLAND & CACACE (1995), em PEREIRA (1997) definem disfunção auditiva central como uma desordem no reconhecimento auditivo para sons verbais, sons do meio ambiente ou ambos, causada por lesões nas vias auditivas e ao nível cortical. KATZ & TILLERY (1997) consideram ser uma “quebra em um ou mais aspectos do processamento auditivo central”. As pesquisadoras PEREIRA & ORTIZ (1997) explicam a desordem do processamento auditivo central como um distúrbio da audição, em que há uma inabilidade em analisar e/ou interpretar sons. Essa inabilidade pode ser resultante de um prejuízo da capacidade biológica inata do indivíduo e/ou falta de experienciação no meio ambiente acústico. Pelo que foi exposto, como podemos suspeitar que um indivíduo apresenta uma desordem do processamento auditivo central? 17 A seguir, apresentaremos algumas características presentes em indivíduos que manifestam essa desordem, bem como fatores de risco para a deficiência auditiva central. 1.4.1. MANIFESTAÇÕES KATZ & WILDE (1989) caracterizam os indivíduos com disfunção auditiva central, como pessoas que apresentam dificuldade na discriminação figura-fundo, atenção auditiva pobre, limitações de memória, habilidade reduzida para informação auditiva em seqüência, dificuldade na associação grafema-fonema e atraso no desenvolvimento da linguagem, apesar do nível de inteligência e audição periférica estarem dentro da normalidade. MUSIEK (1989) acrescenta comportamentos, como: desatenção, dificuldade de entender solicitações, verborréia excessiva. Outras características assinaladas por RUSSO & SANTOS (1994) presentes em indivíduos com problemas perceptuais e/ou de processamento auditivo são: déficit na discriminação figura-fundo, atenção auditiva diminuída no tempo e na qualidade, limitações na memória e na evocação, retardo no desenvolvimento da linguagem receptiva, padrões deficitários para habilidades integrativas (somação binaural), redução na habilidade para seqüenciar a informação auditiva, dificuldade para associar símbolos auditivos e visuais, dificuldades para receber estímulos de fala cuja velocidade foi alterada. 18 KATZ & TILLERY (1997) citam vários autores quando se referem a listas de checagem para identificação de indivíduos que possam apresentar disfunção do processamento auditivo. O indivíduo pode apresentar um ou mais sintomas e sinais contidos nas listas, mas quanto maior o número de problemas, maior a probabilidade de haver a disfunção. Um dos primeiros fatores mencionados é a otite média, que pode causar problemas de linguagem, de fala e de aprendizagem, manifestados através das dificuldades articulatórias, de recepção e expressão da linguagem, da inabilidade para ler e soletrar, da pobre discriminação dos sons da fala, do tempo de resposta lentificada ou retardada, da distração por barulho e esquecimento da informação em poucos segundos. A preocupação com a otite média se deve à grande desvantagem de uma audição flutuante na primeira infância, quando o sistema nervoso central está em rápido processo de desenvolvimento. A inconsistência de estimulação, o desenvolvimento desigual dos dois ouvidos, assim como a distorção da mensagem auditiva, causados por uma perda auditiva leve, são suficientes para dificultar o desenvolvimento de funções auditivas. SANTOS (1996) acrescenta que a dificuldade de localizar o som rapidamente pode impedir a criança de ouvir o falante em uma classe com muito barulho. Outros estudos mostram que a privação sensorial, mesmo 19 de grau leve, ocorrendo no período crítico de maturação e desenvolvimento, pode causar algumas dificuldades no processamento auditivo. MUSIEK (1989) cita alguns sintomas de pacientes seus, com audição periférica normal e lesão auditiva central confirmada. São eles: acúfenos (zumbidos), alucinações auditivas e/ou sensações auditivas incomuns, extrema dificuldade para ouvir em ambientes ruidosos, dificuldade em acompanhar informações auditivas complexas, extrema desatenção auditiva, dificuldade em localizar fontes sonoras, falta de interesse acentuado por música. CARVALLO (1996) comenta que alguns pesquisadores internacionais encaminham, para avaliação do processamento auditivo central, todas as crianças que apresentam dificuldades em três grandes áreas: o primeiro grupo apresenta alteração de atenção e escuta não relacionadas a causas orgânicas; o segundo, suspeita de distúrbios de aprendizagem; o terceiro, distúrbio do comportamento social. PEREIRA (1996) considera que possam ter alteração do processamento auditivo central, os indivíduos que apresentam as seguintes manifestações: Manifestações Comportamentais - Quanto à comunicação oral: ∗ problemas de produção de sons, principalmente / r / e / l /; ∗ problemas de linguagem expressiva envolvendo regras da língua; ∗ dificuldade de compreensão em ambientes ruidosos; 20 ∗ dificuldade em entender palavras com duplo sentido, como por exemplo, “piada”. - - Quanto à comunicação escrita: ∗ inversões de letras,orientação direita / esquerda; ∗ disgrafias; ∗ dificuldade de compreender leitura. Quanto ao comportamento social: ∗ agitados,hiperativos ou muito quietos; ∗ distraídos; ∗ desajustados (brincam com crianças mais novas ou adultos tolerantes); ∗ isolados (tendência), por frustrarem-se com as falhas na escola e em casa. - Quanto ao desempenho escolar: ∗ problemas de leitura, gramática, ortografia, matemática; ∗ desempenho escolar estar melhor ou pior, dependendo da posição do aluno na sala, do tamanho da classe, do nível de ruído ambiental, da fala do professor. - Quanto à audição: ∗ atenção ao som prejudicada; ∗ dificuldade em escutar em ambiente ruidoso. 21 Manifestações Clínicas - Limiares de Audibilidade: são próximos da normalidade bilateralmente (15-20 dB NA) ou com uma discreta perda em freqüências isoladas. - Imitanciometria Acústica: a timpanometria é normal. Os reflexos acústicos podem estar presentes no modo contralateral e ipsilateral, ou ausentes no modo contralateral e presentes no ipsi; ausentes em 4.000 HZ contra e ipsi; ou, ainda, levemente elevados no modo contralateral. CARVALLO (1996) refere que há vários estudos apontando o efeito regulador do sistema nervoso central sobre o reflexo acústico. Entretanto, do efeito do reflexo acústico sobre o processamento auditivo central ainda pouco se sabe. É comprovado que a contração reflexa estapediana atenua a amplitude do sinal de fala do próprio falante, tanto por via óssea como por via aérea, principalmente nos sons de baixa freqüência. Assim, há uma diminuição do efeito mascarante dos sons graves sobre os mais agudos, facilitando a recepção da fala. - Avaliação Auditiva Central: poderá ser evidenciado prejuízo em localizar sons, memorizar sons em seqüência, distinguir palavras decompostas acusticamente, identificar sílabas, palavras e frases na presença de mensagem competitiva, tanto em tarefas monóticas como dicóticas. É observado, também, o prejuízo de um canal 22 em relação ao outro, geralmente na orelha homolateral a lesões de tronco cerebral extra-axial e orelha contralateral a lesões de tronco cerebral intra-axial ou lesões corticais. AZEVEDO; PEREIRA; VILANOVA; GOULART (1995) acrescentam que, em crianças pequenas, é muito importante observar a qualidade das respostas comportamentais para identificar sinais de desordem do processamento auditivo central. Por exemplo: se a criança responde com a mesma eficiência para sons verbais, tons puros, sons instrumentais; se ela demora a apresentar resposta; se precisa de um estímulo de maior duração para apresentar resposta; se apresenta diminuição ou desaparecimento da resposta frente a estímulos repetidos (fenômeno da habituação); se existe uma desproporção entre a magnitude da resposta e a intensidade do estímulo eliciador (resposta exacerbada). As crianças, com deficiência auditiva periférica, tendem a apresentar mesmos níveis de resposta, independente do estímulo. Já as crianças, com alteração de processamento auditivo central, normalmente apresentam respostas melhores para sons de espectro amplo (como instrumentais, ruído branco ou banda estreita). 1.4.2. FATORES DE RISCO Existem vários fatores de risco para deficiência periférica e central . Entre eles estão: 23 - Perdas auditivas nos primeiros anos de vida, decorrentes de alterações neurosensoriais ou condutivas, mesmo as de grau leve (KATZ & WILDE, 1989); - Alterações neurológicas (AZEVEDO; PEREIRA; VILANOVA; GOULART, 1995); - Privação sensorial decorrente de alterações orgânicas ou meio ambiente pobre quanto à estimulação (KATZ & WILDE, 1989). AZEVEDO (1996) apresenta uma adaptação do critério proposto pelo “Joint Committee on Infant Hearing”, acrescentando alguns fatores que considera de risco para deficiência auditiva periférica e central: - Antecedentes familiares de disacusia neurosensorial hereditária. *consangüinidade materna; - infecções congênitas (rubéola, sífilis, citomegalovírus, herpes e toxoplasmose); - malformações craniofaciais, incluindo as de pavilhão auricular e meato acústico externo; - peso de nascimento inferior a 1.500g; - hiperbilirrubinemia - ex-sangüineo transfusão; - medicação ototóxica (aminoglicosídeos, associação com diuréticos, agentes quimioterápicos); - meningite bacteriana; - apgar de zero a quatro no primeiro minuto ou de zero a seis no quinto minuto; 24 - ventilação mecânica > 5 dias; - síndromes; - *alcoolismo materno ou uso de drogas psicotrópicas na gestação; - *hemorragia ventricular; - *permanência na encubadora > de 7 dias; - *convulsões neonatais; - *otite média recorrente ou persistente por mais de três meses; - *suspeita pelos familiares de atraso no desenvolvimento de fala, de linguagem e de audição. * Itens acrescentados pelo autor. As crianças que apresentam algum fator de risco para deficiência auditiva periférica ou central, devem ser avaliadas periodicamente para que qualquer tipo de alteração auditiva seja identificada, preferencialmente, nos dois primeiros anos de vida. Isso, porque é, nessa época, que o sistema nervoso central está na sua maior plasticidade, portanto é bem maior a possibilidade de se estabelecerem novas conexões neurais. 25 1.4.3. CATEGORIZAÇÃO DAS DESORDENS DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL KATZ (1992) propõe a seguinte categorização para as desordens do processamento auditivo central: - Decodificação: “Quebra da mensagem auditiva em nível fonêmico”. É manifestada através de erros de discriminação, de dificuldade para agrupar sons, que resultam em problemas de leitura, soletração, problemas articulatórios e de vocabulário. - Perda Gradual de Memória: O indivíduo apresentará dificuldade em memorizar longas sentenças e ordens com muitas etapas. Associado a esses fatores, o indivíduo com disfunção da perda gradual da memória, apresenta, muitas vezes, dificuldade de diferenciar a mensagem auditiva, na presença de ruído. Essa somação de fatores está relacionada às regiões anatômicas envolvidas. Quanto maior o número de estruturas anatômicas deficitárias, maior o prejuízo na compreensão das informações recebidas. 26 - Organização: Quando o indivíduo é examinado em função de problemas importantes de aprendizagem ou de comunicação, normalmente não apresenta uma disfunção isolada de organização. Essa vem associada à disfunção de uma ou mais categorias das acima mencionadas. As principais características do indivíduo com disfunção desta categoria são dificuldades com informações seqüenciais, como número de telefone e desorganização em casa e na escola. - Integração: Esta categoria é dividida em dois tipos: Tipo 1 e Tipo 2. Na Tipo 1 os indivíduos apresentam problemas severos de leitura e soletração, consciência fonêmica pobre, podendo ser considerados até como disléxicos. Também apresentam pouco conhecimento do som vocal e habilidade pobre para integração auditiva-visual. Outras características do grupo incluem dificuldade em reproduzir determinadas formas geométricas e letra cursiva melhor do que a de imprensa. Na Tipo 2 os indivíduos apresentam discriminação pobre de fala no ruído, e, nos testes audiométricos, respondem melhor à fala débil e ao estímulo tonal, sendo por isso, algumas vezes, confundidos com simuladores. 27 PEREIRA (1997), baseada nessa categorização de KATZ, propôs uma classificação que se resume a três categorias: - Decodificação: Inabilidade para atribuir significado à informação sensorial auditiva quanto à análise do sistema fonêmico de linguagem (este som é um som de fala?). - Codificação: Inabilidade de integrar informações sensoriais auditivas e associá-las a outras informações sensoriais (qual o significado?). - Organização: Inabilidade de representar eventos sonoros no tempo (como foi a ordem em que o som ocorreu?). Assim como outros pesquisadores, acreditamos que a categorização das desordens do processamento auditivo central auxilia na compreensão das alterações de linguagem que um indivíduo possa apresentar. Também, possibilita o planejamento de estratégias que podem ser utilizadas no processo terapêutico para o desenvolvimento das habilidades alteradas. 28 1.5. AVALIAÇÃO Algumas pessoas se perguntam sobre o motivo da utilização de testes de fala centrais, em meio a tantos exames aprimorados disponíveis atualmente. MUSIEK (1989) observa que nem sempre alterações do sistema auditivo central são diagnosticadas por exames radiológicos e/ou neurológicos sofisticados. Há degenerações, causadas por alterações bioquímicas do cérebro ou deficiências neurológicas mínimas, que não podem ser diagnosticadas de outra maneira, a não ser através dos testes de fala central . Entretanto, para maior confiabilidade nos resultados, os autores aconselham alguns cuidados antes do início da realização dos testes, como por exemplo: 1. MATERIAL DO TESTE: Para se ter o conhecimento exato do nível de intensidade de apresentação dos estímulos, o material deve ser gravado em fita cassete e apresentado via audiômetro, em cabine acústica. Outros cuidados que devem, ainda, ser tomados são a probabilidade de ocorrência do estímulo na língua, presença de pistas semânticas, freqüência de vogais e consoantes na palavra. PEREIRA (1996) após pesquisar vários estudiosos, explica porque certos fatores podem interferir no resultado dos testes. A autora observa que a inteligibilidade aumenta quando, na realização dos testes, são utilizadas frases. Também é maior a inteligibilidade, quanto maior a ocorrência de palavras na língua. A inteligibilidade 29 torna-se menor, quanto maior o número de palavras na lista e quanto menos pistas semânticas tiver a palavra-estímulo. Quanto ao estímulo sonoro competitivo (utilizado para reduzir a informação acústica da fala), deve-se saber que o ruído branco interfere mais na inteligibilidade do que um ruído de muitas vozes ou a voz de uma pessoa só. 2. LOCUTOR: Como comentado anteriormente, é recomendada a utilização de fitas gravadas, que proporcionam uma maior uniformidade na apresentação do material do teste. Deve-se tomar muito cuidado na reprodução destas fitas. O ideal é que todas as cópias sejam realizadas através de disco ou CD, para que a qualidade seja mantida. 3. EQUIPAMENTO: O equipamento deve ser calibrado periodicamente, através de realização de testes com indivíduos diagnosticados auditivamente normais, por audiometria tonal liminar, por índice de reconhecimento de fala, por imitanciometria acústica e, se possível, por audiometria eletrofisiológica. Além desta calibração aconselhável a realização de calibrações físicas. 4. OUVINTE: biológica, é 30 Devem ser levados em conta a motivação do indivíduo, o nível educacional e cultural, a idade, a expectativa em relação à palavra e a existência de treinamento auditivo prévio. KATZ & TILLERY (1997) acreditam que a inteligência não interfere na performance dos testes. Isso, porque, em geral, na avaliação da integridade perceptual, não é necessário que o paciente compreenda o que ouviu, e sim, que apenas reproduza. Esses autores afirmam que através do teste SSW (que será explicado posteriormente), é possível fazer interpretações sobre o processamento auditivo central, tanto em pacientes com retardo quanto em autistas, da mesma maneira que em pacientes normais. Quanto ao fator sexo, os mesmos autores acreditam que não há diferenças significativas entre meninos, meninas, homens e mulheres na maioria dos testes de processamento auditivo central. Já o fator idade é considerado importante. Na avaliação comportamental das crianças, é apropriado adequar as normas dos testes de acordo com cada idade. A maturação perceptual parece aperfeiçoar-se até a pré-adolescência e, depois desta fase, acredita-se que o desempenho permanece inalterável até os 50-60 anos. Após esta idade, a percepção poderá ser pior, quanto mais velho for o indivíduo. A perda auditiva periférica é um dos maiores problemas na interpretação dos testes especiais. O paciente, com perda auditiva, muitas vezes tem dificuldade em compreender a mensagem recebida auditivamente. Tal fator não pode ser relacionado 31 a uma disfunção do processamento auditivo central, e sim, à própria deficiência periférica, que impede que o sinal recebido seja transmitido integralmente às vias auditivas centrais. Há, no entanto, casos em que um paciente com perda auditiva apresenta simultaneamente disfunção do processamento auditivo central. Essa combinação de fatores prejudica ainda mais a compreensão. Novas pesquisas deverão ser realizadas com pacientes que possuam perda auditiva coclear e condutiva, bem como lesões de tronco cerebral e corticais, para que se conheça o efeito destas lesões na identificação das disfunções auditivas centrais. PEREIRA (1997) acrescenta que devemos estar cientes de que, quando solicitado ao paciente ouvir e reproduzir oralmente a resposta, somente a modalidade sensorial auditiva está envolvida. No caso do paciente ter que apontar a palavra ou figura, então a modalidade sensorial visual também está envolvida. Outro problema se apresenta quando o indivíduo tem dificuldade fonoarticulatória. Quando isto acontece, a inteligibilidade não pode ser avaliada através de emissão oral. Se a identificação for realizada através de material escrito, deve-se verificar a habilidade de leitura do indivíduo. 32 1.5.1. TESTES ESPECIAIS A avaliação do processamento auditivo central é composta por uma bateria de testes que tem o objetivo de medir a habilidade do indivíduo em reconhecer estímulos sonoros quando a condição de escuta está dificultada, ou seja, quando as tarefas apresentadas auditivamente exigem grande esforço do sistema nervoso central. Para ouvir a fala, o ouvinte pode contar com redundâncias intrínsecas e extrínsecas. As redundâncias intrínsecas são as diversas vias e tratos auditivos existentes no sistema nervoso auditivo central. Cada neurônio tem seu papel na transmissão dos impulsos elétricos. As redundâncias extrínsecas são as várias pistas que se sobrepõem na própria fala, como por exemplo, pistas acústicas, pistas sintáticas, morfológicas e lexicais . Essas pistas nem sempre são necessárias, mas há situações de maior dificuldade, como por exemplo, ruído excessivo ou reverberação, em que essas são muito importantes para a compreensão da fala. Para localizar a disfunção central, reduz-se as pistas extrínsecas pois o objetivo é justamente avaliar as intrísecas. Esta redução pode ser feita de várias formas: aumentar ou diminuir a velocidade da fala, fala filtrada (diminuir o número de formantes dos sons), testagens em ambientes ruidosos ou de reverberação, fala competitiva, testes dicóticos (um sinal diferente apresentado simultaneamente a cada orelha). 33 Cada uma dessas formas de dificultar o sinal avalia uma habilidade auditiva diferente. Por exemplo, mensagem competitiva avalia capacidade em realizar figurafundo auditiva; reconhecer fala na presença de ruído branco e testes com mensagem competitiva avaliam a capacidade de fechamento, etc. (Pereira,1993). A bateria de testes varia consideravelmente, dependendo dos objetivos do fonoaudiólogo. Pode envolver escuta monoaural (quando cada orelha é testada separadamente); binaural diótica (quando as duas orelhas participam recebendo a mesma informação); escuta binaural dicótica (quando as duas orelhas participam, mas recebem informações diferentes). Quanto ao último aspecto, KATZ (1989) exemplifica que duas palavras como “cow”(vaca) e “bow” (dobrar) apresentadas dicoticamente, fazem com que, no teste, “cow” seja apresentado numa orelha, ao mesmo tempo que “bow” está sendo apresentado a outra orelha. A seguir, comentaremos alguns dos testes mais estudados no Brasil atualmente: TESTE FALA COM RUÍDO Esse teste faz um comparativo do reconhecimento da fala sem ruído competitivo, com fala com ruído competitivo. O ruído pode ser apresentado tanto ipsi (mesma orelha) ou contra-lateralmente (orelha oposta). A habilidade auditiva envolvida é a de fechamento (habilidade para perceber o todo - palavra ou mensagem - , quando partes são omitidas). 34 O teste foi desenvolvido com o objetivo de identificar o local da lesão central. Pacientes com lesão de tronco cerebral tendem a apresentar muita dificuldade no reconhecimento de fala no ruído. Esse fato pode ocorrer na orelha contra-lateral à lesão ou na ipsilateral. Não existe, atualmente, padronização efetiva para esse teste. Antes de ser usado clinicamente, muitas variáveis ainda terão que ser regulamentadas. Para estímulos de fala, podem ser utilizados: monossílabos e sentenças; para ruído, podem ser usados: ruído branco, de cafeteria, burburinho, etc. Quanto aos níveis de relação sinal/ruído, também pode haver variação de -10 dB a + 20 dB. Os níveis de apresentação podem ser: ipsilateral, contra-lateral, com fones ou em campo. Frente a essas opções, SCHOCHAT & PEREIRA (1997) aconselham que cada clínico estabeleça a sua normalidade para determinadas condições de teste e para as várias faixas etárias. Pesquisadores, como KATZ & COL.(1992), utilizam a lista W-22, que é composta de monossílabos familiares, balanceados foneticamente. Essa lista é apresentada a 40 dB NS. Simultaneamente, é apresentado um ruído a 30 dB NS. (Portanto, relação sinal/ruído de + 10 dB). A testagem é realizada em cada orelha separadamente. MUSIEK (1989) também utiliza monossílabos a 40 dB NS, mas em uma relação sinal/ruído de 0 dB e + 10 dB. 35 No Ambulatório dos Distúrbios da Audição da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina, os procedimentos utilizados para a realização do Teste de Fala com Ruído são os seguintes: Os estímulos verbais são 25 monossílabos, mixados com ruído branco, apresentados a uma orelha de cada vez; portanto, um teste com tarefa monótica. O estímulo de fala é apresentado através de audiômetro a 40 dB NS acima da média dos limiares tonais obtidos na audiometria tonal liminar. Esse valor é fixo. No mesmo momento é apresentado um ruído branco com nível de pressão sonora variável, de modo que a relação sinal/ruído seja de +5 dB, que seria a condição boa de escuta, e de -5 dB , a condição regular de escuta. Na condição boa de escuta, é esperado um desempenho superior a 70% de identificações corretas; na condição regular, superior a 50% . Outro fator a ser verificado é se houve melhora quanto à segunda orelha testada na condição regular de escuta. Também é necessário comparar o índice de reconhecimento de fala convencional com os índices percentuais de fala com ruído na condição boa de escuta, que não deve exceder a 20%, conforme foi observado em indivíduos normais. Convém mencionar que as perdas auditivas condutivas e neurosensoriais de grau leve a moderado não interferem no resultado. 36 Esse teste já foi bastante estudado no Brasil. Há pesquisas realizadas com indivíduos jovens normais, com idosos normais, indivíduos com perdas auditivas condutivas e neurosensoriais. Também foi aplicado em 10 lesados cerebrais com lesão comprovada através de tomografia. Dos 10 indivíduos, 5 tiveram sua lesão identificada através desse teste. TESTE FALA FILTRADA Os procedimentos para realização do teste de fala filtrada empregados no Ambulatório dos Distúrbios da Audição da Universidade Federal de São Paulo Escola Paulista de Medicina, serão comentados a seguir: Os estímulos verbais utilizados também são 25 monossílabos. Esses vocábulos são distorcidos de duas maneiras: condição passa-baixo (com atenuação progressiva de 400 a 800 Hz, sendo que, nas freqüências acima de 800 Hz, o total da atenuação é de 24 dB); e condição passa-alto (com atenuação progressiva de 2.500 Hz a 800 Hz, sendo que, nas freqüências abaixo de 800 Hz, o total da atenuação também é de 24 dB). Para realizar o teste com tarefa monótica, considera-se apenas a condição passa-baixo. O sinal (monossílabos) é apresentado a 50 dB NS. PEREIRA & SCHOCHAT (1997) consideram, como desempenho normal, cerca de 70% de identificações corretas, e uma melhora quanto à segunda orelha testada em relação à primeira. 37 Comenta-se que, após o desenvolvimento do teste de fala com filtro por BOCCA, CALEARO e CASSINARI em 1954, algumas pesquisas posteriores demonstraram que os testes monoaurais e de baixa redundância, são apenas moderadamente sensíveis a lesões centrais, pois podem ser afetados também por lesões de tronco cerebral e cóclea. Porém, estudos em geral mostram que esse teste pode identificar disfunções no processo gnósico auditivo denominado de organização, sendo útil também na medição da habilidade de fechamento auditivo. Outra grande vantagem é a possibilidade de identificação da presença de lesão no sistema nervoso central sem, no entanto, localizá-la. TESTE FUSÃO BIAURAL PEREIRA & SCHOCHAT (1997) referem que, desde que MATZKER desenvolveu este teste em 1959, várias versões já surgiram. Assim, variações quanto ao estímulo, à região de corte de freqüência e ao nível de apresentação do estímulo já correram desde então. Atualmente, no Ambulatório dos Distúrbios da Audição da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina, o teste de fusão binaural é realizado da seguinte maneira: Apresentam-se ao indivíduo os estímulos verbais (os mesmos 25 monossílabos utilizados no teste de fala filtrada), na condição passa - baixo a uma orelha, e na condição passa-alto à outra orelha, simultaneamente. O sinal é apresentado a 35 dB 38 NS. Esperam-se identificações corretas superiores a 80%, sendo que a orelha sob teste é aquela que está recebendo o sinal na condição passa-baixo. Esse teste avalia a habilidade de síntese binaural (habilidade para integrar, centralmente, estímulos incompletos apresentados simultaneamente ou alternados para orelhas opostas), sendo sensível a disfunções de tronco cerebral baixo. TESTE SSI O SSI (Syntetic Sentence Identification) foi desenvolvido por SPEAKS & JERGER em 1965 (IORIO, 1996). É um teste de identificação e não de repetição do material. Realização: é apresentado um conjunto de dez sentenças de forma escrita ao paciente, que deve identificar qual das dez foi apresentada auditivamente. Essas sentenças são denominadas de “artificiais”ou “sintéticas” porque não são sentenças lógicas. Entretanto, a seqüência das palavras respeita as regras da sintaxe. As vantagens do SSI são as seguintes: é um teste de resposta fechada, de fácil aplicabilidade e de aprendizado simples para o paciente. Antes de chegar ao teste definitivo, os autores fizeram uma análise quanto ao tipo de sentenças a serem utilizadas. Analisaram as seguintes sentenças: 39 - sentenças de aproximação de primeira ordem: seqüência de palavras casuais em que nenhuma é dependente da palavra que a precede; - sentenças de aproximação de segunda ordem: cada palavra é dependente da que a precede, ou seja, a sentença é constituída de pares de palavras nos quais a segunda palavra é dependente da primeira, assim como a terceira é da segunda, e assim sucessivamente; - sentenças de aproximação de terceira ordem: semelhante às de segunda ordem, mas com uma dependência a cada três palavras. Após análise de resultados obtidos com aplicação desses três tipos de sentenças, os autores optaram pelas de aproximação de terceira ordem, pois verificaram que, quando o número de informações diminuía das sentenças de primeira ordem para as de terceira ordem, os pacientes apresentavam um desempenho melhor. Em 1968, foi introduzido um sinal competitivo de material de fala, com o objetivo de aumentar a dificuldade do teste. Foi recomendado que, na avaliação clínica, a relação sinal/ruído fosse de 0 dB, ou seja, que tanto a fala como o sinal competitivo fossem apresentados na mesma intensidade. Na época, os pesquisadores verificaram que o uso simultâneo do teste de sentenças sintéticas com a logoaudiometria (realizada com monossílabos) permitia a identificação de lesões retrococleares, e que, quando as sentenças eram apresentadas com ruído competitivo ipsilateral (SSI-ICM) ou contralateral (SSI-CCM), localizava alterações a nível de tronco cerebral. 40 Demonstrada a importância desse teste no diagnóstico das desordens do processamento auditivo central, pesquisadores brasileiros interessaram-se por ele e, em 1988, ALMEIDA & CAETANO adaptaram o SSI para a língua portuguesa. Para isso, realizaram a tradução de uma lista de sentenças sintéticas de terceira ordem, que foi elaborada em espanhol, e, em seguida, traduzida para o português. As sentenças são: 1. Que ignora o fim principal é ganhar. 2. A porta larga para ser mais rápido. 3. Gosta muito crer te dá muito para. 4. Quarto golpe de estado e o campo. 5. Sempre corre muito mais bonito que. 6. Confiança em minha alma cai dentro de. 7. Ação humilde é bem claro o céu. 8. Sobre minha cabeça está de Deus pai. 9. Grande general chega já e não creias. 10. Assista a aula de papel branco na. Atualmente, no Ambulatório de Distúrbios da Audição da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina , os estímulos verbais usados são as 10 frases acima citadas, e, como mensagem competitiva, é utilizado um texto da História do Brasil. O teste é realizado da seguinte maneira: 41 As sentenças escritas em letras bem legíveis encontram-se em um quadro, que é colocado em frente ao indivíduo. Em seguida, as sentenças são apresentadas auditivamente, através de fones, na presença de mensagem competitiva contra (MCC) e ipsilateral (MCI) à orelha testada. Quando a testagem é contra-lateral, utiliza-se a relação sinal/ruído de 0 dB e -40 dB, em que se aplicam 5 sentenças em cada condição. Quando a testagem é ipsilateral, a relação sinal/ruído é de 0 dB e -10 dB, com aplicação de 10 sentenças em cada condição. Também estão acrescentando atualmente, relações de -15 dB e 20 dB na testagem ipsilateral, para aumentar a sensibilidade de diagnóstico. A apresentação das sentenças é fixada em 40 dB NS, tendo como base a média dos limiares tonais auditivos de 500 HZ, 1.000 HZ e 2.000 HZ. Instrui-se ao paciente a desprezar a mensagem competitiva (texto da História do Brasil) e a apontar no quadro a sentença que escutou. Para isso é necessário que o paciente saiba ler. No Teste SSI, a habilidade auditiva medida é a de figura-fundo (identificação de mensagem primária na presença de sons competitivos). TESTE PSI 42 ZILLIOTTO; KALIL; ALMEIDA (1997) mencionam que o PSI (Pediatric Speech Intelligibility Test) foi descrito por JERGER; LEWIS; HAWKINS; JERGER em 1980. Esse teste surgiu da necessidade de avaliar a disfunção auditiva central em crianças. Como a criação do PSI foi realizada nos moldes do Teste SSI, a interpretação dos resultados também é a mesma que no teste realizado com adultos (SSI). Assim, resultados alterados do PSI na condição de mensagem competitiva ipsilateral foram interpretados como compatível a uma desordem auditiva central, principalmente em nível de tronco encefálico e resultados alterados na condição de mensagem competitiva contra-lateral como compatíveis a alteração de lobo temporal. Na criação do teste, os materiais apresentados eram monossílabos e sentenças (formato I e formato II). Houve uma grande preocupação no sentido de que a habilidade de compreensão de linguagem não interferisse no resultado de reconhecimento de fala. Então, o material foi limitado a itens que fizessem parte do vocabulário rotineiro da criança e que pudessem ser variados de acordo com o nível de compreensão de linguagem da mesma. Exemplo de sentenças de formato I e II do PSI em inglês: Sentenças de formato I : Show me a horse eating an apple. Sentenças de formato II : A horse is eating an apple. 43 Tanto as sentenças de formato I como os monossílabos eram precedidos pela frase “Show me” que, na língua inglesa, significa “mostre-me”. Alguns pesquisadores brasileiros começaram a se interessar pelo teste e, em 1988, ALMEIDA; CAMPOS; ALMEIDA elaboraram a versão do PSI em português. Recebeu o nome de teste de logoaudiometria pediátrica. A realização do teste PSI, no Ambulatório dos Distúrbios da Audição da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina, é feita da seguinte maneira: Os estímulos verbais utilizados são 10 frases que devem ser identificadas através de figuras. Essas frases são apresentadas com mensagem competitiva ipsilateral e contra-lateral. O nível de apresentação das sentenças é fixo em 40 dB NS, tendo como referência os limiares tonais médios. O estímulo verbal usado como mensagem competitiva é uma história infantil. O nível de apresentação dessa mensagem é variado. Na condição competitiva contralateral, a relação sinal/ruído é de 0 dB e -40 dB; na condição competitiva ipsi-lateral, é de 0 dB, -10 dB e -15 dB. Sentenças que compõem o teste: 1. Mostre um rato pintando o ovo. 2. Mostre o gato escovando os dentes. 44 3. Mostre o cavalo comendo a maçã. 4. Mostre o rato pondo o sapato. 5. Mostre o gato penteando o cabelo. 6. Mostre o gato tomando leite. 7. Mostre o rato lendo o livro. 8. Mostre o cavalo correndo. 9. Mostre o gato comendo sanduíche. 10. Mostre o rato jogando futebol. Além de sentenças, algumas palavras são utilizadas como estímulos verbais. São 10 palavras, sendo duas dissilábicas e oito monossilábicas, apresentadas em uma intensidade fixa de 40 dB NS , tendo como referência os limiares médios tonais. As palavras que compõem o teste são: mão, lápis, boi, pé, trem, pão, gol, peixe, sol, flor. As mensagens competitivas utilizadas são: uma história infantil, apresentada ipsilateralmente na relação fala/ruído de +5 dB, e um ruído branco também na relação fala/ruído +5 dB. Os critérios de normalidade propostos por JERGER, em 1984, citados por ZILIOTTO; KALIL; ALMEIDA (1997), para a interpretação dos resultados do PSI em português, são os seguintes: ∗ na condição de mensagem competitiva contra-lateral: 45 - relação fala/competição de 0 dB: porcentagem de acerto iguais a 100% - relação de fala/competição -20 dB: porcentagens de acerto iguais ou superiores a 70% para as sentenças de formato I e porcentagens de acerto iguais ou superiores a 90% para as sentenças de formato II . ∗ na condição de mensagem competitiva ipsilateral: - relação de fala/competição de 0 dB: porcentagens de acerto iguais ou superiores a 80% ; - relação de fala/competição de +10 dB NA : porcentagens de acerto iguais a 100%. O teste PSI é recomendado para crianças a partir de 4 anos até 7-8 anos de idade, mas essa faixa pode se estender em indivíduos mais difíceis de serem testados, como por exemplo, indivíduos que apresentam distúrbios da comunicação humana. Assim como no SSI, a habilidade auditiva medida é de figura-fundo (já explicada anteriormente). No caso de alteração desse teste, o processo gnósico que está prejudicado é o da codificação (PEREIRA, 1997). TESTE CONSOANTE - VOGAL DE ESCUTA DIRECIONADA 46 Conforme TEDESCO (1997), os primeiros a utilizarem sílabas consoante-vogal em testes dicóticos foram SHANKWEILER & STUDDERT - KENNEDY em 1966. Nesse teste, as habilidades auditivas avaliadas são: figura-fundo e separação binaural (habilidade para escutar com uma orelha e ignorar a oposta). O material é composto de uma lista de pares dos segmentos verbais: pa, ta, ca, ba, da, ga, gravados em fita cassete, de maneira que cada elemento do par esteja em um canal, sincronizados no tempo. A distribuição foi realizada de forma que cada sílaba ficasse disposta duas vezes em cada uma das colunas (TEDESCO, 1997). 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. COLUNA 1 COLUNA 2 GA BA TA BA DA TA CA GA PA CA DA PA TA GA CA DA GA BA DA PA CA BA PA TA O teste é aplicado da seguinte forma: 47 Na primeira etapa, o indivíduo escuta a lista contendo os 12 pares de sílabas, devendo repetir a que lhe parece ser mais audível. Essa é a etapa de atenção livre. Na segunda etapa, o indivíduo escuta novamente os 12 pares de sílabas, devendo repetir a que foi apresentada à orelha direita. Essa etapa é denominada de escuta direcionada à direita, atenção forçada à direita ou atenção direita. Na terceira etapa, precisa repetir a sílaba que escuta na orelha esquerda, denominada de etapa de escuta direcionada à esquerda, atenção forçada à esquerda ou atenção à esquerda. Depois de finalizadas as três etapas, essas são novamente repetidas, só que com os fones invertidos, para que não haja interferência dos canais do equipamento na resposta do indivíduo. Assim, o indivíduo recebe 24 estimulações dicóticas em cada etapa de atenção (livre, direita e esquerda). O registro de cada emissão oral é anotado em uma folha de respostas. Considera-se como ACERTO a repetição da sílaba apresentada à orelha direita nas etapas de atenção livre e atenção direita, e a repetição da sílaba apresentada à orelha esquerda, na etapa de atenção esquerda. É julgado como INVERSÃO a repetição da sílaba apresentada à orelha esquerda nas etapas de atenção livre e atenção direita, e a repetição da sílaba apresentada à orelha direita na atenção esquerda. É constatado como ERRO toda a omissão ou emissão de um terceiro segmento que não foi apresentado a nenhuma das orelhas. Em seguida, é relacionado 48 o número de sílabas repetidas corretamente na orelha direita e na orelha esquerda, e o número de erros cometidos nas etapas de atenção livre, direita e esquerda. Com estes dados, é possível calcular o índice percentual de reconhecimento de fala distorcida (IFDP), que é a ocorrência de acertos da orelha direita e esquerda. A fórmula é a seguinte: IDFP = D + E / 24 x 100, onde: D = acertos da orelha direita E = acertos da orelha esquerda Também pode-se calcular o índice de diferença de resposta (IDR) que é a diferença de acertos da orelha direita e acertos da orelha esquerda. IDR = D - E onde: D = acertos da orelha direita E = acertos da orelha esquerda. Finalmente, calcula-se o predomínio de acertos de uma orelha em relação à outra, que é chamado de índice de predomínio de orelha (IPO). IPO = D - E / D + E x 100 onde: D= acertos da orelha direita E= acertos da orelha esquerda TEDESCO (1997) encontrou valores concordantes com achados internacionais no que se refere aos índices médios de reconhecimento de sílabas, tanto para adultos 49 como para crianças de 7 a 12 anos de idade nas etapas de atenção livre, de atenção direita e esquerda. Esses índices variam entre 78 e 89%. Em relação ao número de erros, observou uma média de 4 erros, tanto em adultos jovens como em crianças de 7 a 12 anos de idade, nas três etapas de atenção. Também há concordância entre seus achados e os da literatura internacional, no que se refere à vantagem da orelha direita na etapa de atenção livre, e também quanto à capacidade do indivíduo em dirigir a atenção para as orelhas direita e esquerda, que é conseguida a partir dos 7 anos de idade para ambos os sexos. Os resultados do IDR (índice de diferença de resposta) que PINTO (1991), em TEDESCO (1997), encontrou em adultos jovens, foram: - entre 2 e 3 na etapa de atenção livre; - entre 7 e 8 na etapa de atenção direita; - entre -3 e -8 na etapa de atenção esquerda. TEDECO (1997), avaliando crianças entre 8 e 12 anos de idade, encontrou: - nas etapas de atenção livre e atenção direita, valores entre 4 e 7; - na etapa de atenção esquerda encontrou valores também positivos, entre 1 e 2. Os resultados do IPO (índice de predomínio de orelha) variam: 50 - na etapa de atenção livre, entre 5 e 45 %, tanto em adulto como em crianças de 8 a 12 anos de idade; - na etapa de atenção direita, entre 25 e 54%; - na etapa de atenção esquerda, entre -8 e 2% em crianças; nos adultos, esse índice, em torno de -35%. Os resultados de IFDP (índice percentual de reconhecimento de fala distorcida) dos estudos de PINTO (1991), em TEDESCO (1997), foram iguais ou superiores a 79%, com até 5 erros em cada etapa de atenção, tanto em adultos como para crianças de 8 a 12 anos de idade. Os parâmetros a serem seguidos na interpretação dos resultados são os seguintes: Na etapa de atenção livre, os adultos devem apresentar 10 ou mais acertos na orelha direita, e 9 ou menos acertos na orelha esquerda, ou seja, devem acertar pelo menos 19 sílabas, sendo que, na orelha direita, o número de acertos deve ser igual ou maior que 10. As crianças de 8 a 12 anos de idade devem acertar mais na orelha direita do que na esquerda. Na etapa de atenção direita, os adultos devem ter um número de acertos de pelo menos 2 ou mais sílabas do que os obtidos na etapa de atenção livre; as crianças, um número igual ou superior ao que acertaram na etapa de atenção livre. 51 Na etapa de atenção esquerda, os adultos devem ter acertos na orelha esquerda superior a pelo menos 3 sílabas do que obtidos na atenção livre. As crianças entre 10-12 anos de idade devem acertar na orelha esquerda pelo menos 1 sílaba a mais do que acertaram na etapa de atenção livre. Recomenda-se que esse teste seja aplicado a partir dos 7 anos em ambos sexos, pois, antes disso, as crianças não possuem habilidade em dirigir a atenção para as orelhas direita e esquerda. Outra sugestão de TEDESCO (1997) é que o teste seja aplicado preferencialmente em indivíduos com acuidade auditiva normal, e, se caso for utilizado em indivíduos com perda auditiva, os limiares não devem ser superiores a 40 dB NA, tanto em perdas condutivas como neurossensoriais. Em relação ao índice de reconhecimento de fala, esse deve ser de no mínimo 70% de acertos em cada orelha, e a diferença entre os índices das duas orelhas não deve ser superior a 20%. PEREIRA (1997) acrescenta que esse teste ajuda a classificar a disfunção auditiva quanto ao tipo, da seguinte maneira: ∗ DECODIFICAÇÃO AUDITIVA PREJUDICADA: Na etapa de atenção livre pode, ou não, ocorrer vantagem da orelha direita. Esta etapa pode estar alterada pelo número de erros. 52 Na escuta direcionada, há alterações quanto ao número de inversões, e ao número de erros. ∗ CODIFICAÇÃO AUDITIVA PREJUDICADA: A etapa de atenção livre está normal quanto ao número de erros, ocorrendo vantagem da orelha direita. Na etapa de escuta direcionada, o número de erros está dentro do normal, mas o número de inversões está alterado. ∗ ORGANIZAÇÃO AUDITIVA PREJUDICADA: Na etapa de atenção livre, o número de erros está dentro do normal, havendo vantagem da orelha direita. Na etapa de escuta direcionada, o número de inversões pode estar alterado, mas o número de erros está dentro do normal. TESTE ESCUTA COM DÍGITOS SANTOS & PEREIRA (1997) comentam que o teste de escuta dicótica com dígitos foi utilizado primeiramente, em 1954, por KIMURA. O estudo foi realizado em pacientes com lesão no lobo temporal, e, no resultado, ficou demonstrada uma dificuldade desses pacientes em repetir dígitos quando esses eram apresentados na orelha contra-lateral à lesão. Desde então, o teste passou a ser usado em pacientes afásicos, pacientes com lesão intracraniana, com lesão no tronco cerebral e cortical/hemisférica, confirmando as conclusões descritas já naquela época pelos pesquisadores que afirmavam o seguinte: 53 Quando o estímulo verbal é apresentado na orelha direita, esse chega através da via contra-lateral diretamente ao hemisfério esquerdo, enquanto que o estímulo apresentado na orelha esquerda, dirige-se ao hemisfério direito e, através do corpo caloso, chega ao hemisfério esquerdo para então ser analisado. Desse modo, quando a lesão ocorre no hemisfério esquerdo, as alterações são encontradas em ambas as orelhas, enquanto que, quando o hemisfério lesado é o direito, observa-se um maior número de erros na orelha esquerda. Atualmente, no Ambulatório de Distúrbios da Audição da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina, o teste vem sendo realizado através da apresentação de uma lista de 20 pares de dígitos, elaborada por SANTOS e PEREIRA em 1997. Somente os dígitos que representam dissílabos na língua portuguesa fazem parte da lista. Esses são apresentados em uma cabine acústica, em uma intensidade de 50 dB NS. Inicialmente, é solicitada ao paciente a repetição oral de todos os dígitos ouvidos, independente da ordem. Essa etapa é denominada de tarefa de integração biaural. Em seguida, o paciente ouvirá a lista de 20 dígitos novamente, e então deverá repetir somente os dígitos percebidos na orelha direita. Essa etapa é denominada de escuta direcionada para a direita. Na próxima etapa, o paciente repetirá somente os dígitos percebidos na orelha esquerda. Esta é denominada de escuta direcionada para a esquerda. 54 Após o término dessas três etapas, o fone é invertido, e o teste é aplicado novamente. Isso evita erros que podem surgir em função de uma possível diferença de calibração. Um maior conhecimento da normalidade, bem como a faixa etária em que deve ser aplicado o teste, só será possível, após o término de uma pesquisa que está sendo realizada atualmente com crianças e adultos jovens audiologicamente normais. Até o momento, os resultados apresentados por jovens adultos são de uma porcentagem de acertos maior do que 90% nas três etapas, coincidindo com descobertas internacionais. Resultados normais obtidos nesse teste indicam boa habilidade em agrupar componentes do sinal-acústico em figura-fundo, bem como a de direcionar a atenção para cada orelha separadamente. TESTE NÃO-VERBAL DE ESCUTA DIRECIONADA O objetivo desse teste é verificar a habilidade que o indivíduo tem em prestar atenção em um som, ignorando o apresentado na orelha oposta, e associá-lo a uma figura correspondente exposta em um quadro. Essa figura encontra-se inserida em um contexto, não é o objeto sonoro em si. 55 Os sons utilizados são os seguintes: cachorro, gato , galo, uma porta batendo, o sino da igreja e a chuva. Esses sons são apresentados aos pares, simultaneamente, perfazendo um total de 12 pares. Numa primeira etapa, o paciente é instruído a apontar para apenas uma das figuras dos dois sons apresentados - etapa de atenção livre. Posteriormente, o paciente é instruído a indicar para as figuras correspondentes aos sons apresentados na orelha direita. Por último, é instado a apontar para as figuras correspondentes aos sons apresentados na orelha esquerda. O nível de apresentação é na intensidade de 50 dB NS , levando-se em conta os limiares médios tonais. São realizadas 12 estimulações para as três etapas, e após a inversão do fone, necessária por motivos já conhecidos, o procedimento é repetido. Na análise dos resultados, algumas variáveis devem ser levadas em conta: Em primeiro lugar, deve-se verificar se o paciente compreendeu o teste, se permaneceu atento durante todo o tempo, enfim, analisar o comportamento do paciente durante avaliação. Outro item observado é o índice de reconhecimento, que vem a ser o número de identificações feitas pelo paciente, independente do lado estimulado, em relação ao número total de estímulos dados. Segundo ORTIZ & PEREIRA (1997), devem-se considerar, como desempenho normal, valores iguais ou superiores a 96%. Também é levado em conta o índice de 56 predomínio, que vem a ser o número de identificações feitas pela orelha direita subtraído do número de identificações feitas pela esquerda. Isto é realizado para verificação de predomínio de uma das orelhas na identificação dos estímulos. Na escuta direcionada, deve-se verificar se, na etapa de atenção direita e esquerda, o paciente identificou no mínimo 23 itens, que é o valor esperado. Se, no resultado do teste, for observada uma assimetria perceptual ou baixos índices de reconhecimento, pode-se classificar a disfunção do processamento auditivo central como alteração do processo gnósico integrativo auditivo, que é o da CODIFICAÇÃO. Uma alteração na escuta direcionada esquerda sugere disfunção ou problema orgânico no hemisfério direito; alteração na escuta direcionada direita, disfunção ou problema orgânico no hemisfério esquerdo ou corpo caloso. Na relação dos testes dicóticos não-verbais, ORTIZ & PEREIRA (1997) citam trabalhos importantes, como os de BEVER & CHIARELLO (1974) e o de JOHNSON (1977), realizados com estímulos musicais, e o de KATZ (1985) com estímulos nãoverbais ambientais. TESTE SONS AMBIENTAIS COMPETITIVOS - CES Este teste foi desenvolvido por KATZ em 1975 (SCHOCHAT, 1997). O “competing environmental sounds” é realizado da seguinte forma: 57 São apresentados ao paciente dois sons de forma dicótica (um para cada orelha), sobrepostos no tempo, em uma intensidade de 50 dB NS, totalizando 14 sons diferentes. Os sons ouvidos pelo paciente devem ser indicados por ele, em uma lista, na qual se apresentam quatro opções. A resposta pode ser dada verbalmente ou apontando a figura correspondente. No teste propriamente dito, são apresentados 20 itens, mas antes disso, é realizado um treinamento com 6, para verificar se o teste foi compreendido pelo paciente. Os critérios de normalidade para esse teste são os seguintes: ∗ os números se referem à quantidade de erros: Com 6 anos − no OD: 03 e OE: 02 7 anos − no OD: 02 e OE:01 8 anos − no OD: 02 e OE:01 9 anos − no OD: 02 e OE:01 10 anos − no OD: 01 e OE:01 11 anos − no OD: 01 e OE:01 12 anos − no OD: 01 e OE:01 adulto − no OD: 01 e OE: 0 Alguns autores, como MUSIEK (1989), afirmam que o hemisfério esquerdo posterior é dominante para o processamento lingüístico, enquanto que o hemisfério direito realiza o processamento de sons ambientais e outros sons não-lingüísticos. 58 Esse teste tem vantagens sobre os testes dicóticos verbais em algumas situações, como por exemplo, na diferenciação de lesões que envolvem hemisfério direito, das lesões do corpo caloso e/ou comissura anterior. Voltando à fisiologia, verifica-se que o hemisfério esquerdo é dominante para o processamento lingüístico, portanto, em ambos os casos de lesões acima citados, espera-se, nos testes dicóticos verbais, um maior número de erros na orelha esquerda. No primeiro caso (lesão de área auditiva receptiva do hemisfério direito), os erros são maiores na orelha esquerda, por esta ser contra-lateral à lesão. No segundo caso (lesão de corpo caloso), os erros são maiores na orelha esquerda, porque, conforme a fisiologia, as informações recebidas via orelha esquerda, são sempre enviadas ao lado direito. Como o hemisfério direito não é dominante para a linguagem, as informações retornam, via corpo caloso, para as áreas lingüísticas localizadas no hemisfério esquerdo. Assim, quando esta estrutura (corpo caloso) está lesionada, a transmissão das informações fica dificultada. Por isso é que o CES, originalmente, surgiu com a proposta de diferenciar pacientes com desordem ou lesão do hemisfério direito, dos que apresentam desordem ou lesão de corpo caloso e/ou comissura anterior. Como os sons ambientais e outros sons não-lingüísticos são mais processados no hemisfério direito, é esperado que a orelha esquerda tenha resultados superiores. 59 Nesse teste, as habilidades auditivas avaliadas são: associação (habilidade para estabelecer correspondência entre um som não lingüístico e sua fonte) e separação binaural (habilidade para escutar com uma orelha e ignorar a oposta). TESTE DISSÍLABOS ALTERNADOS – SSW O SSW foi desenvolvido por KATZ em 1962, com o objetivo de detectar a presença de algum tipo de impedimento da função auditiva central. Foi adaptado para o português pelas fonoaudiólogas Alda Christina Borges e Isa Schneider em 1986, sob a supervisão do próprio autor (BORGES, 1997). O teste utiliza como estímulo verbal palavras dissílabas. São 40 itens compostos por 4 dissílabas cada um, o que totaliza 160 palavras-estímulo. O nível de apresentação do teste é de 50 dB NS, tendo como base os limiares médios tonais. Os 20 itens de números ímpares são apresentados, iniciando-se pela orelha direita, e os 20 pares, iniciando-se pela orelha esquerda. A primeira palavra dos itens ímpares é apresentada sozinha à orelha direita e constitui a condição direita não-competitiva. Em seguida, são apresentadas duas palavras diferentes, uma para cada uma das orelhas, simultaneamente, formando a condição direita e esquerda competitiva. A última palavra é apresentada isolada à orelha esquerda, formando a condição esquerda não-competitiva. 60 Os itens pares seguem os mesmos critérios, só que se inicia pela orelha esquerda. Então, a primeira palavra do item é apresentada isoladamente à orelha esquerda formando a condição esquerda não-competitiva. Seguem as condições esquerda e direita competitiva, ou seja, segunda e terceira palavras apresentadas uma à orelha esquerda e outra à direita simultaneamente. Por último, a condição direita não-competitiva, que é a apresentação da última palavra do item isolada à orelha direita. Na análise dos resultados, todas as 160 palavras são consideradas individualmente como certas ou erradas. Consideram-se erros: omissão, substituição e distorção da palavra. Quando na repetição de um item acontece que uma palavra é emitida fora de ordem, anota-se como inversão. Mas, se em um item ocorrerem mais de uma palavra fora da ordem, já conta como erro. Em crianças de 8 anos ou mais, classifica-se a Desordem do Processamento Auditivo central da seguinte maneira: - grau leve: quando o índice de acertos na condição competitiva varia entre 80 e 90%; - grau moderado: valores entre 60 a 80%; - grau severo: inferiores a 60%. 61 Em adultos ou crianças maiores de 12 anos, a análise dos valores de erros é a mesma utilizada por KATZ, chamada de análise TEC. É realizada da seguinte maneira: Na primeira análise, considera-se a porcentagem de erros de cada condição, competitiva e não-competitiva, subtraindo-se destes valores os erros obtidos na discriminação convencional, que é atualmente denominada índice de reconhecimento de fala. A segunda análise é realizada com base na média dos valores obtidos em cada orelha, na condição competitiva e não-competitiva. É chamada de porcentagem de erros da orelha direita e esquerda. A terceira análise é feita a partir da média de erros da orelha esquerda e orelha direita, que corresponde ao total de erros. A análise é denominada TEC devido aos nomes destes três fatores: T (total), E (ear), C (condition). Nessa análise, levam-se em conta os valores mais extremos e quando estes forem positivo e negativo, trabalham-se com duas categorias. As pontuações da análise TEC são efetuadas considerando-se a categoria que mais se repete. 62 ERROS (%) TOTAL CATEGORIA NORMAL -4a5 LEVE 6 a 15 MODERADA 16 a 35 SEVERA 36 a100 - 6 a 10 11 a 20 21 a 40 41 a 100 - 9 a 15 16 a 25 26 a 45 46 a 100 ORELHA CONDIÇÃO Segundo KATZ (1994), na desordem do processamento auditivo de grau leve, podem ocorrer disfunções em áreas corticais mas não auditivas, e ainda, na área anterior do corpo caloso. Na desordem do processamento auditivo de grau moderado e severo, podem ocorrer disfunções em áreas auditivas, na área cortical de recepção auditiva ou nas subcorticais, podendo, ainda, envolver porção posterior do corpo caloso. Na correção do SSW, podem aparecer valores negativos abaixo do considerado normal, dando-se o nome à categoria de supercorrigida. Isso acontece, porque o índice de reconhecimento de fala encontra-se superior ao índice perceptual de erros por condição. Tais valores ocorrem em casos de disfunção do VIII par, em patologias retrococleares ou em alterações de tronco cerebral baixo. Além da análise quantitativa, também é realizada uma análise qualitativa, que envolve um processo denominado de tendência de resposta e outro denominado de qualificadores. 63 Quanto à tendência de respostas, avalia-se a presença de: - Inversões: seqüência repetida fora de ordem, mas com um erro somente. - Efeito auditivo: quando apresenta mais erros se o teste é iniciado na orelha direita, denominado de efeito auditivo alto-baixo ou quando é iniciado na orelha esquerda, denominado de efeito auditivo baixo-alto. - Efeito de ordem: quando o indivíduo erra mais as primeiras e segundas palavras, do que as terceiras e quartas do item, denominado efeito altobaixo, ou ao contrário,denominado de efeito baixo-alto. - Padrão de resposta TIPO A: quando acontece um grande número de erros, mas o maior ocorre na coluna ou da direita competitiva, iniciada pela orelha direita, ou da esquerda competitiva, iniciada pela orelha esquerda, quando comparada à outra coluna que também apresenta grande número de erros. Baseado na tendência de resposta, pode-se verificar um possível envolvimento da disfunção: - Efeito de Ordem Baixo-alto: região temporal posterior - córtex auditivo; - Efeito de Ordem Alto-baixo: metade anterior do cérebro; - Efeito Auditivo Alto-baixo: região temporal posterior - córtex auditivo; - Efeito Auditivo Baixo-alto: região frontotemporal; - Inversões: região temporal anterior, região frontal adjacente; - Tipo A: não é muito seguro para topodiagnóstico, mas parece ocorrer em disfunção do corpo caloso e tálamo. 64 O segundo processo envolvido na interpretação do SSW são os qualificadores. Nesse processo é realizada a avaliação das respostas comportamentais. A presença de respostas extremamente rápidas aparece quando há problemas de memória, e a presença de respostas extremamente lentas acontece em pacientes com decodificação fonêmica lenta. * Além de todos estes testes especiais acima explanados, que são realizados em cabine acústica e apresentados através de gravador ou CD, existem outros que não necessitam de equipamento sofisticado, podendo, portanto, ser utilizados em serviços públicos e clínicas menos equipadas. Denominam-se dióticos (quando as duas orelhas participam recebendo a mesma informação): Teste de Localização Sonora em 5 direções, Teste de Memória seqüêncial Verbal e Não verbal. No Ambulatório de Distúrbios da Audição da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina, esses três testes, juntamente com a pesquisa do reflexo do músculo do estribo, são utilizados como triagem de distúrbios do processamento central, porque os três testes em conjunto apresentam grande sensibilidade na detecção de disfunções centrais em crianças de 4 a 6 anos de idade (80%). Essa sensibilidade cai para 50% em indivíduos com faixas etárias superiores a 6 anos de idade. Assim, quando um indivíduo apresenta alterações nos testes dióticos, pode-se afirmar a existência de uma desordem do processamento auditivo central. 65 TESTE LOCALIZAÇÃO SONORA EM 5 DIREÇÕES Nesse teste, a habilidade auditiva avaliada é a localização. Como estímulo auditivo, podem ser utilizados um instrumento musical ou estalar de dedos. A criança é instruída a apontar para a direção de onde ela acredita que venha o som. Inicialmente, o teste é realizado com a criança de olhos abertos, mas de costas para o examinador. As posições avaliadas são: direita, esquerda, acima e atrás da cabeça. Em seguida, a criança fica de frente para o examinador e de olhos fechados. Nesse momento, pode ser avaliada também a localização de sons à frente da criança. A resposta esperada para uma criança de 3 anos é, ao menos, o acerto das posições direita e esquerda. Com 4 anos, a criança deve acertar quatro das cinco direções testadas. TESTE MEMÓRIA SEQÜENCIAL VERBAL A habilidade auditiva avaliada é a memória seqüencial (habilidade para lembrar a ordem exata dos estímulos apresentados). 66 O teste é realizado com as sílabas “pa”, “ta”, “ca”, dispostas em três ordens diferentes: pa-ta-ca, ta-pa-ca e ca-ta-pa. A criança deve repetir as sílabas na ordem em que elas foram apresentadas. A partir de 3 anos de idade, espera-se que uma criança repita corretamente duas das três seqüências apresentadas. TESTE MEMÓRIA SEQÜENCIAL PARA SONS NÃO-VERBAIS Nesse teste, a habilidade auditiva avaliada é também a memória seqüencial. É realizado com seqüências de três ou quatro sons de objetos, dependendo da idade da criança. A partir dos 6 anos, a seqüência já pode conter quatro sons. Exemplo: guizo-côco-sino-agogô, côco-guizo-sino-agogô, sino-guizo-agogô-côco. Inicialmente, a criança fica sentada de frente para os instrumentos para aprender a tarefa, mas a testagem é realizada com ela de costas, tanto para o examinador, como para os instrumentos. Em seguida, a mesma vira de frente para os instrumentos e aponta-os na seqüência que acredita ter ouvido. Com 3 anos, a criança já deve entender a ordem, com 4 anos precisa entender e acertar duas das três seqüências apresentadas. 67 1.5.2. TESTES ESPECIAIS ALTERADOS POR CATEGORIA ∗ Categoria de Decodificação: estão alterados os testes em que há envolvimento da modalidade auditiva e de produção motora da fala, como: - localização em 5 direções; - testes monóticos de baixa redundância; - fala com ruído branco; - teste diótico consoante-vogal; - SSW em português com alterações quantitativas de grau moderado a severo (quando na condição de direita competitiva principalmente) e alterações qualitativas, mostrando efeito de ordem baixo-alto ou efeito auditivo alto-baixo, em valor significante; - ∗ teste de integração binaural: fusão binaural; Categoria Codificação: estão alterados os testes em que há envolvimento da modalidade auditiva e visual, como no caso de apontar figuras ou palavras escritas: - testes monóticos com figuras: monossílabos com ruído branco ou mensagem competitiva ipsilateral, PSI ou SSI; - testes dióticos com figuras: sons ambientais competitivos com escuta direcionada; 68 - testes em que há o envolvimento da modalidade auditiva e de produção motora da fala, como o SSW, com alterações qualitativas do tipo efeito de ordem alto-baixo, ou efeito auditivo baixo-alto em valor significante, ou a presença do tipo A; - há alteração do teste de fala com ruído branco e dificuldade na escuta direcionada no teste diótico consoante-vogal. ∗ Categoria Organização: - teste de memória seqüencial instrumental, com modalidade auditiva e visual envolvidas, como apontar objetos sonoros na ordem em que foram ouvidos; - testes com modalidade auditiva e de produção motora da fala envolvidas, como teste de memória seqüencial verbal, teste de fala filtrada, e SSW com alteração qualitativa do tipo inversões, em valor significante. Mesmo recente, o estudo da avaliação do processamento auditivo já evoluiu muito no nosso País. Conforme visto, várias pesquisas já foram realizadas e outras ainda estão em processo. Em breve, novos instrumentos serão validados, contribuindo ainda mais na detecção das desordens do processamento auditivo central. 69 CONSIDERAÇÕES FINAIS Após consultadas obras de diversos autores, pudemos constatar que, apesar do estudo do processamento auditivo central ser ainda incipiente no nosso país, muitas descobertas já ocorreram. Vários testes utilizados no diagnóstico das disfunções auditivas centrais já estão adaptados à nossa população e outros tantos terão em breve sua fidedignidade comprovada. Ainda há ainda muito o que pesquisar e aprender, pois a avaliação do processamento auditivo central constitui uma área extremamente importante e desafiadora da Audiologia. Novas descobertas acontecem diariamente, graças ao empenho de pesquisadores da área, o que possibilita maior precisão e precocidade na detecção das disfunções auditivas centrais. É de suma importância que, na presença de qualquer patologia, o diagnóstico seja efetuado precocemente. No caso das alterações do processamento auditivo central, a detecção precoce também é imprescindível, uma vez que a maior parte do processo de maturação do sistema auditivo ocorre nos primeiros anos de vida. A intervenção, neste período de maior plasticidade cerebral, permite que os danos sejam reparados com maior sucesso. 70 Um aspecto que muito nos entusiasmou, foi a descoberta da possibilidade de triagem de indivíduos com alteração do processamento auditivo central através de procedimentos simples, que não necessitam de material sofisticado. Esses, se realizados em hospitais, creches, escolas e outros locais com atendimento da população infantil, permitirão que um maior número de indivíduos sejam diagnosticados precocemente. Entretanto, para que a importância da detecção precoce das alterações centrais seja reconhecida, faz-se necessário um trabalho anterior de orientação à comunidade e profissionais de áreas afins, a qual deve conter informações sobre o que vem a ser o processamento auditivo, quais as desordens que podem estar presentes nesse processo, bem como suas implicações. A postura dos profissionais que atuam em Audiologia Clínica, tem trazido benefícios imensuráveis aos pacientes. O interesse pelo aprimoramento do conhecimento científico, bem como a disponibilidade para trocas de experiências interdisciplinares, têm demonstrado um engrandecimento da classe. Sentimo-nos gratificados ao perceber o reconhecimento do trabalho do fonoaudiólogo pela comunidade e profissionais de diferentes áreas. Nossos esforços são extremamente valorizados, o que desperta grande motivação na busca de uma atuação cada vez mais competente. 71 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1.ALMEIDA, C.I.R. & CAETANO, M.H.V. - Logoaudiometria utilizando sentenças sintéticas. Rev. Bras.Otorrinolaringol., 54: 68-72, 1988. 2.ALMEIDA, C.I.R; CAMPOS, M.I.;ALMEIDA,R.R - Logoaudiometria pediátrica(PSI). Pediatric speech intelligibility test. Rev. Bras. Otorrinolaringol., 54: 73-76, 1988. 3.AZEVEDO, M.F. - Programa de prevenção e identificação precoce dos distúrbios da audição. In: SHOCHAT, E. - Processamento Auditivo. São Paulo, Lovise,1996. p. 75-105. 4.____________ - Distúrbios da audição em crianças de risco para alteração do processamento auditivo central. In:LICHTIG, I. & CARVALLO, R.M.M. Audição: Abordagens Atuais. 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