DISCURSOS DE JAVÉ: A MEMÓRIA, OS SUJEITOS E A
ESCRITA-ORALIDADE NA CONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA
Mariana Sato de Oliveira
PIBIC/CNPq
Prof. Gesualda Rasia
Introdução
Tendo como fundamento a teoria da Análise de
Discurso pecheutiana, este trabalho realizou a
análise de narrativas que compõem o longametragem Narradores de Javé, de Eliane Caffé,
com o objetivo de compreender, nas oscilações
entre oralidade e escrita, que imaginários de
escrita e de história constituem os discursos
desses personagens.
Método
Neste trabalho, foram analisadas três narrativas de
Narradores de Javé (2003), filme de Eliane Caffé:
a de Seu Vicentino, a de Deodora e a de Firmino.
As narrativas foram transcritas e, a partir da teoria
da Análise do Discurso, analisadas com foco na
relação escrita-oralidade e nos imaginários de
escrita, ciência e história que constituem os dizeres
dos narradores.
PECHÊUX, M. O Papel da Memória. In: ACHARD, Pierre
et al. Papel da memória. Campinas: Pontes, 1999.
PAYER, Maria Onice. Discurso, memória e oralidade.
REVISTA HORIZONTES, v. 23, n. 1, p. 47-56, jan/jun,
2005.
Resultados/Discussão: As narrativas de Vicentino, Deodora e
Firmino, contrastadas com as intervenções de Antônio Biá,
revelam o constante embate entre oralidade e escrita na
construção do livro da história do Vale de Javé. Preocupados
em produzir um relato “científico” das origens de sua terra, os
personagens estão em constante trânsito entre a cultura oral a
que pertencem e a cultura escrita, coma qual, na condição de
excluídos, eles mantêm estreitas relações. Este jogo de forças
entre oralidade e um imaginário de cultura homogênea, da
escrita e da ciência, tem reflexos nas oscilações entre as
marcas de oralidade e certos “floreios” nas falas de cada um.
Os imaginários de escrita, de ciência e de história que
constituem seus discursos estão todos marcados na
materialidade das narrativas: nas escolhas lexicais, nas
diferenças de entonação, nas oscilações entre uma variante
mais culta e outra bastante popular, nas aproximações e nas
sobreposições entre oralidade e escrita. Por exemplo, se
Deodora diz “eu sei qual é as emoções”, ela faz uso, também,
de “havia”, em contexto no qual “tinha”seria mais comum.
Conclusão: Constituídos por um imaginário de ciência e de
escrita como quase sinônimas da escrita literária, está
marcada, nos dizeres de Javé, uma maior confiança na
tradição oral, a da memória. Neste sentido, a memória
coletiva, que a história coloca como elemento essencial da
construção de identidade dos povos tem forte relação com a
memória discursiva, a partir da qual entendemos a realidade.
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