Max Weber e a Burocracia da Organização Educativa Pós-graduação em Administração e Gestão Escolar Organizações Educativas e Administração Escolar DOCENTE: Mestre Adriano Fernandes Max Weber e a Burocracia da Organização Educativa ALUNO: José Carlos Moreira da Silva Azevedo José Carlos Moreira da Silva Azevedo 1 Max Weber e a Burocracia da Organização Educativa TEORIA DA BUROCRACIA A Teoria da Burocracia foi inspirada na obra de Max Weber (1864-1920). Max Weber nasceu na Prússia em 1864, era sociólogo, professor universitário de economia política e trabalhou em administração hospitalar. Estudou e publicou extensa bibliografia sobre as grandes organizações e analisou-as como sendo uma máquina impessoal, na qual as pessoas ficam em segundo plano ou não são consideradas. Considerou o século XX como o século das organizações burocráticas que constituíram a base do sistema de produção capitalista, racional e legal, caracterizando uma nova era na história da humanidade. Weber estudou as organizações do ponto de vista do estruturalismo, preocupando-se basicamente com a sua racionalidade, ou seja, analisando de que forma as organizações utilizavam os recursos e meios existentes para atingir de forma optimizada os objectivos pretendidos. Neste sentido, o modelo burocrático é classificado como uma forma de organização humana baseada na racionalidade pois pretende alcançar a eficiência por meio da utilização racional dos recursos existentes. O acto de racionalizar as organizações é realizado pelos administradores. A racionalidade organizacional representa uma das três formas básicas da racionalidade da sociedade moderna, existindo também a racionalidade económica, caracterizada pelo capitalismo e a racionalidade científica, caracterizada pelas tecnologias. Podemos dizer que a burocracia é uma forma de poder que pode se expressar de duas maneiras fundamentais: como um tipo de sistema social representado pelas organizações burocráticas e como um grupo social, que pode ser caracterizado como uma classe social. O impacto do modelo burocrático de administração sobre as organizações é tão grande que, apesar das significativas alterações sofridas pelas empresas nos últimos anos, a grande maioria delas utilizam, em graus diferenciados, princípios do modelo, tornando-se importante o desenvolvimento de uma visão crítica a respeito dos aspectos positivos e negativos da utilização do mesmo, bem como o conhecimento das disfunções decorrentes da aplicação inadequada de seus princípios . Apesar das organizações em geral não possuírem um modelo puro de burocracia, muitas delas aproximam-se bastante do modelo ideal estudado por José Carlos Moreira da Silva Azevedo 2 Max Weber e a Burocracia da Organização Educativa Weber, como por exemplo o Estado, a Igreja, o Exército, as Escolas e as Associações, entre outras. A adopção em larga escala da Teoria da Burocracia, também se deve ao facto das teorias administrativas existentes (Administração Científica e Teoria das Relações Humanas) serem parciais e de não atenderem de forma adequada às novas necessidades das empresas, principalmente as de controlo, tornando-se necessário o desenvolvimento e adopção de princípios administrativos e organizacionais mais abrangentes. Max Weber classifica três tipos fundamentais de sociedade e de autoridade: 1 – Sociedade tradicional onde predominam características patriarcais e patrimonialistas. Ex: família, clã, monarquias. 2 – Sociedade carismática onde predominam características personalistas. Ex: grupos revolucionários e facções radicais de partidos políticos. 3 – Sociedade legal, racional ou burocrática onde predominam normas impessoais e legais. Ex: Sociedade contemporânea. A autoridade pode assim ocorrer de três formas diferentes: pelo carisma, pela tradição ou pela organização e normas. Segundo Weber, só existe autoridade se alguma dessas três características estiver presente de alguma forma. Os tipos de autoridade estabelecidos por Weber, baseiam-se nos tipos de legitimidade, ou de crenças existentes. 1 – AUTORIDADE TRADICIONAL A autoridade tradicional é pessoal e seus limites são fixados pelos costumes. Pode ser transmitida por herança de pai para filho. Tende a ser conservadora e as mudanças geralmente implicam um corte violento com as tradições estabelecidas. O líder tradicional comanda em virtude de seu status de sucessor ou herdeiro. A legitimação do poder ocorre pela crença no passado eterno - "as coisas sempre foram feitas assim". Este tipo de autoridade vem da crença nas tradições que estão em vigor e na legitimidade daqueles que, por essa tradição, são indicados para exercer autoridade. A pessoa tem autoridade não por suas qualidades pessoais, mas por causa das instituições que representa. Este tipo de autoridade pode ser observado em: alguns representantes religiosos, nas instituições militares, nas monarquias e tribos, em empresas familiares mais fechadas, etc. José Carlos Moreira da Silva Azevedo 3 Max Weber e a Burocracia da Organização Educativa 2 – AUTORIDADE CARISMÁTICA A autoridade carismática ocorre em função das qualidades pessoais extraordinárias do líder. A autoridade não é racional, não é herdada ou delegada. Tende a ser instável e arbitrária. A legitimação do poder ocorre por influência da personalidade do líder e em função da crença e da valorização de que o chefe ou superior é alguém digno de admiração pela sua revelação, heroísmo ou exemplaridade. O líder carismático mantém o poder enquanto seus seguidores reconhecerem nele forças diferenciadas das qualidades humanas normais. A descrição carismática de Weber ajusta-se aos seguintes casos: líderes políticos, líderes religiosos, líderes revolucionários, líderes sindicalistas, líderes sociais, heróis, etc. 3 – AUTORIDADE BUROCRÁTICA, LEGAL OU RACIONAL A autoridade burocrática, legal ou racional baseia-se no estabelecimento de leis, normas e regras racionais, impessoais e formais. O indivíduo que detém autoridade exerce o comando seguindo leis e regulamentos racionalmente estabelecidos, e não de acordo com sua vontade. A legitimação do poder dá-se em função da crença na justiça das regras, leis e normas previamente estabelecidas e o poder é exercido dentro dos limites fixados por elas. As organizações burocráticas funcionam baseadas na dominação racionallegal que ocorre pelos normativos estabelecidos. Desta forma os níveis hierárquicos estabelecem a estrutura de poder, quanto mais alto na hierarquia maior o poder do cargo. As relações dos indivíduos são estabelecidas por regras impessoais e escritas, definidas de forma racional, com os direitos e deveres de cada posição. Dos três tipos de autoridade analisados, Weber concentra-se no último. As características da autoridade racional estão intimamente ligadas com as características da burocracia. CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DAS ORGANIZAÇÕES BUROCRÁTICAS 1 – As organizações burocráticas caracterizam-se pela sua racionalidade porque buscam utilizar da forma mais eficiente os recursos disponíveis para atingir José Carlos Moreira da Silva Azevedo 4 Max Weber e a Burocracia da Organização Educativa os objectivos definidos, neste sentido, as regras e normas pretendem ser coerentes com os objectivos visados. 2 – As organizações burocráticas são legais porque estão estruturadas e organizadas em leis, regras e normas preestabelecidas, conferindo aos cargos, autoridade e poder de mando sobre os subordinados. Neste sentido a autoridade burocrática baseia-se no Direito. 3 – As organizações burocráticas são formais porque seu funcionamento não depende da vontade individual e espontânea de seus participantes. Funcionam baseadas num sistema de normas racionais, detalhando antecipadamente como as coisas devem ser feitas e como a organização deve funcionar, por meio de estatutos, regulamentos e regimentos. Com a formalidade das normas, do planeamento e execução das actividades busca-se tornar mais fácil o controle por parte dos administradores, já que existem mecanismos de comparação do que se espera que o funcionário execute (a norma formal) com o que ele efectivamente executou (resultados alcançados). Por outro lado, fica claro para os subordinados o que se espera que eles façam perante uma determinada situação. Nas organizações burocráticas os funcionários não têm autonomia para tomada de decisões, devem agir baseando-se nas directrizes organizacionais, nas normas disciplinares, nos métodos, rotinas e padrões previamente definidos, ou seja, só podem fazer aquilo que a norma ou regra define ou permite. 4 – As organizações burocráticas caracterizam-se pela autoridade, pela divisão racional do trabalho e de responsabilidade dos cargos e funções existentes. Desta forma, cada indivíduo, cada área e cada departamento possui atribuições, competências e limites de acções bem definidos. Com isso pretende-se que não ocorra conflito de comando, duplicidade de acções e interferência nas competências alheias, o que prejudicaria a racionalidade e o funcionamento da estrutura existente. Na organização burocrática o poder e autoridade derivam do cargo e não do seu ocupante, neste sentido tendem a funcionar independentemente das pessoas que ocupam os cargos. Neste sentido, o poder dos funcionários é impessoal e deriva do cargo. A obediência ao superior também é impessoal e deriva do respeito à hierarquia e não necessariamente à pertinência da ordem dada. José Carlos Moreira da Silva Azevedo 5 Max Weber e a Burocracia da Organização Educativa DISFUNÇÕES DA BUROCRACIA Robert K. Merton (1952) fez um estudo das consequências imprevistas e indesejadas que afectam as organizações burocráticas levando-as à imperfeição e à ineficiência. A estas consequências indesejadas Merton deu o nome de disfunções da burocracia. Merton questiona a racionalidade e a eficiência das organizações burocráticas bem como o alto nível de formalismo descrito por Weber. Segundo Merton o ponto crítico dos estudos de Max Weber é que o mesmo não considera a burocracia como um sistema social e, desta forma, exclui o homem dos seus estudos. Weber analisa as organizações sob um prisma "mecanicista", não considerando que a natureza humana é muito mais complexa, comprometendo a previsibilidade que se espera do modelo. Disfunções da Burocracia: 1 – Seguir normas e regulamentos passam a ser os objectivos finais dos funcionários e da organização. Ficando o “cliente” relegado para segundo plano. 2 – Adopção de regras como justificativa para limitar a amplitude do trabalho a ser executado, tornando-o rígido, inflexível e incapaz de responder de forma eficiente ao que não foi previsto. O Funcionário perde a iniciativa e criatividade. 3 – Despersonalização do relacionamento. 4 – Centralização de poder. 5 – Excesso de documentação e papel. 6 – Considera a organização como sistema fechado. 7 – Acomodação ao cargo e resistência à mudança em virtude da previsibilidade causada pela normalização. 8 – Bloqueio e restrição nas comunicações em virtude do excesso de formalidade nas comunicações e do rigor na divisão hierárquica. 9 – Excesso de impessoalidade nos relacionamentos. 10 – Excesso de controles. José Carlos Moreira da Silva Azevedo 6 Max Weber e a Burocracia da Organização Educativa VISÃO CRÍTICA DO MODELO WEBERIANO Em geral, as organizações burocráticas exigem um elevado nível de conformismo de seus participantes em função da rigidez do sistema de regras e normas estabelecido. As organizações modernas exigem posturas diferenciadas da rigidez e da impessoalidade burocrática. A característica central dos novos modelos baseia-se na cooperação, na potencialidade criadora do homem e até no desejo permanente de criação, característica que na prática constitui-se em poderosa arma de transformação organizacional. Posturas rígidas e conservadoras com relação ao comportamento tendem a engessar as organizações, não permitindo que as mesmas possam adaptar-se às mudanças ambientais. De um modo geral, podemos dizer que o modelo weberiano analisa a burocracia como um sistema fechado e estável, que não considera os aspectos do comportamento interno. Neste sentido, a rigidez do modelo burocrático não permite a adaptação da organização às exigências dos “clientes”, às mudanças ambientais e também às exigências internas de seus participantes. Visão padronizada do comportamento humano, buscando a previsibilidade do funcionamento organizacional. Excessivo rigor nas divisões hierárquicas bloqueia e restringe as comunicações. Desconsidera ou dá pouca importância à organização informal, às motivações e aos objectivos pessoais. Não leva em conta a necessidade de crescimento e de desenvolvimento pessoal. O desafio do administrador e gestor é utilizar adequadamente as várias dimensões, tendo em mente que graus elevados de burocratização conduzem à rigidez e à inflexibilidade e graus insuficientes de burocratização conduzem à desorganização e à indisciplina. José Carlos M. S. Azevedo José Carlos Moreira da Silva Azevedo 7