UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ ÁREA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE MEDICINA SAÚDE DO ADULTO E DO IDOSO II Farmacodinâmica Farmacodinâmica É o estudo dos efeitos bioquímicos e fisiológicos dos fármacos e de seus mecanismos de ação interação bioquímica específica através da qual um fármaco produz um efeito farmacológico; “O que o fármaco faz com o organismo” Sítio de ação: local onde o fármaco atua As moléculas dos fármacos precisam exercer alguma influência química sobre um ou mais constituintes das células para produzir uma resposta farmacológica. Esses sítios de ligação “alvos farmacológicos” maioria são moléculas proteicas Alvos proteicos para a ligação de fármacos 1. Canais iônicos 2. Enzimas 3. Moléculas carregadoras (transportadores) 4. RECEPTORES 1. Canais iônicos São “portões” presentes nas membranas celulares, que seletivamente permitem a passagem de determinados íons, e que são induzidos a abrir-se ou fechar-se por uma variedade de mecanismos. Canais controlados por voltagem: são regulados por alterações no potencial transmembrana. O estímulo altera as cargas elétricas (permite a passagem das partículas). Anestésicos locais: Atuam no canal de sódio controlado por voltagem O fármaco obstrui o canal fisicamente, bloqueando a passagem de íons. 2. Enzimas Fármacos podem ativar ou inibir enzimas. O fármaco pode ainda ser um substrato falso ou um prófármaco. 3.Transportadores Incorporam um sítio de reconhecimento específicos para uma espécie particular a ser transportada Esses sítios de reconhecimento podem ser alvos para fármacos cujo efeito é bloquear o sistema de transporte. Diuréticos de alça: inibem o cotransportador Na+K+Cl- (alça de Henle) 4. RECEPTORES FARMACOLÓGICOS São moléculas de natureza proteica (geralmente), com as quais os fármacos interagem e cuja função é reconhecer os sinais químicos endógenos e responder a eles. São os elementos sensores no sistema de comunicações químicas que coordenam a função de todas as diferentes células do organismo, sendo mensageiros químicos os vários hormônios, transmissores e outros mediadores. Molécula sinalizadora + receptor Ativação do sistema efetor Resposta celular A maioria dos fármacos liga-se a um receptor para surtir um efeito. Em nível molecular, a ligação do fármaco é apenas uma primeira etapa do que frequentemente é uma complexa sequência de etapas. Localização dos receptores Superficiais: membrana plasmática efeito instantâneo Intracelulares: citosólicos ou nucleares da transcrição gênica efeito tardio regulação Duração do efeito farmacológico: Apenas enquanto o fármaco ocupa o receptor; Pode persistir após o fármaco ser dissociado (alguma molécula de acoplamento continua ativada); Quando há ligação covalente: pode persistir até que o complexo fármaco-receptor seja destruído e novos receptores ou enzimas sejam sintetizados. Características da interação fármaco-receptor Afinidade: é a capacidade de ligação do fármaco ao receptor. Atividade intrínseca: é a propriedade de gerar estímulos ao unir-se aos receptores produzindo uma resposta ou um efeito. Especificidade química: o receptor só reconhece fármacos com estrutura similar. Reversibilidade: o acoplamento é fruto de forças atrativas transitórias. Tipos de receptores Canais iônicos controlados por ligantes (receptores ionotrópicos) Receptores acoplados à proteína G (metabotrópicos) Receptores ligados a quinases Receptores nucleares Tipo 1- Canais iônicos controlados por ligantes (receptores ionotrópicos) Complexo proteico contém um canal iônico, formado pela disposição circular de várias proteínas → nessas localizam-se os sítios de ligação A presença do fármaco produz modificações conformacionais, alterando diretamente a abertura do canal Ex: receptor colinérgico nicotínico, GABAA, receptores de glutamato Ligandos naturais: - acetilcolina - serotonina - GABA - glutamato - aspartato - glicina controlam os eventos sinápticos mais rápidos do sistema nervoso Muitos fármacos agem mimetizando ou bloqueando as ações dos ligandos endógenos que regulam o fluxo de íons através dos canais. Tipo 2- Receptores acoplados à proteína G (receptores metabotrópicos ou heptaelicoidais) Uma superfamília de receptores interage com proteínas Feixe (serpentina) de sete hélices alfa proteínas G transdutoras de sinais → propagam a informação do receptor para outras moléculas → segue uma cascata de eventos celulares Proteína G 3 subunidades intracelulares (α, β e γ) Subunidade α possui atividade GTPásica (catalisa a conversão do GDP GTP). Funcionamento da proteína G Quando o trímero se liga a um receptor ocupado por um agonista, ocorre substituição do GDP por GTP na subunidade α, a qual se dissocia e fica livre para ativar um efetor. A proteína G permanece ativa até que hidrolise o GTP acoplado em GDP e volte ao seu estado original (inativo). Sistemas efetores Gs ativação da adenilato ciclase ↑ AMPc Gi inibição da adenilato ciclase ↓ AMPc Gq ativação da fosfolipase C Segundos mensageiros IP3 e DAG AMPc Regula enzimas envolvidas no metabolismo energético, divisão e diferenciação celulares, transporte de íons, canais iônicos e as proteínas contráteis no músculo liso. IP3 (trifosfato de inositol) ↑ cálcio citosólico livre (liberação de cálcio de compartimentos intracelulares) contração, secreção, ativação de enzimas e hiperpolarização de membranas DAG (diacilglicerol) Ativa a proteína quinase C (PKC), que controla muitas funções celulares. Receptor acoplado à proteína Gs e Gi Ativação e inibição da adenilato ciclase Segundo mensageiro Receptor acoplado à proteína Gq Ativação da fosfolipase C Fosfolipase C: ativação de IP3 e DAG elevação do cálcio e ativação de proteinoquinases (PKC) Exemplos: Receptor muscarínico de acetilcolina, receptores adrenérgicos, subtipos de receptores de dopamina e de serotonina... 3- Receptores ligados a quinases e receptores correlatos Grupo grande e heterogêneo Domínio extracelular de ligação do ligante conectado a um domínio intracelular por uma hélice única transmembrana. Em muitos casos, o domínio intracelular é de natureza enzimática (com atividade proteína quinase ou guanilil ciclase). Ex: receptores para muitos fatores de crescimento, citocinas, insulina A ligação do fator de crescimento leva à dimerização do receptor que ativa sua quinase (fosforilação do receptor) proteínas sinalizadoras ativação da cascata MAP-quinase ativação e transcrição de genes. Tipo 4 – Receptores nucleares Proteínas solúveis de ligação ao DNA que podem detectar lipídeos e sinais hormonais e regular a transcrição de genes específicos. Ex: Esteroides (corticosteroides, mineralocorticoides, esteroides sexuais) Vitamina D Hormônio tireoidiano Tipo 4 – Receptores nucleares Consequências terapêuticas importantes (1) Os efeitos ocorrem após 30 min até muitas horas – o tempo necessário para a síntese de novas proteínas; (2) Os efeitos podem persistir por horas ou dias após a concentração do agonista ter sido reduzida a zero enzimas e proteínas podem permanecer ativas nas células após a síntese. Com frequência, o efeito de um fármaco diminui gradualmente quando ele é administrado de maneira contínua. Tolerância: redução gradual na resposta a um fármaco, podendo levar vários dias. Necessário aumentar progressivamente a dose. Ex.: diazepam, morfina. Taquifilaxia: rápida diminuição do efeito de um fármaco em doses consecutivas (geralmente por depleção do mediador disponível). Fenômeno agudo, reversível. Vários mecanismos podem estar envolvidos: - alteração de receptores - perda de receptores - exaustão de mediadores - aumento da degradação metabólica - adaptação fisiológica Processos adaptativos dos receptores Dessensibilização ou refratariedade: Down regulation “Uso excessivo dos receptores” Inativação, internalização, síntese reduzida e destruição Tolerância (crônico) Supersensibilização: Up regulation Ativação, síntese aumentada e reposição na membrana Intolerância Ligantes dos receptores Os fármacos que atuam sobre receptores podem ser AGONISTAS ou ANTAGONISTAS. Agonistas Ligam-se à proteína receptora e provocam uma resposta. Mimetizam o efeito de ligantes endógenos. Agonista total/completo Liga-se à proteína receptora e produz resposta máxima. Agonista parcial Liga-se à proteína receptora e mimetiza o efeito biológico de ligantes endógenos, mas com menor efetividade do que os agonistas totais (provoca reposta submáxima, mesmo com ocupação máxima dos receptores – eficácia intermediária). Antagonistas Ligam-se à proteína receptora e impedem a ação do ligante endógeno; não produzem resposta. Não possuem ação estimuladora intrínseca, mas produzem efeitos úteis por meio da inibição da ação de um agonista. Exemplo de antagonismo: Os bloqueadores do receptor de acetilcolina (p. ex., atropina) são antagonistas porque evitam o acesso da acetilcolina e de fármacos agonistas semelhantes ao receptor. Esses agentes reduzem os efeitos da acetilcolina e de moléculas semelhantes no corpo. Antagonismo farmacológico Ocorre entre o agonista e seu antagonista, o antagonista reduzindo ou impedindo o efeito causado pelo agonista. Pode ser competitivo ou não-competitivo. reversível irreversível Antagonismo competitivo reversível Ambos os fármacos se ligam aos mesmos receptores. Na presença de uma concentração fixa de agonista, aumentar as concentrações de um antagonista competitivo reversível inibe progressivamente a resposta do agonista. Altas concentrações de antagonistas evitam a resposta completamente. Em contrapartida, concentrações suficientemente altas de agonista podem superar completamente o efeito de uma determinada concentração do antagonista. Pelo fato do antagonismo ser competitivo, a presença do antagonista aumenta a concentração de agonista necessária para um determinado grau de resposta e assim a curva de concentração-efeito do agonista é desviada para a direita. Antagonismo competitivo irreversível Alguns antagonistas ligam-se ao receptor de maneira irreversível ou quase que, para objetivos práticos, o receptor fica indisponível para a ligação do agonista. Após a ocupação de uma proporção de receptores por um antagonista como este, o número restante de receptores não-ocupados pode ser baixo demais para o agonista (mesmo em altas concentrações) evocar uma resposta comparável à resposta máxima anterior. Antagonismo competitivo O antagonismo competitivo reversível constitui o tipo mais comum e mais importante de antagonismo. Antagonismo não-competitivo O agonista não é mais capaz de produzir o efeito máximo, mesmo aumentando sua concentração. Antagonismo não-competitivo Também pode ser produzido por um tipo de fármaco conhecido como antagonista alostérico. Produz seu efeito ligando-se a um local do receptor que é diferente daquele usado pelo agonista primário (altera a afinidade do receptor pelo agonista). No caso do antagonismo alostérico, a afinidade do receptor pelo agonista é reduzida pelo antagonista. Curva dose-resposta Quantifica a relação entre a concentração do fármaco e o efeito biológico que ele produz. Efeito máximo A maior resposta possível de um efetor. POTÊNCIA x EFICÁCIA Potência Refere-se à dose do fármaco necessária para produzir um efeito. Dose que produz 50% do efeito máximo ↓ dose, ↑ potência Exemplo: Se 5 mg do fármaco A alivia a dor com a mesma eficiência que 10 mg do fármaco B = o fármaco A é 2x mais potente que o fármaco B. Eficácia Refere-se à resposta terapêutica máxima potencial que um fármaco pode produzir. Medida da capacidade intrínseca de um fármaco para produzir um efeito. Altura máxima da curva dose-resposta (Emáx). Exemplo: Furosemida elimina muito mais sal e água por meio da urina em relação à clorotiazida. A furosemida tem maior eficácia. •Fármaco 1 é mais potente que o 2; •Fármaco 2 é mais potente que o 3; •Fármacos 1 e 2 têm eficácia igual, mas o fármaco 3 é menos eficaz que 1 e 2. •Dois fármacos qualitativamente iguais na produção de um efeito podem ter potência diferente. •Para uso clínico, é importante distinguir entre a potência de um fármaco e sua eficácia. •A eficácia clínica de um fármaco depende não de sua potência (CE50), mas de sua eficácia máxima e de sua capacidade de atingir os receptores relevantes. •Essa capacidade pode depender de sua via de administração, absorção, distribuição através do corpo e depuração do sangue ou local de ação. •Ao decidir qual fármaco administrar a um paciente, o médico deve em geral considerar sua eficácia relativa e não sua potência relativa. Obrigada!