NARRATIVAS DAS EXPERIÊNCIAS LÚDICAS DE INFÂNCIA PARA APRENDIZAGEM DA COMPREENSÃO HUMANA RAMOS, Rosemary Lacerda, Dra. Professora de Pós Graduação e Pesquisadora. Coordenadora do LUDES – DGP CNPq ISEO - Instituto Superior de Educação Ocidemnte DESCRIÇÃO RESUMO: O presente trabalho relata uma vivência pedagógica desenvolvida na disciplina Ludologia, do Curso de Especialização em Consciência e Educação, consistindo da aplicação de vivências ludicopedagógicas que favoreceram o resgate das memórias lúdicas de 12 educandos, a partir de suas narrativas de vida, orais e escritas. Isto para perceber como, em sua infância e seu processo de escolarização, as atividades lúdicas estiveram presentes e de que forma impregnam sua práxis docente atual. Assim pretende-se desenvolver/ ampliar a capacidade de compreensão humana do outro, o que pressupõe, intrinsecamente, a sua capacidade de se autoconhecer e autocompreender. CONTEXTO: Instituição: Instituto Superior de Educação Ocidemnte; Área de Atuação: Ensino Superior, Curso de Especialização em Consciência e Educação; Beneficiários: 15 estudantes com o mais variado perfil: pedagogos, sociólogos e administradores. CRONOGRAMA: 08 a 29 de maio, de 2010, 24h distribuídas em encontros semanais de 08 horas. SETE SABERES: A vivência ora relatada, que apresenta uma experiência de utilização das narrativas e vivências lúdicas da infância como estratégia para compreensão da criança e do lúdico como elemento essencial e formativo aproxima-se, em nossa compreensão, do SABER III – ensinar a condição humana e do SABER VI – Ensinar a compreensão pelo que tematiza e permite ao resgatar as histórias de vida com objetivo de compreender a si, para compreensão do outro. DETALHAMENTO BREVE HISTÓRICO DA INSTITUIÇÃO: O Instituto Superior de Educação Ocidemnte - ISEO tem como objetivo a formação integral de pessoas professores por meio de uma educação de qualidade, com compromisso social, adotando como eixo estrutural da sua prática educativa as quatro aprendizagens fundamentais recomendadas pela UNESCO, aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser, articulados com o Despertamento da Consciência. Para consecução de tal missão oferece um curso de Pedagogia e um curso de Especialização em Consciência e Educação. OBJETIVOS GERAL: Propiciar espaço e tempo para narrativas e vivências lúdicas da infância como estratégia para desenvolver a capacidade de compreensão dos educadores, quanto à especificidade da infância e sua relação com o lúdico. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Conhecer, compreender e analisar o papel, a importância e a função dos profissionais que trabalham com ludicidade enquanto recurso para auxiliar o ser humano aprender e integrar-se. Integrar o seu sentir, pensar e agir, de maneira que lhe seja permitido absorver, em si mesmo, o valor significativo real das relações tendo a ludicidade como elemento favorecedor deste movimento. Identificar e conhecer a relação entre a estrutura do homem e a sua maneira de sentir, pensar e agir, enfim, de realizar, segundo as exigências de suas necessidades básicas individuais e sociais; PROCESSOS E INTENCIONALIDADES Aprender a ser, a fazer, a conviver e a conhecer. Quatro pilares da Educação para o século XXI, propostos no Relatório da UNESCO. Alcançar estes objetivos na educação das crianças e jovens pressupõe considerar as diversas dimensões do ser humano, quer sejam física, psíquica e/ou moral, envolvendo cognição, intuição, criação, afeto, ética e espiritualidade, quer no âmbito individual, quanto coletivo. Compreendemos que tal visão integradora da prática educativa é desenvolvida quanto o trabalho pauta-se em ações Lúdicas. Mas como fazê-lo diante das situações de ―furto do lúdico do espaço escolar‖?. Fruto da ausência de compreensão dos docentes sobre o que é essencial à infância, que, mal interpretado e pouco vivenciado, reduz-se às atividades que cobrem lacunas de planejamento ou premiação por comportamentos adequados. Um vasto corpo teórico já confirma a essencialidade da presença do lúdico nos espaços educativos infantis. Porém, acolher e assegurar sua presença significa muito mais do que compreender conceitos, fatos e princípios. Implica desenvolver a capacidade de compreensão do educador. Conforme MORIN (2001) existem duas formas de compreensão: a intelectual ou objetiva e a compreensão humana intersubjetiva. Referimo-nos a segunda, que implica e comporta empatia e identificação com o universo infantil e lúdico. E como desenvolver esta atitude empática e compreensiva? Partindo desta reflexão e questionamento, destacamos e desenvolvemos uma experiência formativa utilizando as narrativas e vivências lúdicas da infância como estratégia para compreensão da infância e do lúdico, como elemento essencial e formativo. A vivência ora relatada estrutura-se em quatro níveis que acontecem de forma concomitante e articulada. São eles: Nível 01 - Resgate das brincadeiras e brinquedos da infância, através de relatos orais e da presença /manuseio de brinquedos durante as aulas; Nível 02 - Vivência das experiências lúdicas mais agradáveis; Nível 03 - Análise e correlação do tempo de brincar dos educandos, adultos na faixa de 20 a 40 anos e da realidade do brincar das crianças da atualidade. Nível 04 - Articulação das experiências resgatadas/ narradas com os conceitos teóricos que confirmam a importância da ludicidade para as crianças e jovens. O primeiro nível da experiência permitiu mobilizar experiências de vida com o lúdico: o encontro e socialização dos brinquedos, cada um trazendo o seu, junto com as narrativas pessoais, momentos de cantoria e de dança de cantigas de roda infantis etc. Estas atividades provocaram as memórias lúdicas da infância, permitindo, ao mesmo tempo, um compartilhar histórico e cultural. Cada narrativa nos permitia encontrar pontos de contatos com a história pessoal e do grupo. Conforme BENJAMIN (1975), ―a experiência propicia ao narrador a matéria narrada, quer esta experiência seja própria ou relatada. E, por sua vez, transforma-se em experiência daqueles que ouvem a estória". (p. 66). Com isso favorece o autoconhecimento. A percepção de sua identidade humana e compreensão de sua natureza, também humana. No segundo nível, vivenciamos as atividades resgatadas das memórias do grupo. Assim, a prática — que se traduzia na vivência de atividades lúdicas e a criação de jogos e brincadeiras alimentava-se pelos estudos e descobertas pessoais dos estudantes. No terceiro nível, deu-se a análise e correlação do tempo de brincar dos educandos, adultos na faixa de 20 a 40 anos e da realidade do brincar das crianças da atualidade. Os relatos faziam referencia as dificuldades ou facilidades de ter um brinquedo, a possibilidade de cria-los em contraposição à postura atual, época da geração Barbies e Playgrounds de plástico. Estas permitiram aprofundar o significado cultural do brincar e dos recursos lúdicos, percebendo o quanto brinquedos e brincadeiras contavam historias de uma época. Por sua vez, no quarto nível aconteciam os estudos dos conceitos, fatos e princípios relativos ao lúdico, desenvolvimento e aprendizagem. Cabe destacar que os níveis anteriores, com suas atividades práticas, eram intercalados por narrativas de vida buscando uma maior compreensão teórica. O nosso brincar estava entrelaçado por experimentações, reflexões sobre estas experiências, a partir do corpo teórico adotado. As dinâmicas empregadas envolveram desde resgate dos jogos e brincadeiras da infância, cantar canções de roda tradicionais, jogar jogos de tabuleiro /mesa, tais como damas, ludo, xadrex chinês e jogos corporais como o baleado, amarelinha, macaco, sete marinheiros, melancia, etc., brincar de 7 pedrinhas ou capitão, dentre outras atividades trazidas pelos estudantes. Como conclusão deste percurso formativo, produzimos um Plano de Ação que integrava as ações lúdicas de forma mais aproximada ao cotidiano profissional destes estudantes. Em nenhum lugar é ensinado a compreendermos uns aos outros. Há uma distinção entre explicação e compreensão. A explicação entende o ser humano como objeto que pode ser conhecido através de meios objetivos. Por sua vez, a compreensão implica empatia, envolve empatia, identificação e projeção. Comporta um conhecimento de sujeito a sujeito, requer a consciência da complexidade humana. Como exemplifica MORIN (2001) compreendemos a tristeza de uma criança que chora porque nós mesmos fomos crianças que chorávamos. Para compreender o outro, é preciso compreender a si mesmo. PEREIRA (2002) nos afirma que ―a criança, o jovem e mesmo o adulto, ao se entregarem a uma atividade lúdica, entram em contato consigo mesmos, com suas experiências de vida e com situações de descoberta do mundo‖ (p. 15). No processo das narrativas de vida as pessoas fazem uso criativo de um corpo vasto e complexo de conhecimento cultural. Assim, ao tempo em que é única e singular, uma história de vida ao mesmo tempo se conforma com ideais e convenções sociais e culturais revelandonos modos de estar e pensar no mundo, quanto a infância, educação e ludicidade. AVALIAÇÃO DA VIVÊNCIA: O processo avaliativo de todo o trabalho deu-se em seu percurso. Há que se considerar que as estratégias para o desenvolvimento da vivência eram, ao mesmo tempo, proposições metodológicas, mas também, avaliativas. Ao confrontar com suas memórias os participantes puderam revisitar suas ideologias, e reconhecer o lugar de suas escolhas pedagógicas, do acolhimento ou não das atividades lúdicas em seu cotidiano. Evidentemente, sua capacidade de compreensão de si ampliou significativamente, o que favoreceu a compreensão do outro. Especificamente aqui a criança. A provocação das memórias lúdicas dos educadores, a partir da identificação e vivência de jogos tradicionais infantis, mobilização de suas experiências escolares: as atividades lúdicas da época da escola, as influências e escolhas de familiares, amigos; reconhecimento da forma como são interpeladas e incessantemente redefinidas pelos múltiplos discursos veiculados pelas suas experiências de vida atuais favorecem a aprendizagem de conteúdos específicos, também, a construção de competências que lhes autorizava respeitar e propor atividades lúdicas, estando ou não em situações educativas formais. Esta vivência configurou-se um lugar de aprendizagem privilegiada, naturalmente lúdico, por sua própria proposição, além de permitir uma reflexão acentuada sobre suas práticas enquanto docentes de crianças e jovens, desenvolvendo um olhar ético e solidário com esta atividade que é vital à infância: o brincar. REFERÊNCIAS BENJAMIM, Walter. O narrador - considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. Obras escolhidas I: magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1985, p. 1997-221. MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2001. NÓVOA, António; FINGER, Matthias (Orgs.) O método (auto)biográfico e a formação. Lisboa: Ministério da Saúde, Depart. de Recursos Humanos da Saúde/Centro de Formação e Aperfeiçoamento Profissional, 1988b. p.131-153. PEREIRA, L. H. P. Ludicidade: algumas reflexões. In: PORTO, B. de S. (Org.). Educação e ludicidade: ludicidade: o que é mesmo isso? Salvador: Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, v. 2, 2002. p. 12-20. RAMOS, Rosemary. Formação de Professores para uma prática lúdica. Tese de Doutorado. UFBA. 2002 ESQUEMA DO PÔSTER