LEITURA RECOMENDADA “Brincadeira é coisa séria” Brincando, a criança aprende coisas que a ajudarão pelo resto da vida Os pais querem criar bem os filhos e fazem de tudo para ajudar no desenvolvimento de sua linguagem e de suas habilidades motoras. Curiosamente, nem tantos se preocupam com o que a criança faz de mais importante na vida: brincar. Através da brincadeira, ela começa a aprender, como o mundo funciona, o que pode e o que não pode ser feito. Empilhando e encaixando peças, ela adquire noções espaciais e faz as primeiras tentativas de organização do mundo. Quando produz sons batendo objetos, desenvolve conexões mentais e corporais que vão ajudá-la a falar e a andar. Repetindo brincadeiras, à exaustão digere as emoções, confirma e consolida um aprendizado. Jogando com os outros, começa a perceber que existem regras, sorte, possibilidades e conhece o valor da perseverança. A criança brinca instintivamente para descobrir o mundo e se ajustar a ele. Aos adultos cabe o desafio de não atrapalhar esse desenvolvimento, estimulando a brincadeira e interferindo o menos possível. Um dos valores mais importantes que a criança aprende brincando é que, quando perdemos, o mundo não acaba. Se ela perde o jogo, pode ganhar na próxima vez, ou na seguinte. Para isso, os pais não devem passar aos seus filhos a impressão de que o mais importante é vencer. Em vez disso, convém enfatizar a diversão. As crianças precisam entender que perder não é sinônimo de inferioridade, da mesma forma que ganhar não demonstra superioridade. A criança começa a brincar antes mesmo de poder sentar ou engatinhar. Já aos 2 meses, diverte-se com as cócegas e risadas dadas pelos pais junto ao berço. A brincadeira é tão importante para as crianças que a psicologia a utiliza até mesmo como forma de tratamento. É a ludoterapia. "Brincar é o principal instrumento para a criança construir a própria individualidade", afirma a psicanalista mineira Sandra Kruel. Para as crianças, é importante que os pais se interessem pelas suas brincadeiras, desde que se adaptem às regras. Não vale sentar no chão com a criança e decidir como as coisas devem funcionar. "Se o pai se dispõe a brincar, tem de dar espaço para a criança escolher como montar a brincadeira", afirma Sandra Kruel. Outra participação importante dos pais é na compra dos brinquedos. É claro que é um prazer poder chegar em casa com a última novidade da loja de brinquedos embaixo do braço, aquele carrinho cheio de luzes e sons ou boneca da moda. Entregar um objeto caro assim na mão da criança não quer dizer, necessariamente, mais diversão ou melhor estímulo. Seu filho pode, inclusive, prestar mais atenção no papel do embrulho ou na caixa do presente. "O que tem valor para a criança pequena não é o mais sofisticado, e sim o que exige mais sua participação e lhe permite inventar", diz Sandra.