PERFIL DA ENFERMEIRA NA FUNÇÃO GERENCIAL DO SISTEMA DE
SAÚDE PÚBLICA
CARDOSO, Gessi Maria1
FIEWSKI, Marlei Fátima Cezarotto2
LAZAROTTO, Elizabeth Maria3
Resumo: O objetivo deste estudo foi identificar e analisar o perfil das enfermeiras que
trabalham nos serviços de saúde pública da cidade de Cascavel - Pr, nas funções
gerenciais. Esta investigação se caracterizou como exploratório-descritivo com
abordagem qualitativa, na amostragem do tipo aleatória e transversal. O caminho
metodológico escolhido foi o da pesquisa de campo com entrevistas individuais, com
roteiro pré-elaborado. Em relação às dificuldades no desenvolvimento da função
gerencial são apontadas as faltas de oportunidades para a atualização, problemas de
comunicação, não definição clara das funções, trabalho em equipe, motivação,
incentivos e falta de capacitação para o cargo, desconhecimento da função gerencial,
autonomia, burocracia e falta de recursos humanos. O estudo evidenciou ainda que as
enfermeiras têm clareza das dificuldades para desempenhar as funções, entretanto,
desconhecem quais são os conhecimentos, habilidades e atitudes do processo gerencial e
que estes estão vinculados não apenas na formação, mas, na prática profissional e no
perfil de cada indivíduo.
Palavras-chaves: Perfil gerencial - enfermeira - serviço de saúde
1
Prof: Auxiliar, docente no Curso de Enfermagem na Unioeste - Campus de Cascavel/PR.
Prof: Auxiliar, docente no Curso de Enfermagem na Unioeste - Campus de Cascavel. Rua Marechal
Rondon, 2441, Apto 302, Centro, Cascavel/PR. CEP: 85.810-120. E-mail: [email protected].
Telefone: (45) 222.2957.
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Prof: Auxiliar, docente no Curso de Enfermagem na Unioeste - Campus de Cascavel/PR.
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2
INTRODUÇÃO
Os profissionais que atuam no sistema de saúde constituem um dos eixos responsáveis
pela eficiência do mesmo, ou seja, sua capacidade de intervenção é diretamente
proporcional a qualidade da sua formação e/ou capacitação para desenvolver atividades
nos serviços de saúde. Na maioria das instituições o enfermeiro é o gerenciador das
atividades das Unidades Básicas de Saúde, além de ser também prestador de cuidados,
enfim, compartilha junto com os outros profissionais a responsabilidade funcional dos
serviços, a nível assistencial, educativo e administrativo, sendo por vezes um articulador
da equipe.
Os problemas dos serviços de saúde dependem das políticas públicas, das condições de
trabalho e da capacidade gerencial para manejar os recursos existentes A escola é a
grande formadora e responsável pelo perfil desenvolvido em seus acadêmicos, onde o
marco conceitual e a filosofia do processo formador definem a maneira de atuação, as
competências e habilidade de cada futuro profissional.
Este estudo teve como objetivo geral à identificação e analise do perfil das enfermeiras
que trabalham nos serviços de saúde pública da cidade de Cascavel - Pr, nas funções
gerenciais nas Unidades Básicas de Saúde, avaliando as necessidades, limitações e
características para a prática profissional na administração gerencial levando em
consideração todas as limitações dos sistemas.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Perfil Profissional
Investimentos em educação e capacitação profissional são importantes para o
desenvolvimento do ser humano, visando sempre à qualificação do trabalhador, pois, o
conhecimento é o principal produto e instrumento de crescimento profissional neste
século. Diante destas novas exigências o,
trabalhador necessita adquirir novos conceitos sobre seu perfil profissional,
pois, o mercado de trabalho buscará, trabalhadores com capacidade para
uma administração flexível, qualificado, maior autonomia, valorizado em
seu trabalho pelo próprio processo de reestruturação, que tenha imaginação
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e criatividade. Assim o trabalhador terá condições de ser, permanentemente,
um agente de inovação tecnológica dentro de organizações inovadoras e
empreendedoras (CARVALHO, 1998, p.71).
A definição de perfil profissional deve ser coerente com a ideologia e vocação
individual, deve ser construído ao longo da sua trajetória de trabalho, agregando
conhecimentos por meio de curso de aperfeiçoamento, pós-graduação entre outros,
sendo direcionado na mesma linha de conhecimento. É importante que a interdisciplinariedade faça parte deste rol de formação, pois, a somatória das disciplinas
compõe o conjunto para atender as necessidades de saúde da população, as quais,
direcionam a organização dos serviços de saúde.
Perfil do Profissional Enfermeiro
O profissional Enfermeiro exerce as funções de: assistência, ensino, gerência e pesquisa,
sendo sua formação de nível universitário, os cursos formadores são de quatro a cinco
anos de duração.
A maioria das atividades desenvolvida pelo enfermeiro é a somatória do cuidado com o
paciente, onde a assistência sistematizada e humanizada garante a qualidade do
atendimento, sendo que em algumas ocasiões se estende a outras funções tais como:
gerenciamento da assistência, dos serviços de enfermagem, formação da equipe de
enfermagem e de outros profissionais de saúde, planejamento e implementando ações de
educação em saúde dirigidas à população;
Perfil Gerencial
O perfil gerencial é constituído por uma série de cargos, o qual possibilita uma gama de
sucessos enquanto o cidadão permanecer na função. Martinez (2002) afirma que o
gerente é influenciado por fatores econômicos, profissionais, ideologia da empresa,
formação e valores pessoais, motivação.
O gerente é fundamental no processo administrativo, para Maximiano (1995, p.3-7) é
ele quem “planeja, organiza, dirige e controla. Principalmente dirige, conduzindo
pessoas de acordo com suas decisões...”. O gerente lidera seres humanos, para tanto é
necessário manter a motivação e auto-estima. Manter relações com a equipe visando o
lado humano e o profissional.
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Perfil Gerencial do Enfermeiro
No caso da saúde o gerente utiliza o conhecimento científico para criar e melhorar as
práticas nos serviços, promovendo e protegendo a saúde dos indivíduos, família e
comunidade. Este perfil não é tão restrito e sua amplitude é considerável, visto que a
ação administrativa permeia todas as fases da prática desde o planejamento,
programação da assistência e avaliação. Mendes (1988) escreve que ao estudar o perfil
do enfermeiro na função gerencial deve-se considerar um conjunto de outros papéis, que
o profissional desempenha como pessoa, interagindo no ambiente social.
Considera-se, que a realização da prática de gerenciamento permitirá o envolvimento
dos trabalhadores de enfermagem na discussão da efetividade de sua atividade; no
entendimento dos processos de trabalho onde estão inseridos, seus determinantes
políticos e sociais e da necessidade da descrição e sistematização das intervenções de
enfermagem. Assim, as atividades realizadas pelos gerentes permitem o reconhecimento
da sua prática e a análise crítica de sua relação com as demais produções de serviços do
setor saúde. Para o desenvolvimento da gerência é necessário repensar o processo de
trabalho na sua totalidade dinâmica.
Gerenciamento de Unidade Básica de Saúde
O gerenciamento da UBS tem caráter dinâmico, para desenvolver atividades junto à
comunidade, realizando atendimento primário, onde a “assistência caracteriza-se pelo
fato de permitir o acesso direto da população, constituindo-se em porta de entrada
regular do sistema” (BRASIL, 1990, p.12).
Para realizar o gerenciamento das UBS é essencial que o Enfermeiro tenha
conhecimento, habilidades e atitudes relacionados às funções gerenciais. Até o século
passado, o conhecimento era usado como base para o autoconhecimento, o crescimento
da moral e o desenvolvimento espiritual. Atualmente o conhecimento passou a ser
aplicado na prática, transformando-se em recursos, ferramentas, processos e produtos.
Assim, o saber social, segundo Lopes e Nunes (1995) é constituído por todo o conjunto
de conhecimentos e permite ao indivíduo identificar o meio no qual está inserido como
ator social, desempenhando suas funções de integração dentro: do trabalho, na
organização, na cultura profissional e no clima organizacional, ou seja, tem que
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desempenhar atividades profissionais e sociais, além das atitudes de relação e
comunicação, relativa a auto-imagem, conhecimento, auto-estima e autoconfiança e
principalmente integração entre a equipe.
O conhecimento tácito é altamente pessoal, difícil de formalizar, o que dificulta sua
transmissão, e principalmente, a divisão com os demais trabalhadores, ele é a somatória
das experiências anteriores, da emoção, valores e idéias de cada profissional. O
conhecimento explícito pode ser facilmente processado no computador, transmitindo
eletronicamente ou armazenado em bancos de dados (NONAKA E TAKEUCHI, 1997).
O conhecimento é um processo social, devem estar articulado interdisciplinar,
multidisciplinar e transdisciplinar. Neste universo, deve-se prestar atenção ao todo e não
apenas nas partes, redefinir o processo de trabalho e passar a considerar o homem como
um ser integral, sendo, portanto, capaz de interagir, participar da vida e na organização
disseminando o conhecimento como fonte de informação.
Entretanto, além do conhecimento o gerente deve ter capacidade de tomar decisões e de
mudar, o que exige do trabalhador contemporâneo a aquisição de habilidades
específicas, relacionadas com a percepção acurada do contexto, a visão sistêmica, o
pensamento crítico, o uso adequado das informações e a postura ética. Este conjunto de
habilidades não vem pronto ele precisa ser aprendido e reaprendido de maneira
dinâmica.
Para Mattar (apud Lazzarotto, 2001, p.30-31) os três principais componentes da atitude
segundo são: cognitivo, que representa as crenças da pessoa em relação a produtos,
organizações, pessoas, fatos ou situações; afetivo, por meio dos sentimentos das pessoas
em relação a produtos, organizações, pessoas, fatos ou situações e o comportamental,
significando a predisposição para uma reação comportamental em relação a um produto,
organização, pessoa, fato ou situação.
Baseado nestes pressupostos as atitudes requeridas para gerenciar, são: ser justo, ético e
atencioso para com os seus subordinados; afetivo, dando atenção ao lado psicológica e
emocional das pessoas; prospectivo, explorador, voltando-se para fora da empresa;
aberto à negociação e ao diálogo; abertas às mudanças, novas idéias e novas
experiências. A intuição é considerada uma atitude valiosa, para Pereira (2000, p.32)
refere-se ao “ato de ver, perceber, discernir; percepção clara ou imediata; discernimento.
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Ato ou capacidade de pressentir, pressentimento”. O gerente intuitivo terá consciência
de suas aspirações, traçará seus objetivos e principalmente, resolverá conflitos e ou
situações embaraçosas com maior desenvoltura, usando um fenômeno extra-sensorial,
aguçando seus sentidos e reconhecerá o caráter da equipe de trabalho identificando não
somente suas necessidades, mas, a da organização, para uma tomada de decisão mais
eficiente e rápida.
No século XXI, serão os enfermeiros frente à gerência que terão que mudar paradigmas
para não apenas sobreviver, mas prosperar, pois, a globalização é o caminho, e o desafio
de cada profissional para ocupar o seu espaço, sem uma receita pronta capaz de resolver
todas as dificuldades, que sempre surgirão em diversos níveis.
PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
Método
Este estudo caracterizou-se como exploratório-descritivo com uma abordagem
qualitativa, na amostragem do tipo aleatória e transversal. O caminho metodológico
escolhido foi o da pesquisa de campo com entrevistas individuais, com roteiro préelaborado. A pesquisa exploratória e descritiva foi utilizada como parâmetro para
descrever o fenômeno em torno das funções gerenciais, principalmente, pelo fato das
entrevistadas desempenharem tal função, além do pouco referencial teórico em torno do
tema, perfil profissional do Enfermeiro de caráter administrativo.
O estudo classifica-se como qualitativo, pois, partindo da sistematização do
conhecimento e das entrevistas foram analisados os fatos que permeiam a função
gerencial, fazendo um confronto de dados relacionado com a bibliografia existente
sobre o tema. A amostragem constituiu-se aleatoriamente, pois, o número de
profissionais que desenvolviam as atividades de gerentes é significativo.
População Alvo e Campo de Pesquisa
A amostra da população foi composta por dez Enfermeiras que trabalhavam na gerência
de órgãos públicos na cidade de Cascavel-PR, nas seguintes instituições: Secretaria da
Saúde do Município de Cascavel-Pr (Diretora de Saúde, Gerente de Distrito e Centro de
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Orientação a Saúde - COAS), Unidades Básicas de Saúde do município, Consórcio
Intermunicipal de Saúde (CISOP), Hospital Universitário de Cascavel, 10ª Regional de
Saúde e Docente da Disciplina de Administração do Curso de Enfermagem da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
O critério utilizado para escolha da população alvo constituiu-se de: estar exercendo a
função de gerência em um dos órgãos públicos supra citado; estar na gerência a mais de
seis meses e ter disponibilidade e aceitar participar da entrevista.
Coleta de dados
A coleta de dados foi realizada no período fevereiro a abril de 2000, na própria
instituição onde estavam vinculados os sujeitos da pesquisa, após, consentimento dos
diretores das instituições por meio de ofícios. A entrevista teve uma duração média de
duas horas, sendo seis por meio de gravação eletrônica e quatro transcritas no papel,
pois, não houve aceitação por parte dos entrevistados na utilização do gravador como
recurso.
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Para um melhor entendimento, os resultados serão divididos em dois momentos. O
primeiro mostra o perfil sócio-demográfico dos entrevistados e o segundo as perguntas
norteadoras da entrevista.
Perfil Sócio-Econômico-Demográfico
Os dados relativos ao sexo dos entrevistados foram de 90% do sexo feminino. Na
variável idade, 50% dos entrevistados estavam na faixa etária de 31 a 40 anos,
enquadrando assim, no que a sociedade considera como idade produtiva para o mercado
de trabalho. Quanto ao nível de escolaridade 70% dos entrevistados, eram graduados e
especialistas, e somente 20% dos demais, possuíam mestrado. A escola de formação da
graduação da maioria dos entrevistados (90%) foi a UNIOESTE, sendo 50% dos
pesquisados formados entre 1970 a 1980.
Em relação ao número de empregos, a maioria (80%) possuía somente um emprego.
Quanto ao cargo exercido foram encontrados: 10% de Diretor do Departamento de
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saúde, 20% Gerente Distrital, 10% Gerente de Unidade Básica de Saúde, 10% Gerente
do setor de epidemiologia, sendo estes a nível municipal. Quanto ao nível estadual, 10%
Coordenador do Centro do Oeste do Paraná (CISOP), 10% Gerente de programa, 10%
Gerente do serviço de enfermagem e 20% de docentes. Os resultados obtidos em relação
ao tempo que exerciam a função, na instituição, mostram que 40% estavam de seis
meses a um ano, 30% de dois a quatro anos e 10% acima de dez anos na mesma
instituição.
A renda mensal dos entrevistados está distribuída da seguinte forma: 30% entre dois e
meio a quatro salários mínimos, 50% de cinco a nove salários mínimos e 20% entre dez
a quinze salários. Entretanto, a concentração da renda, com um ganho maior, é pelo
duplo vínculo empregatício. Em relação ao estado civil, 70% eram casados, 20%
separados e 10% solteiros.
Questões Norteadoras
As questões norteadoras da pesquisa se compõem de tópicos, sendo que os mesmo
foram analisados pela abordagem qualitativa.
Pergunta 1: Funções de gerencia realizadas em seu trabalho
A maioria dos entrevistados (n=9) tem um entendimento fragmentado em relação à
função gerencial desenvolvida pelos enfermeiros que atuam no serviço público, ou seja,
as ações são isoladas e são desenvolvidas conforme se apresenta o problema sem um
planejamento prévio.
No caso da saúde, o gerente utiliza o conhecimento para planejar, programar,
desenvolver, controlar as atividades realizadas nas Unidades Básicas de Saúde,
cumprindo com a missão social e humana, promovendo e protegendo a saúde da
população. Para Santana (1997) o desenvolvimento gerencial das Unidades Sanitárias
do Sistema Único de Saúde (SUS), tem como objetivo: a identificação, a análise do
processo de produção, a sua inserção no contexto social, a identificação, o
conhecimento da população da área de abrangência, as características demográficas, as
condições de saúde, o conhecimento do perfil epidemiológico da população, a análise da
cobertura e o grau de impacto de satisfação da população em relação à oferta dos
serviços produzidos.
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Entretanto, Nogueira (1993) afirma que a prática da gerência é uma necessidade, e o seu
comprometimento é com os resultados. O planejamento e controle têm que ser de
acordo com a realidade dos serviços, dos recursos disponíveis, das necessidades da
população, do entendimento da realidade social em que a organização está inserida e
tem que dispor de conhecimentos e habilidades sobre as práticas administrativas,
inerentes ao gerenciamento.
O processo de produção dos serviços de saúde tem características próprias, daí a
importância do papel da gerência na eficácia da prestação dos serviços. Nogueira (1997,
p.182) enfatiza que “toda a assistência à saúde é um serviço. Serviço funde-se em uma
inter-relação pessoal intensa, na saúde, ele é forte e decisivo para a eficácia do ato“.
Assim, o trabalho da enfermeira é um processo específico, pois, envolve o
cliente/paciente nos aspectos bio-psico-social, onde a qualidade dos serviços prestados
está em primeiro lugar.
Pergunta 2: Conhecimentos e habilidades necessários para o gerenciamento.
Os entrevistados pontuaram algumas habilidades, conhecimentos e atitudes, contudo,
observa-se que há uma interpretação errônea quanto a estas definições. Considera-se
conhecimento como sendo o aprendizado constante, adquirido ao longo do processo de
vida, escolar e profissional, e o que se desenvolve na prática é a habilidade, a partir da
teoria e as atitudes são vinculadas ao comportamento pessoal.
Portanto, para desempenhar com eficiência o gerenciamento é necessário conhecimento
das políticas de saúde, ou seja, saber a missão, objetivos da instituição, dos serviços
realizados na UBS, o perfil epidemiológico da comunidade, o sistema de informação. È
necessário também que o enfermeiro saiba o que é planejamento estratégico, para que
possa então programar, executar e avaliar o serviço prestado no seu local de trabalho.
Dentro deste estudo foi evidenciado algum destes itens, deixando claro que há um
conhecimento adquirido ao longo da atuação profissional, como mostra a fala de um dos
entrevistados, sujeito 10 - [...] ter um perfil, conhecer a estrutura organizacional, estar
preparado por curso de gerenciamento para ele saber fazer diagnóstico, perfil
epidemiológico, conhecer o processo de trabalho, delegar.
O desenvolvimento das capacidades individuais, a partir da educação permanente,
apoiada
no
desenvolvimento
das
competências,
permitirá
avançar
para
a
10
sustentabilidade e autonomia das organizações, segundo Irigon (1996, p.3), “uma pessoa
competente em seu trabalho deve adquirir conhecimento e desenvolver habilidades
variadas para a tomada de decisão, solução de problemas, conflitos e para negociar”.
O conhecimento gerencial na maioria das vezes é determinado por um conjunto de
fatores pessoais, inatos e intuitivos, outros, são adquiridos, pela formação e/ou
experiências do desenvolvimento do conhecimento e das habilidades, como descreve
Junqueira (1992, p.86) “a atuação gerencial requer conhecimentos e habilidades que
passam pelas extensões técnicas, administrativas, políticas e psicossociais, possuindo
significado eficaz que permeará a ação gerencial”.
O gerenciamento das Unidades Básicas de Saúde tem a finalidade de dar mais
importância às respostas sociais, às necessidades da demanda nos serviços de saúde, na
medida em que se propõe a considerar o ambiente como sendo o processo de trabalho
com a equipe e comunidade.
O trabalho do gerente é colaborar com a organização no sentido de criar meios e
desenvolver o grupo com habilidades especiais, com eficiência e equilíbrio,
promovendo mudanças que agreguem valor ao processo da organização. Isto envolve ter
profissionais aptos a gerenciar relacionamentos, interagir e comunicar-se muito bem
com pessoas de uma equipe, com a organização e com o sistema social no qual a
organização está inserida, a fim de mover um grupo em direção às mais altas aspirações.
E para isso não é necessário que o profissional tenha que necessariamente buscar
formação especifica conforme relata o sujeito 10 - Para gerenciar é necessário Curso
com formação em capacidade gerencial, psicologia, políticas administrativas e de
saúde.
Nesta mesma perspectiva deve ser constituída a gerencia de saúde, ou seja, ela deve
assumir papel decisivo na mudança da qualidade dos serviços, implementando o
trabalho em equipe, motivando cada membro, fazendo com que o trabalho faça parte de
sua história de vida, conseqüentemente, isto reverterá em prol da comunidade assistida,
que é o objetivo maior dos serviços de saúde.
Pergunta 3 - Dificuldades para o desenvolvimento das atividades de gerência
Gerenciar é a capacidade de resolutividade das atividades, é saber organizar por meio do
planejamento, as ações a serem executadas além, de ter o controle de qualidade dos
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serviços em avaliação contínua e com programas de capacitação permanente da equipe.
Esta pesquisa mostra que há um desconhecimento do conceito de gerência, embora,
muitos abordam algumas funções/estratégias que compõem o gerenciamento.
A gerência deve estar centrada no sentido da multidisciplinariedade da equipe, para o
desenvolvimento do planejamento, da programação das ações de saúde. Outro ponto
levantado, relativo às dificuldades encontradas para o exercício das funções de gerência,
exercido pelo profissional enfermeiro, foi a não aceitação deste pela equipe, isto é
expresso na fala de um dos entrevistados, “sujeito 3 - Não aceitação do profissional
enfermeiro na gerência”, este fato mostra que muitas vezes o profissional coloca que as
dificuldades estão apenas vinculadas a sua formação acadêmica, cabendo aqui uma
análise deste paradigma, será o profissional enfermeiro que não é aceito? Ou apenas o
profissional que não tem o perfil para a função?
A resposta não será definida apenas com estes questionamentos, devendo ser analisados
todos os pilares em que os conflitos geram as dificuldades. Muitas vezes a profissão é
colocada como forma de amenizar conflitos pessoais dentro do grupo de trabalho.
Mendes (1988) ressalta que nesta concepção deve-se considerar vários ângulos, pois, há
vários papéis que o profissional Enfermeiro pode desempenhar como pessoa,
interagindo no ambiente de trabalho. Motta (1996) enfatiza que a maioria dos gerentes
de saúde não estão preparados para assumir a função de gerência, deparando-se com a
mesma somente no primeiro emprego, isto é, não são qualificados para tal desafio,
porém, alguns acreditam que a experiência técnica e prática possa ajudar nesta
atividade, contudo, ao assumirem a gerência frustram-se, pois, deixam de realizar a
parte técnica, classificando o trabalho com enfadonho, desnecessário e burocrático,
justificando continuamente suas dificuldades para desempenhar as funções gerenciais.
Pergunta 4 - O curso de Enfermagem prepara para a função de gerência
A maioria (n=9) dos entrevistados coloca que o curso não prepara para as funções
gerenciais, prepara sim para a administração da assistência de enfermagem, sendo a
teoria desvinculada da prática, uma vez que os campos de estágios apresentam
divergências com a realidade trabalhada em sala de aula.
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Há vários tipos de aprendizagem e para identificá-las se deve focalizar as habilidades
internas do indivíduo que está neste processo, segundo Gagne (1974) também ocorre
um estímulo que é externo alheio ao indivíduo e cada tipo de aprendizagem se inicia a
partir de um ponto diferente da habilidade interna e, principalmente, da demanda
externa que se apresenta diferente em cada situação, para se realizar eficientemente.
Entretanto, a realidade mostra que o enfermeiro executa além do cuidado do paciente a
gerência dos serviços, de recursos humanos, materiais, se distanciando por vezes da
função assistencial para qual a grande parte da grade curricular foi destinada. Lunardi
Filho e Lunardi (1996, p.25) salientam ainda que “há uma nítida tendência dos órgãos e
agentes formadores de enfermeiros à negação da administração como parte do trabalho
da enfermagem, [...] como se ambos fossem auto-excludentes e incompatíveis”.
Contudo, há uma continuidade do processo mesmo com limitações, conforme, ressalta o
sujeito 1- “Teoria e prática (experiência) não são equivalentes, é só no dia a dia e que
vai saber colocar em prática o conhecimento teórico”. Porém, alguns vão a busca de
recursos para apreender, como cursos de aperfeiçoamentos, pós-graduação, outros são
autodidatas e alguns se acomodam fazendo de conta que administram sem resultados
efetivos. Para Cunha (1987, p.181) essa dicotomia entre a teoria e a prática, “[...] tem
originado uma crise, também histórica, de identidade profissional, traduzindo-se por
desmotivação, inércia, impotência, não participação nas atividades de classe...”.
A escola tem sua ação voltada para um perfil de formação, a qual normalmente, é
delimitada ou planejada de acordo com o mercado de trabalho. Entretanto, alguns
acadêmicos vão atuar em áreas distintas fora do estado que concluiu seus estudos,
alguns conseguem trabalhar buscando a complementaridade da graduação além da sua
prática, outros, porém, não o fazem colocando que a deficiência na habilidade ou no
conhecimento faz parte do sistema onde está inserido.
Pergunta 5 - Qual o perfil da enfermeira para gerenciar o sistema de saúde pública
Os principais benefícios do conhecimento para as organizações estão relacionados com
a interação entre os gerentes e a equipe de trabalho, a eficiência das comunicações, a
interação entre clientes e fornecedores, a utilização das competências essenciais,
imprimindo alternativas e eficácia nas funções gerenciais. Nas entrevistas com os
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enfermeiros gerenciais são salientados alguns benefícios do conhecimento, quando foi
solicitado o que é necessário para o desempenho da função gerencial, alguns
entrevistados colocam saber realizar um planejamento e executa-lo é entender o
processo de trabalho, que o conhecimento das políticas de saúde, do perfil
epidemiológico ajuda na operacionalização da administração.
O que se observa é que muitos dos entrevistados conseguem expressar o perfil do
profissional que desempenham a função gerencial, entretanto, há um distanciamento da
articulação com o desenvolvimento das funções. O gerente deve atuar como pólo
gerador de conhecimento, desenvolvendo as competências, incorporando as inovações
tecnológicas, definindo suas responsabilidade, visando à eficácia da saúde.
O planejamento e controle devem ser de acordo com a realidade dos serviços, dos
recursos disponíveis, das necessidades da população, do entendimento da realidade
social em que a organização está inserida e tem que dispor de conhecimentos e
habilidades sobre as práticas administrativas, inerentes ao gerenciamento.
CONCLUSÃO
O perfil gerencial da enfermeira está condicionado ao contexto social e é determinado
pelas condições do mercado de trabalho, onde a academia é a grande responsável pela
formação destes profissionais. Esta investigação permitiu a identificação de fatores e
intercorrências que interferem no processo gerencial, além da falta da formação
especialista para desempenho das funções.
O perfil adequado para o âmbito da área de saúde se caracteriza pela formação científico
técnico sob a base do desenvolvimento dos valores humanos, da solidariedade, justiça,
ética e compromisso social, da integração com a equipe multiprofissional é essencial
para que a prática profissional seja caracterizada pela correta aplicação das normas e
procedimentos contribuindo assim para melhorar a situação de saúde do país.
Este perfil gerencial deve ter um adequado conhecimento da realidade geral da saúde a
fim de poder objetivamente executar ações de planejamento, programação e
desenvolvimento das atividades, onde a participação em projetos de investigação faz
parte da assistência e sistematização de ações que revertam em beneficio a saúde dos
usuários.
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Bloon et al. (1972, p.31) afirmam que ”a teoria geral da aprendizagem indicam que o
conhecimento organizado e inter-relacionado é melhor apreendido que do conhecimento
específico isolado”, ou seja, se não há formação não há articulação com outras áreas e
divisão com os profissionais de outras áreas, certamente os resultados não serão tão
efetivo quanto os desenvolvidos isoladamente.
Em relação às dificuldades no desenvolvimento da função gerencial são apontadas as
faltas de oportunidades para a atualização, problemas de comunicação, não definição
clara das funções, trabalho em equipe, motivação, incentivos e falta de capacitação para
o cargo, desconhecimento da função gerencial, autonomia, burocracia e falta de recursos
humanos.
O estudo mostra também que as enfermeiras têm clareza das dificuldades para
desempenhar as funções, entretanto, desconhecem quais são os conhecimentos, atitudes
e habilidades do processo gerencial e que estes estão vinculados não apenas a formação,
mas, a prática profissional e o perfil de cada indivíduo.
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PERFIL DA ENFERMEIRA NA FUNÇÃO GERENCIAL DO