UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO ATUALIZA ASSOCIAÇÃO CULTURAL ENFERMAGEM OBSTÉTRICA ADRIANA OLIVEIRA DA SILVA LES E GESTAÇÃO: Assistência em Enfermagem para melhor qualidade de vida. Salvador-Bahia 2012 2 ADRIANA OLIVEIRA DA SILVA LES E GESTAÇÃO: Assistência em Enfermagem para melhor qualidade de vida. Monografia apresentada a Universidade Castelo Branco e Atualiza Associação Cultural, como requisito parcial para obtenção do Título de Especialista em Enfermagem Obstétrica sob orientação do Professor Fernando Reis do Espirito Santo. Salvador-Bahia 2012 3 ADRIANA OLIVEIRA DA SILVA LES E GESTAÇÃO: Assistência em Enfermagem para melhor qualidade de vida. Monografia para obtenção do grau de Pós-Graduado em Enfermagem em Obstetrícia. Salvador, 22 de maio de 2012. EXAMINADOR: Nome: ______________________________ Titulação: ______________________________ PARECER FINAL: 4 DEDICATÓRIA Dedico e agradeço à minha mãe, minha companheira de sempre, deixando essa passagem: “Podemos escolher o que semear, mas somos obrigados a colher aquilo que plantamos.” Provérbio Chinês Afirmando que tudo que semeou em mim será colhido através dos meus melhores frutos. 5 A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para frente. Soren Kierkegaard 6 RESUMO Este estudo aborda sobre Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), que é uma doença sistêmica de origem autoimune sendo encontrado habitualmente em pacientes gestantes, podendo ter evolução indiferente ou não com a gestação, pois seu ciclo pode ser modificado pela maternidade, ou vice-versa. É uma enfermidade responsável por alta morbidade materno fetal devendo ter critérios e cuidados na concepção, gravidez e puerpério, sendo imprescindível o acompanhamento de profissional habilitado para prevenção de complicações, orientações que norteiam uma melhor qualidade de vida para as lúpicas no convívio com sua patologia. Tendo em vista que no Brasil são raros os estudos referentes a esta patologia, sua associação com a gravidez bem como orientações pré-gestacionais este estudo será de grande valia, podendo os profissionais de saúde utilizá-lo buscando erradicar ou diminuir uma serie de duvidas das lúpicas. Tem como objetivo: evidenciar a partir da literatura a Assistência em Enfermagem prestada à lúpicas gestantes a fim de proporcionar melhor qualidade de vida. Fizemos a opção por uma pesquisa bibliográfica, entendendo que permite apreender o objeto de estudo a partir de uma descrição histórica de material já produzido por estudiosos da área. Quanto à natureza trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório buscando proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explicito ou a construir hipóteses; aprimoramento de ideias ou a descobertas de intuições através da interpretação dos artigos e livros utilizados. Os resultados mostram que ao contrário do que outrora se pensara o LES não deve ser entendido como uma limitação à gestação. A melhor caracterização de fatores prognósticos e o entendimento de determinados mecanismos fisiopatológicos permitem o desenvolvimento de estratégias de prevenção e abordagem da morbidade materna e fetal em gestações de lúpicas. O profissional de Enfermagem deve ter conhecimento teórico, ser consciente quanto às orientações que serão dadas, a fim de transmitir tranquilidade para essa gestante, estando incumbido de atender as suas necessidades. Contudo esta análise deve ser mais abrangente, pois a assistência da equipe de saúde para a gestação deve ser iniciada ainda no período intergestacional e pré-conceptual, de forma que a gravidez ocorra em momento ótimo da evolução da doença e acarrete os mínimos prejuízos maternos fetais. Sabendo-se que a concepção não necessariamente agrava a doença, este estudo permitiu que se entendesse que a monitorização clínica, o tratamento adequado e principalmente o planejamento são artifícios eficazes que a Enfermagem tem hoje, para garantir às lúpicas seu direito natural à maternidade. Palavras chave: LES, Gestação e Assistência em Enfermagem. 7 ABSTRACT This study talks about Systemic Lupus Erythematosus (SLE), which is systemic disease of autoimmune origin usually found in pregnant patients, likely to have indifferent evolution or not with the pregnancy, because its cycle may be modified by maternity, or vice-versa. It is a disease responsible for high maternal and fetal morbidity taxes, supposed to have criteria and care in the conception, pregnancy and puerperium, being essential the assistance of a skilled professional for prevention of complications, orientation that lead those living with lupus to a better way of life . Considering that in Brazil the studies about this pathology are rare, its association with pregnancy as well as the pre-gestational orientation, this study will be of great value, allowing the health professionals to use it in order to eradicate or diminish a series of doubts from patients with lupus. It aims: to evidence from the literature the Nursing Assistance given to pregnant women with lupus in order to provide them a better life quality. We opted for a bibliographical research, understanding that it enables us to grasp the object of study from a historical description of the material already produced by scholars in this field. Regarding the nature, it is a qualitative research of exploratory character seeking to provide greater familiarity with the problem, in order to make it more explicit or to build hypotheses; enhancement of ideas or discoveries of intuitions through interpretation of articles and used books. The results show that contrary to what was formerly thought, SLE should not be understood as a limitation to pregnancy. A better characterization of prognostic factors and the understanding of certain physiopathological mechanisms allow the development of prevention strategies and approach to maternal and fetal morbidity in pregnant women with lupus. The Nursing Professional must have theoretical knowledge, be conscious of the orientation that will be given, in order to convey tranquility to this pregnant woman, being liable for meeting her needs. However, this analysis must be broader, because the health care crew for the pregnancy should be initiated still in the intergestational and pre-conceptual periods, so that the pregnancy happens at a great moment of the disease progress and results in the minimum maternal and fetal damages. Knowing that the conception does not necessarily worsen the disease, this study permitted us to understand the clinical monitoring, the appropriate treatment and especially the planning are effective devices that the Nursing has today, to ensure the women with lupus their natural right to motherhood. Key words: SLE, Pregnancy and Nursing Assistance. 8 RESUMEN Este estudio trata sobre el Lupus Eritematoso Sistémico (LES), que es una enfermedad sistémica de origen autoinmune habitualmente encontrado en pacientes embarazadas, pudiendo haber evolución indiferente o no con el embarazo, pues su ciclo puede ser modificado por la maternidad, o vice-versa. Es una enfermedad responsable por la alta tasa de morbilidad materno fetal debiendo tenerse criterios y cuidados en el seguimiento de la concepción, el embarazo y el puerperio, siendo imprescindible el acompañamiento de un profesional calificado para prevenir las complicaciones, las directrices que guían una mejor calidad de vida de las personas que viven con lupus en su patología. Teniendo en vista que en Brasil son raros los estudios sobre esta enfermedad, su asociación con las directrices del embarazo y antes del embarazo este estudio será de gran valor, profesionales de la salud se puede utilizar la búsqueda para eliminar o reducir una serie de dudas de LES. Tiene como objetivo: demostrar, desde el cuidado de Enfermería de la literatura a las mujeres embarazadas con lupus para proporcionar una mejor calidad de vida. Hemos tomado la decisión de una búsqueda en la literatura, entendiendo que le permite a uno entender el objeto de estudio de una descripción histórica de los materiales ya producidos por los estudios en la materia. Con respecto a la naturaleza, esta es una investigación exploratoria cualitativa trata de proporcionar una mayor familiaridad con el problema, con el fin de hacer más explicitas las hipótesis o de construcción, las ideas de mejora o descubrimiento de conocimiento a través de la interpretación de los artículos y libros de segunda mano. Los resultados muestran que, contrariamente a lo que se cría anteriormente LES no debe interpretarse como una limitación de la gestación. Una mejor caracterización de los factores pronósticos y la comprensión de los mecanismos fisiopatológicos específicos permiten el desarrollo de estrategias de prevención y el enfoque a la morbilidad materna y fetal en embarazos de LES. El profesional de enfermería debe tener los conocimientos teóricos, ser consciente de las directrices que se darán a fin de transmitir tranquilidad a la mujer embarazada, se pide a satisfacer sus necesidades. Sin embargo, este análisis debería ser más amplia, debido a que le equipo de atención médica para el embarazo debe iniciarse incluso durante intergestacional y pre-conceptual, de manera que se produce un embarazo en el momento óptimo de la progresión de la enfermedad e implicará la mínima pérdida fetal materna. Sabiendo que el diseño no tiene porqué empeorar la enfermedad, este estudio les permitió comprender que la vigilancia clínica y plan de tratamiento apropiados son especialmente eficaces los dispositivos que hoy en día la enfermería es garantizar el lupus a su derecho natural de la maternidad. Palabras clave: LES, el embarazo y cuidados de enfermería. 9 LISTA DE SIGLAS LES: Lúpus Eritematoso Sistêmico. HCV: Vírus da Hepatite C. DNA: Ácido desoxirribonucleico. SAAF: Síndrome de anticorpos antifosfolipídios. SLN: Síndrome do Lúpus Neonatal. SSA: anticorpos anti-Ro. SSB: anticorpos anti-La. FAN: Fator antinuclear. Anti-DNA: É o único anticorpo claramente implicado na patogênese de LES com formação de imunocomplexos, deposição renal e inflamação local. ANA: Usado para descrever auto anticorpos para várias proteínas nucleares das células. C3: É utilizada para avaliação de indivíduos com deficiência congênita d te fator ou daqueles pacientes portadores de doenças por imunocomplexos. C4: É útil no diagnóstico de deficiência congênita deste fator ou de patologias onde há consumo de complemento e ativação da via imune ou clássica do sistema. EEG: Eletroencefalograma. ECG: Eletrocardiograma. AINEs: Anti-inflamatórios não esteroides. 10 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO........................................................................................ 11 2. REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................... 17 2.1. Gestação.............................................................................................. 17 2.2. Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES)..................................................... 17 2.2.1. Definição............................................................................................ 17 2.2.2. Epidemiologia................................................................................... 18 2.2.3. Etiologia e fisiopatologia.................................................................... 18 2.2.4. Sintomatologia................................................................................... 19 2.3. Gravidez em lúpicas............................................................................ 19 2.3.1. Diagnóstico........................................................................................ 22 2.3.2. Resultados de exames...................................................................... 23 2.4. Assistência em Enfermagem................................................................ 24 3. ANALISE E DISCUSSÃO........................................................................ 27 3.1. Curso do LES...................................................................................... 27 3.2. Gestação em Lúpicas.......................................................................... 28 3.3. Assistência prestada ás lúpicas no período gestacional..................... 29 4. CONCLUSÃO......................................................................................... 32 5. REFERÊNCIAS...................................................................................... 34 11 1. INTRODUÇÃO Apresentação do objeto do estudo O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença sistêmica de origem autoimune, que acomete principalmente mulheres em idade reprodutiva. Sua etiologia permanece desconhecida, embora fatores genéticos, ambientais, hormonais e imunológicos estejam envolvidos. A prevalência da doença varia de 14,6 a 122 casos por 100 mil habitantes (RUS; HOCHBERG, 2002 apud BEZERRA et al.,2005). O LES é encontrado habitualmente em pacientes gestantes, podendo ter evolução indiferente ou não com a gestação, pois seu ciclo pode ser modificado pela maternidade, ou vice-versa. É uma enfermidade responsável por alta morbidade materno fetal devendo ter critérios e cuidados na concepção, gravidez e puerpério. Segundo Zugaib (1986, apud CECIN et al, 1992) a evolução do LES na gravidez depende da existência ou não de comprometimento renal, da atividade da doença à época da concepção e da qualidade do tratamento recebido durante a gestação. As lúpicas com doença inativa no inicio da gravidez, independentemente da gravidade anterior do quadro clínico, têm uma chance de somente 30% de sua doença agravar. O LES evolui de modo crônico, lesando a saúde da mulher, associado ao grau de comprometimento dos órgãos, sendo imprescindível o acompanhamento de profissional habilitado para prevenção de complicações, orientações que norteiam uma melhor qualidade de vida para as lúpicas no convívio com sua patologia. A lúpica que deseja engravidar ou esta grávida necessita de orientação contínua e sistemática para detectar oscilações, por menores que sejam, na evolução da enfermidade, cujo aspecto pode ir desde uma simples fadiga até um quadro dramático de falência renal. Por outro lado, as possíveis alterações no seu ritmo de vida, tais como uso de drogas, intercorrência de outras doenças e até internações exigem maior atenção (LOCKSHIN, 1985 apud CECIN et al 1992). 12 Contudo esta análise deve ser mais abrangente, pois a assistência da equipe de saúde para a gestação deve ser iniciada ainda no período intergestacional e pré-conceptual, de forma que a gravidez ocorra em momento ótimo da evolução da doença e acarrete os mínimos prejuízos maternos fetais (FIGUEIRÓ-FILHO et al. 2005). A atenção com qualidade e humanizada depende da provisão dos recursos necessários, da organização de rotinas com procedimentos comprovadamente benéficos, evitando-se intervenções desnecessárias, e do estabelecimento de relações baseadas em princípios éticos, garantindo-se privacidade e autonomia e compartilhando-se com a mulher e sua família as decisões sobre as condutas a serem adotadas. (BRASIL, 2005) Justificativa O interesse em desenvolver esta pesquisa surgiu a partir de um prévio contato da autora com a temática, suscitando a necessidade de aprofundar seu conhecimento sobre o processo saúde-doença da patologia em questão e sua associação com a gravidez visto que o senso comum contraindica a gravidez em lúpicas. Tendo em vista que o LES atinge principalmente mulheres em período reprodutivo, e que no Brasil são raros os estudos referentes a esta patologia, sua associação com a gravidez bem como orientações pré-gestacionais este estudo será de grande valia, podendo os profissionais de saúde utilizá-lo buscando erradicar ou diminuir uma serie de duvidas das lúpicas. Pergunta/problema Que tipo de assistência em Enfermagem deve ser prestada à lúpicas gestantes para uma melhor qualidade de vida? Objetivo Evidenciar a assistência em Enfermagem prestada à lúpicas gestantes a fim de proporcionar melhor qualidade de vida. 13 Delineamento Metodológico Para descrever o LES associado à gestação e à assistência em Enfermagem, fizemos a opção pela pesquisa bibliográfica, entendendo que este tipo de pesquisa permite apreender o objeto de estudo a partir de uma descrição histórica de material já produzido por estudiosos da área, além de aprofundar outros aspectos do referido objeto. A pesquisa bibliográfica segundo Ruiz (1996) consiste no exame de produção humana registradas em livros, artigos e documentos. “Não sendo necessariamente aquelas que reportam todas as pesquisas e revisões já publicadas sobre o tema, mas sim que conseguem sumariar e incluir as publicações realmente importantes” (VITIELO, 1998, p. 79/80). Ruiz (1996, p. 67/68) considera ainda que a leitura iniciada com o propósito de coletar material para resolver determinado problema deverá ser criteriosa e seletiva. Diante da impossibilidade de trazer para discussão todo o material existente sobre a temática, fizemos a opção em selecionar aqueles que acreditávamos importantes, apesar de reconhecermos que outros materiais bibliográficos poderiam ser eleitos por outros estudiosos desta temática. Desde que se tenha decidido que a solução de determinado problema deverá ser procurada a partir de material já elaborado, procede-se à pesquisa bibliográfica. (GIL, 2002) Este mesmo autor afirma que um dos principais objetivos que conduzem à realização de uma pesquisa bibliográfica é redefinição de um problema. Com frequência os problemas propostos são muito amplos e pouco esclarecidos. Assim, a pesquisa bibliográfica é indicada a fim de proporcionar melhor visão do problema ou torná-lo mais especifico ou, ainda, para possibilitar a construção de hipóteses, assumindo um caráter de estudo exploratório. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto, com o objetivo de permitir ao cientista o reforço paralelo na analise de suas pesquisas ou manipulação de suas informações. (MARCONI, 2004) 14 A coleta e analise de dados constituíram na identificação dos conceitos, usando-se a análise crítica da literatura destinada à verificação e construção de atributos do conceito, através de uma sistematização do processo de leitura que segundo Gil (2002) tem como objetivos: a) Identificar informações e os dados constantes do material impresso; b) Estabelecer relações entre as informações e os dados obtidos com o problema proposto e; c) Analisar a consistência das informações e dados apresentados pelos autores. Gil (2002) diz que a leitura exploratória é uma leitura rápida do material bibliográfico, que tem por objetivo verificar em que medida a obra consultada interessa à pesquisa, também relata que só é capaz de realizar uma leitura exploratória adequada quem possuir sólidos conhecimentos acerca do assunto tratado. De acordo o objetivo proposto, trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório. Para Marconi (2004) as pesquisas exploratórias, as que habitualmente realizam os pesquisadores sociais preocupados com a atuação prática. Estas pesquisas têm como objetivo de fazer com o autor familiarizar-se com o problema permitindo criação de novas ideias e aperfeiçoamento na construção de hipóteses. Concordando, Marconi (2004) complementa afirmando que antes da leitura exploratória existe a leitura de reconhecimento ou previa, que visa procurar um assunto de interesse ou verificar a existência de determinadas informações. Após a leitura exploratória procedeu-se a sua seleção, sendo mais profunda, mas não sendo definitiva, onde por varias vezes se fez necessário uma releitura para que pudéssemos responder indagações que surgiam durante o estudo. A leitura analítica foi feita a partir dessa seleção, onde Gil (2002) refere que a leitura analítica busca ordenar e sumariar as informações contidas nas fontes, de forma que estas possibilitem a obtenção de respostas ao problema da pesquisa. 15 Marconi (2004) diz que à medida que o pesquisador tem em mãos as fontes de referencia, deve transcrever os dados em fichas, com o máximo de exatidão e cuidado. Fechando a etapa do processo de leitura, foi feita interpretação dos textos, buscando, de forma mais complexa, relacionar o conteúdo bibliográfico com o problema para o qual se propõe uma solução. Após as etapas de leitura e classificação de acordo com as semelhanças passou-se a redação do estudo, dividindo-o em partes: pré, textuais e pós textuais, contendo introdução referencial teórico – dividido em subcapítulos – conclusão, referencias a partir da delimitação do objetivo. A amostra foi determinada pelo critério de saturação de dados, ou seja, os instrumentos de pesquisa foram analisados até o momento em que os dados coletados começaram a se repetir. Estrutura do trabalho As unidades temáticas foram definidas de acordo com o objetivo, sendo agrupadas de acordo com sua familiaridade em termos de sistematizar a literatura sobre o LES, a gestação e assistência em Enfermagem para as lúpicas gestantes. Após o processo de leitura do material selecionado para o estudo e tomando como referência o objetivo definido para o estudo identificamos as unidades temáticas seguintes: Gestação, nesta destacamos os conceitos estabelecidos exemplificando critérios que definem grupos chamados de gestantes de alto risco. Lúpus Eritematoso Sistêmico, focalizando definições e fatores que caracterizam o portador do LES, a epidemiologia, etiologia e fisiopatologia, assim como sintomas característicos. Gravidez em lúpicas, caracterizando os problemas enfrentados na gravidez a partir das síndromes que envolvem esse período. 16 Assistência em Enfermagem, abordando os cuidados atualmente indicados para as lúpicas gestantes a fim de promover uma boa qualidade de vida. 17 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. Gestação A gestação é um fenômeno fisiológico e, por isso mesmo, sua evolução se dá, na maior parte dos casos, sem apresentar variações ou anormalidades. Apesar disso, há uma parcela de gestantes que, por terem características específicas ou por sofrerem algum agravo, apresenta maiores probabilidades de evolução desfavorável, tanto para o feto como para a mãe. Essa parcela constitui o grupo chamado de “gestantes de alto risco”. (BRASIL, 2000) Por gestação de alto risco entende-se como sendo aquela na qual a vida ou a saúde da mãe e/ou do feto tem maiores chances de ser atingida por complicações que a média das gestações. (BRASIL, 2000) É importante ressaltar que durante toda a gestação podem ocorrer complicações que tornam uma gestação normal em gestação de alto risco. Por isso, logo no início do pré-natal, e durante toda a gestação, deve-se proceder a uma “avaliação de risco” das gestantes de modo a identificá-las no contexto amplo de suas vidas e mapear os riscos a que estão expostas. (BRASIL, 2000) 2.2. Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 2.2.1. Definição Em 1851, o médico Pierre Lazenave observou pessoas que apresentavam “feridinhas” na pele, como pequenas mordidas de lobo, daí a denominação de Lúpus Eritematoso. Em 1895, o médico canadense Sir Willian Osler caracterizou melhor o envolvimento das várias partes do corpo adicionando a palavra “sistêmico” à descrição dessa doença. Enfim, a nomenclatura do Lúpus Eritematoso Sistêmico, conforme Wallace (2000), apresenta os seguintes significados: Lúpus = Lobo, Eritematoso = Vermelhidão, Sistêmico = Todo. Segundo Sato (1999 apud ARAUJO, 2004), é a combinação desses fatores em pessoas geneticamente predispostas que pode gerar um desequilíbrio no 18 sistema imunológico, favorecendo assim o surgimento do lúpus. O LES é uma doença de etiologia desconhecida, na qual células e tecidos são danificados por anticorpos patogênicos e complexos antígenos-anticorpos. O desenvolvimento da doença é desencadeado por fatores hormonais e ambientais como infecções, uso de antibióticos, exposição aos raios ultravioleta, estresse excessivo e alguns medicamentos. 2.2.2. Epidemiologia LES é uma doença rara, incidindo mais freqüentemente em mulheres jovens, ou seja, na fase reprodutiva, numa proporção de nove a dez mulheres para um homem, e com prevalência variando de 14 a 50/100.000 habitantes, em estudos norte-americanos. A doença pode ocorrer em todas as raças e em todas as partes do mundo. De acordo com Shafer et al. (1987), o LES é mais freqüente em mulheres e o pico da idade para o início dessa doença é de 30 anos, aproximadamente, enquanto que para os homens é de 40 anos de idade. Assim sendo, vários pesquisadores acreditam na possibilidade do LES ser herdado. Noventa por cento dos casos ocorrem em mulheres, habitualmente em idade fértil, porém crianças, homens e idosos também podem ser afetados (HARISSON; RANDOLPH, 1992). Os hormônios sexuais parecem exercer uma influência importante na ocorrência e manifestações do LES. Durante os anos de reprodução, a freqüência é dez vezes maior em mulheres e a exacerbação da doença foi observada durante a menstruação e a gravidez normais (COTRAN et al., 2000). Além disso, Rangel et al. (2002) sugere que o uso irrestrito de esteróides sexuais, como a testosterona, representa um importante fator para o desenvolvimento de doenças auto-imunes, em especial, o LES. 2.2.3. Etiologia e fisiopatologia O LES é uma doença caracterizada pelo surgimento de anticorpos contra constituintes próprios, estando o seu defeito fundamental em uma falha nos 19 mecanismos reguladores que suprimem a auto tolerância (HARISSON; RANDOLPH,1992). A hipótese de “clonagem proibida” sugere uma explicação plausível para tal condição patológica. É possível que alguns pacientes que necessitem de uma regulação homeostática adequada, permitam a supervivência de muitas células modificadas (clonagem proibida) nascidas por mutação no tecido linfóide. As células mutadas causam lesão celular e as células lesadas liberam mais antígenos, estimulando as células mutadas reativas para que se proliferem, criando, assim, um círculo vicioso. (COTRAN et al.,2000). Cabe supor que qualquer célula do corpo, que experimente destruição por envelhecimento, fornecerá combustível antigênico para desencadear uma reação imunológica plenamente desenvolvida na presença de uma célula mutada reativa apropriada. A regulação homeostática fraca poderá depender de predisposição genética. Os pacientes com esta doença, normalmente possuem parentes próximos com alguma doença que envolve o colágeno (COTRAN et al.,2000). Conforme Wallace (2000), dentre os fatores ambientais envolvidos na etiologia desta doença, destacam-se determinados medicamentos como a hidralazina, a procainamida, a D-penicilamina e a hidrazida, as quais podem induzir uma resposta LES-símile. Infecções virais, segundo Wallace (2000), poderiam levar a uma ativação policiclonal sustentada dos linfócitos B nos indivíduos com predisposição genética para tal, provocando uma produção de anticorpos em pacientes susceptíveis. Desta maneira, o próprio vírus da hepatite C (HCV) poderia facilitar o surgimento ou modificar a história natural do LES. Marguerite Ambrose (2007) acredita que entre fatores que contribuem para o surgimento do LES estão: estresse físico e mental, infecções estreptocócicas, exposição à luz solar ou luz ultravioleta, gestação e o metabolismo anormal de estrogênio. 2.2.4. Sintomatologia 20 O LES afeta órgãos e importantes como os rins, o coração, os pulmões e as articulações, podendo ser fatal devido às complicações nefrológicas e hematológicas. Suas lesões podem apresentar prurido ou ardência bem como áreas de hiperpigmentação (Shafer et al. 1987). Em seus estudos, Keiserman (2001) verificou que, no LES, as manchas eritematosas planas ou elevadas podem aparecer em qualquer parte do corpo e ser proeminentes ou unicamente localizadas em áreas expostas à luz. A lesão inicia-se com uma escamação sobre a mancha eritematosa. Com o passar do tempo, a zona central atrofia e a pele perde a cor, ficando uma cicatriz que pode ser bastante desagradável. Autor acima ainda firma que a sintomatologia do LES compreende dores nas juntas, febre acima de 38º C, tendinite, artrite, fadiga extrema ou prolongada, mal estar, falta de apetite, emagrecimento, inflamações cutâneas, anemia, dor no tórax ao inspirar profundamente (pleurite), erupções no nariz e no malar, queda de cabelo, fenômeno de Raynoud (pontas dos dedos ficam azuis ou esbranquiçadas), convulsões, irritabilidade, enxaqueca, depressão, choro fácil, psicose, miosite e ulcerações no nariz e na língua. Podendo-se observar também eritema e ceratose na mucosa bucal, sendo estas importantes para o diagnóstico da referida patologia (KOSMINSKI, 1988). Marguerite Ambrose (2007) relata que existem achados físicos como envolvimento articular, semelhante ao da artrite reumatoide, erupção eritematosa no formato de asa de borboleta, clássica, no nariz e nas bochechas em menos de 50% das lúpicas, vasculite, possivelmente provocada por infarto, ulceras necróticas nas pernas ou gangrena digital, como também aumento de linfonodos. Liang et al.(15) estudaram aspectos psicológicos dos portadores do LES, utilizando entrevistas estruturadas e testes padronizados para avaliação de personalidade, encontrando os seguintes resultados: A perda de função física, de independência e de interação social foram os temas mais levantados nas entrevistas. Foram relatadas, também, relações alteradas com cônjuges e familiares, sugerindo isolamento e conflitos. Entretanto, 21 para os lúpicos as questões emergentes foram: receio de morte, fadiga, interferência no planejamento familiar e gravidez, alterações da aparência desencadeadas pela doença ou pelo uso de corticosteroides e necessidade de prevenção dos raios solares. Observou-se, ainda, neste estudo, que os dois grupos tinham escores elevados para hipocondria, depressão e histeria. Podendo também está associada à corticoterapia a psicose é resposta ao comprometimento imunológico do LES. Alterações do humor, déficit de memoria, atenção raciocínio e aprendizado, como também ansiedade são vistas nas lúpicas, devendo ser integralmente avaliados, sendo traçado plano de cuidados por um especialista. 2.3. Gravidez em lúpicas Enquanto patologia de acometimento sistêmico, o LES provoca alterações sobre a homeostasia do organismo materno, podendo-se esperar que ocorram complicações maternas e fetais no curso gestacional. As conseqüências para a gestação são representadas por altos índices de perdas fetais, parto pré-termo, e restrição de crescimento intra-uterino. Múltiplos fatores podem ser identificados para este menor sucesso gestacional, entre eles atividade do LES durante a gravidez, nefropatia prévia, hipertensão materna, e positividade para anticorpos antifosfolipídios (CORTES-HERNANDEZ, 2002 apud FIGUEIRÓ-FILHO et al., 2005). Os problemas enfrentados na gravidez de lúpica são idênticos àqueles de outras nefropatias e cardiopatias. O maior número de mortes maternas e fetais coincide com os casos em que a gravidez ocorreu com a doença ativa, sendo que as nefropatas e cardiopatas têm pior prognóstico: gravidez tormentosa, maior incidência de toxemia, prematuridade e abortos espontâneos (20 a 30%) (CECERE 1981, apud MOREIRA; CARVALHO, 1992). A nefropatia lúpica associa-se à alta incidência de mortalidade fetal e ao agravamento de suas lesões na gestante. A deterioração da função renal durante a gravidez exige terapêutica mais agressiva, pois a nefrite lúpica, especialmente em casos de insuficiência renal, aumenta o risco de perda fetal. Há relatos de que a gravidade destas alterações renais esteja relacionada ao aumento de anticorpos anti 22 DNA-circulantes. Muitas dessas gestações vão a termo, apesar de freqüentemente ocorrerem prematuridade e baixo peso (CECERE 1981, apud MOREIRA; CARVALHO, 1992). Quando há envolvimento lúpico renal com hipertensão durante a gestação, pode ser extremamente difícil à diferenciação com pré-eclâmpsia, principalmente em casos com envolvimento do sistema nervoso central em que podem aparecer convulsões. Além disso, pré-eclâmpsia é muito mais comum na paciente lúpica, numa incidência de até 32% (SKARE, 1999). A síndrome de anticorposantifosfolipídios (SAAF) é uma trombofilia autoimune adquirida, na qual ocorrem trombose, abortos recorrentes, doença neurológica e (ocasionalmente) trombocitopenia, associada com a presença de anticorpos anti-fosfolipídios. A principal manifestação da síndrome é trombose venosa ou arterial e perdas gestacionais recorrentes (DUARTE, 2003 apud FIGUEIRÓ-FILHO et al, 2005). Para Meyer (2004, apud FIGUEIRÒ-FILHO et al, 2005) o comprometimento fetal mais conhecido decorrente de mães lúpicas é a Síndrome do Lúpus Neonatal (SLN), que é um distúrbio raro que atinge exclusivamente recém-nascidos de mães com anticorpos anti-Ro (SSA) e/ou anti-La (SSB), sendo considerado um modelo de auto-imunidade adquirida passivamente. O SLN consiste numa síndrome caracterizada pela presença de lesões de pele semelhantes à do lúpus eritematoso sistêmico, alterações hematológicas, sorológicas e bloqueio atrioventricular ligados aos anticorpos SSA-Ro e SSB-La (KOSMINSKI, 1988). 2.3.1. Diagnóstico O diagnóstico do LES é realizado através da associação de dados clínicos e laboratoriais. Quando as manifestações clínicas são insuficientes, exames antigos com alterações podem representar manifestações da doença (KEISERMAN, 2001). É necessária a presença de quatro ou mais dos 11 critérios a seguir: erupção malar (“em asa de borboleta”), exantema discóide, fotossensibilidade, 23 úlceras orais, artrite, serosite, doença renal, doença neurologia, distúrbios hematológicos, fator antinuclear (FAN) positivo e anormalidades imunológicas (p.ex., anticorpo anti-DNA de duplo filamento nativo ou anti-Sm ou teste sorológico falso positivo para sífilis) (TIERNEY; SAINT; WHOOLEY, 2000). 2.3.2. Resultados de exames Marguerite Ambrose (2007) reúne informações valiosas a cerca de diagnostico a partir dos achados: Laboratoriais: Hemograma completo com contagem diferencial revela redução da leucometria, da plaquetometria e elevação da velocidade de hemossedimentação; a eletroforese sérica revela hipergamaglobulinemia; Testes para ANA e célula do LES são positivos na maioria das clientes; Urinálise revela hemácias, leucócitos, cilindros, sedimento e perda significativa de proteínas (superior a 3,5g em 24h); Exames de sangue mostram diminuição dos níveis séricos de complemento (C3 e C4) indicando doença ativa; Leucopenia, trombocitopenia também são encontradas durante a doença ativa; leve e anemia O nível de proteína C encontra-se elevado durante exacerbações; O fator reumatóide é positivo em 30% a 40% dos clientes. Técnicas de imagem: Radiografias de tórax podem revelar pleurisia ou pneumonite lúpica; Procedimentos diagnósticos: O envolvimento do SNC pode contribuir para resultados anormais do EEG em cerca de 70% dos clientes; O ECG pode revelar um defeito de condução se houver envolvimento cardíaco ou pericardite; A biopsia renal mostra evolução do LES e a extensão do envolvimento renal; 24 A biopsia de pele mostra imunoglobulina e deposição de complemento na junção dermoepidermica em 90% dos clientes. Roth (2002, apud GOMESI et al, 2004), em seus estudos, afirma que um novo teste de diagnóstico, o teste anticorpo anti-SR, poderá ser um adicional para o diagnóstico do LES. Tal exame é baseado na presença das proteínas SR como biomarcadores para o LES já que, grande parte dos lúpicos, produzem anticorpos para estas proteínas. Dessa forma, 20% dos pacientes lúpicos, que não produzem os anticorpos detectados pelos exames existentes, poderá ser diagnosticado. 2.4. Assistência em Enfermagem Entende-se por avaliação pré-concepcional a consulta que o casal faz antes de uma gravidez, objetivando identificar fatores de risco ou doenças que possam alterar a evolução normal de uma futura gestação. Constitui, assim, instrumento importante na melhoria dos índices de morbidade e mortalidade materna e infantil. (BRASIL, 2005) Uma atenção pré-natal e puerperal de qualidade e humanizada é fundamental para a saúde materna e neonatal. A atenção à mulher na gravidez e no pós-parto deve incluir ações de prevenção e promoção da saúde, além de diagnóstico e tratamento adequado dos problemas que ocorrem neste período. (BRASIL, 2005) Marguerite Ambrose (2007) em suas escritas define padrões que devem ser monitorizados constantemente: Sinais e sintomas de envolvimento de órgão, urina, fezes e secreções GI à procura de sangue, couro cabeludo quanto à perda de cabelo, e a pele e as mucosas quanto à petéquias, sangramento, ulceração, descoloração e equimoses, resposta ao tratamento, complicações, estado nutricional, mobilidade articular e atividade convulsiva. A assistência como um todo, deve ser oferecida a fim de buscar estabilidade clinica das lúpicas, devendo permitir o autocuidado, pois a paciente passará também a ter papel fundamental no processo de saúde e doença, fomentando na melhora da sua qualidade de vida. 25 Esse cuidado conduz a compreensão de homem e vai ao encontro das suas necessidades básicas, tanto na saúde como na doença. Destina-se a auxiliar o individuo a alcançar e manter a saúde. Para um trabalho eficiente [...] deve ter preparo cientifico aliado a habilidades e atitudes adequadas (MCCLAIN, 1989, apud FIGUEIRÒ-FILHO et al, 2005). A gestação em lúpicas é denominada de alto risco necessitando de assistência não só da Enfermagem, mas de toda equipe multidisciplinar desde a concepção até o puerpério devido ao risco de reagudização. O tratamento do LES engloba uma série de medidas, entre medicamentos e normas para se viver bem. Assim, pacientes lúpicos, devido à fotossensibilidade ou à presença de manchas, devem evitar exposição ao sol e fazer sempre o uso de filtros solares. Devido ao comprometimento articular, essas estruturas devem ser bem cuidadas evitando lesões. Os exercícios físicos devem fazer parte desta etapa (NEVILLE et al., 1998). Além disso, Randam (2002), em seus estudos, relata que os pacientes lúpicos devem evitar substâncias que desencadeiam episódios ou agravam os já existentes. As sulfas, os anticoncepcionais orais e as penicilinas podem disparar a doença, devendo, assim, ser evitados. O álcool e o fumo são prejudiciais a qualquer pessoa, mas, no caso do LES, deve-se principalmente evitar a interação do álcool com sedativos e anti-histamínicos, e com o fumo, no caso de comprimento pulmonar (WALLACE, 2000). Na condição sistêmica os medicamentos mais utilizados são, de acordo com Tierney, Saint e Whooley (2000): Os corticosteroides e azatioprina, metotrexato, ou micofenolato micofetil. Os AINEs (anti-inflamatórios não esteroides, como a aspirina e a dipirona); os antimaláricos, no controle de artrite e problemas de pele (cloroquina e hidroxicloroquina) e os imunossupressores são também utilizados no tratamento desta enfermidade, embora haja controvérsias sobre o uso dos imunossupressores em função de seus grandes efeitos colaterais. 26 A terapêutica do LES é fundamentalmente, constituída por glicocorticosteróides e imunossupressores. Tais drogas podem diminuir o numero de linfócitos no sangue circulante do recém-nascido e proporcionar redução das dimensões do timo. Os corticosteroides de escolha, durante a gravidez, devem ser a prednisolona, prednisona e a hidrocortisona, que podem ser inativados pelas enzimas placentárias (PIMENTEL, 1986). 27 3. ANÁLISE E DISCUSSÃO 3.1. Curso do LES Existe um grupo de gestantes que por possuir características próprias ou por passar por certos agravos tem maior probabilidade de desenvolvimento não favorável tanto para mãe como para o feto, chamamos esse grupo de “gestantes de alto risco”. (BRASIL, 2000) O autor abaixo demonstra os agravos que fazem com que a lúpica seja incluída neste grupo, quando afirma a patogenicidade sofrida, complementando as informações acima já que o LES atinge funções e órgãos essenciais como pulmões, coração, articulações e rins, tendo letalidade associada às complicações hematológicas e renais. Segundo Sato (1999, apud ARAUJO, 2004), o LES é uma doença de etiologia desconhecida, na qual células e tecidos são danificados por anticorpos patogênicos e complexos antígenos-anticorpos. O desenvolvimento da doença é desencadeado por fatores hormonais e ambientais como infecções, uso de antibióticos, exposição aos raios ultravioleta, estresse excessivo e alguns medicamentos. A hipótese de “clonagem proibida” sugere uma explicação plausível para tal condição patológica. É possível que alguns pacientes que necessitem de uma regulação homeostática adequada, permitam a supervivência de muitas células modificadas (clonagem proibida) nascidas por mutação no tecido linfoide. As células mutadas causam lesão celular e as células lesadas liberam mais antígenos, estimulando as células mutadas reativas para que se proliferem, criando, assim, um círculo vicioso. (COTRAN et al.,2000). Os autores evidenciam a destruição causada pelo LES, uma vez que as células alteradas tendem a um comprometimento sistêmico. Pois afetam órgãos e sistemas fundamentais ao bem estar das lúpicas. Keiserman (2001) verificou que a sintomatologia do LES compreende dores nas juntas, febre acima de 38º C, tendinite, artrite, fadiga extrema ou prolongada, mal estar, falta de apetite, emagrecimento, inflamações cutâneas, anemia, dor no tórax ao inspirar profundamente (pleurite), erupções no nariz e no malar, queda de cabelo, fenômeno de Raynoud (pontas dos dedos ficam azuis ou 28 esbranquiçadas), convulsões, irritabilidade, enxaqueca, depressão, choro fácil, psicose, miosite e ulcerações no nariz e na língua. Marguerite Ambrose (2007) relata que existem achados físicos como envolvimento articular, semelhante ao da artrite reumatoide, erupção eritematosa no formato de asa de borboleta, clássica, no nariz e nas bochechas em menos de 50% dos lúpicos, vasculite, possivelmente provocada por infarto, ulceras necróticas nas pernas ou gangrena digital, como também aumento de linfonodos. Muitos autores descrevem sintomas clássicos do LES, exemplificando o quanto é mórbido e agressivo para as lúpicas no que diz respeito aos riscos que estão sujeitas. 3.2. Gravidez em lúpicas Enquanto patologia de acometimento sistêmico, o LES provoca alterações sobre a homeostasia do organismo materno, podendo-se esperar que ocorram complicações maternas e fetais no curso gestacional. As consequências para a gestação são representadas por altos índices de perdas fetais, parto pré-termo, e restrição de crescimento intra-uterino. Múltiplos fatores podem ser identificados para este menor sucesso gestacional, entre eles atividade do LES durante a gravidez, nefropatia prévia, hipertensão materna, e positividade para anticorpos anti-fosfolipídios (CORTESHERNANDEZ, 2002 apud FIGUEIRÓ-FILHO et al., 2005). Como dito anteriormente, a lúpica tem em sua nomenclatura o “alto risco” já que sua vida ou a saúde como também do seu feto tem maiores chances de ser acometida por complicações do que gestações de pacientes não lúpicas. Durante os anos de reprodução, a frequência é dez vezes maior em mulheres e a exacerbação da doença foi observada durante a menstruação e a gravidez normais (COTRAN et al., 2000). O maior número de mortes maternas e fetais coincide com os casos em que a gravidez ocorreu com a doença ativa, sendo que as nefropatas e cardiopatas têm pior prognóstico: gravidez tormentosa, maior incidência de toxemia, prematuridade e abortos espontâneos (20 a 30%) (CECERE 1981, apud MOREIRA; CARVALHO, 1992). A estatística comprova o risco que a associação do LES tem com a gestação, tendo significativa expressão no que tange às perdas fetais e índice de agudização relacionado ao sistema circulatório. 29 Além disso, pré-eclâmpsia é muito mais comum na paciente lúpica, numa incidência de até 32% (SKARE, 1999). Assim como o tratamento anti-hipertensivo pode causar redução de fluxo sanguíneo placentário, pode levar também ao abortamento devido a trombos na circulação placentária causados pelos anticorpos antifosfolipídios. Para Meyer (2004, apud FIGUEIRÒ-FILHO et al, 2005) o comprometimento fetal mais conhecido decorrente de mães portadoras de LES é a Síndrome do Lúpus Neonatal (SLN), que é um distúrbio raro que atinge exclusivamente recém-nascidos de mães com anticorpos anti-Ro (SSA) e/ou anti-La (SSB), sendo considerado um modelo de autoimunidade adquirida passivamente. O autor abaixo evidencia também a sintomatologia da SLN, motivo que redobra à atenção na assistência em Enfermagem em relação ao feto, buscando diminuir os riscos desses sinais observando a atividade do LES e toxicidade dos medicamentos de uso contínuo. O SLN consiste numa síndrome caracterizada pela presença de lesões de pele semelhantes à do lúpus eritematoso sistêmico, alterações hematológicas, sorológicas e bloqueio atrioventricular ligados aos anticorpos SSA-Ro e SSB-La (KOSMINSKI, 1988). Nas ultimas décadas estudos sob ponto de vista dos distúrbios imunológicos do LES nortearam uma melhora no tratamento permitindo aumento da longevidade e qualidade de vida repercutindo na possível chance de gravidez já que a fertilidade não é afetada nas lúpicas. 3.3. Assistência prestada ás lúpicas no período gestacional A assistência em Enfermagem busca facilitar através do conhecimento teórico pratico a habilidade para desempenhar atividades rotineiras, adequações de comportamento a fim de precaver-se de possíveis perdas funcionais para que a lúpica possa prosseguir com sua vida normal. Entende-se por avaliação pré-concepcional a consulta que o casal faz antes de uma gravidez, objetivando identificar fatores de risco ou doenças que possam 30 alterar a evolução normal de uma futura gestação. Constitui, assim, instrumento importante na melhoria dos índices de morbidade e mortalidade materna e infantil.(BRASIL, 2005) É necessária a presença de quatro ou mais dos 11 critérios a seguir: erupção malar (“em asa de borboleta”), exantema discoide, fotossensibilidade, úlceras orais, artrite, serosite, doença renal, doença neurologia, distúrbios hematológicos, fator antinuclear (FAN) positivo e anormalidades imunológicas (p.ex., anticorpo anti-DNA de duplo filamento nativo ou anti-Sm ou teste sorológico falso positivo para sífilis) (TIERNEY; SAINT; WHOOLEY, 2000). Por isso, logo no início do pré-natal, e durante toda a gestação, deve-se proceder a uma “avaliação de risco” das gestantes de modo a identificá-las no contexto amplo de suas vidas e mapear os riscos a que estão expostas.(BRASIL, 2000) Marguerite Ambrose (2007) em suas escritas define padrões que devem ser monitorizados constantemente: Sinais e sintomas de envolvimento de órgão, urina, fezes e secreções GI à procura de sangue, couro cabeludo quanto à perda de cabelo, e a pele e as mucosas quanto à petéquias, sangramento, ulceração, descoloração e equimoses, resposta ao tratamento, complicações, estado nutricional, mobilidade articular e atividade convulsiva. Em geral essa assistência é sintomática. Obedecendo a critérios para cada individuo, levando em consideração sua condição social, mental e física. Marguerite Ambrose (2007) divulgou intervenções que devem ser aplicadas na terapêutica do LES para promover desfechos satisfatórios para o cliente. O bom relacionamento entre a equipe de Enfermagem e a paciente lúpica onde a forma de abordagem é coerente e de fácil compreensão é consideravelmente relevante para adaptação biopsicossocial que a doença exige. O tratamento do LES engloba uma série de medidas, entre medicamentos e normas para se viver bem. Assim, pacientes lúpicos, devido à fotossensibilidade ou à presença de manchas, devem evitar exposição ao sol e fazer sempre o uso de filtros solares. Devido ao comprometimento articular, essas estruturas devem ser 31 bem cuidadas evitando lesões. Os exercícios físicos devem fazer parte desta etapa (NEVILLE et al., 1998). Além disso, Randam (2002), em seus estudos, relata que os pacientes devem evitar substâncias que desencadeiam episódios ou agravam os já existentes. As sulfas, os anticoncepcionais orais e as penicilinas podem disparar a doença, devendo, assim, ser evitados. O álcool e o fumo são prejudiciais a qualquer pessoa, mas, no caso do LES, deve-se principalmente evitar a interação do álcool com sedativos e anti-histamínicos, e com o fumo, no caso de comprimento pulmonar (WALLACE, 2000). Uma atenção pré-natal e puerperal de qualidade e humanizada é fundamental para a saúde materna e neonatal. A atenção à mulher na gravidez e no pós-parto deve incluir ações de prevenção e promoção da saúde, além de diagnóstico e tratamento adequado dos problemas que ocorrem neste período. (BRASL, 2005) A humanização diz respeito à adoção de valores de autonomia e protagonismo dos sujeitos, de corresponsabilidade entre eles, de solidariedade dos vínculos estabelecidos, de direitos dos usuários e de participação coletiva no processo de gestão. 32 4. APROXIMAÇÕES CONCLUSIVAS O LES se manifesta preferencialmente em jovens, em idade fértil, devido a isso a gestação pode acontecer, este estudo demonstra a importância da associação com o ciclo concepcional-gravídico-puerperal, já que essa junção carece de intensa atenção da equipe de Enfermagem a fim de diminuir o risco de complicações para mãe e filho. É notório que a gestação pode modificar o ciclo do LES assim como o LES pode alterar o curso gestacional. Foi evidenciado a partir desta pesquisa que o desejo de gerar filhos, a gestação na vigência de uma doença sistêmica, a terapêutica da enfermidade durante a gravidez e suas possíveis repercussões sobre o feto, a evolução e o desfecho da gestação são problemas apresentam-se habitualmente diante da equipe que acompanha a lúpica, exigindo experiência profissional, compreensão e, sobretudo, sólida relação afetiva entre paciente e equipe, no sentido de determinar o momento ideal para a concepção. O profissional de Enfermagem deve ter conhecimento teórico, ser consciente quanto às orientações que serão dadas, a fim de transmitir tranquilidade para essa gestante, estando incumbido de atender as necessidades. É possível afirmar a partir deste estudo que o principal objetivo da assistência em Enfermagem pré-concepcional, pré-natal e puerperal é acolher a mulher desde o início da gravidez, assegurando conhecer o LES, as manifestações clínicas, diagnóstico, tratamento e associá-lo com o ciclo grávido-puerperal além de prevenir complicações, ainda garantem melhor qualidade de vida para as pacientes no convívio com sua patologia. Esta pesquisa conclui-se que a evolução do conhecimento em reumatologia vem mostrando, ao contrário do que outrora se pensara, que o LES não deve ser entendido como uma limitação à gestação. A melhor caracterização de fatores prognósticos e o entendimento de determinados mecanismos fisiopatológicos permitem o desenvolvimento de estratégias de prevenção e abordagem da morbidade materna e fetal em gestações de lúpicas. 33 Sabendo-se que a concepção não necessariamente agrava a doença, este estudo permitiu que se entendesse que a monitorização clínica, o tratamento adequado e principalmente o planejamento são artifícios eficazes que a Enfermagem tem hoje, para garantir às lúpicas seu direito natural à maternidade. 34 5. REFERÊNCIAS AMBROSE, MARGUERITE Doenças: da sintomatologia ao plano de alta/ [colaboradoras e consultoras Marguerite Ambrose... et al.]: traduzido por Roxane Jacobson; revisão técnica Maria de Fatima Azevedo. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007 ARAUJO, A.A. A doença como ponto de mutação: os processos de significação em mulheres portadoras de lúpus eritematoso sistêmico. 2004. Dissertação (Mestrado)- Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal. Disponível em http://bdtd.bczm.ufrn.br/tedesimplificado/tde_arquivos/1/TDE-2006-05-05T045204Z16/Publico/AdrianaDA.pdf. Acesso em 05 maio 2007. BEZERRA, E.L.M et al. Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES): Perfil ClínicoLaboratorial dos Pacientes do Hospital Universitário Onofre Lopes (UFRNNatal/Brasil) e Índice de Dano nos Pacientes com Diagnóstico Recente. Rev BrasReumatol, v.45, n. 6, nov/dez. 2005. BRASIL, Ministério da Saúde – Manual Técnico da Gestação de Alto Risco / Secretaria de Políticas, Área Técnica da Saúde da Mulher. _ Brasília : Ministério da Saúde, 2000. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada – manual técnico/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas – Brasília: Ministério da Saúde, 2005. CECIN, H.A et al. Intercorrências do lúpus eritematoso sistêmico com o ciclo grávido puerperal. Rev Bras Reumatol, v.32, n. 2, mar/abr. 1992. COTRAN, R.F et al. Patologia Estrutural e Funcional. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. FIGUEIRÓ-FILHO, E.A et al. Lúpus Eritematoso Sistêmico e Gestação. Femina, v.33, n. 6, junho, 2005. GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. GOMESI, D.Q.C et al. LÚPUS ERITEMATOSO: UMA REVISÃO LITERÁRIA. Disponível em:< http://www.patologiaoral.com.br/texto82.asp>. Acesso 06 de maio 2007. HARISSON, RANDOLPH T. Medicina Interna. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1992. KEISERMAN, M.W. Lúpus Eritematoso Sistêmico. 2001. Disponível em:<http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?277> Acesso em 25 abril 2007. KOMINSK, S, FREITAS, G.G. Doença do Tecido Conjuntivo e Gravidez. Arq Bras Med, v.62, 1998. 35 LIANG MH, Rogers M, LARSON M, et al: The psychosocial impact of systemic lupus erythematosus and rheumatoid arthritis. Arthritis Rheum 27: 13-9, 1984. MARCONI, M.A, LAKATOS, E.M. Metodologia Cientifica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004. MOREIRA, C., CARVALHO, M.A.P. Lúpus eritematoso sistêmico e gravidez: atualização de conceitos. Rev Bras Reumatol, v.22, n. 4, agosto, 1982. NEVILLE, B.W et al. Patologia Oral & Maxilofacial. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. PIMENTEL, M.L. Comportamento do lúpus eritematoso sistêmico no ciclo grávidopuerperal.Rev Bras Reumatol, v.23, n. 6, nov/dez, 1986. RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica. Guia para eficiência nos estudos. 4 ed. São Paulo: Atlas. 1996. SHAFER, W.G, Hine M.K, Levy B. Tratado de Patologia Bucal. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1987. SKARE, T.L. Reumatologia: princípios e praticas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. TIERNEY, L.M, SAINT, S., WHOOLEY, M.A. Essência do Diagnóstico e Tratamento. 2. ed. Rio de Janeiro: Mc Graw Hill, 2000. VITIELLO, Nelson. Redação e apresentação de comunicações científicas. São Paulo: Byk, 1998. WALLACE, D.J. O que é Lúpus. 2000. Disponível em:<http://www.lupusonline.com.br/lupus.asp> Acesso em 06 abril 2007.