Controladoria e Planejamento Estratégico – A Relação Necessária Autoria: Jorge Luiz Rosa da Silva Resumo Este trabalho constitui-se numa síntese da dissertação de mestrado, defendida pelo autor, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, no Mestrado em Administração e Negócios. Ele foi desenvolvido com a intenção de pesquisar a participação do Controller no processo de Planejamento Estratégico, nas empresas de grande porte do Estado do Rio Grande do Sul. Entende-se apropriada a pesquisa direcionada para este foco, visto que o Controller vem conquistando novos espaços rapidamente, deixando de realizar trabalhos apenas relacionados a contabilidade gerencial, de forma a dar lugar para a contabilidade estratégica. Esta, além de tomar como base os dados fornecidos pelo sistema de informações gerenciados pelo Controller, considera sua capacidade de antever oportunidades, contribuindo para que a Organização alcance vantagem competitiva. A contribuição à pesquisa, prestada pelos Presidentes de empresas foi valiosa, mostrando nitidamente, que na visão de estrategistas desses profissionais, o Controller poderia ocupar mais espaços, qualificando o processo de Planejamento Estratégico. Palavras-chave: Planejamento Estratégico; Controller; Estratégia; Contabilidade Estratégica. I - O Planejamento Estratégico e a Controladoria Introdução As atividades desempenhadas pelo Controller, tem relação com a elaboração e controle do planejamento estratégico desenvolvido nas empresas? O que é a controladoria senão a área responsável pela manutenção e gerenciamento de um sistema integrado de informações? Entende-se que a controladoria deva projetar custos e orçamentos, reunindo informações básicas para as fases do planejamento estratégico que as Empresas tenham como objetivo implementar. Segundo Nakagawa, 1993, p.13: “Os modernos conceitos de Controladoria indicam que o Controller desempenha sua função de controle de maneira muito especial, isto é, ao organizar e reportar dados relevantes, exerce uma força ou influência que induz os gerentes a tomarem decisões lógicas e consistentes com a missão e objetivos da empresa.” Ainda, segundo aquele autor (p.13 e 14), via de regra o Controller torna-se responsável pelo projeto, implementação e manutenção de um sistema integrado de informações, que coloca a contabilidade como principal instrumento para demonstrar as responsabilidades que decorrem da accountability da empresa e seus gestores, suportada pelas teorias da decisão, mensuração e informação. O Controller é o gestor desse sistema, na qualidade de principal executivo de informações de uma empresa. 1 Para fins de entendimento, o termo accountability diz respeito à obrigação de prestar-se contas dos resultados obtidos, em função das responsabilidades que decorrem de uma delegação de poder. Portanto, está relacionado com toda a estrutura organizacional da empresa, uma vez que a tomada de decisão permeia todos os níveis. Sob a ótica do conceito de accountability, os padrões e orçamentos fornecem os parâmetros da eficiência e eficácia, fazendo parte do processo de tomada de decisão, uma vez que a partir daí serão delegados aos gestores operacionais poder e responsabilidades pela execução do que foi planejado, criando assim a necessidade de prestação de contas dos resultados obtidos. A estratégia desenvolve-se a partir do ambiente em que a empresa está imersa. Por conseguinte, evolui apoiando-se em seu sistema de informações e não a partir de um ambiente futuro. A estratégia é um padrão de comportamento administrativo, contínuo e profundamente enraizado que determina a direção a ser seguida pela empresa. Não é um mecanismo manipulável e controlável que pode ser mudado facilmente de um ano para outro. A estratégia é um conceito racional que surge dos valores, da cultura da empresa e das atitudes dos administradores e empregados desta. A estratégia surge do efeito cumulativo de muitas ações e decisões diárias que ocorrem na empresa, ao longo dos anos. Não é algo que se estabeleça de cima para baixo, partindo da alta administração para ser implantada pelas áreas operacionais (Greiner L., citado por Mintzberg & Quinn, 1993:906). Encontram-se questionamentos acerca do que planejamento estratégico tem a ver com controladoria. Posto que, estratégia é um padrão ou plano que integra as principais metas e políticas de uma organização e estabelece a seqüência coerente das ações que dela devem decorrer, fica estabelecido o vínculo entre planejamento estratégico e as atividades desenvolvidas pelo Controller (Quinn, 1993:5). A atuação do Controller no processo de planejamento estratégico (Catelli, 1999:165) tem as missões de viabilizar e otimizar a aplicação dos conceitos de gestão econômica dentro da empresa e otimizar seus resultados. Nesse sentido, durante o processo de planejamento estratégico, ele tem primordial o papel de otimizar resultados, coordenando os orçamentos das diversas áreas, buscando-se obter o melhor resultado para a empresa. Tem, também o controller, um papel de fornecedor de informações econômicas, do ponto de vista interno à empresa, além de assumir a função de coordenador do sistema de informações, para a gestão econômica da empresa. Ainda, disponibiliza sistemas para simulações, conceituando modelos de decisão apropriados e simulando resultados de alternativas diversas. Segundo Quinn (1993), as diretrizes estratégicas da controladoria, no processo de planejamento estratégico, seriam: 1. Projetar o cenário básico para o mercado consumidor e fornecedor. Estabelecer os comportamentos esperados dos fornecedores e clientes, considerando os aspectos fundamentais como: serviços, volumes, preços, ciclo de vida, capacidade produtividade, eficiência, etc.; 2. Identificar as oportunidades e ameaças decorrentes dos mercados consumidor e fornecedor e suas causas; 2 3. Identificar os pontos fortes e fracos resultantes do esforço de aproveitamento das oportunidades e de evitar ameaças; 4. Definir as diretrizes estratégicas. Estabelecer políticas, estratégias e objetivos decorrentes da alavancagem de pontos fortes e da eliminação de pontos fracos. Ao estabelecer metas, e políticas de uma organização, o grande sistema de informações estabelecido por uma área de controladoria torna-se indissociável. Caso contrário, seria impraticável estabelecer metas e políticas sem as respectivas avaliações de desempenho, identificando (Perez Jr., Oliveira & Costa, 1999:288): Fatores financeiros e não financeiros importantes para o processo; Apuração e medição sistemática desses fatores; Utilização desses fatores no desenvolvimento e monitorização de planos estratégicos. Uma empresa se transforma naquilo que ela consegue medir. Se algo não pode ser medido, não será possível o controle; e o controle é essencial. II – A Contabilidade Estratégica Uma pesquisa de campo foi realizada em Janeiro/2000, enfatizando as características da atividade do Controller nos EUA, tendo sido divulgada pela IMA (Institute of Management Accountants) em janeiro/2000. Com base naquele trabalho são destacados alguns aspectos sobre o desenvolvimento desta função, com a significativa mudança do foco de trabalho, em relação ao que vinha sendo realizado nos últimos anos. Os respondentes daquela pesquisa relataram uma mudança nos últimos 5 anos, nas atividades tradicionais do trabalho desenvolvido pelos Controller, para atividades de trabalho mais novas. É esperado que essa tendência se mantenha. Mais de 80% dos respondentes esperam que nos próximos 3 anos, eles passem mais tempo interpretando e analisando informações e que estejam mais envolvidos em tomada de decisões. Aproximadamente 60% acredita que no mesmo período de tempo, eles passarão menos tempo coletando e reportando informações e preparando relatórios padronizados. Os respondentes relatam que comparado há 5 anos atrás, agora eles passam menos tempo fazendo as seguintes atividades de trabalho: Sistemas contábeis e relatórios financeiros Consolidações Política contábil Projetos contábeis Relatórios padronizados Eles esperam nos próximos 3 anos, passar menos tempo nessas mesmas atividades de trabalho. Convém destacar que essas são atividades tradicionais do trabalho de contabilidade. Comparado a 5 anos atrás, os respondentes dizem que passam mais tempo fazendo as seguintes atividades de trabalho: 3 Consultoria interna Planejamento estratégico de longo prazo Sistemas de computador e operações Melhoramento do processo Análise financeira e econômica Consultoria interna, planejamento estratégico de longo prazo e melhoria do processo, foram introduzidas recentemente, na profissão. Na verdade, essas atividades de trabalho que os Controllers fazem hoje, não eram parte do vocabulário contábil de 10 anos atrás. Em relação às atividades de trabalho mais críticas, um indicador de que mudanças estão chegando, é constatar que os Controllers vêem as seguintes atividades de trabalho como mais críticas para o sucesso de suas companhias, em 3 anos: Planejamento estratégico de longo prazo Análises financeira e econômica Lucratividade de cliente/produto Sistemas de computador e operações Melhoramento do processo Quanto ao futuro próximo, os Controllers acreditam que as tendências de mudanças continuarão. Eles esperam as seguintes mudanças nos próximos 3 anos: Menos relatórios de informação e mais planejamento e análise. Mais parcerias e consultorias Mais envolvimento com operações estratégicas Mais envolvimento em tomada de decisões A direção na qual a profissão está apontando foi prevista por Gerald Ross num artigo de 1990, da ‘Management Accouting’. Ele afirmou que em 1990 os Controllers estavam usando ferramentas tradicionais no nível operacional de suas companhias, mas que para sobreviver como uma profissão, em um novo mundo tecnológico, eles teriam que começar a usar ferramentas mais sofisticadas e envolverem-se no nível estratégico de suas companhias. A pesquisa realizada em 2000, revela que a previsão de Ross, no início da década, estava correta. Qual será, então, o próximo passo? Alguns antecipam que as finanças irão além das parcerias (business partening) e alargarão seu papel para a parceria estratégica. Os Controllers precisarão ser mais estratégicos, melhores visionários e mais proativos. Eles dividirão a tomada de decisões organizacionais com o CEO (Chief Executive Officer). Em 5 anos espera-se, os controllers se tornarão ainda mais estratégicos. Ao invés de parceiros de negócios, eles irão atuar como parceiros estratégicos, entendendo as subidas e descidas de todas as organizações e tentando ser visionários, na busca da identificação do que está acontecendo efetivamente com o negócio. Assim, o controller será autêntico co-participante dos negócios, mediante comprometimento e interesse. Portanto, não só contadores, nem só analistas, os Controllers irão mais adiante, assumindo funções de conselheiros integrados, especialistas em negócios, eqüivalendo a um CEO. 4 De outra parte, a importância do exame das demonstrações contábeis (Bruner & outros:1999), ou seja, das informações produzidas a partir de suas análises, são de fundamental importância para qualquer processo de planejamento. Também são importantes para investidores, credores, órgãos governamentais e outros interessados. No entanto, essas demonstrações são demasiadamente sintéticas para auxiliar os administradores em suas tomadas de decisão, necessitando, portanto, do trabalho do Controller no sentido de extrair e publicar os dados de avaliação do desempenho por elas produzidas e servir como base para projeções, no cenário interno e externo. Tal ambiente, típico de uma contabilidade estratégica, poderá criar cenários que antecipem conseqüências das inúmeras tomadas de decisão. Ainda segundo os autores anteriormente citados, a contabilidade gerencial, campo de atuação do Controller, utiliza muitas ferramentas e conceitos da contabilidade financeira para ajudar os tomadores de decisão a analisar o desempenho das respectivas unidades, em comparação com os planos, orçamentos e padrões. Os planos e orçamentos são metas ou previsões de desempenho, esperadas mas incertas. Os padrões, como o custo padrão, indicam referenciais ou parâmetros, para servirem de comparação com os custos efetivos. O desempenho de um projeto, do planejamento estratégico ou da empresa como um todo, podem ser avaliados em termos de variações comparativas a um benchmark. A variação favorável é representada por receitas mais altas do que as projetadas, ou onde os custos efetivos sejam inferiores ao esperado. O contrário, representa a variação desfavorável. As variações de receitas e custos refletem em alterações nos preços e custos, ocasionadas por mudanças nos volumes. Essas variações são de extrema importância para os tomadores de decisão, pois indicam as origens do problema e possibilitam a necessária adequação à nova realidade. O Controller, através de suas análises, proporciona um referencial extremamente importante para o raciocínio e compreensão das operações internas da empresa. O conceito de equilíbrio entre ativo e passivo visualiza a empresa como um sistema através do qual as turbulências ressoam com maior ou menor intensidade, amplificadas ou amortecidas pelo processo. Naturalmente, o Controller não tem a pretensão de, num primeiro momento, eliminar a turbulência, mas sim administrá-la. Desta forma, os administradores devem encarar a empresa como um sistema e analisar os efeitos diretos e indiretos disseminados por ele. Sob esse aspecto, a contabilidade não é uma especialidade técnica e limitada, mas uma ferramenta essencial para a renovação e transformação da empresa, contribuindo de forma determinante para o sucesso do planejamento estratégico. III - O Controle Estratégico Em organizações, controlar significa monitorar, avaliar e melhorar as diversas atividades que ocorrem dentro de uma organização. Exercer controle é uma importante parte do trabalho de qualquer administrador. Controlar é fazer com que algo aconteça na forma como foi planejado (Certo, 1993:195-236). O controle estratégico é a última parte no processo de administração estratégica, de maneira a fazer com que certas estratégias se desenvolvam da forma planejada. Na prática isto ocorre em três etapas: na medição do desempenho, na comparação do desempenho medindo-o com os padrões estabelecidos e, na tomada das atitudes corretivas necessárias para garantir que os eventos planejados realmente se materializem. 5 O controle estratégico é um tipo especial de controle organizacional, que se concentra em monitorar e avaliar a estratégia para garantir que esta funciona de forma adequada. Ele é empreendido para assegurar que todos os resultados planejados durante o processo de administração da estratégia, efetivamente ocorram (Certo, 1993:195-236). O controle estratégico funciona como um realimentador do processo de planejamento estratégico, a partir do momento que demonstra, numa determinada situação, a necessidade da tomada de atitudes corretivas, propondo mudança aos planos existentes ou alterações na sua organização e métodos. A realimentação do processo é crítica para se determinar se todas as etapas do processo de administração estratégica são apropriados, compatíveis e estão funcionando de forma apropriada. Segundo Certo (1993:195-236), o processo de controle estratégico divide-se em três etapas distintas. Etapa 1: Medir o Desempenho Organizacional É fundamental para os administradores a utilização de ferramentas que se destinam a medir o desempenho organizacional, em dado momento. Controle estratégico pressupõe dois tópicos importantes: auditorias estratégicas e métodos de medição de auditoria estratégica. A auditoria estratégica corresponde ao exame e avaliação das áreas afetadas pelo funcionamento de um processo de administração estratégica, dentro da organização. Este trabalho pode ser muito amplo, com a visão total do processo de planejamento estratégico ou, se assim for estabelecido, concentrar-se no exame de uma única parte do processo. A auditoria estratégica pode ainda ser subdividida em formal, quando são observadas as regras e procedimentos organizacionais estabelecidos, ou informal, quando os administradores tem total liberdade para decidir que medidas devem ser tomadas e quando. É importante salientar que cada organização deve desenvolver seu próprio modelo de auditoria estratégica, conforme suas necessidades específicas Quanto aos métodos de medição de auditoria estratégica é importante salientar que dividem-se em qualitativos e quantitativos, podendo também ser a combinação dos dois. A ação de controle estratégico baseia-se nas medições organizacionais qualitativas, visto que essas fornecem dados substanciais antes que qualquer medida seja tomada. Etapa 2: Comparar o Desempenho Organizacional com os Objetivos e Padrões Todos os dados coletados na etapa 1, serão comparados então com objetivos e padrões organizacionais. Padrões e objetivos estão intimamente ligados. Os padrões são desenvolvidos para refletir os objetivos organizacionais. São parâmetros que indicam níveis aceitáveis de desempenho organizacional e, portanto, variam de empresa para empresa. Alguns exemplos de padrões, são: • • • • • Padrões de lucratividade Padrões de posicionamento do mercado Padrões de produtividade Padrões de liderança de produto Padrões de desenvolvimento do pessoal 6 • Padrões que refletem o equilíbrio entre os objetivos de curto e longo prazos Etapa 3: Tomar a Atitude Corretiva Necessária Uma vez coletadas as medidas organizacionais e comparadas com os objetivos estabelecidos, os administradores devem tomar qualquer atitude corretiva que seja exigida. Atitude corretiva é a mudança necessária que deve ser precedida em um procedimento, para garantir que ele possa contribuir com o processo de planejamento estratégico da forma mais efetiva e eficiente e de acordo com os padrões estabelecidos. A base para determinar como a ação corretiva deve ser implantada passa pelo completo entendimento do processo de controle estratégico, além de verificar a forma como elas se relacionam com as principais etapas do planejamento estratégico. É possível que nenhuma atitude corretiva seja necessária, se a organização estiver atingindo os objetivos e padrões estabelecidos. De qualquer forma, é preciso autocrítica neste processo. É possível que os objetivos e padrões tenham sido fixados num patamar muito baixo, sendo necessário estabelecer novos desafios a partir da implantação de novos objetivos e padrões. A responsabilidade primeira sobre o processo de planejamento estratégico é da alta administração (Certo, 1993:195-236). Como o controle estratégico é fundamental para uma estratégia bem sucedida, a alta administração deve ser capaz de entender o controle estratégico e tomar as atitudes necessárias no momento adequado. Deve partir dela o comportamento firme e duradouro no sentido de estabelecer um controle estratégico, com o objetivo de acompanhar todos os processos, dar feed-back periódico e realimentar o sistema, preservando as metas estabelecidas pela organização. O controle estratégico implica em manter o patamar estratégico já alcançado e/ou passar para uma nova fase, através de nova diretriz estratégica, se e quando essa nova diretriz for importante. O controle estratégico consiste na determinação (Wright, Kroll & Parnel, 2000), da medida em que as estratégias da empresa estão atingindo seus objetivos gerais e específicos. Se esses não estiverem sendo atingidos plenamente, será necessária pronta intervenção dos gestores da estratégia, no sentido de redirecioná-la de modo a melhorar a habilidade da empresa para atingir os objetivos. No controle estratégico, o período de tempo focalizado vai de um ano até uma década, com a utilização de mensurações qualitativas e quantitativas para avaliar as operações internas e externas e o processo, continuamente. As estratégias da empresa são monitoradas sistematicamente por conselhos de administração, investidores, acionistas, com o fito de garantir a efetividade dos gestores da estratégia. Com base na missão e nos objetivos gerais e específicos da empresa, a alta administração define claramente que elementos do ambiente deverão ser monitorados, avaliados e controlados. Estabelecem-se padrões aos quais o desempenho atingido pela empresa será comparado. Se o desempenho estiver alinhado com os padrões estabelecidos, nenhuma medida corretiva será necessária. Caso contrário, medidas corretivas prontamente serão determinadas, sob pena de todo o processo vir a ser comprometido. O papel da alta administração, nesses casos, é alinhar de forma vantajosa e diferenciada, as operações internas da empresa com as operações externas onde o controle estratégico atuará como um mediador entre as variáveis ambientais setoriais e do macroambiente. A avaliação do desempenho de uma empresa poderá ser realizada de várias maneiras, por exemplo, 7 comparando o desempenho operacional de um ano para outro. Vários benchmarks competitivos podem ser utilizados, mas os principais são a qualidade relativa do produto/serviço da empresa enfocada, sua habilidade inovadora para desenvolver novos produtos e serviços, melhorar sua produção e seu processo de atendimento e entrega ao cliente, em relação aos dos concorrentes, além de sua participação relativa de mercado. O controle também pode enfocar o desempenho por meio do monitoramento de taxas financeiras e mudanças no valor da ação da empresa. O controle estratégico ainda pode ser exercido pela clara comunicação dos valores da organização e pela determinação de um sistema de recompensas que seja consistente com esses valores, ou pode ser exercido indiretamente através do comportamento adequado dos administradores. IV - A Pesquisa Visando perceber a real participação do Controller no processo de Planejamento Estratégico empresarial, realizou-se pesquisa utilizando amostra intencional de 120 empresas de grande porte, do Estado do Rio Grande do Sul, de diversos segmentos de mercado, a partir de cadastro da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS), para a coleta de dados através da aplicação de questionário dirigido aos Controllers e Presidentes dessas empresas. O questionário foi estruturado com 2 perguntas subdivididas em 13 itens fechados, isto é, com uma escala de 0 a 5 para que os respondentes pudessem atribuir sua pontuação, em relação a cada pergunta. Constaram do questionário, também, 2 perguntas abertas, para que os respondentes pudessem emitir suas opiniões. Segundo Balarine (1999:159), esta sistemática caracteriza um processo de amostragem não-probabilística, justificando-se pela impossibilidade de se estudar toda uma população (excetuadas aquelas diminutas). Após a etapa de coleta de dados, o tamanho amostral reduziu-se para 43 executivos, sendo 12 Presidentes e 31 Controllers, de diferentes empresas. Como o estudo caracterizou-se como descritivo, o tamanho amostral pode ser considerado bom e, portanto aceitável, uma vez que ao superar 30 elementos, está satisfeita a condição para análise através da distribuição normal. Os resultados obtidos, partindo da pergunta “Qual a participação do Controller durante as fases de formulação, implementação e controle do planejamento estratégico, na opinião daquele profissional e na visão do Diretor-Presidente?”, estão retratados nas tabelas e gráficos a seguir: 8 Tabela 1 – Escores médios por questão para Diretor-Presidente e Controller Cargo Diretor Itens Presidente Determinação da missão 3,58 Fixação de metas 4,00 Previsões sobre condições futuras 3,92 Determinação de alternativas ao modelo 4,17 Avaliação da estratégia 4,17 Hierarquização dos níveis 4,25 Estabelecimento da data de implantação 4,18 Projeção de cenários para mercado consumidor 4,00 Identificação de oportunidades e ameaças 3,58 Identificação de pontos fortes e fracos 3,75 Definição de diretrizes estratégicas 4,17 Medição de desempenho 4,33 Medição e acompanhamento de padrões 4,50 Fonte: Pesquisa de Campo Controller 3,16 3,45 3,61 3,23 3,90 3,42 2,97 2,94 2,71 3,06 3,29 4,10 4,16 Gráfico 1 – Escores médios por questão para Diretores-Presidentes e Controllers 5,0 4,5 Escores médios 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 Medição e acompanhamento de padrões Medição de desempenho Definição de diretrizes estratégicas Identificação de pontos fortes e fracos Identificação de oportunidades e ameaças Projeção de cenários para o mercado consumidor Hirarquização dos níveis Avaliação da estratégia Estabelecimento da data de implantação Controller Determinação de alternativas ao modelo Dir. Presidente Previsões sobre condições futuras Fixação de metas Determinação da missão 0,0 Fonte: Pesquisa de Campo Para verificar se existiam diferenças significativas entre as respostas dos Presidentes e Controllers, foi utilizado o teste não-paramétrico de Mann-Whitney, apropriado para variáveis ordinais, conforme Siegel (1975, p. 131). Esse teste, também conhecido por Teste da Soma dos Postos de Wilcoxon, não utiliza valores médios em seu cálculo, mas verifica se as distribuições de probabilidade de uma variável podem ser consideradas iguais nas duas populações em estudo. 9 A prova de Mann-Whitney é um método baseado em postos (ranks). Esse teste atribuirá postos de 1 até n para todos os n indivíduos da amostra, considerando posto 1 para o valor mais baixo. E é exatamente no valor da soma dos postos em cada amostra que a estatística U do teste de Mann-Whitney está baseada. Primeiramente são calculadas duas estatísticas de teste, U1 e U2, sendo que a estatística de teste U será a menor dentre as duas. Fórmula 1 – Testes U de Mann-Whitney U1 = n1n2 + n1 (n1 +1) − R1 2 U2 = n1n2 + n2 (n2 +1) − R2 U = mín {U1;U2} 2 onde, U1 = estatística U de Mann-Whitney para a amostra do grupo 1 U2 = estatística U de Mann-Whitney para a amostra do grupo 2 U = estatística U de Mann-Whitney efetivamente utilizada n1 = tamanho da amostra do grupo 1 n2 = tamanho da amostra do grupo 2 R1 = soma dos postos atribuídos ao grupo 1 R2 = soma dos postos atribuídos ao grupo 2 Fonte: Siegel (1975, p. 131) Como as estatísticas U1 e U2 de Mann-Whitney subtraem as somas dos postos obtidas em cada amostra e U é o mínimo entre essas duas estatísticas, valores baixos de U indicarão diferenças entre os grupos. A tabela 2 mostra os resultados obtidos com o teste de Mann-Whitney: Tabela 2 – Escores medianos por questão para Presidentes e Controllers e teste de Mann-Whitney. Cargo Teste Mann-Whitney Diretor SignifiItens Presidente Controller U cância 4,50 3,00 154,0 Determinação da missão 0,399 4,00 3,00 143,5 Fixação de metas 0,254 4,00 4,00 Previsões sobre condições futuras 164,0 0,565 4,50 3,00 105,0* Determinação de alternativas ao modelo 0,028 4,50 4,00 158,0 Avaliação da estratégia 0,462 4,50 4,00 115,5 Hierarquização dos níveis 0,055 5,00 4,00 Estabelecimento da data de implantação 89,5* 0,019 4,00 3,00 104,0* Projeção de cenários mercado consumidor 0,026 3,50 3,00 123,5 Identificação de oportunidades e ameaças 0,091 4,00 3,00 124,5 Identificação de pontos fortes e fracos 0,096 4,00 4,00 105,0* Definição de diretrizes estratégicas 0,028 4,50 4,00 163,0 Medição de desempenho 0,547 5,00 4,00 151,5 Medição e acompanhamento de padrões 0,355 * Diferenças significativas entre grupos ao nível de 5% Fonte: Pesquisa de Campo Apesar de em todos itens o grupo dos Presidentes apresentar escores médios mais elevados, em apenas quatro a diferença foi estatisticamente significativa, de acordo com o teste de Mann-Whitney, ao nível de 5%. O gráfico 1 explicita a situação verificada a partir da aplicação do Teste de MannWhitey, onde em apenas quatro itens, ocorre variação significativa entre as respostas dos Presidentes e Controllers. Esses itens são: determinação de alternativas ao modelo de 10 planejamento estratégico; estabelecimento da data de implantação da estratégia e das metas corporativas; projeção de cenários para o mercado consumidor e fornecedor; e, definição de diretrizes estratégicas. Nos demais itens questionados aos Presidentes e Controllers, nota-se uma grande similaridade de respostas, dentro da escala ordinal proposta, evidenciada no gráfico. Gráfico 2 – Hierarquização dos itens segundo opinião dos Diretores-Presidentes (do item de maior participação para o item com menor participação) Medição e acompanhamento de padrões Medição de desempenho Hirarquização dos níveis Estabelecimento da data de implantação Definição de diretrizes estratégicas Avaliação da estratégia Determinação de alternativas ao modelo Projeção de cenários para mercado consumidor Fixação de metas Previsões sobre condições futuras Identificação de pontos fortes e fracos Identificação de oportunidades e ameaças Determinação da missão 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 Gráfico 3 – Hierarquização dos itens segundo opinião dos Controllers (do item de maior participação para o item com menor participação) Medição e acompanhamento de padrões Medição de desempenho Avaliação da estratégia Previsões sobre condições futuras Fixação de metas Hirarquização dos níveis Definição de diretrizes estratégicas Determinação de alternativas ao modelo Determinação da missão Identificação de pontos fortes e fracos Estabelecimento da data de implantação Projeção de cenários para mercado consumidor Identificação de oportunidades e ameaças 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 11 V - Conclusão Quando o tema deste trabalho foi escolhido, ou seja, a integração entre o planejamento estratégico e as atividades do Controller, havia alguma apreensão quanto ao alcance de seus objetivos, resultante de inseguranças manifestadas em relação à aparente independência entre as atividades do estrategista e do Controller. No entanto, experiências profissionais anteriores conduziam ao entendimento de que tal relação não só era possível, como determinante para a elaboração de um bom planejamento estratégico. A pesquisa bibliográfica veio a confirmar que a relação que pretendia-se comprovar, efetivamente ocorre. Mas faltava a pesquisa de campo. Entendeu-se importante colher as opiniões, para as mesmas questões, de Presidentes de empresas e de Controllers, no sentido de cotejar as respostas de ambos, na busca de domínio maior sobre o assunto. Os resultados da pesquisa de campo, tratados estatisticamente, revelaram haver, em relação à maioria das respostas das questões fechadas, uma similaridade muito grande no entendimento de ambos (Presidentes e Controllers), dentro da escala ordinal proposta, evidenciada no Gráfico 1 deste estudo (Escores médios por questão, para Presidentes e Controllers). O teste não-paramétrico de Mann-Whitney não deixa dúvidas a esse respeito. Em apenas quatro questões ocorreu uma diferença estaticamente significativa, ao nível de 5%. Os escores médios produzidos a partir das respostas dos Presidentes sempre foi superior à dos Controllers, indicando que eles entendem que, em relação ao planejamento estratégico, mesmo onde o Controller contribui, deveria participar mais efetivamente. Possivelmente, os escores menores produzidos a partir das respostas dos Controllers, são explicáveis pelas características remanescentes da atividade contábil, mais operacional do que estratégica. Aos poucos, o profissional vem percebendo que mais importante do que registrar atos e fatos contábeis, é desenvolver a capacidade de analisá-los e tirar conclusões sobre eles, para permitir uma tomada de decisão mais eficaz no processo gestional. Os dados revelados pela pesquisa publicada pelo IMA, indicam que no início da década de 90, a atitude do Controller era mais voltada para o aspecto contábil-gerencial, migrando no final da década, para um posicionamento mais contábil-estratégico. Os Presidentes das empresas pesquisadas ainda enfatizaram, nas questões abertas, como fatores importantes da participação do Controller no processo, os seguintes aspectos: Mensuração dos resultados sugeridos no planejamento estratégico; Formas e planos para atingir as metas e superar os objetivos dos resultados alcançados; Levar a empresa a uma posição de destaque em relação ao crescimento e rentabilidade; Determinação de dados externos, tais como tendências do setor, dados das empresas concorrentes, etc. Uso contínuo de instrumentos de simulação para aperfeiçoar o planejamento estratégico; Maior foco na gestão de processos. Maior liderança e menor controle. Diagnóstico preventivo, não reativo. Foco nas oportunidades. Em relação às respostas dos Controllers, nas questões abertas, estas foram classificadas em três categorias, para facilitar o entendimento e obter conclusões. A 3ª 12 questão foi formulada da seguinte maneira: Que influências de sua participação como Controller, podem ser identificadas nos resultados obtidos pelo planejamento estratégico? O grupo de Controllers submetidos ao questionário, direcionaram suas respostas para os aspectos relacionados a resultado financeiro, planejamento estratégico e indicadores de desempenho. O primeiro destes aspectos enfatiza a participação do Controller no processo do planejamento estratégico, destacando a visão financeira do negócio, como forma de atender aos acionistas (convém lembrar que a pesquisa foi realizada entre empresas de grande porte, a maioria, portanto, S/As de capital aberto). No entanto, a visão financeira não se limita aos interesses dos acionistas. O Controller, com visão financeira do negócio, sabe que a empresa para alavancar novos produtos, dotar a empresa de infra-estrutura quando necessário, privilegiar a competitividade de sua empresa, investir em capital intelectual, ou estabelecer alguma vantagem competitiva, necessitará de recursos financeiros. Aprofundando mais a análise, pode-se dizer que a rigor existem duas ‘linhas’ de profissionais atuando em controladoria. Um, o Controller financeiro, como especificado anteriormente. O outro, o Controller, mais dedicado ao controle de custos, despesas, orçamentos, processos, entre outros aspectos, conhecido no meio industrial como “chão de fábrica”. Naturalmente, em dado momento pode-se encontrar um profissional que seja a combinação dessas experiências. O segundo e o terceiro aspectos privilegiam a visão voltada diretamente para o planejamento em si, e os indicadores de desempenho funcionando como ‘o termômetro’ das medidas adotadas pela empresa. O grupo de Controllers que direcionou as respostas para planejamento estratégico, são aqueles que efetivamente participam da tomada de decisão em suas empresas, enquanto, os que direcionaram suas respostas para indicadores, caracterizam-se como “controladores”, buscando continuamente medir o desempenho da empresa em relação à estratégia. A quarta questão, era: O que poderia ser oferecido pelo Controller para o aperfeiçoamento do planejamento estratégico? Em relação à esta questão, as respostas foram classificadas nos aspectos de mensuração e análise de resultados, informações gerenciais, crítica e auto-crítica. Como pode-se perceber, o primeiro grupo de respostas, aquela que faz referência à mensuração e análise de resultados, caracteriza a intenção dos Controllers de contribuir mais efetivamente no processo, colocando à disposição dos administradores, ferramentas que possibilitem que os resultados do planejamento estratégico sejam medidos e analisados continuamente, possibilitando se necessário, a imediata correção de rota em relação à estratégia praticada. Certamente eles entendem que isto é parte do seu trabalho e, como tal, sentem-se responsáveis pela tarefa. Outro grupo enfatizou que poderia oferecer ‘informações gerenciais’ para o aperfeiçoamento do planejamento estratégico. Percebe-se que este grupo de profissionais tem a dimensão do domínio que detém sobre o sistema contábil, financeiro, orçamentário, fiscal, entre outros e, identifica o termo ‘informações gerenciais’ com relatórios e demonstrativos sobre o comportamento desses sistemas. Na realidade, essas informações qualificadas já fazem parte do dia a dia das empresas, há muito tempo. Mas a ênfase que está sendo dada pelos profissionais, é que essas informações ainda são pouco utilizadas no processo de planejamento estratégico, ou até mesmo não o são. O que poderia estar 13 ocasionando este tipo de falha é a falta de comunicação entre o grupo de funcionários, muitas vezes causada pelo próprio Controller. A natureza do trabalho desenvolvido até recentemente, é introspectiva. Ainda mais no mundo atual dos computadores, onde ocorre contínua relação entre o homem e a máquina. O terceiro grupo de Controllers, cujas respostas foram classificadas como crítica e auto-crítica, ainda em relação à pergunta, conduziu às seguintes opiniões, dos respondentes: “Visão de dinâmica conjuntural sob o prisma de alteração de cenários”; “Nos envolvemos muito com o resultado dos negócios e deixamos de analisar aspectos externos. Resumindo, olhamos pouco para fora da empresa e isso é função necessária para o Controller”. “A empresa deveria ter uma forte preocupação com o resultado econômico. Dessa forma, o Controller seria chamado para instrumentalizar a Diretoria em suas tomadas de decisão”. Essencialmente, a pesquisa revela que tanto Presidentes como Controllers entendem como preponderante a participação efetiva deste último, no processo de planejamento estratégico das empresas. Se isto não está ocorrendo a contento, deve ser conseqüência dos ‘gestores’ do processo não estarem concedendo, ainda, o devido espaço ao Controller, quer por algum tipo de preconceito em relação ao profissional, quer por desconhecimento em relação a suas capacidades e potencialidades. Ainda há muitos espaços para serem ocupados pelos Controllers. VI – BILIOGRAFIA BALARINE, O. F. O. Etapas no Processo de Pesquisa. Edipucrs. Análise, Porto Alegre, v. 10, n.2, p. 155-167, 1999. BRUNER, R. F., EAKER, M. 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