A CONSTRUÇÃO DO PROCESSO IDENTITÁRIO E SUA REFLEXÃO NA AÇÃO DOCENTE Eixo temático: Diversidade, Gênero e Identidades Jucimara Rojas Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFMS. [email protected] Kelly Cebelia das Chagas do Amaral Mestranda do Programa de PósGraduação em Educação da UFMS. [email protected] Care Cristiane Hammes Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação UFMS. [email protected] RESUMO Este artigo representa como objetivo abordar aspectos inerentes á construção do processo identitário do professor de Educação Física e sua prática em jogos e brincadeiras. Considerar o posicionamento de Nóvoa (1995) a respeito da formação docente, que mostra que todo o processo formativo acadêmico e pessoal tem reflexos importantes na prática pedagógica. Assim, procuramos entender melhor o porquê das diferenças e formas de se tratar o elemento constitutivo dos jogos e brincadeiras. Destarte, compreender como este ser se tornou o professor que é hoje. A ação pedagógica é influenciada pelas características pessoais e pelo percurso de vida profissional de cada professor. Nóvoa (1995) revela que a teoria dos três AAA, podem evidenciar o processo de formação. Nesse sentido, a ação é imprescindível ao ato de pensar. Toda ideia, todo planejamento, precisa sair da área do abstrato para poder se fazer real, e é justamente por meio dessa ação que construímos os projetos. Porém, toda caminhada precisa de um pequeno passo, alicerçado ao desafio, um ato criativo. Abordamos sobre a importância de atividades educativas, ainda na formação docente que promovam o autoconhecimento, e consequentemente uma melhor compreensão do self. A metodologia adotada foi a revisão bibliográfica, apresentando como referencial Ciampa (1987, 1985), Espírito Santo (2007), Linhares (1999), Martins (2006), Moyles (2002), Mello (2012), Munari (1981), Nóvoa (1985), Rojas (2010). A pesquisa revela que a identidade humana seria uma espécie de metamorfose, um processo permanente de formação e transformação do sujeito humano, que acontece dentro de condições materiais e históricas dadas, o que envolve todas as particularidades do ser humano, como os aspectos psicológicos, biológicos e sociais. Sendo impossível separar o eu profissional do eu pessoal, ao considerarmos os contexto da utilização de jogos e brincadeiras como recurso pedagógico por parte do professor de Educação Física, este dependerá consideravelmente da concepção que este profissional têm dos jogos e brincadeiras, pois somente assim, conheceremos que sentimentos, instintos o levam a utiliza-lo ou não em sua prática pedagógica, faz-se necessário compreender ester Ser professor. Desta forma, percebemos a força que uma “concepção identitária” representa. Somos responsáveis em deixar marcas positivas ou negativas em nossos alunos dada à experiências que vamos tendo ao longo de nossas vidas. Palavras - chave: Processo identitário. Professor . Educação Física. ABSTRACT This article is aimed at addressing aspects related to the construction of the identity process of physical education teacher and practice in sports and games . Addressing the importance of educational activities , even in teacher education to promote self-awareness, and hence a better understanding of self . The methodology used was the literature review , presenting as a reference Ciampa (1987 , 1985) , Spirit ( 2007) , Linhares (1999 ) , Martins (2006 ) , Moyle (2002 ) , Mello (2012 ) , Munari (1981 ) , Nóvoa (1985) , Rojas (2010). The research reveals that human identity is a kind of metamorphosis , an ongoing process of formation and transformation of the human subject , which happens within given material and historical conditions , which involves all the particularities of the human being as the psychological, biological and social . Being impossible to separate the professional self of the personal self , to consider the context of the use of games and play as a pedagogical resource by the Physical Education teacher , this will greatly depend on the design of this professional have fun and games , for only then we will know that feelings , instincts lead him to use it or not in their practice , it is necessary to understand ester Being a teacher . Thus , we see the strength that a " design identity " is . We are responsible to leave positive or negative marks on our students given the experiences that we have over our lives . Keywords - Keywords: identity process . Teacher. physical education INTRODUÇÂO As transformações e mudanças estão presentes na vida do ser humano desde sua gênese, e permanecem ao longo de toda sua existência. Esse movimento não se restringe somente aos aspectos biológicos de nascer, crescer e reproduzir-se, mas também em relação á sua personalidade, gostos e anseios. Ciampa (1987), define a identidade humana como uma metamorfose, ou seja, um processo permanente de formação e transformação do sujeito humano, dentro de condições materiais e históricas presentes. Para ele, a identidade seria um processo contínuo de transformação, mudanças, que podem envolver várias particularidades do ser humano, como aspectos biológicos, psicológicos e sociais. No livro A história do Severino e a História da Severina (1985), Ciampa discursa sobre essas transformações que acontecem ao longo do tempo de vida de cada indivíduo, constituindo uma singularidade que se identifica e se diferencia em relação a si mesmo em diferentes momentos, assim como se aproxima e se distancia de outros indivíduos em momentos diferentes ou iguais. A proposta do autor, se aplica não só ao estudo dos indivíduos, mas também ao estudo de grupos (denominados de identidades coletivas) ou instituições (chamados de identidade institucional). Os denominados “outros indivíduos significativos” compõem a primeira imagem do que nomeamos “identidade coletiva”. Para este autor, a identidade também é uma construção histórica que se dá a partir da relação dialética que ocorre em um determinado espaço geográfico, entre indivíduos ou grupos que organizam sua vida cotidiana em torno de atividades semelhantes, tendo como base um conjunto de valores compartilhados, os grupos que dividem mesmas crenças e valores ou mesmo que tenham hábitos semelhantes. E esses grupos podem ser a família, grupos profissionais, grupos que têm atividades de lazer semelhantes etc. Segundo ele, é esta identidade coletiva que dá o sentido de continuidade aos indivíduos, que adotam papéis, normas e valores válidos para todos os componentes do grupo, o que reafirma constantemente, através da memória, a realidade objetiva e subjetiva. De maneira parecida ao que ocorre com a identidade individual, essa identidade coletiva vai se constituindo ao longo do tempo, atravessando momentos em que as atividades podem se cristalizar ou se transformar. Ciampa (1987) considera impossível o homem deixar de ser social e histórico, pois assim, não se caracterizaria como um homem. Outra impossibilidade é o homem deixar de ser um animal, o que justamente o faz submeter-se às condições dessa sua natureza orgânica. Então, o homem não está limitado no seu vira-ser por um fim preestabelecido, mas também não está liberado das condições históricas em que vive. Percebemos através destes discursos, que os aspectos sociais têm total envolvimento na constituição dos vários tipos de indentidades do ser humano, porém não podemos desprezar que cada indivíduo é um ser único, e que, diante de uma mesma situação, diferentes pessoas terão comportamentos e sentimentos diferenciados. Como educadores, diariamente temos que lidar com uma gama de pessoas e suas respectivas identidades, esta é uma pespectiva reflexiva salutar que se faz extremamente necessária dentro do contexto escolar. Este pensamento concorre com as ideias de Martins (2006), o qual acredita que, qualquer concepção de Educação deve estar voltada também para uma preservação da pessoa, para a auto-afirmação do ser humano em suas características essenciais, e especialmente em um dado momento histórico em que a visão do SER está sendo cada vez mais ameaçada, ocorrendo uma corrida imperativa para a noção do TER. Entretanto, é válido salientar, que este professor, assim como seus educandos, também é um ser inerente neste processo identitário, para que o mesmo consiga, respeitar, aceitar, dialogar com as diversas identidades de seus alunos, primeiramente há de existir um relacionamento de envolvimento profundo consigo mesmo, seu self, é de suma importância que este educador percorra um caminho de autoconhecimento, pois, ao adentrar na sala como professor, este não leva apenas sua titulação e conhecimentos técnicos inerente de cada ciência, o educador está levando também sua personalidade, que de alguma forma terá forte impacto diante dos seus educandos, podendo ser este um impacto positivo ou negativo, e, são estes profissionais significativamente responsáveis pela formação de novas gerações. Para Espírito Santo (2007, p.33), a busca pelo autoconhecimento é algo primordial na sociedade que hoje se apresenta, este autor é enfático em afirmar que, caso este autoconhecimento não ocorra, teremos “cegos conduzindo cegos”. Estamos presenciando um processo acelerado de mudanças globais, que juntamente com suas inovações positivas trouxe consigo outras nem tão positivas assim, o avanço tecnológico conseguiu transportar o homem a lugares inimagináveis, até mesmo à lua, a comunicação com pessoas de outros continentes tornou - se instantâneas, a ciência conseguiu prolongar por décadas a estatística de vida, mas, por outro lado, onde ficou a qualidade desta vida e a qualidades dessas relações interpessoais? Espírito Santo (2007), relata sobre autoconhecimento na formação do educador, a busca do saber, do desafio na nossa chamada “ignorância”, de realmente não sabermos “quem somos”, citando inclusive a famosa frase de Sócrates: "O sábio é aquele que sabe que nada sabe, nem sequer quem ele é”, neste sentido é imprenscindível termos humildade, pois sem ela, ficamos impossibilidado de seguirmos o caminho do autoconhecimento, ser humilde, é um dos primeiros aspectos que possibilitam este conhecer-se. E esta mudança, tem que partir daquele que se coloca inteiro naquilo que faz, que ao percebe-se inacabado, com o sentimento de “humildade” que carrega, não hesita em mostrar-se, expor-se enquanto constrói-se, adquirindo assim, novas potencialidades. E essa mudança vem quando rompemos as leis do silêncio interior, abrimos as portas da compreensão para o novo, percebemos e aceitamos e abraçamos nossa singularidade e pluralidade, compreendendo sua importância na construção da sociedade que almejamos. Os aspectos abordados aqui de alguma forma fazem enlace com os princípios que subsidiam uma prática docente interdisciplinar: humildade, coerência, espera, respeito e desapego. Sabemos que, os cursos formativos de licenciatura em sua grande maioria, priorizam apenas a formação técnica em sua grade curricular, tornando-se muitas vezes fechado á novas propostas curriculares, entretanto, algum avanço já pode ser visto, citaremos aqui uma atividade que acontece na PUC-SP que é o curso de Autoconhecimento na Formação do Educador, trabalho que deu título também ao livro , ministrado pelo professor Ruy Cezar do Espírito Santo, neste curso se faz um trabalho que é um misto de vivências e teorias. Nessas vivências, desenvolve-se um trabalho de acolhimento, para que o aluno se sinta recebido, acolhido para iniciar uma caminhada em direção a ele mesmo. É o artista interior que precisa ser acordado, porque a obra-prima desse artista é ele mesmo. Este autor propõe para a educação brasileira a criação de determinadas disciplinas nas escolas, seja pela manhã ou pela tarde, na qual o educador teria um período maior que 45 minutos para poder inserir uma visão interdisciplinar. Ocorrendo assim, tempo para combinar os conteúdos com as artes, dramatizações e outras formas de expressão que trarão a abertura para a espiritualidade. Neste sentido, citamos Rojas (2012, p.115) quem também corrobora com esta ideia: A expressividade nasce da criatividade, da espontaneidade. Expressar-se é tornar-se livre, abrindo os sentidos para que a criatividade se liberte. E a criatividade acontece no encontro. Encontro do ser com os seus pares, encontro do se permitir com a possibilidade, da liberdade com a espontaneidade, isso tudo em um ato de plena entrega. Confluente neste pensamento, cabe-nos relembrar também, Rubem Alves, que vem nos agregar valores com sua inovadora visão educacional, quando discursa acerca dos quatro pilares para Educação, segundo ele, há que, inicialmente, se aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e por último, aprender a ser! Haja visto que, aquelas instituições de ensino que já conseguiram vislumbrar para além da simples disciplina acadêmica e considerar este Ser humano como um Ser indissociável, como um todo, quando partem para ações inovadoras que incrementam, diferenciam e diversificam suas práticas metodológicas, conseguem atingir resultados extremamente significativos, e o melhor, é este tipo de aprendizado que faz mais sentido para os alunos que dele participaram, o qual, agregam em seu currículo, valores essenciais para a vida. Sabemos que, diante da realidade educacional apresentada em nosso país, em que não se tem as melhores condições de trabalho e sequer a valorização profissional devida, identificar-se com a profissão docente será a grande diferença deste percurso, pois quando o profissional ama aquilo que faz, ou melhor, tem consciência desde amor pela sua profissão, os obstáculos muitas vezes serão estímulos para sua melhoria no servir, eis que surge a criatividade. Percebemos em May (1982) quando afirma que não existe ser humano que não seja criativo, que, os mecanismos psíquicos e sociais que impedem a descoberta e a experimentação da criatividade de cada um são fruto da reação, pessoal e coletiva, contra qualquer nova forma de vida. Desta forma a coragem e a liberdade são aspectos imprescindíveis ao processo de criação. E é justamente com esta coragem de “mudar”, de ser diferente, ou apenas tentar fazer o melhor, que temos vivenciado muitas práticas pedagógicas inovadoras, com certeza, quanto mais se fizer pesquisa, mais conteúdos e conhecimentos serão absorvidos relacionados àquilo que nos propomos a desenvolver, repercutindo consideravelmente em nossa ação educativa. Ao buscar desvelar por meio da fenomenologia os contextos de aprendizagem dos jogos e brincadeiras como processo identitário do professor de Educação Física, é preciso primeiramente compreender que identidade tem este jogo e esta brincadeira para o referido professor, só assim, conheceremos que sentimentos, instintos o levam a utiliza-lo ou não em sua prática pedagógica, faz-se necessário perceber ester Ser professor. Assim, objetivando compreender como que este ser, se tornou o professor que é hoje, o porquê, de que forma a ação pedagógica é influenciada pelas características pessoais e pelo percurso de vida profissional de cada professor, foi que, Nóvoa (1995), desenvolveu a teoria dos três AAA, segundo ele, os sustentadores do processo identitário dos professores. São eles: A de Adesão, porque ser professor implica sempre a adesão a princípios e a valores, a adoção de projetos, um investimento positivo nas potencialidades das crianças e dos jovens. A de Ação, porque também, na escolha das melhores maneiras de agir, se jogam decisões de foro profissional e pessoal. O sucesso ou insucesso de certas experiências “marcam” a nossa postura pedagógica, fazendo-nos sentir bem ou mal com esta ou aquela maneira de trabalhar na sala de aula. Neste sentido, pensamos que, a ação é imprescindível ao ato de pensar, toda ideia, todo planejamento, precisa sair da área do abstrato para poder se fazer real, e é justamente através dessa ação, por menor que ela possa parecer, que poderemos construir grandes projetos, pois, toda caminhada precisa de um pequeno passo. A de Autoconsciência, porque em última análise tudo se decide no processo de reflexão que o professor leva a cabo sobre sua própria ação. É uma dimensão decisiva da profissão docente, na medida em que a mudança e a inovação pedagógica estão intimamente dependentes deste pensamento reflexivo. Acreditamos que o processo de autoconhecimento é permanente em nossas vidas. Nóvoa (1995), relata que, o processo identitário passa também pela capacidade de exercermos com autonomia a nossa atividade, pelo sentimento de que controlamos nosso trabalho. A maneira como cada um ensina está diretamente relacionado com aquilo que somos como pessoa quando exercemos o ensino. É impossível separar o eu profissional do eu pessoal. Partindo deste contexto, a utilização de jogos e brincadeiras como recurso pedagógico por parte do professor de Educação Física, (embora este seja um conteúdo programático da área), dada a variedade de possibilidades que esta disciplina escolar em particular se apresenta, dependerá consideravelmente da concepção que este profissional têm dos jogos e brincadeiras. Desta forma, percebemos a força que uma “concepção identitária” representa. Somos responsáveis em deixar marcas positivas ou negativas em nossos alunos dada à experiências que vamos tendo ao longo de nossas vidas. Entretanto, por mais signifitivas que essas experiências podem ser, o importante é, que tipo de ações tomamos após tê-la vivenciado, é certo que sempre teremos escolhas, dois caminhos a seguir. Ao defendermos a utilização dos jogos e brincadeiras, acreditamos que estes procedimentos metodológicos nos apresentam mecanismos de grandes possibilidades de desenvolvimento cognitivo e motor, contribuindo para uma aprendizagem signicativa e lúdica, pois, de acordo com Moyles (2002), é justamente por meio do brincar dirigido, que as crianças têm outra dimensão e uma nova variedade de possibilidades estendendo-se a um relativo domínio dentro daquela área ou atividade. O brincar, como um processo e modo, proporciona uma ética da aprendizagem em que as necessidades básicas de aprendizagem das crianças podem ser satisfeitas. Segundo a autora, essas necessidades incluem as oportunidades de: Praticar, escolher, perseverar, imitar, imaginar, dominar, adquirir competência e confiança; de adquirir novos conhecimentos, habilidades, pensamentos e entendimentos coerentes e lógicos; de criar, observar, experimentar, movimentar-se, cooperar, sentir, pensar, memorizar e lembrar; de comunicar, questionar, interagir com outros e ser parte de uma experiência social mais ampla em que a flexibilidade, a tolerância e a autodisciplina são vitais; de conhecer e valorizar a si mesmo e as próprias forças, e entender as limitaçõe pessoais e também de ser ativo dentro de um ambiente seguro que encoraje e consolide o desenvolvimento de normas e valores sociais.Moyles (2002, p. 43). Na tentativa de uma conceituação dos termos, jogo, brinquedo e brincadeira, esta vem a ser uma tarefa difícil, justamente pela etimologia dada para estas palavras em suas diferentes línguas, apesar que, sua ação se apresentem semelhantes em muitos contextos. Neste sentido, Kishimoto (2009) defende a ideia de que, o brinquedo será sempre entendido como objeto, suporte de brincadeira. A brincadeira é a ação desempenhada ao concretizar as regras do jogo, o mergulho na ação lúdica. E o jogo infantil, para designar tanto o objeto quanto as regras do jogo da criança. Encontramos também em Huizinga (2008), o reconhecimento do jogo como algo inato ao homem e mesmo aos animais, considerando-o uma categoria absolutamente primária da vida, logo anterior à cultura, tendo esta evoluído no jogo. O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da 'vida cotidiana’.(HUIZINGA, 2008, p.33). Como o brincar é significativo para o mundo infantil, há que se aproveitar e explorar mais suas possibilidades, desta forma, certamente, estaremos contribuindo para que nossas escolas sejam mais que apenas muros e salas de aulas, queremos também que elas sejam um espaço agradável e acolhedor, visto que, diante da várias transformações que a sociedade vem atravessando ao longo do tempo, as crianças estão ingressando bem mais cedo na instituição escolar, e nelas, ficando um período de tempo cada vez maior. De acordo com Moyles (2002), as crianças precisam brincar com materiais e recursos que ofereçam um meio para desenvolver suas capacidades de entendimento, conhecimento, concepção e habilidades. E neste sentido, o papel do professor é vital para a comunicação e a prendizagem efetivas das crianças, porque proporcionam a estrutura e o ambiente necessário para que aconteçam o brincar e aprendizagem efetivos. Pensamos então, que cabe aos professores que lidam com este público infantil, explorar significativamente os aspectos inerentes desse ato de brincar, especialmente aos professores que “teoricamente ” lidam mais diretamente com este corpo lúdico, que são os professores da área da Educação Física. Encontramos também nas obras de Munari (1981), aspectos que se mostram relevantes para nossa idéia acerca da utilização dos jogos e seus contextos de aprendizagem no ambiente escolar infantil, para esse autor, o alargamento do conhecimento e a memorização dos dados devem ser feitos na infância através do jogo. Inclusive, segundo ele, a indústria do brinquedo muito tem avançado ao confeccionar jogos extremamente criativos que se transformam em instrumentos estimuladores da criatividade e da fantasia. Sendo assim, esses novos jogos permitem à criança intervir, participar, fazer, atuar e fantasia para resolver problemas simples ou visualizar ações sempre diversas, ou ainda mais, montar construções no espaço tridimensional com elementos modulados. Para ele, o fato da formação dar-se nos primeiros anos de vida, dependerá dos educadores que está criança tiver hoje, torna-se ela então, uma pessoa criativa ou simplesmente alguém como repetidora de códigos. Depende destes primeiros anos, da experiência e da memorização dos dados, o indivíduo vir a ser livre ou condicionado, os adultos, e aqui eu acrescento, nós professores, teremos de tomar consciência desta enorme responsabilidade da qual depende o futuro da sociedade humana. Pois a sociedade do futuro já se encontra entre nós e podemos visualizá-las nas crianças. É a partir da forma como se desenvolvem e se formam as crianças, que podemos pensar numa sociedade futura mais ou menos livre e criativa. “Devemos, portanto, libertar as crianças de todos os condicionamentos e ajudá-las a formarem-se, bem como desenvolver cada personalidade a fim de que esta possa contribuir para o progresso coletivo”. (MUNARI, 1981, p.124) Estudos apontam que é por meio do ato de brincar, que a criança consegue fazer interfaces com os aspectos do seu meio social, repetindo ações vivenciadas por ela em seu cotidiano, sendo que, essa brincadeira, poderá ficar mais divertida e significativa quando utilizar-se do objeto “brinquedo”, suporte do ato de brincar. Em se tratando do aspecto do brinquedo, Rojas (2010, p.297), afirma que: O brinquedo é algo indissociável da realidade social em que está inserido, conforme se observa na sua história cultural. Sua função está intimamente ligada ao valor simbólico que lhe é conferido pela criança na brincadeira, que é uma associação entre a ação e a ficção possibilitando a representação do mundo através dos objetos. Percebemos que, é justamente pelos brinquedos que a criança imita o mundo em que vive, representando papeis sociais e compreendendo melhor a vida, e as brincadeiras socializam, fazendo com que a criança interaja umas com as outras. As atividades lúdicas permitem à criança desenvolver-se, imaginando, fantasiando, construindo regras e resolver conflitos. Para a autora, um professor que explora as possibilidades reiventa sua prática. E neste sentido, nos motiva a intenção de buscarmos entender, por meio do olhar fenomenológico da pesquisa, que é justamente a busca pela essência, como que está se dando essa ação do professor de Educação Física em algumas escolas da cidade de Campo Grande, MS e Rio Branco, AC, tentar compreender os contextos de aprendizagem dos jogos e brincadeiras como processo identitário de ação deste profissional nos possibilitará desvelar o quadro atual destas escolas e seu sentido de brincar e jogar. Infelizmente, se faz necessário analisar que, ainda nos dias de hoje, os jogos e brincadeiras são vistos por uma parte da sociedade como “desnecessário”, ou perda de tempo. E de acordo com Linhares (1999), a escola, ao institucionalizar a aprendizagem perdeu seu carater imediato e passou a organizar o saber sistematizado para socializá-lo. Essa socialização, adquire os contornos da estrutura de classes da sociedade maior, tornando-se em um aprendizado em reclusão, que incorpora aspectos de dominação, domesticação e de resistência. Para esta autora, o modo de se tratar a infância na escola precisa ser revisto, como também o modo de se considerar um homem que é apenas o Homo oeconomicus, atrofiado pela unilateralidade do desenvolvimento que o reino da necessidade obriga às classes trabalhadoras. Percebemos que, culturalmente, a escola, em sua grande maioria, não está preocupada com o jogo, a arte ou brincadeira, pois ela é impulsionada a preparar as crianças para o mundo do trabalho que a sociedade atual exige. Entretanto, um profissional que apresente características interdisciplinares e resilientes (características que a sociedade atual também pede) não se limitará somente a este papel, ele é muito mais versátil, criativo, pespicaz e através de suas práticas inovadoras e criativas, será capaz de promover mudanças significativas em seu ambiente escolar. Neste sentido, acreditamos que, através de uma leitura fenomenológica com esses sujeitos da pesquisa, os professores de Educação Física, teremos uma visão esclarecedora e norteadora para podermos desvelar este sentido identitário do brincar e do jogo como elemento do aprender. Considerando que, de acordo com o que já foi exposto, esta ação educativa final é, um subproduto, ou podemos dizer assim, uma consequencia, do processo identitário inerente em cada um de nós, seres humanos, e mais ainda, este processo, de acordo com as resiliências e ressignificações pessoais que podemos e devemos fazer no decorrer de nossas vidas, também é capaz de se apresentar com diversas “Marcas”. Que saibamos reconhecer, assumir e cumprir por meio de nossa profissão docente o papel que nos foi delegado da melhor maneira possível. Que sejamos capazes de “marcar” positivamente áqueles que passarem por nossas salas, esperando assim, estar construindo uma sociedade cada vez melhor. Que possamos ser a mudança que queremos ver no mundo, começando a mudar aquilo que está dentro de cada de um nós! REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES. Rubens. Os quatro pilares da Educação. 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