CIDADANIA: AUTONOMIA, LINGUAGEM, LIBERTAÇÃO, DEMOCRACIA
Profª. Esp.Tânia Maria Vianna Pache de Faria1
Profª Ms. Anésia Maria Costa Gilio2
Faculdades Integradas Maria Thereza3
É difícil aceitar a mudança ou a necessidade de mudar. É fundamental, entretanto, que
se reflita sobre a realidade para que se possa ampliar o contexto da realidade na qual o homem
está inserido. A proposta de se promover uma educação para jovens e adultos pode ser
analisada como sendo uma forma dinâmica de desenvolver as habilidades essenciais que
permitam ao indivíduo modificar e refletir a realidade. Para tanto o papel do educador é
essencial. Este deve fazer do conhecimento uma proposta de libertação e democracia.
Este artigo, portanto, aborda a importância das diferentes linguagens no cotidiano
pedagógico das salas de alfabetização de jovens e adultos. Esta temática, entendida, como
bastante debatida no cenário educacional, ainda não está percebida como exercício de
libertação e democracia.
O objetivo deste artigo é, então, chamar a atenção do educador para as ações de
libertação democrática, fazendo das diferentes linguagens pré-requisitos para a aproximação
do discurso denominado “proposta” para a prática libertadora, um movimento de cidadania,
só conseguido se tiver como meta a autonomia dos sujeitos.
Professores precisam assim, “dar-se conta da realidade sociocultural que molda as
suas vidas, bem como a capacidade de transformar essa mesma realidade agindo nela.”
(Freire, 1994, p.27), fazendo da escola um espaço contrário a discriminação e exclusão social.
Faz-se necessário, portanto, respeitar a individualidade do sujeito e em especial, permitir que
educandos e educadores se percebam em um espaço democrático, capaz de dialogar, interagir
e expor sua opinião frente à sociedade. Cabe ao educador a função de mediador da
1
Especialista em Planejamento, Métodos e Técnicas de Ensino Profª. do Curso de Pedagogia das Faculdades
Integradas Maria Thereza. Coordenadora setorial parceria PAS/FAMATh. Orientadora Educacional da Fundação
Municipal de Educação de Niterói. Coordenadora Pedagógica das séries iniciais do Ensino Fundamental da
“Associação Educacional Começo de Vida” Santa Rosa Niterói.
2
Mestre em Educação pela UFF. Professora das Faculdades Integradas Maria Thereza e Centro Universitário
Plinio Leite. Coordenadora Geral parceria PAS/FAMATh
3
Colaboradores e coordenadores setorial da parceria PAS/FAMATh: Carolina Moreira Mota, Amanda de
Souza Pereira, Paula Graziela Bernardino da Silva, Françoise Silva Araújo Cordeiro, Vivian Miranda Lago, Ana
Carolina da Silva Braga, Valcileia de Souza Cardoso, Beatriz Miranda Monteiro de Barros, Isadora Delfino da
Silva, Leonardo Avellar da Silva Souza, Edson Petrônio de Alcantara, Maria Elivania Azevedo, Marcelle Dobal
da Silveira, Paulo Vinicius Costa Gilio, Ana Carolina Nascimento da Silva, Maria de Fátima Scaffo Barreto,
Turíbio Tinoco da Silva, Helenice Pereira Sardenberg, Maria Teresa Carmona do Nascimento, Michele da Silva
Vidal Marques.
aprendizagem, para atingir este objetivo, este educador deve estar ciente de seu inacabamento,
suas limitações e facilidades, isso porque, para oferecer meios para que o aluno construa o
próprio conhecimento, seja capaz de dominar a fala, a leitura, a escrita e a interpretação do
dito e do não dito que sustentam os discursos é preciso que este educador, também, viva este
movimento denominado cidadania. Direitos e deveres entendidos e respeitados, contrários a
obediência medrosa, silenciosa e alienada.
Muitos são os programas educacionais desenvolvidos pelos governos Federal e
Estaduais com o propósito de oferecer aos jovens e adultos, que não se encontram
alfabetizados, uma oportunidade de encontro com o conhecimento científico que a escola
deve ensinar. Existe uma série de problemas, entretanto, que acaba por ocasionar o
desestimulo dos jovens e dos adultos na busca por este conhecimento. Convém afirmar, ainda,
que muitos deixaram de estudar a muito tempo, outros nem se quer tiveram acesso à escola, o
que significa que a escola deve refletir criteriosamente sobre a metodologia que pretende
desenvolver, a fim de verificar se as mesmas condizem com as perspectivas desse grupo de
alunos. Perceber o que o aluno busca na escola é o primeiro passo para uma escola
democrática e libertadora, mas professores continuam definindo o que é melhor para seu
aluno. Esta ação está sustentada no autoritarismo que faz comunicados, contrária a
comunicação necessária, cidadã, está na troca, no respeito de ambas as partes, na
transformação do cenário escolar.
É verdade que jovens e adultos recorrem à escola para aprenderem a ler e escrever,
aprendizado básico para ampliar seu convívio social, mas a escola tem a obrigação política de
contextualizar este conhecimento, de dar significado. Nogueira (1994), complementa dizendo
que “a atividade da leitura não é apenas decodificação de um único sentido pré-estabelecido.
A leitura envolve também a atividade do leitor que atribui sentidos ao texto a partir das
relações que estabelece, segundo suas experiências.”(p.31).
Desta forma, aprender consiste em uma etapa de questionamentos, de críticas, de
reflexão e de sucessivas aprendizagens a partir da realidade. Representa uma forma de análise
da realidade social, dos problemas que atingem diretamente a população e de como é possível
modificar o contexto atual. É preciso esclarecer, ainda, que a língua materna é um instrumento
de saber de um povo e revela um campo do saber e poder que vai além da própria concepção
de homem, pois por meio desta é possível perpetuar a cultura. Professores estão atentos a todo
este movimento que compõe a história dele e de todos os sujeitos sociais?
Discute-se, então, a necessidade que existe do professor despertar para essas questões.
Se perceber histórico e social como seus alunos, entender que as diferentes linguagens são
eixos norteadores do trabalho do professor. Essa mesma linguagem representa uma maneira
de constituir e regular a atividade social, além de promover a comunicação e ampliar a
dimensão social de cada indivíduo.
Diante deste contexto, acredita-se que a educação dos jovens e adultos indica uma
maneira sensata de conscientização, quando as pessoas devem deixar de aceitar a opressão,
sendo capazes de se envolverem num processo dialógico de questionamento e validação das
normas sociais, dos códigos culturais e das ideologias, valorizando o trabalho de intervenção
coletiva. Diante desta abordagem, se a escola resolver mudar sua metodologia de ensinar para
a de ensinar e aprender estará quebrando seus paradigmas e a aprendizagem da língua, seja
esta oral ou escrita, tornar-se-á um conjunto de práticas, atraentes e participativas, permitindo
ao educando expressar-se e reavaliar seus projetos de vida.
Existe, portanto, um grande desafio nessa educação de jovens e adultos, discriminados
socialmente e que estão valorizando esta oportunidade de aprender a ler, a escrever, a discutir,
enfim, desenvolver habilidades essenciais para ampliar o viver no cotidiano. Para Lajolo
(1986), a leitura é uma compreensão do mundo, a escrita representa o conhecimento, que se
transmite às gerações e esta é reescrita a cada novo momento em que o ser humano interpreta
e reescreve sua história.
Esta volta ou ida à escola prioriza a noção de grupo. É de grande importância o
entendimento de que ser diferente, não significa ser melhor ou pior que o outro. Cada pessoa
tem sua história, esta é construída individualmente na relação com o coletivo. As questões e
situações apresentadas por este coletivo, provocam reações diferenciadas em cada um. Assim
sendo, o que é importante para um, pode não ser importante para o outro, o medo de um pode
ser a coragem do outro e assim sucessivamente.
“Pensar, falar, sentir, perceber, dar um destino às mãos
liberadas do quase exclusivo apoio ao corpo para mover-se, inteligir e
comunicar o inteligido, comparar, valorar, avaliar, optar, romper,
decidir, apreender, aprender, ensinar, poder fazer ou não coisas, idear,
viver socialmente, tudo isto sublinhou no ser que disto se tornou capaz, a
importância indiscutível de sua consciência. Consciência do outro e de
si como um ser no mundo, com o mundo e com os outros, sem a qual
seria apenas um ser aí,...” (Freire, 2000, p.112)
No processo vivido na parceria PAS/FAMATh de capacitação de alfabetizadores e
avaliação continuada com visitas as salas de aula, o grupo de trabalho desta IES propõe
atividades, como algumas alternativas que o educador pode utilizar em sala de aula para que o
seu trabalho possa ser desenvolvido na busca de uma educação igualitária, baseada nos
propósitos deste artigo, de uma educação libertadora e democrática na busca da cidadania
autônoma, que são os trabalhos em grupos pequenos nos quais, a partir de uma tarefa
proposta, tal como a discussão de um tema polêmico ou a preparação de uma apresentação
para a turma, os alunos poderão trocar idéias, expor argumentos em defesa de suas opiniões,
vivenciar a prática do diálogo como forma de construção de conhecimento individual e
coletivo. Outras sugestões são os debates com toda a turma, a partir de um eixo-motivador,
como um texto lido ou um programa assistido, os alunos poderão confrontar os próprios
posicionamentos com os dos demais, expondo-se diante do grupo e vencendo as inibições.
Assim são, também, as conversas com o professor, a partir das quais o aluno se exercitará no
falar de si mesmo, na auto-análise e na auto-avaliação, ao mesmo tempo em que o ensino se
torna mais personalizado e o professor passa a se relacionar mais diretamente com os
estudantes. As conversas informais do professor com a turma são momentos em que,
espontaneamente, o professor pode abrir espaço para a troca de idéias para além dos
conteúdos programados, seja antes da aula, ou entre uma atividade e outra. Dramatizações de
textos ou de situações do cotidiano em que os alunos assumam diferentes papéis, em
contextos diversos, e possam perceber a necessidade de adequação da linguagem e da
utilização de diferentes recursos lingüísticos em função das situações vividas pelas
personagens; além disso, as dramatizações são oportunidades para o estímulo da capacidade
de memorização e podem favorecer a fixação de determinadas estruturas sintáticas. Esse
recurso tem diversas outras vantagens: torna o processo de ensino-aprendizagem mais
agradável; permite que o aluno se coloque em relevo, exteriorize sentimentos, sonhos ou
condutas que, em geral, passam despercebidos nas aulas comuns. Facilita a mudança de
atitudes e a postura do aluno frente ao grupo, na medida em que ele se expõe e obtém a
aceitação dos demais com respeito ao seu trabalho, um valioso instrumento para lidar com a
auto-estima dos estudantes. As rodas de leitura - em que os alunos possam contar histórias, ler
poesias em voz alta, debater diferentes interpretações de textos, partilhar vivências e
experiências a partir de textos.
Somente o professor politizado, entretanto, que saiba se colocar na condição de sujeito
e não de objeto de decisões, que saiba compartilhar o conhecimento com o aluno será capaz
de perceber o que é mais urgente na sua prática pedagógica, e direcionar o trabalho para os
objetivos reais que permeiam a sua função de educador, utilizando-se para tanto das técnicas e
instrumentos pedagógicos que possui com dinamismo.
Destaca-se, ainda, que o professor precisa ser persistente e problematizador. Como
salienta Freire (1994), “o educador problematizador refaz, constantemente, seu ato
cognoscente, na cognoscitividade dos educandos. Estes, em lugar de serem recipientes dóceis
de depósitos, são agora investigadores críticos, em diálogo com o educador.”(p.35)
Convém destacar, ainda, as palavras deste autor que demonstram a real necessidade de
mudança e de reflexão:
“Para que, porém, disse ontem e repito agora, quem sabe possa
ensinar a quem não sabe é preciso que primeiro, quem sabe saiba que
não se sabe tudo, sem esse saber dialético em torno do saber e da
ignorância é impossível a quem sabe numa perspectiva progressista
democrática, ensinar a quem não sabe.” (Freire, 1994, p. 78)
Não se trata, portanto, de mais um programa desenvolvido por uma Instituição de
Ensino, mas, de uma dinâmica que pode fazer da educação um recurso de libertação do
homem, de transformação social e de construção coletiva, o que faz do ambiente escolar um
lugar de produção e adaptação dos conhecimentos e culturas. É preciso desenvolver atividades
que permitam a expressão verbal, a consciência e releitura do mundo em que vivem, a
apropriação do saber e sua (re) produção. É preciso dar-lhes a oportunidade para alcançar
consciência crítica partindo de si e de seu mundo, criando por si próprio uma visão de mundo,
uma posição na sociedade na qual está inserido.
Assim a educação passa a conceber um processo de mudança das mentalidades e de
promoção da democracia e da livre expressão, onde são respeitadas as idéias e concepções
humanas, o que significa que o professor torna-se uma pessoa capaz de interagir com o grupo
e este passa a ter a capacidade de modificar sua realidade mediante as ferramentas que lhe são
propiciadas.
Freire (1994), afirma: “Deus deu a cada um uma estrela. Uns a transformam em sol,
outros nunca a vêem.” (p. 86) No caso do educador é preciso transformar a estrela em sol
para fazer da educação uma ação prazerosa para ele e para seus alunos. Acredita-se, portanto,
que a educação pode se tornar um meio de conduzir a sociedade à melhoria da qualidade de
vida e da consolidação da democracia, o que exige muito trabalho e conscientização tanto por
parte dos educadores como dos educandos. Assim sendo, é importante observar atentamente a
realidade social e fazer da educação um meio de modificar os aspectos problemáticos,
principalmente no que discrimina o homem enquanto cidadão a ser capaz de reconstruir a
sociedade sustentada na autonomia individual e coletiva.
O cotidiano escolar, mais especificamente, a sala de aula, é cenário em que se
apresenta uma teia emaranhada de concepções, de atitudes e de perspectivas do fazer
pedagógico. Elas se entrecruzam nesse contexto cujo resultado e cujas premissas não estão
explicitamente claras para quem dele participa diretamente. Por isso deve-se ter consciência
de que abordar temas relacionados à autonomia, à socialização, libertação, democracia,
cidadania, na distribuição do poder que está posta na escola torna-se complexo e implica
considerar diferentes visões e entendimentos. Esta complexidade e insegurança, no entanto,
não deixam isentos do fato de se fazer escolhas. Ao tomar posições em qualquer situação que
estiver, e qualquer que seja a decisão tomada, como educador, deve-se fazê-lo numa postura
teórico-metodológica que mais se aproxime de suas concepções, que mais se aproxime da
convicção que se tem da intervenção na sala de aula como uma forma de intervenção no
mundo.
Essas intervenções localizadas nos fatos, nas atitudes dos alunos em sua síntese,
devem conter as premissas de que o homem é um ser ativo, social, histórico e
conseqüentemente político. Dando continuidade a esta reflexão precisa-se deixar claro de que
autonomia se está falando. Isso porque, autonomia não é sinônimo de liberdade sem limites.
A liberdade está nos fatores relevantes para decidir agir da melhor forma para todos.
“O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um
imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos
outros. Precisamente porque éticos podemos desrespeitar a rigorosidade
da ética e resvalar para sua negação, por isso é imprescindível deixar
claro que a possibilidade do desvio ético não pode receber outra
designação senão a de transgressão”. (Freire, 1997, p. 66)
A vida exige que se tomem decisões. O que é enganoso é acreditar que as avaliações,
sentimentos e desejos ao proceder a escolha são essencialmente pessoais. A personalidade e a
capacidade de decidir são construídas por convenções sociais, normas legais que exercem
intenso poder sobre os desejos individuais e coletivos. Acreditando-se, então, que são nos
processos sociais históricos que o sujeito se constrói, na escola, como grupo social
constituído, o aluno vive um processo qualitativamente diferenciado e passa a internalizar
novos valores sociais e novos padrões de comportamento. Há mecanismos de socialização de
padrões que o aluno assume tacitamente e que condiciona seu pensamento e sua conduta. Esta
reflexão merece muita atenção dos professores, isso porque,
“ O professor que desrespei ta a curiosidade do educando, o seu
gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a
sua sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que o
minimiza, que manda que ‘ele se ponha em seu lugar’ ao mais tênue
sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor que se exime do
cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se
furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à
experiência formadora do educando, transgride os princípios
fundamentalmente éticos de nossa existência”. (Freire, 1997, p.66)
Concluindo este artigo e entendendo que é necessário que professores se inquietem,
questionando o dizer sem fazer que estão estabelecidos no cenário educacional, para se
perceberem educadores. A proponho é uma postura consciente no viver. Questiona-se, então,
o discurso esvaziado de significado, sustentado apenas na afirmativa: “está no conteúdo!”
Professores e alunos são sujeitos históricos, sociais e políticos, envolvidos em
questões econômicas e éticas, são, portanto, parte da natureza. Mas no discurso escolar, a
cada um destes sujeitos cabe, usufruir desta natureza, cuidar dela para que nada venha a faltar.
Que natureza é esta que o homem olha do alto? Este olhar de soberania faz com que crianças,
jovens e adultos mal alimentados, vivendo sem dignidade, desrespeitados socialmente,
tenham que estar discutindo a devastação da floresta Amazônica, ou a extinção deste ou
daquele animal. Se existe fome e vive-se sem a mínima dignidade necessária ao viver, como
se preocupar com questões que estão tão distantes que nem se quer consegue-se visualizar?
Este dizer distante do fazer é a reprodução sem reflexão, é não acreditar no próprio
discurso, é não perceber as ações de educar e educar-se como proposta de vida. É se perceber
autoridade sem responsabilidade, movimento que se repete nas relações do homem com a
natureza. A alfabetização de jovens e adultos tem que ultrapassar os muros da escola tem que
discutir as belezas naturais, as produções, realizações e histórias da comunidade em que esta
escola está inserida. Capacitar alfabetizadores não se limita a propostas de atividades
didáticas, vai, além disso. Deve possibilitar ao alfabetizador mostrar e discursar sobre o que
deve ser destacado em seu Município.Este movimento pedagógico trabalha a auto-estima e a
desenvoltura na oralidade. É, portanto, impregnar o cotidiano de significado.
A escola, ainda, está sustentada na pedagogia da resposta, ensina-se o que se sabe, o
aluno guarda da forma que conseguir e na prova cobra-se este conhecimento guardado. O
aluno fica durante toda a sua escolaridade, preocupado em responder. Transforma-se em
alfabetizador e continua este movimento de reprodução.
Segundo Boff (1999), cada um lê o mundo a partir de onde seus pés pisam. Isto
significa, como afirma Bakhtin (1997), que cada um elabora um discurso interior para
entender a fala do outro. Para elaborar este discurso parti-se do que já se sabe. A ação de
perguntar exige o movimento de pensar. A escola, ainda, não ensina a pensar. Quando o
aluno pergunta, está possibilitando ao professor um exercício reflexivo privilegiado, quando
este professor busca uma outra forma de esclarecer esta ou aquela questão, também está
pensando, está reformulando o seu discurso, está aproximando-se do seu aluno, está se
fazendo parte do processo de conhecimento, e, ainda, quando este professor não consegue
naquele momento uma forma diferenciada de se fazer claro, terá a oportunidade de prometer
pesquisar é trazer mais informações na aula seguinte. Para o aluno, este movimento de
sinceridade, representa a cumplicidade na ação de aprender, portanto, respeito.
Para o professor, a possibilidade de perceber seu inacabamento. Inquietar-se e estar
curioso é estar sustentado no desejo de vida, contrário, portanto, a obediência alienada,
sustentada pelo desejo de morte.
Este artigo apontou como, o grupo de trabalho na parceria PAS/FAMATh entende que
se processa a construção do conhecimento:
Primeiro deve existir a admiração: a admiração pode ser positiva ou negativa. Quando
isso acontece o sujeito fica curioso.
A curiosidade provoca elaboração de perguntas, portanto, faz pensar. Quem pergunta
está investigando, quem investiga é pesquisador.
Pesquisador é aquele que sempre quer dar sabor ao seu saber. Como Babette, que põe
a comida na boca e diz: Delicioso! Está bom para ser servido!
A boa escola é aquela que forma o pesquisador e o bom professor é aquele que
conseguiu acordar o educador que esteve adormecido nele.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
BOFF, Leonardo. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. Petrópolis:
Vozes, 1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. São
Paulo: Paz e Terra, 1994
____________. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1997
____________. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo:
Unesp, 2000
LAJOLO, Marisa A. Do mundo da leitura para a leitura do Mundo. São Paulo:
Ática,1986.
NOGUEIRA, Ana Lúcia Horta. Eu leio, ele lê, nós lemos: processos de negociação na
construção da leitura. Em A. L. B. Smolka & M. C. A. R. Goes (Orgs.). A linguagem e o
outro no contexto escolar: Vygotsky e a construção do conhecimento (pp. 15-33). Campinas:
Papirus.
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