Evolução, Sustentabilidade e Educação Corporativa
Irani Varella*
*Gerente Executivo de Desenvolvimento de Sistemas de Gestão da Petrobras
Dentre os temas mais debatidos atualmente, dedico especial atenção ao que trata da
sustentabilidade, considerando-se, evidentemente, o conceito mais abrangente e também de
maior profundidade, e que adote o tripé de sustentabilidade ambiental, econômica e social, os
quais, ausentes ou negligenciados, inviabilizam o desenvolvimento sustentável.
Não é possível exercer, de forma continuada, uma atividade econômica que utilize os recursos
naturais predatoriamente. Nem se admite, tampouco, uma empresa que tenha prejuízos em
suas atividades por um longo período, e nem mesmo uma atividade produtiva inserida em uma
sociedade que não proporcione as mínimas condições de saúde, segurança, educação, higiene,
dentre outras, que garantam suporte a esta atividade.
Uma sociedade em que seus cidadãos estejam carentes de saúde, que vivam em condições
higiênicas e sanitárias que facilitem a proliferação de doenças ou que apresentem baixo grau de
educação ou de melhor formação não poderá suprir suas necessidades por meio de
contribuições de qualidade. Nessas condições, a tendência crescente será a produção de bens
com custos mais altos e, conseqüentemente, menos competitivos.
É importante lembrar que qualquer desperdício, seja nas instituições públicas, privadas ou do
terceiro setor, é sempre absorvido por toda a sociedade através dos custos de bens e serviços
ou através dos impostos.
Não há empresa sustentavelmente competitiva em sociedades não-sustentavelmentecompetitivas. Estes aspectos estão interligados, e é preciso focar a produção de bens como uma
atividade cujo processo perpassa sempre por toda a sociedade. A produção de qualquer produto
ou serviço passa pelos diversos setores da sociedade, tais como produção, fiscalização,
normatização, legislação e regulamentação, ou seja, sempre pelo conjunto das atividades
privadas, públicas e do terceiro setor.
Um segundo ponto, que vamos enfocar, é a gestão das instituições, quaisquer que sejam elas.
Qual deve ser o objetivo desta gestão? Se tivéssemos que descrever em uma única palavra o
que se busca, constantemente, na gestão de uma organização, essa palavra seria integração,
seja em um órgão público, de iniciativa privada ou do terceiro setor. Quer seja micro, pequena,
média ou empresa de grande porte, busca-se sempre atingir a perfeita integração com a
sociedade em que se atua. E é isto que aciona a dinâmica da evolução das instituições. É a
mola propulsora da percepção das necessidades e, conseqüentemente, a constante inovação
para atender à legítima necessidade de seus públicos de interesse.
Em outras palavras, o sonho de qualquer organização é, então, a perfeita sintonia com seus
públicos de interesse: clientes, acionistas, fornecedores, sociedade e força de trabalho.
Todo e qualquer instrumento de gestão tem por finalidade materializar relações. Quando se
reorganizam ou se alteram os processos, quer atingir-se essa sintonia.
As instituições que, de forma sistematizada, fazem das críticas de seus públicos de interesse o
vetor de sua dinâmica de evolução são, em geral, aquelas que apresentam melhores resultados.
O terceiro fator sob o qual são analisados, brevemente, os dois temas anteriormente aqui
tratados - a sustentabilidade e a busca de integração das instituições - tem como ponto de
partida a seguinte questão: a atuação das instituições em economias de mercado, em
economias em desenvolvimento ou subdesenvolvidas na construção da sustentabilidade e da
integração com a sociedade apresenta as mesmas características, o mesmo grau de esforço
gerencial? Certamente que não. Em outras palavras, o grau de vulnerabilidade das instituições
varia segundo o patamar de desenvolvimento da sociedade em que estão inseridas.
Vamos nos ater a algumas questões que diferenciam a atuação de instituições em países em
desenvolvimento (classificação atribuída ao Brasil) e em países desenvolvidos:
• a educação, que tem papel essencial na formação dos trabalhadores, de sua mão-de-obra;
• a saúde, que afeta a qualidade de vida das pessoas, reduz a produtividade e aumenta o
custo da sociedade;
• a segurança, por todas as razões conhecidas e mais os fortes efeitos psicológicos;
• o desperdício, resultante das questões já discutidas aqui e que, como mencionado, é
sempre coberto pela sociedade, quer seja proveniente de instituição pública, privada ou do
terceiro setor;
• a infra-estrutura que suporta as atividades e dá vazão a seus produtos e serviços;
• A falta de sincronismo que gera esperas em filas, atrasos etc. e que afeta a qualidade de
vida e, conseqüentemente, a dinâmica da sociedade. A filosofia “just-in-time” aplicada a
várias empresas é um bom exemplo de busca de sincronismo;
• a intensidade da inovação que decorre do nível de percepção das necessidades dos
públicos de interesse que, por sua vez, sofre influência significativa do patamar de
educação de uma sociedade.
Nesse contexto, é possível afirmar que as deficiências da formação de nossos jovens são
consistentes com nossa estrutura social, com o ensino escolar deficiente e um meio familiar e
social que, muitas vezes, apresenta lacunas nos relacionamentos, na alimentação, na higiene,
no saneamento, na orientação para o exercício da cidadania.
A educação é fator social essencial para o desenvolvimento sustentável em qualquer país,
independentemente do estágio de desenvolvimento da economia, mas, sem dúvida, é mais
crítico nas economias em desenvolvimento do que naquelas desenvolvidas.
As empresas são, hoje, e serão, cada vez mais, no futuro, o grande agente de transformação
social, e a educação corporativa é um instrumento útil e necessário para que as empresas
atuem na busca de sua sustentabilidade e de sua integração com a sociedade.
E como deve ser então a atuação das empresas na educação corporativa? Que características a
educação corporativa precisa ter? Deve, a nosso ver, ser autônoma, complementar e específica.
Autônoma porque não pode estar sujeita à interferência de agentes externos, principalmente do
governo. A ação pública deve se dar no sentido do estímulo à educação corporativa mediante a
dedução dos investimentos feitos na formação da força de trabalho.
Complementar porque a instituição deve identificar as lacunas na formação de sua força de
trabalho e atuar para sua complementação. A empresa deve buscar nas instituições privadas,
públicas ou até mesmo internamente cursos que contribuam para a minimização das lacunas
identificadas na formação psicológica, social e técnica de sua equipe.
Específica para atender às necessidades da empresa tomando por base, na elaboração de
conteúdo curricular, a cultura da instituição, a vivência técnica e social experimentada pelas
pessoas que compõem sua equipe.
O “fazer” de cada indivíduo dentro das instituições
enriquece de maneira ímpar a definição da educação corporativa.
Quanto ao conteúdo desta educação corporativa, é de fundamental importância individualizá-la
em desenvolvimento de gestão empresarial e desenvolvimento técnico-operacional.
Quando se enfoca a gestão, é preciso ter em mente temas sociais, vivenciais, psicológicos,
antropológicos e filosóficos, bem como o desenvolvimento e a aplicação de instrumentos que
contribuam para a atividade gerencial. Aquela que trata da questão técnico-operacional deve
enfocar os processos de produção e de suporte das atividades da organização. Este processo
deve ocorrer desde a sala de aula até o treinamento no local de trabalho.
Portanto, pode-se afirmar que a educação corporativa é um fator fundamental na
sustentabilidade das instituições e das sociedades. A educação corporativa, juntamente com a
educação básica, contribui para suportar a produção de bens e serviços de uma sociedade.
Neste contexto, a política industrial é um referencial importante, com muito mais razão em
países em desenvolvimento, na medida que estabelece prioridades e delineia ações para todos
os setores da sociedade na busca do desenvolvimento. A política na contribuição à
sustentabilidade econômica deve orientar tanto para o estado da arte tecnológico como para a
participação cada vez maior da parcela da sociedade que participa do nosso desenvolvimento. É
importante que a atuação governamental favoreça a educação básica do país, permitindo que o
setor produtivo focalize a educação corporativa em complementaridades e especificidades de
suas áreas de atuação.
Em síntese, quanto mais completa for a educação básica, maior a disponibilidade das
organizações
em
investir
na
educação
corporativa
específica,
contribuindo
competitividade do país e, conseqüentemente, com a qualidade de vida da população.
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