A CONSTRUÇÃO DO PROCESSO IDENTITÁRIO E SUA
REFLEXÃO NA AÇÃO DOCENTE
Eixo temático: Diversidade, Gênero e Identidades
Jucimara Rojas Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da
UFMS. [email protected]
Kelly Cebelia das Chagas do Amaral Mestranda do Programa de PósGraduação em Educação da UFMS. [email protected]
Care Cristiane Hammes Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em
Educação UFMS. [email protected]
RESUMO
Este artigo representa como objetivo abordar aspectos inerentes á construção
do processo identitário do professor de Educação Física e sua prática em jogos
e brincadeiras. Considerar o posicionamento de Nóvoa (1995) a respeito da
formação docente, que mostra que todo o processo formativo acadêmico e
pessoal tem reflexos importantes na prática pedagógica. Assim, procuramos
entender melhor o porquê das diferenças e formas de se tratar o elemento
constitutivo dos jogos e brincadeiras. Destarte, compreender como este ser se
tornou o professor que é hoje. A ação pedagógica é influenciada pelas
características pessoais e pelo percurso de vida profissional de cada professor.
Nóvoa (1995) revela que a teoria dos três AAA, podem evidenciar o processo
de formação. Nesse sentido, a ação é imprescindível ao ato de pensar. Toda
ideia, todo planejamento, precisa sair da área do abstrato para poder se fazer
real, e é justamente por meio dessa ação que construímos os projetos. Porém,
toda caminhada precisa de um pequeno passo, alicerçado ao desafio, um ato
criativo. Abordamos sobre a importância de atividades educativas, ainda na
formação docente que promovam o autoconhecimento, e consequentemente
uma melhor compreensão do self. A metodologia adotada foi a revisão
bibliográfica, apresentando como referencial Ciampa (1987, 1985), Espírito
Santo (2007), Linhares (1999), Martins (2006), Moyles (2002), Mello (2012),
Munari (1981), Nóvoa (1985), Rojas (2010). A pesquisa revela que a identidade
humana seria uma espécie de metamorfose, um processo permanente de
formação e transformação do sujeito humano, que acontece dentro de
condições materiais e históricas dadas, o que envolve todas as particularidades
do ser humano, como os aspectos psicológicos, biológicos e sociais. Sendo
impossível separar o eu profissional do eu pessoal, ao considerarmos
os
contexto da utilização de jogos e brincadeiras como recurso pedagógico por
parte do professor de Educação Física, este dependerá consideravelmente da
concepção que este profissional têm dos jogos e brincadeiras, pois somente
assim, conheceremos que sentimentos, instintos o levam a utiliza-lo ou não em
sua prática pedagógica, faz-se necessário compreender ester Ser professor.
Desta forma, percebemos a força que uma “concepção identitária” representa.
Somos responsáveis em deixar marcas positivas ou negativas em
nossos
alunos dada à experiências que vamos tendo ao longo de nossas vidas.
Palavras - chave: Processo identitário. Professor . Educação Física.
ABSTRACT
This article is aimed at addressing aspects related to the construction of the
identity process of physical education teacher and practice in sports and
games . Addressing the importance of educational activities , even in teacher
education to promote self-awareness, and hence a better understanding of
self . The methodology used was the literature review , presenting as a
reference Ciampa (1987 , 1985) , Spirit ( 2007) , Linhares (1999 ) , Martins
(2006 ) , Moyle (2002 ) , Mello (2012 ) , Munari (1981 ) , Nóvoa (1985) ,
Rojas (2010). The research reveals that human identity is a kind of
metamorphosis , an ongoing process of formation and transformation of the
human subject , which happens within given material and historical
conditions , which involves all the particularities of the human being as the
psychological, biological and social . Being impossible to separate the
professional self of the personal self , to consider the context of the use of
games and play as a pedagogical resource by the Physical Education
teacher , this will greatly depend on the design of this professional have fun
and games , for only then we will know that feelings , instincts lead him to
use it or not in their practice , it is necessary to understand ester Being a
teacher . Thus , we see the strength that a " design identity " is . We are
responsible to leave positive or negative marks on our students given the
experiences that we have over our lives .
Keywords - Keywords: identity process . Teacher. physical education
INTRODUÇÂO
As transformações e mudanças estão presentes na vida do ser humano
desde sua gênese, e permanecem ao longo de toda sua existência. Esse
movimento não se restringe somente aos aspectos biológicos de nascer,
crescer e reproduzir-se, mas também em relação á sua personalidade,
gostos e anseios.
Ciampa (1987), define a identidade humana como uma metamorfose,
ou seja, um processo permanente de formação e transformação do sujeito
humano, dentro de condições materiais e históricas presentes. Para ele, a
identidade seria um processo contínuo de transformação, mudanças, que
podem envolver várias particularidades do ser humano, como aspectos
biológicos, psicológicos e sociais.
No livro A história do Severino e a História da Severina (1985), Ciampa
discursa sobre essas transformações que acontecem ao longo do tempo de
vida de cada indivíduo, constituindo uma singularidade que se identifica e se
diferencia em relação a si mesmo em diferentes momentos, assim como se
aproxima e se distancia de outros indivíduos em momentos diferentes ou
iguais.
A proposta do autor, se aplica não só ao estudo dos indivíduos, mas
também ao estudo de grupos (denominados de identidades coletivas) ou
instituições (chamados de identidade institucional). Os denominados “outros
indivíduos significativos” compõem a primeira imagem do que nomeamos
“identidade coletiva”.
Para este autor, a identidade também é uma construção histórica que
se dá a partir da relação dialética que ocorre em um determinado espaço
geográfico, entre indivíduos ou grupos que organizam sua vida cotidiana em
torno de atividades semelhantes, tendo como base um conjunto de valores
compartilhados, os grupos que dividem mesmas crenças e valores ou
mesmo que tenham hábitos semelhantes. E esses grupos podem ser a
família,
grupos profissionais,
grupos que
têm atividades de lazer
semelhantes etc. Segundo ele, é esta identidade coletiva que dá o sentido
de continuidade aos indivíduos, que adotam papéis, normas e valores
válidos
para
todos
os
componentes
do
grupo,
o
que
reafirma
constantemente, através da memória, a realidade objetiva e subjetiva. De
maneira parecida ao que ocorre com a identidade individual, essa identidade
coletiva vai se constituindo ao longo do tempo, atravessando momentos em
que as atividades podem se cristalizar ou se transformar. Ciampa (1987)
considera impossível o homem deixar de ser social e histórico, pois assim,
não se caracterizaria como um homem. Outra impossibilidade é o homem
deixar de ser um animal, o que justamente o faz submeter-se às condições
dessa sua natureza orgânica. Então, o homem não está limitado no seu vira-ser por um fim preestabelecido, mas também não está liberado das
condições históricas em que vive.
Percebemos através destes discursos, que os aspectos sociais têm
total envolvimento na constituição dos vários tipos de indentidades do ser
humano, porém não podemos desprezar que cada indivíduo é um ser único,
e que, diante de uma mesma situação, diferentes pessoas terão
comportamentos e sentimentos diferenciados.
Como educadores, diariamente temos que lidar com uma gama de
pessoas e suas respectivas identidades, esta é uma pespectiva reflexiva
salutar que se faz extremamente necessária dentro do contexto escolar.
Este pensamento concorre com as ideias de Martins (2006), o qual acredita
que, qualquer concepção de Educação deve estar voltada também para uma
preservação da pessoa, para a auto-afirmação do ser humano em suas
características essenciais, e especialmente em um dado momento histórico
em que a visão do SER está sendo cada vez mais ameaçada, ocorrendo
uma corrida imperativa para a noção do TER.
Entretanto, é válido salientar, que este professor, assim como seus
educandos, também é um ser inerente neste processo identitário, para que o
mesmo consiga, respeitar, aceitar, dialogar com as diversas identidades de
seus
alunos,
primeiramente
há
de
existir
um
relacionamento
de
envolvimento profundo consigo mesmo, seu self, é de suma importância
que este educador percorra um caminho de autoconhecimento, pois, ao
adentrar na sala como
professor, este não leva apenas sua titulação e
conhecimentos técnicos inerente de cada ciência, o educador está levando
também sua personalidade, que de alguma forma terá forte impacto diante
dos seus educandos, podendo ser este um impacto positivo ou negativo, e,
são estes profissionais significativamente responsáveis pela formação de
novas gerações.
Para Espírito Santo (2007, p.33), a busca pelo autoconhecimento é
algo primordial na sociedade que hoje se apresenta, este autor é enfático em
afirmar que, caso este autoconhecimento não ocorra, teremos “cegos
conduzindo cegos”.
Estamos presenciando um processo acelerado de mudanças globais,
que juntamente com suas inovações positivas trouxe consigo outras nem tão
positivas assim, o avanço tecnológico conseguiu transportar o homem a
lugares inimagináveis, até mesmo à lua, a comunicação com pessoas de
outros continentes tornou - se instantâneas, a ciência conseguiu prolongar
por décadas a estatística de vida, mas,
por outro lado, onde ficou a
qualidade desta vida e a qualidades dessas relações interpessoais?
Espírito Santo (2007), relata sobre autoconhecimento na formação do
educador, a busca do saber, do desafio na nossa chamada “ignorância”, de
realmente não sabermos “quem somos”, citando inclusive a famosa frase de
Sócrates: "O sábio é aquele que sabe que nada sabe, nem sequer quem ele
é”, neste sentido é imprenscindível termos humildade, pois sem ela, ficamos
impossibilidado de seguirmos o caminho do autoconhecimento, ser humilde,
é um dos primeiros aspectos que possibilitam este conhecer-se.
E esta mudança, tem que partir daquele que se coloca inteiro naquilo
que faz, que ao percebe-se inacabado, com o sentimento de “humildade”
que carrega, não hesita em mostrar-se, expor-se enquanto constrói-se,
adquirindo assim, novas potencialidades.
E essa mudança vem quando rompemos as leis do silêncio interior,
abrimos as portas da compreensão para o novo, percebemos e aceitamos e
abraçamos
nossa
singularidade
e
pluralidade,
compreendendo
sua
importância na construção da sociedade que almejamos.
Os aspectos abordados aqui de alguma forma fazem enlace com os
princípios que subsidiam uma prática docente interdisciplinar: humildade,
coerência, espera, respeito e desapego.
Sabemos que, os cursos formativos de licenciatura em sua grande
maioria, priorizam apenas a formação técnica em sua grade curricular,
tornando-se
muitas vezes
fechado á novas propostas curriculares,
entretanto, algum avanço já pode ser visto, citaremos aqui uma atividade
que acontece na PUC-SP que é o curso de Autoconhecimento na Formação
do Educador, trabalho que deu título também ao livro , ministrado pelo
professor Ruy Cezar do Espírito Santo, neste curso se faz um trabalho que é
um misto de vivências e teorias. Nessas vivências, desenvolve-se um
trabalho de acolhimento, para que o aluno se sinta recebido, acolhido para
iniciar uma caminhada em direção a ele mesmo. É o artista interior que
precisa ser acordado, porque a obra-prima desse artista é ele mesmo.
Este autor propõe para a educação brasileira a criação de
determinadas disciplinas nas escolas, seja pela manhã ou pela tarde, na
qual o educador teria um período maior que 45 minutos para poder inserir
uma visão interdisciplinar. Ocorrendo assim, tempo para combinar os
conteúdos com as artes, dramatizações e outras formas de expressão que
trarão a abertura para a espiritualidade. Neste sentido, citamos Rojas (2012,
p.115) quem também corrobora com esta ideia:
A expressividade nasce da criatividade, da espontaneidade.
Expressar-se é tornar-se livre, abrindo os sentidos para que a
criatividade se liberte. E a criatividade acontece no encontro.
Encontro do ser com os seus pares, encontro do se permitir
com a possibilidade, da liberdade com a espontaneidade, isso
tudo em um ato de plena entrega.
Confluente neste pensamento, cabe-nos relembrar também, Rubem
Alves, que vem nos agregar valores com sua inovadora visão educacional,
quando discursa acerca dos quatro pilares para Educação, segundo ele, há
que, inicialmente, se aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a
conviver e por último, aprender a ser!
Haja visto que, aquelas instituições de ensino que já conseguiram
vislumbrar para além da simples disciplina acadêmica e considerar este Ser
humano como um Ser indissociável, como um todo, quando partem para
ações inovadoras que incrementam, diferenciam e diversificam suas práticas
metodológicas, conseguem atingir resultados extremamente significativos, e o
melhor, é este tipo de aprendizado que faz mais sentido para os alunos que
dele participaram, o qual, agregam em seu currículo, valores essenciais para
a vida.
Sabemos que, diante da realidade educacional apresentada em nosso
país, em que não se tem as melhores condições de trabalho e sequer a
valorização profissional devida, identificar-se com a profissão docente será a
grande diferença deste percurso, pois quando o profissional ama aquilo que
faz, ou melhor, tem consciência desde amor pela sua profissão, os obstáculos
muitas vezes serão estímulos para sua melhoria no servir, eis que surge a
criatividade.
Percebemos em May (1982) quando afirma que não existe ser
humano que não seja criativo, que, os mecanismos psíquicos e sociais que
impedem a descoberta e a experimentação da criatividade de cada um são
fruto da reação, pessoal e coletiva, contra qualquer nova forma de vida. Desta
forma a coragem e a liberdade são aspectos imprescindíveis ao processo de
criação.
E é justamente com esta coragem de “mudar”, de ser diferente, ou
apenas tentar fazer o melhor, que temos vivenciado muitas práticas
pedagógicas inovadoras, com certeza, quanto mais se fizer pesquisa, mais
conteúdos e conhecimentos serão absorvidos relacionados àquilo que nos
propomos a desenvolver, repercutindo consideravelmente em nossa ação
educativa.
Ao buscar desvelar por meio da fenomenologia os contextos de
aprendizagem dos jogos e brincadeiras como processo identitário do
professor de Educação Física, é preciso primeiramente compreender que
identidade tem este jogo e esta
brincadeira para o referido professor, só
assim, conheceremos que sentimentos, instintos o levam a utiliza-lo ou não
em sua prática pedagógica, faz-se necessário perceber ester Ser professor.
Assim, objetivando compreender como que este ser, se tornou o
professor que é hoje, o porquê, de que forma a ação pedagógica é
influenciada pelas características pessoais e pelo percurso de vida
profissional de cada professor, foi que, Nóvoa (1995), desenvolveu a teoria
dos três AAA, segundo ele, os sustentadores do processo identitário dos
professores. São eles:
A de Adesão, porque ser professor implica sempre a adesão a
princípios e a valores, a adoção de projetos, um investimento positivo nas
potencialidades das crianças e dos jovens.
A de Ação, porque também, na escolha das melhores maneiras de agir,
se jogam decisões de foro profissional e pessoal. O sucesso ou insucesso de
certas experiências “marcam” a nossa postura pedagógica, fazendo-nos sentir
bem ou mal com esta ou aquela maneira de trabalhar na sala de aula.
Neste sentido, pensamos que, a ação é imprescindível ao ato de
pensar, toda ideia, todo planejamento, precisa sair da área do abstrato para
poder se fazer real, e é justamente através dessa ação, por menor que ela
possa parecer, que poderemos construir grandes projetos, pois, toda
caminhada precisa de um pequeno passo.
A de Autoconsciência, porque em última análise tudo se decide no
processo de reflexão que o professor leva a cabo sobre sua própria ação. É
uma dimensão decisiva da profissão docente, na medida em que a mudança e
a inovação pedagógica estão intimamente dependentes deste pensamento
reflexivo.
Acreditamos que o processo de autoconhecimento é permanente em
nossas vidas. Nóvoa (1995), relata que, o processo identitário passa também
pela capacidade de exercermos com autonomia a nossa atividade, pelo
sentimento de que controlamos nosso trabalho. A maneira como cada um
ensina está diretamente relacionado com aquilo que somos como pessoa
quando exercemos o ensino. É impossível separar o eu profissional do eu
pessoal.
Partindo deste contexto, a utilização de jogos e brincadeiras como
recurso pedagógico por parte do professor de Educação Física, (embora este
seja um conteúdo programático da área), dada a variedade de possibilidades
que esta
disciplina escolar em particular se apresenta, dependerá
consideravelmente da concepção que este profissional têm dos jogos e
brincadeiras. Desta forma, percebemos a força que uma “concepção
identitária” representa. Somos responsáveis em deixar marcas positivas ou
negativas em nossos alunos dada à experiências que vamos tendo ao longo
de nossas vidas. Entretanto, por mais signifitivas que essas experiências
podem ser, o importante é, que tipo de ações tomamos após tê-la vivenciado,
é certo que sempre teremos escolhas, dois caminhos a seguir.
Ao defendermos a utilização dos jogos e brincadeiras, acreditamos que
estes procedimentos metodológicos nos apresentam mecanismos de grandes
possibilidades de desenvolvimento cognitivo e motor, contribuindo para uma
aprendizagem signicativa e lúdica, pois, de acordo com Moyles (2002), é
justamente por meio do brincar dirigido, que as crianças têm outra dimensão e
uma nova variedade de possibilidades estendendo-se a um relativo domínio
dentro daquela área ou atividade. O brincar, como um processo e modo,
proporciona uma ética da aprendizagem em que as necessidades básicas de
aprendizagem das crianças podem ser satisfeitas. Segundo a autora, essas
necessidades incluem as oportunidades de:
Praticar, escolher, perseverar, imitar, imaginar, dominar,
adquirir competência e confiança; de adquirir novos
conhecimentos, habilidades, pensamentos e entendimentos
coerentes e lógicos; de criar, observar, experimentar,
movimentar-se, cooperar, sentir, pensar, memorizar e lembrar;
de comunicar, questionar, interagir com outros e ser parte de
uma experiência social mais ampla em que a flexibilidade, a
tolerância e a autodisciplina são vitais; de conhecer e valorizar
a si mesmo e as próprias forças, e entender as limitaçõe
pessoais e também de ser ativo dentro de um ambiente
seguro que encoraje e consolide o desenvolvimento de
normas e valores sociais.Moyles (2002, p. 43).
Na tentativa de uma conceituação dos termos, jogo, brinquedo e
brincadeira, esta vem a ser uma tarefa difícil, justamente pela etimologia dada
para estas palavras em suas diferentes línguas, apesar que, sua ação se
apresentem semelhantes em muitos contextos.
Neste sentido, Kishimoto (2009) defende a ideia de que, o brinquedo
será sempre entendido como objeto, suporte de brincadeira. A brincadeira é a
ação desempenhada ao concretizar as regras do jogo, o mergulho na ação
lúdica. E o jogo infantil, para designar tanto o objeto quanto as regras do jogo
da criança.
Encontramos também em Huizinga (2008), o reconhecimento do jogo
como algo inato ao homem e mesmo aos animais, considerando-o uma
categoria absolutamente primária da vida, logo anterior à cultura, tendo esta
evoluído no jogo.
O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida
dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço,
segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente
obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de
um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de
ser diferente da 'vida cotidiana’.(HUIZINGA, 2008, p.33).
Como o brincar é significativo para o mundo infantil, há que se
aproveitar e explorar mais suas possibilidades, desta forma, certamente,
estaremos contribuindo para que nossas escolas sejam mais que apenas
muros e salas de aulas, queremos também que elas sejam um espaço
agradável e acolhedor, visto que, diante da várias transformações que a
sociedade vem atravessando ao longo do tempo, as crianças estão
ingressando bem
mais cedo na instituição
escolar, e nelas, ficando um
período de tempo cada vez maior.
De acordo com Moyles (2002), as crianças precisam brincar com
materiais e recursos que ofereçam um meio para desenvolver suas
capacidades de entendimento, conhecimento, concepção e habilidades. E
neste sentido, o papel do professor é vital para a comunicação e a
prendizagem efetivas das crianças, porque proporcionam a estrutura e o
ambiente necessário para que aconteçam o brincar e aprendizagem efetivos.
Pensamos então, que cabe aos professores que lidam com este público
infantil, explorar significativamente os aspectos inerentes desse ato de brincar,
especialmente aos professores que “teoricamente ” lidam mais diretamente
com este corpo lúdico, que são os professores da área da Educação Física.
Encontramos também nas obras de Munari (1981), aspectos que se
mostram relevantes para nossa idéia acerca da utilização dos jogos e seus
contextos de aprendizagem no ambiente escolar infantil, para esse autor, o
alargamento do conhecimento e a memorização dos dados devem ser feitos
na infância através do jogo. Inclusive, segundo ele, a indústria do brinquedo
muito tem avançado ao confeccionar jogos extremamente criativos que se
transformam em instrumentos estimuladores da criatividade e da fantasia.
Sendo assim, esses novos jogos permitem à criança intervir, participar, fazer,
atuar e fantasia para resolver problemas simples ou visualizar ações sempre
diversas, ou ainda mais, montar construções no espaço tridimensional com
elementos modulados.
Para ele, o fato da formação dar-se nos primeiros anos de vida,
dependerá dos educadores que está criança tiver hoje, torna-se ela então,
uma pessoa criativa ou simplesmente alguém como repetidora de códigos.
Depende destes primeiros anos, da experiência e da memorização dos dados,
o indivíduo vir a ser livre ou condicionado, os adultos, e aqui eu acrescento,
nós
professores,
teremos
de
tomar
consciência
desta
enorme
responsabilidade da qual depende o futuro da sociedade humana. Pois a
sociedade do futuro já se encontra entre nós e podemos visualizá-las nas
crianças. É a partir da forma como se desenvolvem e se formam as crianças,
que podemos pensar numa sociedade futura mais ou menos livre e criativa.
“Devemos, portanto, libertar as crianças de todos os condicionamentos
e ajudá-las a formarem-se, bem como desenvolver cada personalidade a fim
de que esta possa contribuir para o progresso coletivo”. (MUNARI, 1981, p.124)
Estudos apontam que é por meio do ato de brincar, que a criança
consegue fazer interfaces com os aspectos do seu meio social, repetindo
ações vivenciadas por ela em seu cotidiano, sendo que, essa brincadeira,
poderá ficar mais divertida e significativa quando utilizar-se do objeto
“brinquedo”, suporte do ato de brincar.
Em se tratando do aspecto do brinquedo, Rojas (2010, p.297), afirma
que:
O brinquedo é algo indissociável da realidade social em que
está inserido, conforme se observa na sua história cultural.
Sua função está intimamente ligada ao valor simbólico que lhe
é conferido pela criança na brincadeira, que é uma associação
entre a ação e a ficção possibilitando a representação do
mundo através dos objetos.
Percebemos que, é justamente pelos brinquedos que a criança imita o
mundo em que vive, representando papeis sociais e compreendendo melhor
a vida, e as brincadeiras socializam, fazendo com que a criança interaja umas
com as outras. As atividades lúdicas permitem à criança desenvolver-se,
imaginando, fantasiando, construindo regras e resolver conflitos. Para a
autora, um professor que explora as possibilidades reiventa sua prática. E
neste sentido, nos motiva a intenção de buscarmos entender, por meio do
olhar fenomenológico da pesquisa, que é justamente a busca pela essência,
como que está se dando essa ação do professor de Educação Física em
algumas escolas da cidade de Campo Grande, MS e Rio Branco, AC, tentar
compreender os contextos de aprendizagem dos jogos e brincadeiras como
processo identitário de ação deste profissional nos possibilitará desvelar o
quadro atual destas escolas e seu sentido de brincar e jogar.
Infelizmente, se faz necessário analisar que, ainda nos dias de hoje, os
jogos e brincadeiras são vistos por uma parte da sociedade como
“desnecessário”, ou perda de tempo. E de acordo com Linhares (1999), a
escola, ao institucionalizar a aprendizagem perdeu seu carater imediato e
passou a organizar o saber sistematizado para socializá-lo. Essa socialização,
adquire os contornos da estrutura de classes da sociedade maior, tornando-se
em
um aprendizado em reclusão, que incorpora aspectos de dominação,
domesticação e de resistência.
Para esta autora, o modo de se tratar a
infância na escola precisa ser revisto, como também o modo de se considerar
um homem que é apenas o Homo oeconomicus, atrofiado pela unilateralidade
do desenvolvimento que o reino da necessidade obriga às classes
trabalhadoras.
Percebemos que, culturalmente, a escola, em sua grande maioria, não
está preocupada com o jogo, a arte ou brincadeira, pois ela é impulsionada a
preparar as crianças para o mundo do trabalho que a sociedade atual exige.
Entretanto, um profissional que apresente características interdisciplinares e
resilientes (características que a sociedade atual também pede) não se
limitará somente a este papel, ele é muito mais versátil, criativo, pespicaz e
através de suas práticas inovadoras e criativas, será capaz de promover
mudanças significativas em seu ambiente escolar.
Neste sentido, acreditamos que, através de uma leitura fenomenológica
com esses sujeitos da pesquisa, os professores de Educação Física, teremos
uma visão esclarecedora e norteadora para podermos desvelar este sentido
identitário do brincar e do jogo como elemento do aprender.
Considerando que, de acordo com o que já foi exposto, esta ação
educativa
final
é,
um
subproduto,
ou
podemos
dizer
assim,
uma
consequencia, do processo identitário inerente em cada um de nós, seres
humanos, e mais ainda,
este processo, de acordo com as resiliências e
ressignificações pessoais que podemos e devemos fazer no decorrer de
nossas vidas, também é capaz de se apresentar com diversas “Marcas”.
Que saibamos reconhecer, assumir e cumprir por meio de nossa
profissão docente o papel que nos foi delegado da melhor maneira possível.
Que sejamos capazes de “marcar” positivamente áqueles que passarem por
nossas salas, esperando assim, estar construindo uma sociedade cada vez
melhor. Que possamos ser a mudança que queremos ver no mundo,
começando a mudar aquilo que está dentro de cada de um nós!
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