Assistência respiratória imediata ao pré-termo extremo Ventilação mecânica e surfactante, CPAP nasal precoce e surfactante seletivo ou Intubação, surfactante e CPAPnasal:Evidências (3061 RN!) Paulo R. Margotto Prof. Do Curso de Medicina da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)/SES/DF www.paulomargotto.com.br [email protected] Reunião com a Unidade de Neonatologia do HRAS 3/11/2011 Lembrem-se que as evidências mudam em decorrer do tempo, pois se não validarmos nossas condutas podemos causar mais mal do que bem para o recém-nascido (Guinsburg,2010) Assistência respiratória imediata ao prétermo extremo Evitar o CPAP fútil Privilegiar o SURFACTANTE SELETIVO Assistência respiratória ao prétermo extremo Morley CJ et al (2008):estudo multicêntrico randomizado (ao nascer) CPAP nasal (307 RN) ou Intubação e Ventilação (303 RN) (RN pré-termo extremo: 25-28 semanas) -Morte/DBP IGpc de 36sem:34% x 37%): OR:0,8(0,58-1,12) -Falha do CPAP: 46% ;redução em 50% do uso surf -Complicação: Pneumotórax (9,1%-CPAP x 3%-Int) Sem diferenças na HIV,Leucomalácia, ECN,PCA, esteróide Estes RN muito prematuros, 25-26-27-28 semanas podem ser tratados com CPAP desde o nascimento Assistência respiratória ao prétermo extremo Rojas et al Colombian Neonatal Research Network):2009. IG:27-31 sem Intubação-Surfactante-Extubação-CPAP nasal (141 RN) X CPAP nasal (138 RN) Resultados: VM:26% (tratado) X 39%(controle):p<=0,05 PTX: 2% (tratado) x 9% (controle):p<-0,05 Surfac resgate:12% (tratado) x 26% (controle):p<=0,05 DBP: SEM DIFERENÇAS Níveis para intubação: FiO2>0,75,PaCO2>65mmHg e apnéia Considerados muito altos Assistência respiratória ao pré-termo extremo Support Study Group: 2010 (NICHD) CPAP (663 RN) x Surfactante (653 RN):2010 24 sem a 27sem6dias Randomização antes do nascimento Maior necessidade de epinefrina nos intubados Assistência respiratória ao pré-termo extremo SEM DIFERENÇA ENTRE OS GRUPOS QUANTO A MORTE OU DBP Assistência respiratória ao pré-termo extremo Os RN do grupo CPAP sobreviveram mais e necessitaram de menos dias de ventilação Necessitaram menos de corticóides para displasia broncopulmonar Assistência respiratória ao pré-termo extremo Outros desfechos: -morte intrahospitalar -24 semanas 0 dia e 25 semanas 6 dias de gestação, Menores taxas de morte intrahospitalar no grupo do CPAP: 23,9% vs 32,1% (menor risco para o CPAP : 0,74 ( 0,57- 0,98)- p= 0,03 -26semanas a 27sem6dias: sem diferenças -Pneumotórax: sem diferença entre os grupos Support Study Group: 2010 (NICHD) Assistência respiratória ao pré-termo extremo A estratégia com CPAP resultou: Menor índice de intubação Redução na necessidade de corticóide pós- natal Menor duração da ventilação sem o aumento do risco de desfechos adversos neonatais Permite-se a consideração do uso de CPAP como uma alternativa à rotina de intubação e uso de surfactante em RN pré-termo Support Study Group: 2010 (NICHD) Assistência respiratória ao pré-termo extremo CURPAP: Sandri et al, 2010 Surfactante profilático ou seletivo precoce combinado com CPAPnasal nos recém-nascidos prematuros extremos: 25sem a 28sem6 dias Estudo multicêntrico, randomizado (antes do parto) Comparar: -a administração de surfactante profilático seguido por nCPAP (intuba-surfactante-extuba para CPAPnasal) COM -CPAPnasal precoce seguido por surfactante precoce seletivo. REDUZ A NECESSIDADE DE VM NOS PRIMEIROS 5 DIAS? Assistência respiratória ao prétermo extremo Intervenção Grupo do surfactante profilático: Intubados para a administração de uma dose de alfa poractant (CUROSURFR) de 200 mg/kg Posição do tubo confirmada pela ausculta Durante a administração de surfactante, crianças foram ventiladas manualmente para facilitar sua distribuição Dentro de 1 hora, se possível, extubados para CPAPn, se drive respiratório estivesse presente VM Falha do CPAPn Ausência de drive respiratório Assistência respiratória ao prétermo extremo Intervenção Grupo do CPAPn Estabilizados em CPAP apenas Falha do CPAP nasal, e após radiografia de tórax Início de surfactante precoce seletivo em uma dose de 200 mg/kg. Posteriormente, as crianças foram tratadas como no grupo do surfactante profilático Assistência respiratória ao pré-termo extremo Indicação de retirada da VM Extubação CPAP (dentro de 1 hora) Bom drive respiratório FiO2 < 0,4 para manter SatO2 entre 85% e 92% Pressões relativamente baixas do ventilador MAP ( mean airways pressure- pressão média das vias aéreas) < ou igual a 7 e < ou igual a 8 cm H2O em ventilação mecânica convencional e ventilação de alta freqüência oscilatória, respectivamente PaCO2 < 65mmHg, pH > ou igual a 7,2 Assistência respiratória ao prétermo extremo Resultados Sem diferenças significativas quanto a morte e o tipo de Sobrevivência entre os grupos Assistência respiratória ao pré-termo extremo Resultados Sem diferenças significativas para qualquer desfecho secundário entre os grupos Assistência respiratória ao pré-termo extremo Portanto! Em neonatos pré-termo respirando espontaneamente, não houve diferença em relação à necessidade de VM nos primeiros 5 dias de vida entre os que foram tratados com CPAP e surfactante profilático nos primeiros 30 minutos de vida e aqueles que utilizaram surfactante seletivo precocemente Um estudo retrospectivo recente (Booth C et al, 2006) mostrou que a maioria dos RN < 28 semanas de IG que foram inicialmente intubados, receberam surfactante e foram posteriormente colocados em CPAP poderiam ser mantidos em CPAP apenas. Assistência respiratória ao prétermo extremo Portanto! Como não houve diferença significativa entre os 2 grupos estudados, os achados do presente estudo sugerem que neonatos entre 25-28 semanas de IG, respirando espontanemante, podem ser colocados inicialmente em CPAP e receberem surfactante posteriormente apenas em caso de SDR (48,5%). Assistência respiratória ao prétermo extremo Portanto! CURPAP: 48,5% do grupo CPAPn foram intubados para receber surfactante, mas a VM foi necessária somente em 33%, porque 15,5% extubados com sucesso, evitando VM nos primeiros 5 dias de vida Assim: aproximadamente1/3 dos RN intubados para surfactante puderam ser extubados para CPAPn Ensaio COIN: 46% dos RN entre 25-28 sem randomizados para CPAP ao nascer VM nos primeiros 5 dias de vida Assistência respiratória ao prétermo extremo Pneumotórax Estudos prévios reportaram um aumento na incidência de pneumotórax nos tratados com CPAP em comparação àqueles em VM Surfactante profilático ou o uso de surfactante precoce Menor risco de pneumotórax (Stevens TP) Pneumotórax: CURPAP:3,8% InSurE 6,7% CPAP na sala de parto 1% COIN trial: CPAP na Sala de Parto 9,1% Assistência respiratória ao prétermo extremo Conclusões CPAPnasal pode ser iniciado, logo após o nascimento, em neonatos com 25-28 semanas de IG respirando espontaneamente. Surfactante deve ser administrado uma vez que sinais de SDR desenvolvam-se. Com essa estratégia: >50% dos RN vão necessitar apenas de CPAP; 48,5% de intubação e surfactante e aproximadamente 1/3 vão necessitar de VM nos 5 primeiros dias de vida Assistência respiratória ao pré-termo extremo Como ajudar os neonatologistas com este ensaio? Morley CJ (Austrália)-Editorial Iniciar o CPAP ao nascer nos RN pré-termos extremos tem importantes benefícios, mesmo que falhe em alguns e não apresenta sérios efeitos colaterais Prever quais bebês que não responderão ao CPAP e vão necessitar de VM constitui objetivo de futuros estudos N Engl J Med. 2010 May 27;362(21):2024-6. Epub 2010 May 16 Assistência respiratória ao prétermo extremo Dunn M (VON TRIAL) :648 RN entre 26-29 semanas (Novembro/2011). Vermont Oxford Network Foram estudados 3 grupos 1-surfactante profilático e VM 2-INSURE 3-CPAP com intubação seletiva Resultados: -sem diferença na morte ou DBP(36sem-IGPC) 1 com 2: 0.78 (95% confidence interval: 0.59-1.03) 1 com 3: 0,83 (95% confidence interval: 0.64-1.09) -sem diferenças na mortalidade ou outras complicações GRUPO DO CPAP: 48% não necessitou de VM/ 54% sem surfactante Uma abordagem que utiliza CPAPnasal precoce leva a uma redução na número de crianças que necessita de intubação e uso de surfactante An approach that uses early nCPAP leads to a reduction in the number of infants who are intubated and given surfactant. Assistência respiratória ao pré-termo extremo Preditores de falha do CPAPn (Fuchs,2011)* (RN de 23-28 sem;225 RN) 51% DE FALHA entre 3-19 hs (mediana:5,6hs) Preditores:FiO2 de 35%-45% Diminui o tempo para o uso do surfactante (intubação seletiva precoce) sem aumento na taxa de intubação em relação a Fio2 >45% e 60% Em estudo: contagem de corpos lamelares no aspirado gástrico (Verder, 2011) *Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2011 Sep;96(5):F343-7 Assistência respiratória ao pré-termo extremo PNEUMOTÓRAX Estudos prévios reportaram um aumento na incidência de pneumotórax nos tratados com CPAP em comparação àqueles em VM Surfactante profilático ou o uso de surfactante precoce Menor risco de pneumotórax (Stevens TP) Pneumotórax com o CPAPnasal precoce COIN trial:9,1% (alta Fio2 primeiras 12hs) Rojas et al: 9% SUPPORT trial:6,8% CURPAP trial:3,8% InSurE 6,7% CPAP na sala de parto 1% Assistência respiratória ao pré-termo extremo Hemorragia intraventricular e Ventilação Mecânica A ventilação mecânica está associada com hemorragia intraventricular nos recém-nascidos pré-termos? Hospital Regional da Asa Sul/SES/DF Assistência respiratória ao pré-termo extremo Observem que, entre os dois grupos, as diferenças foram significativas quanto ao Uso de esteróide pré-natal, intubação na Sala de Parto e canal arterial pérvio Assistência respiratória ao pré-termo extremo O ajuste do odds ratio para HIV severa nos RN de muito baixo peso que recebeu VM na sala de parto foi de 2,7 (CI:1,1-6,6 P=0,03 A associação significativa entre HIV e VM precoce foi independente do Apgar,baixo peso,PaCO2,uso de corticóide pré-natal,sepse precoce,canal arterial pérvio Assim, a intubação implica como um fator independente para HIV severa Assistência respiratória ao pré-termo extremo PaCO2 Lindner et al, em uma triagem prospectiva, demonstraram que o aumento da PaCO2 não está associada com HIV nos RN de muito baixo peso que suportaram o CPAP Em outra linha, RN intubados não controlam os níveis de PaCO2,que são ajustados pelos médicos Assistência respiratória ao pré-termo extremo Mudanças na Sala de Parto CPAP precoce tem mudado a incidência da hemorragia intraventricular Unidade neonatal simples de um hospital aumentou o uso de CPAP de 14% para 70% e houve uma queda na incidência de HIV de 12% para 4% (Aly, 2004) Outro Centro relatou que quando a VM caiu de 84% para 40%, a incidência da HIV caiu de 38% para 16% (Lindner, 199) Assistência respiratória ao pré-termo extremo Pneumotórax com o CPAPnasal precoce Maior Mortalidade:43% x 13% (p<0,01) Possíveis causas Devido aos altos parâmetros usados para a intubação seletiva para receber surfactante (Fio2>0,6;PaCO2>60;Apneía) Diferença: 4hs (CURPAP) X 6,6 hs (COIN) Maior FiO2 nas primeiras 12 hs Maior níveis de pressão 6-12 hs antes do pneumotórax Margotto,PR Ratchada,2011;Bhadia, 2011;Fuchs,2011 Assistência respiratória ao pré-termo extremo Importância do CPAP/PEEP na Assistência ventilatória imediata: -aumento da capacidade residual funcional (pulmão cheio de flúido) Thome,1998 Assistência respiratória ao pré-termo extremo Phase-contrast X-ray images of preterm rabbit pups ventilated with 0 cmH2O (0PEEP; A and C) and 5 cmH2O (5PEEP; B and D) of positive end-expiratory pressure (PEEP). PEEP 0 PEEP 5 PEEP 5 Siew M L et al. J Appl Physiol 2009;106:1487-1493 Stenson, 2010 Morley,2011 Assistance respiratória ao pré-termo extremo MENSAGENS: 1)Para os recém-nascidos pré-termos extremos (<1000g ao nascer), quanto à assistência ventilatória imediata, as evidências nos orientam: iniciar imediatamente ao nascer o CPAP nasal em selo d`água; se o RN apresentar necessidade de O2 acima de 35%-45%,deverá ser intubado e receber o surfactante nas primeiras 2 horas de vida. Estes achados permite-nos considerar o uso inicial do CPAP para estes RN como um alternativa a rotina de intubação e surfactante Assistência respiratória imediata ao prétermo extremo Evitar o CPAP fútil Privilegiar o SURFACTANTE SELETIVO Lembrem-se que as evidências mudam em decorrer do tempo, pois se não validarmos nossas condutas podemos causar mais mal do que bem para o recém-nascido (Guinsburg,2010) Momentos-HRAS-2011 OBRIGADO! Drs. Mauro, Raulê, Carla, Márcia, Evely, Martha, Ana Lúcia e Paulo R. Margotto