Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 13 – Estudo e ensino de Língua Portuguesa: interface entre língua X, literatura e cultura de diferentes povos. ENSINO DE LITERATURA E PRÁTICA DE LEITURA: A QUESTÃO DA FORMAÇÃO DE LEITORES Alexandra Santos PINHEIRO1 RESUMO: O artigo é resultado do trabalho com a disciplina de Estágio Supervisionado e de nosso engajamento na Formação continuada de Professores. Partimos do princípio de que a democratização da leitura é a garantia de que a sua prática não seja um mecanismo de exclusão. Desta forma, o acesso aos conhecimentos que a Literatura oferece deve ser destinado a todos. Na maioria das vezes, as experiências de leitura dão-se nas escolas, por isso, se o aluno não tiver contato com obras variadas e de qualidade, nesse período, poderá não ter outra chance de aprender a apreciar a arte literária. Mas, para fazer valer a democratização da leitura literária, num país em que a injusta distribuição de renda não permite a todos a compra de livros, é preciso mudar a postura dos professores, vistos por nós como os principais mediadores entre o livro e o leitor. Nesse sentido, a presente comunicação tem o objetivo de discutir a prática docente do professor de Literatura. A análise não pretende desmerecer o educador, desejamos, ao contrário, compreender esse profissional, refém de baixos salários e pelo pouco reconhecimento social que, no Brasil, atribui-se à profissão de educador. Desejamos, ainda, pensar em alternativas para que o principal mediador entre livros e leitores em idade escolar possa trabalhar em prol da formação de leitores. PALAVRAS CHAVE: Literatura, Formação continuada, leitores, Ensino 1 Professora adjunta da Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD – Brasil - Mato Grosso do Sul. Doutora em Teoria Literária pela Unicamp e membro do grupo de pesquisa”Núcleo de Estudos Literários”, cadastrado no CNPq. E-mail: [email protected]. 51 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 13 – Estudo e ensino de Língua Portuguesa: interface entre língua X, literatura e cultura de diferentes povos. Introdução: “Se, por não ser que de excesso de socialismo ou barbárie, todas as nossas disciplinas devessem ser expulsas do ensino, exceto uma, é a disciplina literária que devia ser salva, pois todas as outras ciências estão presentes no monumento literário” (BARTHES, R. Aula, 1980). Tratar do Ensino de Literatura implica em caminhar por vários desafios: políticas públicas de leitura; a seleção de obras diante de um mercado editorial que oferece inúmeros títulos, principalmente para o Ensino Fundamental; a falta de diálogo entre escola, professores, órgãos públicos e comunidade; o uso que se faz nas escolas dos livros didáticos. Por isso, pela necessidade de delimitar o caminho a percorrer para a elaboração dessa análise, o presente artigo “Ensino de Literatura e prática de leitura: a questão da formação de leitores” tratará do Ensino da Literatura a partir de duas perspectivas: a importância e a função da Literatura e o seu ingresso na escola; a importância do trabalho docente para que efetivas práticas de leitura possam promover a formação de leitor. O referencial teórico que sustenta a análise é pautado em pesquisas que confirmam a importância de se pensar a prática e a teoria mais significativas para o ensino de Literatura. Em primeiro lugar, contamos com a análise da proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) e com as Orientações Curriculares (2006). O primeiro, como destacou Faria (1999), trata da Literatura em pouco mais de uma página, englobando a disciplina numa área maior: a da Linguagem. As Orientações Curriculares, por sua vez, vão destacar alguns equívocos cometidos pelos PCNs, salientando a necessidade de se repensar as fundamentações teóricas e metodológicas do 52 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 13 – Estudo e ensino de Língua Portuguesa: interface entre língua X, literatura e cultura de diferentes povos. ensino de Literatura, pois só assim seria possível rever a forma utilitarista de se levar a arte literária para sala de aula: no Ensino Fundamental, como forma de moralizar ou ensinar gramática e outros conhecimentos de diferentes áreas das Ciências Humanas. No Ensino Médio, como preparação para o vestibular. Regina Zilberman (1882) é trazida para o debate porque a obra Literatura em crise na escola, organizada por ela, traz autores que sistematizam o debate sobre Ensino de Literatura, versando sobre problemáticas e apontando soluções que ainda são recorrentes nos mais recentes estudos sobre o tema: políticas públicas de leitura; desigualdade social, acesso ao livro; equívocos das práticas de leitura levadas para sala de aula e desencontro entre escola, governo, comunidade e família, uma vez que a formação de leitores seria um trabalho em conjunto. Não poderia faltar, nesse ensaio, o diálogo com a obra A leitura e o ensino de leitura, também de Regina Zilberman (1988). Apesar de lançado no final da década de 80, a obra versa sobre temas atuais, já que muitos dos desafios apontados pela pesquisadora ainda permanecem no século XXI: democracia, concepção de leitura, importância do texto literário lido na integra não por fragmentos. Desse livro, destacamos, em especial, o capítulo em que a autora trata da importância da teoria literária para o trabalho docente nos Ensinos Fundamental e Médio. Questão também destacada por Rildo Cosson (2006), quando apresentou, em seu livro Letramento Literário, a importância do suporte teórico para a prática docente. Se a teoria é um fator significativo para a prática docente, não poderia faltar em nosso referencial a obra de Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira Aguiar (1993). As autoras apresentam algumas metodologias teóricas para conduzir o Ensino de Literatura. Das metodologias destacadas, percebemos, no diálogo com professores, em projetos de 53 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 13 – Estudo e ensino de Língua Portuguesa: interface entre língua X, literatura e cultura de diferentes povos. formação continuada, que o método criativo é o mais utilizado em sala de aula, todavia, como apresentaremos no decorrer da exposição, isso é feito, muitas vezes, de forma equivocada. A última obra que merece ser destacada como referencial teórico do presente ensaio é Caminhos para formação de leitores, organizada por Renata Junqueira (2004). Desse livro, trabalhamos, em especial, com o capítulo “Formação de leitor e razões para a Literatura”, de Ricardo Azevedo. Embora esses autores sejam as principais referências teóricas desse ensaio, no decorrer da análise, outros nomes serão citados para enriquecer o debate. Após a apresentação do referencial teórico, entramos nas questões que norteiam o debate proposto: a importância e a função da Literatura e o seu ingresso na escola; a importância do trabalho docente para que efetivas práticas de leitura possam promover a formação de leitor. A importância e a função da Literatura e o seu ingresso na escola Ao longo do século XIX, a Literatura foi amparada pela crença de que a palavra tinha um poder ilimitado e de que a sua prática era uma espécie de veículo tradutor da realidade, com o poder de espelhar o mundo e seus contornos. Hoje, a visão da Literatura busca, como afirma Marisa Lajolo (2002, p. 33), a “grande aventura da significação provisória”, transformando esse provisório na “arma de sua permanência”. A arte literária passa a ser vista como “instauração de uma realidade, apreensível apenas na medida em que permite o encontro de escritor e leitor sem que, entre ambos, haja qualquer acordo prévio quanto a valores, representações, etc. 54 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 13 – Estudo e ensino de Língua Portuguesa: interface entre língua X, literatura e cultura de diferentes povos. As escolas são instituições às quais a sociedade delega a responsabilidade de prover as novas gerações das habilidades, conhecimentos, crenças, valores e atitudes consideradas essenciais à formação de qualquer cidadão. Mas, baseando-nos em pesquisas de Kleiman (2001/2003), Rojo (2006), Soares (2003), a relação entre escola e letramento é complexa. Há uma espécie de 'controle' da escola, ao invés de expandir práticas sociais. O LETRAMENTO ESCOLAR é insuficiente para medir e avaliar as habilidades de leitura e de escrita. Em países como o Brasil, o funcionamento inconsistente e discriminatório gera padrões múltiplos e diferenciados de aquisição do letramento. Desse modo, tendo ciência deste tipo de letramento efetuado nas escolas, seria significativo avançar para as práticas sociais que marcam a vida dos sujeitos envolvidos. Entendemos, assim, que o docente/discente inserido em práticas sociais de leitura/escrita de gêneros diversos que circulam socialmente (da esfera literária e não literária, como sugerem os PCNs) deve ser considerado uma pessoa letrada. Compreendemos, ainda, que o direito ao acesso à leitura e a dinâmica que lhe envolve deve ser um direito inalienável do homem, em época de extrema competitividade e globalização. Em se tratando do letramento literário, é preciso pensar em várias questões: o acesso aos livros, dentre elas, uma das mais significativas seria a questão da tecnologia. Professores e demais profissionais da educação apontam a tecnologia como o responsável pela pouca leitura na escola. Todavia, no final da década de 70, quando o acesso aos meios digitais era escasso, pesquisadores como Regina Zilberman (1982) já mostrava algumas contradições em relação à chamada crise de leitura. De acordo com sua pesquisa, quando iniciaram efetivamente as reflexões sobre a (não) leitura, acontecia o crescimento da população urbana, decorrente da oferta de trabalho nas 55 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 13 – Estudo e ensino de Língua Portuguesa: interface entre língua X, literatura e cultura de diferentes povos. indústrias. Esse aumento da população, por sua vez, exigiu uma reformulação da estrutura escolar, devido à ampliação do número de alunos. Assim, dentre as novas propostas pela reforma de ensino instituída na nesse período, o texto literário ganhou destaque em sala de aula, as editoras passaram a investir na publicação de obras infantis e um elevado número de livros passou a circular nos acervos escolares. O apontamento histórico demonstra que, aparentemente, não havia lugar para a chamada crise de leitura. Se houve o aumento do público leitor e a ampliação na oferta de obras literárias, onde estaria a crise? De acordo com Zilberman (1982), a contradição instalava-se na recusa à leitura. O público leitor, em potencial, não demonstrava interesse pela leitura das obras literárias. Essa recusa, infelizmente, ainda é a motivação para o debate acerca do ensino de Literatura. A diferença é que ao debate é acrescido a tecnologia como motivador dessa recusa. Talvez devêssemos pensar que a (não) leitura é uma questão que não perpassa apenas a questão pedagógica, pois, se assim fosse, a diversidade de obras que ensina a “ensinar a ler” já a teria solucionado. A história da leitura demonstra que esse assunto envolve poder político, poder econômico e poder social. A história da leitura, vale lembrar, também é marcada, como elucida o trabalho de Márcia Abreu (2003), pela censura, ou seja, pelo poder de definir o que podia e o que não podia ser impresso. Pelo que consta em sua história, é compreensível que a questão ainda seja discutida. Será que os professores (e aqui incluímos os professores universitários) não seriam hoje os novos censores? Será que ao repudiar a tecnologia ele não estaria refutando a possibilidade de se utilizar dela para navegar em sites com conteúdo literário? Será que cada aluno não poderia criar um site sobre suas leituras preferidas? O que está explícito é que o estudante é leitor. Talvez ele não ele o que consideramos “boa 56 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 13 – Estudo e ensino de Língua Portuguesa: interface entre língua X, literatura e cultura de diferentes povos. Literatura”, mas os relatórios de estágios dos estudantes do curso de Letras da cidade de Dourados têm mostrado que a leitura faz parte do dia a dia de um número significativos de adolescentes. Quadrinhos japoneses, gibis, livros de temática espírita e narrativas como Harry Potter e O crespúculo não apenas fazem parte do contexto dos alunos como são trazidos para as conversas informais na hora do intervalo. Ao nos referirmos à leitura, ainda seria interessante observar que concebemos o ato de ler como um processo trabalhoso que exige “esforço, treino, capacitação e acumulação” (Ricardo Azevedo, 2006). Sobre a definição de leitura, optamos pela de Eni Orlandi (2006), que, pela visão da Análise do Discurso, define a leitura como “compreensão, não apenas decodificação”. A leitura seria o momento crítico da construção do texto, um processo de interação verbal que faz desencadear a assimilação dos sentidos. O leitor, por sua vez, seria aquele que consegue atribuir sentido a um diversificado número de textos. É leitor aquele que, devido à familiaridade com a escrita, consegue diferenciar os tipos de gêneros literários e não literários e os motivos que o levam a escolher uma leitura em detrimento da outra. Nesse sentido, para que a leitura seja inserida como uma forma de aproveitar o tempo livre, ou seja, para que seja vista como lazer, faz-se necessário que o indivíduo torne-se um leitor e esse processo, como vimos, exige esforço e dedicação. É necessário saber por que lemos, precisamos atribuir sentido ao que lemos, e isso exige prática, treino, acúmulo de informação, raciocínio. A arte literária, se observada pela afirmação de Barthes (ver epígrafe desse texto), deveria fazer parte do ambiente familiar e escolar desde os primeiros meses de vida. Essa afirmação pode parecer utópica, mas não é. Ela está fundamentada em um referencial teórico que nos permite acreditar que a 57 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 13 – Estudo e ensino de Língua Portuguesa: interface entre língua X, literatura e cultura de diferentes povos. democratização do ensino exigiria um repensar sobre nossa história sócio-econômica de exclusão. A introdução aos Parâmetros para 5ª a 8ª série lembra a importância de a equipe escolar conhecer o contexto social, histórico e econômico em que os alunos estão inseridos, para, desta forma, compreenderem seus anseios, contribuindo para que os educandos vivenciem, de maneira saudável, o seu momento presente. As aulas de Literatura no Ensino Médio constituem um exemplo prático dessa observação feita nos Parâmetros. Diferentemente da proposta dos novos ordenamentos pedagógicos, a Literatura é estudada como uma preparação para o vestibular, o contato com o texto literário é substituído pelo resumo e a discussão da obra pela síntese da época e das características da escola literária que íntegra o seu autor. Desta forma, a Literatura só existe condicionada às exigências do vestibular e não como fonte de conhecimento subjetivo, psicológico, cognitivo, social, etc. Quando trata da linguagem, os Parâmetros demonstram a interdisciplinaridade que a envolve, lembrando que várias áreas do conhecimento buscam na linguagem o suporte para seus objetos de estudo. De acordo com os Parâmetros, a linguagem só pode ser estudada em sua interação social, só existe enquanto expressão comunicativa entre os sujeitos. O efetivo ensino de Literatura pode atender a essa expectativa. A Literatura é por natureza interdisciplinar, está inserida em um tempo e é escrita a partir de um enfoque histórico, social e político. A Literatura também é a prova de que a linguagem só existe enquanto interação social, pois é escrita por alguém que deseja ser compreendido pelo outro, sem a relação entre autor, texto e leitor não há Literatura. Mesmo compreendendo que os Parâmetros não são (e não pretendem ser) a solução definitiva para o problema do Ensino de Literatura e para a crise da leitura, sentimos 58 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 13 – Estudo e ensino de Língua Portuguesa: interface entre língua X, literatura e cultura de diferentes povos. falta de um maior destaque à Literatura e a sua importância para a formação do sujeito social e ético, como sinalizam os Parâmetros. Para tratar da importância do Ensino de Literatura na Formação do estudante dos ensinos Fundamental e Médio faz-se necessário, antes de qualquer questão, dialogar com algumas concepções de Literatura. Com base nas funções da Literatura apresentadas por Antonio Candido, no livro Aula, de Roland Barthes, e com base, ainda, na pesquisa de estudiosos da prática de Literatura, desenvolveremos um debate que pretende trazer à tona questões como: o lugar da Literatura nos Parâmetros Curriculares; a formação docente; e o lugar da Literatura nos ensinos Fundamental e Médio, abordando, nesse último tópico, a questão da metodologia e da seleção de obras. Diante de uma sociedade tão tecnológica, com importantes descobertas científicas, em que o indivíduo, na mais tenra idade, tem acesso à internet e a partir dela ouve música, joga, assiste filmes, conhece lugares e pessoas, por que insistir na Literatura (no livro literário)? Por que se empenhar para que nossos alunos (e nós também) tenham na obra literária uma opção para o prazer, para o conhecimento e para a formação subjetiva e social? Nas palavras de Roland Barthes, encontramos um primeiro argumento em defesa da permanência ou da implantação da leitura literária (ver epígrafe deste artigo ou BARTHES, Roland, 1980, p. 05). O texto do estudioso pode ser sustentado, inclusive, com a Teoria da Literatura Comparada, responsável por mostrar o quanto tênue é a fronteira entre a Literatura e outras áreas do saber: pintura, música, antropologia, sociologia, psicologia, História, etc. 59 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 13 – Estudo e ensino de Língua Portuguesa: interface entre língua X, literatura e cultura de diferentes povos. A importância do trabalho docente para que efetivas práticas de leitura possam promover a formação de leitor Acreditamos que a leitura é um dos instrumentos mais significativos para a formação do cidadão. Todavia, a prática precisa ser acompanhada a partir de um referencial teórico-metodológico que permita ao estudante estabelecer relação entre o texto e o leitor, contemplando sua subjetividade e seu meio social. Além disso, como afirmam teóricos como Rildo Cosson (2006), Magda Soares (2007) e Eni Orlandi (2006), faz-se necessário oferecer ao leitor em formação mecanismos para que ele consiga perceber a intertextualidade, o ponto de vista do autor, a origem do texto, a contextualização do material impresso, dentre outros elementos que permitam a transformação do sujeito e, em conseqüência, a resignificação do meio que o cerca. Diante do exposto, trabalhar a partir da teoria do Letramento pode contribuir para que a prática dos docentes seja redimensionada para projetos que promovam, efetivamente, o Letramento (social, escolar, literário). Ao enfocarmos a importância do professor para a formação de leitores literários, não desejamos atribuir somente a ele a responsabilidade por despertar nos educandos o prazer à leitura literária. Sabemos que essa é uma questão, no Brasil, comprometida pela desigualdade social, pelo preço dos livros, etc. Mas também é preciso ter consciência de que a maioria dos alunos de escolas públicas terá os primeiros contatos com livros na escola, o que torna significativo o papel desse mediador. Da mesma forma que constatamos essa realidade, percebemos, nos cursos de formação continuada, o pouco contato do professor com o livro. Raramente, o professor de Língua Portuguesa e de Literatura lembra-se do último livro literário que leu na integra. A questão surge quando iniciamos o curso de formação continuada e indagamos, no intuito de conhecer o 60 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 13 – Estudo e ensino de Língua Portuguesa: interface entre língua X, literatura e cultura de diferentes povos. público com quem iremos dialogar, o que é Literatura para eles, como selecionam o texto a ser discutido, como acontecem suas aulas de Literatura, qual o último livro que leram ou que estão lendo. A maioria escolhe a partir da orientação do livro didático, não aborda a literatura produzida em seu estado ou cidade e não dialoga com a Academia de Letras de seu município. Acerca do que lêem, raramente algum professor aponta uma leitura literária, a maioria, quando está lendo, indica livros classificados como auto-ajuda. Outro aspecto que impressiona refere-se ao dialogo entre a graduação e sua prática docente. Abordamos em nossos cursos de formação continuada a importância de utilizar o conhecimento da teoria literária para ensinar a ler literatura, apontamos também, a necessidade de instigar o educando a perceber os elementos que marcam os gêneros literários e como esses elementos se relacionam no texto. Nesse ponto, fica explícito que a maioria não consegue se lembrar das aulas de teoria que tiveram durante a graduação. Ao invés de se auto-questionar, grande parte afirma que a deficiência não está em saber ou não a teoria que marca cada gênero, mas sim, na falta de interesse dos educandos. De que não há como incentivá-los a gostar de ficção. Todavia, são esses mesmo jovens que alimentam a audiência das séries para adolescentes como Malhação e Hanna Montana. O que são essas séries? São ficção, enredos pautados em personagens que correspondem aos aspectos físicos e psicológicos dos jovens que acompanham as ações. Também se trata de uma ficção marcada por temas clássicos como amor, traição, o bem e o mal. Somado a temas modernos como a questão do consumismo. Munido de conhecimento teórico, o professor teria pouca dificuldade em mostrar a esses educandos que se dizem desinteressados pela leitura 61 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 13 – Estudo e ensino de Língua Portuguesa: interface entre língua X, literatura e cultura de diferentes povos. literária como a prática social e familiar e as escolhas dos programas que assistem na TV afirmam o contrário. No Brasil, as Orientações Curriculares (2006) definem o Letramento como “Estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita”. O Letramento Literário seria visto, então, como estado ou condição de quem não apenas é capaz de ler poesia ou drama, mas dele se apropria efetivamente por meio da experiência estética. Todavia, a trajetória de formação do leitor de Literatura sempre privilegiou o fragmento literário, o recorte feito por alguém, não o livro. Desta forma, os fragmentos literários, a maioria presente em Livro Didático, tira da escola o livro, que congrega autor e obra, sociedade e mundo representado, cultura e economia. Ao professor caberia explorar as potencialidades de diferentes tipos de texto literário, criando as condições para que o encontro do aluno com a literatura fosse uma busca plena de sentido. Por essa perspectiva, teríamos o ensino da Literatura pautado no Letramento, ou seja, na busca do conhecimento, a partir do texto literário, pelo próprio aluno e no cotidiano social em que todos estão inseridos. O problema é que quando o educador atua em sala, geralmente, baseia-se nos fragmentos literários encontrados nos livros didáticos e na síntese das características literárias na qual determinado autor e obra estão inseridos. Mas como formar professores leitores? O professor deve perceber que a prática de leitura só pode ser atingida a partir de uma reflexão pautada num referencial teórico sustentado pela importância da Literatura para a formação social, psicológica e cognitiva do cidadão. É preciso, ainda, que o professor tenha uma prática docente sustentada por pesquisa. 62 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 13 – Estudo e ensino de Língua Portuguesa: interface entre língua X, literatura e cultura de diferentes povos. De modo geral, os cursos de formação continuada possibilitam apreender as dificuldades teórico-metodológicas da prática dos professores da Educação Básica ao mesmo tempo em que se constituem como um espaço para repensar a sua prática. Na questão do Letramento Literário, orientamos que só é possível formar leitores literários quando os docentes são envolvidos pela prática da leitura. Mas, infelizmente, o que se espera são fórmulas prontas para ensinar os alunos a gostarem de Literatura. Assim, sem o engajamento de professores leitores, também se torna difícil explicar que o Letramento literário deve partir das práticas de leitura dos alunos (novelas, filmes, diários, desenhos animados...) para leituras mais elaboradas, que exigem um esforço maior de interpretação. Diante de um grupo significativo de professores que demonstra pouca familiaridade com os livros, recorremos mais uma vez aos estudos de Regina Zilberman (1982). Para a autora, a ênfase dada ao ensino da língua como um meio para melhorar a qualidade da produção lingüística” poderia significar uma ruptura com o ensino tradicional, mas um olhar atento, de acordo com a autora, pode conduzir o ensino da língua, caso se prenda em demasia à meta de oferecer “um conjunto de atividades que possibilitem ao aluno desenvolver o domínio da expressão oral e escrita em situações de uso público da linguagem”, ao antigo ensino de retórica, com uma concepção apenas pragmática e utilitária da língua. Seria ingenuidade afirmar que alguns professores resumam a aula de Língua Portuguesa ao estudo da gramática, da redação e da interpretação de texto apenas pelo pouco comprometimento com a leitura. Acreditamos que, da mesma forma que a leitura está presa a uma história de censura e de equívocos, o ensino de Literatura está comprometido pela grade curricular dos cursos de Letras, pelo não comprometimento de 63 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 13 – Estudo e ensino de Língua Portuguesa: interface entre língua X, literatura e cultura de diferentes povos. alguns docentes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio com a leitura; pelos salários desestimulantes dos educadores, pela injusta distribuição de renda praticada no Brasil, dentre outros elementos. Os cursos de licenciaturas, especialmente o de Letras, poderiam contribuir para que os acadêmicos tivessem a oportunidade de refletir sobre a rede que envolve a questão da leitura e do ensino de literatura no Brasil. Portanto, para compreender a dinâmica desse professor é preciso perceber essa postura enquanto reflexo da trajetória educacional desse sujeito, mas, também, do seu curso de licenciatura. As Universidades, mesmo as públicas, parecem que firmaram o pacto da aprovação, mesmo que o acadêmico apresente poucas habilidades para a leitura e a produção do texto escrito e oral. Para muitos, a reprovação seria uma forma de desmotivar esse indivíduo que superou vários obstáculos para ocupar uma cadeira universitária. Para nós, o pacto da aprovação implica em alimentar o sistema educacional brasileiro, marcado por aulas medíocres, pautadas em livros didáticos e na pouca ênfase ao processo de ensinar a ler Literatura e a Reescrever, a partir da correção interativa, o texto. Nos cursos de formação de professores, insistentemente lembramos que só ensinamos o que sabemos e que com os crianças e adolescentes a política do “faça o que eu digo não o que eu faço” não emplaca. Mesmo assim, é comum ouvirmos depoimentos em que os professores colocam-se como sujeitos desmotivados financeiramente e desvalorizados demais para trocar a novela das oito por uma Literatura: “é minha hora de lazer”, afirmou, no ano passado, uma professora da 4ª série, do município onde trabalhávamos. De certa forma, essa professora tem razão. Embora a obra literária possa, como aponta Antonio Candido, contribuir para refletir sobre a vida e o mundo, oferecendo mecanismos para compreender nossas 64 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 13 – Estudo e ensino de Língua Portuguesa: interface entre língua X, literatura e cultura de diferentes povos. subjetividades, nossas alteridades, a questão da sexualidade, da morte e da ética, para citar apenas alguns pontos, o ato de ler é um processo trabalhoso que exige, como salienta Ricardo Azevedo “esforço, treino, capacitação e acumulação” (Apud, JUNQUEIRA, Renata, 2004, p. 23). O curso de licenciatura em Letras deveria, a nosso ver, possibilitar o debate sobre o Ensino de Literatura no ensino Fundamental e no Ensino Médio. Isso deveria ocorrer não apenas nas disciplinas de Estágio e prática, mas num dialogo constante com as demais disciplinas de Literatura, uma vez que todas são essenciais para, com o perdão da redundância, a formação de formadores de leitores. Acreditamos ser o estágio o responsável por apresentar ao graduando a realidade escolar e por incutir-lhe o sentimento de que os conhecimentos adquiridos ao longo da graduação não são suficientes para o exercício docente, mostrando-lhe, assim, a necessidade de constante pesquisa. Todavia, sem o conhecimento teórico das demais disciplinas, a prática docente fica incompleta. Para tratar da questão da formação de professores, na concepção de professorpesquisador, tomamos como referência a obra de Selma Pimenta, O estágio na formação de professores; a pesquisa de Ivani Fazenda, “o papel do estágio nos cursos de formação de professores”, publicada na obra A prática de ensino e o estágio supervisionado, obras que versam mais sobre a importância do estágio, e o livro Pesquisa: princípios científicos e educativos, de Pedro Demo, que vai apontar caminhos para a atuação de um professor-pesquisador. Apesar de sua obra se ater à investigação da formação do magistério, Selma Pimenta constata um fato que, muitas vezes, pode ser percebido nos cursos de licenciatura do ensino superior. Conforme a autora, os estagiários ficam confusos 65 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 13 – Estudo e ensino de Língua Portuguesa: interface entre língua X, literatura e cultura de diferentes povos. durante a regência porque percebem que os conteúdos aprendidos durante o curso não condizem com a realidade da sala de aula do ensino fundamental. Se pensarmos no curso de licenciatura em Letras, quantos graduados, diante de sua primeira experiência profissional sentem-se perdidos diante dos conteúdos a serem ministrados? A carga horária destinada ao estudo da lingüística não lhe dá subsídios para trabalhar com alunos que, muitas vezes, chegam ao final do ensino fundamental, ou mesmo do ensino médio, sem as habilidades necessárias para estruturar um texto escrito com o mínimo de coerência e coesão. E o que dizer das aulas de Teoria Literária? Como ler com os educandos do Ensino Médio as obras de Machado de Assis, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto? Cânones que, no discurso dos professores de teoria literária pareciam tão inteligíveis, mas que para a maioria dos “leitores” do Ensino Médio são incompreensíveis. Acreditamos que o Estágio supervisionado deveria oportunizar essa reflexão. Deveria representar o momento em que o acadêmico pensaria sobre o curso de Letras, sobre o conhecimento adquirido e sobre as limitações dele (graduando) e de seu curso diante da realidade que o espera do lado de fora da Universidade. Nesse sentido, o Estágio deveria oferecer ao futuro licenciado a oportunidade de compreender o conteúdo teórico do curso seria tão importante quanto pensar sobre a melhor metodologia para passá-lo aos alunos dos ensinos fundamental e médio. Embora a experiência da pesquisadora Ivani Fazenda seja voltada para a licenciatura em Pedagogia, vale a pena trazer as suas considerações para o debate sobre o Estágio. A partir do relato de uma pesquisa-ação, a autora mostra possíveis alternativas para superar os desafios dos estágios supervisionados nos cursos de licenciatura. Fazenda caracteriza a trajetória escolar dos acadêmicos de licenciatura 66 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 13 – Estudo e ensino de Língua Portuguesa: interface entre língua X, literatura e cultura de diferentes povos. como estados de hibernação, porque poucas vezes é possibilitado a eles refletir sobre o conteúdo, apenas copiam fragmentos quando uma pesquisa, ao longo dos ensinos fundamental e médio, é recomendada. Diante dessa constatação, a atitude da pesquisadora foi a de promover aos seus orientandos de estágio o processo de autoconhecimento. Assim, antes de observar e agir na realidade escolar, os acadêmicos investigaram a realidade escolar que antecedeu o nível superior de ensino. Em seguida, os acadêmicos pesquisaram, a partir de entrevistas, a realidade da escola em que fariam o Estágio, que passou a ser um Estágiopesquisa. A denominação adotada por Ivani Fazenda levou-nos a investigar a concepção de pesquisa para Pedro Demo, um autor chave para a reflexão teórico-metodológica da pesquisa. De acordo com Pedro Demo, o professor dos ensino Fundamental e médio não se coloca como pesquisador porque, na universidade, foi “domesticado”(palavra do autor) a imitar. Para deixar de ser um “reles ensinador” (novamente adotamos a terminologia do autor), o professor necessitaria, para Pedro Demo, repensar sua atitude e aprender a ser pesquisador. Ao tratar da prática do educador, Pedro Demo afirma que ela (a prática) deve estar pautada na teoria, que deve, por sua vez, ser confrontada com a realidade histórica. Como ficaria, diante das apreciações acima, o Ensino de Literatura? O curso de Letras, de forma geral, tem a responsabilidade de formar professores com conhecimento teórico para atuar no ensino de Literatura, adotando uma prática coerente com o referencial teórico e com a realidade social, econômica e histórica do grupo que pretende formar. A união entre teoria e prática deveria nortear a prática docente. Desta forma, o ensino de Literatura no ensino Fundamental e no Ensino Médio não ficaria prejudicado pela 67 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 13 – Estudo e ensino de Língua Portuguesa: interface entre língua X, literatura e cultura de diferentes povos. fragilidade conceitual de alguns docentes que se escondem nos livros didáticos e os usam sem nenhum tipo de senso crítico. Conclusão possível O papel do professor leitor na Formação de leitores literários seria, primeiro, o de ser leitor literário; segundo, o de estar em constante formação e, terceiro, o de encarar a disciplina de Literatura como algo que vai além das escolas literárias. É preciso ensinar a ler Literatura, é imprescindível ensinar a ler os diferentes gêneros literários, é necessário valorizar a Literatura com a qual o educando convive, mas, também, é preciso ensinar a ler a Literatura que compõe a tradição literária. A missão não é das mais fáceis, por isso, provoca tantos pesquisadores a procurar por respostas para as dificuldades dos professores e dos leitores em formação. O debate proposto para esse artigo é fruto de leituras teóricas associadas a nossa presença nas escolas. O diálogo com professores e estudantes apontam caminhos: há a leitura entre os jovens, apesar da escolha desses jovens ser desconsiderada pelos docentes; ao invés de apontar a tecnologia como a responsável pela recusa à leitura, é preciso fazer dela uma aliada para a promoção do texto literário. Por fim, sem que a comunidade escolar acredite na importância da Literatura para a formação do indivíduo, a arte literária se manterá nas salas de aula apenas pelo olhar utilitarista que muitos livros didáticos e docentes lançam a ela. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AGUIAR, Vera Teixeira de (coord.). Era uma vez na escola: formando educadores para formar leitores. Belo Horizonte: Formato Editorial, 2001. (Educador em formação). AZEVEDO, Ricardo. “Razões para a formação de leitores”. In.: SOUZA, Renata Junqueira (org.). Caminhos para a formação do leitor. São Paulo: DCL, 2004. 68 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) 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