DOENÇA FALCIFORME Débora Parreira Rodolfo Bregion Coordenação:: Luciana Sugai www.paulomargotto.com.br HRAS – Pediatria Medicina-ESCS Turma III 07/10/2008 Admissão Admissão P.S. 22/09/08 Admissão Ala B. 22/09/08 Identificação: Nome: KPS Idade:12 anos Sexo:Feminino Registro: 19/07/96 Natural de Curimatá-Pi Residente e procedente de Estrutural-DF Estudante Queixa Principal “Dor no peito há 11 horas” História clínica Mãe refere que paciente iniciou quadro gripal há 7 dias com coriza hialina, tosse seca intermitente com piora noturna associada a cefaléia. Após um dia evoluiu com tosse produtiva, expectoração clara e hiporexia. O quadro persistiu por 5 dias, sem sinais de piora clínica. Há 11 horas iniciou quadro de dor torácica moderada em HTD, ventilatório dependente, com piora a movimentação de MMSS, sem irradiação, associada a dispnéia aos médios esforços e astenia. Nega febre, vômitos ou alterações de eliminações fisilógicas. Revisão de Sistemas Nega perda de peso Nega alterações de pele ou linfonodos Nega cianose ou edema de MMII Nega convulsão Nega dor em MMII ou abdominal Antecedentes Pessoais Mãe: G02 P02 A00 Nascida de parto normal domiciliar, a termo Pré-Natal: completo com 06 consultas Refere gestação sem intercorrências Refere vacinação em dia Refere desenvolvimento neuropsicomotor normal Alimentação exclusiva ao seio materno até 04 meses, após, alimentação mista até o 7º mês. Antecedentes Patológicos Diagnóstico de anemia falciforme há 6 anos; acompanhada no Hospital de Apoio 5 internações prévias por crises álgicas; Nega asma ou pneumonias prévias; Refere Varicela aos 02 anos; Nega alergia medicamentosa ou uso regular de medicação; Nega traumas ou cirurgias prévias; Refere transfusão sanguínea há 3 anos Antecedentes Familiares Mãe,28 anos, saudável; Pai, 36 anos, saudável; Nega consanguinidade; Irmão, 9 anos, portador de anemia falciforme. Hábitos de vida e condições socioecônomicas Casa de alvenaria, 2 cômodos, morando 4 pessoas; Refere saneamento básico; Nega tabagismo ou etilismo domiciliar; Nega prática de atividades físicas devido dispnéia; Possui animal de estimação ( pássaros ); Afirma roedores peridomiciliares ; Realiza 4 refeições diárias, pobre em fibras vegetais. Exame Físico REG, hipocorada (2+/4+), afebril, taquipneica, em uso de O2 sob cateter nasal, acianótica, consciente; AR: MVF +, bilateralmente, presença de creptações em bases pulmonares e roncos difusos, sem tiragens ou retrações; FR: 35 irpm; ACV: precórdio sem impulsões visíveis. Ictus no 5° EICE. RCR, 2T, BNF. Sopro sistólico +/6+ em foco mitral. Pulsos amplos e simétricos. FC: 76 bpm; ABD: plano, simétrico, flácido, RHA +, indolor à palpação, fígado palpável 4 cm abaixo do RCD. Exame Físico Locomotor: ausência de dor a palpação ou movimentação de MM; Neurológico: sem sinais meníngeos; EXT: boa perfusão, ausência de edema. Seguimento do caso H.D.? Conduta inicial? Hipóteses Diagnósticas Pneumonia; Sindrome torácica aguda (infecção,embolia gordura e fenômenos vasoclusivos); Infarto ósseo; Conduta Inicial Hidratação venosa; Antibioticoterapia: ampicilina + sulbactam; Oxigênioterapia; Analgesia Solicitado hemograma completo, TGO, TGP e Rx tórax. Exames 22/09/08 Leucócitos 23500 Seg-82;Bast-3;Linf-13;Mono-2;Eos-0 Hemáceas 2.59gdl Drepanócitos 2+ Hemoglobina 8.06gdl Policromia 3+ Hematócrito 22.1% TGO 64 TGP 30 VCM 85.5fl HCM 31.1pg CHCM 36.4gdl Plaquetas 569000 VHS Discreta opacidade pneumônica perihilar, sem outros achados...22/09 Evoluções 24/09 Sintomas persistiam; AR: MV diminuído em base de HTD, creptos em bases e roncos difusos Solicitado hemograma, VHS e PCR Exames 24/09/08 Leucócitos 21000 Seg-78;Bast-2;Linf-15;Mono-3;Eos-1 Hemáceas 2.07gdl Drepanócitos 2+ Hemoglobina 6.28gdl Policromia 2+ Hematócrito 17.7% Reticulócitos 7% anisocitose 3+ VCM 85.5fl HCM 30.4pg hipocromia 3+ CHCM 35.6gdl PCR 17 Plaquetas 583000 VHS 76 Evoluções 26/09 Piora do quadro respiratório; cça evoluindo com taquidispnéia; AR: MV diminuído em base de HTD, creptos em bases e roncos difusos; Solicitado hemograma, VHS, PCR, BT, TGO, TGP, fostase alcalina, gama-GT, US de abdome superior e Rx de tórax. Exames 26/09/08 Leucócitos 14500 Seg-67;Bast-0;Linf-17;Mono-11;Eos4 Hemáceas 1.86gdl Granulações tóxicas 3+ Hemoglobina 5.33gdl Reticulócitos 18% Hematócrito 15.3% VCM 82.6fl TGO e TGP normais BT 1.7 HCM 28.7pg BD 0.8 CHCM 34.8gdl Fosfatase 397 Plaquetas 728000 Gama-GT 116 PCR 17.3 VHS 76 Conduta 26/09 Prescrito 300mL de concentrado de hemácias. Condensações em ambos os lobos inferiores e em LSE associado a discreto derrame pleural D.....26/09 Pedido de parecer para cirurgia pediátrica Rx 26/09 Exames 26/09 US de abdome superior sem alterações. Evoluções 27/09 Quadro clínico inalterado, persistindo taquidispnéia; Suspenso ampicilina + sulbactam D4; Iniciado ceftriaxone + oxacilina; 28/09 Mãe afirma melhora considerável do quadro respiratório Evoluções 29/09 Criança evoluindo com melhora importante do quadro clínico Solicitado novo HC, PCR e Rx de tórax Exames 29/09/08 Leucócitos 13300 Seg-49;Bast-0;Linf-36;Mono-7;Eos-7 Hemáceas 2.5gdl Anisocitose 1+ Hemoglobina 7.72gdl Reticulócitos 7.2% Hematócrito 21.2% VCM 84.9fl HCM 30.9pg CHCM 36.4gdl Plaquetas 880000 PCR 6.54 Infiltrado pneumônico nos lobos inferiores e perihilar E com derrame pleural e elevação da hemicúpula D. Evoluções 02/10 Melhora clínica considerável; Solicitado hemograma completo, reticulócitos, VHS e PCR; Exames 02/10/08 Leucócitos 9900 Seg-58;Bast-0;Linf-28;Mono-7;Eos-4 Hemáceas 2.7gdl Hemoglobina 7.9gdl Hematócrito 23% VCM 8.7% VHS 68 84.8fl HCM 29.3pg CHCM 34.6gdl Plaquetas 994000 PCR Reticulócitos 2.17 Evolução 04/10 Paciente assintomática, negando queixas; D8 de ceftriaxone + oxacilina (D12 total); Recebe alta hospitalar, em uso de AAS 100 mg/dia. Definições doença falciforme Drepanocitose; Hemoglobinopatia estrutural e Hereditária; Hemólise crônica; Oclusão aguda e crônica – morbidade; Hb S Polimerização Falcização Microcirculação Desidratação celular Viscosidade Deformabilidade Hemólise Icterícia Anemia, crise aplástica, colelitíase, atraso do crescimento Vaso - oclusão Infarto - Necrose Disfunção de Órgãos Crises Dolorosas βδγ α HbS Epidemiologia doença falciforme África Equatorial cinturão da malária 45% com gene βs BRA SE NE Epidemiologia doença falciforme OMS – 2.500 novos casos/ano BRA ◦ 20% não atingem 5 anos MS - Teste do pezinho ◦ 2-6% população geral ◦ 6-12% afrodescendentes ◦ 1/21 nascidos vivos – traço 250.000/ano ◦ 1/1.200 nascidos vivos – doença 3.500/ano Fisiopatologia doença falciforme Fisiopatologia doença falciforme Normal SS Traço HbA 97% 0 57% HbS 0 93% 40% HbA2 2% 2% 2% HbF 1% 5% 1% Fisiopatologia doença falciforme Polimerização ◦ Gelificação; Sistema venoso ◦ Adesão/Alentecimento/Afoiçamento; ◦ Vaso-oclusão Hemólise Extravascular Perda da deformabilidade e elasticidade; Opsonização por auto-anticorpos IgG; ICS: 5- 50 %/ Heterogêneas; Fisiopatologia doença falciforme Fatores determinantes ◦ CHCM ◦ O2 ◦ Infecção ◦ pH ◦ Desidratação ◦ Cirurgia ◦ Frio ◦ Outras Hb ◦ Álcool ◦ Estresse ICS: 5- 50 %/ Heterogêneas; Quadro Clínico Doença falciforme ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL PRIAPISMO SEQÜESTRO ESPLÊNICO INFECÇÕES DACTILITE CRISES VASO - OCLUSIVAS A N E M I A H E M O L Í T I C A C R Ô N I CA 0 - 5 anos 10 anos > 20 anos Quadro Clínico doença falciforme CRISES VASO-OCLUSIVAS Síndrome mão-pé/Dactilite; Crise óssea; Crise abdominal; Síndrome torácica aguda; Priapismo; STA • Multifatorial; • Criança predomínio infecção; 2a. causa de hospitalização, > causa de • • • • mortalidade em todas as idades Tratamento: Antibioticoterapia Oxigenioterapia Fisioterapia respiratória Transfusões. Quadro Clínico doença falciforme CRISE NEUROLÓGICA AVE; Mais catastrófico; 5-15%; Isquêmico: 2-15 anos; Hemorrágico: adultos; 70-90% recorrência; HbS<30% - recorrência 10%; Quadro Clínico doença falciforme CRISES ANÊMICAS ◦ Seqüestro esplênico 6 meses-1 ano Hemotransfusão/esplenectomia(50%) ◦ Crise aplástica Parvovírus B19 ◦ Crise megaloblástica Ácido fólico 5mg/dia ◦ Crise hiperhemolítica Quadro Clínico doença falciforme DISTÚRBIO ESPLÊNICO ◦ >6 meses – esplenomegalia ◦ 2-5 anos – fibrose ◦ >5 anos – não-palpável ◦ S. pneumoniae ◦ H. influenzae tipo B ◦ Salmonella sp. ◦ Sepse pneumocócica – 20-50% letalidade ◦ ◦ ◦ ◦ Artrite séptica Osteomielite Pneumonia Meningite Quadro Clínico doença falciforme ANEMIA HEMOLÍTICA Anemia crônica Hg 6-10 g/dL Ht 18-30% Reticulócitos 4-24% Icterícia Quadro Clínico doença falciforme DISFUNÇÃO CRÔNICA TGI Colelitíase Coledocolitíase Crise hepática Hepatopatia crônica Quadro Clínico doença falciforme DISFUNÇÃO CRÔNICA Sistema urinário Hematúria Isostenúria 1.005-1.010 Glomerulopatia GESF IRC (4-7%) ATR I Quadro Clínico doença falciforme DISFUNÇÃO CRÔNICA Sistema locomotor CD Infartos trabeculares Hiperplasia eritróide Vértebras Necrose cabeça de fêmur Quadro Clínico doença falciforme DISFUNÇÃO CRÔNICA Sistema cardiovascular Alto débito; HAP; HAS; Hemocromatose; SNC Déficits neuropsiquico;s Doença SC: Retinopatia Hemorragia vítrea Descolamento Diagnóstico doença falciforme Hemograma Anemia moderada Hg 6-10 g/dL Ht 18-30% Normo/Normo Reticulócitos 4-24% Esfregaço Drepanócitos Céls em alvo Corp Howell-Jolly Corp Pappenheimer Corp Heiz Policromatofilia Hemácias nucleadas Pontilhado basofílico Diagnóstico doença falciforme Leucograma ◦ Leucocitose < 20.000/mm³ ◦ Neutrofilia ◦ Trombocitose 450.000/mm³ Teste de afoiçamento Laboratório ◦ ↓VHS ◦ Bilirrubinas ◦ ↑LDH ◦ Haptoglobina Diagnóstico doença falciforme Eletroforese HbA HbS HbA2 HbF HbC SS 0% 85-95% 2-3% 5-15% 0% AS 55-60% 40-45% 2-3% 1% 0% SC 0% 45-50% 2-3% 1% 45-50% S/HPFH 0% 70-80% 1-2% 20-30% 0% Tratamento doença falciforme CRÔNICO Infecções • • • • • • Vacinação Anti-influenzae (gripe) Anti-hepatite A Anti-meningococo tipo C (conjugada) Anti-varicela Anti-pneumocócica conjugada (heptavalente) Anti-pneumocócica (polissacáride) a partir de 2 anos Penicilina V oral 125 mg 12/12h até 3 anos 250 mg 12/12h até 5 anos Tratamento Ácido fólico 1-5 mg/dia Hidroxiuréia Mielossupressor HbF 10-30 mg/Kg/dia Leucopenia* VCM* Tratamento doença falciforme AGUDO Crises álgicas O 2 Hidratação Analgesia Meperidina Morfina Febre Alta 6 meses- 3 anos Ceftriaxone Tratamento doença falciforme Hemotransfusão Doador HbA ↓ 30% HbS Exsangüíneo AVE Síndrome torácica Priapismo Hipertransfusão 5 -10mL/Kg, 3 a 5 sem. HbS < 30% Hemocromatose Hepato-esplenomegalia Cirrose Diabetes Hipogonadismo Pigmentação Cardiomiopatia Aloimunização Infecções Tratamento doença falciforme Transplante AVE Síndrome torácica Dor intratável HLA compatível Mortalidade 10-15% 2 meses....