A abordagem institucional
comparativa
Cap. II Evans Autonomia e Parceria
Paulo Tigre
1
Evolução das teorias do desenvolvimento
Paulo Tigre, UFRJ
2
Utilitarismo
O Utilitarismo é um tipo de ética normativa – com origem
nas obras dos filósofos e economistas ingleses do século
XVIII e XIX. Jeremy Bentham e John Stuart Mill.
O Neo-utilitarismo está associado também as idéias de
Friedrich Hayek e ao chamado neoliberalismo, doutrina
econômica que defende a absoluta liberdade de
mercado e uma restrição à intervenção estatal sobre a
economia, só devendo esta ocorrer em setores
imprescindíveis e ainda assim num grau mínimo.
http://gppusp.blogspot.com/2008/06/peter-evans-o-estado-comoproblema-e.html
Paulo Tigre
3
John Stuart Mill (1806 — 1873)
Em Economia, o utilitarismo pode
ser entendido como um princípio ético
no qual o que determina se
uma decisão ou ação é correta, é o
benefício intrínseco exercido à
coletividade , ou seja, quanto maior o
benefício, tanto melhor
a decisão ou ação.
Paulo Tigre
4
Síntese Neoclássica


Característica essencial: reconciliação das
correntes clássica e keynesiana por
intermédio de uma “revisão” (filtragem) do
modelo de Keynes.
Principais expoentes:



Hicks (1937)
Modigliani (1944)
Patinkin (1948, 1956)
Abordagem utilitarista do desenvolvimento
1.
2.
3.
O bem-estar social é definido como uma função do bem-estar dos
indivíduos ou famílias.
A renda individual (ou consumo) é considerado uma proxi ou indicador
de bem estar individual. Todos os indivíduos são classificados de acordo
com sua renda, e atribuído pesos de acordo com sua posição.
Por exemplo, a noção “progressiva” atribui um maior ganho em termos
de bem estar quando um dólar é transferido para um indivíduo pobre do
que a um rico. Em contraste, a “democracia do dólar” adotada nos
modelos aplicados de bem-estar atribui o mesmo ganho marginal de
bem-estar a um dólar extra de renda independentemente de quem
recebe. Isso é o mesmo que dizer que a distribuição de renda em
qualquer classe tem efeitos iguais.
Paulo Tigre, UFRJ
6
O enfoque da linha de pobreza



O enfoque da linha de pobreza dá peso zero a
qualquer renda acima do necessário para
assegurar as necessidades básicas.
Medidas mais complexas atribuem pesos ao
aumento de bem estar de acordo com o nível de
renda dos indivíduos abaixo da linha de pobreza.
A consequencia de definir desenvolvimento usando
função de bem estar progressiva (ao invés de
renda nacional agregada) é que a maximização do
crescimento econômico não vai maximizar
automaticamente o bem estar caso a distribuição
de renda piore.
Paulo Tigre, UFRJ
7
Friedrich Hayek
Para Hayek, uma das funções principais
do Estado (Mínimo) seria auxiliar na difusão de
conhecimentos e informações permitindo uma
maior mobilidade econômica, sem haver
centralização de decisões, nem planejamento por
parte do Estado .
A esse Estado (Mínimo), restaria zelar pelo bom
funcionamento do mercado: garantindo a ordem,
elaborando leis de proteção à propriedade privada,
leis de proteção à liberdade de expressão, a
manutenção dos cárceres e a defesa das fronteiras
Paulo Tigre
8
Estado de bem-estar x Estado mínimo


Estado de bem-estar entende que o cidadão tem como
direito político, e não como caridade, uma renda básica
para sua boa sobrevivência, garantindo sua
alimentação, educação, saúde e habitação.
Contrariamente a tudo que pregava o Estado de bemestar, Hayek e Friedman, acreditavam que o Estado
deveriam ter funções menos autoritária e menos
paternalista.
Paulo Tigre
9
Estado de
bem-estar na
Europa:
Nórdicos: maiores
níveis de proteção,
universalização
Eur. Continental:
pensões, segurança
Anglo-saxões: +
assistência social –
pensões.
Mediterrâneos:
Mais recente, assistencia +
pensões
Paulo Tigre
10
A visão neo-utilitarista do Estado



Desilusão com o Estado se tornou endêmica no final
da década de 70. O modelo neo-utilitarista do Estado
considerava ilógico que as autoridades visassem o
bem comum.
O modelo neoliberal propõe que as relações
pessoais dos governantes é a essência da ação do
Estado. Suporte político por meio da troca de favores
– subsídios, empréstimos, empregos, contratos,
privilégios.
Para escapar destes deletérios a esfera de atuação
do Estado deve ser reduzida ao mínimo e o controle
burocrático substituído por mecanismos de mercado.
Paulo Tigre
11
Proposições de
Milton Friedman ao
Chile (1975)
Friedman recomendou a Pinochet o seguinte
programa econômico que chamou de “tratamento de choque”:
• Suspensão imediata da emissão de dinheiro para cobrir o déficit
público.
• Corte de 20-25% das despesas púbicas, por meio da demissão de
funcionários.
• Fim do controle de salários e preços
• Privatização das empresas estatais
• Desregulamentação dos mercados financeiros
• Livre comércio total
Paulo Tigre
12
A visão neo-utilitarista



Corrupção sempre foi uma característica dos Estados do terceiro
mundo. De fato alguns Estados consome conspicuamente os
recursos que extraem, encorajam o rentismo e falham em prover os
bens coletivos.
Ao invés de tentar separar o que o Estado seria capaz de fazer do
que seria improvável e então fazer mudanças institucionais para
melhorar o desempenho, os críticos passaram a demonizar o Estado
e não o tipo de políticos e burocratas que o dominavam.
A visão neo-utilitarista não está interessada em casos individuais,
mas sim em negar a visão do Estado como um árbitro neutro,
sustentada pelos autores neoclássicos. Questiona a busca de
objetivos comuns (ação coletiva) e o cumprimento de ordens
(relações dirigente/agente).
Paulo Tigre
13
Ortodoxia neo-utilitarista




Fé no mercado, sem qualquer crítica. Mesmo a
economia neoclássica reconhecia a importância
do Estado – mas mínimo.
Estado caixa-preta exógena. Funções internas
não eram assunto apropriados ou úteis a analise
econômica.
O neo-utilitarismo abriu a “caixa-preta” do
Estado com instrumentos e ferramentas
idealizados para analisar a otimização individual.
A visão neo-utilitarista obscureceu, mais do que
iluminou, em função de sua ambição exagerada.
Paulo Tigre
14
A retração da ortodoxia neo-utilitarista





Teoria neo-utilitarista é cínica e utópica. Cínica pq nega a
importância pratica do espírito publico e utópica pq presume que a
mão invisível oferece uma alternativa fácil.
A visão NU torna impossível a própria existência do tipo de Estado
limitado q. a própria economia NU exige. – Estado vigia-noturno
cujas funções são restritas a proteger os interesses individuais,
pessoas e propriedades, e fazer respeitar os contratos privados.
O que impede os funcionários isolados de trabalharem juntos como
uma coletividade? – NU não oferece evidencias.
Porque aqueles que tem o monopólio da violência deveriam se
contentar em ser apenas vigias noturnos? O q. os impediria de
expandir os benefícios privados indefinidamente?
Uma estrita aderência a lógica NU torna a existência do Estado
difícil de explicar – uma impossibilidade teórica. Concepção neo-ut.
de mercado também são problemáticas.
Paulo Tigre
15



Eficiência alocativa a curto prazo não
garante transformação estrutural –
essência do desenvolvimento.
Teoria neoclássica não diz que a
maximização marginal garante otimização
a LP. Estagnação da capacidade produtiva
em um “ponto ótimo” – mantêm o status
quo.
Negação das normas culturais e de outros
tipos de relações culturais para sustentar o
processo de troca. Adam Smith: A teoria
dos sentimentos morais é um complemento
natural de A riqueza das nações.
Paulo Tigre
16
Mercado x Relações institucionais



O mercado anônimo de modelos
neoclássicos é virtualmente inexistente na
vida econômica.
Relações comerciais de longo prazo
requerem confiança – elementos não
contratuais do contrato.
A troca (mercado) pode reforçar os laços,
mas não pode se sustentar sem eles.
Paulo Tigre
17
Oliver
Williamson




A economia moderna é encapsulada
dentro de grandes corporações formais,
assim como por transações entre
maximizadores individuais independentes.
Papel das hierarquias formais: permitir a
construção de um conjunto de vínculos
dentro dos quais uma cultura interna pode
crescer.
Rede de firmas – relações de troca estão
imersas em uma cultura fornecida por
outros tipos de estruturas sociais.
Onde entra o mercado? Relações de troca
(mercado) não precedem outros tipos de
relações sociais.
Paulo Tigre
18
Contradições para implementar políticas
neoliberais




Ausência de mercados eficientes
Paradoxo ortodoxo – Impor políticas neoliberais implica na
imposição de mudanças radicais nas praticas de negócios
existentes. Quem poderia implementar tais mudanças se o
Estado é corrupto e ineficiente?
Se as políticas propostas fossem efetivamente
implementadas, a teoria neo-utilitarista do Estado estaria
errada.
Não há sucessos nas políticas neoliberais, o que minou sua
credibilidade em todo o mundo. Mas ainda falta sucessor a
NU, o que lhe dá uma certa sobrevida.
Paulo Tigre
19
A tradição institucional comparativa



Visão neo-utilitarista falhou em oferecer um retrato
realista do Estado, por considera-lo uma simples
agregação de motivações individuais.
Burocratas não são maximizadores independentes pois
suas decisões dependem de contextos institucionais
complexos com interações historicamente enraizadas e
incorporadas em estruturas sociais. Tal realidade é
anterior aos interesses individuais, definindo
prioridades.
Falta de perspectiva comparativa é outro problema.
Escolhas individuais não podem ser previstas por meio
de simples pressuposições motivacionais universalistas.
Paulo Tigre
20



Padrões institucionais históricos definem os interesses
individuais e restringem a maneira como esses são
perseguidos, um diagnóstico tipo "um modelo serve para
tudo" não pode funcionar.
Evans: As ações do Estado e suas conseqüências para o
desenvolvimento se tornam contingentes do contexto no
qual estão imersas e a melhor maneira de realizar uma
análise comparativa é começar identificando as diferenças
contextuais para então buscar as regularidades
fundamentais.
Sucedâneo ao modelo neo-utilitarista do Estado: tradição
de trabalhos que analisam o Estado em termos históricos
comparativos. Metodologicamente, é uma tradição que
analisa seriamente as instituições. Teoricamente, está mais
associada ao espírito da economia política clássica do que
da "teoria econômica da política" dos neo-utilitaristas
(Toye 1991b, 324).
Paulo Tigre
21
O que são instituições?


As instituições consistem em restrições ou regras
informais – como as normas culturais e formais –
inseridas em estruturas organizacionais particulares.
(Deepak Lal)
Instituições restringem a “natureza humana” ou o
Homo Economicus: modelo assumido por
economistas que entendem que o comportamento
humano é motivado somente pelo auto-interesse –
otimização da utilidade pelos consumidores e do
lucro pelos produtores. Instituições visam restringir
tal comportamento em benefício do bem comum.
Douglas North


As instituições são vistas como as regras do jogo e são
constituídas por regras formais, como leis, constituições,
estatutos, estruturas de direitos de propriedade e contratos
individuais; regras informais, como sanções, tabus,
costumes, tradições e códigos de conduta; e pela
capacidade de fazê-las cumprir (enforcement) pelos
próprios agentes ou por órgãos externos.
Elas podem ser criadas, como as constituições nacionais,
ou surgem no tempo, por meio de leis comuns, por
exemplo (NORTH, 1990, 1992, 1994 e 2005).
Paulo Tigre
23
Instituições e desenvolvimento

A evolução das instituições é provavelmente a
principal causa dos diferentes níveis de
crescimento econômico, pois as decisões dos
agentes são condicionadas pelo passado, por
meio de normas culturais e ideológicas e
estruturas organizacionais. (Deepak Lal, 1998)
Max Weber (1864-1920)
Weber postula que o
estado é a entidade que
possui o monopólio do
uso legítimo da ação
coercitiva. A política
deverá ser entendida
como qualquer atividade
em que o estado tome
parte, de que resulte
uma distribuição relativa
da força.
Paulo Tigre, UFRJ
25
Max Weber e a burocracia
Weber elaborou um conceito de burocracia baseado em elementos
jurídicos do século 19, concebidos por teóricos do direito.
Dentro dessa perspectiva jurídica, o termo era empregado para
indicar funções da administração pública, que era guiada por normas,
atribuições específicas, esferas de competência bem delimitadas e
critérios de seleção de funcionários.
A burocracia, então, podia ser definida da seguinte forma: “aparato
técnico-administrativo, formado por profissionais especializados,
selecionados segundo critérios racionais e que se encarregavam de
diversas tarefas importantes dentro do sistema.”
Paulo Tigre, UFRJ
26
Teoria da burocracia de Max Weber



Parte da premissa de que o traço mais relevante da
sociedade ocidental, no século XX era o agrupamento social
em organizações. Procurou fazer um mapeamento de como
se estabelece o poder nessas entidades.
Construiu um modelo ideal, no qual as organizações são
caracterizadas por cargos formalmente bem definidos, ordem
hierárquica com linhas de autoridade e responsabilidades
bem delimitadas.
Weber cunhou a expressão burocrática para representar
esse tipo ideal de organização, porém ao fazê-lo, não estava
pensando se o fenômeno burocrático era bom ou mau.
Weber descreve a organização dos sistemas sociais ou
burocracia, num sentido que vai além do significado
pejorativo que por vezes tem.
Paulo Tigre, UFRJ
27
Tipos de sociedade ou poder ou
autoridades legítimas segundo Weber



Tradicional: irracional, conservador, patriarcal e
patrimonialista.
Carismática: irracional, conseguido através do
carisma
Burocrática, legal ou racional: racional,
conseguido através de normas impessoais
Paulo Tigre, UFRJ
28
Tipos de autoridade, segundo Weber



Poder: potencial para exercer influência
Autoridade: probabilidade de uma ordem ser
obedecida. Ter autoridade é ter poder; mas
ter poder não significa ter autoridade,
principalmente quando não é legitimada
(aceita por todos)
Dominação: o governante acredita ter o
direito do poder, e os governados a
obrigação de obedecer-lhe
Paulo Tigre - IE/UFRJ
29
Características da Burocracia










Caráter legal das normas e regulamentos: é uma organização ligada
por normas e regulamentos
Caráter formal das comunicações: são registradas por escrito
Divisão racional do trabalho
Impessoalidade: relação a nível de cargos, e não de pessoas
Hierarquia: cada cargo inferior deve estar sob supervisão do cargo
automaticamente superior
Rotina: o funcionário deve fazer o que a burocracia manda; não tem
autonomia
Meritocracia: a escolha das pessoas é baseada no mérito e na
competência técnica
Especialização da administração: separação entre propriedade e
administração
Profissionalização
Previsibilidade: prever as ações; através das normas
Paulo Tigre, UFRJ
30
Disfunções da Burocracia








Excesso de formalismo: necessidade de formalizar e documentar
todas as comunicações
Resistência a mudanças
Despersonalização: os funcionários se conhecem pelos cargos que
ocupam
Categorização como base do processo decisório: o que possui o
cargo mais alto, tomará as decisões independentemente do
conhecimento que possui sobre o assunto
Conformidade às rotinas
Exibição de poderes de autoridade
Dificuldade com clientes: o funcionário está voltado para o interior da
organização
A burocracia não leva em conta a organização informal e nem a
variabilidade humana.
Paulo Tigre - IE/UFRJ
31
Questões críticas para discussão





Será que os Estados desenvolvimentistas confirmam a
alegação de Weber, de que a burocracia e o capitalismo
“pertencem intimamente um ao outro”?
Quais são as diferenças nas características de interação
entre o Estado e as elites dominantes nos Estados
predatórios e nos desenvolvimentistas?
As burocracias desenvolvimentistas são mais ou menos
insuladas que as predatórias?
A possibilidade de fazer projetos conjuntos define os
Estados desenvolvimentistas?
Caso afirmativo, como a organização interna do Estado
interage com as oportunidades surgidas na estrutura da
sociedade para tornar os projetos conjuntos possíveis?
Paulo Tigre, UFRJ
32




Para Weber, o Estado era útil àqueles que operavam nos mercados
precisamente porque as ações de seus funcionários obedeciam a
uma lógica bem diferente daquela atribuída a troca utilitarista.
A capacidade do Estado em sustentar os mercados e o processo de
acumulação capitalista depende da burocracia ser uma entidade
corporativamente coerente na qual os indivíduos vêem os
objetivos corporativos como a melhor forma de maximizar seus
interesses individuais.
A coerência corporativa exige que os funcionários responsáveis
sejam até certo ponto isolados das exigências da sociedade
circundante. O isolamento por sua vez, é acentuado através de um
status distinto e recompensador aos burocratas.
A concentração de capacitação na burocracia através de
recrutamento meritório e a provisão de oportunidades para
premiações em carreiras de longo prazo são também fundamentais
para a eficiência da burocracia.
Paulo Tigre
33
A perspectiva Weberiana



As políticas bem sucedidas têm fundamentos estruturais. As estruturas
burocráticas criam um conjunto de incentivos para os funcionários do
governo, gerando afinidade entre estes incentivos e as políticas exigidas
para o crescimento capitalista.
Se Weber estiver certo, não daria certo impor políticas diferentes
ao aparato estatal sem mudar a estrutura do próprio Estado.
Mudanças reais em políticas e no comportamento dos agentes
dependem da possibilidade de criar novas estruturas no Estado.
A perspectiva Weberiana gera uma hipótese comparativa poderosa: as
diferenças na estrutura do aparato estatal deveriam implicar em
diferenças na sua eficácia. Deveria, portanto, ser possível ir além da
identificação tautológica dos Estados desenvolvimentistas como
àqueles que induzem o desenvolvimento, e explicar as diferenças na
performance desenvolvimentista com base em contrastes
estruturais duradouros.
Paulo Tigre
34



Enquanto o Estado sustentar uma estrutura estável de regras
permitindo assim que os retornos sobre os investimentos sejam
previsíveis, os agentes privados farão o resto.
Weber não levanta a questão de como o Estado poderia ir além de
apenas reforçar as tendências naturais dos investidores, ou como
poderia responder à uma situação na qual as forças empresariais
privadas falhassem em emergir. O Estado de Weber é um apoio
essencial ao capital privado, mas não constitui um agente
transformador em si próprio.
Relações Estado-sociedade: conectam o Estado aos grupos
empresariais. O trabalho de economistas institucionalistas, como
Gerschenkron e Hirschman, oferece uma visão das relações
Estado-sociedade que servem como um bom complemento a
Weber.
Paulo Tigre
35
Karl
Polanyi
(1944)



" O caminho para o livre mercado estava
aberto e era mantido aberto graças a um
enorme aumento no intervencionismo
contínuo, centralmente organizado e
controlado.”
Desde o início, a vida do mercado foi
entrelaçada não apenas com outros tipos
de laços sociais, mas com diferentes tipos
de políticas governamentais. Um Estado
efetivo não era simplesmente um auxiliar
do mercado, mas sim um pré-requisito
essencial à formação das relações de
mercado.
A perspectiva de Polanyi abre uma porta
para recuperar até mesmo os insights
anteriores de Weber.
Paulo Tigre
36
Polanyi complementou as idéias
pioneiras de Weber...



Weber argumentou que as operações das grandes empresas
capitalistas dependiam da disponibilidade de um tipo de ordem que
somente um Estado burocrático moderno podia oferecer.
“O capitalismo e a burocracia se encontraram e se pertencem
mutuamente.“ (1911)
Imagem espelhada da visão neo-utilitarista: Os burocratas de Weber
viam seus interesses atendidos pela execução de suas atribuições e
pela contribuição para a realização dos objetivos do aparato como um
todo. Usar as prerrogativas do cargo para buscar interesses privados
era a característica arquetípica das formas pré-burocráticas. A
superioridade do Estado burocrático moderno está em sua habilidade
de superar a lógica individualista.
Paulo Tigre
37
Gerschenkron (1962)



Gerschenkron (1962) constatou a falta de capacitação
empresarial, em países de desenvolvimento tardio na Europa
focalizando as relações entre o Estado e capital.
Competir com Estados já industrializados significava combinar o
domínio de novas tecnologias com exigências de capital
superiores àquelas que empresariado local era capaz de
acumular. Para resolver esta contradição, o Estado teria que ir
além de apenas prover um ambiente adequado e promover
financiamento a LP.
Na falta de capitalistas individuais capazes de assumir riscos na
escala exigida pela tecnologia moderna, e instituições privadas
que irão permitir que grandes riscos sejam partilhados por uma
ampla rede de investidores, o Estado deve servir como banco
de investimentos, reunindo os fundos necessários e
encorajando sua aplicação em atividades transformadoras.
Paulo Tigre
38
Gerschenkron e a Industrialização
promovida pelo Estado.




Empresários se defrontam com novas tecnologias e
desafios competitivos sem ter os recursos suficientes para
investir.
Precisam do Estado para se financiar com recursos de
longo prazo.
Aceitação de riscos: empresários não estão dispostos a
aceitar grandes riscos sem o apoio de instituicões do
Estado.
Crise de 2008: mostrou a precariedade das instituições
financeiras privadas para lidar com crises.
Paulo Tigre
39
F. Fanjzylber: “Industrializacion trunca na AL” (1989):



Analisa do papel estratégico que teve a indústria de bens de capital no
crescimento industrial das economias desenvolvidas.
Na América Latina identifica lacunas, falhas e distorções no proceso de
industrialização devido a ausência de um setor de bens de capital
suficientemente desenvolvido que têm impedido de alcançar níveis de
excelência produtiva.
Uma “nova industrialização” se basearia no conceito de eficiência,
baseado em “crescimento com criatividade”, isto é, com inovação
tecnológica. Seria necessário constituir um “núcleo endógeno de
progresso técnico”, tecnologicamente fortalecido e articulado com o
conjunto do sistema produtivo, com o fim de dinamizar e alcançar
excelência produtiva “que é a condição necessária para penetrar e
manter-se no mercado internacional”
Paulo Tigre
40
Albert Hirschman



Argumenta que o capital não é o principal ingrediente que
falta. O que impede o caminho da transformação industrial
é uma carência de empresariado no sentido de "percepção
de oportunidades de investimento e sua transformação em
investimentos reais (Hirschman 1958,35).
O Estado pode estimular uma tomada de decisão, que
deve ir além de fornecer um ambiente previsível e reunir
capital disponível em volumes maiores.
Hirschman vê o Estado como uma fonte potencial de
incentivos "desestabilizadores" que tornam mais difícil
fugir das decisões e portanto induzem o capital privado a
se tornar mais empresarial.
Paulo Tigre
41




Gerschenkron e Hirschman sugerem que o repertório do Estado
deve ir além do que foi vislumbrado por Weber. Eles não negam
a importância de uma estrutura burocrática competente,
coerente, mas sugerem que o distanciamento indiferente
sugerido por Weber pode não ser suficiente.
O novo empresariado de que fala Gerschenkron e o processo
sutil de transformação da iniciativa privada enfatizado por
Hirschman, exigem mais do que regras previsíveis e impessoais.
Num processo de transformação "Gerschenkroniano" ou
"Hirschmaniano", o formato do projeto de acumulação precisa ser
descoberto, quase que inventado, e o Estado deve ser um
participante em sua invenção.
Não é suficiente diminuir a percepção de riscos. O empresariado
deve ser seletivamente estimulado, complementado e reforçado.
Isto, por sua vez, exige conexões mais íntimas com agentes
econômicos privados, um Estado que seja mais "inserido" na
sociedade e não isolado dela.
Paulo Tigre
42
Gerschenkron e Hirschman apontam para a necessidade de
complementar a hipótese de estrutura interna Weberiana
com uma análise das relações Estado-sociedade.




Como estão estruturados os elos entre o Estado e os grupos
empresariais que ele tenta estimular?
Gerschenkron e Hirschman são menos entusiastas que Weber
sobre a capacidade do Estado desempenhar os papéis que eles
consideram necessários.
O legado desta tradição não foi uma imagem espelhada
"estatista", da fé utópica neo-utilitarista no mercado. A questão de
se um Estado qualquer é capaz ou não de compensar as
deficiências dos agentes econômicos privados e impulsionar um
processo de transformação permanece em aberto.
Hirschman (1958, 65) "O fato do empresariado privado ser
incapaz, ou não estar disposto, a fazer certos trabalhos, que
gostaríamos que fossem realizados, não garante que o governo
possa realizá-los."
Paulo Tigre
43
O que a tradição institucional comparativa
tem a oferecer?



Identificação de alguns papéis que o Estado pode vir a
preencher para promover o processo de transformação
econômica e sugestões sobre que tipos de características
institucionais podem ser necessárias para que o Estado
tenha chance de representar esses papéis.
Como identificar mais claramente as características
organizacionais internas e os padrões de conexões
externas associadas com a ação efetiva do Estado?
Quais os exemplos históricos concretos que ilustrem suas
variações?
Paulo Tigre
44
Revisões Institucionalistas do Modelo Neoutilitarista: a nova economia institucional


Oliver North (1986): "Em nossas interações diárias com
outras pessoas, quer seja com a família, em relações
sociais externas, ou em atividades de negócios, a estrutura
governante é inteiramente definida por códigos de conduta,
normas de comportamento, e convenções".
“As estruturas institucionais" são "a chave crítica ao
relativo sucesso das economias. Pagamos um alto preço
pela aceitação sem crítica da teoria neoclássica" porque "a
alocação era considerada como ocorrendo num mundo
sem atritos, ou seja, num mundo onde as instituições
não existiam ou que não eram importantes"
Paulo Tigre
45
Robert Bates

Professor of the Science of Government at Harvard
University where he has studied and provided
consulting assistance in the areas of governmental
reform, economic policy reform, and political economy
in many countries throughout the world. Since 1968,
Bates has worked in Zambia, the Sudan, Uganda,
Kenya, Colombia, and Brazil. Bates has focused much
of his work on East and West Africa and has published
widely on issues of public policy, agricultural policy, and
economic policy reform in these regions.
Paulo Tigre
46
Robert Bates (1989)



"As burocracias e organizações não estão
necessariamente em oposição aos mercados. Ao contrário,
elas são freqüentemente responsáveis por sustentar e
desencadear as forças do mercado."
Os Estados e as sociedades são mutuamente
constitutivos. Os interesses e as classes não são
logicamente mais relevantes que o Estado e suas políticas.
Os Estados ajudam a definir os interesses privados e têm
um papel crucial no crescimento de classes e grupos de
interesse.
Paulo Tigre
47
Download

A abordagem institucional comparativa