ANÁLISE DAS DISSERTAÇÕES E TESES QUE ABORDARAM OS JOGOS E
BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
CLIMENIA MARIA LACERDA DE OLIVEIRA
Núcleo de Estudos e Pesquisas: Trabalho Docente, Formação de Professores e Políticas
Educacionais - Mestranda.
Orientadora: Prof(a) Dr(a): Maria Nazaré da Cruz
Apresentação
A presente pesquisa tem por objetivo fazer um levantamento e análise de teses e
dissertações que abordam os jogos e brincadeiras na educação infantil, provenientes dos
programas de pós-graduação em Educação, nos últimos 15 anos (período 1999 a 2013). Vale
ressaltar que não há registros de tal pesquisa no período mencionado.
O interesse por essa temática tem sua razão de ser na minha trajetória de vida,
abrangendo formação e experiência profissional nessa área, tendo sido motivado inicialmente
por minha própria limitação enquanto coordenadora e gestora na educação infantil. Foi ao
vivenciar o cotidiano da educação infantil que pude perceber certas dificuldades, não somente
minhas, mas também das professoras, em realizar brincadeiras com as crianças. A minha
inquietação profissional era saber que a brincadeira era importante, mas não ter clareza sobre
o que fazer e como fazer, o que me instigou a participar do primeiro curso de Especialização
em Educação Infantil em 2011 oferecido em Altamira-PA. Com vistas a aprofundar ainda mais
os estudos sobre o brincar nesta etapa da educação, é que proponho a referida pesquisa de
mestrado.
Esta proposição se justifica, ainda, porque no período delimitado para a investigação, os
marcos legais orientadores da educação infantil modificaram-se significativamente, trazendo
novos propósitos e requerendo novas ações no campo das práticas docentes e escolares.
Estas mudanças têm início em período anterior, com a Constituição de 1988 que pode ser
considerada o grande marco legal e histórico para a promulgação dos direitos da criança de 0 a
6 anos. Estabelece e reconhece o dever do Estado com essa faixa etária para além do
assistencialismo, colocando a educação como base para as instituições de atendimento às
crianças e detalhando mais precisamente os direitos da criança e o papel do Estado, conforme
disposto no art. 54: “É dever do Estado assegurar à criança [...] IV – atendimento em creche e
pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade” (pg. 22).
Logo depois, em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, concebido por
meio da participação popular e de diversos setores da sociedade civil, é criado pela Lei nº
8.069/9. O ECA, partindo da concepção de criança como prioridade absoluta, promulga a
proteção total da criança, estabelecendo a garantia dos direitos fundamentais ao seu
desenvolvimento integral e as responsabilidades quanto ao cumprimento da Lei.
Mas, no tocante a organização do ensino, é apenas em 1996, com a promulgação da
Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, Lei nº 9394/96, que a Educação Infantil
para crianças de 0 a 6 anos é consolidada como primeira etapa da educação básica, com
atendimento para crianças em creches (0 a 3 anos) e pré-escolas (4 a 6 anos), de natureza
ainda não obrigatória. Somente em 2013, a Lei nº 12.796 alterou a LDBEN, ampliando a
obrigatoriedade da educação para as crianças a partir dos 4 anos, conforme segue:
Art. 1º A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com as seguintes
alterações: [...]
‘Art. 4º ...................................................................................
I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de
idade, organizada da seguinte forma:
a) pré-escola;
b) ensino fundamental;
c) ensino médio;
II – educação infantil gratuita às criança de até 5 (cinco) anos de idade’;
No contexto dessas mudanças, são também estabelecidas, em 2009, as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – DCNEIs - que, entre outras orientações,
instituem que “as práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação
Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira [...]”.
A centralidade atribuída à brincadeira nas diretrizes curriculares baseia-se na
compreensão de que brincar é direito da criança e que jogos e brincadeiras possuem um papel
fundamental em seu desenvolvimento, especialmente nos seis primeiros anos de vida. Esta
compreensão também me orienta nesta pesquisa, que se apoia na abordagem históricocultural representada principalmente pelos estudos de Vygotsky.
A perspectiva histórico-cultural concebe os jogos e brincadeiras como aprendizagem
social e histórica, como linguagem prioritária da criança, como mola propulsora do imaginário e
do simbolismo, fonte de desenvolvimento integral da criança. Sendo assim:
[...] No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua
idade, além de seu comportamerito diário; no brinquedo é como se ela fosse maior do que é
na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as
tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo, ele mesmo, uma grande
fonte de desenvolvimento (VYGOTSKY, 1991, p.69).
Na citação acima Vygotsky indica que a brincadeira é potencialmente propiciadora de
aprendizado e desenvolvimento. Nela a criança cria, interage, descobre, faz escolhas, inventa
e reinventa, dando significado aos objetos que manuseia. Assim, a criança desenvolve sua
capacidade de significação, a partir do encontro com o “outro” e com os objetos construídos
histórica e culturalmente. Além disso, “em jogos subjetivos ou de enredo, a criança que brinca
atribui-se uma função social, humana, a qual ela desempenha em suas ações” (VYGOTSKY,
2010, p.133).
Nesta perspectiva, a brincadeira não é vista como atividade natural da criança, mas
como prática cultural. Rocha afirma que “[...] o mundo humano é, então, o resultado da
suplantação da ordem natural pela ordem da cultura, é essencialmente da apropriação desta
segunda, da cultura, que derivam as possibilidades de constituição e de desenvolvimento dos
sujeitos” (ROCHA, 2005, p. 30).
Quanto ao papel do professor, Rocha (2005) afirma que “[...] ao professor cabe
organizar o brincar, e para isto, é necessário que ele conheça suas particularidades, seus
elementos estruturais, as premissas necessárias paras seu surgimento e desenvolvimento [...]”
(p.48).
A minha compreensão sobre a brincadeira na educação infantil cada vez mais se apoia
na premissa de que, ao realizar práticas docentes e escolares, há a necessidade de entender a
criança como sujeito de direitos, constituído histórica, social e culturalmente, dentro de uma
visão que tem os jogos e brincadeiras como fenômenos pulsantes na infância e linguagem
prioritária da criança, especialmente na educação infantil, para daí poder alicerçar
planejamentos e ações.
Esta compreensão me leva a indagar o que as pesquisas realizadas sobre jogos e
brincadeiras na educação infantil, no âmbito da pós-graduação em educação, nos últimos 15
anos, evidenciam a respeito das práticas educativas produzidas em creches e pré-escolas, em
diferentes redes de ensino e regiões do país.
Metodologia
A metodologia da pesquisa adotada é a da pesquisa bibliográfica, dividida em 02 etapas:
1ª etapa: Levantamento dos resumos das teses e dissertações defendidas nos
programas de pós-graduação em educação no período de 1999 a 2013, tendo como base para
coleta de dados a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações - BDTD, com
complementação em outras universidades, visando abranger o maior acervo possível (etapa
em andamento). Nesta etapa, a busca está sendo realizada em resumos que contenham os
termos “jogos” e “brincadeiras”.
2ª etapa: Selecionar os estudos que serão lidos e analisados integralmente. Nesta etapa,
a intenção é priorizar as pesquisas que focalizem o/a professor/a, suas práticas, concepções e
formação. Critérios mais precisos para seleção e análise das dissertações e teses que serão
analisados na íntegra serão elaborados ao final da 1ª etapa.
Resultados parciais do levantamento dos resumos na BDTD:
Distribuição quinquenal das teses e dissertações no período de 1999 a 2013:
Período
1999 a 2003
Mestrado
Quantidade
Subtotal
2004 a 2008
Doutorado
03
Mestrado
00
Doutorado
08
04
01
2009 a 2013
Mestrado
Doutorado
08
09
04
12
Distribuição das teses e dissertações por região no período de 1999 a 2013:
Região
Sudeste
Centro-oeste
Nordeste
Sul
Norte
Quantidade
15
04
04
02
00
Quanto ao conteúdo dos resumos:
Temas gerais agrupados por aproximação
Prática, formação e concepção de professoras
Condições escolares para o jogo e brincadeira
Brincadeira e jogos com finalidade específica: ensino de conteúdos e/ou
habilidades
Desenvolvimento infantil
Interações entre crianças
Concepções de pais, crianças e professores
Mapeamento das teses e dissertações já realizadas
Outros
Quant.
05
04
04
Sujeitos da pesquisa
Professores de educação infantil
Crianças de 0 a 6 anos
Crianças e outros adultos
Documentos/teses e dissertações
Número
08
05
03
03
03
02
02
02
03
Professores e crianças
Professores e equipe pedagógica
Professores e pais
Não mencionado
02
02
01
01
Métodos de Pesquisa1
Número
04
03
02
01
01
14
Estudo de caso
Bibliográfica
Etnográfica
Fenomenológica
Experimental
Não especificado, sendo que 03 mencionam se orientar por uma abordagem
qualitativa.
Técnicas
Observação
Entrevista
Não
mencionado
Questionário
Filmagem
Coleta
Documental
Coleta
Bibliográfica
Registro
fotográfico
Procedimentos de coleta de informações
Quant.
11
10
07
06
05
04
03
03
Vygotsky
Não
mencionado
Piaget
Kishimoto
Brougère
Wallon
Elkonim
Huinzinga
Wajskop
Kamii
Rojas
Winicott
Outros
01 menção
Referenciais teóricos
09
08
07
04
03
03
03
02
02
02
02
02
22
Sobre os resultados de pesquisa apresentados nos resumos:
Sobre professores e professoras
- O professor/a diz:
 Reconhecem a importância do jogo e
brincadeira na educação infantil;
 Alguns revelam que sabem pouco
sobre os jogos e brincadeiras / que
tem pouca clareza sobre o assunto;
-Os estudos demonstram:
 Carência de fundamentação teórica
1
Sobre os jogos e brincadeiras


Maioria dos estudos aponta o uso
dos jogos, brincadeiras e brinquedos
como recursos didático-pedagógicos
para aprendizagem de conteúdos
escolares, e também de habilidades
e atitudes;
Predominância da atividade lúdica,
jogos
e
brincadeiras
como
passatempo, recreação, fragmentada
A terminologia indicada está de acordo com os resumos das dissertações e teses.




sólida;
Urgência de investimento na formação
docente da equipe pedagógica;
Ideias empiristas na concepção e
prática docente;
Concebem a brincadeira como
recurso
didático-pedagógico,
relacionando
com
aprendizagem
escolar;
Discurso distanciado da prática.


na rotina escolar;
Atividades de brincar restritas,
limitação de espaço/tempo (pelo
professor ou pelo ambiente escolar
inadequado);
Prevalência da presença de recursos
escolares sobre os brinquedos.
Considerações parciais
Podemos indicar, a partir dos resultados parciais apresentados, uma concentração de
investigações sobre o/a professor/a, suas práticas, suas concepções e sua formação, bem
como sobre as condições que as escolas de educação infantil têm oferecido para o brincar das
crianças. Os professores têm sido os sujeitos preferenciais de pesquisa, nos trabalhos
levantados até o momento.
Atualmente estamos concluindo o levantamento programado para a primeira etapa da
pesquisa, o que nos permitirá analisar estas tendências apontadas em nossos resultados
parciais. Além disso, possibilitará estabelecer critérios de seleção das pesquisas que serão
analisadas na segunda etapa, bem como os eixos temáticos que nortearão essas análises.
Referências bibliográficas
PARÁ. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. SEDUC:
Belém/Pará, 2009.
BRASIL, Constituição da República Federativa do. Senado Federal, Brasília – DF: 1988.
BRASIL, Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei Federal 9.394/1996. Brasília,
Congresso Nacional, 1996.
BRASIL. Ministério da Educação/Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação
Básica. Resolução n. 5, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil. Brasília - DF: 2009.
VIGOTSKII, Lev Semenovich; LÚRIA, Alexander Romanovich; LEONTIEV, Alex N. Linguagem,
Desenvolvimento e Aprendizagem. Tradução de: Maria da Pena Villalobos. 11ª edição,
FNDE – São Paulo: 2010.
ROCHA, Maria Sílvia Pinto de Moura Librandi. Não brinco mais: a (des) construção do
brincar no cotidiano educacional. 2ª ed. Revisada. Editora Unijuí, 2005.
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2012.796.
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análise das dissertações e teses que abordaram os jogos