O Mercado e a Revolução do Software Livre
Recentemente li um artigo publicado no site de uma das
maiores revista de informática do Brasil com o título:
"Brasil pode ser punido por software livre” (o artigo
original e meu comentário estão no final desse artigo)
onde induz um relacionamento entre o uso do software
livre com a pirataria e ao desrespeito aos direitos de
propriedade intelectual. Fiquei atônico com a tamanha desinformação
contida que resolvi publicar esse artigo e esclarecer alguns pontos
importantes sobre o tema, o que todo mundo deve saber sobre o software
livre.
O que é software livre?
Software Livre são programas de computador onde o usuário tem acesso
ao código-fonte e a liberdade de executar, distribuir, modificar e repassar
as alterações sem para isso tenha que pedir permissão ao autor do
programa, ou seja, pode ser usado, copiado, estudado e redistribuído e, na
maioria dos casos, são gratuitos e tem poucas (ou nenhuma) restrições.
Quais são as principais vantagens do software livre?
Além de a implementação da solução ter um custo muito menor do que
com sistemas proprietários pode-se destacar a liberdade de poder alterar o
código para adequar-se a necessidade de cada um sem depender do autor
do programa e também a possibilidade de trocar de fornecedor de serviços
sem ter de trocar de sistemas.
Um ponto importante é o fato do valor investido ir para pessoas e
empresas locais redistribuindo riqueza, emprego, renda e conhecimento ao
invés de remeter esse dinheiro para as tradicionais e poderosas
corporações transnacionais da informática.
É impressionante a capacidade da dinâmica do software livre na geração e
compartilhamento de conhecimento e na geração e distribuição de riqueza
e isso é muito importante, muito importante mesmo.
Os softwares livres tem a mesma qualidade que os softwares
proprietários?
O grau de amadurecimento que os softwares livres alcançaram hoje tanto
em relação às funcionalidades e qualidades como também em serviços e
suporte, vem viabilizando, cada vez mais, sua adoção em praticamente
todos os segmentos, sendo que em alguns como servidores WEB, seu uso
já superou o do software proprietário, pois a grande maioria destes
servidores rodam com o sistema operacional Linux e o web servers
Apache. A popularização da dobradinha da linguagem de programação
PHP com o banco de dados PostgreSQL e MySQL (utilizado pelo Google)
no desenvolvimento de aplicações web é impressionante, isso sem falar no
do suíte de escritório OpenOffice e, é claro dos CMSs Drupal, Joomla e
Wordpress, CRM Vtiger , e-learning Moodle, voip Asterisk etc. etc.
Como são desenvolvidos os softwares livres?
Na maioria dos casos a partir de uma organização virtual
em uma comunidade formada voluntariamente por
pessoas que tem interesses comuns. O desenvolvendo
das atividades são de forma aberta, participativa,
horizontal (sem gerentes ou chefes formais) e colaborativa. Cada
comunidade é auto-organizável e cria suas próprias regras, métodos de
trabalho e modelos de governança. O trabalho é realizado por
desenvolvedores voluntários espalhados pelo mundo todo, que na maioria
dos casos dedicam apenas parte de seu tempo a esta atividade e com
recursos próprios. A comunicação se dá por meio de fóruns, grupos de
discussão, wikis, e-mail e outras ferramentas colaborativas. De uma forma
geral o modelo de governança é baseado na meritocracia onde os níveis
de senioridade é conquistado conforme a quantidade e relevância das
colaborações de cada um e a participação é aberta.
As comunidades de software livre são auto-sustentáveis?
No início de cada projeto, na maioria dos casos, a força de trabalho é
voluntária e, na medida em que o produto ganha corpo e,
consequentemente, adeptos a captação de recursos é bastante facilitada.
Além de pequenas (mas geralmente numerosas) doações de pessoas
comuns que hoje são a maioria dos casos, são cada vez mais frequentes
grandes corporações injetarem recursos volumosos principalmente por
dois motivos:
Diminuir a dependência do desenvolvedor de software proprietário
e minimizar o custo de customizações e de troca (de fornecedor sem ter
que trocar de software). Essa lógica é bastante simples e podemos citar o
exemplo do ERP (Enterprise Resource Planning) open source Compiere
que recebeu um aporte de 6 milhões de dólares. Essas grandes doações,
muitas vezes, são efetuados por grandes corporações, usuárias de
software proprietário objetivando a possibilidade de no futuro migrar para a
solução open source e se livrar da total dependência que tem do
fornecedor de software proprietário como o SAP no caso de ERP.
Entrar num mercado dominado por outros. Esta lógica também é
bem simples e o Google faz isso com bastante frequência onde podemos
citar os exemplos dos softwares open source do Google como o browse
Chrome feito para entrar no mercado que é dominado pelo IE e o Firefox,
do sistema operacional para celulares Android para entrar no mercado
dominado pelo Symbian da Nokia, BlackBerry, Iphone da Apple e o
Windows Mobile da Microsoft e também a novidade do Google Wave que
vai tentar criar um novo mercado e tentar matar o MSN da Microsoft. Por
que será que o Google vai de software livre apenas nos mercados
dominados por outros? Se o Google é tão adepto ao open source, por que
não abre o código de seu buscador? Mas isso é assunto para outro papo
...
Independente dos motivos e intenções de cada um, o fato é que a indústria
do software livre é 100% legal e legítima, está cada vez mais sólida e autosustentável, está entrando em praticamente todos os mercados e começa
ganhar a liderança em muitos, e isso é muito bom.
A tradicional e hiper mega ultra lucrativa indústria do software proprietário
sempre
se
apegaram
principalmente em duas alegações
de desvantagens do software livre:
Que custo total (software +
manutenção) tende a ser igual
entre o software livre e o proprietário porque apesar do custo do software
livre ser muito baixo ou nenhum, o custo de manutenção é alto devido à
falta de pessoas especializadas (que cobram caro pelos serviços). De fato,
no passado, isso já foi realidade, mas com o advento do crescimento
exponencial da adesão ao software livre verificado nos últimos anos, é
cada vez maior a disponibilidade de profissionais altamente qualificados e
com a tendência de custos cada vez menores (já esses custos dos
softwares proprietários tendem, se não a subir, pelo menos a se manter).
Que muitos softwares livres não são gratuitos e/ou são de
empresas que visam o lucro também. De fato isso também é verdade, mas
tem pequenos detalhes que fazem toda a diferença como o valor que
geralmente é cobrado pelo software livre ser uma pequena fração se
comparado ao similar proprietário, de que na maioria das vezes esse
pequeno valor é distribuído para toda a comunidade desenvolvedora e não
concentrado em poucas empresas e que boa parte do investimento é pago
a profissionais locais fomentando a distribuição de riqueza na própria
comunidade e não remetendo esse valor geralmente para o exterior. Seria
algo como comprar o Windows da Microsoft (com o código fonte) por uns
R$ 40 reais (sendo que parte desse valor seria distribuída para os
desenvolvedores) e gastar mais uns R$ 60,00 com profissionais locais
para personalização e treinamento. Muito justo! Acredito que se a Microsoft
adotasse uma política similar venderia muito mais e continuaria sendo uma
empresa bastante lucrativa.
Esse conceito do software livre (de geração e compartilhamento de
conhecimento e de geração e distribuição de riqueza) é tão revolucionário
e trazem tantos ganhos e benefícios para todos que acredito que em
alguns anos os softwares proprietários serão minoria. Existem hoje vários
grupos de acadêmicos do mais alto nível no mundo todo inclusive no Brasil
estudando a dinâmica do software livre para tentar reproduzi-la em outras
atividades cotidianas.
É claro, por motivos óbvios, que essa revolução não está sendo
devidamente divulgada pelas mídias tradicionais, e os artigos publicados
como o citado mais confundem a todos do que informam.
Pelo visto, pelo artigo citado, demonstra que o poderoso lobby da indústria
do software proprietário está desesperado ao tentar relacionar o uso do
software livre a pirataria e ao desrespeito aos direitos de propriedade
intelectual. Era só o que faltava!
Acho que vou repetir a reflexão que postei no artigo anterior:
"Você pode enganar poucas pessoas por muito tempo. Pode também
enganar muitas pessoas por pouco tempo. Mas jamais conseguirá enganar
muitas pessoas por muito tempo".
Observo que cada empresa de software proprietário, hoje, tem todo o
direito de cobrar o quanto quiser pelos direitos de propriedade intelectual
do seu software, mas, por favor, ficar "sabotando" o software livre através
de organizações como a IIPA (Aliança Internacional pela Propriedade
Intelectual), como o visto no referido artigo, é subestimar a capacidade de
discernimento de todos.
Creio que vale a pena refletir sobre os conceitos de direito de propriedade
e suas mudanças com o tempo em nossa história ocidental. Na
antiguidade os imperadores tinham o "direito" de decidir sobre a vida e
morte de cada um, no Brasil colônia os "donos" de escravos tinham
também esse "direito" sobre suas "propriedades". Há bem poucos anos
qualquer um tinha o direito de fazer o que bem entender com os animais. É
bem possível que dentro de um futuro próximo todos achem tão absurdo o
direito a propriedade do conhecimento como eram absurdos os "direitos de
propriedade" dos imperadores, donos de escravos etc.
Caros leitores podem ter certeza, de que a questão não é se a revolução
do software livre vai se concretizar e sim quando. O máximo que os que
conspiram ou torcem contra estão conseguindo, mesmo com todo o seu
poder e lobby, é apenas retardá-la por breves instantes.
Viva o software livre! Compartilhe conhecimento!
Artigo publicado no site da Info (Editora Abril)
Link: http://info.abril.com.br/noticias/ti/brasil-pode-ser-punido-por-softwarelivre-26022010-31.shl
Título: Brasil pode ser punido por software livre
SÃO PAULO – A Aliança Internacional pela Propriedade Intelectual (IIPA
em inglês) pode colocar o Brasil na lista negra do copyright por causa do
apoio ao software livre e de casos constatados de pirataria.
A organização, composta por grupos como a Business Software Alliance, a
MPAA e a RIAA, entende que o incentivo aos programas de código aberto
significa que o país tem uma política inadequada contra o abuso dos
direitos de propriedade intelectual.
O documento de 498 páginas, enviado pela aliança aos representantes do
comércio dos EUA, ainda pede que países como a Índia, Tailândia, Vietnã
e Indonésia também sejam incluídos na lista.
Caso ele seja aprovado, sanções de comércio poderão ser aplicadas para
forçar as nações a adequarem a leis de acordo com os padrões exigidos
pela IIPA.
No caso da Indonésia, por exemplo, a organização afirma que o incentivo
do uso de software livre dentro de agências governamentais ajuda a
enfraquecer a indústria de tecnologia, além de acabar com a
competitividade.
De acordo com o documento, o setor público passaria a preferir empresas
com esse tipo de solução, impedindo companhias "legítimas" de participar
de negociações com os governos.
O Brasil também é citado diversas vezes como ameaça ao mercado de
músicas e games, devido aos casos de pirataria e número de arquivos
compartilhados em redes.
Comentário que postei no artigo:
"Esses caras não se cansam de tentar confundir.
Tentar fazer uma relação entre software livre e pirataria isso sim é crime.
O fato é que a indústria de software livre (que é 100% legal e legítima)
ganha cada vez mais mercado, e não é só o Linux, temos o CMS Joomla,
o CRM Vtiger e milhares de outros softwares que são líderes como o
Apache.
O que realmente preocupa o pessoal do software proprietário e a IIPA (seu
braço lobista) é que, ao contrário do software proprietário, que acumula
riqueza para poucos, o software livre distribui a riqueza gerada com ele,
sejam para os desenvolvedores (que obtém receita principalmente com
donativos), prestadores de serviço (qualquer pessoa pode adquirir o
conhecimento que é livre, prestar serviços e ser remunerado por isso) e
até o próprio usuário final (que ao invés de mandar seu dinheiro para
poucas empresas multinacionais, estará distribuindo localmente e isso faz
muita diferença).
Caro editor James, já está mais que na hora, nesses tipos de artigos, não
apenas ficar reproduzindo (des)informações, e esclarecer a verdade ou, no
mínimo, mostrar o outro lado.
Sei que os principais anunciantes da Info são as empresas de software
proprietário, mas tenha em mente que, em breve, poderão ser também as
de software livre!
Fonte:
http://www.portal2web.com.br/software-livre/o-mercado-e-a-revolucao-dosoftware-livre.html
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