Prof. Silvia Maria Scartazzini Disciplina: Desenvolvimento e Aprendizagem TEORIAS DO CONHECIMENTO TEORIAS Teóricos Fontes do Conhecimento Sujeito/Objeto do Conhecimento Aprendizagem Professor Aluno Práticas Pedagógicas Fracasso escolar Estética do ambiente Inteligência INATISMO APRIORISMO Platão Endógeno/inato Inscrito no sujeito S → O Resultado do amadurecimento do aluno EMPIRISMO BEHAVIORISM O Aristóteles Exógeno/ tem origem no objeto – na experiência S ← O Resultado da pressão do meio sobre o sujeito/modelo do comportamento Motivador Organizador de estímulos externos Possui estruturas préReceptáculo formadas; amadurecer, onde estão desenvolver inscritas potencialidades impressões do mundo Prioridade ao processo de Prioridade ao maturação (período produto didático preparatório, diferenças (instrumentos, individuais) programas,estím ulos, cópias) Atribuído às diferenças Atribuído às individuais dos alunos diferenças culturais (nutrição, carências) Individual, classes Idem ao anterior enfileiradas, silêncio É um dom, só os Idem ao anterior inteligentes aprendem A TEORIA SÓCIO-HISTÓRICA E A EDUCAÇÃO Processos Educativos X Funções Psicológicas Superiores • • • • - O desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores (PPS)- linha cultural - ocorre de forma diferente dos Processos Psicológicos Elementares (PPE) – linha natural; A lógica da maturação que explica o desenvolvimento desses segundos (PPE) , não dá conta de explicar o surgimento dos PPS; Assim, também é necessário considerar que o desenvolvimento desses processos não ocorre de forma sincrônica, apesar de que num certo momento eles tendem a convergir e seguir um único curso; Para além desse momento onde convergem esses processos, é importante que se olhe o local onde ocorre, de maneira formal, o desenvolvimento e a complexificação das FPS, que é a escola, através de suas práticas escolares. ● Aspectos que diferenciam os PPS dos PPE: Domínio voluntário do comportamento; Controle consciente das operações fisiológicas; Uso de instrumentos de mediação (semióticos). ● Para tratar desses processos na escola faz-se necessário diferenciar - Processos Psicológicos Superiores Avançados (PPSa) de Processos Psicológicos Superiores Rudimentares (PPSr), observando os seguintes aspectos: - o grau de controle dos seus aspectos internos: a) consciente e voluntário; b) tipo de uso dos instrumentos de mediação; ambos se formam na vida social, entretanto as PPSa necessitam de situações sociais específicas, como a escola – não basta estar inseridos numa “socialização genética”, estar em uma cultura humana. Exemplo: a) língua falada: para o seu desenvolvimento torna-se suficiente o intercâmbio comunicativo que se estabelece na vida social da própria família; b) língua escrita: nem todos os sujeitos inseridos em uma cultura letrada adquirem esta competência. Assim: 1º) Para a aquisição de certas formas de desenvolvimento dos PPS é preciso a participação em processos de socialização específicos; 2º) Para o desenvolvimento dos PPSa é necessário que tenha antes os PPSr. Entretanto isso não significa que ocorra uma evolução do tipo da fala para a escrita, não é assim que ocorre desenvolvimento na compreensão de Vygotsky, o que ocorre é a convergência é a mutua reorganização dos processos no desenvolvimento. * A língua escrita necessita de um processo crescente consciente e voluntário de maior abstração (abstrair os aspectos sonoros da fala, fonológicos e prosódicos dos seus interlocutores). *As línguas escrita e falada são oriundas dos PPS – constituídas a partir da imersão das pessoas em atividades sociais e utilizando-se de instrumentos mediadores, logo: O que diferencia a constituição dos PPS avançados dos rudimentares possivelmente está no tipo de atividades sociais e nas características dos instrumentos ● Formação subjetiva tem como via principal = Intersubjetivo→ interiorização, ou seja ↔ toda operação psicológica ocorre primeiro intersubjetivamente para depois intra-subjetivamente (interna) este processo é que pode se deter ou interromper, isto porquê: - o desenvolvimento se liga aos processos de interiorização e estes aos de interação, onde se configuram possibilidades especificas de funcionamento psicológico intersubjetivo. ● O desenvolvimento dos PPS é um processo artificial e com alto grau de contingência no acesso as suas formas mais avançadas - este percurso situa o problema educativo nas questões do desenvolvimento psicológico. ● Característica dos processos de desenvolvimento psicológico envolvidos com as práticas educativas: - Desenvolvimento cultural é um processo artificial; - Há um grau crescente de domínio autônomo e descontextualizado dos instrumentos de mediação; - Caracteriza-se dessa forma um domínio crescente da natureza, da cultura e de si mesmo. Os dois últimos definem tipo um “ideário pedagógico”, um curso desejável. A PSICOGÊNESE DOS CONHECIMENTOS SEGUNDO JEAN PIAGET Segundo o autor o conhecimento resulta das interações que se produzem a meio caminho entre sujeito e objeto e que dependem, portanto dos dois ao mesmo tempo, mas em virtude de uma indiferenciação completa e não de trocas entre formas distintas. No começo não há sujeito, não há objetos, nem instrumentos de trocas (quando a criança é bem pequena). O problema inicial do conhecimento é construir tais mediadores. Os mediadores advêm do contato entre o corpo e as coisas, progredindo para o interior e para o exterior, complementarmente, elaborando solidariamente o sujeito e os objetos. Para Piaget, os mediadores advêm da ação. Piaget distingue dois períodos sucessivos: 1. As ações sensoriomotoras anteriores à linguagem ou a conceitualização representativa. 2. 2. As ações guiadas pela tomada de consciência dos resultados, interações e mecanismos do ato, ou seja, o pensamento conceitualizado. SENSORIOMOTOR - OS NÍVEIS SENSORIOMOTORES – 0 A 2 ANOS dá-se a passagem do egocentrismo radical para a descentração relativa por objetivação e espacialização. o bebê não apresenta consciência do seu eu, tão pouco diferenciação entre o sujeito/objeto, entre si e o mundo, não concebe objetos permanentes a ação primitiva é : indiferenciada entre sujeito e objeto; centrada no eu não consciente (egocentrismo radical); não coordenada entre si (cada ação constitui um pequeno todo isolável – chupar) 18 a 24 meses: início da função semiótica e da inteligência representativa, chamada por Piaget de revolução copernicana, com as seguintes características: • descentração das ações em relação ao próprio corpo, considerando-o um objeto entre outros; • coordenação gradual de ações: jogo das assimilações recíprocas, cada ação deixa de ser um todo fechado em si – a criança começa a estabelecer uma relação entre meios e fins (atos de inteligência); • espacialização e objetivação: o objeto adquire uma certa permanência espaço-temporal; • início da função semiótica: sinais, signos; • o resultado disso é a representação ou o pensamento Piaget substitui a noção de associação (elementos exteriores associados) por assimilação (integração dos dados a uma estrutura anterior ou constituição de uma nova estrutura do esquema). Níveis de ASSIMILAÇÃO: • Assimilação incorporativa: estrutura hereditária, novos objetos são incorporados; • Assimilação reprodutora: comporta a repetição, o reconhecimento e a generalização; • Assimilação recíproca: permite produzir/perceber movimentos e ruídos ao mesmo tempo (dois esquemas – movimento e som); Condições gerais ao final do sensoriomotor: diferenciação sujeito/objeto, formação de coordenações e a distinção entre elas (ações entre si do sujeito e ações de uns objetos sobre os outros); esses são os primeiros instrumentos de interação cognitiva, ainda não refletidos num sistema conceitualizado; só tem aplicação prática material, não podem ser manipulados pelo pensamento; ausência de signos e de conceitos, restritos à ação e ao momento presente. PRÉ-OPERATÓRIO O PRIMEIRO NÍVEL DO PENSAMENTO PRÉ-OPERATÓRIO – 2 A 4 ANOS O aparecimento da linguagem favorece a interiorização e a conceitualização, entretanto isso se dá num longo processo : • Tomada de consciência da ação é sempre parcial, escapam-lhe os detalhes, procede por escolhas e esquematização representativa e por condensação de idéias sucessivas numa totalidade representativa; • Esse movimento favorece a formação de conceitos móveis (pré-conceitos), as representações, a interiorização das ações e as transformações dos esquemas em noções; • O pensamento significa um novo instrumento de troca sujeito/objeto que amplia o contexto espaço-temporal da criança, permitindo evocar ações no passado, presente ou futuro, próximas ou distantes, espacialmente . Surgem novas capacidades: • Capacidade de fazer inferências elementares; • Classificação de configurações espaciais (seriar); • Correspondências; • Começo das explicações causais (“por que”). Ainda falta: • Noção de “todos” e “alguns” • Causalidade • Reversibilidade A passagem da ação ao pensamento não se realiza sob a forma de uma revolução brusca, mas sob uma diferenciação lenta e laboriosa, ligada às transformações da assimilação. O SEGUNDO NÍVEL PRÉ-OPERATÓRIO – 5 A 6 ANOS Período de desenvolvimento das funções constituintes, termo de passagem entre as ações e as operações, cujas principais características são: • Diferenciação constante e progressiva do indivíduo e da classe • Ausência de determinação todo/alguns, de reversibilidade e de transitividade, enfim de conservação. • TRANSITIVIDADE: de uma relação binária tal que, para três elementos quaisquer, a relação do primeiro com o segundo e do segundo com o terceiro acarreta a relação do primeiro com o terceiro. Ex: A<B B<C então A<C • REVERSIBILIDADE: que pode reverter o estado anterior. Ex: 4+4=8 e 8-4=4 OPERAÇÕES CONCRETAS O PRIMEIRO NÍVEL DAS OPERAÇÕES CONCRETAS – 7 A 8 ANOS As ações interiorizadas ou conceitualizadas adquirem categorias de operações através de transitividade, conservações e conexões intrafigurais. As operações são “sistemas de conjuntos ou estruturas suscetíveis de fechamento, assegurando assim, a necessidade das composições que elas envolvem, graças ao jogo das transformações diretas ou inversas”. Operação envolve a fusão, num só ato, das antecipações e retroações, o que constitui a reversibilidade operatória (antecipação e retroação = perceber que um elemento pode ser, ao mesmo tempo, maior que um e menor que outro). A passagem do nível pré-operatório para o nível operatório dá-se em três momentos integrados: a) abstração reflexiva: constrói as estruturas superiores sobre as inferiores; b) coordenação: abrange a totalidade do sistema; c) auto-regulação: é a equilibração das conexões segundo os dois sentidos (direto e inverso). Limites desse primeiro nível: • as operações concretas incidem diretamente sobre os objetos; • suas composições efetuam-se gradualmente e não segundo quaisquer combinações. O SEGUNDO NÍVEL DAS OPERAÇÕES CONCRETAS – 9 A 10 ANOS Estágio em que o indivíduo atinge o equilíbrio geral das “operações concretas”. Novidades desse subestágio: • domínio das operações infralógicas (abaixo da lógica) ou espaciais, que dependem de continuidade e vizinhança; • coordenação dos pontos de vista em relação a um conjunto de objetos; • construção de ligações interfigurais; • domínio das operações lógicas: coloca em correspondência relações seriadas ou classes; • causalidade: marcada por progressões e aparentes regressões (progressos: peso, força, movimentoregressões aparentes: o sujeito formula uma série de novos problemas, sem poder dominá-los). Ao final do nível operatório-concreto, segue-se uma série de “desequilíbrios fecundos” de enorme alcance, que favorecerão as “operações sobre operações” ou “operações de segunda potência” preparando as operações formais do nível seguinte. OPERAÇÕES FORMAIS – A PARTIR DE 11-12 ANOS Assinala uma fase em que o conhecimento supera o próprio real, trata-se de um conhecimento extemporâneo, por oposição ao virtual físico. Características: • as operações podem se balizar sobre hipóteses e não apenas sobre objetos; • as operações de segunda potência resultam dessas hipóteses proposicionais, agora hipóteses interproposicionais (operações efetuadas sobre operações); • enriquecimento dos conjuntos de partida em conjuntos de partes, que residem numa combinatória – construção de redes. O estágio operatório formal marca o término das operações construídas na segunda infância, o pensamento concreto, para dar lugar ao pensamento hipotético-dedutivo: • o pensamento concreto é a representação de uma ação possível e o pensamento formal é a representação de uma representação de ações possíveis; • as operações formais fornecem ao pensamento um novo poder que consiste em detecte-lo e libertá-lo do real, permitindo-lhe, assim, construir a seu modo as reflexões e teorias – é a libertação do pensamento; • há uma última forma de egocentrismo no adolescente, manifesta pela crença da onipotência da reflexão, como se o mundo devesse submeter-se aos sistemas e não este a realidade; • crença de que “o eu é forte o bastante para reconstruir o universo e suficientemente grande para incorpora-lo”. • O equilíbrio é atingido quando a reflexão compreende que sua função não é contradizer, mas se adiantar e interpretar a experiência. JEAN PIAGET Desenvolvimento Cognitivo e Aprendizagem Escolar Alguns dados biográficos † Piaget nasceu em Neuchâtel, Suíça, em 09 de agosto de 1896, e morreu em Genebra a 16 de setembro de 1980. † Enquanto terminava seus estudos secundários, trabalhou como assistente voluntário do Laboratório do Museu de História Natural, de Neuchâtel. † Registrando-se na divisão de ciência da Universidade de Neuchâtel, dela recebeu o título de Doutor em Ciências (1918). † Em 1919 ingressou na Sorbonne, onde estudou psicopatologia e tomou contato com as obras de S. Freud e C. Jung. Estagiou no hospital psiquiátrico de Saint' Anne e estudou lógica. Trabalhou no laboratório de psicologia experimental de Alfred Binet, fazendo pesquisas com crianças portadoras de deficiência mental. † Em 1923, assumiu a direção do Instituto Jean Jacques Rousseau, de Genebra, passando a estudar, sistematicamente, a inteligência. † Entre 1927 e 1967 dirigiu o Gabinete Internacional de Educação, que passou a integrar a Unesco em 1947. † Em 1955, com o auxílio financeiro da Fundação Rockfeller, fundou em Genebra o Centro Internacional de Epistemologia Genética. Piaget trabalhou compulsivamente em seu objetivo, até às vésperas de sua morte, deixando escritos aproximadamente setenta livros e mais de quatrocentos artigos. † Estudou diversas áreas do conhecimento: biologia, zoologia, física, lógica, psicologia, psicanálise, filosofia, sociologia, antropologia... † Foi casado com Valentine, com quem teve três filhos: Jacqueline, Lucienne e Laurent. • • • • • • • • Como nasce a Epistemologia Genética? A oportunidade de trabalhar no laboratório de testes de Alfred Binet em 1919, em Paris, foi decisiva para sua orientação científica. Foi tentando aperfeiçoar testes de QI que Piaget ingressou em suas pesquisas sobre as fases do desenvolvimento da inteligência na criança. Propôs, então, substituir a pergunta clássica sobre “o que é o conhecimento” por uma mais concreta: “como se passa de um estado de menor conhecimento para um estado de maior conhecimento?” Com isso elabora o método clínico. Teses fundamentais da Teoria Piagetiana O comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado de condicionamentos, mas construído numa interação entre o meio e o indivíduo. A inteligência é um mecanismo de adaptação do organismo a uma situação nova e, como tal, implica a construção contínua de novas estruturas. A inteligência humana está relacionada com a complexidade da interação do indivíduo com o meio, podendo ser exercitada, buscando um aperfeiçoamento de potencialidades. Quatro fatores concorrem para o desenvolvimento cognitivo: maturação, experiência, interações sociais e equilibração. A criança é um sujeito ativo, que a todo momento interage com a realidade, operando dinamicamente com objetos e pessoas. • Sujeito ativo é aquele que compara, exclui, ordena, categoriza, classifica, comprova, formula hipóteses, etc... em uma ação interiorizada (pensamento) ou em ação concreta.