A noção de problema social A multiplicação dos «problemas sociais» é, sem dúvida, um fenómeno característico do nosso tempo. Por outras palavras: um número crescente de factos, situações e aspectos da realidade social têm vindo a ser problematizados. Para fins de análise e de acção, é útil compreender como e porque se verifica uma tal problematização. Somos assim levados a reflectir sobre o próprio conceito de «problema social» e a procurar os factores que podem favorecer, ou pelo contrário impedir, a eclosão dos problemas deste tipo numa dada sociedade. A noção de problema social O que é um problema, social ou não? O termo grego de que a palavra provém significa literalmente tarefa proposta, donde dificuldade a resolver. Todo o problema é um desafio ao homem, mas um desafio que o homem a si próprio lança porque só ele, que se saiba, põe problemas. A noção de problema social Problema social ≠ problema sociológico Muitas vezes na linguagem quotidiana empregam-se indiferentemente as expressões «problema social» e «problema sociológico» como se tivessem o mesmo significado. Trata-se duma confusão que há grande interesse em evitar porque, em rigor, é completamente distinta a natureza específica dos problemas a que cada uma dessas expressões, segundo a respectiva etimologia e o uso consagrado no vocabulário técnico das ciências sociais, melhor se ajusta. Veremos… A noção de problema social De muito diversa natureza é o problema social. A essência do problema social está na própria insatisfação experimentada ante este ou aquele aspecto da realidade social A noção de problema social Problema social é «uma situação que afecta um número significativo de pessoas e é julgada por estas ou por um número significativo doutras pessoas como uma fonte de dificuldade ou infelicidade e considerada susceptível de melhoria» IN “Dicionário de ciências sociais” Duas componentes Componente objectiva = situação Componente subjectiva = Visão da situação Problema social ≠ Problema sociológico “Um problema social é uma alegada situação incompatível com os valores de um significativo número de pessoas, que concordam ser necessário agir para a alterar”. Earl Rubington e Martin Weinberg, The Study os Social Problems – seven perspectives, Oxford University Press: Oxford and New York, 1995 ↓ Os problemas sociais estão imbuídos de um significado social ↓ O crivo científico dá-lhes significado sociológico A noção de problema social • Posição positivista e relativista face aos problemas sociais • Principais perspectivas de estudo dos problemas sociais Problema social ≠ Problema sociológico • Um problema social é uma violação de expectativas morais • As questões sociológicas derivam das preocupações sociais • Um problema social pressupõe uma solução → solução social→ Nascimento e desenvolvimento das Ciências Sociais Posição positivista e relativista face aos problemas sociais • A Sociologia positivista defende a procura de leis sociais a partir de um método indutivo-quantitativo e advoga uma separação absoluta entre a ciência e a moral → Estudam-se as causas para chegar a leis que regem o fenómeno Posição positivista e relativista face aos problemas sociais • Segundo a posição relativista não existe nenhum critério universal para o conhecimento e para a verdade. Todos os critérios são internos ao sistema e, por isso, relativos e não universais → um problema social será um rótulo colocado a determinada situação Relativismo cultural (…) para dormir os japoneses deitam a cabeça em duro cepo. No Japão considerase delicado julgar os homens mais velhos do que parecem (…). (…) O homem retira também do meio as atitudes afectivas típicas. Entre os Maoris, onde se chora à vontade , as lágrimas correm só no regresso do viajante e não à sua partida. (…) A piedade para com os velhos varia consoante os lugares e as condições económicosociais: alguns índios da Califórnia estrangulam-nos, outros abandonam-nos nas estradas. Nas ilhas Fiji os indígenas enterram-nos vivos. O respeito pelos pais sofre igualmente flutuações geográficas. O pai conserva o direito de vida e de morte em certos lugares do Togo, dos Camarões (…). Entre os Esquimós o casamento faz-se por compra. Nos Urabima da Austrália um homem pode ter esposas secundárias que são as esposas principais de outros homens. No Ceilão reina a poliandria fraternal: o irmão mais velho casa-se e os mais novos mantêm relações com a cunhada. A proibição do incesto encontra-se em todas as sociedades, mas não há duas que o definam da mesma maneira e lhe fixem de modo idêntico as determinações exclusivas. O amor e os cuidados da mãe pelos filhos desaparecem nas ilhas do estreito de Torres nas ilhas Andaman, em que o filho ou a filha são oferecidos de boa vontade aos hóspedes da família, como presentes, ou aos vizinhos, em sinal de amizade. (…) entre os Mundugumor as mães odeiam os filhos, têm horror de os alimentar e mostram a sua hostilidade até no modo de os conduzir sem os segurar, deixando-os agarrar ao seu pescoço e cair, como podem, para as costas. (…) Lucien Malson (1988) As Crianças Selvagens. Mito e Realidade, Porto: Livraria Civilização-Editora. O Processo de institucionalização do problema social • Faz-se em três dimensões: - Uma dimensão mediática - Uma dimensão associativa - Uma dimensão política (partidária, governativa e legislativa) A censura no Estado Novo 8. É expressamente proibida a narração circunstanciada por qualquer forma gráfica de publicidade de casos de vadiagem, mendicidade, libertinagem e crime ou suicídio, cometidos por menores de 18 anos, bem como de julgamentos em que sejam réus. (…) O relato de crimes ou do respectivo julgamento deve ser dado em páginas interiores e nunca com excessivo relevo. O mesmo se observará com notícias de suicídios no país ou no estrangeiro. Instruções sobre a Censura à Imprensa