Caso clínico: Paracococcidioidomicose Fernanda Carvalho Oliveira Coordenação: Dr. Paulo R. Margotto Escola Superior de Ciências da Saúde 9ESCS)/SES/DF www.paulomargotto.com.br Colaboração: Dra. Marília Aires (R1 Pediatria/HRAS) Dra. Raíssa (Anatomia Patológica/HBDF) Identificação • • • • • • J.L.P.S. Data: 26/07/06 Sexo feminino 8 anos e 10 meses Natural de Brazlândia-DF Procedente de Santa Maria – DF, Residiu em fazenda do Mato Grosso por 2 anos. • Informante: a mãe Queixa Principal Dor Abdominal Febre Há 7 dias. Resumo HDA • Há 15 dias: – Dor no corpo, hiporexia, fraqueza, cefaléia – Sem febre – Quadro intermitente, presente na maior parte do dia – Alivio temporário com dipirona Resumo HDA • Há 7 dias: – Melhora dos sintomas gerais – Dor abdominal, em região epigástrica, com aumento progressivo da intensidade, de caráter intermitente durando de 15 min a horas, desencadeada ou agravada por alimentação e deambulação. Mais freqüente à noite. Alívio parcial com dipirona. Resumo HDA • Ainda há 7 dias: – Tosse cheia + vômitos (15 ao dia), aspecto mucóide com poucos restos alimentares. – Febre de 38° / 38,5°C Resumo HDA • Há 4 dias: – mãe palpou em abdome nódulos dolorosos, móveis, endurecidos em região epigástrica. • Há 2 dias: – Piora da dor abdominal, despertando a criança no período noturno. Revisão de sistemas • • • • • Perda de 4 kg nos últimos 15 dias. Palidez há 1 semana. Manchas hipocrômicas em braço D há 1 mês. Hematúria macroscópica. Nega diarréia ou obstipação intestinal, evacuações a cada 2 dias. • Nega episódios de vômito ou dor abdominal antes do início do quadro. • Nega dispnéia, dor torácica ou cianose. Antecedentes Perinatais • 1° de G5 P5 C0 A0 • Pré-natal: – Alto Risco: esquistossomose diagnosticada e tratada durante o primeiro trimestre de gestação. – Mãe Rh negativo. – Sem outras intercorrências. Antecedentes Perinatais • Parto: – Vaginal – Sem intercorrências – Chorou ao nascer P: 3160g E: 50 cm Ts: A negativo Antecedentes Pessoais Fisiológicos • Alimentação: – SME até 6 meses – Aleitamento misto até 7 meses – Atual: dieta variada, sem restrições. • DNPM: – – – – Sentou com 6 meses Andou com 9 meses Falou com 9 meses Cursa a 3ª série, com bom desempenho. • Vacinação: em dia, segundo a mãe. Antecedentes Pessoais Patológicos • Com 1 mês e 18 dias: – Internação por pneumonia. – Durante a internação foi feito diagnóstico de distúrbio da coagulação devido a sangramento contínuo após punção venosa. – Medicada com vitamina K (IM). – Mãe refere melhora do quadro, mas informa que a criança, com freqüência, apresenta hematomas desproporcionais a gravidade da injúria. Antecedentes Pessoais Patológicos • Sibilância desde 1 ano; nebulizações durante as crises. recebendo • Mãe relata várias internações com diagnóstico de pneumonia e “bronquite”. • Última internação pneumonia. há 4 meses, por • Nega fraturas, cirurgias ou hemotransfusões. Antecedentes Familiares • Mãe: – 26 anos – Seqüela de poliomielite em MID, – Portadora de esquistossomose. • Pai: – 42 anos – “Bronquite” (Asma?) • Irmãos: – 3 saudáveis – 1 com nefropatia (não sabe especificar qual) Antecedentes Sociais • Casa de alvenaria, 6 cômodos, onde vivem 7 pessoas, com rede de água e esgoto. • Possui gato e um cão, segundo a mãe, vacinado. • Banhos de rio em Padre Bernardo-GO e Mato Grosso do Sul. Exame Físico • Ectoscopia: REG, irritada, chorosa, hipocorada (++/4+), anictérica, afebril, hidratada, eupneica. • Cadeias Linfáticas: – linfonodos móveis, fibroelásticos, dolorosos, sem sinais flogísticos. – Cadeia cervical posterior: maior linfonodo medindo 1 cm; – Cadeia supra clavicular esquerda: 1 linfonodo palpável – Cadeias pré ou retro auriculares, occipitais, axilares ou epitrocleares: sem linfonodos palpáveis. Exame Físico • Oroscopia: Hiperemia em pilares amigadas normotróficas, sem alterações. anteriores, • Otoscopia: sem alterações. • ACV: RCR, em 2 tempos, bulhas normofonéticas, sem sopros. FC: 100 bpm. • AR: murmúrio vesicular fisiológico, sem ruídos adventícios, apresentando tosse ao exame. FR: 28 irpm Exame Físico • Abdome: – semi-globoso, flácido, fígado a 2cm do RCD, sem sinais de ascite, RHA normais, Traube ocupado. – Massa em região epigástrica, medindo aproximadamente 7cm, extendendo-se até cicatriz umbilical, sem limites precisos, dolorosa à palpação. Sobre essa região tensa, dois nódulos medindo 1,5cm . – Sinal de Jordano ausente Exame Físico • Extremidades: – boa perfusão – pulsos cheios – sem edema • SNC: sem sinais de irritação meníngea. Exames Complementares • Na Admissão (26.07.06) Hem Hb Ht VCM Plaq 3.85 10.2 31.3 81.3 533.000 Glic Ureia Creat TGO TGP LDH 52 26 0.4 21 20 506 Leu Seg Bast Linf Mono Eos Lif Atip Meta Miel 24.8 41% 6% 10% 2% 40% 0% 0% 0% Exames Complementares Na Admissão (26.07.06) • Ecografia Abdominal: Múltiplos nódulos hipoecóicos, sólidos, homogêneos, bem delimitados, medindo entre 2,5 e 5cm, localizados na região epigástrica e peri-aórtica. Sugestivos de adenomegalias. Demais vísceras e órgãos sem alterações. Evolução • Persistência da febre, dor abdominal e vômitos • Hemograma infeccioso com intensa eosinofilia • Terapêutica empírica: – – – – Sintomáticos Albendazol (28.07 a 01.09) – 5 dias Clindamicina (28.07 a 07.08) – 10 dias Ampi+Sulbactam (08.08 a ?) - ? Exames Complementares 26/07/06 28/07/06 7/08/06 26/07/06 28/07/06 7/08/06 Hem 3.85 4.39 4.02 PCR - 4.77 - Hb 10.2 11.1 10.3 Glic 52 - - Ht 31.3 34.9 31.8 Ureia 26 23 - VCM 81.3 79.7 79.1 Creat 0.4 0.6 - HCM 26.5 25.3 25.6 Ca - 9.0 - CHCM 32.6 31.7 32.4 Mg - - - Leu 24.8 26.1 36.6 Na - 134 - Seg 41% 40% 34% K - 4.7 - Bast 6% 6% 10% Cl - 98 - Linf 10% 21% 6% TGO 21 21 - Mono 2% 0% 2% TGP 20 25 - Eos 40% 33% 55% Bb T - 0.4 - Lif Atip 0% 0% 0% Bb D - 0.1 - Meta 0% 0% 0% LDH 506 510 713 Miel 0% 0% 0% Amil - 38 - Plaq 533.0 607.0 - F. alc - 328 - • 28/07/06 Admissão na DIP – Quadro clínico inalterado – Sorologia para HIV (negativa) – 2° Ecografia Abdominal (laudo idêntico à primeira) • 29/07/06 – EAS (sem alterações) – Urocultura (negativa) – Hemocultura (negativa) • 04/08/06 – Kato-Katz (negativo) – TC Abdominal • 08/08/06 – Transferência para HBDF para realização de biópsia. • 21/08/06 (HBDF) Leuc Seg Linf Bast Eos 63.000 9% 10% 3% 78% • 22/08/06 (HBDF) – Biopsia de gânglio mesentérico – Mielograma. Lista de Problemas • Comprometimento importante do estado geral (anemia, adinamia, perda de peso) • Linfadenomegalia (superficial e profunda) • Hepatoesplenomegalia • Febre • • • • Leucocitose com desvio à E Eosinofilia intensa Hemocultura, Urocultura e Kato-Katz negativos TC de Abdome sugestiva de Linfoma Diagnóstico Diferencial ETIOLOGIA INFECCIOSA • • • • • • Mononucleose Sds. Mononucleose “like” Tuberculose Toxocaríase Calazar Paracococcidioidomicose ETIOLOGIA NEOPLÁSICA • Linfoma Hodgkin • Linfoma Não-Hodgkin O DIAGNÓSTICO é HISTOLÓGICO!! Mielograma Hipereosinofilia com maturação preservada Biópsia de Linfonodo Mesentérico Blastomicose SulAmericana Paracoccidioidomicose • Descrita em 1908 por Adolfo Lutz, médico Brasileiro. • Sinonímia – Blastomicose Sul-Americana – Doença de Lutz – Blastomicose Brasileira Paracoccidioidomicose • Micose Sistêmica (Profunda) • Agente etiológico: Paracoccidioides brasiliensis = Blastomyces brasiliensis Micose Endêmica na América Latina Epidemiologia • Não é doença de Notificação Compulsória dados imprecisos! • Incidência estimada para áreas endêmicas na América Latina: 1 a 3 : 100.000 hab Epidemiologia • Brasil: – SP, RJ, MG, PR, RS, GO, MS. – Maior taxa de mortalidade dentre as micoses sistêmicas. Epidemiologia • Aumento da incidência em algumas Regiões: – Urbanização ( do diagnóstico) – Abertura de novas fronteiras agrícolas (derrubada de florestas) – sobretudo na Amazônia. Epidemiologia • Pequena proporção dos expostos desenvolve a doença Infecção • Faixa etária mais acometida 10 a 20 • Distribuição por sexo (adultos): anos Estrogênio? 10% Manifestações Clínicas 90% Na infância ambos são acometidos igualmente 30 a 40 anos Fatores de Risco • • • • • Viver em zona endêmica Contato com solo – atividades agrícolas Habito de palitar os dentes com capim Sexo masculino Associação com Tabagismo, Etilismo e Desnutrição. • Esporadicamente se associa com quadros de imunodeficiência. Paracoccidioides Brasiliensis • Fundo termo-dimórfico assexuado Hifas/Micélios Leveduras Temperatura • Solo rico em detritos orgânicos e úmido ou superfície de vegetais. Etiopatogenia Via Inalatória 37°C Conídios (Forma Infectante) 25°C (Solo) Forma Filamentosa Forma Leveduriforme (Parasitária) Etiopatogenia Linfática Pulmão Hematogênica Canalicular Disseminação Imunopatogenia Th1 Infecção Th2 Th1 Controle Doença Formas Graves Imunopatogenia Fonte: biocompare.com/imagens Imunopatogenia • Resposta Imune Adequada (Th1) – Imunidade mediada por células – Fagocitose por neutrófilos e células do sistema fagocítico-mononuclear – Formação de granulomas compactos – Controle da infecção – Possibilidade de recidiva devido à persistência de fungos viáveis no interior dos granulomas. Imunopatogenia • Resposta Imune Inadequada ( Th1/ Th2) – Deficiência na capacidade de fagocitose ou na degradação enzimática do fungo fagocitado – Granulomas frouxos, ricos em fungos – Negatividade dos testes cutâneos com paracoccidioidina – Altos títulos de anticorpos específicos (não protetores) – Doença / Formas disseminadas Classificação Paracoccidioidomicose infecção Paracoccidioidomicose doença Forma aguda/subaguda Forma crônica Unifocal Multifocal Forma residual/sequelar Classificação I. II. Infecção paracoccidióidica Paracoccidioidomicose (doença) 1. 2. Forma regressiva Formas progressivas 2.1 - Forma aguda ou subaguda (Tipo Juvenil) A. Com adenomegalia de linfonodos superficiais (forma moderada ou grave) B. Com comprometimento abdominal ou do aparelho digestivo (forma grave) C. Com outras manifestações clínicas (forma moderada ou grave) 2.2 – Forma crônica (Tipo Adulto) A. Forma leve B. Forma moderada C. Forma grave 3. Forma seqüelar Forma Aguda /Subaguda • • • • • 3% a 5% do total de casos Crianças e adultos jovens Evolução mais rápida (4 a 12 semanas) Não apresenta Formas leves Sintomas gerais: – Febre – Astenia – Perda de peso Forma Aguda /Subaguda Comprometimento do Sistema Monocítico-fagocitário B- Linfadenomegalia abscedada C – Linfadenomegalia Inguinal D – Hepatoesplenomegalia + ascite Acometimento ósteo-articular A – Abcessos em região frontal e clavicular Forma Aguda /Subaguda Acometimento de Pele, Mucosas e Pulmão: Incomum na forma Juvenil Acometimento do Trato Gastrintestinal Freqüente Forma Crônica • • • • Mais de 90% dos casos Adultos entre 30 e 60 anos Predomínio no sexo masculino Progressão lenta, silenciosa • Manifestações gerais - astenia - perda de peso Forma Crônica • Manifestações pulmonares (90%) - Tosse seca ou produtiva - Dispnéia - Pode ser a única manifestação clínica em até 25% dos casos • Manifestações cutâneo-mucosas Forma Crônica Lesões Cutâneas Forma Crônica Lesões Mucosas Forma Seqüelar • Manifestações clínicas relacionadas à fibrose cicatricial – – – – – Fibrose pulmonar / bronquiectasias Estenose de traquéia Síndrome de má absorção Seqüelas neurológicas Insuficiência adrenal Forma Seqüelar Microstomia Estenose de Traquéia Fibrose Pulmonar Diagnóstico • • • • • História Clínica Exame Físico Exames Laboratoriais Inespecíficos Exames de Imagem Exames Específicos Exames Laboratoriais • Hemograma – – – – – – – Anemia normocítica e normocrômica Leucocitose Neutrofilia com desvio à E Granulações tóxicas Eosinofilia Linfopenia ou linfocitose discreta Monocitose • Inversão da relação albumina/globulina Exames de Imagem IMAGEM EM ASA DE BORBOLETA OPACIDADES NODULARES E MICRONODULARES CAVITAÇÕES PULMONARES AUMENTO BILATERAL DE ADRENAIS SNC –LESÃO HIPODENSA COM ANEL HIPERDENSO Diagnóstico Específico • Exame a fresco • Biópsia • Cultura • Sorologia Demonstração microscópica do Paracoccidioides brasiliensis Diagnóstico Específico • Quadro Histopatológico – Formação granulomatosa. – Células epitelióides e células gigantes. – Fungo livre nos tecidos ou no interior das células gigantes. Paracoccidioides brasiliensis • Células arrendondadas • Isoladas ou agrupadas • Dupla parede refringente • Brotamento (criptoesporulação) –Simples –Duplo –Múltiplo Paracoccidioides brasiliensis BROTAMENTO SIMPLES BROTAMENTO DUPLO EM “CABEÇA DE MICKEY” Paracoccidioides brasiliensis BROTAMENTO MÚLTIPLO EM “RODA DE LEME” Provas Sorológicas • Sensibilidade entre 85% e 100% • Especificidade entre 85% e 100% FALSO POSITIVOS FALSO NEGATIVOS Imunodeprimidos Histoplasmose Aspergilose Tratamento Tratamento de Suporte Terapêutica Específica DROGAS ANTIFÚNGICAS Tratamento Ambulatorial TRATAMENTO DE LONGA DURAÇÃO!! GRAVIDADE DURAÇÃO Critérios para Internação • Formas disseminadas (complicações neurológicas, insuficiência respiratória, desnutrição importante, icterícia, ascite, alterações hemodinâmicas) • Co-morbidades (AIDS, TB, neoplasias) • Seqüelas com instabilidade clínica (DPOC, Insuficiência Adrenal, estenose de laringe ou traquéia, cor pulmonale, etc) Tratamento Hospitalar ANFOTERICINA B 1mg/Kg/dia ATÉ QUE A MELHORA CLÍNICA PERMITA A INTRODUÇÃO DA MEDICAÇÃO ORAL SULFAMETOXAZOL + TRIMETOPRIM IV 2 ampolas de 8/8h Critérios de Cura • Clínico - desaparecimento dos sinais e sintomas da doença: – Cicatrização das lesões tegumentares – Recuperação do peso – Involução das adenopatias – Podem haver sintomas residuais devido às sequelas cicatriciais! Critérios de Cura • Radiológico: – Estabilização das imagens cicatriciais pulmonares em duas radiografias com intervalo de 3 meses. • Imunológico: – Normalização ou estabilização dos títulos em valores menores ou iguais 1:2 em duas amostras de soro com intervalo de 6 meses. • Microbiológico: – Ausência do patógeno nos tecidos e secreções De volta ao Caso Clínico.... Evolução • 28/08/06 – Depois das biópsias (HBDF), paciente retorna à DIP/HRAS • 29/08/06 – Hemotransfusão (270 ml de concentrado de hemácias) – Iniciada Anfotericina B (29.08) Evolução • 30/08/06 – D2 de Anfotericina B – Febre e Calor durante infusão – Dor torácica precordial – Taquidispnéia – Irritabilidade Rx de Tórax Substituição por Anfotericina Lipossomal Evolução • Rx de Tórax – Infiltrado em base E com discreto derrame homolateral. – Hipótese Diagnóstica: Pneumonia – D0 Ampi + Sulbactam. Exames durante Internação Hem 29/08/06 Anfotericina B 2.81 31/08/06 05/09/06 29/08/06 31/08/06 05/09/06 3.8 3.68 PCR - - - 10.5 10.0 glic - - 82 Hb 7.2 Ht 22.9 32.1 31.6 ureia 16 29 22 VCM 81.4 84.4 87.0 creat 0.6 0.8 0.6 HCM 25.5 27.7 27.6 calc 10.1 9.4 - CHCM 31.4 32.8 31.7 magn - - - Leu 26.6 46.6 53.8 sódio 134 151 138 Seg 74% 31% 28% potas 4.2 5.1 4.8 Bast 10% 0% 1% cloro 107 121 103 Linf 13% 4% 4% TGO 15 23 16 Mono 7% 1% 2% TGP 18 19 10 Eos 5% 65% 65% BbT - - 0.7 Lif Atip 0% 0% 0% BbD - - 0.4 Meta 0% 0% 0% LDH - - - Miel 0% 0% 0% amil - - 23 Plaq 357 413 708 F. alc - - - T Evolução • Paciente evolui bem, com melhora do quando respiratório, dor abdominal e febre. • Suspensa Anfotericina Lipossomal. • Iniciado Sulfametoxazol + Trimetoprim. • Alta Hospitalar em 12/09/06. Acompanhamento Ambulatorial • Criança retorna mensalmente, com boa adesão ao tratamento no domicílio. • Sem queixas por várias consultas. • Ganhando peso. • Diminuição importante dos linfonodos. • Em 17/01/07: iniciou uso Acido Fólico 5mg 3 vezes por semana. Em uso Sulfametoxazol + Trimetoprim Acompanhamento Ambulatorial 16/09/06 04/10/06 01/11/06 Hem 3.87 3.78 4.49 Hb 11.1 10.4 11.9 Ht 33.9 32.3 36.6 VCM 87.5 - 81.5 HCM 28.6 - 26.5 CHCM 32.7 - 32.5 Leu 37.7 13.9 18.7 Seg 31% 73% 63% Bast 0% 1% 1% Linf 15% 21% 28% Mono 1% 2% 3% Eos 53% 3% 5% Lif Atip - - - Meta - - - Miel - - - Plaq 858 488 608 Evolução • Consulta em 21/02/07 Febre Dor Epigástrica Há 15 dias Hiporexia Vômitos Mãe atribui início dos sintomas ao uso do Ác. Fólico Exame Físico • BEG, corada, hidratada, afebril. • Gânglios palpáveis em cadeias cervicais anteriores, bilaterais, móveis, pequenos e indolores. • Abdome flácido, RHA audível, fígado a 3 cm do RCD e a 9 cm do apêndice xifóide, endurecido, dor a palpação profunda, principalmente em epigástrio. Traube maciço. Exames Laboratoriais • Leucocitose • Eosinofilia • TGO: 104 • TGP: 137 • Hipóteses Diagnósticas: – Reativação da doença? – Hepatite Viral? – Hepatite Medicamentosa? Medicação Suspensa Exames Retorno em 2 dias Evolução • Criança retorna após dois dias: – – – – – Persistência da Febre e Dor abdominal Urina escurecida (colúria?) Icterícia (2+/4+) Massa dolorosa em epigástrio/mesogástrio Hepatomegalia dolorosa (10 cm do AX) INTERNAÇÃO HOSPITALAR Evolução • Hemograma e Bioquímica • Kato-Katz em 6 amostras (as 3 primeiras negativas) • Sorologias para Hepatite (negativas) • Endoscopia Digestiva Alta • Ecografia Abdominal Evolução • Endoscopia Digestiva Alta (08/03) – varizes de esôfago; – gastrite com nodosidades em antro; – nodularidades com erosão em segunda porção de duodeno – realizado biópsia HIPERTENSÃO PORTAL!! Evolução • Ecografia Abdominal (08/03) Linfadenopatias difusas fibrose peri- portal. com fígado heterogêneo, Impressão: Alterações sugestivas de linfoma. Evolução • 09/03/07 – Re-iniciada Anfotericina B (0,25mg/kg/dia) com aumento progressivo da dose. – Caso discutido Gastroenterologista que solicitou biópsia hepática. • 12/03/07 – Biópsia Hepática realizada no HBDF. Biópsia por EDA • Resultado: Gastrite crônica de grau moderado em atividade, não relacionada ao H. pylori. Processo inflamatório crônico, de grau moderado por Paracoccidioides brasiliensis (presença de numerosos parasitos em mucosa e submucosa). Biópsia por EDA MUCOSA DUODENAL COM VILOSIDADES HIPOTRÓFICAS J.L.P. Biópsia em 08.03.07 Biópsia por EDA PARACOCO EM MUCOSA DUODENAL J.L.P. Biópsia em 08.03.07 Biópsia por EDA PARACOCO EM MUCOSA DUODENAL EOSINÓFILOS J.L.P. Biópsia em 08.03.07 Biópsia Hepática • Resultado Granulomas com predomínio de histióciotos multinucleados permeado por eosinófilos, contendo Paracoccidioides brasilienses. Extensa fibrose peri-portal Discreto infiltrado inflamatório sinusoidal Biópsia Hepática EXTENSA FIBROSE PERIPORTAL J.L.P. Biópsia em 12.03.07 Biópsia Hepática HISTIÓCITOS MULTINUCLADOS PARACOCCIDIOIDES BRASILIENSIS FIBROSE PERIPORTAL J.L.P. Biópsia em 12.03.07 Biópsia Hepática Hepatopatia Crônica Fibrosante Granulomatosa por Paracoccidioidomicose Evolução • Em uso da Anfotericina B – Melhora do quadro de febre, dor abdominal e colestase – Hipocalemia severa (K=1,7), resistente à reposição endovenosa, com arritmia cardíaca associada. Substituição por Anfotericina Lipossomal 06/03/07 10/03/07 17/03/07 22/03/07 Hem 4.25 3.88 3.71 3.96 Hb 11.6 10.6 10.1 10.7 Ht 35.6 31.6 30.3 33.0 VCM - - - - HCM - - - - CHCM - - - - Leu 16.3 13.9 13.2 10.6 Seg 55% 55% 63% 72% Bast 2% 0% 0% 3% Linf 11% 19% 26% 17% Mono 1% 3% 2% 4% Eos 11% 23% 9% 4% Lif Atip - - - - Mta - - - - Miel - - - - Plaq 440 390 610 500 06/03/07 17/03/07 18/3/07 19/03/07 19/03/07 21/03/07 22/03/07 TAP 86% 81% - - - - - Glic - 151 - - - - - Ureia 23 37 - 36 - - 25 Creat 0.4 FR FR FR FR FR FR Ca 9.5 9.1 - 9.4 - - - Mg - - - 1.6 - 1.9 1.4 Na 138 142 142 143 141 142 141 K 4.2 1.7 1.6 1.7 2.0 1.7 1.8 Cl 97 104 101 103 102 103 103 TGO 63 50 - 40 - - 42 TGP 87 52 - 58 - - 58 Bb T 5.7 - - 1.8 - - - Bb D 4.1 - - 1.4 - - - Bb I 1.6 - - - - - - Prot / Alb - - - 8.6 / 3.5 - - - F. alc 3345 - - 2148 - - - GGT 254 - - 320 - - - Evolução • Com a troca da medicação, houve reversão da hipocalemia. • 05/04/07 – – – – – Alta hospitalar Sem queixas Bom estado geral Em uso de Itraconazol oral. Seguimento ambulatorial. Pontos de Discussão • Colestase – Pode haver obstrução das vias biliares pelo processo granulomatoso no fígado. • Fibrose Periportal – Não é descrita na lesão hepática por Paracococcidioides brasiliensis – Tipicamente encontrada na Esquistossomose e Fibrose Hepática Congênita. Pontos de Discussão • Anfotericina B – Efeitos adversos em 80% dos pacientes, – Principal: nefrotoxicidade – Outros efeitos colaterais: hipocalemia, hepato, mielo e cardiotoxicidade, etc. • Formulações Lipídicas da Anfotericina B – Menor toxicidade – Dispersão coloidal/ Lipossomal / Complexo Lipídico Consultem: Caso Clínico: Febre + dor abdominal há 20 dias Autor(es): Fernando Bisinoto Maluf, Elisa de Carvalho Obrigada!! Bibliografia • Consenso em Paracoccidioidomicose (2006) • Veronesi, R. Tratado de Infectologia. 2° Ed. • Boletim Epidemiológico da SES Paraná (Abril/2007) • Anais Brasileiros de Dermatologia. Volume 79 n°6 RJ. (Nov/Dez de 2004) • Site eletrônico da USP