Empreendedorismo do Rio de Janeiro: Conjuntura e Análise n.6
Mulheres Empreendedoras
Equipe:
André Urani (editor responsável)
Adriana Fontes
Luísa Azevedo
A força de trabalho passou por profundas alterações nas últimas décadas e um dos
fenômenos mais marcantes, no Brasil e no mundo, foi o aumento da participação das
mulheres no mercado de trabalho. As mulheres representam cerca de 44% da população
economicamente ativa brasileira, segundo os dados da PNAD/IBGE de 2007. No início
dos anos 80, apenas 1/3 das mulheres com idade para trabalhar participavam do mercado de
trabalho. Em 2007, a taxa de atividade das mulheres foi de 52,7%. Embora ainda inferior a
dos homens (72,4%), há uma tendência de equiparação, já que estes estão diminuindo sua
participação.
O aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho esteve associado a
diversas transformações no mundo do trabalho. Uma delas é a importância do trabalho
autônomo e através de pequenos negócios como maneira das mulheres se inserirem na
atividade econômica. No Brasil Metropolitano, segundo os dados da Pesquisa Mensal do
Emprego (PME/IBGE), 19% das mulheres ocupadas são trabalhadoras por conta própria ou
empregadoras. Este percentual na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) é
superior. Cerca de 23% das mulheres ocupadas nesta região são donas do seu próprio
negócio conforme mostra o gráfico 1. Este percentual entre os homens é de 27% e 30%, no
Brasil Metropolitano e na RMRJ, respectivamente. Quando excluímos o trabalho doméstico,
o percentual de mulheres ocupadas donas do seu próprio negócio na RMRJ é praticamente
igual ao dos homens (cerca de 30%).
Gráfico 1:
Participação de empregadores e trabalhadores por conta própria nos
ocupados por gênero - 2008
35%
30%
30%
25%
20%
27%
27%
23%
29%
30%
23%
19%
Mulher
Homem
15%
10%
5%
0%
BR
RMRJ
Total de ocupados
BR
RMRJ
Ocupados (excluíndo trabalho doméstico)
Fonte: PME/IBGE.
1
Apesar do percentual de empreendedores ser praticamente igual entre homens e mulheres
na RMRJ, a parcela de empregadores é maior entre eles do que entre elas, como pode ser
observado no gráfico 2. Este indicador mostra a proporção de pessoas que se lançam na
abertura de seu próprio negócio que conseguem se tornar empregadoras. Apenas 13% das
mulheres que abrem seu próprio negócio se tornam empregadoras, percentual inferior ao
dos homens (20%). Nota-se também que o percentual de empregadores nesta região é
menor do que na média das regiões metropolitanas tanto entre os homens como entre as
mulheres. Em outras palavras, grande parte das empreendedoras, na prática, não podem ser
consideradas empresárias. Especialmente no Rio de Janeiro, a maior parte das
empreendedoras opera na subsistência.
Gráfico 2:
Distribuição dos empreendedores entre empregadores e trabalhadores
por conta própria - 2008
100%
80%
60%
84%
87%
78%
80%
conta-própria
empregador
40%
20%
16%
13%
BR
RMRJ
0%
Mulher
22%
20%
BR
RMRJ
Homem
Fonte: PME/IBGE.
Em termos de evolução recente, percebe-se que o fenômeno de formalização do emprego
da década atual levou a uma diminuição do percentual de ocupados que são trabalhadores
por conta própria ou empregadores no Brasil Metropolitano. Entretanto, na RMRJ este
fenômeno somente foi observado entre os homens. Segundo o gráfico 3, o percentual de
homens ocupados donos do seu próprio negócio passou de 32% em 2003/2004 para pouco
menos de 30%. Contudo, entre as mulheres este percentual praticamente se manteve
constante, com uma ligeira queda apenas nos dois últimos anos.
2
Gráfico 3:
Participação dos empregadores e trabalhadores por conta própria no total
de ocupados - RMRJ
33,0%
31,0%
29,0%
27,0%
25,0%
Mulher
23,0%
Homem
21,0%
19,0%
17,0%
15,0%
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
Fonte: PME/IBGE.
No tocante à renda, as trabalhadoras por conta própria ganham, em média, 32% a menos do
que as empregadas, enquanto as empregadoras ganham quase 4 vezes mais do que as
trabalhadoras por conta própria, segundo os dados da PME/IBGE de 2008. Os diferenciais
entre os homens são bem menores: 9% e 2,6 vezes, respectivamente. Ou seja, trabalhar por
conta própria para as mulheres representa uma perda de quase um terço da renda que teriam
se fossem empregadas. Em compensação, se o negócio prosperar e elas virarem
empregadoras, os ganhos são bem mais elevados. Os homens empregados ganham em
média 14% a mais do que as mulheres empregadas; no caso dos trabalhadores por contaprópria, este percentual é de 53% e entre os empregadores, apenas de 11%.
Tabela 1:
Remuneração habitual do trabalho principal na RMRJ - 2008
Mulheres empregadas
Mulheres conta-própria
Mulheres empregadoras
Homens empregados
Homens conta-própria
Homens empregadores
Média
1.227
830
2.998
1.398
1.267
3.325
Mediana
692
454
2.000
811
739
2.009
Fonte: PME/IBGE.
Apesar dos rendimentos mais baixos, vantagens como a independência e a flexibilidade de
horário podem tornar o trabalho autônomo particularmente atraente para as mulheres. Para
elas que, em geral, precisam conciliar as atividades domésticas com o trabalho remunerado,
o trabalho por conta própria pode ser mais adequado. Devido à possibilidade de horário
parcial, é também uma oportunidade de complemento de renda para as que têm um
emprego assalariado e ganham pouco. Ademais, o trabalho por conta-própria pode ser visto
3
como uma oportunidade para os grupos que sofrem discriminação no mercado de trabalho
como os jovens à procura do primeiro emprego, os negros, os migrantes e as mulheres.1
Segundo os dados da pesquisa Economia Informal e Urbana (ECINF/IBGE) de 2003, as
mulheres representam um terço dos trabalhadores por conta-própria e empregadores no
Brasil e na RMRJ 2 . A abertura do próprio negócio é porta de entrada do mercado de
trabalho para muitas mulheres, fato que pode ser depreendido a partir da grande proporção
de mulheres que nunca tinham trabalhado antes de se tornarem microempreendedoras –
37% na RMRJ e 48% no Brasil. No caso dos homens, esses percentuais são bem inferiores:
21% e 26%, respectivamente.
De acordo com a mesma pesquisa, no Brasil e na RMRJ, a maior parte das mulheres decide
abrir seu próprio negócio para complementar a renda familiar ou porque não encontrou
emprego. Cerca de um terço das mulheres que trabalham por conta própria ou possuem um
empreendimento com até cinco funcionários partiram para essa atividade por necessidade
de complementar a renda. Nota-se no gráfico a seguir que a maioria dos
microempreendedores homens, no Brasil ou na RMRJ, escolheram abrir o seu próprio
negócio, enquanto dentre as mulheres a maioria decidiu abrir seu próprio negócio por falta
de opção.3
Gráfico 4:
Motivação dos microempreendedores para abrir seu
próprio negócio
100%
80%
45%
57%
43%
56%
60%
40%
20%
55%
43%
57%
44%
0%
Homens
Mulheres
Homens
Brasil
Fonte: ECINF/IBGE, 2003.
Escolheu
Mulheres
RMRJ
Falta de opção
1
Yunus, M. O Banqueiro dos Pobres. São Paulo: Editora Ática. 2000.
Diante do fato de que o universo da ECINF é composto por empreendimentos urbanos e do peso da região
metropolitana no estado do Rio de Janeiro (quase 80% das unidades econômicas fluminenses consideradas
pela ECINF estão localizadas na RMRJ), optou-se por adotar este recorte geográfico neste boletim.
3
A categoria “escolheu” inclui os seguintes motivos: teve oportunidade de fazer sociedade; horário flexível;
queria ser independente; tradição familiar; tinha experiência que adquiriu em outro trabalho; achava o negócio
vantajoso e esse era um trabalho secundário que se tornou principal. Como “falta de opção” foram
considerados dois motivos: não encontrou emprego e para complementar a renda familiar.
2
4
Não obstante, uma vez que decidem abrir o seu próprio negócio, mesmo que por falta de
opção no mercado de trabalho, as mulheres se tornam mais empreendedoras. Ainda de
acordo com a ECINF, há um maior percentual de microempreendedoras que têm a
expectativa de aumentar o negócio do que de microempreendedores no Brasil. Os homens
se mostram relativamente mais conservadores optando por continuar o negócio no mesmo
nível. Na RMRJ, as diferenças de gênero não são expressivas. A porcentagem de
microempreendedores que considera a opção de abandonar seu negócio e procurar emprego,
nesta região, é mais alta entre as mulheres do que entre os homens, o que demonstra maior
insatisfação com a atividade atual e esperança de encontrar um emprego. No Brasil, este
fato não se repete (ver gráfico 2 abaixo).
Gráfico 5:
Perspectivas futuras dos microempreendedores
100%
Não sabe
80%
Abandonar a atividade
e procurar emprego
60%
40%
Mudar de atividade e
continuar independente
20%
Continuar o negócio no
mesmo nível
Aumentar o negócio
0%
Homens
Mulheres
RMRJ
Homens
Mulheres
Brasil
Fonte: ECINF/IBGE, 2003.
O espírito empreendedor das mulheres é confirmado pelos dados de investimento. No
Brasil, cerca de 25% das mulheres realizaram algum investimento no negócio no último
ano, percentual superior ao dos homens (22%). Na Região Metropolitana do Rio de Janeiro,
o investimento realizado por elas é praticamente equivalente ao deles.
Além disso, o capital humano das microempreendedoras é maior do que o dos
microempreendedores homens. Elas são mais escolarizadas do que os homens e maior
proporção freqüentou cursos de especialização ou de formação profissional. De acordo com
o gráfico 3, 40% das mulheres que possuem seu negócio próprio na RMRJ tem, no mínimo,
o ensino médio completo – o valor deste indicador é 12 p.p. mais baixo para os homens.
Ademais, 30% das mulheres freqüentou algum curso de formação profissional enquanto
apenas 18% dos homens o fizeram.
Gráfico 6:
5
Distribuição dos microempreendedores por nível de escolaridade
RMRJ
Mulheres
Sem instrução
Ensino fundamental incompleto
Homens
Ensino fundamental completo
Ensino médio incompleto
Ensino médio completo
Mulheres
Brasil
Superior incompleto
Superior completo
Homens
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Fonte: ECINF/IBGE, 2003.
O desenvolvimento dos empreendimentos depende, entretanto, também do acesso a um
leque de serviços produtivos. Para tentar investigar o apoio ao empreendedorismo feminino,
foram analisadas algumas variáveis na mesma pesquisa relativas a esse tema.
Grande parte dos microempreendimentos possui baixa intensidade no emprego de capital.
Deste modo, 30% dos microempreendedores (sejam eles homens ou mulheres)
prescindiram de capital inicial para iniciar suas atividades na RMRJ. No que diz respeito à
provisão de crédito, 3,3% dos microempreendedores fizeram uso de algum empréstimo,
crédito ou financiamento para exercer sua atividade na RMRJ, contra 6,1% no Brasil. Esse
efeito se reflete nas mulheres, que tiveram menor acesso a crédito do que os homens no Rio
de Janeiro, enquanto no resto do país ocorre o contrário.
Gráfico 7:
Proporção de microempreendedores que fez uso de
algum empréstimo, crédito ou financiamento para
exercer sua atividade
7%
6%
5%
4%
3%
2%
1%
0%
Brasil
RMRJ
Homens
Mulheres
Fonte: ECINF/IBGE, 2003.
6
A imensa maioria (97%) dos microempreendedores não recebe assistência técnica, jurídica
e financeira no Brasil e na RMRJ, percentual similar entre homens e mulheres. Entretanto,
o nível de assistência financeira recebida no Rio de Janeiro é mais baixo do que no Brasil,
especialmente quando se considera o sexo feminino. De acordo com o gráfico abaixo,
apenas 11% das microempreendedoras fluminenses apontaram a assistência financeira
como o tipo mais freqüente de apoio recebido. Para os homens, esse percentual
correspondeu a 17%. A assistência técnica é a mais relevante em termos de freqüência
recebida para as mulheres que possuem um pequeno negócio na região metropolitana do
Rio de Janeiro.
Gráfico 8:
Tipo mais freqüente de assistência recebida pelos
microempreendedores
Brasil
Mulheres
Financeira
Técnica
Homens
Jurídica
RMRJ
Treinamento
Mulheres
Outro
Homens
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Fonte: ECINF/IBGE, 2003.
A partir desses dados, é possível concluir que a dissonância entre a vontade de expandir o
negócio e as decisões concretas de investimento por parte das microempreendedoras
fluminenses está relacionada ao baixo acesso a mecanismos de provisão de crédito e a
serviços produtivos, especialmente na RMRJ. Apesar do maior otimismo e capital humano
das mulheres, a produtividade dos negócios chefiados por elas é mais baixa. Isso pode ser
visto pela retirada das mulheres ou pelo lucro dos seus negócios ser, em média, cerca de
40% inferior ao dos homens.
A posição desfavorável em relação aos homens pode ser vista também pelo percentual de
mulheres que abrem seu próprio negócio e se tornam empregadoras. No Brasil, 9% das
microempreendedoras são empregadoras, em contraste com 13% dos homens. Na Região
Metropolitana do Rio de Janeiro esta diferença é mais acentuada e o percentual de
empregadores (12%) é mais do dobro das empregadoras (5%).
Gráfico 9:
7
Brasil
RMRJ
Distribuição dos microempreendedores por posição na
ocupação
5,3
Mulheres
Homens
11,6
Mulheres
9,1
Homens
13,4
0%
20%
40%
Conta-própria
60%
80%
100%
Empregador
Fonte: ECINF/IBGE, 2003.
As mulheres também estão atrás dos homens no que diz respeito à formalização de seus
negócios. No Brasil, 91% das empresas cujo dono é do sexo feminino não possuem
constituição jurídica. Já para os microempreendimentos chefiados por homens, este
percentual equivale a 87%. No Rio de Janeiro, esta diferença é menos acentuada (1,5 p.p.),
embora se deva ter em mente que a informalidade é mais alta: 95% sem constituição
jurídica em relação a 88,4% no Brasil.
É preciso, portanto, potencializar essa capacidade empreendedora das mulheres que tem
sido uma forma importante delas se inserirem no mercado de trabalho no Brasil e no Rio de
Janeiro. Isto passa pela simplificação da burocracia e redução da carga tributária, como
propõe a iniciativa do Empreendedor Individual, mas principalmente pela disponibilização
de uma leque de serviços que proporcionem o aumento da produtividade dos micro e
pequenos negócios.
8
Opinião de especialista:
O trabalho feminino entre invisibilidade e empreendedorismo:
a microempresa de base doméstica
Rosiska Darcy de Oliveira4
O trabalho feminino sofre de uma velha sequela de informalidade. Invisível enquanto
trabalho, não contabilizado quando desenvolvido no espaço doméstico, ele se acomoda
facilmente do espírito da informalidade.
Quem sempre cozinhou para sua família e não se acostumou a ver nisso um trabalho passa
facilmente a um sistema de distribuição de quentinhas, trabalho agora remunerado, sem que
essa passagem signifique no espírito de quem as faz a necessidade de uma formalização que
caracterizaria a microempresa.
O mesmo acontece quando se trata de serviços educacionais do tipo guarda de crianças
pequenas, atividade remunerada e muito em voga em comunidades onde existe um
dramático déficit de creches. A guarda de crianças, que representa uma renda mensal
considerável para as mulheres que se organizam para isso, na medida em que se dá na
própria casa que elas habitam tende a deslizar uma vez mais para a invisibilidade e, mesmo
se pede remuneração, fica nesse limbo entre o universo público e o privado onde se situa
uma parte das atividades femininas. São prolongamentos do universo doméstico e a atitude
psicológica frente a elas está longe de identificá-las como uma empresa prestadora de
serviços alimentícios ou educacionais.
Os pequenos negócios levados adiante por mulheres têm suas raízes em uma economia
doméstica e se constituem como um prolongamento delas, fortemente condicionadas por
esse estar atrelada a um espaço físico que é a casa. São vários os fatores que reforçam esse
perfil.
O primeiro é a profunda mudança que sofreu a família brasileira em que desapareceu a
figura do provedor. A palavra provedor desaparece da língua no seu sentido original do
homem que sustenta a casa. Qualquer jovem perguntado hoje sobre o que é provedor
pensará em um serviço virtual e não mais no pai que garante a sua sobrevivência. Esse pai
tantas vezes ausente, ou insuficiente, esse provedor, saiu do ar. Um quarto das famílias
brasileiras vive do salário exclusivo de uma mulher.
4
Doutora pela Universidade de Genebra, presidente-executiva do Rio Como Vamos.
9
Essa revolução no mercado de trabalho não trouxe consigo a consequência necessária de
uma rede pública e gratuita de acolhida às crianças. Na cidade do Rio de Janeiro o déficit
de creches públicas é de dois terços em relação à demanda estimada. Isso significa para as
mulheres um difícil equilíbrio entre casa e atividade profissional. A solução tem sido uma
atividade profissional a partir do espaço da casa. Esse é um segundo fator determinante no
desenho das microempresas com base doméstica.
Essas microempresas se concentram na produção e distribuição de alimentos, guarda de
crianças, confecção de vestuário e serviços de estética (cabeleireiros, manicures). Olhado
de perto é um pequeno mundo econômico que reproduz gestos ancestrais do cotidiano
feminino só que avaliados economicamente e transformados em atividades geradoras de
renda.
As microempresas com base doméstica ou condicionadas a um território próximo da casa
teriam a ganhar com um processo de formalização além dos benefícios já conhecidos, um
reforço da identidade das mulheres enquanto empreendedoras de direito mais do que,
simplesmente, de fato. O que não é um fator negligenciável do ponto de vista da identidade
pública e social das mulheres, sobretudo as chefes de família.
Mesmo na classe média mais escolarizada persiste a tendência a fixar a microempresa no
universo da casa: empresas de tradução e revisão, serviços de digitalização e outros
serviços virtuais confirmam uma persistência das microempresas chefiadas por mulheres a
se enraizarem no espaço doméstico. O que em nada compromete, ao contrário, confirma o
espírito empreendedor. Ultrapassando as dificuldades inerentes ao duplo papel de
provedora e mãe de família, as mulheres encontraram no negócio de base doméstica uma
estratégia de sobrevivência adaptada à sua realidade cotidiana.
Servem esses exemplos para ilustrar aspectos nebulosos da relação das mulheres com o
empreendedorismo. O trabalho feminino, seja no caso da empreendedora, seja no caso da
assalariada, resta tributário de uma zona de sombra em que público e privado, sem
fronteiras, acabam determinando não apenas comportamentos psicológicos em que a
relação com o mundo do trabalho formal é perturbada. Essa zona de sombra em que o peso
do privado se exerce sobre o universo do trabalho baliza também o campo das
oportunidades ou a sua ausência.
Qualquer discussão sobre as mulheres como empreendedoras não poderá contornar uma
análise dessa relação público/privado, dos condicionamentos de tempo e de espaço no
cotidiano das mulheres, obstáculos que são à ampliação das microempresas, sob pena de
passar ao largo do que influencia seu comportamento face à idéia mesma de formalização.
No que concerne um debate muito ao gosto do dia - o ambiente favorável aos negócios seria útil lembrar que um ambiente favorável ao crescimento do empreendedorismo
feminino exigiria a existência de uma rede de acolhida às crianças como condição sine qua
non de uma diversificação e ampliação do escopo das microempresas dirigidas por
mulheres. Sem o que a empresa de base de doméstica, com seus méritos, mas também
limitações, seguirá sendo a regra.
10
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