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Classificação do artigo 27 mar 2015 O Globo
CLARICE SPITZ clarice. spitz@ oglobo.com. br LUCIANNE CARNEIRO [email protected]. br
Desemprego sobe, e renda tem a
maior queda em 10 anos
Taxa de desocupação fica em 5,9%. Inflação faz rendimento cair 0,5%
A taxa de desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do país subiu para 5,9% em fevereiro,
contra 5,1% no mesmo mês do ano passado, com corte de vagas na indústria e também no setor de
serviços. A piora no emprego e o avanço da inflação fizeram a renda dos trabalhadores cair 0,5% no mês
passado, a maior perda em quase 10 anos. E o Banco Central traçou um cenário mais pessimista para
este ano. O relatório de inflação do BC prevê alta de 7,9% para os preços e queda de 0,5% no PIB. A crise
gerada pelo crescimento econômico baixo e inflação alta chegou aos salários. A renda do brasileiro caiu
1,4% na passagem de janeiro para fevereiro e, na comparação com um ano antes, registrou queda de
0,5%, a maior em quase dez anos, segundo dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, nas
seis principais regiões metropolitanas do país. Em relação a janeiro, houve queda nominal da renda de
0,3%, ou seja, os salários médios encolheram mesmo quando a conta desconsidera o impacto da inflação.
Ao mesmo tempo, o desemprego chegou a 5,9% em fevereiro, contra 5,1% em igual mês de 2014. A
taxa superou as expectativas de analistas de mercado e a foi a maior para o mês desde 2011. Em janeiro
deste ano, o desemprego também foi menor: 5,3%.
Com a perspectiva de inflação perto de 8%, o ano de 2015 deve terminar com queda na renda,
interrompendo dez anos seguidos de ganhos reais. A trajetória de alta começou em 2005, quando os
salários subiram 1,5% acima da inflação. E renda menor empurra mais gente para o mercado de trabalho,
no esforço para fechar o orçamento da família.
229 MIL VAGAS FECHADAS
Nos dois primeiros meses deste ano, o mercado trabalho registrou uma combinação de fechamento de
vagas e aumento da procura por emprego. Entre janeiro e fevereiro, houve queda de 1% na ocupação, o
que significou menos 229 mil pessoas empregadas nas seis regiões. Já em comparação com fevereiro do
ano passado, a população empregada recuou 0,9%. Segundo o IBGE, o movimento pode só não ter sido
maior em razão do feriado de carnaval.
— A ocupação vai continuar piorando este ano, e o cenário de alta para o desemprego é de piora no
poder de barganha do trabalhador — afirma Fabio Romão, da LCA Consultores.
A inflação não agiu sozinha sobre a renda. Economistas já veem influência da alta do desemprego
sobre o poder dos trabalhadores na hora de negociar salários e reajustes. As negociações de 2015 já vêm
ocorrendo sem aumento real ou com ganho muito pequeno, de acordo com Hélio Zylberstajn,
coordenador do projeto Salários, da Fipe, que acompanha negociações coletivas:
— Vemos um aumento muito rápido do desemprego. Quando isso ocorre, o poder de barganha
diminui. Ao lado de uma inflação em torno de 8%, é uma situação dramática para o trabalhador.
A perda de renda foi maior entre os trabalhadores informais. Se na média o recuo foi de 0,5% frente a
fevereiro de 2014, entre os empregados sem carteira assinada essa queda chegou a 4,3%, para R$
1.542,20. Já os trabalhadores por conta própria viram sua renda cair 3,8%, para R$ 1.848,30.
Na passagem de janeiro para fevereiro, a renda recuou em cinco das seis regiões metropolitanas
pesquisadas pelo IBGE. A exceção foi Recife, com ganho de 2,4%. A queda mais acentuada ocorreu em
São Paulo, 2,3%. No Rio, a renda caiu 1,4%, em Salvador, 1,1%, Porto Alegre, 0,5% e Belo Horizonte,
0,4%. Em relatório, a Rosenberg & Associados destacou que a perda ocorreu, apesar do aumento real de
2,5% do salário mínimo.
— O resultado da pesquisa deixou clara a deterioração do mercado de trabalho. A perda da atividade
econômica limita a geração de vagas, e este é o cenário que veremos em 2015 — diz o economista da
Tendências Consultoria Rafael Bacciotti.
O dinheiro mais curto no bolso do brasileiro teve reflexo direto nos empregos do setor de serviços
pessoais, como manicure, cabeleireiro, alimentação e hotelaria. Sozinho, o segmento respondeu a 165 mil
dos 229 mil vagas extintas mês passado.
— Com menor renda disponível existe uma busca por um controle maior das contas e reflexo sobre
serviços — afirmou o superintendente de Economia da Fecomércio­Rio, João Gomes.
Segundo ele, as famílias estão se dizendo que este é o momento dos cortes.
— Pode haver um aumento da procura por emprego e uma tendência de desaceleração da renda, mas,
no segundo semestre, muda a curva, com a retomada da confiança das famílias — acrescenta.
Segundo a gerente da pesquisa do IBGE, Adriana Beringuy, a queda no poder de compra pode estar
relacionada ao corte de vagas em setores que pagam mais.
— Pode ser que os setores onde houve dispensa, principalmente a indústria, com rendimento médio
mais alto, tenham impactado — afirmou ela.
Em relatório, o Bradesco destacou que a perda de fôlego dos ganhos salariais fortalecem o cenário de
arrefecimento importante da inflação de serviços
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