sejam definitivas. A história permanece aberta porque admite várias interpretações. Sobre isso,
explicita Benjamim (1994):
[“...] Pois um acontecimento vivido é finito, ou pelo menos encerrado na esfera do
vivido, ao passo que o acontecimento lembrado é sem limites, porque é apenas uma
chave para tudo o que veio antes e depois.” (BENJAMIN, p.37, 1994).
Portanto, para o autor, o acontecimento lembrado é sem limites, considera presente e
passado e não faz distinção entre os acontecimentos, sejam eles grandes ou pequenos.
Assim também é o cronista que considera [...] “que nada do que um dia aconteceu
pode ser considerado perdido para a história”. (Benjamin, 1994, p.14.).
Sobre Proust (1871 a 1922), grande influenciador das idéias de Benjamim que o traduziu, é
dito que:
[...] o golpe de gênio de Proust está em não ter escrito “memórias”, mas, justamente,
uma “busca”, das analogias e das semelhanças entre o passado e o presente. Proust não
reencontra o passado em si – que talvez fosse bastante insosso -, mas a presença do
passado no presente e o presente que já está lá, prefigurado no passado, ou seja, uma
semelhança profunda mais forte do que o tempo que passa e que se esvai sem que possamos segurá-lo (BENJAMIN, 1994, p.15 e 16).
Essa característica do passado que permanece no presente é também partilhada por Halbwachs (1990), que, como descrito anteriormente, também considera que, na maioria dos casos,
lembrar não é reviver, mas refazer, reconstituir, repensar, com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado.
Em Experiência e pobreza, no livro Magia e técnica, arte e política, Benjamim considera que
a experiência está em baixa. Ele compara citando a geração de 1914 a 1918 (Alemanha) que viveu
a experiência da Primeira Grande Guerra Mundial: “Ficamos pobres. Abandonamos uma depois
da outra todas as peças do patrimônio humano” [...]. (Benjamin, 1994, p.119). E nessa perda da
experiência, segundo o autor, perde-se também o saber contar e como contar.
Nesse mesmo contexto de reflexão, em O narrador: Considerações sobre a obra de Nikolai
Leskov, também no livro Magia e técnica, arte e política, Benjamim salienta sobre a importância
da história que passa de pessoa para pessoa. Essa é a fonte onde os narradores procuram a inspiração:
[...] A narrativa, que durante tanto tempo floresceu num meio artesão (...) é ela própria,
num certo sentido, uma forma artesanal de comunicação.” (...) Ela mergulha a coisa
na vida do narrador para, em seguida, retirá-la dele. Assim se imprime na narrativa a
marca do narrador, como a do oleiro na argila do vaso. (BENJAMIN, 1994, p.205).
E ainda complementa que: “Quem escuta uma história está em companhia do narrador;
mesmo quem a lê partilha dessa companhia.” (BENJAMIN, 1994, p.213). Isto significa que, ao lermos uma narrativa, partilhamos do mundo particular do narrador que se revela nas suas experiências, naquilo que narrou de sua vida, do que aprendeu com a experiência do outro, do seu partilhar
com o mundo e com outro que é também um partilhar consigo mesmo:
[...] O narrador assimila a sua substância mais íntima aquilo que sabe por ouvir
dizer). Seu dom é poder contar sua vida. Sua dignidade é poder contá-la inteira. O narrador é o homem que poderia deixar a luz tênue de sua narração consumir completamente a mecha de sua vida. Daí a atmosfera incomparável que circunda o narrador, em
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sejam definitivas. A história permanece aberta porque