Desenvolvimento, Estado e Política Pública de Atendimento a Crianças e Adolescentes: Um Estudo de Caso sobre a Gestão Social das Organizações e o Fundo da Infância e Adolescência Elizabeth Aparecida da Costa Almeida Eloisa Helena de Souza Cabral Resumo Este artigo analisa o atuar de organizações cadastradas em Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente – CMDCAs que recebem recursos do Fundo da Infância e da Adolescência – FIA. Os CMDCAs foram instituídos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. São analisados referenciais teóricos que discutem desenvolvimento, Estado, ECA, CMDCAs, FIA e Organizações Sociais. A questão central é chamar a atenção para a atuação das Organizações e compreender a relação entre a aplicabilidade do recurso do FIA que se destina a garantir o financiamento de políticas públicas, programas e ações de atendimento de crianças e adolescentes. Trata-se de uma pesquisa descritiva das características das organizações que recebem recursos do FIA com técnicas padronizadas de coleta de dados, o questionário e a observação. O trabalho também foi concentrado na análise documental que incluiu materiais escritos, relatório de aplicação de recursos produzidos pelas organizações. Os resultados demonstraram que as organizações atuam em diversas áreas e o estudo aponta que as organizações fazem uso do recurso na sua grande maioria para construção, reforma ou ampliação da sede da organização. Palavras-chave: Organizações; FIA; Conselhos 1. Introdução O desenvolvimento social e a complexidade crescente dos problemas sociais continuam trazendo para a discussão contemporânea a importância da comunidade como realidade social. Nessa perspectiva, o trabalho comunitário tem sido cada vez mais importante para o desenvolvimento local, levando em conta situações que envolvam: transporte, habitação, creche, abrigos, educação, saúde, lazer, geração de trabalho e renda, ou seja, questões que revelam a possibilidade de convergência em face dos interesses e objetivos comuns. A palavra “desenvolvimento” será utilizada neste ensaio para indicar o processo de promoção da melhoria qualitativa das condições de vida da comunidade e vem associada à idéia de formação, educação e de ter direitos: civis, políticos e sociais. São direitos civis, para Marshall (1967), aqueles direitos que concretizam a liberdade, como os direitos à livre movimentação, à propriedade, à igualdade perante a lei. Eles se desdobram na garantia de ir e vir, de escolher o trabalho, de manifestar o pensamento, de organizar-se; são direitos políticos aqueles que compõem a prerrogativa de participar do poder político e seu exercício consiste na capacidade de fazer demonstrações políticas, de organizar partidos, de votar, de ser votado. Finalmente, os direitos sociais equivalem à prerrogativa de acesso ao bem-estar e segurança materiais. Incluem o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, à aposentadoria. Historicamente, as sociedades são organizadas através de organizações. As características dessas organizações, assim como seus objetivos, variam de acordo com as concepções sociais e o público a que se destinam. Nesse sentido, as organizações se articulam para a promoção do desenvolvimento político dos indivíduos e para a formação da 1 competência do ser e constituem importante alternativa para que o Estado intervenha de maneira organizada na sociedade, por meio de ações sociais, culturais ou assistenciais. Pretendemos chamar a atenção para o atuar comunitário de organizações que lidam com crianças e adolescentes conforme os princípios estabelecidos pelo artigo 90 do ECA, demonstrando a aplicabilidade do uso do recurso do FIA que destina-se a garantir o financiamento de políticas públicas de atendimento, programas e ações de atendimento de crianças e adolescentes a partir da comparação de informações contidas em relatório de aplicação do recurso apresentado, por essas organizações, a uma Empresa considerada referência no Brasil e no mundo em sustentabilidade, aqui denominada de empresa “X”. A empresa “X” busca o desenvolvimento sustentável através do equilíbrio entre os aspectos econômicos, financeiros, ambientais e sociais de seus empreendimentos, com o intuito de aprimorar o relacionamento com os acionistas, clientes, colaboradores, sociedade e demais partes interessadas. Para atender as exigências de seus públicos essa empresa desenvolve ações de responsabilidade social e estimula seus empregados para a prática do voluntariado. Como característica de todo programa de voluntariado, a empresa “X” estabeleceu que não destinaria recurso financeiro. Entretanto, para viabilizar a obtenção de recursos para programas e ações sociais em que seus empregados atuavam como voluntários criou, em 2000, o Programa de Destinação de Recursos para os CMDCAs, e passou a incentivar os empregados, através de uma campanha interna, a indicar organizações para receber destinações do Imposto de Renda, dos empregados e empresa “X”. A expectativa em torno da atuação das organizações não é a de determinar, por si só, e em curto prazo, impactos mensuráveis em resultados quantificáveis, mas registrar os avanços das organizações, colocando-se a serviço de crianças e adolescentes para tornar em políticas públicas os seus movimentos no sentido do desenvolvimento local e promoção da cidadania. Conforme Ladislau Dowbor (2007), uma das mais significativas riquezas do desenvolvimento local reside no fato de poder adequar as ações às condições diferenciadas que as populações enfrentam. Isso não significa que as políticas sociais possam se resumir à ação local. 2. Desenvolvimento 2.1. Pressupostos Teóricos sobre Desenvolvimento e Estado Hoje com a globalização, ao contrário daquilo que se pensava, fica evidente a importância do desenvolvimento, visto que cria a necessidade da formação de identidades e a organização das comunidades para enfrentarem um mundo de competitividade. A organização da comunidade para que esta desenvolva determinadas ações é fundamental. O reconhecimento dos limites e possibilidades de cada parte envolvida no contexto é um dos instrumentos que possibilita a participação do cidadão. Uma sociedade globalizada exige mudanças significativas por parte do Estado e na própria sociedade. No cenário de modernização econômica do Estado ganha força o conceito de descentralização, como estratégia para racionalizar o aparelho estatal, centralizado e burocrático. Com a descentralização, o Estado passa a transferir responsabilidade e recursos para as organizações e associações, para que as mesmas supram a demanda pública, ou seja, o conceito de desenvolvimento está relacionado ao emprego de estratégias para produzir mudança (Passador et al apud Fischer, 2002). Essa é a situação do Brasil onde temos vivido diversos ciclos de desenvolvimento nas últimas décadas, e as sociedades contemporâneas passam por um processo de 2 transformação por meio da qual as mudanças fazem emergir novos arranjos organizacionais, estimula parcerias e a chegada de novos atores para responder às necessidades que são demandadas no campo econômico, político e social. A fim de compreendermos o processo de desenvolvimento brasileiro, faremos um breve relato da nossa história, considerando Carvalho (2002) e a Situação Social Brasileira (2007) publicada pelo IPEA. Nos anos de 1950 e 1960, o governo era o grande agente da mudança. No período de 1964 a 1985, foi estabelecida a ditadura e tivemos a centralização e distribuição do poder nas mãos dos militares e da burguesia industrial. Os programas de desenvolvimento eram baseados em ajudas financeiras da União, e instituiu-se um sistema de competências concorrentes entre União, Estados e Municípios, no campo dos serviços públicos. Foram criados órgãos federais para definir e gerir as políticas de desenvolvimento e atender às demandas das prefeituras e os governos locais tornaram-se meros gestores da política central. Nos anos de 1970, o desenvolvimento brasileiro apontou para a necessidade de integração entre fatores econômicos e sociais. Em 1974 teve início a abertura política com a redução das restrições à propaganda eleitoral. Paralelamente às medidas de abertura, houve, a partir de 1974, a retomada e renovação de movimentos de oposição. Nos anos de 1980, o ajuste econômico praticamente paralisou o desenvolvimento e o país viveu o processo de fortalecimento das instituições (Situação Social Brasileira (2007:134). O país afastou-se da trajetória de crescimento econômico agravando os problemas sociais, sobretudo em relação à pobreza e desigualdade. Após a ditadura militar o Brasil passou por um período de redemocratização, havendo maior participação política da sociedade e, conseqüentemente, “avanços em direção ao fortalecimento da sociedade civil”. A partir dos anos de 1980, o país viveu o processo de fortalecimento das instituições e a retomada da economia, além disso surgiram os novos movimentos sociais. Esses movimentos enfatizam mais as diferenças étnicas, culturais, de gênero ou questões geracionais e ambientalistas do que as desigualdades de classe, tendo a perspectiva das transformações culturais e políticas substantivas a partir da cotidianidade dos atores envolvidos (Scherer-Warren, 1993, p. 17). O resultado das mobilizações foi a incorporação por parte do Estado das demandas desses grupos. Em 1988, foi promulgada a nova Constituição Federal do Brasil. A partir dela, uma série de direitos sociais foram reconhecidos, permitindo a instauração de políticas públicas que contemplassem as camadas mais pobres da população, por exemplo: a descentralização dos gastos com saúde, educação, previdência e assistência social. Na segunda metade do século XX, os movimentos sociais ganham força, vão se alterando, sob a influência de novas e profundas modificações socioculturais e políticoeconômicas, interferem nos padrões da sociedade propondo alternativas de comportamentos sexuais e políticos e de relação tanto com a natureza quanto entre culturas. Os movimentos sociais, ao longo dos anos, sofreram transformações e de acordo com Gohn (2004:6), “vários analistas diagnosticaram que eles tiveram reduzidos, nos primeiros cinco anos dos anos 1990, parte do poder de pressão direta que haviam conquistado nos anos 1980”. Os movimentos que permaneceram no cenário, ou que foram criados, tornaram-se mais qualificados, passaram a ter infra-estruturas próprias e a utilizar mais recursos tecnológicos, como computadores e internet. Em resumo, de 1980 a 2003, houve um baixo dinamismo econômico no país, um enfraquecimento da indústria de capital nacional, crescimento da taxa de desemprego e ausência de projetos de desenvolvimento econômico. (SITUAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA, 2007:134) Os dados revelam que o Brasil vem passando por transformações e em anos recentes, tem aberto oportunidades de crescimento no campo social e vivenciado um 3 desenvolvimento com crescimento econômico. De posse dos dados do relatório de Desenvolvimento Humano (2007-2008), observamos que o Brasil ficou classificado entre os países de Desenvolvimento Humano Elevado. O mesmo revela que o Brasil entra no grupo de países classificados na categoria Alto Desenvolvimento Humano, ainda que continue distante do patamar de outras nações em desenvolvimento, como Argentina, Chile, Uruguai, Costa Rica, Cuba e México. Aqui ressaltamos a contribuição de Amartya Sen (2010), para evolução do pensamento sobre desenvolvimento que incorpora uma medida que leva em conta a questão humana, e parte do pressuposto de que para aferir o desenvolvimento, devem ser consideradas ao lado da dimensão econômica, as condições sociais e culturais que influenciam a qualidade da vida humana. Estamos falando do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH. O IDH para países de desenvolvimento humano elevado está construído para comparar as metas alcançadas pelos países no que diz respeito às dimensões mais básicas de desenvolvimento humano. Assim, os indicadores utilizados presentemente no IDH produzem diferenças, muito pequenas, entre os países do topo do IDH e, portanto, o topo das classificações do IDH geralmente só reflete as diferenças muito pequenas, nos indicadores subjacentes. Para estes países de rendimento elevado, um índice alternativo – o índice de pobreza humana pode refletir melhor a extensão da privação humana que ainda existe nas populações destes países e ajudar a orientar o enfoque das políticas públicas. (RELATÓRIO, 2007-2008, p. 229). De acordo com a Situação Social Brasileira (2007), o fenômeno da pobreza constitui um dos principais problemas brasileiros a serem superados. Ele não resulta de um mero acidente dos percursos econômicos e políticos escolhidos, mas da própria dinâmica da vida em sociedade e vem se perpetuando, não obstante as profundas transformações passadas pelo país. Em anos recentes, a parcela da população que vive em condições de pobreza extrema foi favorecida pelo ambiente de expansão econômica, com melhora do mercado de trabalho e ganhos reais no salário mínimo. Dados da Situação Social Brasileira demonstram: • • Entre 2003 e 2007, observa-se que o crescimento da renda foi maior para os mais pobres e menor para os mais ricos: a taxa de crescimento da renda familiar per capita variou de 9% para os 10% mais pobres a 4% para os mais ricos; Número de pessoas pobres (em milhões) em 2006 e 2007 era de 53 e 50,6, respectivamente. O número de pessoas extremamente pobres (em milhões) em 2006 e 2007 era de 19,3 e 18,4, respectivamente; Conforme observamos pelos dados da Situação Social Brasileira, a diferença de renda entre ricos e pobres no Brasil vem diminuindo e as contribuições são dos programas de transferência de renda mais focalizados, como Bolsa-Escola e Bolsa-Família atrelados, pois referem-se aos alterações do salário mínimo, como previdência social e seguro-desemprego. Apesar disso, a controvérsia entre crescimento econômico e desenvolvimento ainda segue em debate. Na corrente do pensamento empírico, de acordo com Passador et al (2008), os pressupostos do desenvolvimento estão ligados ao desenvolvimento econômico e mudanças qualitativas no modo de vida das pessoas, instituições e estruturas produtivas, ou seja, o crescimento econômico é necessário, mas não suficiente para gerar desenvolvimento. Já na concepção de Putnam (1996), o desenvolvimento tem por base não o crescimento econômico, nem as obras públicas, mas a lenta e gradual formação de capital social. São as relações entre os atores sociais que caracterizam o capital social. Para Marteleto e Silva (2004), capital social é definido como as normas, valores, instituições e 4 relacionamentos compartilhados que permitem a cooperação dentro ou entre os diferentes grupos sociais. Dessa forma, são dependentes da interação entre, pelo menos, dois indivíduos. Foi nos anos de 1990 que o conceito tradicional de desenvolvimento deu lugar ao conceito de desenvolvimento local, associado aos adjetivos integrado e sustentável. Nesse período surgem também os registros de ação social oriundos de diferentes iniciativas. Essas iniciativas resgatam a idéia de transformação ao conceito de desenvolvimento. Na perspectiva de Haveri citado por Buarque (1995), o desenvolvimento local está associado a iniciativas inovadoras e mobilizadoras. O desenvolvimento local está associado, normalmente, a iniciativas inovadoras e mobilizadoras da coletividade, articulando as potencialidades locais nas condições dadas pelo contexto. Como diz Arto Haveri, “as comunidades procuram utilizar suas características específicas e suas qualidades superiores e se especializar nos campos em que têm uma vantagem comparativa com relação às outras regiões” (BUARQUE, 1995:10 apud Haveri, 1996). De acordo com Souza (2008), a preocupação com as questões do desenvolvimento local surgem devido às contradições que se expressam na situação de pobreza de determinados países, cidades, bairros, em relação a outros. Partindo de outro referencial teórico, Passador et al (2008:35), desenvolvimento local é a articulação de vários atores sociais, culturais, políticos, econômicos, públicos ou privados, que juntos, trabalham e orientam ações em longo prazo. Para o autor “o desenvolvimento local deve vir da base da sociedade. As decisões que afetarão a vida de toda a comunidade não devem ser originadas nos meios restritos dos governantes ou elites econômicas, mas, sim, oriundas da sociedade civil”. De acordo com Dowbor (2007), não é viável o governo federal, estadual ou municipal ou grandes corporações conhecer e resolver todos os problemas de tantos lugares diferentes cabe à comunidade as iniciativas de desenvolvimento local, e as pessoas que ali vivem é que realmente sabem o que necessitam. Na perspectiva de Fernandes e Sampaio (2006), por meio do desenvolvimento endógeno determinada comunidade adquire domínio sobre seu desenvolvimento e este estimula a articulação dos mais diversos segmentos da sociedade local para descobrir as soluções dos principais problemas que são inerentes à comunidade, preservando a identidade local. Desenvolvimento endógeno seria aquele balizado por iniciativas, necessidades e recursos locais. Fernandes e Sampaio ainda ressaltam a importância de estimular as comunidades locais de modo que elas possam desenvolver as instâncias de decisão, tais como fóruns ou conselhos comunitários, incrementar atividades de geração de trabalho e renda, e contribuir no manejo dos recursos naturais. No Brasil, a participação foi ganhando importância no final da década de 1970, quando os movimentos populares adquiriram caráter político e iniciaram a luta em busca da redemocratização, fazendo surgir novas formas de organização. O resultado dessas mobilizações foi a incorporação por parte do Estado das demandas desses grupos. A garantia para essa inclusão ocorreu a partir da Constituição de 1988 que fez nascer o encontro de diversos representantes desses grupos em fóruns, plenárias e encontros temáticos. Esses encontros reuniam representantes com uma aposta comum para a ampliação de espaço de participação e para uma atuação conjunta entre Estado e sociedade civil (DAGNINO, 2002). 2.2. O Estatuto da Criança e do Adolescente e a Política Pública de Atendimento dos Direitos da Criança e Adolescente 5 A crise econômica, política e social vivenciada pelo Brasil na década de 1980 e 1990 e citada anteriormente, expôs as crianças e adolescentes a situações de risco e múltiplas formas de violência e exploração, dentre as quais se destacam os trabalhos infantis, a prostituição e os maus tratos, e, culminaram em uma intensa mobilização popular, resultando na aprovação pelo Congresso Nacional e na sanção pelo Presidente da República do ECA, Lei nº 8069 de 13 de julho de 1990 contendo os princípios que colocam a criança e o adolescente como prioridade absoluta para a família, a sociedade e o Estado. O ECA, em seu artigo 86, explicita a política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente que será feita por meio de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A partir do ECA, o Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente passou a ser realizado por meio de uma política de atendimento que consiste em um conjunto de ações de políticas sociais básicas, programas de assistência social e programas de proteção especial e jurídica de crianças e adolescentes, organizados em três eixos constitutivos: promoção, controle social e defesa de direitos. O eixo do controle social trata da participação da sociedade na formulação e acompanhamento das políticas voltadas para a criança e adolescente, por meio da ação de organizações da sociedade civil ou por meio dos CMDCAs (PESQUISA CONHECENDO A REALIDADE, 2007:9). É nesse espaço que as organizações ganham a cena política, passando a construir uma alternativa de atendimento às crianças e aos adolescentes. As crianças e adolescentes têm o direito de viver em ambientes mais saudáveis, com vínculos mais estáveis, e cabe a todos a responsabilidade de promover a qualidade de vida para essa população com garantia de direitos humanos. A complexidade do contexto diz respeito às carências sociais básicas que exigem atuações das organizações e, ao mesmo tempo, investimentos públicos em programas sociais alinhados com o diagnóstico do município, pois, a incapacidade de satisfazer essas necessidades afasta as pessoas de vários benefícios e as coloca na dependência do Estado para conseguir sobreviver. Nesta abordagem, o atuar de uma organização seria uma alternativa à melhoria na qualidade dos serviços públicos, garantindo a implementação adequada das políticas públicas e do desenvolvimento local. A implantação integrada das diversas políticas sociais não depende apenas da vontade política de quem tem o poder ou os recursos disponíveis, pois cada política setorial tem seus interesses e práticas. Assim, realizar um projeto articulado das políticas sociais demanda a mudança de práticas, padrões, valores, enfim, da cultura organizacional das instituições públicas gestoras das políticas sociais; ou ainda a incorporação de organizações autônomas privadas voltadas para os interesses coletivos capazes de dar maior eficácia à gestão das políticas sociais. (NOGUEIRA, Arnaldo, et al, 2006) Segundo estimativas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2007, temos uma série de razões para que se observe a situação social da juventude em situações de risco e múltiplas formas de violência e exploração entre elas, a dificuldade de se garantir a inserção produtiva e cidadã. Essas questões são vividas de forma diversificada, variando de acordo com a origem social, os níveis de renda, o sexo, a raça, as disparidades socioeconômicas entre campo e cidade e regiões do país. Focaremos nosso estudo na atuação das organizações representativas da sociedade civil que recebem recursos do FIA e que são geridos pelos CMDCAs. A inscrição da organização nesses Conselhos obedece a critérios pré-estabelecidos e asseguram o cumprimento dos direitos fundamentais do ECA. Segundo regras do ECA, as organizações só podem funcionar depois de registradas nos CMDCAs, obedecendo às condições como 6 instalações físicas, plano de trabalho, constituição jurídica e idoneidade dos membros e registros de seus programas. Os CMDCAs liberam os recursos para as organizações através de chamamento público, em que as organizações apresentam seus projetos sociais que devem estar de acordo com o Plano de Promoção, Proteção e Defesa do Direito da Criança e do Adolescente. Os projetos são apresentados em plenária pública constituída por representantes da sociedade civil e estados. Nota-se que cada organização busca constituir o seu próprio sistema de avaliação e controle para poder fazer seu atendimento a crianças e adolescentes, obedecendo aos critérios estabelecidos pelos Conselhos aos quais essas organizações são filiadas, fazendo nas épocas oportunas as prestações de contas de acordo com o plano de trabalho e cronograma de desembolso apresentado e aprovado pelo Conselho. As entidades governamentais e não governamentais deverão proceder à inscrição de seus programas, especificando os regimes de atendimento, na forma definida neste artigo, no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual manterá registro das inscrições e de suas alterações, do que fará comunicação ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária. (parágrafo incluído pela Lei nº 12.010, de 29 de julho de 2009). (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, artigo 90, parágrafo 1º:1990) De acordo com a Pesquisa Conhecendo a Realidade (2007), em todo o Brasil 11.938 organizações não-governamentais estão registradas pelos CMDCAs. Os dados agrupados por região mostram que no Sudeste o registro de organizações é considerado bastante abrangente por 42% dos Conselhos pesquisados. 2.3. Considerações Metodológicas do Estudo Os dados apresentados no presente artigo são um extrato dos principais resultados da “Pesquisa com Organizações” e análise documental que incluiu materiais escritos, relatório de aplicação de recursos produzidos por essas organizações e disponibilizados ao autor. Os relatórios contêm informações sobre o montante recebido do Conselho por meio da conta FIA, a descrição do uso do recurso, nome do programa social, quantidade de crianças atendidas, foto de antes e depois da aplicação do recurso. Esta pesquisa trata-se de uma pesquisa descritiva, pois tem como objetivo a descrição das características da atuação das organizações que recebem recursos do FIA para aplicar em projetos sociais voltados para o atendimento de crianças e adolescentes. A metodologia adotada baseou-se em um primeiro momento, em um levantamento bibliográfico das questões que envolvem a temática sobre desenvolvimento, Estado e Estatuto da Criança e do Adolescente, estimulando o desenvolvimento local, subsidiando uma análise do atuar das organizações que recebem dinheiro do FIA. Em um segundo momento, o trabalho foi concentrado na Análise Documental que incluiu A pesquisa documental justifica-se pela necessidade dos autores de demonstrarem o atuar comunitário de organizações que lidam com crianças e adolescentes conforme os princípios estabelecidos pelo artigo 90 do ECA, chamando a atenção para a aplicabilidade do uso do recurso do FIA que destina-se a garantir o financiamento de políticas públicas de atendimento, programas e ações de atendimento de crianças e adolescentes, a partir da comparação de informações contidas em relatório de aplicação do recurso apresentado, por essas organizações, a uma Empresa considerada referência no Brasil e no mundo em sustentabilidade, aqui denominada de empresa “X”. A amostra foi construída a partir de relatórios de 147 organizações filiadas em 87 Conselhos, sendo 85 (oitenta e cinco) do Estado de Minas Gerais, 1 (um) de Goiás e 1 (um) de São Paulo. 7 O porte dos municípios foi identificado a partir de dados da população infantojuvenil, sendo: pequenos, municípios com menos de 6 mil pessoas com 17 anos de idade ou menos; médios, municípios com 6001 a 20.000 mil pessoas com 17 anos de idade ou menos; e grandes, municípios com pessoas com mais de 20.001 habitantes. Para complementar, analisou-se organizações localizadas em municípios segundo os indicadores: Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, 2000, igual a 0,653; Índice de Exclusão Social – IES igual a 0,60; e Índice de Desenvolvimento Infantil – IDI, 2004 igual a 0,70. Em um terceiro momento elaboramos uma análise crítica, e apontamos oportunidades para o desenvolvimento local a partir do ECA. 2.4. O Atuar das Organizações: Exemplo de Democracia Participativa a partir do Conceito de Gestão Social Para Tenório (1998:18), “na relação Sociedade-Estado a gestão social se efetiva quando os governos institucionalizam modos de elaboração de políticas públicas que não se refiram ao cidadão como “alvo”, “meta”, “cliente” de suas ações ou, quando muito, avaliadores de resultados”. Ainda segundo Tenório, “a Gestão social está ligada a um gerenciamento mais participativo, dialógico, no qual o processo decisório é exercido por meio de diferentes sujeitos sociais”. É esse conceito que embasa a análise da ação das organizações que exercem a Democracia Participativa em CMDCAs e praticam a Gestão Social. No Brasil, as organizações também viveram um processo de institucionalização, do qual dependeu sua finalidade e as relações que estabeleceram com o Estado. Nessa abordagem é que se deve entender a Lei 9.790, de 23/3/1999, por meio da qual o Estado qualifica pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos como organizações da sociedade civil de interesse público, definindo os termos em que deve ocorrer a parceria dessas organizações com o Estado, na realização de ações sociais de sua competência. O cenário das associações e das fundações privadas sem fins lucrativos é de 275.895 entidades conforme aponta o levantamento realizado pelo IBGE em parceira com o Grupo de Instituto e Fundações Empresarias – Gife, a Associação Brasileira de Organizações Não governamentais – ABONG e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. A pesquisa aponta um crescimento de 16% no numero de entidades que se dedicam à causa da criança e do adolescente, sendo que ¼ delas foram criadas a partir de 1990. (CENSO GIFE 2007/2008) Para este estudo escolhemos as organizações que recebem recursos de CMDCAs parceiros de uma Empresa considerada referência no Brasil e no mundo em sustentabilidade. Nos anos de 2006, 2007 e 2008 a Empresa e empregados repassaram aos Conselhos o montante de R$ 1.780.395,00, R$ 2.365.141,58 e R$ 2.868.757,58, respectivamente e com isto, foram beneficiadas 12.513, 15.485 e 25.917 crianças, respectivamente. GRÁFICO 1 – Localização Geográfica dos Municípios onde ficam as Organizações Fonte: Elaborado pelo autor 8 As organizações estão localizadas em municípios com população variando de 3.800 a 2.200.000 habitantes; 41 organizações, 28% do total, estão localizadas em municípios com número menor de 20.000 habitantes. Pelo gráfico 2 apresentamos a distribuição das organizações segundo a população do município. GRÁFICO 2 – Nº de organizações por classe de tamanho do município Fonte: Elaborado pelo autor com referência em dados do IBGE -2000 Ainda cabe relatar que das 147 organizações estudadas, 21 estão situadas em municípios abaixo dos parâmetros considerados ideais para o desenvolvimento segundo os indicadores de Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, 2000, igual a 0,653; Índice de Exclusão Social – IES igual a 0,60; e Índice de Desenvolvimento Infantil – IDI, 2004 igual a 0,70 e classe de tamanho da população de 01 a 17anos. Considerando o porte do município a partir de dados da população infanto juvenil, sendo: pequenos, municípios com menos de 6 mil pessoas com 17 anos de idade ou menos; médios, municípios com 6001 a 20.000 mil pessoas com 17 anos de idade ou menos; e grandes, municípios com pessoas com mais de 20.001 habitantes, 31 organizações, 21%, estão localizadas em municípios de pequeno porte; 47 organizações, 32%, estão em municípios de médio porte e 69 organizações, 47%, estão em municípios de grande porte. 21% Pequeno Médio Grande 47% 32% GRÁFICO 3 – Número de Organizações de acordo com o porte do município Fonte: Elaborado pelo autor 9 O gráfico 4 mostra que a grande maioria das organizações recebem os recursos dos Conselhos de Direitos da Criança para aplicação em políticas de proteção à criança e ao adolescente em um prazo médio de até 90 dias, 96 organizações. A informação “Outro prazo” quando indicado pelo Conselho está relacionado à aprovação do plano de trabalho, deliberação da plenária, trâmite dos documentos e apresentação de certidões por parte das organizações. Prazo médio de recebimento do recurso Prazo médio de 90 dias Prazo médio de 60 dias Prazo médio de 30 dias Prazo médio de 180 dias Outro prazo 0 10 20 30 40 50 Nº de organizações GRÁFICO 4 – Prazo médio de recebimento do recurso Fonte: Elaborado pelo autor Ao verificarmos a aplicação do recurso constatamos que a grande maioria das organizações, 69 ao todo, 46,9%, aplica o dinheiro em construção, reforma ou ampliação da sede. Em seguida, ficam as organizações que aplicam na aquisição de materiais didáticos, 22, perfazendo um total de 15%; logo em seguida vêm as organizações que fazem o uso em práticas de atividades sócio-educacionais, que são 18, e equivalem a 12,2%. As demais organizações, 38, aplicam em aquisições diversificadas conforme mostra o quadro 1. Construção/Reforma/Ampliação 46,9% Aquisição de material didático 15,0% Prática de atividades socioeducacionais 12,2% Aquisição de equipamentos 4,1% Aquisição de equipamentos de informática 4,1% Aquisição de mobiliário 2,7% Aquisição de equipamentos musicais 2,0% Aquisição de brinquedoteca 2,0% Aquisição de Material de construção 1,4% Aquisição de terreno 1,4% Aquisição de veículos 1,4% Não recebeu o recurso do Conselho 1,4% Reforma da instalação elétrica 1,4% Aquisição de mamadeiras 0,7% Aquisição de maquinário 0,7% Aquisição de uniformes 0,7% Aquisição do consultório odontológico 0,7% Reintegração social e familiar 0,7% Construção/Reforma/Ampliação e aquisição de veículo 0,7% QUADRO 1 – Como as organizações aplicam os recursos recebidos do FIA – Fundo da Infância e da Adolescência Fonte: Elaborado pelo autor Observando a linha de atuação, aplicação do recurso e organizações situadas em municípios com menos de 20.000 habitantes, 41 no todo, atuam como apoio aos portadores de necessidades especiais e aplicam o dinheiro em construção, reforma ou ampliação da sede, conforme tabela 1. Outro fato interessante é que várias dessas organizações atuam no eixo da educação. 10 TABELA 1 - Áreas de atuação das organizações localizadas em municípios com menos de 20.000 habitantes Aplicação do recurso Nº de Linhas de atuação Organizações Apoio a portadores de necessidades especiais Construção/Reforma/Ampliação 14 Apoio a portadores de necessidades especiais Aquisição de material didático 6 Apoio a portadores de necessidades especiais Prática de atividades socioeducacionais 1 Apoio a portadores de necessidades especiais Reintegração social e familiar 1 Educação Aquisição de material didático 2 Educação Aquisição de equipamentos musicais 2 Educação Aquisição de equipamentos 1 Educação Aquisição de Material de construção 1 Educação Prática de atividades socioeducacionais 1 Educação Aquisição de equipamentos de informática 1 Capacitação para o trabalho/ Geração de renda Construção/Reforma/Ampliação 1 Capacitação para o trabalho/ Geração de renda Prática de atividades socioeducacionais 1 Capacitação para o trabalho/ Geração de renda Construção/Reforma/Ampliação 1 Inclusão Prática de atividades socioeducacionais 1 Fonte: Elaborado pelo autor 3.5. Análise Crítica: portas de oportunidades para o desenvolvimento local É dever do município estruturar órgãos e alocar recursos financeiros suficientes à deliberação e execução de políticas públicas destinadas a crianças e adolescentes. Nesse contexto, o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e o Fundo da Infância e da Adolescência constituem eixos fundamentais cuja coexistência e bom funcionamento torna-se imprescindíveis para a concretização da rede municipal de atendimento. Como já citado, são os Conselhos que fixam os critérios para a aplicação do recurso advindo dos Fundos da Infância e da Adolescência - FIA. Pelo quadro 2, após pesquisa, por meio de questionário, aos 88 Conselhos, aos quais essas organizações são filiadas, sugere que os critérios qualitativos empregados para a liberação dos recursos são claros e existentes. Percebe-se que 86,1% disseram que fazem a liberação para entidades cadastradas ou conhecidas, e que 26,6% priorizam as áreas temáticas ou faixas etárias. Além disso, um percentual razoável de Conselhos (10,1%) sente a necessidade de empregar os recursos do fundo para atendimento à necessidade interna. Os critérios são claros e existentes Entidades cadastradas ou conhecidas Priorizam as áreas temáticas ou faixas etárias A liberação de recursos é para atendimento à necessidade interna dos Conselhos (infra-estrutura, capacitação, remuneração dos conselheiros) Avaliação de projetos sociais Apresentação do plano de trabalho Chamamento público QUADRO 2 - Critérios para a liberação dos recursos do Fundo da Infância e da Adolescência Fonte: Elaborado pelo autor 96,2% 86,1% 26,6% 10,1% 3,9% 1,3% 1,3% Após conhecer a realidade das organizações selecionadas observamos que as 147 organizações atuam em diversas áreas, sendo que apoio a portadores de necessidades especiais aparece em 38% das respostas, o que contribui para a inclusão social. Entre as outras áreas de atuação foram relacionadas: educação, capacitação para o trabalho/geração de renda, inclusão social, abrigos e casa lar. 11 TABELA 2 - Áreas de atuação das organizações Nº de Organizações Linhas de atuação Apoio a portadores de necessidades especiais 56 Educação 47 Capacitação para o trabalho/ Geração de renda 17 Inclusão social 14 Abrigos 9 Casa Lar 4 Fonte: Elaborado pelo autor % 38,0 31,9 11,5 9,5 6,1 2,7 Observa-se pelos dados expostos, que os recursos alocados no FIA destina-se: à proteção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes em situação de risco ou vulnerabilidade; à proteção contra violência (maus-tratos, abuso, exploração sexual e/ou moral); a projetos de combate ao trabalho infantil; à profissionalização de adolescentes; além de orientação, apoio sócio-familiar e medidas sócio-educativas. As organizações aqui estudadas demonstraram que usam o recurso na sua grande maioria, 46,1%, quadro 1, para a construção, reforma ou ampliação da sede da organização. Devemos, então, nos perguntar até que ponto essas organizações exercem o seu papel de propiciar às crianças e aos adolescentes o direito de viver em ambientes mais saudáveis, com vínculos mais estáveis, promover a qualidade de vida e garantia de direitos humanos, fazendo uso do recurso em construções, reforma ou ampliação de sede. O ECA, em seu artigo 86, explicita a política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente que será feita por meio de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Quanto a critérios adotados para liberação dos recursos do fundo parece que os Conselhos carecem de uma melhor estruturação e capacidade de planejamento, pois 86,1% dos CMDCAs afirmam que liberam o recurso para organizações conhecidas ou cadastradas (QUADRO 2). Esse fato também é relatado na Pesquisa Conhecendo a Realidade (2007), que aponta os CMDCAs com pouco conhecimento e fraco controle sobre as organizações de atendimento. A pesquisa também aponta como a maior dificuldade das organizações a falta de conhecimento por parte das organizações sobre o ECA. A expectativa da atuação em torno das organizações estudadas não é a de determinar, por si só, e em curto prazo, impactos mensuráveis em resultados quantificáveis, mas registrar os avanços, colocando-se a serviço de crianças e adolescentes para tornar em políticas públicas os seus movimentos no sentido do desenvolvimento local e promoção da cidadania. Em recente pesquisa realizada no ano de 2008 pela empresa Prattein, Consultoria em Educação e Desenvolvimento Social, envolvendo 24 grandes empresas que destinam recursos para o FIA foi constatado: entidades locais têm dificuldade para formular bons projetos e alcançar objetivos; faltam informações sobre os recursos investidos pelo FIA e a forma de sua aplicação pelas entidades. Isso indica que o FIA não tem sido utilizado com o seu potencial pleno, sendo o motivo em grande parte, pelo desconhecimento das possibilidades de aplicabilidade do recurso por parte dos CMDCAs. 3. Considerações Finais A dimensão humana do desenvolvimento é fundamental para conduzir a uma transformação social e permitir a inclusão assim como o desenvolvimento local deve ser enxergado como sinônimo de intervenções do tipo parcerias, com objetivos ao mesmo tempo sociais e econômicos. Os relatos apresentados são um exemplo de sucesso de parceria entre o público e o privado e demonstram que a educação é uma preocupação, estando presente em 12 vários projetos (TABELA 1), conduzindo à construção da cidadania e divulgando os direitos e deveres do cidadão. A relação entre o público, o privado e organizações deve ser uma relação que busque uma saída a partir da maneira de ver e lidar com a realidade complexa do Estado. Certamente, a gestão social nas organizações depende de vários fatores, dentre os quais se destacam questões relacionadas às condições econômicas e sociais, aos interesses pelas causas coletivas, à saúde, à educação. Para essas organizações registradas nos CMDCAs recomendamos participar das plenárias públicas dos Conselhos, entender a metodologia de elaboração de projetos sociais, apresentar os projetos sociais de acordo com o Plano Municipal de Promoção, Proteção e Defesa do Direito da Criança e do Adolescente quando existente no município, observar os princípios do ECA, e ainda avaliar suas ações na ótica da efetividade dos serviços oferecidos e dos valores sociais que a prestação desses serviços permitem reproduzir. O dado recolhido da realidade sobre a aplicação dos recursos em infra-estrutura permite uma consideração quanto à necessidade de um planejamento sistemático e de um diagnóstico das necessidades do público-alvo objeto central de atuação dessas organizações. Se por um lado releva-se a escassez de recursos públicos nos municípios em que essas organizações se localizam, por outro chama atenção para a necessidade de uma sistemática de trabalho planejada que permita relacionar as finalidades da aplicação com os meios necessários para a realização dessas finalidades. A parceria do Estado com a sociedade civil e organizações na gestão social das políticas sociais básicas (Educação, Saúde, Assistência), conduz a novas formas de gerenciar a política social, e permite oportunidades de alianças que dão bons resultados e que podem constituir uma das formas de convergir recursos e esforços do governo para atender às demandas sociais existentes. Ressaltamos que o dinheiro repassado por Empresas aos CMDCAs por meio do FIA com destino aos projetos dessas organizações é advindo de políticas de incentivos fiscais em que a empresa e empregados destinam um por cento e seis por cento, respectivamente, do Imposto de Renda devido. Essa prática de destinação de recursos é incentivada pela cidadania empresarial e abre portas para ampliar os espaços de participação do cidadão em projetos sociais e políticas públicas, gerando um ganho intangível, que é o de fazer o bem. Referências ABONG ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORGANIZAÇÕES GOVERNAMENTAIS. Perfil e catálogo das associadas à ABONG. São Paulo: 2002 NÃO BUARQUE, C. S. Metodologia de Planejamento do Desenvolvimento Local e Municipal Sustentável. Projeto de Cooperação Técnica INCRA/IICA - PCT – INCRA/IICA (mimeo.) Recife; 1995 BRASIL. Constituição Federal de 1988 de 05 de outubro de 1988. Brasília. Disponível em:< http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/> Acesso em: 06 jan. 2010. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de 13 de julho de 1990. Rio de Janeiro: CBIA, 1994. CABRAL, Eloisa Helena de Souza. Terceiro Setor: Gestão e Controle Social. São Paulo: Saraiva, 2007. 13 CARRION, Rosinha Machado. 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